1. Spirit Fanfics >
  2. Delirium of sin (Park Jimin-BTS) >
  3. Capítulo 9

História Delirium of sin (Park Jimin-BTS) - Capítulo 9


Escrita por: Larisseg

Capítulo 10 - Capítulo 9


Capítulo 9   


Sufocante.


Era essa a palavra que resumia tudo o que eu sentia. Minha garganta assimilava a navalhas e quando tentei chamar a minha mãe, minhas cordas vocais simplesmente travaram. Eu estava rouca. Mas como eu poderia? Ao me lembrar do sonho um estranho arrepio percorre o meu corpo, é como se eu tivesse gritado igual aquela mulher... e céus, ela parecia extremamente arrasada.

Com um impulso, me levantei da cama e fui até o banheiro, meu rosto não estava nada bom, mas ainda pior estava minha garganta. Completamente vermelha e inchada.

-- Aah. -- gemi rouca com a dor espinhosa quando engoli a saliva.

Eu estava assustada, tinha tantas perguntas que meu cérebro quase entrava em curto circuito quando tentava organizá-las.

Mas a principal: O que estava acontecendo comigo e porquê eu?

O meu maior problema é que eu não tenho noção de quem procurar para tirar essas dúvidas, talvez um psicólogo, o apropriado mesmo seria ir direto para um manicômio, vai ver eu enlouqueci.

Quando coloquei os pés para fora do banheiro minha garganta imediatamente melhorou, em um estalar de dedos. Coloquei a mão sobre ela e estranhei, não é possível minha garganta curar de uma hora para a outra, mas literalmente acabou de acontecer. Dei meia volta e fui tomar um banho, ainda estava escuro então era madrugada.

Dentro da banheira eu me peguei pensando no Jimin. Não era novidade, afinal ele sempre estava nos meus pensamentos. Eu sentia uma saudade absurda dele, absurda demais para alguém que nem conhece direito. Mesmo assim, eu o queria mais que tudo no mundo. Era como um vício e mesmo depois de algumas semanas eu apenas o queria mais e mais. Eu nunca havia necessitado tanto alguém como necessitava ele, mesmo que fosse uma simples mensagem eu já estaria feliz, mas ele ao menos recebeu a minha. Sim, eu estava me afogando e tinha certeza de que não sairia tão fácil, ele era uma pessoa complexa e que sempre levava a dois caminhos diferentes, caminhos esses que eu não sabia qual seguir e acabava me perdendo toda vez que escolhia um deles.

Eu estava perdida, imersa, necessitada, viciada e outras mil palavras. Era tão absurdo a forma como eu o queria em tão pouco tempo que cogitei a ideia de estar sob efeito de algum feitiço, e um dos bons. Cada dia que eu entrava pelo portão da faculdade, eu me encontrava rezando para que ele estivesse de volta, infelizmente ele nunca voltava, as aulas eram um tédio e mesmo conversando com Allyson e Sun eu não me distraia, meus pensamentos sempre estavam nele, Park Jimin, a minha perdição.

Depois de um tempo eu saí da banheira e enrolada na toalha me aproximei da grande janela. O sol já tinha nascido e segundo meu relógio na parede, eram 05:58 Me arrumei com calma e desci do quarto colocando a mochila em cima do sofá.

-- Bom dia, Felira. -- me assustei e me virei, dando quase de cara com meu tio. Quando foi que ele se aproximou tão furtivamente?

-- Que susto, e bom dia. -- ri com a mão no coração enquanto me afastava um pouco.

-- Me desculpe, pensei que tinha me notado. -- ele acenou com a mão e percebi que no dedo anelar ele tinha um anel idêntico ao de Jungkook e Jimin. Minha boca quase foi ao chão. -- Eu estava preparando o café da manhã, poderia me conceder uma ajuda?

Eu segui o homem sorridente até a cozinha ainda sem acreditar. Seria muita coincidência, não seria? 

-- Diga-me, como está a faculdade? -- disse enquanto remexia os ovos na panela. 

-- Está indo bem, é uma boa faculdade. Mas o que me surpreende é estar numa cidade tão pequena. -- ele me olhou.

-- Dizem que um homem muito rico que construiu, ele queria chamar mais a atenção pra essa cidadezinha, e parece que conseguiu. -- cortei o bacon enquanto ele falava.

