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História De calor e um copo de café - Shiten


Escrita por: bleedingrainbow

Capítulo 2 - Shiten


 

Mesmo mantendo a postura firme, internamente Midoriya ainda estava processando a ideia de que havia chamado o atendente para sair depois do expediente. Foi deixado com seus pensamentos confusos; sem mudar de ideia, contudo, manteve, contato visual com o rapaz de olhos e cabelos claros que tinha postura tão intimidadora mesmo em um corpo magro e sem musculatura avantajada. Era uma figura curiosa, vestindo também roupas claras. Por um momento, o olhar dos dois se cruzou, e ele deu uma risada fraca em desdém antes de sair de detrás do balcão, atravessando para achar uma mesa à qual se sentar. Era uma pessoa realmente perturbadora, e Midoriya cogitava se havia algo além de sua atitude predatória, mas parecia o suficiente. Ele realmente exercia uma pressão sobre todos no lugar, do tipo que vem com alguma forma de dominância. Financeira? Hierárquica? Aquele acesso livre assim não era comum…

Todoroki parou à sua frente de novo e ele percebeu que estava murmurando para si por todo aquele tempo. Em um soluço calou-se, tampando sua boca, e viu que o belo atendente deixara um pedaço de cheesecake à sua frente em um prato branco.

“Não precisa ficar todo esse tempo aqui me esperando.”

“Não é problema.” Midoriya sorriu, e percebeu que tremia um pouco quando fitou seu rosto diretamente. Todoroki era realmente atordoante. “É-eu, eu- quero.”

Todoroki pareceu tomar fôlego para responder, mas o olhar desviou do verde de Midoriya e desviou para por cima de seu ombro; provavelmente para o rapaz de quem buscava desviar.

“Eu queria me desculpar pelo que posso ter dado a entender. Não é nada pessoal, mas eu não estou realmente buscando um encontro, eu só…”

“Não, eu- eu também não! Quer dizer, uh. É. Era só porque… eu achei que ele poderia estar...”

Após gesticular com a cabeça, Midoriya coçou o braço, baixando os olhos para o seu café antes de decidir por bebê-lo. Mas só segurou com as duas mãos o copo para viagem antes de parar o gesto quando ouviu uma resposta apoia um suspiro.

“Você achou certo.” Todoroki assentiu. “Eu estava realmente em uma situação desagradável e você pôde identificar. Foi bem sensível da sua parte, e eu agradeço. Meus recursos para evitar  as investidas de Masayume estão ficando cada vez mais restritos, e ele cada vez mais… contundente.”

A palavra inusual que ele escolhera fez Midoriya cogitar se era sua forma elegante de falar ou se ele queria dizer que sentia realmente suas atitudes o feriam ou sentiam como se o atravessassem. A realidade era que aquela pessoa, Masayume, perturbava Todoroki de uma forma psicologicamente poderosa.

“Eu posso te acompanhar na saída até sairmos de vista.” Disse, mas diante de si viu Todoroki trincar os dentes e os ombros curvarem para frente, ao que os olhos dicromáticos olharam para trás de Midoriya.

“E aí, conversando bastante em expediente, Shouto? Quer que eu fale pro meu pai te liberar mais cedo pro seu encontro, também?”

Midoriya ouviu a frase às suas costas, antes de sentir uma mão em seu ombro.

“Desculpe.” Todoroki fez um respeitoso meneio.

“Não, fique aí!” Masayume disse, de pé ao lado de Midoriya. “Vocês se conhecem, então?”

“É, digamos que sim.”

Nisso, olhando para Masayume, Midoriya deixou sua mão deslizar sobre o balcão para alcançar a de Todoroki. Sua mão esquerda segurou a direita dele; dedos envolvendo pele fria como ele não imaginava estar.

Uma risada tímida que Midoriya não precisou fingir escapou, enquanto Masayume latiu uma quase de escárnio.

“Ah. Faz sentido.”

Todoroki assentiu com a cabeça e sorriu de leve para Midoriya, correspondendo ao toque enquanto mais uma vez o outro se afastava deles.

