1. Spirit Fanfics >
  2. Demore-se >
  3. Capítulo I

História Demore-se - Capítulo I


Escrita por: notcadenus

Capítulo 1 - Capítulo I


Naruto estava extremamente irritado com o casal desconhecido ao lado. Eles discutiam como se estivessem sózinhos, mas, na verdade, estavam em um trem e para piorar ao lado do loiro. Ele rolou os olhos a cada novo grito e sentia uma vergonha alheia tão grande que podia explodir seus olhos azuis.

Oh, eu tive que ler 10x a mesma linha do livro – Pensou antes de pegar sua mala de mãos e procurar um outro lugar para se sentar. Por sorte, tinha um lugar vazio ao lado da janela ao fundo, longe do casal.

Abriu o livro na página que tinha parado até sentir seu pescoço queimar com um olhar alheio. Espiou de canto de olho e viu um moreno sentado do lado oposto do corredor no banco em sua direção. Franziu o cenho e percebeu o moreno desviar o olhar, mas durou pouco pois logo se sentiu queimar de novo.

Desisto. – Refletiu fechando o livro e depositando-o em seu colo. Ele não conseguiria ler com um casal gritando ao seu lado em um momento e muito menos com um moreno lhe secando em outro.

Avistou o casal passando pelo corredor ao seu lado aos berros em direção aos fundos do trem, talvez, tivessem se tocado e decidido ir ao banheiro gritar ou até mesmo sair do trem.

Vá com toda paz de Deus! – Ironizou em pensamento soltando um meio riso se arriscando abrir o livro mais uma vez.

— Você entendeu sobre o que eles estavam discutindo? - Naruto estreitou os olhos quando ouviu o moreno lhe perguntar.

— Eles estavam discutindo em alemão. Nunca me arrisquei a aprender. - Respondeu de forma simpática olhando para o moreno. - Ás vezes, eles não se entendem. Sabe, aquele lance que quanto mais velho, pior a audição?

— Acho que sim. Dessa maneira os casais vão envelhecendo sem se matar. Faz sentido. – O moreno respondeu de forma reflexiva, mas muda de assunto logo depois – O que você está lendo aí?

Naruto apenas levantou o livro para que o outro conseguisse ler o título: "O Hobbit – J.R.R Tolkien" e perguntou:

— E você?

Os de olhos negros repetiu o mesmo movimento, dando uma risada sem graça: "Um gato de rua chamado Bob – James Bowen"

— Hm. – O loiro respondeu sorrindo.

— Eu estou indo até o vagão-restaurante. Não gostaria de me acompanhar?

— Sim, claro. Estou morrendo de fome mesmo.

Eles se levantaram e Naruto vai à frente já que o outro lhe deu passagem, percebeu que o moreno era um pouco mais alto que si. Chegando ao restaurante do trem, eles se sentam em uma mesa um de frente para o outro.

— Você fala bem em inglês. – Afirma o mais alto.

— Fiz algumas aulas. E morei fora por algum tempo. E você, como fala tão bem em inglês?

— Eu? Eu sou Americano, quero dizer, nasci no japão, mas me mudei muito cedo para os EUA. Então, é minha naturalidade.

— Então, creio que não saiba falar nenhuma outra língua já que fala a língua mais "importante" do mundo. – Debocha o loiro fazendo as aspas no ar.

— Já entendi, quer dizer que sou um bastardo sem cultura e egoísta por falar a língua que conecta o mundo? – Arqueia as sobrancelhas pretas em desafio suavizando em seguida. – Mas eu tentei fazer aulas de outras línguas, mas não é como se eu tivesse talento para ser poliglota. – Os dois riem. – Para onde você vai?

— Estou voltando para Paris. As aulas vão voltar semana que vem.

— Onde você estuda?

— Panthéon Assas, sabe?

— Claro. Está vindo de Chartres?

— Sim, estava visitando minha avó.

Oh, ela está bem?

Naruto ri de como o moreno pergunta preocupado sem nem ao menos conhecê-lo e responde:

— Ela está ótima! Obrigada! E você, para onde vai?

— Indo para Viena. Estou viajando de trem há duas semana sem saber para onde ir. Só vagando sem rumo. – Ele diz brincalhão, mas qualquer um poderia sentir um desconforto em sua voz.

— Está visitando alguém ou está sózinho? – Naruto questiona curioso.

— Eu tenho alguns amigos em Budapeste, mas vim fazer um EuroTrip mesmo.

— E esse tour está sendo legal para você?

— Nossa! Está sendo legal demais. – Ironiza e conclui em seguida – 'Tá uma droga.

Naruto ri incrédulo.

— Quê? Como assim?

— Digamos que passei dias sem fazer nada olhando para a janela.

— Oxi! Que sem graça. – O loiro responde sincero.

— Que injusto! Todo mundo admira um gato tomando sol... Um homem fazendo coisas simples não é de se admirar?

Antes que Naruto respondesse – não que ele pensasse em fazer isso – o garçom chegou oferecendo-lhes o cardápio, um para cada um, eles vasculharam o cardápio buscando algo leve para comer já que estavam em movimento. Olhando a paisagem, trocando olhares inocentes trocaram ideias sobre assuntos triviais para se conhecerem melhor. Era uma vibe gostosa pouco conhecida pelos dois que protagonizavam uma cena como se conhecessem há anos.

— Meus pais falam muito sobre amor. Mas me cobram e esperam de mim mais do que sou capaz de sonhar. – Dizia o loiro sob o olhar atento do mais alto. - Meu pai sempre me via com uma grande carreira como médico ou juíz e qualquer carreira que eu propunha seguir ele buscava mais. Ele queria algo lucrativo.

— Eu sou esperto. Tudo que esperam que eu faço, eu vou lá e faço ao contrário. – Pisca para o de olhos azuis que ri alto. – Nunca me preocupei com que os outros pensam da minha vida.

— Eu odeio quando eles são passivos-agressivos.

— Eu me lembro quando minha mãe conversou comigo sobre a morte. – Segredou-lhe o moreno chegando mais perto sobre a mesa – Meu avô, Madara, tinha acabado de falecer e eu estava no jardim com meu irmão, em um momento eu vi meu avô sorrindo para mim. Eu tinha cinco anos e corri contar para os meus pais e eles apenas me disseram que era fruto da minha imaginação. Nunca mais vi nada igual.

— Eu tenho medo da morte. Olha só, eu poderia estar viajando de avião, mas preferi vir de trem. – Confessou. Os dois olharam para a janela e, então, Naruto apontou . – Hm, acho que estamos em Viena. Vai descer aqui, não?

