1. Spirit Fanfics >
  2. De repente, escondidos. >
  3. Parte XIV

História De repente, escondidos. - Parte XIV


Escrita por: ksnrs

Notas do Autor


Naruto não me pertence e seus personagens também não.
O intuito dessa fanfic é totalmente interativo e sem fins lucrativos.
Por isso, não me processem, por favor. Não tenho como pagar uma fiança e da cadeia não dá pra postar.

Último cap, queridos! Obrigada por tudo! Nos vemos na próxima!

Boa leitura!

Capítulo 14 - Parte XIV


Naruto caiu ao lado de mais uma desconhecida, depois de uma rodada de sexo pelo puro prazer. Não sabia nem o nome dessa mulher. Só se lembrava de tê-la conhecido na véspera, no bar, e trazido pra casa. Transou durante a noite e, antes de manda-la embora de sua casa, achou que valia a pena aproveitar mais um pouco.

- Adoro a sua disposição matinal. – a morena disse, toda manhosa, desenhando os músculos do peito dele com a ponta do dedo.

Naruto deu um sorriso forçado, tirando a mão dela de cima de seu corpo, e se levantando sem maiores explicações.

- Tá na hora de você ir... – tentou se lembrar do nome, sem sucesso. Olhou pra moça de relance e ela percebeu isso.

- Hana. “Tá na hora de você ir, Hana.” – resmungou, jogando o lençol pro lado com mais força do que precisava. – Caramba, Naruto! É a terceira vez que a gente passa a noite juntos e você ainda não se lembra do meu nome?

Ele deu uma risada seca, quase sarcástica. Se se lembrasse dela quando a encontrava no bar, com certeza não a levava pra casa de novo.

- É, Hana... eu sou um cara péssimo. – murmurou, irônico e riu largo da cara de brava que ela fez, se vestindo. – Se eu fosse você, parava de aceitar vir pra casa comigo. Porque eu vou continuar não lembrando do seu nome.

O único nome que ele nunca se esqueceria, era o que mais queria esquecer.

- Você é um cretino, Naruto. – ela saiu, batendo a porta.

- Eu sei, querida... Eu sei... – murmurou baixinho, vestindo uma camiseta qualquer.

Quando já estava preparando um café pra tomar, ouviu batidas na porta. Em silêncio, xingou a tal Hana, achando que podia ser ela. Não pela moça ter voltado ali e nem pensou que isso podia ser por interesse dela. A xingou porque não achava mesmo que ela deveria ficar se sujeitando à alguém que nem lembrava seu nome no outro dia. Abriu a porta pronto pra disparar a maior grosseria do mundo, apenas pra resguardá-la da promiscuidade dele mesmo.

Se surpreendeu ao ver que não era Hana.

- O mundo vai acabar. Você batendo na porta? – brincou e se afastou, dando passagem pra Kakashi, que entrou com as mãos nos bolsos, em sua costumeira passada lenta.

- Achei melhor não arriscar. O fluxo na sua casa tem sido intenso... – deu uma risadinha sacana pra Naruto, que rolou os olhos, reprovando o comentário.

- Sério, Kakashi? Você vai me criticar? Justo você?

Kakashi sentou em uma das cadeiras, dando um suspiro longo depois de ouvir a pergunta ácida de Naruto. Conhecia aquele garoto bem demais pra saber que, por mais que estivesse tentando demonstrar que tudo estava bem, tudo estava léguas de estar bem.

- Não critico, não critico... Mas você e eu somos completamente diferentes em relação à isso. – Naruto deu uma risada alta, descrente daquilo, e encarou o ex-sensei, esperando a explicação do porquê as coisas eram tão diferentes assim. E Kakashi tinha a resposta na ponta da língua, como sempre. – Pelo menos eu não tô tentando esquecer uma mulher nos braços de outra.

O riso cessou na hora. Naruto passou à uma expressão de desagrado, cerrando os punhos embaixo da mesa.

- Kakashi... – tinha um tom de reprovação evidente nisso, mas ele não se importou. Só se ajeitou mais na cadeira, atentíssimo à qualquer mudança de Naruto.

