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História Deluded - Monstros Vivem Sob Seus Sorrisos


Escrita por: woyifane

Notas do Autor


Nossa, uma fic da @byuli_nee sem ser comédia? O que tá acontecendo?
Queria fazer um textão falando sobre algumas fics que eu vi que romantizavam estupro/pedofilia (o vulgo shotacon/lolicon), mas vou direto ao ponto. Pedofilia não é algo bom. A criança NÃO vai se apaixonar pelo abusador. Ela NÃO vai querer ficar perto dele. Não vai rolar aquilo de "sentiu algo bom" porque são CRIANÇAS.

Eu escrevi essa fanfic depois de debater sobre três fanfics que romantizavam estupro e pedofilia – apenas três de muitas outras – e eu meio que fiquei com medo de postar porque não costumo escrever nada com esse gênero. Mas com o feedback da Sisi e da Livi eu me senti mais confiante. Vamos ler?

Capítulo 1 - Monstros Vivem Sob Seus Sorrisos


Adultos costumam dizer à crianças que vários monstros se escondem embaixo de suas camas e no fundo de seus guarda-roupas, bichos-papões vagam pela casa a noite para assustá-los e puxá-los pelo pé quando menos esperam. O que eles esquecem de contar é que monstros assim não existem, monstros de verdade não se escondem debaixo de camas ou armários. Eles se escondiam por trás de um sorriso amigável, balas, presente e gentileza exagerada.

Oh Sehun era uma dessas criancinhas iludidas por adultos que insistiam em tentar amedrontá-lo com histórias de fantasmas escondidos detrás das portas.

E ele costumava sempre se fantasiar de super-herói em todos os Halloweens. Sentia-se poderoso ao vestir-se como os heróis dos quadrinhos que tanto amava desde que aprendera a ler algumas palavras soltas de uma HQ perdida nas coisas da mãe, e desde então dizia ser um novo herói que veio à terra para proteger as crianças de monstros que se escondiam no escuro.

Em quase seis anos de vida, o menino já havia possuído a força suprema do Superman, um escudo redondo e brilhante do Capitão América, um lança teias do Spiderman e, mais recentemente, uma porção de equipamentos na forma de pequenos morcegos, além de uma capa negra e uma máscara. Aquela era com certeza sua fantasia preferida. Ele era o Batman.

Foi naquele Halloween, quando Sehun estava prestes a fazer seis anos, que um monstro diferente apareceu pela primeira vez. O pequeno Batman brincava com seus coleguinhas, distraído a ponto de não notar um caminhão de mudanças parado em frente à casa vizinha. Ele não viu. Ele não se preocupou. Afinal, estava no meio de uma batalha nuclear contra um fantasma com botas, um Jack Sparrow com barba de lã e um Pororo zumbi, seria a maior batalha de todas e ninguém notou um movimento suspeito sequer.

O novo vizinho apareceu-lhes poucos dias depois. Tinha a aparência bonita, era charmoso a ponto de fazer suspiros escaparem da boca de homens e mulheres e aquele seu sorriso de canto era o suficiente para deixar muitas pessoas sem jeito, inclusive a mãe do pequeno Oh, uma mulher independente, porém solitária, que se encantou pelo rapaz na primeira vez que o viu, quando este veio lhe pedir, de modo clichê, porém ainda sim educado, uma xícara de açúcar.

Sehun passou a ver, com bastante frequência, o moço da casa ao lado abraçando sua mãe e a beijando na bochecha, beijos simplórios que logo evoluíram para beijos na boca. O pequeno não gostava disso, sentia-se abandonado pela mãe. Aquele moço estava roubando-a de si, tirando o único tempinho que ela tinha para lhe dar atenção, entre um trabalho e outro. Sehun se sentia mais solitário do que nunca, e ele não sabia ao certo, mas a culpa era do vizinho educado que havia entrado em suas vidas de modo repentino.