-- Sério? -- foi então que eu tive uma ideia. -- E esse anel? Vi algumas pessoas da faculdade com um igual. -- ele sorriu e colocou o ovo em um prato.

-- Era uma sensação do momento em uns anos atrás, todo mundo tinha e os que não tinham, matavam para ter. -- ele quebrou outro ovo e colocou na panela. Por um segundo eu imaginei que aquela frase foi literal até demais. -- Não me surpreende que grande parte das pessoas ainda tenha um desses. -- ele levantou a mão em frente ao rosto e o observou. Era um anel muito bonito, realmente. Acho que o que o tornava tão bonito era a diferença que ele tinha. Preto com alguns fios de prata que formavam a lateral do rosto de um dragão no centro e quase tampava todo o material negro.

-- É muito bonito. Uma pena que eu não soube dessa sensação, se não compraria um também. -- ele riu.

-- Você que não estava atualizada, Nova York tinha bastante. Infelizmente foram deixados de lado com o tempo. -- como Nova York, uma cidade que morei desde pequena tinha uma febre dessas e eu nunca soube? -- Mas me diga. -- seus olhos verdes brilharam quando olharam para mim. -- Quem usa esses anéis? -- larguei a faca na pia e olhei para a parede na minha frente. 

-- Um amigo meu. -- era certo eu chama-lo de amigo? Afinal, eu não fazia ideia do que éramos de verdade. Quem sabe, amigos com benefícios, afinal ele me beijava e me agarrava a maior parte do tempo... e isso não é algo que amigos fazem, não é?

-- Só um amigo? -- levantou a sobrancelha. Peguei o bacon recém frito e despejei nos pratos com ovos.

-- Sim. -- foi só o que eu respondi

-- Estou curioso, ele tem um nome? -- meu tio nunca foi insistente, era um ato um tanto quanto diferente.

--Tem sim, ele chama Park Jimin. -- ele fez um "aahh" como se lembrasse de uma coisa.

-- O filho do Park. -- o olhei com os olhos arregalados, ele conhecia Jimin também? -- Ele ainda está fazendo psicologia? -- meus olhos se arregalaram mais. Psicologia?

-- Não, ele tá fazendo medicina junto comigo. Ele fazia psicologia? -- colocou o ovo no prato com bacon e saiu carregando para a sala de jantar. O segui com o meu em mãos.

-- Estou brincado, Felira. Eu o conheço de nome apenas. -- me sentei na mesa junto com ele.

-- Mas conhece o pai. -- encarei sugestiva.

-- Eu e ele já fizemos alguns acordos. -- então ele também conhecia o pai do Jimin. Eu precisaria pesquisar sobre isso.

-- Entendi, e você o conhece desde quando? -- ele parou de mastigar por um segundo.

-- Sua mãe está se sentindo melhor? Em Nova York ela estava um pouco tensa. -- mudou de assunto. Estranhei, mas talvez fosse apenas um assunto no qual ele não tivesse querendo falar.

-- Ah sim, está mais desestressada. Ainda trabalha muito, mas não com toda aquela tensão que tinha na empresa. -- tentei voltar ao assunto.

-- Eu vou embora antes de você voltar da faculdade, tem alguma coisa que queira me contar? -- os olhos verdes me encarando. Senti um arrepio.

-- Não. -- tio Sam era psicólogo, ele poderia ter notado que eu não estava bem. Mesmo assim eu não poderia falar sobre os sonhos estranhos, poderia? É, talvez sim, afinal eu precisava de alguém com a experiência dele.

-- Certeza?

-- Na verdade, tenho tido sonhos estranhos. -- ele afastou o prato e colocou os dois cotovelos na mesa, me encarando com atenção.

-- Continue. -- gesticulou com a mão.

-- É uma mulher, no primeiro sonho ela estava feliz, cantando... e no segundo, ela estava gritando como se estivesse em agonia, sofrendo. -- me arrepiei ao lembrar dos gritos.

-- Tem passado por situações de insegurança ultimamente? -- olhei para ele.

-- Não sei... -- eu estava confusa. Tinha sim passado por situações de insegurança, mas só agora tinha parado para pensar.

-- Esses sonhos tiveram algum efeito colateral em você? -- oh sim.

-- Eu vi a mulher de costas para mim umas três vezes, mas ela sumia rapidamente. -- deixei de lado o fato da minha garganta ter acordado estranha.

