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História Dépayser - Toph


Escrita por: Lilllac

Notas do Autor


Eu? Atualizando minhas fanfics antigas? É MAIS PROVÁVEL DO QUE VOCÊ IMAGINARIA.
Meu deus do céu, quanto tempo, minha gente. Se é que ainda tem alguém lendo isso aqui. Aos que não desistiram dessa fic: muito obrigada!

Alguns avisos: sinto que esse capítulo talvez não seja tão fofo e leve como os anteriores, porque lida com uma fase difícil da vida dos personagens. Nada é dito explicitamente, não tem menções à drogas nem nada pesado, podem ficar tranquilos, mas aborda algumas ações violentas por parte da Azula. Espero que não faça mal a ninguém, mas fica o aviso.

BEM, AGORA O CAPÍTULO. ESPERO QUE GOSTEM. (não revisado, como de costume. se encontrarem algum erro, podem me avisar <3)

Capítulo 3 - Toph


Zuko nem terminara de estacionar o carro ainda, mas Azula já conseguia perfeitamente distinguir em qual das mesas seus amigos haviam escolhido sentar. Isso porque todos os demais pares de olhos presentes na lancho-te olhavam na direção deles com apreensão. Guardou para si um sorrisinho, enquanto destratava o cinto de segurança e era a primeira a pular para a liberdade do lado de fora, parcialmente porque não queria estar presente enquanto seu irmão fazia a cafonice de dar a volta no carro e ir abrir à porta para Mai.

Ty Lee surgiu ao lado dela pouco depois:

— Seja sincera: você acha que é de propósito?

— Com a Toph? — Azula não conseguiu conter um riso. — E quando não é?

Ty Lee assentiu, silenciosa, mas com um sorrisinho no rosto, e os quatro partiram juntos para dentro do estabelecimento. Era um local razoavelmente popular na cidade, o tipo de lugar que ela e Zuko evitavam ao máximo justamente porque o risco de trombar em algum conhecido do colégio era alto demais para qualquer um deles. Mas o resto do seu grupo de amigos discordava em número e grau, completamente apaixonados pela maldita pizza de lá, e Azula, no que fora apenas uma das várias tortuosas vezes nos quais se viu dobrando-se aos desejos de pessoas que não ela mesma, já havia há muito tempo deixado para lá e aceitado que aquele seria seu point de encontro.

Assim que entraram, uma atendente com o cabelo castanho em uma trança aproximou-se deles. Azula a reconhecia vagamente, das outras vezes que havia estado ali, e ela aparentemente compartilhava do sentimento, porque ficou muito animada quando os viu. Claro que não deixava óbvio, mas bem poucos sentimentos escapavam ao radar astuto da mais nova da família. A atendente estudou seu grupo com o olhar, parando um pouco mais na mais alta das garotas, e Azula sentiu vontade de esconder o rosto no capuz do casaco.

Será que algum dia, murmurou para si mesma, irei à algum lugar sem que alguém fique secando minhas amigas? Ou, pior ainda, o Zuzu?

 Seu irmão, no caso, a cumprimentou com educação e informou que já tinham uma mesa certa e que ainda iam pensar nos pedidos. A mulher, muito discretamente, continuou os seguindo com o olhar, e Azula supôs que ela deveria pelo menos ter percebido que Mai estava acompanhada.

— Esse cheiro de maquiagem vencida — Toph exclamou, assim que se aproximaram, torcendo o nariz dramaticamente. — São eles mesmo? O casal gótico já voltou para a cidade?

— Ora, vá se ferrar, você também. — Mai respondeu, com um sorriso cínico.

— Eu viajo junto com o Aang, Toph. — Zuko disse, alheio ao sarcasmo, como sempre houvera sido. — Você ficou sabendo quando eu voltei. E a Mai nunca saiu.

Toph meneou a cabeça, incrédula com a falta de tato do rapaz, e Azula mentalmente concordou com ela. Enquanto isso, Ty Lee estava agachada próxima de Appa, o cão-guia de Toph, e lhe murmurava uma série de apelidos fofinhos em uma voz insuportavelmente anasalada.

— Você não tem muita moral para falar do fedor dos outros, tem? — Azula provocou, empurrando os pés de Toph para fora da mesa e sentando-se ao lado dela. Não demorou muito para que Ty Lee viesse também, fechando-a, enquanto o casal tomava o espaço livre ao lado de Aang. — Quando foi a última vez que tomou banho?

— Ah, não sei — Toph abriu um sorrisão, evidenciando seus dentes enormes. — Quando foi a última vez que você não encheu meu saco?

— Meninas.... — Zuko tentou ser o apaziguador.

