História De Ponta-Cabeça - Missão Impossível

De Ponta-Cabeça

Capítulo Quatro - Missão Impossível

Duas semanas se passaram na Otsutsuki High School, e Sakura já começava a se acostumar com o novo ambiente, que era um pouco diferente do seu antigo colégio, considerando que na OHS havia pessoas de todas as classes sociais, ao contrário de onde estudava anteriormente, onde todos eram de famílias ricas e se achavam superiores uns aos outros.

De fato, na OHS tudo era muito diferente, ninguém a julgava ou se aproximava por ela ser uma pessoa rica, e isso a agradava. Ela gostava de se sentir uma pessoa comum.

Mas também admitia que era estranho estar em meio a uma turma com gostos tão diferentes de seus antigos colegas de classe.

Respirando fundo, ela aguardou o início da aula sentada em sua carteira, observando os alunos conversando em grupinhos. Quando desviou os olhos para a porta, viu Ino e Sai entrando, os dois acenaram para ela e sorriram, seguindo para seus lugares ao fundo.

Ino e Sai pareciam pessoas legais, vez ou outra, cumprimentavam a Haruno ou a convidavam para comer junto com eles no intervalo, ainda eram apenas colegas de classe, mas, com o tempo, Sakura sabia que podiam se tornarem amigos.

Sua atenção, novamente, foi atraída pela porta, onde, pela primeira vez, Sasuke passou antes do professor. Ele não parecia muito animado para estar ali, como todos os dias, Sasuke nunca acordava de bom humor devido aos sermões matinais de seus pais sobre a escola e a vida, sempre lhe comparando com Itachi, que, durante toda a vida, foi muito responsável, abriu um dōjō de karatê com suas economias aos dezoito anos e já estava quase se formando na faculdade de educação física.

E ele odiava ser comparado com o irmão.

Caminhando lentamente e, outra vez, sem o uniforme, Sasuke passou ao lado da garota, desviando os olhos para Sakura rápida e discretamente antes de seguir para seu lugar ao fundo.

Assim que sentou-se na cadeira, desviou os olhos para a porta, esperando a chegada de Kakashi, professor de geografia, mas o cabelo rosa de Sakura era bem chamativo e atraiu os olhos dele para ela.

Sasuke respirou fundo.

Ela também havia se afastado dele durante as duas semanas que se passaram, assim como vários alunos naquela escola, e ele sabia o motivo, todos sabiam.

Sasuke era muito problemático.

Ele não a culpava, Sakura era o completo oposto dele, não tinha porque se tornar amiga do Uchiha e ele também não se importava com isso, ele não precisava de mais amigos, não é?

Sasuke já tinha Naruto, Juugo e Suigetsu, que, infelizmente, ficaram em uma sala diferente da sua, não precisava da amizade dela.

Isso.

Quando Kakashi entrou na sala, os olhos do Uchiha se focaram nele, e Sasuke começou a prestar atenção nas explicações sobre tipos de energias renováveis e não renováveis, matéria relativamente fácil na opinião dele.

Os dois horários passaram até rápido enquanto ele assistia a aula com a cabeça apoiada na carteira, atento para não precisar revisar a matéria posteriormente. Quando Kakashi deixou a sala, Sasuke ergueu o corpo para relaxar os músculos, à espera da professora de química, e seus olhos desviaram-se para a porta novamente enquanto ouvia as conversas ao seu redor.

Pelo canto dos olhos, viu Ino aproximar-se de Sakura e começar a conversar algo com ela, que a fez sorrir. Ele observou tudo sem nem mesmo perceber e entendeu o que houve para Sakura afastar-se de si.

Logo, Anko passou pela entrada da sala, dando início à cansativa aula de química, que, diferentemente das aulas de geografia, passou devagar.

Quando o sinal tocou, indicando o fim da aula, Sasuke foi o primeiro a sair, pois precisava encontrar Suigetsu, Naruto e Juugo para irem ao refeitório, já Sakura permaneceu na sala, sem muita animação para sair.

Ao ver Sasuke passar ao seu lado antes de deixar a sala, ela sentiu-se mal por ter se afastado dele. Ela não o conhecia bem, mas sabia que tinha algo errado, algo lhe dizia que ele não gostava de ser sozinho na maior parte do tempo.

Ao pensar nisso, as palavras de Ino e Sai voltaram a sua mente.

Sasuke não parecia ser tão problemático assim, tá que ele aprontou algumas coisas nessas duas semanas, mas pichar a porta do banheiro, ir sem uniforme ou responder o professor de biologia, por mais errado que seja, não era algo grave o suficiente para lhe considerar “não ser flor que se cheire”.