-- Felira, deveria falar com quem trás essa insegurança. Já tive pacientes com alguns desses quadros e eles melhoraram depois de se livrar desse sentimento ruim. -- desviei meus olhos para a mesa. Talvez ele estivesse certo, eu precisava falar com Jimin sobre tudo isso. -- Agora, acho melhor correr. -- apontou para o relógio.

-- Obrigada, tio Sam. -- dei um beijo na sua bochecha e sai correndo pegando mochila e atravessando a porta. 

Sim, eu tinha um objetivo, falar com Jimin e resolver de uma vez por todas a nossa relação. Tiraria a dúvida se o que ele sentia por mim era desejo carnal ou algo a mais. 

Mas ainda é muito cedo.

Minha mente falou. E era verdade, não nos conhecíamos a muito tempo, talvez eu estivesse precipitada em querer perguntar alguma coisa desse tipo.

Mas só assim os sonhos vão parar.

Concordei de novo, os sonhos eram esquisitos e agoniantes. Não queria passar por isso mais vezes.

Ainda assim é muito cedo.

Segurei os cabelos.

Mas estamos sofrendo com isso.

Idai? Vamos levar um fora se ela perguntar.

Melhor falar a verdade agora do que sofrer depois com o que não tem certeza.

Você nao tem ideia do que está falan...

CHEGA! Gritei na minha cabeça. Porra, estava tudo uma bagunça, minha mente discutindo entre a parte sã e a não tão sã. Que merda, estava mais insegura ainda e não sabia nem o que ia fazer, isso se eu ia mesmo falar alguma coisa.

Coitada.

Minhas mentes falaram. Bonitinhas, nem parece que só causam dor de cabeça. Fui ao chão assim que atravessei o portão da faculdade.

-- Aí! -- segurei uma parte da testa que tinha mandado no chão. Não foi um impacto forte, apesar do barulho.

-- Mil desculpas, eu não te vi. Você está bem? -- uma voz aveluda entrou pelos meus ouvidos. Olhei para cima e pensei estar no céu. Era um garoto muito lindo, de olhos negros e cabelo da mesma tonalidade. Os olhos puxados denunciaram que ele era asiático. Carregava consigo uma bolsa preta pendurada no ombro esquerdo, essa que ele segurou ao se abaixar um pouco.

-- Ah. -- gemi quando senti o sangue quente descer pela testa.

-- Santo Deus, o que eu fiz?! -- se desesperou colocando as duas mãos na cabeça e olhando para os lados. -- Alguém chame um médico! -- o olhei com cara de "sério?" -- Ah não, eu sou o médico, calma. -- voltou a olhar para mim e agachou ao meu lado.

-- Que? -- eu estava perdida, minha cabeça doía e tinha um louco na minha frente.

-- Eu sinto... Muitíssimo. Venha aqui, foi erro meu. -- peguei em sua mão e ele me ajudou a levantar. -- Realmente me perdoe, isso não costuma acontecer. -- riu envergonhado.

-- Cara, isso dói. -- ele olhou o machucado na minha cabeça e pareceu desesperado.

-- Tá, tá, tá, calma. Espera. -- olhou para os lados e começou a correr, me puxando consigo. O cara era totalmente pirado. Me sentou em uma das cadeiras do refeitório exterior e colocou a mochila na mesa.

-- É só um cortezinho, se passar água já tá bom. -- fiz menção de levantar, mas ele pegou meu braço e me sentou de novo. -- A culpa foi minha, me deixe te ajudar. -- aceitei, afinal que mal faria?

Ele tirou da bolsa preta um monte de coisas, entre elas um esparadrapo e alguns potes de medicamentos líquidos. Colocou as luvas, analisei cautelosamente todos os movimentos.

-- Você é médico? -- ele molhou um pedaço de algodão no que pensei ser um anti-séptico e me olhou.

-- Não exatamente, estou no último período de enfermagem. -- olhou para o meu machucado e se aproximou vagarosamente. -- Ok, Jackson, calma, é só um machucadinho. -- semicerrei os olhos.

-- Eu não me chamo Jackson. -- puxou a mão que estava quase no meu machucado.

-- Jackson sou eu. -- abri a boca. Certo talvez não fosse uma boa ideia deixar ele mexer na minha ferida. Sem aviso prévio ele pressionou o algodão na minha testa, aquilo doeu mais do que eu podia imaginar.