— É... Estava gostando da nossa conversa. Deveria ter te chamado antes.

— Foi legal te conhecer. – Conclui o loiro.

O trem chega na estação e encosta, assim os passageiros conseguiriam desembarcar em seu destino. O moreno ajeita suas coisas e desce para a plataforma enquanto Naruto permanence no restaurante olhando pela janela. Os de olhos negros quando pisa em solo firme fita a porta do trem sentindo melancolia, não queria se separar daquele loiro de olhos azuis, não agora. Ter mais um tempo com ele era tudo que ansiava no momento. Ficaria sózinho mesmo esperando o avião que sairia apenas no outro dia e por que não uma companhia? E foi com esse pensamento que ele teve uma ideia bonita. Em um súbito, retornou para dentro do trem ainda parado, andando de pressa até o rapaz de pele bronzeada.

— Ok, escute! Eu tive uma ideia meio louca, mas se eu não falar não conseguirei viver nem dez minutos da minha vida em paz. – Ele admite chegando perto de Naruto.

— Diga!

O mais alto bate uma palminha rapidamente enquanto volta a se sentar de frente para uma figura ansiosa.

— Eu quero continuar falando com você. Eu não faço a minima ideia qual é a sua situação, mas senti que temos algum tipo de... c-conexão. – Estava um pouco nervoso, mas não desistiria agora. – Então, aqui vai minha grande proposta: o que acha de passar o dia em Viena comigo?

— O quê? – Naruto ri sem conseguir acreditar.

— Vai, por favor, vai ser divertido.

— E o que faremos?

— Eu não sei. A única coisa que sei é que tenho um vôo para amanhã às 08h30min, eu não tenho dinheiro para um hotel então apenas ficarei por aí e seria muito mais divertido se eu tivesse você comigo. – Ele percebe a hesitação do outro – Ok, pense assim... Imagine que daqui dez anos ou quinze você vai estar casado só que seu casamento perdeu o encanto. Aí, você começa a culpar seu parceiro ou parceira e pensar em todos os homens e mulheres que conheceu em sua vida e pensa o que seria diferente se tivesse casado com algum deles. – Ele prossegue e aponta com os dedos indicadores para si mesmo. – Eu sou um desses caras. – Naruto ri com vergonha. – É como se fosse uma viagem no tempo, do futuro para hoje e aí você vai perceber que fez a escolha certa vindo comigo.

— Hm... - Responde pensativo, mas a ideia não lhe desagradou. - Me deixe pegar minha mala, ok?

— Yep!

Para caminharem e passarem o dia com mais tranquilidade deixariam suas coisas no Guarda Volume da estação, Naruto teria que voltar no outro dia para pegar o trem para Paris, assim eles já pegariam de volta os seus pertences. Enquanto caminham até o armário, o loiro sente que perdeu o juízo aceitando o convite de um desconhecido para descer em uma cidade fora de seu trajeto para aproveitarem o dia juntos e, pior, ele não sabia nem o nome do rapaz bonito de jaqueta de couro preta. Quase em desespero, ele questionou:

— Qual é o seu nome?

Oh, tem isso! – O moreno parece que se deu conta agora da falta de formalidade contrastando a intimidade exagerada que já demonstravam um pelo outro. – Sasuke Uchiha. Mas pode me chamar só de Sasuke. – Estende a mão para o menor que logo a aperta.

— Naruto Uzumaki. Naruto.

Já caminhavam por algum tempo pela cidade, estavam sem rumo, mas isso não parecia incomodar, comentavam coisa ali e aqui, se sentiam embaraçados algumas vezes pela loucura que aceitaram juntos, mas nada disso parecia ser, de fato, relevante. Até trocaram ideia com alguns outros estranhos perguntando sobre algo legal que aconteceria na cidade aquela tarde ou noite.

Decidiram, por fim, tomarem um ônibus para que pudessem explorar locais mais ao centro da cidade, longe para irem a pé e, também, porque queriam viver de tudo juntos aquele dia. Se sentaram em um banco duplo um ao lado do outro ao final da condução.

— Vamos brincar de "Pergunta e Responde". Já nos conhecemos um pouco. Faremos perguntas um para o outro, mas só vale responder a verdade. – Sasuke propõe e em algum momento da sua explicação ele coloca as mãos atrás do loiro que pareceu nem notar.

— Ok, gostei, Comece! – Responde o loiro animado.

— Vou perguntar... Hm... Conte-me como foi a primeira vez que você se sentiu sexualmente atraído por alguém.

Oh, por Deus! – Por essa Naruto não esperava. – Hm... Adam Levine. – Responde, por fim.

— Adam Levine?

— Sim... Qual é, Maroon 5, é uma banda famosa. Eu estava assistindo o clipe dele "This Love". Oh, senhor! Senti muito calor nesse dia. Eu devia ter uns 12 anos. Precoce, né?

— Então, sua primeira atração sexual foi um artista sexy em um clipe na TV?

— Na época que tinha MTV ainda.

Os dois riram e devido ao movimento repentino algumas mechas loiras caíram sobre os olhos de Naruto, e Sasuke em um súbito momento levou as mãos às mechas retirando de seus olhos azuis deslizando-as para atrás da orelha. O loiro o encara sem graça cessando o riso e só, então, o moreno percebeu o que fez ficando sem jeito em seguida retornando a mão para onde elas estavam a princípio. Por um tempo curto, mas intenso, se encararam gostando do arrepio percorrendo os corpos.

— Ok, agora é minha vez. – O menor quebra o clima e Sasuke assente. – Você já se apaixonou?

— Sim. Próxima pergunta.

— Oh, não! Assim tão rápido? Eu te dei detalhes. Eu lhe contaria uma história de amor legal mesmo que eu tivesse que inventar. Seu sem-graça.

— É que amor é complicado. Não posso dizer que já amei de forma bonita e altruísta. Mas se você perguntasse de alguma atração sexual eu teria uma resposta na ponta da língua. – Responde o moreno olhando o mais baixo de forma sugestiva. – Ok, minha vez. Me diga algo que te deixa bravo.

Naruto fez um bico com os lábios e respondeu:

— Tudo me deixa bravo.

— Me fale alguma coisa, vai!

— Hm... Eu odeio quando as pessoas falam de mim como se me conhecessem, mas odeio também que poucos quilômetros daqui está rolando uma guerra. Há pessoas morrendo, sabe... Odeio o governo ser tão falso e tirano. Odeio, também, quando as pessoas me olham e dizem "Oh, ele é tão loirinho e fofinho." – Imita uma ânsia e ri em seguida.

— Isso eu tenho que concordar. – Responde rindo e levando um leve tapa no ombro. – É fofinho e violento.