— Não. — Mai abaixou a mão que ele havia tentado levantar, e olhava para elas com interesse curioso. — Deixa elas brigarem. Quem sabe uma das duas morre.

Zuko pareceu ofendido, Ty Lee riu, e Azula e Toph, em uma sincronia assustadora, levantaram o dedo do meio ao mesmo tempo. Aang, no canto, enfiou um grande pedaço de pizza vegetariana na boca. Azula o observou por um momento.

Não importava a situação, Aang nunca parecia genuinamente incomodado. Era como se ele houvesse nascido com a habilidade natural de ser agradável. Azula só conseguia temer o quão horrível deveria ser viver assim. Até sentiu um arrepio.

— Mas, e aí — Toph pegou um pedaço de pizza de bacon, bem generoso, aliás. — Qual o artigo científico dessa vez, nerd?

— Artigo científico? — Mai repetiu.

— Nerd? — Ty Lee questionou.

— Estou falando com a chatinha insuportável — empurrou a outra garota com o ombro, mastigando audivelmente, e não se dando ao trabalho de terminar antes de voltar a falar. Azula fez uma careta. — Sokka me falou que a professora de vocês passou uma tarefinha e você sumiu a tarde toda. Admite logo.

— Ah, sim. Aliás, já que você não enxerga: estou erguendo uma sobrancelha para você agora. Eu não sabia que era crime me concentrar nas tarefas da escola.

— Eu acho ótimo — Ty Lee comentou, enquanto Mai grunhia.

— Claro que não — Toph deu de ombros. — Mas que é muito fofinho — ela ergueu uma mão para puxar a bochecha de Azula e fez sons de beijinho. — Isso é.

Depois de mais algumas discursões sem sentido, Zuko fez o pedido deles, e enquanto aguardavam a comida chegar, Mai e Toph se ocuparam conversando sobre o último campeonato de xadrez que haviam participado, e Ty Lee, cujas perguntas e curiosidades pareciam nunca ter fim, logo se ocupou de puxar ainda mais assunto com Zuko sobre a viagem.

As palavras de Toph, no entanto, haviam surtido efeito. Azula agora se perguntava sobre o futuro da sua tão odiada tarefa. Sabia que podia muito bem zerá-la e isso provavelmente não chegaria nem a ferir seu perfeito histórico escolar, mas agora que Sokka e sua boca grande havia contado aos outros, era bem capaz que Toph a atazanasse sobre aquele assunto até que Azula lhe mostrasse as malditas cartas. E agora? Desistir antes de passar mais vergonha?

Ou continuar, e passar ainda mais vergonha com o fim inevitável chegasse?

À bem da verdade, já não tinha tanta certeza se queria continuar escrevendo-as, principalmente agora que terminara as duas – subjetivamente – mais fáceis. Como seria dali em diante? E se acabasse escrevendo mais do que deveria?

Nem notou quando a pizza foi levada até a mesa deles, até levantar o rosto e ver que Aang a encarava, initerruptamente. Assustada, ela moveu os lábios, sem emitir som: o que foi?

Aang foi igualmente sucinto: olha seu celular.

Azula o fez, e, sem demora, recebeu uma mensagem dizendo: por que você está tão distraída?

Pensou em mentir, honestamente. Era provável que conseguisse enganar Aang sem nem precisar pensar muito longe. A habilidade dela era um par perfeito para a ingenuidade e inclinação natural dele para a bondade.

Mas, por algum motivo, nunca se sentia muito confortável em mentir para o garoto, então, digitou: estou pensando na tal redação. Não sei se quero continuar.

— Eu consigo te ouvir digitando, e já está tirando minha paciência — Toph grunhiu, e Appa latiu baixinho. Os demais presentes na lanchonete ainda não haviam tirado seus olhos dele. Era meio difícil, considerando o fato de que o seu farto pelo branco dava a impressão de que estava espalhando em todos os cantos (embora isso não fosse nem de longe verdade. — Está escondendo alguma coisa? Só porque eu sou cega?

— Não enche, Toph.

— Azula está escrevendo aquela redação, não é? — Ty Lee se inclinou no ombro dela, e a garota engoliu em seco. — Ela está assim desde que entrou no carro.

— Às vezes você é mais paranoica que o Sokka. — Mai comentou.

— Que isso? Reservaram o dia para me tirar do sério? — Argumentou, ainda sentindo a presença de Ty Lee tão próxima de si. — Olha que eu vou embora.