-- Cara, você tem que tomar cuidado! -- peguei seu pulso para tentar controlar um pouco da força ali. -- Estou começando a cursar medicina, mas sei que pra isso tem que ter calma e, aparentemente é algo que está em falta em você. -- ele mordeu o lábio e pareceu um pouco inquieto.

-- Eu não me dou bem com sangue. -- abri a boca de novo. Como caralhos alguém quer ser enfermeiro se não consegue ver sangue? 

-- Como é que é? 

-- Sempre foi meu sonho sabe, por isso ainda resisto. -- eu estava um pouco embasbacada.

-- Mas você vai estar sempre desconfortável. Se não se acostumou com todo esse tempo vendo sangue nas aulas, como vai fazer isso se chegar alguém sem uma perna no hospital? -- ele estremeceu e tirou o algodão da minha testa.

-- Como você se chama? -- o olhei confusa.

-- Felira, por quê?

-- Então, minha querida Felira, eu tenho um certo pavor. Já fui em psicólogos e alguns me ajudaram bastante, pelo menos eu não desmaio mais. -- fiz sinal negativo com a cabeça.

-- Entendo que esse seja seu sonho, mas não seria melhor trabalhar esse certo pavor antes de seguir em frente como enfermeiro? -- ter um tio que é psicólogo te faz entender que em certos momentos você precisa ser sincera e acabar com o sonho de alguém para reconquista-lo no futuro quando estiver preparado.

-- Eu estou tão perto, falta só esse ano, não posso desistir agora. -- colocou o esparadrapo no meu machucado e comecou a tirar as luvas.

-- Se sentiu incomodado enquanto colocava o esparadrapo em mim? -- ele me olhou confuso.

-- O que?

-- Se sentiu incomodado enquanto colocava o esparadrapo no meu machucado? -- refiz a pergunta.

-- Quando coloquei o espadrapo não. -- uma lâmpada ascendeu na minha cabeça.

-- É isso! Quando está distraído você não  sente nada. -- ele pareceu pensar.

-- Não sei não. -- levantei da cadeira em um pulo.

-- Mas eu sei, se conversar com o paciente você fica distraído, aí pode cuidar dele de boa. 

-- E quando o paciente estiver desacordado? -- não tinha pensado nisso.

-- Pensa em algo que te distraia. -- ele fez bico.

-- Vou tentar. -- me senti uma verdadeira psicológica. 

-- Certo Jackson, precisamos trabalhar isso mais vezes, mas agora eu tenho aula. -- peguei minha mochila e ele se levantou comigo.

-- Me passa seu número, não sei se vou conseguir te achar aqui dentro. -- passei meu telefone com pressa, gritando os últimos números em uma distância dele.

Jackson era uma pessoa que me interessou particularmente,  não pela beleza e sim pelo pavor de sangue sendo um quase enfermeiro. Fala sério, ele iria acabar matando alguém se continuasse com esse medo estranho. 

Depois de um tempo, eu finalmente prestei atenção nas aulas, gravando e anotando a quantidade da dose que podemos dar em uma pessoa adulta e em uma pessoa idosa..

No refeitório eu e Sun aguardávamos Allyson.

-- Sabe, estou saindo com outro cara. --ela soltou.

-- E o Jungkook? -- beberiquei o suco.

-- Não combinamos, nós conversamos e decidimos que vamos ser apenas amigos. -- ela fazia desenhos circulares na mesa com os dedos 

-- É uma pena, ele parecia ser bom pra você. -- limpei meus dedos sujos de chocolate no guardanapo.

-- É, mas sabe, estou dando muito bem com esse cara que estou saindo. -- fiquei feliz por ela, afinal, era minha amiga. -- Acho que já faz uns 2 meses que estamos juntos.

-- Juntos? Juntos assim... daquele jeito? -- quis perguntar se eles namoravam, e se namoravam, isso seria uma suposta traição já que ela teria ficado com o Jungkook.

-- Nós já dormimos juntos no segundo encontro, mas nada que leve a um namoro. -- cuspi o suco. Porra. No segundo encontro? Puta confiança. -- Eu sei, posso parecer um pouco atirada.

-- Não, não é isso. Você pode fazer o que quiser, mas não é algo que eu faria, sabe? -- me justifiquei enquanto controlava a tosse intalada na minha garganta.