— Vou fingir que não ouvi. Agora é minha vez. É... deixa eu pensar. – Posiciona uma das mãos no queixo de forma pensativa. – Ah! O que é um problema para você?

— Você. – Responde divertido.

Excuse-me? Eu sou um problema para você?

— Brincadeira. Eu pensei em muitas respostas para a sua pergunta. Mas nenhuma valeu a pena. – Sorri doce para o menor. – Vamos descer aqui? O que acha?

Eles desceram do ônibus caminhando pelas ruas até avistarem uma loja retrô que em instantes chamou a atenção do loiro.

Naruto gostava mesmo de arte. Admirava esse mundo e nunca dispensava uma boa música. Não é a toa que estava adorando a loja de disco de vinil. Muitos poderiam pensar que era coisa de gente velha, mas o loiro jurava que tinha uma grande difença entre o digital e a elotromecânica do disco preto.

— Esse lugar é legal. – Sasuke proclama.

— Sim, e tem uma cabine ali para escutar os discos. – Diz apontando.

— Vamos lá ver se funciona?

Naruto concordou com um leve movimento de cabeça escolhendo o disco que escutariam lá dentro.

A cabine era um espaço pequeno, mal cabia os dois, Sasuke se colocou atrás do menor enquanto este organizava o disco para que ele começasse a tocar. O som começou soar suave pelo ambiente pequeno. Aos poucos iam reconhecendo o toque de "Linger – The Cranberries" era uma música suave e bastante romântica e agradava os dois. Dizer que foi um momento constrangedor é pouco. Naruto sentia a respiração do moreno em seu pescoço o que lhe fazia arrepiar e poderia ele estar ficando louco quando sentia cada vez mais perto o ar passear por seu ombro, pescoço e ouvidos. Fechou os olhos para aproveitar melhor as sensações que estava sentindo tombando levemente a cabeça para o lado.

Foi tão confuso e anestesiante quando foi virado e, de repente, estava de frente para o moreno que ao sentir as mãos fortes apertarem sua cintura só lhe restou entralaçar os braços no pescoço branco do mais alto. A física, talvez, explicaria o magnetismo que seus olhos estavam presos. A boca tão perto que sentiu roçar quando ofegou.

— Sasuke...

— Narut... - Mas batidas na porta interromperam o momento. Naruto logo se afastou tentando se recompor, tirando as mãos dos ombros alheios e sentiu a sua cintura ser apertada com mais força com um leve som de desagradado da boca do outro. O loiro só não entendeu se o aperto era de vontade ou, agora, de raiva.

— Acho melhor sairmos daqui.

***

Já estava escurecendo quando chegaram em uma ponte bonita e bem feita no topo da cidade. Era uma ponte de madeira com algumas árvores ao redor e uma iluminação amarela. Era possível ver o Rio Danúbio dali e ouvir a calmaria das águas pouco dançantes. Encostaram-se na ponte de modo que ficaram um de frente para o outro.

— Ali é o rio, não é? - Pergunta o moreno.

— Sim!

— Isso é lindo. Todo esse cenário e cores. O vento. A companhia.

— Estamos em um filme.

— Está perfeito para... - Hesita um pouco ao se aproximar do menor. - Hm...

— Está querendo dizer que quer me beijar, Uchiha? - Naruto finda toda a distância ao colocar os braços ao redor dos ombros largos do moreno.

Sasuke responde com um leve toque dos lábios, a princípio, apenas reconhecendo a textura do outro. Antes de evoluirem para um beijo mais profundo e apertado. Ficaram bons minutos no movimento harmonioso que encontraram entre toques, lábios, línguas e cabeças. Hora mãos pelo pescoço, hora mãos pela cintura. Pararam apenas para sorrir um para o outro antes de se abraçarem para curtir alguns momentos em silêncio no calor do outro. Tanto Sasuke, quanto Naruto se afundaram na pele alheia.

A distância tanto física quanto emocional era menor entre eles agora. Andavam um ao lado do outro com leves toques, seja um enlaçar de mãos, um abraço pela cintura ou ombros, conversando para se conhecerem melhor.

— Meus pais não se amavam muito, mas decidiram se casar e ter dois filhos. Cuidaram bem de nós como pais e filhos. Mas como marido e mulher, não tenho tanta certeza. - Conta o moreno segurando a cintura do menor enquanto estão dividindo um milk-shake.

— Eles se divorciaram?

— Finalmente, né?! Eles deveriam ter feito isso mais cedo, mas decidiram ficar juntos por mim e meu irmão. Eu me lembro de uma briga que meu pai e minha mãe tiveram e escutei que meu pai não queria ter me concebido. Ele dizia que eu fui um grande erro.

— Oh... Sasuke...

— Não se preocupe, eu nao me apego à essas palavras. Só passei a ver o mundo como um lugar... Ao qual não pertenço.

— Que triste. - Responde oferencendo o canudo para o mais alto que aceita prontamente.

— Não é. Acabei pensando "A minha vida pertence a mim.".

— É um visão interessante. Meus pais ainda são casados e são muito apaixonados. Você conhece alguém que tenha um relacionamento feliz?

— Conheço alguns casais até, mas acho que estão sempre mentindo um para o outro.

— Você me fez lembrar da minha avó. Eu sempre achei que ela tivesse um relacionamento simples com meu avô. Ela se chama Tsunade, é uma mulher muito forte. E sempre teve uma boa relação com meu avô, Dan. Mas um dia ela me confessou que passou a vida sonhando com outro homem pelo qual era apaixonada. Inclusive, meu pai é filho dela com esse homem. Jiraiya o nome dele. Porém, na minha família sempre trataram isso com muita cautela e, até, cinismo. Ela aceitou o seu destino. Que triste. Apesar de tudo, eu gostei de ter essa conversa com ela. É bom saber que ela sentia coisas que eu mal poderia imaginar.

— Foi melhor assim, se ela tivesse ficado com o outro, talvez, teria se decepcionado.

— Não tem como você saber, você nem os conhece.

— Claro que conheço. São pessoas que fazem projeções românticas sem se basearem na realidade.

— Ow, claro! Fui bem eu que fiquei: "Nossa, que cenário. As cores, que lindo, a companhia, o vento. Perfeito para um... beijo." - Debocha o loiro vendo o bico do moreno.

— Ah, ok! Pode parar. - Só pôde sorrir quando sentiu seus lábios capturados em um selinho inocente.

Enquanto andavam em um silêncio confortável avistaram uma cafeteria simples com algumas pessoas espalhadas pelo local, sentaram-se em uma mesa ao lado de fora sob a luz do luar. Estavam lado a lado. Pediram apenas um prato de comida para dividirem pois estavam com pouquíssimo dinheiro.

