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História Dead Roses - Deep Death Roses


Escrita por: minklyestaoff

Notas do Autor


[AVISO: Capítulo bem longo]

Olá, povo lindo, tudo bem?!
Excepcionalmente hoje (folga do serviço e indo direto fazer mais uma prova na faculdade), estou postando o capítulo da semana desta fanfic, pois como terei trabalho e final de semestre, meu tempo será muito corrido e consequentemente não entrarei tanto na Net. Por outro lado, agradeço de coração todos os comentários e os (até então) 94 favoritos. UAU! Nunca esperei mesmo que mesmo na fase atual, ela fosse chegar tão longe. Muito, mas muito obrigada mesmo, gente, vocês são muito amorzinhos <3
Como estou atrasada para a facul, se der tempo, quando eu voltar acrescento as músicas nesse capítulo na playlist da trilha sonora dela, tudo bem?!

Sem mais delongas,

Boa leitura!

Capítulo 10 - Deep Death Roses


Era uma noite e um momento terrível para todos os presentes, porém ainda era muito mais dolorido para Viktor estar naquela coletiva de imprensa sem Yuuri — somente não doía mais do que os pais e a irmã de Katsuki, ali, prestigiando o trabalho póstumo do filho e irmão mais novo. Era também difícil falar sobre o ensaio sem uma pausa para o choro de saudade daquele tempo, receber os parabéns de todos pelo ensaio do ator, assistir o vídeo feito em homenagem a ele. Além disto, Viktor Nikiforov também anunciou que daria um tempo na carreira para reestruturar e renovar seus rumos profissionais e pessoais. A decisão repentina assustou, porém para bom entendedor meia palavra bastava: foi um baque enorme para ele fazer um trabalho com seu ídolo e no dia seguinte, ele estar morto. Precisava mesmo dar um tempo, pois realmente ainda era inacreditável para todos que fazia exatamente quarenta e oito horas do falecimento de Yuuri.

Depois da coletiva, veio a sessão de entrega de livros e um rápido coquetel, só porque a revista mandou.

Quando a família Katsuki, vinda direto de Hasetsu, foi felicitar Viktor, entregando-lhe rosas brancas, a realidade veio para o fotógrafo como um soco no estômago. Somente conseguiu entregar-se a um longo abraço em cada um deles, cheio de lágrimas, murmurando o quanto não queria estar ali, sentimento compartilhado pela família, perguntas sobre porquês, divagações e muita, mas muita saudade de Yuuri, porém eles não puderam ficar devido a compromissos do hotel. Em seguida, vieram Yuri Plisetsky e Kenjirou Minami, que foram consolados antes pela família Katsuki, para dar um longo abraço no fotógrafo.

Viktor pediu licença para os presentes e foi, acompanhado de Yuri e Minami, para o terraço do prédio onde ocorria o evento. Lá, eles encontraram Lisa, sentada de maneira bem encolhida em um canto do terraço, abraçada ao livro de fotos do ensaio e cantando uma velha conhecida canção dos anos 90.

(…) Eu não quero nunca me sentir

Como me senti aquele dia

Me leve ao lugar que eu amo

Me leve por todo o caminho (…)”

(Under The Bridge — Red Hot Chili Peppers)

Viktor correu até onde a mulher estava, ajoelhou-se, abraçou forte a mulher e no abraço, eles desabafaram em lágrimas toda a dor da falta de Yuuri.

— Por que, por quê? — gritava a cantora inconformada, ao mesmo tempo em que chorava muito.

Yuri e Kenjirou também correram até os dois e abraçaram eles, formando assim um intenso abraço coletivo, no qual eles poderiam expressar a falta que sentiam de Katsuki sem censuras e chorarem o que tiverem para chorar com privacidade. Ficaram um bom tempo assim, tentando se confortar no calor dos abraços uns dos outros até se sentirem bem suficiente para saírem dele.

Após o abraço, todos sentados no terraço com exceção de Lisa, que estava deitada com a cabeça apoiada no colo do fotógrafo e ainda abraçada ao livro, eles divagavam:

— É muito injusto… a essa altura do campeonato o Yuuri já teria me cumprimentado, tirado uma selfie comigo e com a gente mesmo, conversado, esse livro teria o autógrafo personalizado dele que ele sempre fez para mim “La-la-la-lalisa”, o meu apelido da época que acompanhava ele como katsubuki e achava os vídeos dele o máximo, mas aí eu passei na agência que eu trabalho hoje, tive que apagar minhas redes sociais antigas, mas cumpri minha promessa de fazer ele me enxergar, quando eu realizasse meu sonho… enfim, o Yuuri faz muita falta.

— Desculpa perguntar, mas isso veio de Litchi Hikari Club? — perguntou Nikiforov, fazendo referência a um renomado mangá de terror gore.

Os olhos da mulher brilharam ao ouvir tal pergunta e exclamou:

— Não acredito… Você conhece Litchi Hikari Club?!

— “Este é o nosso…” — Viktor falou, fazendo referência explícita a uma das falas do aclamado mangá de terror gore.

— “… Hikari Club!” — completou a cantora, dando uma gostosa risada e continuou — E foi justamente com o tutorial dele para fazer a maquiagem do Jaibo que o conheci e, ah, peguei o amor por ele.

— Ah, então você conheceu ele…

— Sim, eu conheci o Yuuri quando ele já estava magro, já era trainee da agência e estava prestes a debutar como ator. Tanto que um mês depois que eu vi o primeiro vídeo dele e passei a acompanhá-lo, o Yuuri fez lá o vídeo de encerramento do canal, explicando que ele ia estrear na semana seguinte e tal. Infelizmente eu não peguei sua sorte de acompanhar o Yuuri praticamente desde o início, mas meu amor de fã sempre foi tão sincero quanto o de qualquer fã mais antigo dele. O Yuuri me salvou, quando eu estava muito frustrada com a agência, na época, por causa dos adiantamentos da minha estreia, mandei uma mensagem para ele e ele foi tão amorzinho, tão incentivador e compreensível. Ele falou exatamente as palavras que eu precisava ouvir naquele momento. Se hoje eu sou o que sou, uma parte grande foi graças à Yuuri Katsuki. — desabafou Lisa, emocionada.

