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Cam: Já são oito da manhã, vocês deviam arranjar-se para sair. Vão apanhar muita confusão se se atrasarem. É domingo!
Ismar: Kira, acorda-me a Tara. Ela tem que ir para a mansão e se ela se atrasa ainda corre mal com os pais!...
Kira: Claro.
Dilan: Eu trato da Rosemary.
Ela tinha acabado por adormecer também. Parecia bastante pacífica des tá vez: nada de gritos, suores, pesadelos...
O Dilan chegou perto dela e abanou-a gentilmente.
Dilan: Rosemary!... Rosemary!
Ela começou por abrir um olho e depois o outro muito devagar. Espreguiçou-se abrindo os braços e depois esfregou os olhos.
Rosemary: Ah~, eu adormeci! Isto é melhor que uma manta! - diz ela apontando para as pessoas à sua volta.
O Dilan ri-se.
Dilan: Era só para te avisar que são oito da manhã, coelhinha. Vocês saem daqui a meia hora.
Rosemary: Se calhar é melhor acorda-los...
O Ismar já não está na sala de estar, nem o Cam, nem a Kira. E pouco tempo depois, nem o Dilan.
Então a Tara e a Rosemary começam a falar.
Tara: Rosemary, eu já vou sair - diz bocejando e esfregando o olho direito.
Rosemary: Ok... Eu tenho que arranjar uma forma de sair também.
Tara: Levanta-te simplesmente!
Luca: E eu batia com a minha cabeça no chão.
Rosemary: Desculpa se te acordei, Luca.
Luca: Não me acordaste. Foi a Tara. Quando se levantou.
A Tara tinha-se levantado num salto antes de falar da última vez.
Tara: Desculpa lá ó dorminhoco!
Luca: Sim.... Claro.
Ele senta-se no sofá ao lado dela, de forma a que ela consiga sair. Depois estende as mãos como se estivesse à espera que lhe dessem algo.
Rosemary: Para quê isso?
Diz ela apontando para as mãos estendidas dele.
Luca: Quando te levantares a cabeça do Aruna vai escorregar. Eu seguro-a. É que ele tem um sono pesado ao contrário de mim.
Rosemary: Oh... Está bem.
Então ela levanta-te e, tal como o Luca disse, a cabeça do Aruna escorrega, mas ele apanha-a. No sítio perfeito!
Rosemary: É melhor eu ir-me arranjar. Não quero atrasar o Ismar e a Kira.
Então ela corre para dentro do quarto da Kira, aonde deixou as suas roupas na noite passada e tranca a porta para se vestir.
Quando saímos de casa já passa das oito e vinte. Agora, à luz do dia, vejo perfeitamente a rua. É estranha: para o meu lado esquerdo há casas e mais casas, para o meu lado direito... floresta.
A floresta consegue ser mais segura que a cidade.
A voz do N...
Bem, depois do acordo que fizemos ontem, tenho que arranjar forma de fazer com que os meus amigos me comecem a dizer mais sobre mim...
De repente tenho uma ideia brilhante: depois da Kira me ter dados as roupas que sobreviveram ao acidente, também me deu outros pertences. Dos quais um pequeno bloco de notas e um estojo azul de canetas, que ficou ligeiramente queimado a um canto.
Daqui em diante, tudo o que eu descobrir, anoto. Assim, no fim, vou ser capaz de ligar tudo, todas as pontas soltas.
Então...
- Eu estava encharcada quando saí do incêndio
- A red line é um sítio importante
- O Luca e a Tara conhecem o N
- O N não quer que o resto dos meus amigos saibam da sua existência.
- O N queria e quer matar a Kira
- O Luca e a Tara são familiares
- O Luca trocou os meus comprimidos
- Não consigo confiar na Doutora Crown
Mais...
Já é uma lista grande de coisas, mais não me levam a lado nenhum. Eu guardo o caderno e a caneta numa pequena bolsa que trouxe à cintura, juntamente com a minha carteira e o meu telemóvel, quando o Ismar e a Kira saem cá para fora. A Tara são disparada a correr até uma limousine mais à frente da rua. O Luca vai atrás dela, mas vai a passo.
Tara: LUCA! DESPACHA-TE! - grita ela pela janela do carro.
Entretanto, o Adrien e o Aruna saem com o Dilan no meio deles e ambos fazem-me sinal para estar em silêncio.
O Cam sai no fim, entregando as chaves à Kira.
Cam: Estás a ver aquela casa branca ali à frente? - aponta ele. - Aquela rodeada de pessoas.
Eu estico-me para ver a tal casa. É ao fundo da rua e é grande, tem imensa gente a rodea-la. Parecem... fãs?!
Cam: Aquela é a casa do Dilan. Sabes, ser uma celebridade local como ele dá algum trabalho. Aqueles são todos fãs dele. Por isso o Adrien e o Aruna vão levá-lo pelo penhasco atrás das casas.
