História Delicate - Capítulo I - Com toda a certeza é o destino

Quando você olha para mim, eu me pergunto se você vê
Todas as coisas que você pensou que eu poderia ser

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Hannah ajeitou a alça de sua bolsa amarela de girassóis enquanto caminhava no meio de Lucille e Dandara que conversavam excessivamente por si.

Era segunda-feira.

Na festa de sábado, após toda a loucura e o assunto de paradoxo de Harry Styles, pessoas começaram a adentrar ao quintal, pessoas que nos quais eram amigos dele. Quando o mesmo estava distraído, Hannah afastou-se sutilmente e matou o resto do tempo sentada no sofá da sala, vendo o pessoal jogar “Eu nunca”. Era cada coisa revelada que vez ou outra até arregalava os olhos, abismada.

Com certeza estava vivendo errado sua adolescência.

— Eu sei que ela não deveria ter pedido para que ele dormisse com ela — Lucille revirou os olhos. Estavam falando de Isobel, que havia implorado ao ex para que dormisse com ela no sábado.

— Não é como se eu pudesse argumentar contra isso — Dara desviou o olhar, apoiando as mãos nas alças da mochila. Hannah ergueu o rosto e arregalou os olhos, olhando para Luce com advertência.

Luce abriu a boca, estupefata. Não queria ter dito aquilo, quer dizer, não era uma crítica dada indiretamente para Dandara, nunca faria isso, sabe como a história de Vicente a machuca.

— Eu não quis dizer isso, não dessa forma — pararam de caminhar. Luce parou de frente para Dara e colocou a mão em seu ombro, a olhando brandamente.

— Está tudo bem, eu entendo — Dandara forçou um sorriso.

Hannah abriu a boca, preparada para falar algo que cortasse o clima tenso entre as duas, mas foi interrompida por alguém lhe puxando o braço, a afastando da dupla. Dandara e Lucille olharam surpresas por quem” havia afastado Hannah de si.

— O que foi isso? — Hannah tinha uma expressão surpreendida no rosto.

— Olá, Hannah — sorriu exibindo suas covinhas. Hannah revirou os olhos, arrumando a alça de sua mochila nos ombros.

— Oi, Harry — respondeu emburrada. — Não precisava dessa cena — murmurou olhando para os lados. Murmúrios sobre o que estava acontecendo, Hannah geek e Harry Styles tendo uma conversa? Surreal!

— Desculpe — ele riu. — Esqueci do fato de você se ocultar atrás das cortinas do teatro esperando que elas nunca se abram.

— Além de paradoxos você é bom com metáforas? — Ergueu uma sobrancelha, provocativa. Ele continuou sorrindo.

— Eu sou surpreendente, Hannah. Você não faz nem ideia — piscou.

Hannah sentiu um calor emanar de suas bochechas, tendo total ciência que estaria ruborizada, sendo perceptível para o ego do grandão à sua frente.

— O que você quer? — Cruzou os braços.

— Lembra que falou que eu te devia uma? — Ela assentiu. — Vim saber o seu preço — respondeu. Hannah levantou as sobrancelhas e abriu os lábios, surpresa e ao mesmo tempo indignada.

— É sério?

— O que há de errado?

— Você que há errado — respondeu fazendo uma careta. Abanou a mão em frente ao próprio rosto, balançando a cabeça. — Quando eu precisar de algo vindo de você, eu irei até você, Styles. Não se preocupe.

— Você tem certeza disso? — Ele cruzou os braços franzindo o semblante. Hannah deu um sorriso, tombando a cabeça para o lado, debochada.

— Absoluta.

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Estava sentada no refeitório, conversando com Seth Mott, um dos seus colegas do clube de literatura. Muitos costumavam dizer que eles seriam o casal perfeito do clube literário, mas Hannah nunca havia concordado com toda aquela baboseira. Seth era insanamente interessado em Lucille desde quando haviam quinze anos, mas ela nunca dera bola para o coitado, o que trazia um efeito satírico para a situação.