— Uma vez, o Yuuri me disse que se sentia honrado e feliz com cada fã dele e ele comentou que ficou muito comovido quando ele te conheceu pela primeira vez. Pelo que ele falou, você chorava muito de emoção ao vê-lo e ele te abraçou para você se acalmar, mas depois quem acabou quase chorando foi o Yuuri, porque ele descobriu que você era uma fã antiga muito leal a ele. — comentou Viktor.

— Ele também falou, uma vez, que tinha um baita orgulho de você, porque você nunca desistiu do seu sonho de ser idol, mesmo com as dificuldades. Às vezes fico pensando… tantas pessoas como você, Lisa, que amam, sonham com esse “mundinho idol”, batalham até estrear, mas nunca fazem sucesso e pessoas como eu, que sempre repudiei esse mundinho e só fiz o que fiz para sobreviver e alcançar meu real sonho, fiz sucesso… — refletiu Yuri, com a cabeça encostada no ombro de Kenjirou.

— Yuri, você fez o que tinha que ser feito. Eu tive a sorte da minha agência ter feito audições em Bangkok, mas se eu tivesse largado tudo para ir para Coreia do Sul fazer audições, ainda mais se fosse naquela época, que eu só sabia falar “oi”, dois pronomes de tratamento e “eu te amo” em coreano, eu também faria a mesma coisa que você fez. — comentou Lisa.

— Não consigo entender direito o que é largar a vida em um país para alcançar seu sonho em outro, porque eu vim de uma família estável, mais preocupada com a minha felicidade e me criar para o mundo do que tentar se encaixar em um modelo falido de sociedade. — Minami nasceu e cresceu em uma família de tatuadores que vivia em uma comunidade hippie na ilha de Okinawa, de onde só saiu quando sentiu a necessidade de aprimorar sua arte e esse aprimoramento se deu fazendo faculdade de Artes Plásticas mais um curso de especialização em tatuagens. Desde pequeno, Kenjirou queria ser tatuador igual os pais, falecidos por causas naturais. — Sempre fiz o que sonhava fazer desde criança aqui no Japão, seguir a profissão dos meus pais, mas acho que deve ser o mesmo incômodo que eu senti quando eu precisei sair de Okinawa e vir para cá para Tóquio só que em uma dimensão muito maior, eu acho. Minha mãe sempre falava para mim: “Se o seu coração não pertence mais a um local, não tenha medo de deixá-lo. Nada é mais precioso do que o nosso próprio ponto de paz.” — divagou o tatuador.

— E sua mãe nunca esteve tão certa, Kenjirou... — comentou Viktor com lágrimas nos olhos. — Como eu não queria estar aqui, como!

Repentinamente, Lisa deu uma ideia:

— Então, vamos todos sair daqui? Viktor, encerra o coquetel que eu, o Yuri e o Kenjirou vamos usar as escadas de emergência para entrarmos no carro do Yuri, ou você veio no seu carro?

— Não, eu vim com a limusine da editora. — respondeu o fotógrafo.

— Beleza, a gente te espera na porta dos fundos de emergência lá embaixo. É mais fácil de contornar paparazzi, tudo bem?! — avisou a cantora.

— Tudo bem. — confirmou Viktor.

Assim que voltou para o local do coquetel, agradeceu a presença de todos, fez um rápido discurso e oficialmente encerrou o evento. Logo em seguida, conforme o prometido, Viktor despistou os paparazzis, foi até a porta dos fundos de emergência e assim que saiu de lá, entrou no carro de Yuri e foi. Entretanto estranhou aquele carro popular vindo do cantor e perguntou:

— Ué, você alugou este carro?

— Não, eu tenho dois carros mesmo. A Mercedes prata eu uso quando estou de boa ou quando eu tenho certeza de que os paparazzis não vão me perseguir, já esse preto aqui eu uso quando eu tenho certeza de que terei papparazzi me perseguindo. — explicou o cantor para depois perguntar — Algum de vocês vai querer ir para casa, pegar alguma roupa para disfarce?

— Acho que todo mundo, né, Yuri?! — respondeu Minami.

— Vamos primeiro no hotel aonde a Lisa está hospedada, depois na casa do Minami e, por último, no seu apartamento Viktor, pode ser? — sugeriu o cantor. Todos concordaram e fizeram o combinado.

De roupas trocadas, o quarteto estava novamente no carro, desta vez com Lisa na direção. Yuri perguntou:

— Então para onde vamos?

— É exatamente isso: para onde não vamos. Não vamos para baladas, para esses lugares chiques onde têm as mesmas pessoas. Não tem aquele filme “Uma Noite de Crime”? Que tal fazermos nossa “Uma Noite de Anônimos”? Reviver pequenos prazeres que a fama tirou da gente, sabe?! Eu quero voltar a fazer compras em um supermercado sozinha. Desde que fiquei famosa, eu faço compras no mercado online ou acompanhada de seguranças mais meu empresário e não é legal ter alguém controlando suas compras. — respondeu Lisa, animada com a própria sugestão.

— Eu entendo você, Lisa, porque eu nem tive a chance de anonimato quando eu fui parar aqui. Passei na audição em um dia, no outro meu rosto já estampava todos os outdoors do Japão. Minhas experiências de anônimo estão muito ligadas ao garotinho de Moscou fanático por JRock e JMetal, que brincava de air guitar no quarto.

— Quando eu era anônimo, um hábito meu era quando eu tinha dinheiro no final de semana, pegar umas cervejas, sentar na quina da calçada e tomá-las de boa e continuei com esse hábito, mesmo depois de tatuado o Jaret Leto, a Rihanna, o Miyavi e tal, pois eles são gente como a gente, só são famosos. Até que um belo dia, eu estava tomando minha cerveja, uma pessoa me reconheceu, fui educado, tirei uma selfie e tal, mas aí veio mais, mais e mais gente. Quando percebi, já tinha um monte de gente para cima de mim, véi, e tiveram que chamar a polícia para eu sair dali. Ali eu percebi: “Caralho, agora eu sou famoso!”. Desde então, eu não faço mais isso. Saudades. — divagou Minami com um tom de voz nostálgico. Os outros tiveram que segurar a risada, pois apesar do relato tenso, o tatuador contava-o de forma involuntariamente cômica.