-- Entendo. Acho que ele vai me pedir em namoro, ele anda meio estranho ultimamente e no nosso último encontro ficou analisando muito a minha mão. -- ele pediria, com certeza. Mas antes de falar algo, fui cortada.

-- Ele vai, pode ter certeza. -- Allyson disse, se sentando ao meu lado.

-- Eu espero que sim. -- soltou um sorriso bobo

-- Gente eu sonhei de novo com aquela garota estranha. -- elas me olharam.

-- O que ela fez? -- perguntou Sun enquanto Allyson abocanhava seu sanduíche caseiro.

-- Gritou. Gritou até ficar rouca. E foi tão... tão doloroso sabe, como se ela tivesse perdido alguém. -- abaixei minha voz podendo sentir uma dor em meu peito.

-- Isso não tem nada a ver com o que você está sentindo? Tipo, antes você estava feliz, e agora triste porquê o Jimin não está mais aqui. -- fazia sentido, assim como meu tio disse, a tal da insegurança ou perda. Quando ela apareceu feliz foi justamente quando eu me sentia segura sobre Jimin, e agora...nem tanto.

-- Isso não explica ela aparecer no corredor, e foram três vezes. -- ambas pareceram pensar. 

-- Vai ver estava delirando. -- Allyson disse.

-- Acho que não, foi muito real. -- ambas voltaram a pensar. -- Se não temos resposta, não vamos pensar. -- concluí.

-- Mas tem que ter uma resposta. -- Sun insistiu.

-- Ainda não temos, e nem caminho para chegar até lá, então, não vamos gastar tempo com isso. -- expliquei. 

-- Você reage muito estranho pra quem aparentemente viu um fantasma. -- Allyson ironizou

-- Eu sei. Enfim, recebi um cachorro via correio. -- as duas me olharam, provavelmente por eu mudar para um assunto completamente aleatório e estranho.

-- Um cachorro? -- Sun começou.

-- Via correio? -- Allyson continuou.

-- Aham. -- concluí.

-- Isso não é ilegal? -- perguntou a loira.

--Acho que sim. -- respondi, sem ligar muito.

-- Acho que o nome é tráfico de animais. -- olhei para Sun.

-- Não traficaram a Pan. -- rebati. -- Meu tio mandou ela de volta. 

-- Você e sua família são fora do normal. -- encarei Allyson que me olhava de maneira assustada.

-- Aí meu pai amado, vou ler um pouco que é melhor. -- me levantei e saí da mesa. Ultimamente tenho lido muitos livros sobre a área da medicina e como tratar certas doenças, como manter a calma em uma situação de pânico e até como fazer cirurgia em coelhos. Esse livro em específico eu achei muito bacana, principalmente por quê mostra toda a fisionomia do animal e como cada um funciona, até mesmo as dosagens de remédio que os veterinários precisam colocar para mante-los desacordados e quanto tempo dura cada dose. Tudo muito bem explicado em uma tabela de uma folha.

-- Uau! -- sussurrei admirada enquanto passava os dedos em uma página que mostrava detalhadamente o esqueleto e as terminações nervosas de uma lebre. Era tudo tão bem ilustrado com cores e traços fortes que me vi maravilhada com o trabalho bem feito.

-- Coelhos? Estou admirado. -- Me assustei e deixei o livro cair do meu colo. Jackson estava sentado ao meu lado e me olhava sorrindo, desde quando ele estava ali?

-- Jackson, que susto, você me mata desse jeito! -- briguei com ele enquanto pegava o livro no chão, por sorte intacto.

-- Desculpe. -- engoliu uma risada. -- Está estudando sobre coelhos? -- deu uma espiada na página do livro, aquela que mostrava justamente a tabela de dosagens.

-- Estou só dando uma olhada, não é o material que estou estudando agora. -- então, algo me incomodou. -- O que faz aqui? -- ele era louco, então não seria novidade se dissesse que estava fugindo de uma aula prática onde ele teria que abrir a barriga de um hamster e tirar uma amostra do intestino grosso.

-- Aula vaga, vim dar uma olhada nas flores. -- apontou para um canteiro colorido -- E achei a mais bela rosa aqui, lendo um livro. -- comecei a rir quando sua cantada chegou em mim.

-- Fala sério, que brega! -- empurrei seu ombro com o meu enquanto ria, ele me acompanhou enquanto rancava algumas graminhas do chão.