— Oba, almoço! — Lucille comemorou enquanto se aproximava, batendo palmas após deixar a bandeja em cima da mesa com um sorriso animado.

— Não sabia que viria almoçar conosco hoje — Dandara franziu o cenho. Luce revirou os olhos, erguendo as pernas para se sentar na mesa do refeitório, ao lado de Dara e de frente para Seth e Hannah.

— Não é como se isso fosse impossível — resmungou a loira. Hannah ergueu as sobrancelhas. Luce revirou os olhos dando-se por vencida. — Ok, eu assumo que eu dispenso vocês no almoço, mas não é porque eu desprezo a companhia de vocês, é porque estou tão absorta com as meninas que acabo me entusiasmando com os assuntos falados — dá de ombros e pisca os olhos algumas vezes.

Hannah mordeu o lábio inferior tentando prender um sorriso, permanecendo concentrada ao segurar seu copo transparente com suco de maracujá dentro e mexia com os dedos da outra mão o canudo, misturando o líquido amarelo.

— Qual é! — A líder de torcida grunhiu quando Dara explodiu em gargalhadas. — Assumo que eu vim para especular Hannah.

— Huh, eu? — Hannah colocou o canudo entre os lábios e sugou.

— Sim, você — assentiu. Hannah a olhou para que continuasse. — O que foi aquilo com Harry Styles?

— Vocês estão tendo um caso? — Dandara colocou o cotovelo por cima da mesa e dobrou o punho apoiando o queixo.

— Céus, não! — Uniu as sobrancelhas, soltando o canudo. — Nunca troquei salivas com aquele pacote perfeito para líderes de torcida. Sem ofensa — olhou para Lucille que deu de ombros.

— Nunca peguei o Styles.

— Tenho certeza que não foi por opção própria — Hannah provocou.

— Vicente o odeia, nem posso me dar o luxo de ponderar a respeito — Dandara tirou a sua de reta.

— É sério que vão ficar falando sobre caras? — Seth se pronunciou fazendo uma careta. Foi ignorado.

— Então por que ele te puxou daquele jeito? — Cortez insistiu no assunto.

— Tivemos um momento no coreto do quintal de Adam — respondeu. — Apenas isso — encolheu os ombros.

— Um momento?

— Que tipo de momento? — A morena mordeu o lábio inferior.

— Conversamos — respondeu Hannah exasperada, soltando o copo em cima da mesa e colocando as mãos em cima das próprias coxas. — Harry Styles fuma e bebe, não é como se eu fosse me interessar por ele dessa forma. Ele é atraente, não vou negar, e parece que restou algum resquício de inteligência nele, espero que não a desperdice com bobagens — olhou para o refeitório. Sabia que estava o procurando com os olhos, mas não o encontrou. — Ele também é mulherengo. Pessoas como eu para se relacionar com caras como ele é pedir para sofrer!

— Não exagera, nem todos são monstros assim — Luce defendeu.

— Aham, como se eu fosse acreditar — semicerrou os olhos.

— Nem todos são como Vicente — Dara arqueou as sobrancelhas e suspirou, soltando o ar pela boca e balançando a cabeça.

Um vínculo se formou no meio da testa de Hannah, olhando complacente para Dara, até que o notou.

Harry Styles.

Ele estava com seu sorriso de covinhas enquanto mantinha o braço ao redor do ombro de uma garota, ela era novata no grupo de líderes de torcida, Hannah não fazia ideia de quem era. O cacheado parecia alegre enquanto estava com o rosto virado para o lado oposto da garota, conversando com Noah Teller, um cara do time de basquete.

Até que ele virou o rosto e a encontrou.

Hannah engoliu em seco por ser pega observando. Harry diminuiu o sorriso aos poucos, ficando com o mesmo apenas enfeitando seus lábios. Quando estava prestes a desviar o olhar, ele piscou para Lawford que ficou paralisada o encarando.

— Hannah! — Seth estalou os dedos na frente do rosto da morena. Piscou os olhos algumas vezes e voltou a olhar para os amigos na mesa. — Viajou em quê? — Ele riu, apoiando o braço em cima da mesa de madeira.