- Eu tô falando alguma mentira? – o tom era o compassado de sempre, apesar de sério. Naruto só baixou os olhos. Também não poderia mentir sobre isso. – Faz duas semanas que você voltou e a rotatividade na sua cama tá maior do que na minha.

O comentário arrancou uma risadinha dele. Meio constrangida. Meio sem vergonha. Naruto levantou os olhos azuis e por mais que o sorriso de canto estivesse ali, não foi difícil pra Kakashi enxergar a tristeza escondida naquelas duas piscinas.

- O que houve entre vocês? – perguntou baixinho. Kakashi sabia que tinha acontecido alguma coisa, até porque ele voltou e Sakura ficou. Só não sabia, exatamente, o que era.

- Ela se entendeu com o noivo. – não evitou o tom despeitado. – Cheguei lá pronto pra pôr aquela porra toda abaixo e descobri que a Sakura só não tinha voltado porque não quis.

Kakashi se recostou na cadeira, analisando o que Naruto tinha dito. Era estranho pensar em uma Sakura tão leviana assim. Mas era fácil pensar em um Naruto tempestuoso a ponto de ter saído de Suna correndo, antes mesmo de resolver qualquer coisa.

- Eles estão firmes? – viu o amigo confirmar com a cabeça. – Firmes a ponto de ela te dizer que não quer mais nada com você? – Naruto se levantou num movimento ríspido, indo em direção à geladeira. Tirou uma garrafa de água e encheu o copo. Kakashi ainda esperava a resposta da pergunta, apesar de saber qual era. – Ela não quer mais ficar com ele, não é?

Dessa vez o riso não foi sacana. Nem constrangido. Foi irônico mesmo.

- Se não quisesse, não tinha dado pra ele o tempo inteiro que ficou lá.

Kakashi fechou o olho devagar.

- Então foi isso que aconteceu... – murmurou baixinho e viu, pelo canto do olho, Naruto concordar com a cabeça e bater a porta da geladeira com uma força desnecessária. – E o que você vai fazer em relação à isso?

- Eu? Nada. – respondeu rindo, fingindo uma tranquilidade. Levou o copo à boca, mas achou que valia um comentário, que foi feito com dedo apontado e tudo. – O que eu podia fazer por aquela cretina, eu fiz.

Foi a vez de Kakashi cerrar os pulsos sobre a mesa. E Naruto notou a mudança no semblante do ex-sensei.

- Fez? Fez mesmo? Você foi embora, Naruto! – disse, ríspido.

- Porque ela me pediu isso! – rebateu, gritando.

- Não, senhor! Ela te pediu pra ir encontrar o Sasuke! Ela nunca te pediu pra abandoná-la aqui, sozinha!

O ódio fervia dentro de Naruto.

- Ela nunca esteve sozinha, não é?! Sempre tinha alguém por perto, pra consolar... – teria emendado mais algumas palavras irônicas, mas foi cortado pelo movimento brusco de Kakashi se levantando, que até derrubou a cadeira.

- Cuidado, Naruto. Você está magoado, está ferido, mas eu mesmo te contei tudo o que aconteceu na vida da Sakura. – o tom de Kakashi fez Naruto recuar. – Eu não sei porquê ela se envolveu de novo com o Gaara, mas isso não faz da Sakura nenhuma vagabunda. – ouviu uma risada seca do amigo e isso foi o estopim. Kakashi cruzou aquele espaço em um milésimo de segundo e prendeu Naruto contra a parede. – Escuta bem o que eu vou te dizer. Você abandonou a Sakura uma vez e isso resultou nesse casamento que só vai fazer a flor mais linda de Konoha ser triste. Agora, você tá fazendo o mesmo e o resultado é idêntico. Ela não ama o Gaara e se ficou com ele enquanto esteve em Suna, errou. Mas eu conheço a Sakura tão bem quanto você... Ela vai acabar se casando com ele e vai ser miserável pelo resto da vida. E Naruto... Se a Sakura for infeliz, eu vou culpar você pra sempre. - soltou o amigo e se afastou um passo. Naruto conseguia sentir a raiva de Kakashi pelo olho exposto e pelo tremor. Nunca tinha visto o sensei tão descontrolado daquele jeito. – E me culpar também. Porque eu tinha que ter lutado mais por você, por ela e até pelo Sasuke.