. . .

No intervalo — que seria um pouco mais longo naquela manhã —, haveria um jogo de futsal para escolher novos jogadores para o time da Otsutsuki High School, portanto, as arquibancadas do ginásio se encheram de alunos para assistirem o jogo.

Sakura sentou-se no centro da arquibancada, de onde via perfeitamente toda a quadra. Ela não era muito fã de esportes, porém não tinha nada melhor para fazer, então, por que não assistir o jogo?

No centro da quadra, alguns jogadores que já pertenciam ao time, inclusive Sasuke, separavam os alunos que queriam entrar na equipe em dois times. Eram poucos, portanto, os veteranos também participariam do jogo.

Sasuke caminhou até o centro da quadra e posicionou-se sobre a linha de meio de campo para dar início à partida. Suigetsu chutou a bola para ele assim que Gai apitou, indicando o início do jogo.

Em poucos segundos, Sasuke driblou dois jogadores do time adversário perfeitamente, caminhando com a bola nos pés. Já perto da área e vendo seu caminho bloqueado por outros dois adversários, ele deu um passe para Suigetsu, que mirou exatamente o gol, porém Juugo, o goleiro, defendeu com perfeição.

O ruivo lançou a bola com as mãos para o centro da quadra, a qual parou nos pés de Sora. O garoto novo correu para o campo do time de Sasuke, driblando alguns novatos daquele time e, quando entrou na área adversária, o goleiro do time de Sasuke, Hideo, aproximou-se dele.

Sora, então, vendo uma abertura perfeita, driblou o goleiro também, porém, quando achou que marcaria o gol, chutando diretamente no canto direito, Sasuke passou correndo em frente a trave, chutando a bola para fora da quadra e defendendo o gol.

Suigetsu chegou perto do amigo e bateu em sua mão, assim como Naruto e Neji, comemorando a defesa do Uchiha. Imediatamente, eles se colocaram nas posições corretas enquanto Kiba se preparava para cobrar o escanteio para o time adversário e voltar com a bola para dentro da quadra.

A partida seguiu intensa, com marcações pesadas e chutes nada fracos. O time de Sasuke ganhava de três a zero, o que já estava irritando Gaara, um dos jogadores do time adversário, que não ia nenhum pouco com a cara do Uchiha e queria muito o posto de capitão do time.

O apito final soou alto naquela quadra, indicando o fim da partida com um placar de quatro a um para o time do Sasuke. Gaara bufou irritado com o resultado, principalmente, depois de ter “deixado” o Uchiha marcar o último gol após um drible perfeito nele.

— Excelente, excelente. — a voz de Gai chamou a atenção dos jogadores, menos de Gaara, que estava “cuspindo fogo” de tanta raiva do Uchiha e, sem controle sobre si, avançou sobre o garoto, empurrando-o.

— Seu imbecil! Sempre se exibindo!

Sasuke foi pego de surpresa pela atitude do ruivo e arredou dois passos para trás com o golpe, porém logo se endireitou, devolvendo o empurrão com uma força equivalente.

— Ficou maluco? — Sasuke esbravejou, irritado.

Gaara voltou a ir para cima do Uchiha, ignorando sua pergunta e desferindo um soco forte, que o moreno bloqueou com o antebraço direito antes de também desferir outro soco com o punho livre, que pegou de raspão no queixo do ruivo.

Imediatamente, Gai e os outros participantes do jogo entraram no meio. Gaara foi segurado fortemente por Hideo e Sora enquanto Suigetsu segurava Sasuke, o qual estava bem mais calmo se comparado com o ruivo, que já estava afim de quebrar a cara do Uchiha desde o ano anterior, quando ele fora escolhido como capitão do time de futsal da OHS pela terceira vez e não o Sabaku.

— O que vocês estão pensando? — Gai gritou, irritado. — Não é permitido brigar nesta escola e nem no meu treino!

— Eu não fiz nada, foi ele quem começou. — Sasuke disse, dando de ombros ao sentir seus braços serem liberados.

— Você nunca faz nada. — Gaara ironizou, forçando-se para se soltar dos braços de Sora e Hideo, porém sem sucesso.

— Já chega, Gaara! Está querendo ser expulso do time? — Gai esbravejou com o garoto, que calou-se imediatamente, mas sua raiva só aumentou nesse instante. — Sasuke e Gaara, vão para a sala do diretor imediatamente!

