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História Deixa eu bagunçar você - Capítulo Único


Escrita por: ihamanda

Capítulo 1 - Capítulo Único


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Eu nunca entendi muito bem o amor e podia jurar que não era tudo isso que lia nos livros e via nos filmes... até aquela manhã. Aquela manhã em que acordei sentindo o cheiro de ovos mexidos e café coado vindo da cozinha do meu apartamento, misturando-se ao perfume amadeirado que estava impregnado em meu travesseiro. Um perfume que não era o meu, mas que penetrou em minha pele e invadiu minhas células.

Aquela manhã que resolveu cair em um domingo e tinha a cara de como os domingos sempre deveriam ser: de paz. Era possível ouvir a chuva batendo na janela indicando que teríamos um inverno rigoroso. Eu sabia que estava frio, mas aqui dentro, neste instante, eu poderia jurar que estava com febre por causa do fogo que emanava de todos os poros.

Eu nunca entendi muito bem o amor, mas me enrosquei no lençol e deixei meu corpo ser abraçado pela minha cama como se pudesse reviver aquele turbilhão de novo e de novo e de novo que era muito parecido com o que já ouvi dizerem sobre tal sentimento.

Fechei os olhos e suspirei. Será que o que eu estava sentindo era mesmo isso, era... amor?

De fato, eu nunca entendi o significado real dessa palavra. Nunca havia experimentado nada próximo desse sentimento tão aclamado. Cheguei a pensar que não existia. Não era possível.

Agora eu tenho as minhas dúvidas. Ou era amor ou eu estava louca, não tinha meio termo. Queria estar louca. Podia sentir meu estomago repleto de borboletas... Ah, então é assim que é estar apaixonada? Ter a sensação de estar revirada do avesso, bagunçada de todas as maneiras possíveis?

No fundo eu sabia que aquele sentimento que estava nascendo era tão bonito quanto errado. Não é normal um ser, outro ser, fazer com que você sinta que perdeu o chão e tudo ao seu redor agora é abismo. Isso me assusta. Eu não sou do tipo que se entrega. Nunca. Ninguém jamais atravessou minhas barreiras sempre tão sólidas... e eu sei disso porque eu jamais permiti alguém chegar tão perto. Mas agora é como se eu não conseguisse controlar. Meu corpo não me obedece mais, minha boca clama pelo nome dele e as borboletas voam descontroladas para o coração fazendo cada batida parecer a última.

Não pode ser normal um beijo causar toda essa eletricidade. Sinto que sou uma usina nuclear prestes a explodir a qualquer momento quando ele me toca... e toca... e acaricia cada pedaço de pele.

Fico confusa, sem calma e com vontade de gritar. Suo as mãos. Parece que estou doente sem nenhum tipo de aviso prévio e fico assim: desassossegada.

O cheiro vindo da cozinha está preso em minhas narinas e eu não tenho mais vontade de respirar outra coisa. Eu não quero acreditar que ele está preparando o café da manhã. Seria tão mais simples se ele tivesse ido embora assim que acordou. Que me deixasse sozinha na minha cama de casal, como eu sempre fui. Só. Mas ele resolveu por conta própria que tinha o direito de mexer no meu armário, abrir o pote de pó de café, abrir a geladeira e pegar sem minha permissão os ovos que eu comprei na quarta-feira. De abrir também a minha alma.

Queria levantar e gritar pra ele deixar meus ovos em paz, que ele fosse embora como todos os outros. Por que ele tinha que ficar? E agora esse sentimento aqui no meu peito que confronta toda a minha lucidez e tenta me convencer de que o que eu mais quero é que ele fique e faça aquilo tudo outra vez. Que ele me leve para jantar comida japonesa e depois me leve ao cinema de mãos dadas. Que coloque o braço em volta do meu pescoço e permita que eu deite a cabeça em seu ombro enquanto assistimos ao filme mais bobo e que eu jamais pagaria para assistir aquele desperdício de tela. Mas lá estávamos nós, rindo das piadas mais sem graças que os personagens diziam de um filme que eu sequer lembro o nome. Mas lembro de cada toque vivenciado...

A gente se deixa levar tão rápido por qualquer demonstração de afeto que eu até poderia me acostumar. Eu poderia me acostumar a sair correndo na neve que começava a cair devagar, em voltas das casas com suas luzes indicando que as festas natalinas estavam próximas e em breve mais um ano chegaria ao fim e que eu ainda não havia cumprido todas as minhas metas.