Naruto respirou fundo ao ouvir a última parte.

- Você não tem que se culpar por nada, Kakashi. A Sakura e eu... nós não estamos destinados à ficar juntos.

- Esse é o problema! Esse é o seu problema! – voltou a se irritar, o apontando com o dedo. – Quando você saiu de Konoha, era um moleque gritão que enchia o saco de todo mundo dizendo pra quem quisesse ouvir quais eram os seus planos. Você era um porre de chato, Naruto! Mas era honesto. Honesto com os seus sentimentos e com os seus sonhos. Aquele moleque lá me fazia acreditar que você seria o Hokage. Aquele lá. Você, esse que eu tô vendo agora, virou um merda tão grande que não tem capacidade de ser honesto nem pra assumir o que sente. A Sakura ficou o Gaara?! Foda-se. Ela só ficou com ele desde que você foi embora. E você? Com quantas mulheres ficou? E não vem com essa de que ela pediu qualquer coisa pra você, porque eu sei que não pediu. – Naruto o olhou abismado. Como sabia que não? – A Sakura nunca mais vai te pedir nada, Naruto... Da última vez que ela te pediu uma coisa, você sumiu por anos. Aliás... – deu uma risada seca, se afastando de novo. – Ela deve ter te pedido pra não ir embora lá em Suna, não é? Deve ter dito que estava arrependida e pedido pra você não a abandonar... E você fez o quê quando ela te pediu uma coisa em anos?

Naruto engoliu uma saliva à seco. Isso não mudava o fato de Sakura ter dormido com Gaara, mas também era impossível não aceitar cada uma das palavras duras de Kakashi. Caiu sentado na cadeira, sem a menor reação.

- Que merda, Kakashi... – murmurou com os olhos parados, levemente marejados.

- Merda mesmo. – ele girou nos calcanhares, se recuperando de qualquer descontrole. – Bom, Naruto... Eu vim até aqui pra te avisar que eles chegam hoje em Konoha. O casamento vai ser amanhã então, você tem vinte e quatro horas pra tomar uma decisão que vai mudar a vida de todo mundo.

Naruto nem se mexeu. Só ouviu o baque surdo da porta se fechando mas nem isso conseguia encobrir seus pensamentos. Era a última chance de fazer qualquer coisa. Isso, se fosse fazer. Aquele copo que segurava na mão, se esfarelou em um milhão de pedaços quando foi arremessado na parede.

- Droga, Sakura! – gritou, nervoso, passando a mão pelos cabelos.

------

A viagem de Suna a Konoha parecia ter durado apenas alguns minutos. Sakura andou ao lado da comitiva de Gaara, sem trocar nenhuma palavra. Apenas respondia o que lhe foi perguntado, dentro de um torpor imenso. E ele, por qualquer motivo, preferiu não interferir. Deixou Sakura com seus próprios pensamentos, só se atentando se ela precisava de alguma coisa no caminho.

Quando entraram em Konoha, a recepção foi calorosa. A aldeia toda sabia que a chegada dos dois significava o casamento e o reforço da aliança entre as duas vilas. Mas que todos perceberam que a noiva estava bem menos efusiva que o normal, isso perceberam. Sakura foi criada ali e todos a conheciam desde menina. Acompanharam todo o sofrimento dela com a partida de Sasuke, depois de Naruto. Acompanharam seu crescimento como ninja. Acompanharam seus progressos como pupila da Hokage. Acompanharam o início desse namoro dela com o Kazekage de Suna. Acompanharam esse amor, que cresceu com o tempo.

Agora, viam ela mais apática que nunca.

Eram poucos os que sabiam do envolvimento dela com Naruto mas, pros que conheciam essa história, era bem óbvio o motivo de tanta tristeza. O semblante fechado da sempre sorridente Sakura, combinava demais com a vida desregrada que Naruto vinha tendo. E, pros que sabiam, não passou despercebido.

Tsunade foi uma delas.

Assim que viu Sakura e Gaara entrarem em sua sala, sentiu o coração se apertar tanto, que caberia na ponta de um dedo. Sua menina estava estática, com os olhos parados, e uma expressão de dor que, pra quem a conhecia intimamente, sabia que exalava pelos poros. Gaara não. Estava mais tranquilo que o normal, esboçando mais sorrisos do que Tsunade nunca imaginou ver.