— Uma coisa que eu amava fazer quando eu era anônimo em São Petersburgo, era vagar por aí sem rumo, achar uma pracinha, ou às margens do rio Neva, ou qualquer outro lugar e ficar lá, absorto nos meus pensamentos, sem ninguém para incomodar. As vezes que fui para São Petersburgo depois da fama foram um inferno, nem para eu orar pela alma da minha família no cemitério, os paparazzis me deixavam. — desabafou Viktor.

— Então… vamos fazer tudo isso: comprar no supermercado, matar saudade de comprar cerveja e ficar de bobeira em uma loja de conveniência e sair por aí sem rumo, mas tem um detalhe: como eu vou dirigir, eu não posso beber, portanto as bebidas que eu colocar na esquerda do porta-malas são as que eu vou beber depois com vocês, quando sentirmos a necessidade de estarmos em qualquer local fixo, Yuri. Bora curtir com tudo nossa noite de anônimos?! — falou Lisa.

— Demorou, bora! — os homens responderam em coro.

Cinto de segurança postos, Lisa ligou a playlist do celular de Yuri, deu partida no carro e saíram rumo a um supermercado qualquer, enquanto cantavam Moskau, sucesso da banda alemã Rammstein… Quer dizer, somente Nikiforov e Plisetsky, pois ambos também eram fluentes em alemão, Minami e Lisa apenas batiam palmas, agitavam a música e somente cantavam a única parte que entendiam, o começo do refrão:

(…) Moscou (Um, dois, três)

Moscou (Olhe!)”

A parte final em russo do refrão obviamente sempre ficava com Yuri e Viktor:

(…) (Pioneiros vêm chegando, cantando canções para Lênin) (…)”

Após a cantoria, os russos deram risada e Viktor falou:

— Pioneiros… Acampamento dos Pioneiros, você se lembra Yuri?

— Meu, é óbvio que eu lembro, meus verões da infância e comecinho da adolescência eram naquele inferno. Cara, como eu odiava aquela porra! Só gente quadrada e chata! — respondeu o cantor.

— Me abraça, Yuri, eu pensava que era o único que odiava aquilo! Mano, já começava com aquela tosqueira da pasta de dentes. Como eu tinha cabelo comprido e era bem magrelo, na época, os meninos me confundiam com menina e tacavam creme em mim e no meu cabelo, sempre sobrava para mim as travessuras mais pesadas, fora a péssima lembrança do meu primeiro beijo e minha primeira vez… Não elas em si, pois ele beijava e fodia bem, mas ele era desses gays homofóbicos, sabe?! Então, ele me maltratava para cacete e eu, inocente de tudo com treze, quatorze anos, ninguém falava comigo, achava que isso era melhor do que nada. Hoje, eu agradeço pelos nossos caminhos nunca mais terem se cruzado, mas eu sofri por ele.

— Eu entendo você, Viktor, pois eu também sofri coisa parecida naquele acampamento. Por eu curtir J-Rock, J-Metal e tal, aqueles quadradões me isolavam, falavam que eu era satânico. O negócio da pasta, eles faziam rituais de exorcismo em mim, era tenso e ainda usava VK naquela época. Sério, eu usava Visual Kei naquele calor! Pode rir, eu deixo! — comentou Plisetsky.

Nikiforov não aguentou e riu da situação junto com Yuri, porém após um bom tempo de risadas e mais conversas, eles perceberam que Kenjirou e Lisa olhavam para eles com uma cara de que não entendiam nada do que acontecia.

— Ei, meu nível de russo é só “um, dois, três”, “olhe” e “matryoska”, tá! — avisou Minami.

— Aperta a tecla SAP aí! — brincou a cantora.

Só naquele momento que Yuri e Viktor perceberam que estavam falando em russo. Imediatamente, os dois pediram desculpas para os outros. O cantor deu vários selinhos no namorado, enquanto o fotógrafo fez um cafuné na cabeça da cantora:

— Quero ver quando eu ligar para os meus amigos na Tailândia na frente de vocês e começar a falar na minha língua mãe, tá! — retrucou Lisa em tailandês, em um tom de brincadeira.

— E eu também quando começar a falar com meus amigos de Okinawa. — disse o tatuador no dialeto de Okinawa.

— Aperta a tecla SAP aí que tá foda! — brincou Yuri.

Todos caíram na risada com o comentário, porém quando a playlist começou a tocar Zombie, sucesso da banda irlandesa The Cranberries dos anos 90, o tatuador brincou:

— Agora não precisa de tecla SAP.

Eles continuaram a cantarolar, conversar, dar risadas até finalmente chegarem em uma filial de rede de hipermercados mundial, localizada em um bairro afastado do centro de Tóquio. Eles entraram no estacionamento, pararam o veículo em uma vaga qualquer, saíram do veículo, trancaram-no, andaram até o elevador e subiram para o hipermercado.

Lá dentro, eles pegaram dois carrinhos, um eles encheram de bebidas alcoólicas, lanches, salgadinhos e doces, o outro Viktor carregava Lisa dentro — como o local estava praticamente vazio, eles puderam ficar à vontade. Quando o mercado começou a tocar Fake Plastic Tree, megassucesso da banda inglesa Radiohead lançado nos anos 90, o quarteto começou a cantar junto a música e a fazer referências brincalhonas com o icônico videoclipe da música — feito também em um supermercado —, com direito a Yuri, Kenjirou e Viktor entrarem também no carrinho e a chorarem enquanto cantavam os versos finais dela, o reflexo perfeito dos seus sentimentos naquela situação.

(…) Se eu pudesse ser quem você quisesse

Se eu pudesse ser quem você quisesse

O tempo todo

O tempo todo”

A cantora mantinha um verdadeiro sorriso de felicidade pelo sentimento de liberdade, enquanto brincava com os rapazes e lembrava de que, acima de tudo, era apenas uma jovem de 20 anos que entrou praticamente ontem na idade adulta.

Depois de pegarem tudo o que precisavam, Lisa saiu do segundo carrinho, distribuiu parte das compras nele e foram para o caixa pagar as compras. Valor pago dividido entre os quatro, eles saíram do local, voltaram para o estacionamento e lá dentro, eles guardaram as compras dentro do porta-malas, os homens tomaram saquê, vodca, Lisa tomou refrigerante em lata e sugeriu:

— Corrida de carrinhos de hipermercado vazios, eu e o Viktor vs o casal 20 do amor, bora?