Céus! Eu viveria todos os dias da minha vida aquela noite em nós dançamos na neve e nos beijamos no meio da rua enquanto o vento soprava ao nosso redor, fazendo molhar nossos rostos com a água que caia do céu. Ele me abraçava e era tão quente. O inverno estava apenas começando, mas dentro de mim eu tinha certeza de que era um verão sem pressa de acabar.

Até que aconteceu: eu o chamei para visitar minha casa. Eu nunca havia levado nenhum homem na minha casa antes, ainda mais um cara que eu havia ficado apenas algumas vezes. Ok, não era tão poucas vezes assim. A gente já estava saindo há dois meses e cada vez mais eu o queria tão forte que seria capaz de implorar. Eu jamais faria isso. Ou talvez fizesse caso ele dissesse que não me queria mais.

Eu estava perdendo o controle da minha vida. Eu o queria tanto e sentia tanta falta quando ele não estava próximo que eu nem me lembro mais o que era viver antes de conhecê-lo. Eu nem ao menos me reconheci quando rezei baixinho para um Deus que talvez nem exista permitir que ele não fosse embora.

Que mente confusa a minha. Mas é que eu nunca, nunca mesmo senti algo parecido e uma parte de mim só queria que durasse. No fundo tudo o que a gente quer é ser amada. Ser desejada, ser possuída, assim como ele fez comigo noite passada.

Nenhum outro homem havia entrado tão dentro de mim. Minha casa era meu único lugar seguro. Aquele apartamento pequeno, mas aconchegante em que ele entrou e olhou. Olhou todos os detalhes. Meus detalhes. Como se quisesse me conhecer mais a fundo. Como se através dos meus objetos ele fosse capaz de ler a minha mente e descobrir todos os meus segredos mais íntimos.

Eu fiquei na porta observando ele olhar. Ele tocou a lombada dos meus livros tão suavemente que parecia que os dedos dele eram feitos de asas. Cheirou meu incenso, acariciou minhas plantas, e até fez cafuné no meu gato. O safado nem ao menos rosnou, pelo contrario, se entrelaçou por entre as pernas dele pedindo por mais carinho. Ele se olhou no espelho redondo da minha sala e tirou a touca da cabeça. Ajeitou o cabelo castanho claro bagunçado e voltou a olhar. Olhou para a caixa de som ao lado e a ligou sem me perguntar se podia. Começou a tocar Twenty One Pilots que estava conectado ao bluetooth do meu celular e eu ouvi hoje no Uber a caminho do encontro com ele. E eu juro que vi um resquício de sorriso, aprovando a música.

Olhou meu tapete que eu fiz questão de trazer da viagem que eu fiz à África nas férias do ano passado. Ele tirou as botas molhadas e pisou só de meia no tapete e eu achei aquilo a coisa mais respeitosa do mundo. Ele olhou minhas almofadas de cores e formas diferentes e sentou no sofá. E finalmente olhou para mim. Parada na porta prestes a fugir do meu próprio lar. Ainda não acredito que o deixei entrar e que ele teve a audácia de aceitar como se fosse o pedido que eles estivesse há dias esperando. Ele sorriu para mim e eu me derreti inteira. Como eu amava aquelas covinhas que formavam quando ele sorria. O erro genético mais perfeito que já inventaram.

Me lembro como se estivesse acontecendo agora mesmo ele estendendo a mão para mim e me chamando para sentar no sofá ao lado dele enquanto tocava Chlorine.

Eu estava faminta e ele não saia da cozinha. Será que ele estava tomando café da manhã sem mim, mesmo depois de usar sem permissão os meus ovos? Os ovos eram o de menos aliás, eu só queria uma desculpa para culpá-lo por me fazer entrar em conflito comigo mesma.

Eu que sempre fui tão prática, direta e bem resolvida. E agora só sentia cair naquele abismo que não chegava ao fim nunca.

E enfim ele entrou no quarto. Empurrando devagar com o ombro a porta semifechada enquanto segurava uma bandeja que eu nunca havia usado antes. Ele sorriu ao me ver acordada e putaquepariu aquelas covinhas... Suspirei baixinho.

Ninguém nunca tinha levado café da manhã na cama para mim. E olha que eu já tinha dormido na cama de vários caras antes. Será que o segredo era eles dormirem na minha?

Segurei para não chorar na frente dele e ele me achar uma idiota, mesmo me sentindo a mais completa imbecil. Será que era isso que o amor faz com a gente afinal? Nos torna bobos patético que seriam capazes de... mas o que é que eu tô dizendo? Amor? Céus, não. Não pode ser. Eu tô muito, muito fodida mesmo.