Ele não estava interessado em saber nada sobre o vizinho que estava roubando sua mãe, porém, quando o rapaz lhe presenteou com um boneco do seu super-herói preferido, apesar de ainda desconfiado, decidiu que talvez aquele pudesse ser seu novo papai. Todos os seus coleguinhas falavam bem dos seus pais, Sehun nunca teve um e essa seria sua chance para se encaixar ainda mais no grupinho de amigos.

Algum tempo passou e logo depois do aniversário de sete anos do pequeno Oh, o vizinho charmoso pedira sua mãe em namoro oficialmente, recebendo um sim imediato da mulher. Durante esse período, Byun Baekhyun, agora namorado de sua mãe, passara a frequentar ainda mais a casa dos dois e lhe presenteava ainda com mais frequência.

Foi no seu aniversário de oito anos que Oh Sehun ficou sozinho pela primeira vez com Baekhyun. Sua mãe saíra tarde para comprar seu bolo encomendado e o rapaz de olhar vago via televisão enquanto o pequeno desenhava no chão da sala. Naquele dia, Sehun sentiu pela primeira vez sua pele ser tocada lentamente pelas mãos de dedos longos do seu futuro papai.

As dúvidas nublavam sua cabeça, papai faziam aquilo com seus filhos? Sua pele estava sendo tocada mais intimamente a cada dia, mesmo que ele não soubesse disso. Vestir roupas largas e que o cobrissem mais não adiantava, no fim, as mãos frias do seu futuro pai iriam de encontro com a sua pele gélida.

Sehun tinha oito anos quando Baekhyun o encontrou sonolento em sua cama numa noite quente quando a mãe do pequenino avisou que faria hora extra no trabalho. Sehun tinha oito anos quando Baekhyun perguntou-lhe se estava com calor e que poderia tirar suas roupas para ficar mais confortável. Sehun tinha oito anos quando Baekhyun o tocou ainda mais intimamente.

Sehun tinha oito anos quando apanhou pela primeira vez por chorar e gritar muito alto naquela noite.

 

“Amarre-me a uma árvore. Prenda minhas mãos acima da minha cabeça e cante uma música para mim. Cante para que eu possa esquecer que eles querem me matar. Minha cabeça não me deixa descansar e mesmo antes de dormir. Eu já não sinto mais nada.”

 

Naquele Halloween, Sehun não estava vestindo suas amadas fantasias de super-herói. Ele não se sentia mais poderoso com aquelas roupas. Não sentia vontade para sair e brincar com seus amigos. Não queria sair de seu quarto pois veria sua mãe sorrir e abraçar o moço que era o motivo de suas lágrimas. Mesmo que ele ainda não soubesse disso. Sehun se escondia dentro dos armários todas as noites, temendo ser acordado pelas mãos geladas do homem que chamava de pai e que lhe dava presentes. Ele se escondia nos armários e chorava. Ele não entendia, mas seu coração doía cada vez que via ou lembrava das marcas em seu corpo alvo. Ele não sabia se estava fazendo algo errado. Seu coração batia muito rápido sempre que Baekhyun se aproximava. Ele sentia dor antes mesmo de saber o que era sentir dor.

Tinha medo de ele chegar mais perto. Tinha medo de a própria respiração denunciar seu medo. Baekhyun o repreendia sempre que demonstrasse algo contrário as suas exigências. O pequeno sentia-se quebrando um vaso raro cada vez que respirava próximo ao homem. Quando, na verdade, ele não tinha feito nada de errado.

Oh Sehun tinha dez anos quando sua mãe casou-se com Baekhyun e os três foram morar juntos na casa do rapaz. Seu novo quarto era grande e espaçoso, Baekhyun o abraçava sempre antes de dormir, sussurrando em seu ouvido coisas que sua mãe não gostaria de escutar.

Oh Sehun não era mais um garoto ativo e brincalhão, ele calava, assentia, nunca negava. Estava tão habituado àquela rotina que negar tornara-se inútil. Para ele, seu “não” não tinha forças. Ele não tinha forças.

Quando sua mãe saía, ele sentia as mãos do padrasto passeando pelo seu corpo. Sentia os beijos estalados pelo seu pescoço. E quando chorava ou protestava, recebia fortes palmadas do rosto.

