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História Dependence (Em revisão) - With Jin, Without Jin


Escrita por: kaisooisreal

Notas do Autor


Eae cambada? Saudades? :v eu sei que sim.
Se assustaram quando viram a note? Acharam que eu tava morta? Num to não. <3 vou continuar aqui por um tempo ainda.
Então, eu não tenho muitas explicações além de que: estava com um bloqueio filho da puta E, to no meio das montanhas numas vilas de hippies que fazem encontros para contatar extraterrestres, cantam pela paz na praça central no fim de tarde e têm pirâmides de quartzo pra meditar no quintal de casa, então já dá pra notar que eu mal consigo energia elétrica, imagine Wi-Fi.

Eu terminei esse cap faz três dias, mas não tinha internet pra postar. Estou usando o Wi-Fi do posto de gasolina. Psé.

BVom, não vou mais me demorar aqui. Leiam, e nos vemos nas notas finais '3'

PS.: maior cap da fic. Acho que ainda vou quebrar esse recorde mais vezes.

Capítulo 21 - With Jin, Without Jin


Enquanto tomava banho, cheguei à conclusão de que estava completamente fodido.

Digo, a água batia com força em minha cabeça, e eu deixei que minha mente devaneasse um pouco (como se já não fizesse isso com frequência o suficiente), e me peguei lembrando de como era a minha vida antes daquela fatídica terça feira, quando meus ataques voltaram, quando eu senti meu coração “de pedra” (palavras de JiMin da vida toda) pela primeira vez fazendo algo mais que bombear sangue...quando conheci Jin.

Eu sei que já o conhecia, mas aquilo foi como se eu o estivesse vendo pela primeira vez...me perguntei se no momento já havia o achado tão lindo. Minha cabeça dizia que sim.

As lembranças depois disso passaram como um turbilhão, e elas, ao mesmo tempo que estavam tão presentes, pareciam estar distantes, como se eu estivesse perdido nessa confusão de emoções há anos, não semanas. Como se minha mente apenas se importasse com o agora.

Porque da sensação da boca dele na minha e de seu corpo em meus braços eu lembrava com a clareza de um diamante, óbvio.

Só me fodo nessa vida.

Desliguei o chuveiro, sentindo uma vontade absurda de gritar. Ou de abraçar Jin, serviria também.

Sequei meu corpo e meus cabelos, que definitivamente estavam grandes demais. Me apoiei na pia com um suspiro pesado, e mirei o espelho frio, apertando os olhos para meu próprio reflexo.

- Desde quando você é tão molenga, Rap Monster? – Soltei um risinho nasal, e me virei para abrir a porta do banheiro e ir dormir de uma vez.

Travei, porém, pensando melhor, e alcancei a camiseta que havia levado para ali dentro mais cedo. Havia me perguntando várias vezes se devia usá-la ou não. Eu odiava dormir de camiseta, mas essa noite era um caso especial.

Desistindo num suspiro, vesti a peça que com certeza evitaria um belo susto do garoto em meu quarto e abri a porta de uma vez por todas.

Levantei olhar para a minha cama, e soltei um risinho baixo e soprado pela cena que encontrei.

TaeHyung havia entrado em meu quarto mais cedo, logo depois de Jin tomar banho, com a cara mais “caí da mudança” possível. Jin, como sempre com toda a paciência que eu parecia não ter, abraçou o garoto e se sentou em minha cama com ele, ouvindo-o enquanto o mesmo choramingava sobre ter sido “mau com HoSeok”.

Agora, os dois se encontravam mais ou menos na mesma situação em que eu os havia deixado ao entrar no banheiro, bufando por essa glicose anal excessiva de meu casal de amiguinhos. Qual era a dificuldade de ficarem bem um com o outro e pararem de infernizar a minha vida?

Jin abraçava Tae de forma solta, seus braços pendiam flácidos em volta do mais novo agora que o sono o dominara. TaeHyung estava com a cabeça jogada num ângulo bem estranho por provavelmente ter adormecido nos braços de Jin, e estremeci só de pensar em suas reclamações de dor no dia seguinte.

Me perguntei como eles haviam conseguido dormir assim. Eles estavam parcialmente deitados, parcialmente sentados; em outras palavras, estavam jogados de qualquer jeito em cima da minha cama.

Sorri ao me aproximar e ver suas expressões adormecidas, e me empenhei em deixar aqueles dois mais confortáveis.

Depois de, com um pouco de esforço, conseguir deitar os dois de uma forma mais normal, grunhi baixinho ao lembrar que não tinha lugar para dormir. Todas as camas da casa estavam ocupadas, e eu não iria dormir com aqueles dois – em especial com Tae, que, como já mencionei, se mexe mais que o inferno quando dorme.

Em outro momento de minha vida (para ser mais exato: antes de Jin se enfiar de cabeça na minha vida), eu teria empurrado sem dó os ocupantes de minha cama e deixado eles dormirem no chão, mas não era nenhuma novidade que Kim SeokJin havia mudado algumas coisinhas em mim, e eu nunca o empurraria de cama alguma.