— Em Moscou, ninguém nunca ganhava de mim na corrida de carrinhos. Esteja preparada para o segundo lugar, Lalisa Manoban.

— Queridinho, eu sou heptacampeã de corrida de carrinhos de mercado em Bangkok, tá. Quem tem que preparar para ficar em segundo é você, tá, Yuri Plisetsky. — provocou a mulher na brincadeira.

— Deixa eu por Moskau aqui no celular… Pronto! 3, 2… Boombayah!

— Isso é golpe baixo, Kenjirou! — gritou Lisa.

Corrida iniciada aos risos, por Minani fazer, na contagem, uma explícita referência ao primeiro sucesso do grupo idol cuja cantora era integrante, Lisa e Viktor ganharam por diferença pouca. Depois eles revezaram os integrantes dos times, porém quando os cantores se juntavam, eles eram imbatíveis. Em seguida, eles passaram a se divertir com a corrida livre de carrinhos até se cansarem, voltarem para o carro e partir rumo a uma loja de conveniência qualquer para beber cerveja gelada.

Optaram em parar em uma loja de conveniência em outro bairro, ainda mais afastado do que o anterior. Estavam praticamente na fronteira entre a capital e a cidade de Saitama, Região Metropolitana de Tóquio. Estacionaram o carro na vaga indicada, saíram do veículo, entraram na loja, cumprimentaram os funcionários, pegaram o carrinho de compras e foram direto para a parte de bebidas alcoólicas.

Na geladeira do local, pegaram um monte de cervejas e durante o caminho para o caixa, eles reparavam na música do ambiente, Missing You, sucesso do grupo feminino de KPop, grande inspiração de Lisa e ex-sêniores da mesma agência da cantora, 2NE1. A mulher segurava as lágrimas para não lembrar do dia da despedida delas como grupo, do adeus definitivo de uma delas da agência e nessa, sem querer revelar sua identidade. Os homens também seguravam suas lágrimas, mas não pelo grupo ou a melodia em si (apesar de Yuri ter conhecido elas  no passado e ter ficado com uma ótima impressão), mas pelos versos tocantes da letra como:

(…) Mesmo que se passe muito tempo, nós ainda lembraremos um do outro

Aquele tempo em que ainda havia “nós” (…)” — obviamente com pensamentos, cada um ao seu modo, relacionados a Yuuri.

Pagaram pelos produtos, saíram da loja, sentaram na quina em frente onde o carro estava estacionado, colocaram os sacos cheios de cerveja no chão, pegaram uma garrafa e começaram a beber — exceto Lisa, por ser a responsável por dirigir, que escolheu um suco importado de açaí caríssimo. O sorriso e o grito de Minami expressavam de maneira franca toda a saudade dos velhos tempos antes da fama, e isso deixava Yuri muito alegre. Entretanto, o tatuador começou a reparar novamente que o namorado tremia como nas vezes que estava muito estressado ou mal do estômago, assim como Lisa e Viktor também repararam. Na realidade, eles repararam nisso desde que encontraram Yuri na coletiva de lançamento e no caso de Kenjirou, quando viu o namorado tomando remédio para dor de estômago, mas como depois o homem voltava ao normal, deixavam para lá.

O cantor avisou que ia até ao banheiro no lado de dentro da loja e já voltava, levantou-se e andou até o local.

Lá dentro, a realidade dava um soco brutal na cara de Plisetsky: a “fissura” pela cocaína dominava o corpo e a mente. O cantor travava uma difícil batalha, pois de um lado seu corpo e grande parte da sua mente implorava pela droga, do outro aquela parte racional do seu cérebro que implorava para ele continuar como estava, na base de Valium e Ritalina, para suportar a “fissura” em consideração ao namorado, que o amava muito, os pensamentos de auto culpa pela morte de Yuuri e até mesmo pedia para considerar que estava, de fato, viciado pela cocaína e precisava de ajuda médica, antes que ele seja o próximo a morrer pela droga. Contudo, a parte sintomática era algo difícil de lidar, pois a “fissura” era muito forte. Yuri chorava de raiva por si próprio, enquanto despejava na tampa da privada o pó da cocaína, divida-o em carreiras, enrolava uma nota de dez mil ienes no formato cilíndrico e encaixava-a no nariz para cheirar, mas quando o cantor ia cheirar a primeira carreira, veio imediatamente um pensamento de si próprio morto, dando overdose na cabine, o choro desesperado do namorado ao ver a cena, as lágrimas da família mais os amigos na Rússia, o pranto de Lisa e Viktor, a dor dos seus fãs. Imediatamente, Plisetsky retirou a nota do nariz, guardou-a de volta na carteira, pegou o pino de cocaína, colocou o pó de volta nele, pôs ele novamente dentro da carteira, lavou as mãos e saiu da cabine. 

Depois, foi até o bebedouro, pegou na carteira seus comprimidos de Valium e Ritalina, tomou-os, bebeu mais um pouco de água e foi em direção aos outros.

Enquanto o cantor estava no banheiro, os outros estavam preocupados com a demora dele. Um estranho medo pairava eles:

— O Yuri está demorando, né?! — comentou Viktor — Será que aconteceu alguma coisa? Assim, não sei se vocês repararam, mas várias vezes ele dava umas tremidas.

— Bom, ele não acordou bem do estômago. Quando eu acordei, ele tinha acabado de engolir um remédio para isso, tomou a água matinal dele, já que ele não toma café da manhã, então ele saiu de casa bem.

— Acho que deve ser estresse. Pô, ele perdeu o melhor amigo, acabou de entrar em carreira solo que está um estouro, compromisso atrás de compromisso…

— E é justamente isso que me preocupa, Lisa. O Yuuri, antes dele morrer, não acordou com o estômago legal e se…

— Tá, não é segredo para ninguém que o Yuri curte uma bala e um doce, mas pelo que eu conheço dele, ele sempre foi controladíssimo com isso. Além disso a morte da Naoko, a ex dele lá que morreu por overdose de ecstasy, deixou um puta trauma nele. O Yuri não pode nem ouvir falar de bala. E outra, quando o Yuri toma LSD ele fica diferente do habitual dele. Principalmente quando ele dá "azar" de catar bad trip, que ele fica todo isoladão e tal. — justificou Kenjirou.

