História Deep thoughts - Dabihawks - Dawn thoughts

 Lua brilhava forte o suficiente para iluminar o céu escuro, diversos prédios e bares passavam rapidamente pela sua visão e uma risada ecoava alta e melodicamente pela noite silenciosa. O homem de cabelos curtos e castanhos que corria a sua frente gargalhava como se acabasse de ouvir uma piada muito engraçada, até o ar lhe faltar e ele precisar diminuir o ritmo dos passos, por fim paralisando com seu dorso curvado e as mãos apoiadas sob os joelhos.

— Era exatamente dessa adrenalina que eu precisava!! — Chisaki enfatizou em um tom alto, enquanto ainda recuperava o fôlego e não deixava rir.

— Será que estamos longe o suficiente? Por quanto tempos corremos? — Shigaraki questionava, preocupado e arfando.

Dabi tentou levantar o braço para que pudesse olhar o horário em seu relógio, porém sentiu um peso a mais em seu pulso, foi quando se deu conta que havia corrido todo o caminho do bar até ali, de mãos dadas com Hawks. O outro, ao perceber seu choque, logo desvencilhou os dedos dos seus e olhou timidamente para o chão.

— Corremos por uns 40 minutos, acho que nos afastamos o suficiente. — O Todoroki respondeu ao amigo, não querendo pensar no que tinha acabado de acontecer.

— Dabi, sua mão está machucada. — Hawks disse suas primeiras palavras desde que saiu do bar, seus olhos arregalados de preocupação enquanto segurava novamente a mão do outro, na altura dos olhos, analisando o estrago.

Dabi sequer havia notado ou sentido o sangue a escorrer fino e lentamente por entre seus dedos, resultado dos múltiplos socos que havia proferido no sujeito inconveniente do bar, mas um sorriso de satisfação logo emoldurou seus lábios ao imaginar que o rosto do outro estaria em um estado muito pior que seu punho.

— Quem é você? — Questionaram em uníssono os amigos do moreno.

 — Hum… Eu me chamo Hawks. — Respondeu, meio sem jeito, enquanto mais uma vez soltava a mão do outro e encarava os desconhecidos.

— Por que você tem nome de pássaro? Você correu com a gente? Vocês se conhecem? — Jin indagou.

O loiro ficou um pouco desnorteado com o interrogatório, sequer havia assimilado o que havia sucedido naquele bar, as suas atitudes impulsivas somente agora pesando sobre si. “Como eu me ‘meti’ nisso?”, ele pensava, incrédulo.

— Quem se importa, Jin? Vamos na farmácia comprar curativos, reparei que minha mão também ‘ta’ fodida. — disse Kai.

Eles andaram por mais meia hora até encontrarem uma farmácia que ficasse aberta vinte e quatro horas, enquanto caminhavam pelas corredores à procura dos itens necessários, o amigo de cabelos castanhos de Dabi ainda estava muito agitado para terminar a noite e sugeriu que comprassem algumas bebidas e fossem para a praia assistir o sol nascer. Todos aceitaram, mas Keigo ficou sem saber o que fazer. Não conhecia aquelas pessoas, embora tivesse conversado com eles nos últimos trinta minutos. E havia Dabi, que nunca fora próximo de si e, desde que soltaram as mãos, sequer havia feito algum outro contato visual com o loiro. 

Estranhamente, eram todos muito receptivos e aparentavam querer compartilhar do resto daquela sensação de adrenalina todos juntos, como se fossem cúmplices de um grande segredo e Keigo estivesse agora incluso nisso, insistiram para que ele terminasse a noite bebendo com eles.

Dabi se sentou preguiçosamente com seus pés descalços enfiados na areia, seus joelhos levemente dobrados serviam de apoio para a mão machucada que ele tentava limpar sozinho. Enquanto tentava abrir a tampa do frasco de álcool 70% com a boca, terminou por deixá-lo cair pela areia e bufou, por sorte não tinha consegui abrir e não desperdiçou o conteúdo. 

— Você vai acabar derramando tudo. — Ao seu lado, Keigo riu da cena, pegou o frasco e o abriu, molhou a gaze com o líquido e decidiu que ele mesmo cuidaria do ferimento alheio.

O Todoroki não protestou, sabia que a alta quantidade de bebida ainda corria em seu sangue e o deixava com os sentidos embaralhados. Hawks se aproximou lentamente, sentando-se sob suas pernas cruzadas e à frente do moreno. Dabi encarou a delicadeza dos movimentos do loiro enquanto ele limpava o sangue seco que havia escorrido pelos seus dedos e virava a palma de sua mão com gentileza para que pudesse limpar ali. Depois, ele passou cuidadosamente uma pomada e fez um curativo para proteger o local machucado. 

Quando terminou, os olhos dourados de Keigo o encararam por um breve momento, mas logo murmurou “prontinho” e voltou a sentar do seu lado. Chisaki então se aproximou e pediu para que Hawks fizesse o curativo nele também, desviando a atenção de ambos.

As horas se passavam. Dabi respirava fundo e deixava aquele cheiro de água salgado inundar seus pulmões e sua mente, observava calmamente como a escuridão do céu e do mar se fundiam e se tornavam um só. Pensava como era irônico que o primeiro raio de luz que iluminaria os céus, era sempre antes precedido do momento mais escuro da noite, se perguntou por um momento quando seus dias escuros também seriam sucedidos finalmente por alguma claridade, por menor que fosse.

Como se o astro solar tivesse ouvido seus pensamentos, ele lentamente começou a subir pelo horizonte pintando todo o céu de laranja e rosa. Dabi reclinou suas costas e apoiou os braços atrás com as mãos espalmadas na areia, fechou os olhos, lembranças de assistir o início de outras manhãs acompanhado surgiam pela sua mente e fizeram seu estômago revirar, ele arfou com a sensação quente que subia pela sua garganta. 

— Você está bem? — Keigo questionou.

Dabi abriu os olhos e se surpreendeu, os fios loiros do outro pareciam muito mais vivos e seus olhos eram brilhavam mais dourados que o próprio Sol que se levantava no céu. Naquele momento, Dabi achou que a luz que havia dado fim a escuridão e clareava aquele novo dia, não vinha do Sol e sim de Hawks.

— Dabi? 

Hawks questionou mais uma vez, despertando o outro de seus devaneios e o lembrando que havia lhe questionado algo. Dabi pensou na pergunta e sorriu ao perceber que o sentimento incômodo e amargo que sentiu durante toda semana, havia passado exatamente naquele momento.

— Eu estou muito bem. — Ele respondeu com um grande sorriso no rosto.