- Vocês... estão bem? – a pergunta dela saiu baixinha, procurando os olhos de Sakura no processo. A menina até a olhava, mas desviava imediatamente. E Tsunade percebeu aquele misto de raiva com tristeza. Sabia o motivo de Sakura a olhar assim e, agora, se arrependia de qualquer coisa que tinha feito.

- Estamos, obrigado. Como estão os preparativos do casamento? – a resposta séria de Gaara não a impediu de continuar olhando Sakura. Ainda a encarando, respondeu.

- Está tudo pronto. Podem se casar amanhã, como o planejado. – como se tudo já não fosse apavorante o bastante, o fato de Sakura nem se mexer a transtornou demais. – Vocês têm certeza disso? – a pergunta saiu estrangulada e Tsunade correu os olhos pra Gaara. Sabia que, de Sakura, não viria nenhuma ação pra impedir esse casamento então apelou pro bom senso dele.

E Gaara sabia disso. Sabia do torpor de Sakura, sabia da apatia dela e sabia que estava se aproveitando de um momento de fragilidade imenso de sua rosinha. Mas tinha tanta certeza de que a faria feliz que não se importou de pular algumas etapas. Segurou a mão de Sakura com firmeza, demonstrando em atos o que Tsunade tinha perguntado.

- Nós vamos nos casar. – nesse ponto, até a voz dele tinha um traço de insegurança.

A Hokage se encostou na cadeira, dando um suspiro longo e cansado. Isso era uma péssima ideia. Péssima. Mas também percebeu que o bom senso de Gaara não seria seu aliado. Faltava tentar Sakura.

- Muito bem. Peça a Shizune pra te acompanhar até a pousada onde ficará hospedado. – fez vista grossa quando percebeu que Gaara ia falar alguma coisa, então emendou direto pra evitar que ele a interrompesse. – Eu queria falar um minuto com a Sakura, em particular. – ainda deu um sorriso manso, dando a entender que era uma coisa de pupila e sensei. Quase uma conversa familiar.

Gaara assentiu, apesar de contrariado. Deu um beijinho no topo da cabeça de Sakura, dizendo que ia até o apartamento depois. Quando se viram sozinhas, Tsunade acabou com as formalidades que eram exigidas na frente de um Kage.

- Sakura, não faça isso. – foi tão direto que aquela apatia de Sakura sumiu imediatamente. Ela olhou a mestra completamente confusa. – Não se case com o Gaara. Não é ele que você ama.

Por um segundo, Sakura ficou estática, encarando Tsunade. Depois explodiu num riso louco, desesperado, deixando as lágrimas correrem com toda a dor que vinha guardando.

- Você não tem esse direito! – gritou, no meio daquele ataque, apontando a sensei. – Você, de todo esse maldito mundo, não tem o direito de me dizer isso!

Tsunade estava destruída. Sabia que Sakura tinha razão nas palavras duras mas isso não significava que não a queria bem a ponto de tentar impedir um casamento que a faria infeliz. Se levantou da cadeira, indo até ela, e a abraçou, contendo com força os braços que Sakura debatia sem parar, tentando empurrá-la. Quando, por fim, a raiva saiu, ficou só a dor. E um choro convulsivo em seu ombro. Tsunade apoiou o rosto na cabeça de Sakura.

- Me perdoa, Sakura... Eu não devia ter interferido em nada. – o choro aumentou mais e a própria Tsunade se rendeu às lágrimas. – Não faça isso, menina. Não se case com alguém que você não ama...

Sakura chorou por minutos completos, dentro daquele carinho de sua mestra. Não era a Hokage ali e, se pensasse bem, nem sua sensei. Era quase uma familiar, que se preocupava com seu futuro.

Um futuro onde ela não via final feliz.

- Agora é tarde, Tsunade... – se afastou, limpando o rosto com as costas das mãos. – Eu mesma estraguei tudo. Esse tempo que eu fiquei em Suna, acabei me entregando ao Gaara e... – sentiu a garganta fechar só de pensar em Naruto. – Bom... É o mínimo que eu posso fazer. Me casar com o Gaara é o mais correto.