— Viktor… imagino o quanto vocês se sentem culpados por não terem percebido antes os “sinais” do Yuuri, mas… infelizmente não temos bola de cristal para sabermos quando as pessoas estão mal e temos nossos próprios problemas. Vocês não tem culpa de nada, gente. É que como a minha vida é em outro país, nunca tive a chance de ser próxima para valer dele, portanto eu não tenho a dimensão da culpa que vocês sentem… porém dói ver vocês assim, porque vocês são pessoas que eu gosto e eu não gosto de ver quem eu gosto mal, aí eu tento consolar… Desculpa, se eu falei alguma coisa que não devia, me desculpa! — Lisa comentou às lágrimas.

Os três homens, incluindo Yuri, que estava parado atrás da mulher, se emocionaram com aquelas palavras. Plisetsky abaixou-se, deu um forte abraço em Manoban e falou:

— Lisa, por favor, você não precisa se desculpar de nada. Não é porque sua dor tenha mais relação de fã para ídolo, que ela é “menos significativa” do que a nossa, tá!

— Você tinha uma relação menos íntima com o Yuuri, comparado a nós?! Ok, mas ele nunca te considerou menos amiga ou colega por causa disso, mulher! Ele te admirava muito! — reafirmava Viktor.

— O Yuuri nunca foi exatamente um fã do seu grupo, o Black Pink, mas ele sabia cantar todos os seus raps. Deixa eu achar… aqui! — Minami mostrou um vídeo antigo de Katsuki fazendo o rap de Lisa em Boombayah, o single de estreia do grupo. A cantora chorou um rio de lágrimas, emocionada com o que viu. O tatuador segurou as mãos da cantora e continuou. — Lisa, se ele não gostasse de você, ele saberia cantar suas partes das músicas do seu grupo? Se ele não te considerasse, ele te ligaria ou até mesmo faria questão de parabenizar você pessoalmente, quando o Black Pink lançava single novo, ganhava nesses programas musicais? Se ele não estivesse nem aí para você, ele panfletaria teu álbum solo como ele panfletou nas redes sociais dele? Não! Ela não era legal com você por você ser só fã dele, por educação ou algo do tipo, ele te adorava! Portanto, não precisa se desculpar. Sua dor não é mesmo menor do que a nossa. E está na hora! — finalizou o tatuador com um beijo na testa da mulher.

— Hora do quê? — indagou a mulher

— Hora do superabraço na Lisa! — gritou Viktor e os homens deram um abraço coletivo na cantora, que aproveitou um descuido de Viktor para fazer cócegas nele, cujo final acabou uma gostosa sessão de brincadeiras de cócegas uns nos outros, conversas mais amenas, cantorias aleatórias e muitas latas mais garrafas de cervejas vazias pelos homens. Após um bom tempo ali, o próprio fotógrafo sugeriu:

— Vamos dar uma volta por aí, gente? — a sugestão foi aceita na hora, afinal era o desejo de Viktor sair por aí sem rumo. Eles jogaram no lixo reciclável as garrafas, latas e as sacolas biodegradáveis, pegaram as cervejas restantes, abriram o veículo, entraram no carro e com o veículo ligado, eles partiram Tóquio a dentro

Ao som de 1979, sucesso antigo da banda norte-americana indie dos anos 90 Smashing Pumpkins, eles cantavam alto a nostalgia das lembranças adolescentes construídas em suas respectivas terras natais:

(…) A gente nem se importa

Inquietos como somos

Sentimos a influência

Da terra das mil

Culpas e do cimento derramado

Lamentado e garantido (…)”

Depois de 1979, eles continuaram na onda de Smashing Pumpkins, ouviram várias músicas da extensa discografia da banda, debatendo seus amores, desamores, aspectos técnicos sobre a banda (no caso de Yuri e Lisa), relembravam o quanto Yuuri adorava ela, quando tocava alguma música que o ator falecido gostava muito como Today ou Bullet With Butterfly Wings, conversas sobre outros assuntos, brincadeiras aleatórias, divagações sobre as várias paisagens que passavam, quando eles avistaram uma praia rochosa junto a um misterioso portal de um templo e, fascinados pela vista, decidiram parar por ali.

Estacionaram o carro no local indicado para tal, desceram do veículo, abriram o porta-malas, pegaram a vodca, garrafas de soda japonesa (ramune) para Lisa, o violão de Yuri e andaram até a parte rochosa da praia, perto de um dos pontos turísticos mais famosos de onde estavam, o santuário Oarai Isosaki-jinja. Como o local principal estava fechado, eles foram até o famoso portal do santuário, localizado no meio de uma das pedras da praia, ajoelharam-se, largaram o que seguravam e fizeram uma breve oração, principalmente pela alma de Yuuri Katsuki. Após orarem, eles pegaram as sacolas, levantaram-se e foram para uma pedra segura, onde eles não correriam risco de serem levados pelas ondas.

Sentados na pedra, com o violão ora apoiado em Yuri, ora apoiado em Lisa, eles bebiam — exceto a cantora —, observavam o balanço das ondas, cantavam alguma música e conversavam:

— Engraçado a gente parar aqui, né?! Era um dos locais favoritos do Yuuri. — comentou Minami com um pesar no olhar.

— Não sei se sou eu, mas sinto como se o Yuuri estivesse aqui conosco, sabe?! Como se ele estivesse, de alguma forma, olhando pela gente… Não no sentido ruim da coisa, mas do lado bom, tipo anjo da guarda. — divagou Lisa.

— É que pessoas como ele, que chegam do nada na nossa vida e aos poucos marcam ela e quando elas se vão, é foda, sabe?! Eu ainda não me acostumei e acho que nunca vou me acostumar ao ver meu celular de manhã e nele não ter o “Bom dia, Yurio” de sempre no LINE, a não ir mais na agência e ver ele, a não desejar feliz aniversário para ele este mês. Meu, como o Yuuri faz falta!

— Às vezes, tenho a impressão de que ele próprio sabia que ia morrer naquele fatídico dia. Quando nos despedimos, a gente se abraçou tão forte, mas tão forte que parecia que a gente nunca mais ia se ver… mas, na época, pensei que era apenas a sensação de surreal em relação a tudo que rolou entre a gente. Às vezes me pergunto, por que eu não fiquei? Se eu tivesse ficado mais um pouco com ele, sei lá… Eu poderia ter evitado… Yuuri, por quê? — o fotógrafo desabou em lágrimas, foi imediatamente consolado pela cantora e pelo tatuador através de um forte abraço.

