PLUVIOFOBIA
— Então era isso o que você queria dizer quando disse que ia cair o mundo! — Wooyoung gritou assustado, se encolhendo em meio a multidão de alunos que ficaram parados na entrada do campus, aguardando a chuva passar. Os mais espertos, que conferiram a previsão do tempo logo cedo, se deram muito bem. Conseguiram sair dali com a ajuda de um guarda-chuva.
San e Wooyoung, por outro lado, assim como os demais alunos, estavam praticamente presos.
— Eu preciso chegar em casa logo, eu estou com medo! Essa chuva não vai acabar nunca e vamos ficar esperando até amanhã! — Wooyoung choramingou, acariciando os próprios braços enquanto baixava a cabeça e espremia os olhos com força.
— Venha até aqui. — San disse calmo, fitando as nuvens escuras acima de sua cabeça com um olhar surpreso. Tirou uma jaqueta de couro de sua bolsa e a abriu, colocando sobre a cabeça do ômega. — Vamos passar.
— O QUE??
— Você disse que quer chegar em casa logo, e essa chuva realmente não vai parar tão cedo. Nós vamos passar. — o alfa reforçou.
Os dois começaram a atravessar o campus às pressas, como se estivessem fugindo de algo. Os alunos que continuaram na entrada da escola começaram a fazer o mesmo com seus moletons e mochilas. Wooyoung estava apavorado, e enquanto corriam, aproveitou para abraçar a cintura do alfa.
Foram minutos e minutos correndo sob a chuva até finalmente chegarem ao apartamento. San rapidamente usou as chaves para abrir a porta de entrada e deixou o ômega entrar em sua frente, antes de trancar a porta novamente e pendurar as cahves como de costume.
— Phew.... — San bufou ofegante, colocando suas mãos sobre seus joelhos e tentando recuperar seu fôlego enquanto os pingos de chuva escorriam de seus fios encharcados e iam de encontro ao chão. — Você está bem?
— ....
— Wooyoung? — o alfa levantou sua cabeça apenas para ver o ômega sentado no sofá, abraçando os próprios joelhos e escondendo o rosto em meio aos seus braços molhados.
San caminhou até o sofá e cutucou o ombro do outro, fazendo com que este se assustasse e desse um pulinho, se encolhendo ainda mais. Ele parecia uma bolinha.
— Hey, o que houve? Nós chegamos bem.
— Eu tenho pluviofobia.
— Pluviofobia?
— Medo da chuva... E de tempestades e trovões, e relâmpagos, também. Esse tipo de coisa me dá pânico....
— Oh... — San suspirou, se sentando no apoio para braços do sofá. — Você está gelado, deveria ir tomar um banho.
— Eu já vou...
— Você vai acabar ficando doente se esperar mais um pouco, Wooyoung. Você deveria ir agora.
— Tudo bem... — o ômega levantou o rosto e olhou em volta por um segundo, seus olhinhos estavam cheios de lágrimas de pavor. Wooyoung levantou-se e foi até o banheiro. Antes mesmo de ligar o chuveiro, o ômega colocou a cabeça para fora do banheiro, com um olhar preocupado. — Você deveria tomar um banho também... Você está muito mais encharcado do que eu.
— Quando você sair, eu tomo o meu banho. O box é pequeno demais para duas pessoas. — San riu e começou a tirar os materiais de sua bolsa para conferir o que havia molhado.
— Ah... Claro. — Wooyoung disse corado, trancando a porta do banheiro e se olhando no espelho por um tempo. — Eu realmente não queria ter que lavar o cabelo hoje... — resmungou e tornou a ligar o chuveiro.
[...]
Nem vinte minutos depois, o ômega havia terminado seu banho. Vestiu um pijama quentinho e secou seus cabelos com o secador de gatinho que ele havia comprado no ano passado. Ele já se sentia muito melhor.
Cautelosamente, Wooyoung deu três batidas na porta do colega antes de abrí-la levemente.
— San?
— Hm? — perguntou o alfa do lado de dentro, tirando seus fones de ouvido e olhando o ômega com um ar de curiosidade.