- Correto sempre foi, Sakura! – a Hokage se rendeu ao descontrole, mas respirou fundo antes de continuar. – Você se casar com o Gaara sempre foi o mais correto. Mas você não ama ele como ama o Naruto.

Foi a primeira vez que Sakura ouviu a mestre dizer isso com todas as letras. Quase como um consentimento.

- Ele não quer mais nada comigo. – a voz saiu lamentosa, quase em choro de novo.

- Por que você ficou com o Gaara? – viu Sakura concordar com a cabeça. – Vai falar com ele, menina. Explica tudo, pede desculpas. Só... não se case sem ter a mais absoluta certeza disso.

Sakura baixou os olhos, respirando devagar.

- Será que ele... – foi a primeira vez que Tsunade viu um fio de felicidade escapar pelo olhar dela. – Será que ele me ouviria?

- Você pode tentar. – deu um sorriso sincero, puxando Sakura pra um abraço. – Você tem que tentar.

Sakura correu pelas ruas de Konoha como há muito não fazia. Ia sorrindo, recheada de esperança depois das palavras de Tsunade. Talvez se explicasse tudo, pedisse perdão, agora, depois da raiva ter diminuído, podia ser que Naruto a entendesse, a desculpasse. Acabaria imediatamente com essa história de casamento e, se ele quisesse, cairia no mundo ao seu lado.

Chegou na porta do apartamento dele sorrindo em antecipação. Bateu duas vezes, se controlando pra não derrubar tudo de uma vez e sentiu o coração palpitar ao ouviu um “já vai” entediado pelo lado de dentro.

Mas nada se comparou à felicidade de ver Naruto de novo. E ele, por mais que tentasse esconder, também deixou um esboço de sorriso escapar.

- Sakura? – disse meio em choque, meio feliz. Mas depois se lembrou de tudo e a expressão passou a ser tensa, como vinha sendo nos últimos dias. – O que está fazendo aqui?

- Eu... posso falar com você? – perguntou baixinho e colocou um pé pra dentro, já na intenção de entrar.

Naruto estacou no meio do caminho.

- Não sei se é adequado que a noiva do Kazekage entre na casa de um homem solteiro. – sibilou as palavras, com todo o despeito que tinha. Sakura o olhou confusa. Por mais que estivesse nervoso, Naruto nunca tinha tido esses escrúpulos.

- Por favor... – pediu baixinho.

Naruto nunca conseguiu negar nada àqueles olhos e era isso que o apavorava. Se Sakura pedisse pra ele esquecer tudo, o faria. Fez isso uma vida inteira, se rendeu aos olhos dela mesmo em pensamento, em sonho, em delírio. Assim que abriu a porta e a viu parada, sabia a resposta de uma pergunta que nunca nem precisou se fazer. Amava Sakura. Amava a ponto de partir o mundo no meio se isso fosse preciso. E tinha medo dela, medo do poder que ela tinha sobre si. Naruto nunca conseguiu nem raciocinar vendo esses olhos verdes e, se quisesse se manter firme no propósito de se afastar, não podia nem olhá-los de relance.

O problema é que Sakura era bonita demais pra que ele não olhasse.

Deu passagem pra ela e veio atrás, pegando as coisas jogadas no chão. Jogou tudo em cima da cama e a viu, parada, desconfortável, no meio do caminho.

- Quer beber alguma coisa? Água? – Sakura negou com a cabeça e ele apontou uma cadeira pra que se sentasse. -  Quer falar o que comigo?

Sakura se sentou, conforme tinha sido instruída. Naruto continuou de pé, encostado na parede e com o braço cruzado. A encarava de um modo cético, deduzindo suas palavras e se recriminando em pensamento por querer ouvi-las.

- Naruto... eu... me caso amanhã. – ia dizer mais coisas, mas foi interrompida pelo som do riso seco dele.

- Isso eu já sei. Se tiver vindo aqui só pra me dizer isso, não precisa nem continuar.

Sakura deu um suspiro fundo ao ouvir o tom duro que ele usava.