Ao ver aquela cena, o cantor lembrou das palavras de Manoban junto com as de Minami, começou a tocar no violão e a cantar a primeira música que veio na cabeça, Disarm do Smashing Pumpkins, coincidentemente a canção favorita do falecido ator de todas da banda. O trio imediatamente começou a acompanhar a voz de Yuri e compartilharam através de notas, melodias e versos toda sua dor:

"(…) Costumava ser um garotinho

Tão velho em meus sapatos

E o que escolhi é a minha voz

O que mais um garoto pode fazer?

O assassino em mim é o assassino em você

Meu amor

Mando esse sorriso para você (…)"

Após terminarem de cantar a triste música, eles assistiram em silêncio o nascer do sol, imponente no seu esplendor, pois as lágrimas e as mãos dadas pelos quatro eram mais do que suficientes para expressarem seus sentimentos. Quando o sol se firmou no céu, eles fecharam os olhos, fizeram mais uma oração por Yuuri e quanto abriram os olhos, sentiram uma acolhedora brisa aquecê-los.

— Ela tem o cheiro do Yuuri. — comentou Viktor, enxugando suas lágrimas, ato repetido pelos outros que também choravam.

Pranto enxugado, eles pegaram suas coisas e deixaram aquele local peculiar rumo para onde eles estacionaram o carro. Ao chegaram lá, colocaram as cervejas, a vodca e as sodas que sobraram dentro do porta-malas, entraram no carro e partiram de volta para a casa.

Inicialmente, eles iriam para o hotel onde Lisa estava hospedada, porém o risco de algum funcionário do local reconhecê-los mesmo disfarçados, chamar a mídia e causar um escândalo irreparável na imagem deles era altíssima. Por isso, eles decidiram ir para o apartamento do cantor.

XxxX

Dentro do quarto de Yuri Plisetsky, de banhos tomados (com direito ao cantor emprestar um camisetão e uma cueca boxer para Lisa utilizar de shorts, enquanto suas roupas do disfarce eram lavadas), todos eles tomavam cervejas, fumavam maconha, e divagavam, mais bêbados do que já estavam, sobre vários assuntos, enquanto ouviam o vinil do álbum mais recente da banda inglesa de Stoner Rock e Doom Metal Electric Wizard, chamado Come my Fanatics… Na realidade, eles riam dos haters internacionais sem noção da cantora, xingando-a no seu Instagram:

— “Oportunista invejosa que está utilizando a morte do Yuuri para vadiar por aí, só porque namorou com ele escondido de todo mundo desde a época de Deep Dark.” — a mulher deu uma sarcástica risada junto com os rapazes, deu dois tapinhas no ombro do fotógrafo e continuou — Inveja eu tenho é de você, Viktor, por ter transado com o nosso ídolo e ter realizado tudo que eu queria com o Yuuri, mas não pude e aí escrevia fanfics yaoi na época de trainee. Desse fake ai, eu sinto é pena. — Yuri e Kenjirou, abraçados um ao outro, riram alto do deboche da mulher. Viktor deu uma contida risada.

— E outra, você namorava o Kuina nessa época e era nítido o quanto você amava ele. — acrescentou Yuri.

— Né, não?! Eu era louca pelo Kuina, eu amava muito ele, sequer passou na minha cabeça a possibilidade de trair ele. Pelo contrário, ele é quem me traiu com quinze em uma suruba. Ah, se as fãzinhas que ficam falando merda de mim soubessem da verdade, lavariam a boca antes de falar de mim. — comentou a cantora com certo amargor sobre o término do namoro de um ano e dois meses com o baixista da famosa banda de JRock Royz.

— Fora o ódio que você recebe até hoje por várias fãs do Yuzuru Hanyu por você ter namorado ele até pouco tempo atrás. — comentou Minami.

— O Hanyu foi algo… mágico! Eu nunca fui tão incentivada profissionalmente e pessoalmente por alguém como ele me incentivou. O que aconteceu com nós foi… ele nunca esqueceu o Javier, o ex dele, e quando o destino predestina você a alguém não há pessoa que corte o fio vermelho de você com aquela pessoa; foi exatamente isso que aconteceu. Quando eu comecei a perceber que estava empacando o amor deles, chamei ele, o Javier, falei na cara dos dois meus sentimentos e deixei o caminho livre para o Yuzu voltar para o Javier de maneira limpa, honesta. Deixei o homem que eu amava voltar a ser feliz com quem ele nunca deveria ter se separado e não me arrependo. Tanto que no mesmo dia, eles voltaram. Apesar deles estarem bem e atualmente juntos, eles ainda namoram escondido, porque o meio deles é tão homofóbico quanto essa bosta de sociedade e até hoje a família do Yuzu não sabe que ele é bissexual. Eu sou eternamente grata aos nove meses que fiquei com ele, porque mesmo ele só gostando de mim, o Yuzu me ensinou o que é querer de verdade o bem do outro em um namoro e quando você aprende isso, você não aceita mesmo qualquer migalha. — desabafou a cantora, levando os homens às lágrimas — Um exemplo é como eles lidavam comigo em relação ao Yuuri: o Kuina só faltava me arrancar à força, quando eu conversava com o Yuuri, enquanto o Yuzu cumprimentava e conversava com ele traquilamente ao meu lado, depois ele ia para os amigos e conhecidos dele.

— Eu compreendo o que é ter amor bosta, os “heteríssimos” em Moscou, minha época do Jeonghan… aff, todos os dias eu me pergunto como eu aturei dois anos aquele cara. Na verdade o que aconteceu... Sabe aquela pessoa graciosa na frente das câmeras, apaixonante no começo, mas conforme o tempo vai passando, vai caindo a máscara dela? Foi exatamente isso que aconteceu até que não aguentei mais e tchau! Traduzindo, a máscara do Jeonghan caiu de vez quando eu flagrei ele beijando à força um dos caras do meu ex-grupo, o Yoichi. Eu entendo perfeitamente suas caras de espanto, gente, eu sei que o que estou falando agora é chocante por ele parecer um anjo em frente às câmeras, com às pessoas do nosso meio, imprensa e os fãs, mas vou soltar mais uma verdade: nem os caras do SEVENTEEN, lá na Coreia do Sul, aguentavam ele. Corrigindo, tinha o Joshua, porém aquele lá é tão cobra quanto o Jeonghan (e me odiava, por sinal), por isso que ele era o único que se dava bem com ele. Mas… passado é passado e meu presente é o Kenji. — revelou Yuri, dando um selinho apaixonado no namorado, entretanto o cantor não revelou que a única ex que sabia e acompanhava ele no consumo de cocaína, infelizmente, morreu de overdose de ecstasy; fato que piorou muito o vício do homem. Logo em seguida, Minami comentou sobre o assunto:

— Eu nunca tive exs bostas como os de vocês, o que eu tive muito foi ex que não acreditava em amor à distância e terminava comigo por causa disso, ou namoros que a distância e a correria dos dois lados esfriava tudo de vez. 