Aang riu baixinho. Logo, Zuko fez uma piada sobre o quão exagerada sua irmã era, a conversa voltou a fluir e Azula foi deixada em paz para continuar digitando: acho que vou

Não chegou a terminar a resposta, porque Aang rapidamente enviou: você falando de “ir embora” com a Toph aí do lado me traz lembranças.

Azula franziu o cenho, por um momento, confusa, mas, quando levantou os olhos, e viu que Aang ainda a olhava, foi subitamente acometida pelas mesmas memórias, e rolou os olhos, sem acreditar que ele ainda se lembrava de algo tão específico...

.... Mas, por outro lado....

Ah, quer saber? Que se dane. Esticou uma mão, apanhou um guardanapo limpo, do centro da mesa, e pescou uma caneta na parte interna da jaqueta. Rapidamente, antes que perdesse o entusiasmo, rabiscou: PRIMEIRO DIA.

Devia servir, pelo menos até que voltasse para a casa, e pudesse colocar seus pensamentos em palavras mais elaboradas. Por enquanto, continuou escrevendo furiosamente todas as palavras emblemáticas que surgiam na sua mente, na mesma velocidade em que elas apareciam, antes que perdesse a coragem e resolvesse desistir mesmo daquela maldita tarefa.

 

Mais tarde, depois de se certificar de que Ty Lee já estava sonoramente adormecida na sua cama (Zuko ia passar a noite na casa de Mai e a garota definitivamente não queria ficar por lá, então pedira para dormir ali, o que Ursa facilmente – facilmente até demais, Azula notara – concedera), andou, nos dedos dos pés, até sua escrivaninha, e ligou a lamparina, de forma que conseguisse enxergar o caderno.

 

PRIMEIRO DIA.

É uma história ridícula, mas Toph, foi, na verdade, minha primeira amiga depois da mudança. Não me orgulho de ter feito amizade logo com a garota mais desleixada da escola, mas é um fato do qual não posso fugir, não é?

Não estava nem nossos planos fazer amigos. Acho que as lembranças do último ano humilhante na Academia, lá na Nação do Fogo, ainda eram muito frescas nas nossas memórias. Tinha a impressão de que qualquer amigo que viesse a fazer ali terminaria exatamente como Mai – nos virando as costas. Estava errada.

Zuzu e eu estávamos dispostos a começar nossas vidas do zero, se necessário. O primeiro passo havia sido a mudança para uma cidade onde ninguém conhecesse Ozai. O segundo, o ingresso em uma escola pública.

Nenhum de nós parou para pensar que, por mais fundo que as informações fossem enterradas, certas coisas não podiam ser escondidas ao olho nu.

Como uma maldita cicatriz enorme.

Não lembro quem foi o primeiro a fazer uma piadinha, mas lembro de quem foi o primeiro a apanhar. Um babaca chamado Jet que não estuda mais com a gente. Eu só tinha quinze anos, mas acho que quebrei uns três dentes dele. Zuko se meteu também, porque é estúpido, mas o tal Jet fazia parte de uma dessas gangues ridículas de alunos do fundamental metidos à gangsteres. De qualquer forma, acho que eu teria apanhado feio se aquele cachorro enorme não tivesse se metido no meio e começado a latir para todo mundo. Você vê, ninguém quer realmente chutar um cachorrinho.

Ou uma garota cega.

Toph se meteu também. Na época eu achei que ela fosse uma boa samaritana burra. Hoje sei que ela estava procurando uma boa briga, como continuou procurando durante muito tempo.

Mas agora nós meio que estávamos grudados juntos. Zuzu, eu, e ela, digo. O garoto com metade do rosto queimado, a menina cega, e a encrenqueira meio maluca. Que trio.

Passamos uma boa parte do primeiro ano juntos, para cima e para baixo. Participamos até do nosso primeiro campeonato! No festival esportivo da escola.

Toph já me xingou tanto por ter perdido aquela partida de xadrez que às vezes penso que ela queria quebrar o tabuleiro na minha cabeça.

Zuzu e eu vencemos todas as partidas de vôlei e o resto da audiência teve que lidar com uma menina cega gritando a todos pulmões da arquibancada sempre que anunciavam um ponto, mesmo que ela não soubesse de quem viera.

Mas aí, Aang se mudou, vindo diretamente do Sul, e uns meses atrás, os amigos dele vieram também.

Acho que isso me leva à segunda parte.

Nunca lidei muito bem com abandono. Quando você pegar essa folha para ler, talvez note algumas partes mais úmidas do que as outras. Não posso acordar Ty Lee agora, então me permita sentir pena de mim mesma por um momento, certo? Não é como se fosse acontecer de novo. Preciso aproveitar a oportunidade.