— Eu preciso... — sentiu sua boca ficar seca. — Eu já volto — franziu o cenho, se levantando.

Dara, Luce e Seth se entreolharam confusos, porém não constataram, deixando Hannah sair sem impedimentos.

O refeitório era composto por várias mesas de plástico nas cores brancas, azul e vermelho – representando as cores da Norfolk High –, vários estudantes, comidas e máquinas de comidas, doces e salgadas, sucos e refrigerantes.

Havia uma parede de vidro transparente sustentada por uma estrutura de um ferro reluzente. Hannah andou em passos rápidos até a porta e a abriu, saindo para um jardim, onde haviam estudantes sentados conversando entre si, outros lendo, estudando, casal de namorados e etecetera.

Ao parar de andar, quando estava relativamente afastada da porta que dava para o refeitório, colocou uma de suas mãos na barriga e respirou rápido, recuperando o fôlego que havia prendido.

Toda a pressão envolvendo perguntas sobre como havia sido o seu momento com Harry Styles estava fazendo com que sua cabeça doesse e lhe desse a sensação de como se seus órgãos estivessem comprimindo-se, esmagando seus pulmões e a deixando sem ar.

Passou a mão pelo meio dos cabelos, os jogando para trás e olhando para os lados. Não era como se sua presença houvesse mudado muita coisa no ambiente. Alguns curiosos pararam para observar, mas ao constatarem que era apenas mais uma pessoa, voltaram para suas atividades anteriores.

— Fico lisonjeado por ser observado por você, Lawford — ouviu uma voz atrás de si e virou-se assustada, encontrando Harry Styles. Ele havia um cigarro preso nos lábios e o isqueiro na outra mão. Formou uma concha com a mão livre e ascendeu a faísca, a chama queimando o papel.

Hannah piscou os olhos algumas vezes, atordoada.

— Por que está me seguindo? — Implicou, cruzando os braços.

— Eu não estou te seguindo — balbuciou, retirando o filtro da boca e soltando a fumaça para o ar, deixando o cigarro por entre o dedo médio e indicador. — Eu vim fumar — balançou o cigarro no ar antes de tragar mais uma vez.

— Com toda a certeza é o destino — revirou os olhos.

— O destino quer que fiquemos juntos, Hannah — ele piscou galanteador.

Hannah sentiu-se incomodada com o comentário. Queria gritar na cara dele ou até mesmo estapeá-lo por se achar tão bonito e potente da forma que achava que – realmente – era.

— Inacreditável, Styles. Inacreditável — balançou a cabeça, descrente. Ele deu risada, expelindo a pouca fumaça com a ação.

— Então você está dizendo que quer que eu me afaste? — Ele arqueou uma sobrancelha. — Qualquer uma gostaria de ter Harry Styles ao redor.

— É uma honra que eu não seja qualquer uma — enrugou o nariz. Ele achou a ação adorável.

— Assim você fere meus sentimentos — fez uma cara falsa de ofendido.

Hannah revirou os olhos.

Ela não odiava Harry Styles, pelo contrário, não havia nada contra o cacheado. Porém toda aquela sua perseguição estava a irritando, principalmente por sentir-se tão constrangida na presença do mesmo, logo que suas “hereditariedades” no ambiente escolar são completamente opostas.

Não sabia se queria realmente fazer parte do mundo dos populares. Ter Lucille e Dandara em sua vida já era satírico demais para Harry Styles vir junto com o pacote. Seu último ano começara como um grande caos.

Pensar sobre todos os murmúrios que iriam circular pelos corredores, todos os olhares que Lawford receberia em cima de si e todo o ódio gratuito – daquelas que querem e exigem sua devida atenção, mas não as obtém –, já fazia seu estômago revirar e o gosto da bile prender-se em sua garganta. Detestava ser o centro das atenções.

— Você não deveria fumar no pátio da escola — Hannah observou.

Ele a olhou com desdenho e arqueou uma sobrancelha, como se perguntasse em silêncio se aquilo era um tipo de brincadeira.