“Só deixem o namorico pra depois, meu pai vai ficar sabendo! Ele me trouxe aqui pra gerenciar vocês!” Um tom quase mimado, que não parecia combinar com a figura irônica e escarnecedora que Masayume tinha exposto até ali. Então ele saiu de perto.

“Obrigado.” Todoroki puxou a mão de volta de sob o toque quente de Midoriya, dando um passo para trás e assentindo. “Seu café está esfriando.”

Midoriya assentiu, um sorriso suave, mas com uma energia peculiar provinda de uma espécie de nervosismo. Então aquele rapaz estava se valendo-se fato de ser filho do dono da cafeteria para exercer autoridade e assediar o novo atendente. Que atitude desprezível. Curioso era que não lembrava daquele homem ali antes daquele dia, mas… era confuso pensar nisso.

Enfim ele pegou seu café e levou à boca, tomando um pouco. Foi impossível não notar a diferença de como seria apenas um café extraído por uma alavanca. Será que tinham trocado os grãos? A máquina parecia a mesma… Fato era que aquele café espalhou-se por sua boca desenvolvendo em sabores como se ele estivesse provando uma iguaria.

“Who-oa!” O sorriso que ele tinha se abriu mais ainda, e ele não se refreou antes de falar. “Todoroki-san, esse é o melhor café que eu já tomei!”

De onde ele tinha tirado essas coisas, foi inevitável a Todoroki pensar. Ele apenas sorriu e assentiu, como se cordialmente, mas o sorriso para si permaneceu por mais vários minutos.

***

“Você realmente ficou aqui por duas horas só me esperando.”

Desajeitado, Midoriya ergueu o olhar para Todoroki, que parava ao seu lado estava sentado a uma mesa, estudando a matéria que teria naquela noite, depois de ter pedido mais dois cafés. Estava um pouco eufórico, o pé agitando a perna debaixo da mesa, e levou um pequeno susto mais uma vez. Todoroki era mesmo lindo, céus. Agora estava sem o avental, mas mantinha a camisa preta do seu uniforme.

“Eu nem vi o tempo passar!”

O jeito daquele rapaz desconcertava Todoroki de um jeito muito inesperado. Os grandes olhos tinham um brilho peculiar e, mesmo que tivesse se passado menos de uma semana, era inegável que aquele tinha sido seu melhor dia de trabalho.

Todas as situações que o fizeram trabalhar ali, de familiares a financeiras e pessoais, acumulavam-se como uma série de incômodos construindo uma grande desventura. Poderia ser muito pior, ele sabia disso. Não significava que estava feliz. A previsibilidade de uma vida repleta de indiferenças tornava sua vida monocromática, e aquele reluzente tom de verde bem à sua frente com certeza fizera a diferença, mesmo em sua completa delicadeza.

Quando parou em frente ao caixa e foi informado pela outra atendente que o restante de sua conta estava paga, Midoriya olhou para Todoroki, confuso.

“Ficou na minha conta.” Todoroki assentiu, em tom baixo.

Midoriya arregalou os olhos e chacoalhou a cabeça, tirando dinheiro da carteira, puxando-o de leve pelo braço para onde a atendente não os ouvisse.

“Não, nem pensar! Eles vão descontar do seu pagamento!”

“É a ideia. Não tem problema. Eu quero fazer isso.”

Ele insistiu e ofereceu o dinheiro a Todoroki, que tinha enfiado a mão nos bolsos.

“Não está certo, Todoroki-san!”

“Se fizer isso, eu vou continuar te devendo uma.”

“Que espécie de pessoa faz algo por alguém esperando algo em troca?

Como uma risada que não se completava, Todoroki soprou pelo nariz brevemente.

“Bem… todas?”

“Hm. Infelizmente você tem um ponto. Mas não devia ser desse jeito! Por favor, aceite! Eu vou me sentir mal de saber que perdeu seu dinheiro por mim!”

