História Delírios - O passado de Grimmjow

Grimmjow não estava totalmente sóbrio, mas sabia bem o que estava fazendo, estava sentado em uma cadeira e tinha acabado de ter sua camisa tirada por Neliel, que a segurava como se a estivesse abraçando, ele então abraçou também o encosto da cadeira enquanto Renji já começava seu trabalho e ficou a olhá-la, estava sentada bem diante de si, com o rosto de quem ainda sentia dor por conta da tatuagem recente em suas costas, mas mantinha um lindo sorriso, como se através daquele sorriso dissesse: “Eu vou estar do seu lado, não importa o que”.

Ele já tinha pensado muitas vezes em abrir o jogo com a garota, mas o medo de que ela o olhasse diferente depois de descobrir tudo, o fazia sempre recuar e deixar para fazer isso depois, não que ele tivesse feito algo extremamente ruim, só não era algo que a sociedade aprovasse e poderia fazer com que os pais dela não permitissem que eles se vissem mais, porém estava farto de tudo, inclusive de pensar que a qualquer hora Ichigo poderia fazê-lo antes dele.

Era óbvio que agora que Neliel o tinha deixado de vez, aquele cabeça de tangerina poderia usar daquilo para tentar estragar a proximidade entre os dois e se tinha um momento em que ela não precisava de alguém em quem não pudesse confiar, o momento seria aquele.

Até tinha pensado que, pelo fato de ela estar sob o efeito da bebida, talvez pudesse ter uma reação muito extrema, como bater nele ou gritar e xingá-lo, entre outras coisas, mas esse era um risco que ele sentiu que valia a pena correr, então começou sua narração dos fatos de anos atrás...

— Bebê... Eu não sei se vai ser algo muito bom de ouvir, mas essa Cirucci, minha última namorada, ela era três anos mais nova que eu e nós nos dávamos muito bem, avançamos com tudo na nossa relação, mas quando eu fiz dezoito anos, um pouco antes de eu te conhecer, algo deu errado e os pais dela souberam que tínhamos passado a noite juntos, é claro que não era a primeira vez e ela nem era virgem quando a conheci, porém eles resolveram me acusar de ter abusado dela, pra preservar a honra da menina e essas coisas... – Ele deu uma pausa e Neliel ficou confusa...

— E o que aconteceu Jowjow? – Perguntou ela curiosa e pressentindo algo de ruim, sentia seu peito apertar e suas mãos tremerem, nunca tinha imaginado que Grimmjow teria algo de ruim escondido.

— Eles mandaram o Grimmjow pra cadeia. – Respondeu Renji, visto que os três: Rukia, Renji e Grimmjow eram amigos há muito tempo, bem antes de ele se enturmar com Nnoitra e Ulquiorra.

— Mas não foi culpa dele. – Rukia o defendeu, já que não imaginava que ele seria capaz de falar naquele assunto novamente, pois era algo que o tinha mudado radicalmente, afinal, foi depois daquilo que ele decidiu nunca mais levar uma garota a sério, tinha perdido a confiança nas mulheres. Neliel ficou paralisada ao ouvir aquilo.

— Quando ela foi questionada pelos policiais, bem diante de mim, disse que eu a tinha pego a força. – Ele riu soprado, seus olhos transbordavam de desilusão – Eu sei que ela só quis se proteger e devia ter sido instruída por seus pais, mas eu realmente não esperava por algo como aquilo... Achei que ela gostasse de mim tanto quanto eu gostava dela... A cadeia não foi grande coisa, já que fiquei em uma cela separada dos outros presos e meus pais me tiraram de lá em dois dias, mas eu não podia acreditar que tinha me apaixonado por alguém que tivesse a coragem de fazer aquilo comigo. – Desabafou o azulado com um sorriso amarelo.

— Aquela vaca... – Murmurou Rukia com a voz repleta de ira – Eu teria dado uma surra nela se não estivesse em meio a um campeonato. – Disse Rukia que foi campeã de judô pela faculdade em que estudava por três anos consecutivos e se pisasse na bola, batendo em alguém, poderia ser punida e não participaria mais do campeonato.

— Desde aquela época eu tenho só usado as garotas para me divertir, nem sei com quantas já estive e você sabe o resto... O passado não me importa mais, mas eu queria que soubesse que não sou o cara legal que você acha que sou... E se disser que não podemos mais ser amigos, eu vou entender também... Me perdoe por não ter contado antes e também por ter contado justo agora que está cheia de problemas, mas não gosto de esconder as coisas de você. – Ele encerrou seu discurso e aguardava o parecer da garota.

Renji tinha terminado a tatuagem e Grimmjow se levantou da cadeira, estendeu a mão para Neliel, a fim de que ela devolvesse sua camisa, já imaginava que ela poderia não aceitá-lo mais nem como amigo, nem como nada, mas para sua surpresa, ao invés de lhe devolver a camisa, ela se lançou em seus braços...

— Jowjow, eu não consigo imaginar o quanto você sofreu e esse tempo todo e eu ainda fiquei reclamando dos meus amores não correspondidos... Me desculpe. – Disse a garota agarrada a sua cintura – Eu jamais iria me afastar de você por causa disso, não faria sentido já que você não estava errado e agradeço por ter confiado em me contar algo tão doloroso... Se quiser eu posso procurar essa menina idiota e dar uma surra nela. – Completou Neliel já concordando com Rukia que a tal ex de Grimmjow merecia mesmo uma lição.