— Você se preocupa com a minha saúde? — Respondeu com um sorriso estúpido nos lábios e soltando a fumaça, propositalmente em seu rosto.

Hannah grunhiu, abanando o braço na frente de sua própria face enquanto fazia uma cara desgostosa. Odiava aquela ousadia que ele tinha.

— Por isso eu não quero estar próxima a você, Harry Styles. Você é um completo estúpido! — Cruzou os braços e respondeu com a voz calma, porém com a feição séria. — Agora se me der licença, preciso terminar o meu almoço — soltou os braços e o empurrou para o lado com as mãos, caminhando para longe do mesmo.

— Então você quer distância? — Ele questionou em um tom de voz alto, para que ela pudesse ouvir. Havia um sorriso divertido nos lábios.

— Seria um enorme favor se o fizesse — gritou em resposta sem virar-se para trás.

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Ao abrir a porta de casa, Hannah deu um aviso que alertava a sua chegada em casa com um grito. Subiu as escadas brancas em direção ao seu quarto, abrindo a porta e deixando a bolsa por cima de sua cama.

Olhou seu reflexo no espelho e revirou os olhos. Estava veemente cansada e nem um pouco a fim de fazer um trabalho sequer da enxurrada que lhe fora passada recentemente.

— Querida? — Era a voz de sua avó, Gracie Singer.

Vivia na casa de seus avós junto com sua mãe, Margot Lawford. Mudaram-se para lá há cinco anos, tempo no qual desde que seu pai havia falecido. Margot havia entrado em uma espécie de depressão onde viajava semanalmente ou mensalmente, para outros estados ou até mesmos países, deixando Hannah para trás.

Se Margot não viajasse, ela entrava em combustão e ficava dias na cama, somente a base de remédios, antidepressivos e choros. Hannah preferia ver a mãe longe do que agindo de tal forma.

Gracie e Simon, seus avós, haviam cuidado de si desde então, sempre permanecendo ao seu lado como uma gigantesca fortaleza.

Antes que pudesse responder ao chamado, Gracie apareceu no batente da porta, com um de seus sorrisos doces paternais. Ela era, literalmente, um doce. Fazia pães, tortas, bolos, chás e sucos para Hannah sempre que possível, ela sabia que Margot lidava com a dor de uma forma, mas não poderia se esquecer da sua pequena garotinha, ela também sofria com isso.

— Sua mãe está aqui — anunciou calmamente.

Hannah suspirou alto, olhando para baixo enquanto ponderava se iria vê-la em seu quarto ou não. Provavelmente iria reclamar no momento em que Hannah abrisse a porta, a acordando, logo que estava recuperando-se de um dos seus jetlag’s. Ela não fazia por mal, ao todo, Margot amava a filha que tinha, mas a verdade é que se sentia muito exausta após toda a bagunça que é um pós voo.

— Ela vai querer me ver? — Ergueu as sobrancelhas, cuidadosamente.

Todos ali tratavam Margot como um pote de porcelana que se tocado, poderia despedaçar em trilhares de pedacinhos. Por mais que Hannah a amasse, sentia a ausência da mãe, que era curada superficialmente pelo amor dos avós. A verdade é que ninguém sabia lidar com Margot Lawford.

— Ela sempre quer te ver — deu um sorriso, revelando as gorduras de suas bochechas, enquanto se aproximava de sua pequena, dando-lhe um beijo na testa. — Vá tomar um banho, preparei biscoitos e café, desça e coma. Após isso, você checa sua mãe, o que acha? — Arqueou uma sobrancelha com um sorriso.

— Soa bem — Hannah deu um sorriso entristecido.

Gracie despediu-se com um beijo na testa da neta, deixando a mesma sozinha. Hannah mordeu o lábio inferior e sufocou um choro enquanto sentava-se na cama e paralisava o olhar em sua penteadeira, mais precisamente na bailarina que seu pai havia lhe dado quando havia nascido.

Haviam cinco anos que passava por isso, não seria agora que desabaria, não é mesmo?