— Posso lhe contar um segredo? – Questiona o moreno.

— Sim. – Naruto responde curioso e um pouco preocupado.

— Chegue mais perto. Ninguém pode ouvir. – Confessa se aproximando do loiro.

— O que aconte... - Naruto não terminou a frase pois o segredo não era para ouvir e, sim, sentir.

Sentiu os lábios umedecidos do outro em seus lábios em um beijo calmo e delicioso.

Oh, esse era o segredo? – Questionou divertido.

— Esse segredo é só seu.

Estavam se encarando e quando Sasuke abriu a boca para começar um assunto entre eles foram interrompidos por uma figura de uma senhora que parecia... uma cigana. Ela estava em pé  ao lado de Naruto, a mesma pegou a mão do loiro e disse:

— Quero ler sua mão.

— Quanto é? – Perguntou curioso olhando para a sua própria mão sob a mão da cigana.

— Vinte dólares, pra você.

— Ok.

A senhora então começou a delinhar toda a mão de Naruto, nos desenhos lineares da sua palma mais branca que a pele.

— Oh, posso ver que andou viajando e é um estranho nesse lugar. – Dizia a senhora. – Você é um aventureiro, pequenino. – Ela sorria. – Busca as coisas... É curioso e luta pelo que acredita. Tem uma força interior enorme e posso ver que tem muita criatividade. Você está se tornando o homem que quer ser. Será um grande homem. – A mulher curvou a mão de Naruto e olhou as rugas que se formaram quando ele a fechou por pressão da mesma. – Ah, você tem muitas linhas de relacionamento. Nada muito relevante, mas tem uma muito intensa. – Disse e encarou o rapaz moreno que a olhava com dúvidas aparente. – Um amor marcante, porém rápido. Você precisa descobrir mais sobre esse misterioso amor para encontrar uma conexão verdadeira. Esse rapaz é um desconhecido para você?

— Acho que sim. – Responde o loiro incerto.

A cigana pega a mão de Sasuke e dá uma olhada rápida. Ela sorri cúmplice para o mesmo e se volta para o loiro.

— Você ficará bem, pequenino. Ele está aprendendo e não vai sair da sua vida tão cedo.

Em algumas horas – pensou o de olhos azuis com pesar, mas nada disse...

— Vocês são estrelas. Quando as estrelas explodiram em bilhões de anos atrás formaram tudo o que há nesse mundo. Tudo o que conhecemos é poeira cósmica. Vocês são poeira cósmica. Não se esqueçam. – Disse sorrindo.

Nenhum dos dois responderam, mas sorriram para a velha senhora e Naruto apenas entregou o dinheiro para ela que logo virou-se e foi para outra mesa.

— Essa história é muito legal. Somos poeiras. Você um grande homem, mas não me leve a mal. Isso aí é como horóscopo de jornal. – Disse o moreno. – Ela viu que estou de férias, que não nos conhecemos e disse essas coisas. Eu poderia me vestir de cigano e fazer isso com qualquer um.

— O que você está falando? Ela foi sábia. Eu acredito em tudo que ela disse, afinal eu serei um grande homem.

Qual é! E essa história de que "estou aprendendo"? Que pretensão. Ela nem olhou minha mão direito.

— Que engraçado... Você percebeu que ela nem olhou direito pra você? Por que será? Eu adorei o que ela falou.

— Hm.

Naruto riu do bico que se formou nos lábios do companheiro. Pegou as mãos alheias o levantando.

— Ok, vamos sair daqui. Andar um pouco.

Começaram a andar pelas ruas da cidade olhando os pôsteres pendurados nos postes, admirando as bailarinas e músicos de rua.

Naruto compartilhou com Sasuke sua visão de mundo, a sua crítica social/cultural deixando o moreno perplexo.

Naruto devia ser ativista – refletiu Sasuke.

Entraram em uma igreja bem antiga da cidade. Se sentaram em um banco aos fundos da paróquia, ela estava vazia.

— Eu visitei uma igreja dessas com minha avó essa última vez. Sabe, eu não sou apegado à esse negócio de religião, mas eu acho muito fascinante como um lugar pode abrigar tanta alegria e dor ao mesmo tempo. – Compartilhou o loiro.

— Você é apegado à sua avó?

— Sim, eu gosto de ficar com ela e ela faz eu querer ser um velhinho em um leito de morte.

— É muito louco. Eu sempre imagino que terei 13 anos para sempre. Não consigo crescer. Finjo ser um adulto. Só vivendo, escrevendo e esperando minha hora de crescer.

— Que engraçado! – Exclama Naruto com leves risadas. – Aquela hora na ponte... Éramos uma alma velha beijando uma alma jovem.

Sorriram.

***

Sasuke e Naruto, agora, andavam de mãos dadas perto do Rio Danúbio. O moreno fazendo leves carícia nas mãos alheias e muitas vezes a selando. Foi depois de um desses beijos que Sasuke questionou:

— Você já estaria em Paris se não tivesse me conhecido?

— Creio que não e você, o que estaria fazendo?

— Provavelmente, estaria no aeroporto chorando porque não aceitou vir comigo.

— Own... Talvez eu teria descido em outra cidade com outra pessoa. – Sorri malicioso provocando o moreno que belisca sua cintura devagar.

— Ah é? Então, sou só mais um decorando sua tela em branco?

— Eu estou adorando as cores que você pinta nela agora.

— Eu também.

— Mas, eu estou muito mais satisfeito por não conhecer ninguém que te conheça, sabe, para me contar suas falhas. – Confessa o de olhos azuis.

— Eu mesmo posso fazer isso. – Responde com um sorriso sacana.

— Bobo! É que a gente escuta tanto sobre as pessoas. Sabe, eu mesmo me sinto um general quando começo a namorar. Planejo maneiras de descobrir os pontos fracos da pessoa... O que a magoa e o que a seduz. É horrível. - Ri sem humor. – Se ficássemos juntos, qual seria a primeira coisa que te irritaria?

— Não vou te responder isso. Eu fiz isso uma vez e acabei solteiro. É isso que você quer? Me deixar aqui?

— Não, claro que não.

— Então, me diga você, o que te irritaria?

— Nada...

— Vamos lá, se tivesse uma coisa, o que seria?

— Hm... Olha... Se tivesse uma coisa, seria a sua reação com a cigana. Você foi muito pentelho.

— Como assim? – Responde incrédulo.

— Você não gostou porque não foi o centro das atenções.

— Ah, pelo amor! Ela te enganou.

— Você parecia um garotinho chorando, Sasuke.