— Bebê, você é mesmo uma fofa, eu entendo que você deve estar se sentindo mal por mim e também estou feliz em saber que não me odeia por eu não ter te contado antes o que tinha acontecido, mas tem algo que eu quero muito lhe dizer... – Ele deu uma breve pausa, a olhou no fundo dos olhos e então disse tudo o que sentia naquele momento sincero de confissões – Você tá com a mão bem em cima da minha tatuagem e tá doendo pra caramba.

— Waah! Me desculpe! – A garota exclamava e todos riam daquilo, logo voltaram a beber e Orihime se foi juntamente com Ulquiorra, afinal eles tinham “assuntos a tratar” na casa da garota.

Quando percebeu que as horas já tinham avançado, Rukia chamou um táxi para eles, já que a moto de Grimmjow tinha ficado na cafeteria e ele também não iria conseguir dirigir daquele jeito. Assim que chegou, ela deu o endereço de Grimmjow e pagou pela viagem, em seguida Renji e ela voltaram para dentro, onde prosseguiriam com sua festinha particular.

Ao chegar à casa de Grimmjow, os dois se apoiaram um no outro para conseguir chegar até a porta, porém conseguir colocar a chave na fechadura seria um enorme desafio e eles tentaram por mais de vinte minutos, mas era inútil, não conseguiam sequer enxergar a maçaneta direito já que a mesma parecia rodar.

Sentaram-se no degrau de fora e ficaram rindo um do outro por estarem naquelas condições, mas Neliel decidiu não desistir tão fácil, então depois de cerca de dez minutos, ela finalmente conseguiu destrancar a porta.

— Jowjow! Veja, eu consegui! – Comemorava ela segurando as sandálias nos dedos, pois jamais conseguiria andar de salto naquele estado de embriaguez.

— Essa é a minha garota! – Vibrou ele antes de levar um tombo ao tentar se levantar, o que fez com que eles rissem ainda mais.

Os dois em fim entraram e Nell foi tratando de jogar suas coisas no sofá, estava cansada e com uma tremenda moleza nas pernas, Grimmjow fechou a porta, tirou o casaco e a camisa, pois estavam incomodando ao colar em sua tatuagem, então seguiu Neliel até perto do sofá.

— O que vamos fazer? Você não pode voltar assim pra casa. – Questionou ele e ela teve a ideia de avisar seus pais que dormiria fora...

— Espere... – Disse ela e virou sua bolsa sob o sofá, deixando que tudo caísse de dentro a fim de encontrar seu celular. Assim que o encontrou passou a digitar, o que levou algum tempo, pois até mesmo seus dedos pareciam bêbados.

“Mamãe, a festa com as garotas acabou tarde então resolvi dormir por aqui. Beijão e até amanhã.” – Foi a mensagem que com muita dificuldade ela enviou para sua mãe.

— Você não disse que estava aqui em casa. – Disse Grimmjow depois de conferir a mensagem, pois ela queria ter a certeza de que não tinha escrito nada errado, para que sua mãe não percebesse que tinha tomado umas doses a mais.

— Ficou louco? Se eu disser que estou aqui, eles me buscarão, ficarão bravos com nós dois e eu não vou mais poder te ver... – Ela então deu dois passos na direção do maior e o abraçou – Eu não suportaria ficar longe do meu Jowjow-kun. – Completou ela fazendo beicinho, com a voz manhosa e sonolenta.

— Tá certo! – Disse ele ao desencostar a garota de seu peito bruscamente – Então vamos fazer assim: Você vai por ali – Ele apontou para a esquerda, onde ficava o corredor que levava ao quarto de hóspedes – E eu vou pro meu quarto. – O azulado direcionou o polegar para a direita, onde ficava os outros dois quartos, o dele e o de seus pais, pois ele queria ficar o mais longe possível dela a fim de tornar a tortura de estar com a pequena e não poder tocar, o mais branda possível.

— Ok Jowjow! – Assentiu ela fazendo um gesto de “jóia” com o polegar e lhe dando uma piscadinha, então se virou e caminhava pelo corredor.

— Essa foi por pouco. – Suspirou ele aliviado, mas logo ouviu um barulho forte no corredor e então correu para ver o que tinha acontecido, Neliel estava no chão – Bebê! O que houve? – Perguntou ele desesperado ao virá-la de frente pra si, ela riu.

— Acho que preciso de ajuda pra chegar ao quarto. – Informou ela risonha.

— Sua doida, quase me matou de susto! – Esbravejou ele e logo a tomou nos braços, mas como também estava fora de seu estado normal, cambaleou pelos poucos metros que faltavam até o quarto.

— Você é pesada. – Resmungou ele quase se batendo contra a parede do corredor.

— Eu não! Você que é fraco... Ou tá tão bêbado que não aguenta nem segurar uma garota. – Ela falava meio enrolado e apesar de ele ter entendido tudo, começou a rir descontroladamente o que fez com que quase a derrubasse.

Após alguns minutos em uma luta terrível contra a maçaneta, ele conseguiu abrir a porta, mas o que tinha dificultado a tarefa, foi o fato de Neliel ficar brincando com a ponta de seu nariz, rindo histericamente, ele mal podia ver a fechadura, mas assim que conseguiu adentrar o quarto deu os últimos passos e a jogou na cama sem nenhum cuidado, como punição por ela tê-lo perturbado tanto.

— Ai ai ai... Minhas costas! – Gemeu ela, pois ainda sentia dor na tatuagem.

A garota se sentou com e, depois de minutos tentando, tirou o casaco, Grimmjow desabou na cama. Neliel se livrou com dificuldade de seu vestido, em seguida deitou-se ao lado do rapaz e sussurrou:

— Jowjow... Pode dormir comigo, se quiser...