-- Mas é verdade. -- me olhou com um sorriso bonito, céus ele era tão perfeito.

-- Claro que é. -- ironizei revirando os olhos.

Paramos por um segundo, ambos notando o brilho no olhar do outro. Era uma sensação boa, nostálgica.

-- Seu machucado está melhor? -- apontou para o meu corte na testa, levantando os olhos até ele.

-- Eu nem estava lembrando dele até você falar. -- coloquei o dedo e senti o esparadrapo ainda ali.

-- Longos anos aprendendo sobre isso. -- se gabou.

-- Para no final, falhar no mais importante. O medo de sangue. -- brinquei, ele me deu um tapa no ombro e comecei a rir.

-- Isso é sério, sabia? -- cruzou os braços indignado.

-- Sabia sim, e por tocar no assunto... -- ele me interrompeu.

-- Você que tocou. -- ri mais um pouco.

-- Então, já que EU toquei no assunto. -- apontei para mim mesma. -- Você gosta de flores? -- ele olhou para o canteiro, vendo as inúmeras flores desfrutando de um bom banho de sol, estávamos no campus.

-- Sim, desde pequeno. -- seus olhos pareciam carregar uma tristeza. -- Elas me acalmam. Traz a paz que eu por tanto tempo busquei. -- sim, ele estava triste, e parecia imerso em lembranças muito longe dali.

-- Parece ter tido um passado difícil. -- tentei adentrar ao assunto frágil.

-- Tive sim. -- me cortou, foi ali que eu percebi que não era um assunto ao qual ele estivesse querendo falar no momento.

-- Entendi. -- coloquei a mão sobre seu pulso, ele me olhou e sorriu, os olhos asiáticos quase sumindo. -- Sobre as flores, já tentou pensar nelas quando vê sangue? Talvez possa ter um sentimento suficientemente grande pra te distrair. -- ele olhou para o longe pensando no que eu disse.

-- Nunca tentei, na verdade. -- apertei seu pulso fazendo sua atenção voltar para mim.

-- Vamos colocar em ação o mais rápido possível. -- ele sorriu meio forçado, como se estivesse com o pé atrás sobre isso. -- Ainda estou surpresa. Cara, como você conseguiu esconder esse medo dos professores? 

-- Bem, vez ou outra eu saio das aulas práticas e pra não dar tão na cara eu fico lá dentro algumas vezes, mas é minha dupla quem faz as cirurgias e tudo mais. Quando temos que trocar eu me seguro muito pra não desmaiar. -- dava para ver que esse era o seu maior obstáculo para a sua vida profissional.

-- Nós vamos dar um jeito. -- sorri para ele e me levantei.

-- Onde vai? -- me perguntou lá de baixo.

-- Devolver o livro na biblioteca e depois ir para a aula. -- ele se levantou. -- E você vai voltar para a sua aula prática. -- apontei para o seu peito, ele pareceu surpreso.

-- O que?! Como soube? -- ri com gosto vendo a cara de Jackson.

-- Plantei verde e colhi maduro. -- dei uma piscadinha com um sorriso enorme e saí lhe dando as costas.

-- Esperta. -- o ouvi atrás de mim e não pude evitar um sorriso malandro.

Jackson fazia bem para mim, mesmo que nós nos conhecemos a pouco tempo e em uma situação nem um pouco legal, ele parecia ser uma pessoa que valia a pena ter por perto. O que eu mais tinha percebido é que quando eu estava com ele, esquecia o desaparecimento de Jimin e uma pessoa que fizesse isso valia  a galinha inteira, como dizem.

-- Apenas esse? -- a bibliotecária perguntou antes de sair de trás do balcão.

-- Sim, obrigada. -- a perdi de vista assim que virou no meio de uma prateleira.

Olhei para o relógio do celular e percebi que ainda faltava quinze minutos para a minha aula. Balancei sobre os calcanhares pensando no que eu poderia fazer até bater o tempo. Voltar e falar um pouco mais com Jackson? Não, ele já teria saído de lá. Ler outro livro estava fora de questão, o cansaço das letras era óbvio. Foi então que uma lâmpada se ascendeu dentro do meu crânio. 

Vai pesquisar sobre o pai do Jimin.

Minha mente sã falou. Sorri e comecei a andar na direção de um dos puffs que tinha ali. Tirei meu notebook da mochila e liguei.