— Você está sendo pentelho agora, Naruto.

— Eu nem acredito que será nossa única noite juntos... - O loiro reflete triste já alheio à discussão.

Sasuke sentiu um aperto no coração com a constatação e estava prestes a responder quando uma terceira voz se fez presente ao lado.

— Ei, casal!

Os dois olharam para o lado quando viram um homem bem próximo à eles com cabelos brancos sentado em um barco na beira do rio, o homem provavelmente estava bêbado, além de fumar um cigarro.

— Tenho uma proposta para vocês...

— Qual seria? – Respondeu Sasuke.

— Se eu adivinhar o nome de vocês, eu recebo cinquenta dólares.

Os três se entreolharam antes do moreno responder:

— Posso ter uma proposta melhor. – Desafia sob um olhar amedrontado de Naruto.

— Qual seria? – Responde o barqueiro dando uma tragada no cigarro.

— Se eu adivinhar o seu nome, você deixa a gente dar uma volta nesse barco. Se você adivinhar o nosso, a gente te dá cinquentinha.

Enquanto o branco analisava a situação se aproximando dos dois, Naruto sussurrou no ouvido alheio:

— Você é louco... Nunca vamos adivinhar.

— Não custa tentar. – Respondeu no mesmo tom e se voltou para o homem à frente. – E aí?

— Fechado. Vocês começam e eu dou três chances.

— Hm...Chuta um nome. – O moreno pede para o menor ao seu lado.

— Não, eu não. Nem vem.

— Ok... Goku? - Sasuke arrisca.

Os outros dois olharam estupefados para o moreno.

— Você tem três chances e gasta uma dessa maneira? – O loiro rola os olhos.

Os três riram.

— Nunca se sabe, meu bem.

— Eu até gostaria de me chamar Goku, mas não. – Revela o homem.

— Robert?

— Nope. Mais uma chance só.

— Hm... Alex?

— Também não. Perderam.

— Droga! – Exclama o moreno.

— Minha vez. O nome de vocês... Hm... Naruto e Sasuke.

— Oh não, como assim? – Naruto diz surpreso. – Cara, você tem super poderes...

Sasuke aceitou a derrota e já estava tirando o dinheiro da carteira quando o homem de branco parou os seus movimentos com um leve toque.

— Vão lá. – Diz apontando para o barco.

— Como assim? – Sasuke questiona confuso.

— Não precisa me pagar e eu deixo vocês andarem no meu barco.

— Mas... Por quê? – Com a voz trêmula, Naruto pergunta.

— Primeiro porque vocês são os primeiros a me tratarem bem depois de alguns dias e segundo que ouvi a conversa de vocês, então foi fácil saber os seus nomes, sem contar que escutei que essa seria a única noite juntos. Só aproveitem, sabe...

— Oh... Senhor, muito obrigada. Vamos, Sasuke?

Sasuke apenas assentiu e os três deram pequenos passos até o barco. O homem deu algumas instruções para os dois sobre o barco e disse que esperaria ali, naquele mesmo lugar. O moreno ajudou o loiro a subir e subiu em seguida ligando o pequeno barco, quando estava prestes a sair com o barco o rapaz de cabelos brancos diz:

— Suigetsu. – Os outros dois se entreolharam confusos. – A propósito, meu nome é Suigetsu e está escrito na lateral do barco. – Diz apontando para a letra de fonte bonita ao lado.

Oh, mas como fui burro! – Sasuke diz.

— Vocês ganharam da mesma forma, agora vão.

O barco saiu para o meio do rio. Naruto estava adorando a sensação só recebendo com gratidão o vento em seu rosto, enquanto Sasuke ainda estava escolhendo uma direção para ir. Andaram por uns bons minutos até chegarem em uma área pouco iluminada com o céu bem aberto, estrelas e lua brilhando. Deixaram o barco parado naquele lugar que estava silencioso e bonito. O moreno se sentou no chão e trouxe o outro para perto, Naruto sentou-se no meio das pernas do mais alto se inclinando para trás encostando suas costas no peito e sentiu os braços brancos lhe rodear.

— Como contaria para alguém essa loucura? – Sasuke questionou arrumando os cabelos loiros que, agora, estavam desgrenhados.

— Hm! Interessante. – Comentou, antes de continuar. – Eu falaria assim: "Conheci um cara no trem em Viena. Ele é Americano. Desci com ele". Aí, eu ouviria que sou louco por ter feito isso. - Os dois riram, mas o loiro prosseguiu. – "Fiquei afim de ir com ele depois que conversamos um pouco. Ele foi tão amável, eu não resisti. No vagão, ele me contou que viu um fantasma do avô quando era pequeno. Acho que foi aí que ele me encantou..." – Sasuke ficou surpreso, mas não interrompeu. – "Imaginei ele pequenininho, cheio de sonhos e caí na sua armadilha. Ele é tão lindo. Tem olhos pretos tão profundos, uma boca tão... tão... macia, tão bonita. Os cabelos dele ficou um pouco sujo com o passar do dia, mas isso o deixou tão sexy. Ele é alto. Eu me sentia bem quando ele me olhava e achava que eu não estava vendo. Peguei ele fazendo isso várias vezes. Ele beija como um adolescente apaixonado... A gente se beijou e foi lindo. E durante o dia, fui gostando mais dele..."

— Acho que estou louco por você. Será que vamos nos ver de novo?

— Ainda não conversamos sobre isso. – Naruto estava corado por tudo que disse e pela pequena frase que ouviu. – Mas, agora é sua vez de me dizer como contaria para alguém sobre isso.

— Hm, ok... Vou tentar. – Antes de continuar, depositou um beijo demorado na bochecha dourada. – Bem, eu contaria: "Quando decidi sair de Madri, comprei a passagem de trem mais barata para Viena. E a verdade é que comprei uma passagem para as nuvens. Eu conheci um moço na minha última noite. Um garoto incrível. Ele é um anjo de cabelinhos dourados. Ele me deu uma força legal. Conheci-o no trem... Ele estava perto de um casal que não parava de brigar. Mudou de lugar e se sentou perto de mim. Estava com uma carranca linda no rosto. Muito bravo. Eu puxei um assunto, mas ele não foi com a minha cara." – Riu se lembrando. – "Mas, aí, o chamei para comer e ele conversou comigo e eu pude ver o quanto era inteligente, sensível e passional. Além de ser muito bonito. Eu estava inseguro, tudo que eu falava me fazia um grande idiota."

— Claro que não. – Diz Naruto se virando para encará-lo. – E se eu me sentei perto de você de propósito?

Oh! Eu ficaria muito surpreso.