— Você já pode ir tomar banho.
— Ah, ok. Obrigado. — San pegou uma toalha branca e se levantou do chão, indo até o banheiro.
O banho do alfa foi um pouco mais demorado, ele não tinha pressa alguma. Além do mais, ele gostava de pensar enquanto banhava. Pensava sobre a escola, sobre como foi o seu primeiro dia de aula, pensava sobre sua avó e sua gatinha, que não o veriam por um bom tempo. Pensava sobre tudo. Ele gostava de se perder em meio aos devaneios e esquecer por um minuto ou três do mundo real.
Após terminar de secar os cabelos e escovar os dentes, San amarrou sua toalha em volta da cintura e saiu do banheiro, caminhando até a cozinha e enchendo um copo de água.
— V-você faz academia? — Wooyoung perguntou incrédulo, com as mãozinhas sobre a braçadeira do sofá e apenas seus olhos aparecendo.
— Não. Porque? — perguntou o alfa, colocando o copo vazio sobre a pia.
— Só... Para saber. — o ômega respondeu, desviando os olhos do abdômen do outro. San ficou ali parado por alguns segundos, confuso. Eventualmente, o alfa deu de ombros e voltou para o seu quarto, aonde se vestiu e começou a ler um livro que havia conseguido na biblioteca da escola.
(...)
Já era tarde da noite, e San ainda não havia conseguido dormir. O garoto havia tentado de tudo. Desligou as luzes, fechou as cortinas, se revirou de um lado para o outro mas dr pouco adiantou. Depois de muito tentar, o jovem se levantou e foi em direção a cozinha e começou a fazer um chá. Quando estava quase pronto, o alfa se assustou ao ver que Wooyoung estava esparramado no sofá, dormindo feito uma criança. Após desligar o fogão, San se dirigiu até o ômega e sorriu baixo, colocando as pernas do mesmo para cima do sofá e enfiando uma almofada entre a braçadeira e a cabeça do garoto. Aproveitou também para arrumar a coberta de vaquinha sobre o ômega.
De repente, o vento do lado de fora da casa criou força suficiente para abrir as janelas da sala com tudo. O alfa se apressou para fechar as janelas com o trinco, fechando também as persianas. Olhou para o mais novo como se estivesse com medo de tê-lo acordado mas Wooyoung pouco se mexeu. Ele continuou exatamente como estava. San suspirou aliviado e, com cuidado, pôs-se a caminhar de volta para o seu quarto com a sua xícara de chá
Como mágica, o chá de hortelã rapidamente fez efeito, fazendo com que o alfa caísse no sono em menos de meia hora.
[...]
A primeira semana de aulas foi tranquila. A turma da sala 25 teve pouquíssimas tarefas de casa e os alunos estavam aliviados por saber que as provas teriam seu início em pouco mais de um mês.
Não para sua surpresa, San não havia feito amizades. Muito menos Wooyoung, que seguia o alfa por todos os cantos da escola e sequer demonstrava interesse em interagir com os outros híbridos.
Era sexta-feira, no horário da saída quando os dois foram abordados por um colega de classe, que os convidou para o show de talentos que teria pouco antes das férias de Julho, o que os daria tempo suficiente para praticar caso resolvessem se apresentar. Esse foi o assunto da conversa dos dois enquanto caminhavam de volta para a casa amarela no final de uma rua sem saída. Wooyoung não parecia tão interessado em participar. San, por outro lado, optou por dar uma chance ao que sua avó havia comentado dias antes do início das aulas.
"Você precisa sair da sua área de conforto se quiser que este seja um bom ano."
Ele pensaria mais sobre se inscrever no show de talentos depois. Mas agora, tudo o que ele queria era descansar após uma aula cansativa de educação física.
— Você se saiu bem no jogo de hoje. — disse o ômega, parado de frente para o sofá no qual o alfa estava esparramado.
— Eu poderia ter feito bem melhor... Mas obrigado, Wooyoung. Você se saiu bem também.