Rosemary: Penhasco? Isso não é perigoso?
Cam: Nah, nós é que lhe chamamentos penhasco. Por trás das casas há um vale antes da estação de comboios. Antes do vale e por trás das casas há um pequena frincha. Chamamos a isso penhasco, porque é alto e é provável que tu morras de susto se olhares para baixo. O vale é bem fundo... De qualquer forma, é a melhor maneira de levá-lo para casa. Esperemos só que o Mitchel esteja lá.
Rosemary: O Mitchel?
Cam: O mordomo. Assim conseguimos distrair os fãs quando saltar-mos pelo portão de trás. Vemo-nos logo nos cinemas.
Rosemary: Claro!
Ismar: Rosemary! Vens?
Rosemary: Huhum!
Eu corro até eles, agora vestida com uma leggings pretas com uns desenhos brancos nos tornozelos e um top amarelo florescente que parece mais uma sweat cortada pela barriga.
A Kira avisou-me ontem que o tempo aqui é estranho: de manhã está um frio de rachar que parece inverno, de tarde é verão puro e as noites são quentes até à uma da manhã. Depois começa a esfriar. Por causa disso, trouxe por baixo da sweat um top desportivo,assim posso tirar a sweat se tiver calor!
Quando começamos a correr, não consigo evitar acelerar pelos passeios das ruas até ao centro. Sinto-me... livre... Os meus pulmões doem, mas eu não quero saber, as minhas pernas querem ceder, mas eu continuo, o meu cérebro manda-me parar, mas eu não ligou. Esta dor corporal não me diz nada. Só me consigo ficar no ar gelado que inspiro e nos meus bafos quentes se transformam em névoa à minha frente. No bater certo dos meus pés no chão por baixo de mim e em... Fugir.
Corre. Corre e não olhes para trás. Foge e salva-te e corre!
Não consigo evitar e paro de correr abruptamente. O sentimento de fugir faz-me sentir bem. Mas parece errado... Tudo parece errado. Fugir de onde?...
Kira: Rosemary! Credo! Estavas mesmo entusiasmada com a corrida! - diz ela super cansada, apoiando-se nos joelhos quando chega perto de mim.
Rosemary: Onde está o Ismar?
Kira: Como assim onde está o Ismar? Ele passou por ti a correr. Está ali!
Eu olho e vejo-o a beber água sentado no braço de um banco.
Kira: Detesto ser a mais lenta de nós os três!
Ismar: Tens que tentar ser mais rápida.
A Kira faz-lhe uma careta mas rapidamente se junta a ele na risota.
Eu tiro a minha garrafa de água e bebo-a. Tudo de uma só vez, não como se o meu corpo precisava: não me sinto cansada de todo. Foi só isto? O Ismar também não parece cansado...
Ismar: E que tal Rosemary? Custou-te muito? É que eu acho que não! No início pensei que teríamos que ir mais devagar porque podias cair a qualquer momento, mas quando começaste a acelerar...
Rosemary: Não me sinto cansada de todo...
Kira: O quê? Foram mais de três quilómetros!
Ismar: Não chega a 3,5k nem de perto!
Kira: Mesmo assim é bastante! Para um central como tu ou uma entrada como eu não precisamos de tanto, Ismar!
Ismar: Sim, mas aqui a nossa libero sagrada precisa. - diz ela dando-me um abraço enquanto se ri.
Rosemary: Central? Entrada?... Libero? Isso são...
Kira: Posições de voleibol. Zona um: quem serve e a passadora. Zona dois: saída. É quem está no ataque à esquerda.
Ismar: Zona três: central. Sou eu. Quem ataca no meio ou passa quando o líbero e a passadora não conseguem. Quem tem o ataque mais pesado. Mais forte.
Kira: Vá! Vê lá se não te babas!
O Ismar revira os olhos com um sorriso na cara.
Kira: Zona quatro: entrada. Ataque do lado direito. Sou eu. Zona seis: defendes o meio do campo e as bolas mais longas. E zona cinco: líbero. A melhor defensora/ recebedora da equipa. Que és tu.
Ismar: Como recebes melhor tens direito a mais espaço no campo, mais prioridade numa bola complicada. E és quem salva bolas complicadas. Para isso tens que correr quase o campo todo. És uma esfregona.
Rosemary: Uma esfregona?
Ismar: Para salvar bolas precisas às vezes de cair ao chão.
Kira: E de mergulhar. Por isso chama-se aos líberos da nossa escola de esfregonas.
Eu rio-me.
Ismar: Arh! A minha água acabou...
Kira: A minha também... E já começa a ficar quente!
Rosemary: Eu também não tenho mais.
Ismar: Deixa-me ver se há qualquer coisa naquela loja de conveniência... Eu já volto.