- Não é só isso. – levantou os olhos pra ele. Naruto sentiu o peito se apertar ao cair nos verdes de Sakura. – Eu vim... te pedir desculpas. Vim te pedir perdão pelo que aconteceu em Suna.

Aquele aperto dele passou pro corpo todo. Naruto sentia cada músculo se contrair sob o som doce das palavras de Sakura. Associados às palavras ácidas de Kakashi, tinha virado um misto de desespero com paixão, sem conseguir confiar na própria sanidade.

- Você não tem que me pedir perdão. Ele é seu noivo, não foi isso que você me disse lá? – estava estático mas se remexeu ao ver Sakura se levantar e vir em sua direção.

- Eu errei, Naruto. Errei feio. E sim, o Gaara é meu noivo mas não é a pessoa que eu amo... Que eu sempre amei...

Naruto se sentia congelado perante a aproximação de Sakura. A cada passo que ela dava, mais ele sentia que o coração poderia pular pra fora da garganta.

- O que você quer de mim, Sakura? O que espera de mim? – perguntou baixinho quando ela tocou seu braço.

- Que você me ame. Que me ame a ponto de me perdoar por esse erro absurdo e que me dê a chance de te fazer feliz.

- Você quer que eu diga pra você ficar comigo e não se casar? – Sakura deu um aceno leve de cabeça. E foi aí que a força de Naruto voltou com tudo. – Eu não vou fazer isso, não dessa vez. Se você quer ficar comigo, se me ama como diz, então você vai ter que me escolher. Eu. – Sakura recuou um passo pra absorver as palavras de Naruto e ele notou a tensão nos olhos dela. – Você tá esperando que eu te roube ou que faça uma desgraça na hora desse seu casamento ridículo, expulsando o Gaara daqui a pontapés. Mas eu não vou fazer isso. Se você quer ficar comigo, realmente, quem vai resolver isso vai ser você.

Os olhos de Sakura tremularam ao ouvir isso.

- E aquela história de resolvermos as coisas juntos, Naruto? – a pergunta saiu ríspida e ele deu uma risada alta, que Sakura não gostou nem um pouco.

- Eu tava totalmente disposto à isso. Você não precisava ter se enfiado em Suna sozinha porque eu disse que ia enfrentar tudo ao seu lado. Agora, se você realmente me quiser, eu quero ser a sua escolha, não o cara que corre atrás de você. Ou você me escolhe, ou... bom, que seja feliz nesse seu casamento.

Naruto se afastou a passos rápidos, indo em direção à porta. Mas parou ao ouvir a pergunta de Sakura.

- Você ainda vai ficar comigo? – ela se virou pra olhá-lo. – Você vai passar por cima do que aconteceu em Suna e ficar comigo se eu resolver tudo?

Ele elaborou as palavras na mente. Se dissesse que sim, que inclusive já tinha perdoado, se tornaria uma opção viável, até garantida pra Sakura. Se dissesse que não, era bem capaz dela continuar essa loucura de casamento só pra não lidar com os fatos.

Seguiu pela terceira opção.

- Você só vai saber essa resposta se tomar a sua decisão. Se quiser ficar comigo, acaba de uma vez com isso. Agora, se não quiser arriscar... o Kazekage tá bem disposto a te fazer feliz.

O tom irônico a irritou. Sakura entendia o que Naruto estava fazendo e era mais do que justo. Por motivos fúteis e banais eles sempre se perdiam no meio do caminho e fazia sentido que, a essa altura, Naruto quisesse a certeza de seu sentimento. Certeza que ele até tinha e que ela frustrou em Suna. Mas não precisava tripudiar.

Saiu pisando duro e parou na porta pra uma última olhada.

- Eu sei que ele está. – fechou a porta atrás de si num baque seco, deixando um Naruto angustiado pra trás, com medo de tê-la perdido pra sempre.

Sakura saiu completamente transtornada da casa de Naruto. Não que tivesse dúvida de seu sentimento, só tinha se apavorado por ter deixado as coisas chegarem no ponto em que chegaram. Estava na véspera do próprio casamento, prestes a terminar tudo com Gaara, da maneira mais incorreta possível. Isso tudo, contando que Naruto seria capaz de perdoá-la. Senão, perderia o amor e perderia uma pessoa que gostava muito dela.