— Parece que estamos em um sonho, não é? – Naruto encosta a sua testa com a do moreno.

— Parece que esse momento é só nosso.

— Nós o criamos. Eu entrei nos seus sonhos, e, você, nos meus.

— E o mais legal disso é que não era para estar rolando e por isso me faz acreditar mais ainda que é um sonho.

— Mas quando amanhecer tudo vai virar abóbora. Você vai ver ter que pegar o sapatinho de cristal e ver se serve em mim.

Vai servir...

***

O bar era agradável, o som não era alto, não havia muitas pessoas e a penumbra deixava aconchegante o ambiente. É claro que quando decidiram entrar não tinham cogitado que não teriam dinheiro nem para um vinho, era decepcionante.

— Me espere aqui. Eu vou barganhar um vinho. – Sasuke dita para Naruto deixando a mesa que estavam sentados.

— Pare de ser doido, você acha que o cara vai lhe dar um vinho? – O loiro o segura pelo pulso incrédulo com a atitude alheia.

— Só me deseje boa sorte!

O moreno se direciona ao balcão do bar, pigarreando até chamar a atenção do atendente que se vira e se aproxima dele. Era um grisalho bonito com uma mascara cobrindo boca e nariz. Sasuke chegou bem perto do grisalho que estranhou a princípio, mas nada disse. Apenas o escutou com atenção.

— Cara, eu estou numa situação esquisita. - Confessou. – Está vendo aquele loiro ali? – O moreno aponta para a mesa em que Naruto está sentado o olhando, mas sem conseguir ouvir nada. O grisalho move a cabeça positivamente. – Essa é nossa única noite juntos. É o seguinte: ele quer um vinho tinto e eu não tenho um puto no bolso. Pensei que, talvez, o senhor quisesse me dar o endereço do seu bar e eu prometo que lhe mando o dinheiro.

— Meu filho, está tentando permutar um vinho? – Responde simpático.

— Você faria nossa noite perfeita se aceitasse.

— Você mandaria a grana? – O grisalho olha de Sasuke para Naruto, um pouco desconfiado, e o loiro lhe oferece um sorriso. – Me dê um aperto de mão como promessa, então.

O moreno logo aperta a mão alheia.

— Ok. – Diz o atendente, mas logo se afasta para a prateleira atrás cheio de bebidas até alcançar um vinho que está um pouco escondido. Logo, o pega e se vira para o moreno lhe entregando a garrafa de vidro. – Não é qualquer vinho, hein... E espero que você tenha a melhor noite de sua vida.

— Ah... Eu estou tendo. – Agradece e volta para a mesa onde está sua companhia.

— Não acredito que conseguiu.

— Sou um homem de palavras.

Sasuke pega as taças e divide o liquido vermelho entre eles. Após o brinde, eles logo sorveram a bebida.

— A gente ainda não conversou sobre isso, mas... - O moreno inicia o assunto. – Você tem alguém? Namorado ou namorada? Tem alguém te esperando em Paris ou algo assim?

— No momento, não.

— Mas você tinha?

— Terminamos há duas semanas.

— Me fale sobre.

— Eu não. Ele é um pé-no-saco.

— Ah, vai lá, Naruto.

— Ok... Fiquei decepcionado, achei que íamos durar mais. Mas, ele era burro e ruim de cama. Fiquei traumatizado. Eu era obcecado por ele, nunca iria imaginar. E você?

— O quê?

— Tem alguém?

— É gozado como temos evitado esse assunto até agora. Vejo o amor como um fuga para pessoas que não sabem ficar sózinhas. Todo mundo fala do amor como sendo algo altruísta, mas, na verdade, não há nada mais egoísta.

Oh, você acabou de levar um fora, né?

— Como sabe?

— Você ainda parece magoado.

— Tudo bem, vou lhe confessor algo. Deveria ter te falado antes, mas não vim na Europa à passeio. Juntei grana para vir para Madri passar o verão com minha namorada.

— Namorada?

— Ex. Ela está em um estágio aqui há um ano. Cheguei e fomos jantar, logo na primeira noite com alguns amigos dela. Eram uns seis, me lembro o nome de todos. Ela evitou ficar sózinha comigo todo o tempo. Tive que me acostumar com a ideia de que ela não me queria e comprei a passagem mais rápida que é para amanhã. Como ainda tinha alguns dias, eu resolvi viajar por aí. Sabe qual é a pior parte de levar um fora?

— Qual?

— É lembrar do pouco que a pessoa pensa em você e pensar que a pessoa sofre por você, mas no fundo ela está aliviada.

— Eu sei... Mas pensa no lado bom da coisa.

Oh, me diga!

— Não sei... - Naruto conclui rindo sendo acompanhado pelo moreno. – Mas tente.

— Talvez, só talvez, o lado bom tenha sido você.

— É... talvez.

Os dois não conseguiram terminar o vinho, mas levaram consigo quando deixaram o bar e se colocaram a andar por entre as ruas da cidade. Já era madrugada, algo em torno de duas horas da manhã. A cidade tinha algumas pessoas, mas entraram em um beco pouco iluminado e vazio. Se sentaram em um banco e estava tudo silencioso exceto pelos dois que trocavam anseios sobre as próprias visões de mundo.

— Você acha que tudo o que fazemos na vida é para sermos amado um pouco mais? – Naruto questionou se aconchegando um pouco mais no abraço alheio.

— Eu não sei. Sonho em ser um bom pai e marido, ás vezes. Mas há momentos que isso parece bobo. Parece que isso pode estragar minha vida. Não é medo de compromisso ou que eu seja incapaz de amar porque sou capaz. Mas se eu for honesto comigo mesmo, prefiro pensar que fui bom e me superei em algo que realmente acredito do que simplesmente ter levado um relacionamento medíocre.

— Entendo, uma vez trabalhei para um senhor, tinha 52 anos, ele me disse que nunca dera nada de si mesmo. Não havia vivido por algo e nem por ninguém. Ele quase chorou quando contou isso. – O loiro se moveu do abraço olhando para o moreno. – Sabe, Sasuke... Se existe um Deus ele não está em mim ou em você, mas no espaço que nos separa. Se existe mágica... - Ele se senta no colo do moreno sem jamais tirar os olhos do mesmo. - ... Ela está na tentativa de entender e compartilhar. É quase impossível conseguir isso. – O loiro abraça Sasuke se deitando sobre a curvatura do pescoço do outro se aninhando de forma carinhosa. – O importante é tentar.

— Você tem razão. – Responde acarinhando as madeixas loiras com uma mão, enquanto a outra desliza pela cintura de forma contínua.