Kira: Ai! Que cansasso!... Olha Rosemary, não sei se vais ficar zangada comigo com o que estou prestes a dizer-te, mas vou dizer-te na mesma... Quando tu tiveste o acidente, tu eras a capitã da nossa equipa de voleibol. E... como ficaste em coma, a equipa ficou sem capitã por dois dias. Tivemos um jogo, e... Deram-me o teu lugar. Espero que não te importas, porque, não podemos voltar a trocar de capitania.
Rosemary: Porque ficaria eu zangada contigo? Assumiste a liderança quando precisavam de ti, fizeste o mais correto!
Kira: Obrigada.
Ismar: Meninas! Só consegui duas garrafas.
Kira: Mas então-
Ismar: Não faz mal, eu não me importo de não beber.
Rosemary: Mas isso é injusto! Havemos de arranjar uma solução!
Kira: Olha ali! Do outro lado da rua há um bebedouro! Podemos encher uma das garrafas vazias!
Rosemary: Eu vou lá.
Rapidamente, atravessei a passadeira da estrada para o lado esquerdo da rua. Já estava bastante abafado por isso tirei a camisola como estava previsto, e amarrei-a à cintura.
Enquanto enchia a água dois rapazinhos passaram por mim a jogar à bola e foram contra mim. Eu deixei cair a garrafa no chão e ela verteu toda.
Rapazinho 1: Desculpe!
Rosemary: Não faz mal! Vocês estão bem?
Rapazinho 2 : Sim ...mas... A bola?
Rapazinho 1: Está ali! Está ali!
E voltaram a correr.
Eu ri-me, mas quando fui apanhar a garrafa comecei a ouvir um chiar nos meus ouvidos. A princípio era inofensivo, mas tornou-se violento e ensurdecedor. Juntaram-se umas horríveis dores de cabeça e as minhas mãos começaram a tremer.
Nem sequer consegui encher a garrafa porque voltou a cair no chão esvaziando o que restava de água lá dentro, quando uma imagem me passou pela cabeça.
Uma imagem que eu preferia nunca ver...
Olhei para a estrada e tudo parecia mover-se em câmara lenta: O Ismar a olhar para a Kira, ela a atirar a bola para os rapazinhos enquanto lhes dizia para não irem para o meio da estrada. Exatamente onde ela estava.
Eu comecei a correr quando ela começou a virar-se para trás. O Ismar seguiu-me pouco depois. Correndo na minha direção.
Mas o meu alvo era a Kira.
...
Aconteceu tudo muito rápido.
Ela virou-se, o carro veio. Eu empurrei-a para fora da estrada mas ela tropeçou e bateu com a cabeça na quina de um banco e caiu inconsciente no passeio.
Eu era a mira do carro.
E ia morrer se o Ismar não se tivesse atirado para cima de mim, fazendo-nos rebolar de volta ao meu lado do passeio.
Só um segundo depois o carro apercebeu-se do que ia aconteceu e virou o carro, fazendo-o travar e, consequentemente, bater contra um poste de luz. Que... infelizmente caiu na estrada e amassou a parte de cima do carro quando o fez.
Eu... eu não sei o que aconteceu.
Estava em choque.
E fechava os meus olhos com força enquanto o meu corpo era rodeado pelo do Ismar, enquanto sentia a sua respiração ofegante no meu pescoço e enquanto os seus braços me prendiam perto dele.
Ele também parecia em choque. Como se não pudesse libertar-me com medo de que alguma coisa mais acontecesse.
Rosemary: Ismar?... - murmurei.
Ismar: Estás viva. Estou vivo. Estamos todos vivos. Não me faças isto outra vez ou eu juro que te prendo à minha mão com uma fita.
Rosemary: Mas a Kira-
Ismar: Eu sei. - seguiu-me um longo silêncio - Tem um bocado de fé. Ela está bem. Vamos chamar a ambulância, se ainda não o tiverem feito. Anda.
Aquele era outro Ismar: frio, distante, direto, mas embora mais rude, preocupado e protetor.
Aquela pessoa... este é o Ismar de que eu me lembro. Este sim, eu conheço.
A minha mente não me engana nestas coisas...
Então eu tenho fé que ele seja como ele realmente é daqui para a frente. Tenho fé.
N: Mas fé é para as pessoas que não acreditam em si mesmas. Essas pessoas precisam de acreditar nalguma coisa que não elas próprias e chamam a isso de fé. Fé é para as pessoas, não para monstros como tu e eu. Para nós é uma piada. Fé... É impossível sentir-mos tal coisa como isso.
?: Mesmo assim eu sinto.
N: Deves estar estragada então.
?: Ainda bem que tu gostas de coisas estragadas então!
?: Não não gosto. Gosto simplesmente de ti.
Aquela voz... sem ser a do N... eu conheço-a...
Tenho a certeza que sim.
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