Sentiu o baque de seu transtorno quando o corpo bateu contra o de alguém. Reconheceu mesmo sem nem ter olhado o rosto, aquela pessoa que a segurava firme, impedindo que caísse de bunda no chão.

- Ôe, Sakura! Você está bem? – pelo semblante, Kakashi sabia que não. Ainda mais por ter deduzido de onde ela vinha. Já Sakura, não tinha mais forças. Por um segundo, baixou a guarda e se deixou ser amparada pelo conforto de Kakashi. Ele a puxou pra um abraço terno, sem nem se importar que estavam no meio da rua. Não era hora pra formalidades.

- Eu estou tão cansada, sensei... – a voz saiu abafada dentro do peito dele e Kakashi a abraçou ainda mais apertado. – Tão cansada de só magoar as pessoas...

Ele negou com a cabeça, ainda em silêncio. Depois, afastou Sakura apenas o necessário pra que ela visse seu rosto. Precisou levantar o dela pra que encontrassem o olhar.

- Você não magoa ninguém, Sakura. Você é um ser humano como qualquer outro e erra. Todos os nossos erros têm impacto na vida de alguém, isso é fato. Mas nada é imutável, minha flor. Você pode mudar a sua vida. – Sakura absorveu cada uma das palavras que ele dizia. Cada uma delas, cada pausa, ia entrando em sua cabeça. Aquele compasso que Kakashi falava sempre a deixava mais segura das coisas. Deu um sorriso pequeno, ainda magoada, e ele retribuiu. – Inclusive, eu acho que você devia mudar sua vida. Nós três sabemos que você não será feliz se casar amanhã.

Ela não precisou que ele dissesse quem eram os três que sabiam disso.

----------

Naruto viu o dia nascer pela janela do seu apartamento. Depois que Sakura tinha saído, não conseguiu fazer mais nada além de esperar a decisão dela. Isso, pra alguém como ele, tinha sido quase uma tortura. Quando finalmente se levantou da cama, foi pra sacada. Encontrou Konoha quase em silêncio. A Hokage havia informado que apenas as guardas fossem mantidas. O resto do pessoal tinha sido convidado à assistir o casamento que fecharia, de uma vez, a aliança entre a Folha e a Areia.

Ficou olhando aquela movimentação pequena tempo o suficiente pra tomar uma decisão. Precisava ver Sakura uma última vez. Precisava se perder nos olhos dela. E se sentisse que ela realmente o queria, mandaria às favas orgulho e tudo o que os afastava. Se sentisse que Sakura realmente o queria, tiraria até o último grão de areia de dentro de Konoha.

Se vestiu rápido e partiu, decidido, até o campo onde seria o casamento. De longe, via uma pequena multidão se aglomerando mas, mesmo forçando os olhos, não encontrava Sakura. O que encontrou foi um grupo de ninjas de Suna, preparados pra impedi-lo de passar.

- Temos ordens do Kazekage pra não permitir que entre.

Naruto rolou os olhos, sem diminuir o ritmo da passada. Fez quatro clones que se preocuparam com a luta contra os guardas e derrubou um deles, ele mesmo. Passou, sem nenhuma dificuldade. Até parece que meia dúzia de ninjas da areia ia separá-lo de Sakura... Se nem o Kazekage de Suna ia ser capaz disso, quanto mais ninjas inferiores.

Viu Kakashi encostado em uma árvore, agarrado ao Icha Icha. Não tinha tempo pra formalidades, “bom dias”, nem nada. A cada segundo, mais sentia o peito apertar.

- Onde ela está? – Kakashi levantou os olhos pra ele, naquela expressão preguiçosa de sempre.

- Lá dentro. – apontou o casarão ao lado deles com a cabeça.

- E ele? Onde está o Gaara? – já tinha visto por ali Temari e Kankuro. Isso significava que o casamento, até o momento, se mantinha de pé.