Depois que Aang, Sokka e Katara chegaram, Toph se distanciou um pouco. O que casou exatamente com a época na qual tio Iroh viajou à negócios e minha mãe se reconectou com Noren.

Por que crianças nunca recebem um aviso prévio de quando suas vidas estão prestes a mudar drasticamente? Não me parece justo.

Quando Noren se mudou para cá e Zuko estava se saindo muito bem com seus novos amigos – Jet! Acredita? Eu não – Mai e Ty Lee ainda não haviam se mudado.

Acho que percebi pela primeira vez a quão sozinha realmente era.

Uma coisa levou à outra, e eu comecei a brigar de novo. Primeiro era por causa do Noren, aqui em casa, toda hora. Depois era a música que Zuko escutava. E então era até mesmo o coitado do Appa latindo. Sei que não tinha o direito, mas, às vezes, o que sabemos e o que sabemos não são tão sintonizados como gostaríamos que fôssemos.

Um fim de tarde, depois que perdi minha primeira briga, Appa e Toph me acharam desacordada do lado de fora de uma lanchonete e me levaram para a casa dela. Agradeço por isso até hoje. Se Ursa soubesse.... Se Ursa soubesse, talvez eu tivesse recebido uma punição bem maior que um puxão de orelha e um sermão por ter ido para “uma festa do pijama sem avisar primeiro”.

Acordei na mansão dos Beifong com uma dor de cabeça infernal, e Toph me xingou de tantos nomes diferentes que eu não poderia cita-los nem se quisesse. Apesar de que nem tenho certeza se vou mesmo incluir essa pequena dissertação na sua tarefa, professora.

A única pessoa além de mim e Toph que sabem desse acontecido, é Aang, mas isso é uma história completamente diferente, que talvez eu me sinta compelida a contar um dia.

Toph Beifong é a única pessoa que sabe que, ainda mais do que Ozai nos deixou para trás (ou nós o deixamos? Já não sei), a solidão me fez cometer uma das maiores burrices da minha vida e acho que, certa parcela da responsabilidade por ainda tê-la – minha vida, nesse caso – se deve à garota cega e o seu cão-guia que me encontraram mesmo quando eu tive certeza de que haviam me abandonado....

— Azula?

A voz suave, mas súbita, quase fez a menina saltar na cadeira. Virou-se, e encontrou Ty Lee ainda na cama, mas com o torso parcialmente erguido, e, na penumbra, conseguia discernir um pouco o semblante confuso da melhor amiga.

— Te acordei?

— Hm. Mais ou menos... — Ty Lee mordeu o lábio inferior, e, após um momento de hesitação, completou: — Achei ter ouvido você chorando....?

— Chorando? — Azula riu, resistindo ao impulso de fungar, para que Ty Lee não soubesse que seu nariz estava, de fato, entupido. — Que nada. Só vim checar uma coisa no caderno.

— Aquela tarefa? — Questionou.

— Outra coisa.

— Certo — Ty Lee soava tão sonolenta, que Azula não sabia como ela ainda estava conseguindo falar. — Não fica até tarde, ok?

Sorriu, apesar do cansaço:

— Pode deixar.

Fechou o caderno, limpou as lágrimas na manga do pijama e esticou os braços. Os músculos ainda ardiam, do boxe, três vezes na semana. Bumi era um treinador severo e rígido – mas também era o melhor do reino da terra, cortesia do pedido de uma certa herdeira Beifong. E, quando tinha a oportunidade de extravasar em um saco de pancadas, Azula não precisava recorrer à lutas de rua, então todos saiam ganhando.

Caminhou para a cama improvisada que havia feito no chão, para que Ty Lee dormisse na cama, e enrolou-se no edredom. Ela e Toph não eram melhores amigas – nunca seriam – mas Azula pensavam que algumas conexões com certas pessoas não precisavam ser rotuladas, não mais do que pontuadas por companheirismo e uma mão amiga.

À esse ponto, não sabia mais por quê escrevia as cartas, era verdade. Provavelmente não para a professora, nem para si mesma....

.... Mas no momento, seus olhos pesavam, e Ty Lee já havia voltado a dormir, então Azula simplesmente rendeu-se ao sono, sentindo, quase que fisicamente, como as palavras despejadas em uma folha de papel qualquer pareciam ter tirado um enorme peso dos seus ombros.

E adormeceu.

 

 

 

 

 


Notas Finais


Se vocês estão se perguntando se o próximo vai demorar quase 3 anos pra sair também.... provavelmente não! A fic nunca entrou oficialmente em hiato, mas agora já pode ser considerada fora dele!

Enfim, comentários são sempre apreciados, e eu espero que tenham gostado <3 até a próxima.


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