Ficaram ali por alguns bons minutos apenas trocando o calor dos toques e beijos que hora ou outra aconteciam. Naruto tinha adquirido uma forma passional de acariciar o cabelo alheio emaranhando os fios entre seus dedos sempre que possível, por outro lado Sasuke adorava apertar-lhe a cintura.

— Um amigo meu ajudou no nascimento do filho, na própria casa. – O mais alto compartilhou se mexendo levemente para que o outro o voltasse a fitá-lo, o que aconteceu logo em seguida, mas sem se distanciarem do carinho que rolava. – Ele disse que naquele momento ele só conseguiu sentir como a vida é efêmero e é por isso que esse tempo que estamos passando juntos é tão importante.

— É provável que nunca mais a gente se veja depois de hoje, não é? – Concluiu triste apertando um pouco mais o cabelo alheio.

— Você acha mesmo, Naruto?

— O que você acha?

— Sei lá. Eu não havia planejado outra viagem.

— Nem eu. Eu moro em Paris; e, você, nos Estados Unidos.

— E você tem medo de avião.

— Mas eu poderia...

— Se você fosse para lá. Eu poderia vir para cá do mesmo jeito.

Naruto ri sem jeito abaixando a cabeça encarando o chão. Sasuke não entendeu muito bem a sua reação, então pergunta:

— O que foi?

— Vamos ser racionais. – Voltou a fitar os olhos negros. – Se hoje for nossa única noite, não é tão ruim. Por que temos que tentar fazer isso durar para sempre?

— Ah, claro! Isso é estupidez, não é? – Disse isso com uma tristeza visível.

— Então, é isso?

— Esta é, realmente, nossa única noite? Não temos escolha?

— É o único jeito...

— Tudo bem. Será assim, então, sem ilusões e sem projeções. Vamos curtir a noite.

— Vamos!

— Me beije, então, para gravar a nossa única noite juntos e aproveitar a poucas horas que ainda temos.

Se beijaram como se não tivessem relógios contando cada segundo a menos que teriam juntos. Após o beijo, o loiro suspira trêmulo com os olhos marejados.

— Me senti um pouco triste. Agora só vamos conseguir pensar no adeus. Vamos dizer agora para não termos que fazer isso amanhã?

— Por quê? – O moreno questiona confuso.

— Olha, a gente não precisa se separar. A gente só coloca em palavras o adeus e vivemos até amanhã sem pensar nisso. Vai ser menos doloroso.

— Ok... Então, diga "Adeus".

— Hm... Ok... Adeus, senhor Uchiha.

— Até mais, Uzumaki.

Au revoir!

Later!

***

Os dois estavam, agora, deitados sobre a grama de um parque vazio. Já era alto da noite e eles terminavam o vinho que haviam conseguido horas atrás, Naruto sorria de forma brilhante deitado sobre o peito do moreno que lhe encaixava tão bem no abraço enquanto repousava sua própra mão sobre o peito do mesmo. Era de longe uma das melhores sensações que já tivera em vida.

— Já vivi muitos momentos bonitos com outros caras como viajar, ver o pôr do sol... E eu sabia que eram momentos especiais. Mas sempre havia um problema, eu queria estar com outra pessoa. Eu sabia que o cara não entendia exatamente o que eu sentia. Mas, com você, eu não quero estar com mais ninguém. Não imagina como uma noite dessa é importante para mim.

— Será que teremos outra?

— E quanto à decisão adulta e racional de tempo atrás, Sasuke? – Os dois riram.

— É... tenho que aguentar isso. Enfim, eu sei bem como é não desejar alguém. Eu posso imaginar como minha companhia deve ser irritante, ás vezes, pois eu nunca estive em um lugar que eu não estivesse. Eu nunca beijei sem eu estar lá. Nunca joguei boliche sem eu estar lá. Nós somos nossa própria companhia vinte e quatro horas por dia e deve ser por isso que muitas pessoas odeiam a si mesmo. Elas estão de saco cheio delas mesmas. Mas, suponhando que se ficássemos juntos, você começaria a sentir raiva do meu jeito. Você ficaria irritado quando todas ás vezes que eu visse alguém se aproximando de você, eu ficasse inseguro... Eu sei o quão irritante posso ser. Mas, ao seu lado, eu me senti outro. E a única maneira de me sentir assim é dançando, bebendo, me drogando ou transando...

O loiro levanta a cabeça para conseguir encarar o maior que estava o fitando de maneira intensa.

— Sabe o que eu quero, Sasuke? – Diz se aproximando com as mãos contornando os lábios alheio.

— O quê?

— Um beijo.

— Então, eu dou.

Um beijo romântico, intenso e com muito aperto. Os dois se correspondiam muito bem. Naruto passou as mãos por baixo da camisa do mais velho, finalmente, sentindo sua pele. Escorregou toda extensão do abdômem e peito sentindo o quão forte era aquele homem. Sentiu, também, quando sua camisa foi levantada para que mãos pálidas entrasse em contato com suas costas.

— Quero transar com você desde que saímos do trem. – Confessou o loiro com os olhos cheio de desejo.

Após a confissão, sentiu quando foi colocado sem muito cuidado com as costas sobre a grama e arfou quando o seu pescoço foi atacado por beijos e lâmbidas. Sasuke tirou a sua jaqueta de couro permanecendo apenas com a camisa voltando a ficar em cima do loiro, não poderiam ficar totalmente nús em um lugar público, mas estava extremamente calor naquele momento apesar do vento gelado.

— Sua pele é tão macia. – Os de olhos negros deslizava toda a mão pela lateral do corpo alheio passando pelas costelas e cintura deixando todo o caminho em brasa e sentindo os pelinhos do corpo abaixo se arrepiar.

Sasuke se sentiu tão vulnerável quando percebeu que as mãos sapecas do outro estavam desabotoando a sua calça e gemeu quando o mesmo lhe alcançar o membro. Naruto estava de olhos fechados sentindo apenas o quão duro o seu parceiro estava, deslizando suavemente o polegar para espalhar o pouco de sêmen que estava ali.

— Não faça isso comigo. – Pediu o moreno inebriado de prazer, mas o menor fez. Empurrando a pele e massageando o falo em um vai e vem ritmado e gostoso.

Os dois gemiam baixo, mas era um som harmonioso. O moreno distribuía beijos por tudo o que alcançava da pele alheia remexendo o quadril para ajudar no movimento. Desceu uma das mãos para apertar a bunda farta do loiro aproximando mais os corpos – se era possível. Conseguiu sentir a ereção do outro e sentiu-se inundar ainda mais de vontade. Retirou a mão que massageava seu membro para ter espaço de abrir a calça alheia e empurrar para baixo até que chegasse aos pés, retirando apenas uma das pernas.