- Também está lá. Sakura pediu pra chama-lo faz uns quinze minutos. – Kakashi tinha observado a movimentação. Mesmo ele estava impaciente, esperando uma atitude de Sakura. Mas ainda tinha bom senso o bastante pra segurar o braço de Naruto, que investiu rumo à casa. Quando o garoto o olhou, soltou. Não por medo, por receio, por nada que envolvesse sua integridade física. O soltou porque Naruto estava em pânico, desesperado. Sabia que cada segundo perdido, menor era a chance de consegui-la. Soltou Naruto e se compadeceu dos olhos tristes dele. – Acaba com isso de uma vez.

Naruto não precisou de mais nenhuma palavra. Cruzou aquele descampado sem nem olhar pros lados e preparado pra fazer mil clones se fosse preciso. Mas tinha que vê-la, falar com ela. Tinha que recuperar Sakura pros seus braços. Invadiu a casa pisando firme, olhando porta por porta. Nem se preocupava mais se teria alguém, ou se alguém acharia ruim. Só que quando viu a última porta do corredor, sabia que estavam lá. O ritmo diminuiu, a passada ficou mais lenta. Medo. Sentiu medo. E se entrasse naquele quarto e os encontrasse aos beijos? E se fosse algo pior? Parou com a mão na maçaneta e respirou fundo antes de entrar.

Gaara, que estava sentado, se levantou imediatamente. Sakura, que estava de pé, olhou pra porta assustada. Mas quando o viu, sorriu. E isso encheu Naruto de esperança.

- Merda, rosinha... – Gaara murmurou com um sorriso triste. – Ele veio mesmo. – Sakura balançou a cabeça freneticamente, sorrindo como uma louca e ele acabou se rendendo ao riso dela. – Eu sou um cara de palavra... Eu disse que se ele viesse, se estivesse disposto a te fazer feliz tanto quanto eu, tiraria meu time de campo. – dessa vez, o olhar se direcionou à Naruto. – Você vai fazer a min... a Sakura tão feliz quanto eu?

Naruto ainda estava parado na porta. Mal tinha entendido que os dois, finalmente, estavam resolvendo isso.

- Não. – respondeu firme, olhando pra Gaara, mas logo se rendeu à olhar Sakura, confusa com a resposta. – Eu vou fazer ela muito mais feliz do que você jamais imaginaria que pudesse ser capaz, Gaara.

O sorriso dela foi crescendo aos poucos, junto com o de Naruto. Gaara respirou fundo, passou a mão pelo cabelo, tentando manter a pose firme e a palavra de honra intacta.

- Bom, é isso, né? Eu que tinha que ter recuado antes. No dia em que eu vi você aqui, andando do lado da Sakura, sabia que tinha perdido ela.

Naruto pensou em dizer que ele nunca tinha nem tido ela, mas seria mentira e todos sabiam. Se resignou a concordar com a cabeça. Gaara se aproximou de Sakura devagar, a acolhendo em um último abraço cheio de carinho.

- Eu vou ser seu amigo pra sempre, rosinha. Aquele que só fica do seu lado se você não quiser conversar. – murmurou baixinho no ouvido dela e deu um beijo em sua têmpora. – Vou lá avisar que não vai mais ter casamento. – sorriu um sorriso triste e ia saindo, quando não aguentou. Parou ao lado de Naruto. – Qual a chance de eu te dar um soco por ter roubado minha noiva? - as palavras dele pareceram sérias demais e, pelo bem de todos, Naruto tava disposto até à isso. Respirou fundo e girou o rosto, dando espaço pra Gaara bater. Mas como demorou muito, abriu um olho só pra encontrar os dois rindo da cara dele. – Nossa, eu vou me arrepender tanto de não ter feito isso... – falou rindo e deu um tapa, um tanto forte demais, no ombro de Naruto.

E os que ficaram, não precisavam de muitas palavras. Os sorrisos falavam por eles.

- Você me escolheu.

- Eu te escolhi. Eu sempre vou te escolher.

Naruto se aproximou devagar, pegando as mãos de Sakura e levando ao pescoço. Encostou testa com testa, boca com boca. Era tanta emoção entre eles, que mal respiravam. Sentiam, juntos, que os “de repente” voltavam.

De repente, tinham uma vida inteira pela frente.

De repente, se descobriam inteiramente um do outro.

De repente, podiam viver o amor de uma vida inteira. Não escondidos. De repente, juntos.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...