A mãe estava constantemente preocupada pelas manchas no rosto e no corpo do menino, que sempre dizia tem sido fruto de brincadeiras na escola. Falava contido, não ria mais. Era uma tortura olhas nos olhos de sua mãe, sabendo que eles brilhavam ao ver aquele homem. A mulher pediu que Baekhyun acompanhasse Sehun até a escola, para que sei filho não se machucasse mais.

Sua mãe vivia cansada, seu rosto de trinta e poucos aparentava mais velho e cansado, Sehun via o padrasto administrando os calmantes receitados pelo médico para que a mulher pudesse dormir, então ele soube que ela não acreditaria se ele resolvesse abrir a boca.

Sehun tinha onze anos quando sua professora notou a calça suja de sangue do pequeno Oh e contatou sua mãe, sempre ocupada, a mulher pediu para que o marido resolvesse a situação, após uma longa conversa com a professora, Baekhyun, com seu sorriso simpático, avisou a ela que Sehun tinha crises de constipação intestinal e, provavelmente isso teria ocasionado uma lesão.

Aquele sorriso era simpático demais. A professora resolveu enviar um email para a mãe do pequenino, avisando sobre o que ocorrera na aula.

Naquele Halloween, Sehun tinha doze anos. Seus melhores amigos o convidaram para participar de uma festa um pouco maior. As crianças estavam crescendo. Sehun negou, como sempre negava. Não podia sair. Ele havia deixado claro. O medo era maior que qualquer vontade de se divertir.

Sehun trancou-se em seu guarda-roupa e cantarolou uma música que ele não lembrava de onde a conhecia ou do que falava sua letra. As primeiras lágrimas caíram e ele foi obrigado a se calar ao ouvir passos firmes. Ele podia ouvir o barulho que havia naquela noite, os “Doces e Travessuras” se iniciavam, e ele logo soube que estava perdendo sua vida aos poucos. Não sabia o que era viver. Era um super-herói antes. Agora, não era nada além de um corpo preso no armário. Ele não sabia, mas não chorava por sentir dor. Chorava por não sentir mais nada bom.

Sehun tinha quinze anos quando se negou mais firmemente ao padrasto. Tinha altura, porém não tinha coragem. Sehun tinha quinze anos quando foi internado no hospital com fraturas no crânio.

Sehun tinha quinze anos também, quando, em meio aos prantos, revelou seus temores aos policiais. As mãos tremiam, a cabeça girava. Ele não sabia o que sentia. Ódio? Desprezo? Tristeza? Angústia? Ele sentia o sangue em suas veias correrem mais depressa.

Sehun tinha quinze anos quando acreditaram nele. Ele respirou aliviado naquela maca de hospital, a cabeça atada por gaze e esparadrapo, o sangue estava preso dentro dele. Suspirava com alívio.

A angústia que estava sufocada em seu peito aos poucos se esvaia. Seus lábios ainda tremiam, porém seu coração estava batendo normalmente, como deveria. Sua cabeça dolorida era a última de suas preocupações.

Baekhyun tinha quarenta e dois anos quando foi preso.

E lá ficaria por quarenta e cinco anos.

 

Lentamente

Então, de repente

Um único fio solto

E tudo se desfaz

 

 

Num mundo onde monstros exibem sorrisos e gentileza, não devemos nos preocupar com os que vivem debaixo de nossas camas.


Notas Finais


As duas citações no meio e no final da fanfic são de (respectivamente) Murder do Coldplay e Sorrow do Sleeping At Last. Peguei os trechos aleatoriamente, em Murder eu até incrementei um pouco pra ficar ainda mais de acordo com a fic.
Coldplay - Murder
https://www.youtube.com/watch?v=nRCB5kVTv7Y
Sleeping At Last - Sorrow
https://www.youtube.com/watch?v=lV9dOY878OM

Espero que tenham gostado. Não romantizem estupro e pedofilia, tenham higiene <3

Se você chorou e agora quer rir, leiam minha fic comediazinha melequenta <3 tá um arrazo
https://spiritfanfics.com/historia/apocalhaco-aterroriza-sociedade-6835838/capitulo1


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