Que saco ele olhando pra mim assim... por que ele tinha que ter esses olhos azuis que mais pareciam dois pedaços de céu?

– Dormiu bem? – Ele me perguntou ainda sorrindo e eu só consegui balançar a cabeça em resposta. Tive medo de tentar dizer algo em voz alta e sem querer gritar pra ele fazer aquilo outra vez. Aquilo tudo que ele fez noite passada quando eu sentei no sofá, enquanto tocava Twenty One Pilots, enquanto ele me puxou pra perto e tocou o nariz dele no meu e acariciou meu rosto com a ponta dos dedos gelados e mordeu meu lábio inferior tão, tão delicadamente, como se fosse uma pétala de flor. – Eu confesso que há muito tempo eu não tinha uma boa noite de sono como essa. – E continuou. – Espero que você não se importe que eu tenha entrado na sua cozinha e feito o café da manhã. Você estava dormindo tão bonito que seria quase uma tragédia te acordar. Eu fiz torradas, ovos mexidos e café, espero que você goste. – Disse e sorriu. E me olhou aguardando minha resposta. Tão intensamente que eu senti meus pelos arrepiarem. Era sempre assim quando ele olhava.

É sério que ele tinha que ser assim tão, tão... eu tive que respirar fundo pra consegui dizer obrigada. Sorri de volta para ele não achar que eu estava de mau humor matinal, quando na verdade eu só estava muito, muito nervosa mesmo. O que estava acontecendo comigo? Não me reconheço... Mordo a torrada com ovos e tenho a certeza que é a coisa mais gostosa que eu já comi na vida.

– Você é tão linda quando acorda, sabia? Eu não me canso de olhar pra você. – Ele soltou assim do nada e eu senti meu rosto corar. Ele não tinha o direito de ser tão perfeito antes das dez horas da manhã, eu não podia aceitar. Continuei mastigando e senti o lençol descendo do meu corpo. Me toquei que estava nua quando senti o olhar dele na direção do meu colo, descendo e parando em meus seios arrepiados não de frio, mas de... essa coisa doida aí que ele me faz sentir. Quero arrancar os olhos dele com as unhas e depois colocar de novo pra que ele continue me olhando como se eu fosse única no mundo.

Deus, se você existe mesmo permita que ele nunca pare de me olhar com esse brilho todo que me faz faiscar e transcender.

Puxei o lençol pra cima de volta pra ele não ver, como se noite passada ele não tivesse sugado com a boca faminta cada seio meu. Então ele começou a comer também. E começou a falar sem parar: sobre os planos para aquele domingo chuvoso, sobre a vida, sobre o filme que assistimos ontem no cinema e os outros filmes que ele já viu antes.

Por um breve instante eu me transportei de volta para o momento em que já estava em outra música que eu não pude identificar, pois minha respiração já estava alta demais, eu já estava sentada no colo dele e quebrando todas as válvulas de segurança, destruindo todos os muros que me cercam e abrindo passagem.

De repente estávamos ali mesmo, naquela mesma cama em que agora estou ouvindo sobre Nietzsche e bebericando meu café preto. Na cama que ele me levou enquanto tirava minhas camadas de roupa e minhas camadas de medos e inseguranças. Em que ficamos nus, sem máscaras, sem mapas ou planos de fuga. Quando ele enroscou os dedos na parte de trás do meu cabelo e puxou, de levinho, me fazendo estremecer.

Nesse pequeno santuário tão intimo, tão meu e que foi dele também, porque eu me deixei ser dele aquela noite quando ele beijou meu pescoço, me tocou por inteira por fora e me bagunçou por dentro. Me transpassou como uma flecha, me fez suar e gemer e gozar.

Terminamos o café e ele tirou a bandeja. Depois ele deitou na cama e me puxou pra perto dele e não disse mais nada. Me abraçou, tão quentinho e aconchegante. Eu seria capaz de ficar assim com ele pra sempre se ele me pedisse. E enquanto estávamos em silêncio, apenas respirando e sentindo um ao outro eu soube que não teria mais volta.

Eu nunca entendi muito bem o amor, nunca o reconheci antes, nunca o senti daquela forma, mas eu sabia que era a única coisa possível capaz de explicar aquela troca tão profunda de energia, desejo e afeto. Eu estava tão viva que me sentia pulsar. E soube: me apaixonei por aquele homem.

E acredite, o abismo me fez voar.

 

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