Os garotos soltaram o ruivo, que, bufando de raiva, seguiu para a entrada do ginásio, onde a inspetora da escola, Kurenai, observava tudo atentamente, pronta para acompanhá-los à diretoria.

Sasuke, suspirando cansado por, dessa vez, não ter feito nada de errado, apenas se defendido, seguiu Gaara até perto da entrada, onde Kurenai os guiou até a sala de Jiraya, a qual Sasuke já conhecia muito bem.

A mulher bateu na porta da sala e abriu uma pequena fresta.

— Com licença, diretor, Gai mandou dois jovens para vir conversar com o senhor, eles brigaram no fim do jogo.

O senhor já de idade suspirou cansado, já imaginando quem era um dos garotos. Com um aceno, mandou Kurenai chamar os meninos, que entraram lentamente na sala logo em seguida e ocuparam as duas cadeiras vagas em frente à mesa.

A inspetora fechou a porta, voltando ao seu trabalho nos corredores e deixou os três sozinhos.

— Podem me explicar o que houve, senhor Sabaku e senhor Uchiha? — Jiraya pediu, sua voz estava séria enquanto encarava as duas figuras emburradas em sua frente.

— Esse louco veio para cima de mim. — Sasuke disse calmamente.

— E você não fez nada para causar isso, Uchiha? — o homem perguntou, conhecia bem Sasuke e seu histórico de mau comportamento.

— Eu não tenho culpa se sou melhor jogador que ele. — respondeu, dando de ombros, e Gaara apertou os punhos com força, sentindo a raiva lhe dominar.

— E quem disse? — esbravejou, virando-se para o jovem, porém logo parou ao escutar o pigarro do diretor.

— Eu já estou cansado dessa implicância de vocês, Gai vive reclamando das discussões suas nos jogos e provocações. Se não pararem com isso, vou expulsar os dois do time permanentemente.

— Você não pode fazer isso. — Gaara disse, indignado. O time sem ele ou Sasuke estaria perdido.

— Não só posso como vou fazer se escutar alguma reclamação que envolva vocês dois. — o tom de voz de Jiraya estava sério, denunciando a certeza que possuía. — A briga de hoje vou deixar passar apenas com uma advertência e espero não ter mais problemas com vocês. Entendido?

— Sim. — os dois disseram sem muita animação.

— Ótimo, podem ir. — os dois se levantaram.

Gaara saiu primeiro e, antes que Sasuke passasse pela porta, Jiraya o chamou. — Sasuke, vê se comporta-se, não dá para ficar sempre lhe livrando dos castigos. Você é um aluno brilhante, possui sempre as melhores notas da escola, além de ser um excelente jogador de futsal, então, não se meta mais em problemas. Estamos entendidos?

O Uchiha respirou fundo, assentindo.

— Vou tentar.

— E use o uniforme!

Sasuke saiu da sala, seguindo pelos corredores lotados de alunos, já que o sinal havia acabado de tocar e encontrou Suigetsu, Juugo e Naruto encostados perto de seu armário, ambos lhe esperando.

— E aí? Qual o castigo? — Naruto perguntou enquanto o Uchiha abria o armário para tirar o livro de história de dentro dele.

— Só advertência dessa vez, mas, se nós dois arrumarmos mais problemas, seremos expulsos do time permanentemente.

— O quê? Jiraya não pode fazer isso, você é o melhor. — Suigetsu estava perplexo.

— Ele pode. — Sasuke disse, dando de ombros.

— Então, é melhor não arrumar confusão. — Juugo comentou, o que só fez Naruto e Suigetsu darem curtas risadas.

— Isso é uma missão impossível para Sasuke Uchiha. — Naruto disse, recebendo um olhar reprovador do amigo antes deles, exceto Sasuke, caírem na risada de novo.

. . .

Era aula de história, a última antes do término daquele dia de aulas, era só mais cinquenta minutos, e Sasuke já poderia voltar para casa, já que estava muito entediado.

— Juntem-se em duplas, façam um resumo da página 10 a 20 do livro e respondam as questões da página 21. — Asuma disse assim que chegou na sala de aula, já provocando algumas reclamações da turma pela atividade chata. — E quero isso para amanhã, então, é melhor agilizarem. Valerá 5 pontos e não aceitarei trabalhos com menos de sete páginas escritas.

E mais reclamações, as quais Asuma não deu a mínima, ele apenas sentou-se em sua mesa e começou a ler algumas folhas de papel.

Sakura suspirou. Ela não possuía dupla novamente.

Na verdade, possuía.

Sasuke.