— Como minha profissão exige que, dependendo do trabalho, eu veja pessoas nuas ou em situações insinuantes direto, somado ao fato de eu não ter horário para começar e terminar meu trabalho e afins, a maioria dos meus relacionamentos acabavam ou por ciúmes, ou por pura incompatibilidade de agendas. — Viktor escondeu que o real motivo dos términos da maioria dos seus relacionamentos era ou pelas pessoas não aguentarem conviver com a depressão do fotógrafo ou por pedirem o término, assim que descobriam a doença. Agradeceu internamente quando Plisetsky mudou de assunto:

— Lisa, posso compartilhar com você um segredo do Yuuri, que depois de tudo que você falou, acho que chega até ser um direito seu você saber… O Yuuri sentia atração física por você.

A cantora ficou chocada com a revelação, tanto que perguntou com a voz trêmula:

— É sério isso?

— É. — Viktor respondeu e continuou — Quando a gente estava a caminho da festa do Kenjirou, estava passando o clipe de Whistle e a gente começou a falar de você, nada desrespeitoso, tá, aí o Yuuri me lembrou daquela vez que tirei uma foto sua no leilão da revista Myojo, lembra?

— Claro, foi quando a gente se conheceu. Foi uma pena a gente ter conversado tão pouco naquele dia.

— Então, esse ser aqui, o Yuri, me perguntou “Viktor, se a Lisa fosse solteira naquela época e te desse uma chance, você ficaria com ela?”. Aí, “Sim, ela é legal, inteligentíssima, carismática, talentosa e linda. E você, Yuuri, se na época de Deep Dark, a Lisa não namorasse o Kuina e você tivesse a oportunidade de ficar com ela, você ficaria?”. O Yuuri respondeu “Sim, a Lisa é uma mulher incrível, encantadora em todos os sentidos.”. Por isso eu falo, o que rolou entre mim e o Yuuri foi questão de oportunidade. Se o destino tivesse dado a oportunidade para vocês, você também teria tido a mesma “sorte” que eu. — falou o homem.

— Já que estamos no momento segredos, vou contar um em relação a você, Viktor: quando você revelou que transou com o Yuuri lá em Hasetsu, eu senti vontade de transar com você para sentir um pouco do gosto, do cheiro do Yuuri que está até hoje marcado no seu corpo e descobrir quais eram os encantos de Viktor Nikforov que deixaram Yuuri Katsuki louco… mas aí passou, porque, em primeiro lugar, seria um ato horrível da minha parte, depois você é o ídolo do Yuuri e, por último, conforme a gente foi pegando intimidade, passamos a construir uma relação tão linda que agora eu não sinto mais nada além de um grande carinho e admiração fraternal por você, Viktor. — e Lisa confirmou isso dando um beijo na testa do fotógrafo. — Me desculpa, Viktor, se isso te magoou de alguma forma.

— Lisa, eu e o Yuri que temos que pedir desculpas para você. A gente meio que te objetificou.

— Vocês estariam me objetificando se falassem que eu sou gostosa e bostas do tipo, mas vocês apenas ressaltaram minha beleza interior e falaram o que todo mundo fala de mim sobre o meu exterior, que sou "linda"; afinal, ser idol também implica em você ser e vender o "padrão" que essa sociedade prega, e se você quiser realmente estrear na indústria, ter que fazer isso a qualquer custo. No meu caso, foi mentir que o Kuina e o Yuzu eram meus patrocinadores para não ter que transar com velhos e jovens nojentos em troca de "x" comercial, por exemplo. — Só de lembrar as pessoas com quem foi obrigado a dormir, principalmente no início da carreira, para chegar onde chegou, o estômago de Yuri Plisetsky embrulhava. Além disso, foi a partir dessa prática que Yuri começou a cheirar cocaína, para conseguir "encarar" gente nojenta desfrutando do seu corpo. Agradeceu mentalmente Lisa por mudar de assunto. — Enfim.... Relaxem, tá! Ah, e já é hora!

— Hora do quê? — perguntou o fotógrafo

— De dar um superabraço no Viktor! — gritou a cantora e junto de Yuri e Kenjirou deram um abraço coletivo bem apertado nele. Nikiforov ficou, de certa forma, comovido, pois há muito tempo não se sentia tão acolhido assim.

Após o abraço, eles, ainda deitados na cama de casal do cantor, relembraram lugares onde estiveram, lugares onde nunca estiveram, vontades, escapares:

— Durante minha noite e dia mágico com o Yuuri, estávamos falando justamente sobre viagens, quando ele comentou da vez que ele foi para o Brasil na época de trainee e voltou para gravar Narcos. Ele dizia que era um país lindo e que um dos sonhos da vida dele era comprar uma casa em Fernando de Noronha. A gente até planejava, um dia, viajarmos juntos para o Brasil. Por isso, enquanto me preparava para o lançamento, eu comprei uma passagem para lá e vou hoje para lá ao meio-dia. Realizar o desejo do Yuuri e repensar a vida um pouco, eu acho.

— Então hoje é a nossa despedida? — perguntou Lisa.

— Yuri… — falou o tatuador.

— Sim, porque na madrugada de sexta para sábado, eu vou para Moscou passar um fim de semana com meus pais, meu avô, meus poucos amigos, depois de três anos da minha ex-agência me privando disso. Nossa, nem dá para comparar a liberdade que eu tenho com a minha gravadora do que com a agência. Aí quando eu voltar da minha terra natal…

— ... ele vai direto para ilha de Okinawa para conhecer a comunidade onde eu nasci e cresci, as pessoas amigas que deixei lá. — completou Minami.