Midoriya aproximou-se de Todoroki mais um pouco e fez menção de colocar o dinheiro em seu bolso, buscando não tocá-lo demais. Todoroki tirou a mão esquerda do bolso e deixou  enfim que ele o fizesse, que depositasse o dinheiro ali. Estavam muito estranhamente próximos, e era algo que Todoroki costumava detestar.

“Desculpe.” Midoriya abaixou a cabeça e deu um passo para trás. “Você vai querer…?” Ele abriu a mão esquerda para ele, uma interrogação tímida no rosto; a presença de Masayume se fazia em um canto do café e Todoroki podia mesmo sentir o olhar perturbadoramente claro sob eles dois.

Midoriya sentiu o aperto firme da mão esquerda de Todoroki com uma surpresa. Imaginou um toque tão gelado como aquele que trocaram no balcão, mas aquela mão estava mais quente que a sua própria.

De mãos dadas com Midoriya, Todoroki se despediu cordialmente dos demais e deixaram o recinto. Era uma noite de lua cheia, amena e agradável, repleta de estrelas. Pisaram na calçada e olharam ao redor, andando juntos alguns passos adiante.

“Nós somos supostamente namorados e eu nem sei o seu nome.” Todoroki quebrou o silêncio alguns passos adiante.

“É Midoriya Izuku!” Ele respondeu de pronto, sentindo-se afobado. Estava fazendo aquilo apenas, somente, para auxiliar Todoroki. O fato de que ele o achava extremamente charmoso e que gostaria que aquilo “O seu é Todoroki Shouto, certo?”

“Sim.”

“Chega a ser bobo perguntar, mas você começou a trabalhar no café nessa semana, né? Eu vou lá sempre, eu com certeza lembraria de você! Quer dizer…”

Ao perceber mesmo sob as luzes fracas da rua que Midoriya estava corando, Todoroki deu uma risada fraca, quase adorável.

“Você é uma pessoa muito peculiar, Midoriya-san. Eu agradeço muito por tudo o que fez por mim.”

“Tudo? Foi só um teatrinho.”

Todoroki parou, depois que viraram a esquina. Um facho de luz amarelada de um poste e o brilho de neon vermelho da fachada de um estúdio de tatuagens iluminava o rosto dos dois. Ele soltou a mão de Midoriya e parou à frente dele, encarando-o diretamente.

“Não digo só ter fingido ser meu encontro de hoje.” Mas Todoroki não deixou explícito em palavras pelo que mais era grato por Midoriya. Talvez ele mesmo sequer soubesse; gratidão era apenas um sentimento em si que ele tinha ali, enquanto seu coração batia com uma intensidade estranha. “Espero mesmo vê-lo mais vezes por lá.”

“Eu vou todas as segundas lá com a Uraraka e o Iida. O café já era bom, agora está realmente delicioso! Eu não sei qual seu segredo, Todoroki-san!

Midoriya tinha sido apenas genuíno, mais uma vez sem a intenção de flertar, mas pensou algo apenas como “aaaaaaaah” quando Todoroki desviou o olhar e passou a mão pelo cabelo, quase como se suavemente constrangido, ainda que não de um jeito desconfortável. Poderia - não fosse um absurdo - acreditar que o atendente flertava com ele.

“Segundas, então? É um bom jeito de começar a semana.” Ele fez um meneio gentil com a cabeça. “Eu vou estar sempre lá. Inclusive nos outros dias, por óbvio.” Todoroki deu um passo para trás antes de girar os calcanhares para dar as costas e acenar. “Até mais, Midoriya-san.”

Midoriya viu-se acenando feito um bobo mesmo depois de Todoroki dar as costas, e sua vontade era de acelerar para alcançá-lo só para conversarem mais um pouco. Mas ele havia deixado claro que não tinha interesse em um encontro, e seria muito canalha de sua parte se aproveitar da situação para se aproximar. Não podia negar, enquanto ele mesmo ia embora para sua própria direção, que suas mãos sentiam falta do inesperado toque gelado ou quente.



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