— Abra as pernas para mim, lindeza.

Naruto se sentiu corar diante o pedido, mas ele estava perdido demais e atendeu prontamente, abrindo as pernas para que o outro se encaixasse melhor.

— Ahn... - Gemeu ao sentir seu falo ser apertado, rebolou sutilmente para alivir a vontade que estava sentindo.

Os movimentos em seu membro foram rápidos, Sasuke pegou um pouco de pré-gozo em seus dedos e circulou a entrada pequena do lindo menino de olhos azuis. Naruto se contorceu buscando mais daquele contato.

— Tão apressado, pequenino.

Mas, Sasuke não tinha tempo. Se havia algo que eles não tinham era tempo. O relógio corria contra eles enquanto a vontade crescia. A respiração deles já tinham aumentado drasticamente. O beijo era desesperado e Naruto tinha suas duas mãos na nuca alheia apertando e puxando, sentiu quando dedos gentis lhe adentraram e arfou entre os lábios. O moreno demorou pouco tempo ali, mas o suficiente para não o machucar. Colocou o membro na entrada e demorou para se colocar por completo. Naruto se contorceu e agarrou algumas gramas com as mãos as tirando pela raiz quando se sentiu preenchido. Rebolou para que o mais alto começasse a se movimentar e, assim, ele fez. Começou devagar, mas logo começou a investir com fluidez contra o outro em seus braços.

Naruto respirou fundo quando seu ponto sensível foi atingido naquele momento e sentiu toda sua racionalidade ir embora. Sasuke o fodia tão bem.

— Tão gostoso... Mais fundo, p-por favor.

O moreno levantou um pouco mais uma das pernas do loiro e investiu com mais intensidade, em contrapartida o beijo era doce. Eles se beijavam com demora e doçura, apesar dos gemidos desconexos que saiam dos dois. O loiro gemia dengoso, enquanto o outro tinha um tom grave na voz.

— Você está tão lindo assim. – Elogiou Sasuke sem parar os movimentos.

Estavam tão perto e adoraram quando chegaram ao ápice juntos. Naruto jorrou entre os abdômens e Sasuke encheu o loiro com seu prazer. Ficaram moles e ofegantes ainda conectados.

— Se eu pudesse escolher entre nunca mais te ver e me casar com você, eu me casaria. – Confessou o mais alto se retirando do menor, procurando algo para se limparem.

O de olhos azul se colocou a rir e aceitou quando o outro ofereceu a própria jaqueta de couro para que pudesse se limpar ficando o mais limpo possível quanto a situação permitia.

— Que bagunça! – Exclamou quando puxou suas calças para ajeitar em seu quadril.

Os dois se arrumaram, se vestiram devidamente e voltaram a se deitar na grama olhando o céu, abraçados. Ficaram em silêncio um bom tempo apenas curtindo a respiração um do outro e dormiram.

Quando acordaram depois de apenas alguns minutos, o sol estava começando a nascer, eles se levantaram e tentaram tirar um pouco da grama grudada em suas roupas, um ajudou o outro. Eles rumaram para a estação de trem onde Naruto ficaria para depois Sasuke poder ir ao aeroporto, ele tinha que pegar as suas coisas também.

Enquanto andavam e se encaravam dando risadas divertidas entre eles lembrando dos momentos que tiveram, o moreno quis saber:

— Qual será a primeira coisa que fará quando chegar?

— Vou pegar meu gato que deixei com alguns amigos. E você?

— Sei lá, estamos voltando à realidade. Que droga!

— Só vamos tentar nunca esquecer o que aconteceu aqui. - Naruto diz abraçando o outro com muito carinho.

O resto do caminho foi silencioso.

Quando chegaram na estação e buscaram suas coisas, o trem de Naruto foi anunciado pelo alto-falante, eles logo correram para a entrada do trem e pararam em frente a porta e o loiro se pôs em frente ao moreno para se despedirem.

Era chegado a hora.

— Sabe como chegar ao aeroporto, Sasuke?

— Sei, não se preocupe.

Eles se sentiram hiperventilar. Um pouco sem ar devido à ansiedade enquanto se encaravam com um quê de dor.

— Naruto, eu realmente... – Sasuke disse pegando as duas mãos do loiro. - ... Você sabe ....

— Sim, eu sei... – Eles nem sabiam o que falar. – Espero que tenha uma ótima vida e se divirta bastante.

— Sim, tenha uma ótima faculdade... – Disse passando as mãos pelos ombros do menor e apertando. O loiro correspondia cada toque nos peitos fartos do moreno. – Aí, eu odeio isso.

— O trem vai partir. – Naruto entrelaça seus braços no pescoço do mais alto e o beija com desespero sendo correspondido imediatamente.

Quando se soltam do abraço, o Uchiha abraça a cintura do menor o trazendo para mais perto encostando suas testas e diz:

— Sabe aquele papo de não se ver? – Ele segura com as duas mãos na lateral do rosto do loiro. – Eu quero te ver de novo.

— Eu também quero. Estava só esperando você falar. – Seus olhos azuis brilhavam pelas lágrimas quase caindo.

— E por que você não falou?

— Eu achei que não quisesse.

— Como achou que eu não quisesse? Ah, ok, deixe isso pra lá. Como você quer fazer?

— Eu não sei, Sasuke. Vamos nos encontrar aqui de novo, em cinco anos?

— Está bem, mas daqui cinco anos é muito tempo.

— Que tal seis meses, então?

— Um ano. Então, será um ano. -  Propõe o moreno encontrando um meio termo.

— Ok, daqui um ano a partir de hoje ou de ontem?

— De ontem, pequeno, de ontem. 08 de junho.

— Ok, 08 de junho do ano que vem.

— Ano que vem, Naruto. Plataforma 2, 08 de junho, às 16h. Você vem de trem e eu de avião. Mas eu estarei aqui.

— Não vamos nos telefonar?

— Não, isso é deprimente.

— Ok, o trem vai partir.

Eles se beijam em um selinho apertado.

— Adeus. – Diz o loiro.

— Até mais.

Au revoir.

Later.

Mais um beijo.

E assim Naruto subiu no trem, enquanto Sasuke via a máquina ligar e se afastar. Ele não tardou a ir para o aeroporto sentando em uma cadeira aguardando a chegada do avião. Quando entrou no avião olhou toda a vista se afastando sob seus pés.

Com as cabeças encostadas nas janelas, uma no trem e uma no avião, os pensamentos se encontravam. As mentes viajaram infinitos minutos à frente do tempo, ambos ansiosos para daqui um ano. Para o tal reencontro em 08 de junho.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...