Mas como chegar do nada para falar com ele depois de duas semanas sem nem mesmo cumprimentá-lo direito?

Se bem que ele também não fez questão de chegar e conversar, deixava claro com suas atitudes que não gostava de se aproximar muito das pessoas.

Mas, agora, nenhum dos dois tinham escolhas. A atividade era grande para apenas uma pessoa.

Ela desviou os olhos para Sasuke, encontrando os dele sobre ela também. Ele esperava que ela fosse se aproximar para fazer a atividade, assim como da primeira vez e, talvez, ele quisesse isso.

Só talvez.

Ela levantou-se lentamente e caminhou até ele com o caderno de dez matérias e o estojo de lápis na mão. Sorrindo sem graça, ela chegou ao lado dele.

— Posso fazer com você? — perguntou, e ele ergueu o olhar.

— Pegue uma carteira. — respondeu apenas isso, voltando sua atenção para o livro em sua frente.

Sakura sorriu de leve e pegou a carteira ao lado para juntar-se ao Uchiha. Imediatamente, eles começaram o resumo sobre a idade média. Sakura pegou da página 10 a 14 e Sasuke de 15 a 20 — ele não se importava de pegar uma página a mais.

O trabalho era, de fato, grande. Quando o sinal do fim da aula soou alto e todos os alunos foram deixando a sala, Sakura ainda estava na segunda página e Sasuke, começando a terceira. Eles começaram a guardar o material, Sakura terminou primeiro e ficou observando Sasuke terminar de juntar suas coisas.

— Er… Então, como fazemos?... Digo, com as questões…

— Você quem sabe. — Sasuke deu de ombros. Ele não se importava com aquilo, não possuía problemas com notas, então, não se importava em perder alguns pontos.

— Podemos terminar na minha casa… Ou na sua se preferir… — ela estava sem graça, não sabia como manter um diálogo com ele.

Sasuke ergueu as sobrancelhas.

— Não vai seguir o conselho que te deram?

Sakura o fitou, confusa, porém, segundos depois, ela entendeu. Seus olhos estavam um pouco arregalados.

— Oi? — ela estava surpresa. Como ele sabia?

— Para ficar longe de mim. — disse, encarando-a.

— Como você…

— Não é novidade. — ele deu de ombros, não se importava, não é?

Porém, para ela, essas palavras soaram com um pouco de tristeza nelas, o que a fez sentir-se pior.

— Desculpe. — a voz de Sakura o fez erguer as sobrancelhas, atônito. — Não devia ter me afastado essas duas semanas, você foi legal comigo, não havia motivo.

— Está tudo bem. — ele deu de ombros de novo. — Mas o que isso quer dizer? Não vai ficar longe?

— Por que eu ficaria? Você não me parece tão problemático assim.

Ele deu um sorriso pelas palavras dela.

— Você nem me conhece. — aproximou-se, fitando os olhos dela.

— Mas eu sei que você não é mau, só é um pouco rebelde, como qualquer adolescente... — sustentou o olhar dele, olhando-o sério, para, logo em seguida, sorrir sem graça. — Talvez, um pouco mais rebelde.

Sasuke riu novamente. Ele não conseguia manter a pose de indiferença e seriedade perto dela, o que era um tanto quanto estranho para ele.

— Se você diz… — deu as costas, jogando a mochila em um dos ombros. — Vamos, terminamos o trabalho lá em casa.

— Certo. — Sakura respondeu, também jogando a mochila sobre os ombros e seguindo-o.

Ela sabia que Ino a repreenderia caso os visse juntos, mas ela não se importava e sentia-se estranhamente segura ao lado daquele garoto, ele lhe transmitia uma confiança imensa.

— Só vou avisar meus pais… — Sakura comentou enquanto o seguia para fora da escola.

Ela pegou o celular no bolso do uniforme e o desbloqueou, porém, antes que pudesse abrir o teclado para fazer a ligação, viu as mensagens do pai.

“Sakura, sua mãe e eu fomos para Suna, uma viagem rápida, voltamos às dez da noite.”

“Ah, o motorista veio com a gente, então, pegue um táxi para casa, o ponto é perto da escola.”

“Cuidado, filha. Qualquer coisa, nos ligue.”

Bloqueou o celular novamente. Não precisaria ligar e, de fato, era melhor assim. Seu pai lhe encheria de perguntas sobre o Sasuke, e ela não estava afim de responder.

— Pronto? — Sasuke perguntou, e ela assentiu, seguindo-o para fora dos portões da Otsutsuki High School.