É nesses momentos que todas as séries de stalker chega na cabeça e a experiência adquirida com elas é a que manda. Pesquisei "sócio da Park Corporation" e cliquei no primeiro link que tinha.

"Park Huan é o sócio da Park Corporation (New York) e Park Entertainment (Seul), entre outros muitos estabelecimentos menores como: Academy Park, Hotel Park, Heaven and Water, Park Coffe...

Minha boca estava no chão, o cara devia ser podre de rico com tantos estabelecimentos e sendo sócio de duas empresas gigantes.

... Segundo ele, prefere trabalhar com sua imagem anônima, sendo assim ele pode andar pelas ruas mais movimentadas com tranquilidade. Na maioria dos eventos e reuniões que exige sua presença, seu braço direito ( Kim Lee Hua ) toma seu lugar e passa todas as palavras de seu sócio por um fone de ouvido.

Mano, o cara era um gênio. Alguns donos de grandes empresas não se importam em ter seus rostos na primeira capa de revista e serem reconhecidos ao longe, mas Park Huan era diferente, ele queria andar nas ruas como uma pessoa normal e se comportar como uma nas horas vagas. Mas ele teria feito isso para passar mais tempo com Jimin? Minha mãe disse que eles costumavam conversar quando ainda trabalhava lá, e será que resolviam seus problemas tomando uma boa xícara de café na "Park Coffe"?

Antes de voltar a ler, tomei um susto com a pessoa que sentou no puff do meu lado, imediatamente fechei a tela e olhei o ser divino com a boca aberta. Park Jimin estava do meu lado.

O abracei me segurando para não aperta-lo e recebi uma risada baixa como resposta, em seguida sentindo seus braços ao meu redor.

-- Caramba, quanto tempo. -- continuei o abraçando, sentindo aquele perfume que eu era louca e que a tantos dias ansiava.

-- Uau, não pensei que ia sentir tanto a minha falta. -- ele riu no meu pescoço e seu hálito quente bateu na minha pele sensível, trazendo o tão familiar arrepio.

-- Eu senti, sim. -- olhei para o seu rosto, tão lindo como sempre. Os olhos negros e brilhantes me encarando intensamente e um sorriso contornando os lábios avermelhados, o preto de seu cabelo permanecia tão lindo quanto na última vez e parecia tão macio quanto o ultimo toque. Sem aviso prévio afundei meus dedos nas madeixas, sentindo cada fio entrelaçar nos meus dedos. Eu sentia que ele gostava muito daquilo.

Depois de um tempo apenas nos encarando sem dizer nada, ele olhou para os meus lábios e me beijou lentamente. Quase derreti com a maciez e o gosto que apenas os lábios dele tinham. Soltei um sorriso bobo entre o beijo, a sensação de beijar alguém que a tanto ansiou era unicamente incrível. Se me perguntasse, eu não teria palavras para descrever tudo o que sentia quando ele me beijava, mas eu podia resumir tudo em uma palavra: surreal.

Depois de um longo beijo, ele me afastou e eu relutantemente abri os olhos, encarando suas orbes feito o mais puro ébano, seus cabelos desgrenhados pelos meus dedos e os lábios inchados e molhados. Aquilo tirou um suspiro alto de mim.

-- Estava pensando, quer ir na minha casa hoje? -- minha boca foi ao chão. Park Jimin me chamando para sua casa? Isso era mesmo real? 

-- Sério? -- o maior sorriso estava nos meus lábios, não queria nem ver a minha cara de trouxa e iludida apaixonada, mas não tinha como evitar.

-- Sim, você passa a tarde lá e fazemos o jantar. Os meninos vão para uma viagem, então seremos só nós dois. -- opa opa opa, informação. Então ele morava com o grupo que andava, interessante.

-- Sabe... -- abaixei a cabeça tímida, supondo uma coisa -- Não sei se ainda estou pronta. -- sim, eu pensei naquilo. Afinal, um garoto havia me chamado para a sua casa, o que mais eu pensaria?

-- Eu não vou te forçar a nada. -- colocou uma mecha atrás da minha orelha. -- E eu te convidei para um jantar, sua pervertida. -- deu um peteleco no meu nariz e eu sorri feito boba, acompanhei sua risada contagiante e bonita.

Eu estava feliz.





 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...