— Não... — o ômega bufou, se sentando ao lado do outro. — Eu mal sabia o que fazer. Eu sou péssimo em futebol. Principalmente quando eu fico no gol.
— Você se saiu bem sim. Só precisa praticar.
— Hmpf...
— Vai fazer o que esse fim de semana?
— Vou ficar aqui, eu acho. Não tenho muito o que fazer... — Wooyoung disse, balançando seus pés pequeninos que sequer tocavam o chão.
— Podemos sair para fazer alguma coisa. Sabe? Como amigos. A gente pode tomar um sorvete amanhã e passar o domingo assistindo filmes ou cozinhando. — San disse com um sorriso enorme no rosto, exibindo seus caninos afiados. — O que você acha?
Wooyoung pensou por um tempo. Ele não tinha a menor chance de fazer amigos naquela escola e nem mesmo os professores lembravam do nome dele. Passar um fim de semana com alguém simpático como o San poderia lhe fazer bem.
— É uma boa ideia.
— Ótimo! Vamos sair amanhã de tarde então. Você deveria ir descansar agora, ômega. Foi um dia e tanto.
— N-não me chama assim.
— O que? Porque?
— Porque... Eu não quero.
— Hm, Tudo bem...
...
— Temos planos para o fim de semana, mas o que vamos fazer hoje? — Wooyoung perguntou. San o olhou curioso.
— Eu estava pretendendo dormir o dia todo, mas... Se quiser fazer alguma coisa, é só me falar.
— Eu não sei... A gente podia se conhecer um pouco mais. Vamos ficar praticamente o ano inteiro juntos e eu não sei muito sobre você... — disse o ômega, se sentando em posição de indiozinho e passando as pontas dos dedos em suas meias de gatinho.
Aquilo era exatamente o que San queria ouvir desde o começo da semana. Com um sorriso contente no rosto, o alfa se deitou de bruços no sofá, apoiando seus cotovelos contra o mesmo e colocando suas bochechas entre suas mãos.
— Certo. O que quer saber sobre mim?
— Hum... Qualquer coisa. Tipo... O que você gosta de fazer e tal...
— Eu gosto de ler, cantar, assistir filmes, cozinhar... Jogar videogames.... Hum. Eu gosto de fazer um monte de coisas. E você?
— Hã, eu? Eu... Eu gosto de assistir desenhos e... Desenhar. Mas eu não sou muito bom nisso.
— Bah, eu duvido! Você tem cara de quem desenha bem.
— Sério?
— Uhum.
— Hm. Obrigado. — o ômega disse com um pequeno sorriso envergonhado em seu rosto. — Você tem algum animal de estimação?
— Sim, sim. — San respondeu sorrindo. — Tenho uma gatinha. O nome dela é Eun.
— Eun~ que fofo!
— E você?
— Eu tenho um peixinho dourado! O nome dele é Pong.
— Que fofo. Eu sempre quis ter um peixinho. Hm... Você tem irmãos?
— Tenho uma irmã mais velha. E você?
— Sou filho único.
— Oh... Com quem você mora?
— Com a minha avó. — sorriu o alfa.
— E os seus pais?
— Eu... Não cheguei a conhecer eles, na verdade.
— Ah... Me desculpa, eu não deveria ter perguntado... — o ômega choramingou, desviando o olhar.
— Não, tá tudo bem. — San sorriu novamente, segurando a pequena mão do outro. — Esse tipo de coisa não me chateia, pode ficar tranquilo.
— ...tudo bem. Se você diz... — Wooyoung respondeu baixinho, olhando de rabo de olho para as mãos do alfa, que repousavam sobre a sua.
— Mais alguma pergunta?
— Acho que não.
— Hum, ok. Se quiser saber de alguma coisa, pode me perguntar. — disse soltando a mão do ômega, fazendo com que este franzisse o cenho.
— Claro, pode deixar.
— Eu vou dormir um pouco agora. Até mais tarde, Wooyoung! — San se despediu, levantando-se do sofá marrom e indo até o seu quarto.
— Até...
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