— Assumam logo que essa viagem para Okinawa é a lua de mel de vocês, tá, casal 20! — brincou a cantora, fazendo os três darem pequenas risadas.

— E Kenjirou, por que você não vai com o Yuri conhecer Moscou? — perguntou Viktor.

— Eu sou uma das atrações principais na Convenção dos Tatuadores de Tóquio nesta sexta, sábado e domingo, e já recebi o cachê, portanto não dá para desmarcar mesmo.

— Acho que vou na onda de vocês e amanhã vou marcar minha passagem de volta para Bangkok. Rever os meus amigos da época do orfanato, do colégio, minha família de coração e que eu escolhi. Então… vamos pegar nossa saideira e fazer um brinde à vida.

— E para a morte também, pois o que seria da vida sem o paradoxo da morte? Um brinde aos paradoxos, metáforas, começos, meios, recomeços e ao fim. — completou Viktor.

A fala do fotógrafo soou desconfortável para o trio, em um primeiro momento. Sentiram um estranho aperto no peito, pois parecia uma despedida definitiva de Viktor, ou até mesmo um pedido de socorro implícito, porém como eles estavam muito bêbados e chapados, deixaram a sensação para lá rapidamente e preferiram encarar aquilo como algo poético. Tanto que Minami brincou:

— Olha só, quem diria que Viktor Nikiforov tinha um lado poeta e filósofo. — eles deram risada do comentário, brindaram a última cerveja e logo após tomá-las, Lisa e Viktor tomaram banho (o fotógrafo no banheiro de suíte do quarto e a cantora no banheiro principal do apartamento), colocaram de volta seus disfarces limpos e voltaram para o quarto para se despedirem de forma muito emocionante de Yuri e Kenjirou.

Após cada um ter contatado seu motorista particular, para evitar de serem pegos pelos paparazzis, Minami e Plisetsky tinham o apartamento novamente só para eles. O tatuador deitou por cima do cantor, segurou os pulsos do outro para cima, deu uma rebolada gostosa na excitação em formação do namorado mais um sorriso malicioso e provocou:

— Finalmente a sós, amor.

— Você que se prepare, pois vou fazer você berrar de prazer até você ficar rouco.

— E a polícia batendo na nossa porta por perturbação à ordem, como fica? — brincou o tatuador.

— Fica assim. — respondeu Plisetsky puxando Minami pela camisa, dando um selinho e continuou — Eu amo você com toda minha alma, Kenji! Você, de longe, é uma das melhores coisas que aconteceu para mim este ano.

— Eu te amo, Yuri. — respondeu o tatuador com um sorriso no rosto, de olhos fechados e rosto bem próximo do namorado. Em seguida, eles deram início a um beijo tórrido, cheio de sentimentos, indicativo de que eles não saíram do seu mundo naquele quarto tão cedo.

XxxxX

Era 14h00 e Lisa estava deitada na banheira do hotel, ouvindo música, tentando relaxar:

“Hmmm, mensagem para o Viktor não dá, ele já embarcou e com certeza o celular dele está no modo avião. Yuri e Minami com certeza estão transando. Jisoo, Jennie, Rosé, Bambam, Sorn, Ziyu, Nayeon, meus outros amigos e colegas de meio artístico, meus amigos que deixei na Tailândia, todo mundo está trabalhando. Quer saber? Vou “brincar de DJ” para tentar relaxar!” — entretanto o interfone do quarto tocou.

Manoban saiu da banheira, atendeu o interfone e o recepcionista anunciou o nome da visita que acabou de chegar. A mulher deu um sorriso de canto no rosto assim que ouviu o nome da visita e permitiu-a pegar o elevador que dava direto na suíte presidencial onde estava hospedada.

Voltou para a banheira, aguardou o elevador chegar e assim que ouviu o barulho do elevador chegando, a mulher anunciou:

— Pode deixar suas coisas na mesa da sala. Estou no banheiro, pode vir.

A visita seguiu as ordens da cantora e ao chegar no local, viu uma cena muito agradável a seus olhos: Lisa dentro da banheira com hidromassagem apenas com água e com a perna direita para o alto. Em seguida, a visita deu rosas brancas para a cantora e falou:

— Primeiramente, meus sentimentos pela perda do seu ídolo, o Yuuri Katsuki. — Lisa agradeceu a gentileza, pediu para a visita colocar as flores em um vaso próximo com sucesso e deixou-a continuar. — Segundo, pelo pouco que eu te conheço, sei que você está bem mal e ver você triste me deixa, de certa forma, triste também. Então, como dizem por aí “um amigo em necessidade é um amigo para todas as horas”. Por isso, aqui estou.

Com um sorriso e um olhar provocador, ela perguntou:

— Ora, ora, quem é vivo sempre aparece. Quem te deu meu atual endereço? Deixa eu adivinhar… foram as meninas junto com o "trio espevitado", não foi?! — A visita confirmou a informação. Lisa sabia, pois suas companheiras de grupo, amigas e colegas de meio artístico torciam muito pelo reencontro da cantora com a visita. Ela continuou. — Eu sabia… quem prova de Lalisa Manoban uma vez, nunca esquece, não é, Son Hyunwoo, ou posso dizer… Shownu?! — o cantor mais bailarino principal do grupo masculino de K-Pop Monsta X e Lisa no passado, exatamente três meses atrás e uma semana após o término do namoro da cantora com o patinador Yuzuru Hanyu, tiveram uma noite de sexo tórrida onde, no final, trocaram e-mails e redes sociais, mas devido a agenda cheia de ambos, eles não se encontraram mais até então.

— Você pode estar no luto que for, mas você não perde a autoconfiança, hein?!

— Não é questão de autoconfiança apenas. Sendo sincera, estou destruída por dentro, mas a vida não pára e exige que a gente continue, fazer o quê. Não fale mais nada, apenas me faça esquecer das minhas dores. — e o beijo que se desenrolou a partir dali era o indício de que aquela seria uma tarde bem longa.


Notas Finais


Espero que tenham gostado e um aviso para o próximo capítulo para os leitores mais sensíveis: prepare os lenços, ele pode fazer vocês chorarem.

Beijos, beijos (boa sorte para mim nesta prova de Teoria da Tradução) e até o próximo capítulo!


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