Talvez Tae, mas... Bufei só de pensar no drama que TaeHyung faria ao acordar no chão, e me conformei com meu destino dolorido.

Peguei um dos travesseiros de minha cama (o que estava com Tae) e o joguei no chão, em cima do tapete grande que ficava ao lado da cama. Suspirei e me sentei, deitando no chão logo em seguida.

Mirei o teto por alguns minutos, sentindo cansaço, mas de forma alguma, sono. Olhei para a janela quase acima de mim, que deixava a luz fraca do luar quase inexistente entrar no quarto.

Conduzi o olhar para o teto de novo e apertei os olhos ao tentar imaginar imagens na limpidez branca. Essa era uma atividade comum para as noites de insônia, buscar algo onde parece não haver nada. Me dá uma agradável sensação de que nem tudo é como vemos, e o mundo pode ser melhor do que essa merda que vivemos todos os dias.

Inconscientemente, meus olhos se desprenderam do teto frio e tombaram sobre a figura que estava ao meu lado, na cama acima de mim. Eu não conseguia ver seu rosto, devido à altura, mas percebia seu corpo subir e levantar de forma calma pela respiração.

Sorri, notando o quanto meus pensamentos pessimistas haviam diminuído desde que o conhecera. Talvez fosse apenas por muita coisa estar acontecendo e eu não tenha parado tempo o suficiente para pensar na desgraça do mundo e da gente, mas eu sentia que não era isso.

Suspirei com um sorriso fraco nos lábios, e ri internamente de mim mesmo pela quantidade de suspiros e sorrisos aquele garoto me rendia mesmo dormindo.

Os únicos barulhos no quarto eram nossas respirações e as freqüentes mexidas de Tae no colchão. Eu não me surpreenderia se o colchão amanhecesse sem roupa de cama. Não mesmo.

Não sei por quanto tempo fiquei devaneando no chão, desistindo de buscar uma posição suficientemente confortável após alguns minutos depois de deitar, e me mantendo correndo o olhar do teto à parede, à cama em que Jin dormia e então ao teto novamente.

 Estava na metade do caminho entre a consciência e o sono quando ouvi um bufo irritado vir de cima da cama, e senti mais que ouvi um corpo se levantando. Não abri os olhos, atento ao som dos movimentos, que haviam cessado por um instante.

Não vou negar que me assustei quando senti a pessoa (que nesse ponto da vida eu já imaginava ser Jin) descer da cama e colocar um travesseiro ao lado do meu, se deitando no chão logo em seguida.

Ele bufou de novo, e eu ouvi um grunhido sobre “maldito TaeHyung” ou algo assim. Não evitei rir baixinho, e abri os olhos, virando o rosto para mirá-lo.

- Algum problema, docinho? – O apelido foi uma brincadeira, mas eu vi as bochechas de Jin corarem na luz fraca.

Ele apenas me mirou, ainda meio surpreso, por alguns segundos, abrindo e fechando a boca, como se buscasse o que dizer. Sua falta de jeito era fofa, e, junta de sua cara de sono, parecia a melhor coisa que eu poderia querer no momento.

- Tae se mexe demais. – Disse, cerrando a mandíbula, decisivo, após aquele momento de desconcentração. – Se eu não tivesse saído da cama, ele mesmo teria me jogado de lá.

- Tem razão sobre isso. – Disse, rindo baixinho.

Ele sorriu quando concordei com ele, e eu mirei-o sem nada a dizer. Não conseguia explicar bem o que sentia quando o mirava assim. Era como se todo o restante de minha mente se apagasse e apenas aquele rosto importasse. Meus pensamentos eram uma bagunça enevoada, e aquele rosto estava ali, firme e sólido, como uma âncora.

Ele apenas correspondeu ao meu olhar de forma serena, e curvou a boca quase imperceptivelmente num sorriso quando eu levei a mão à sua franja, que caia sobre sua testa. Eu tinha uma espécie de aflição com aquilo, gostava da franja dele assim, mas ela estava sempre ali, no limite de sua testa, quase tapando seus olhos.

 Talvez fosse isso; eu queria aqueles olhos sempre bonitos e à vista. Sempre me mirando daquele jeito que me fazia arrepiar. Sempre me dando um motivo para me sentir bem.

Eu podia culpar o sono depois, ou simplesmente falar que eu não respondia sobre meus atos quando SeokJin estava incluído (o que não deixava de ser uma verdade), mas, quando eu aproximei o rosto para cortar a distancia dolorosa entre nós dois, eu queria fazer isso, queria com todas as minhas forças, ter ele junto a mim mais e mais vezes, mais e mais perto.

Primeiro foi um roçar de lábios, com a costumeira hesitação ardente de ambas partes. Eu puxei seu rosto para perto, suspirando pesadamente ao pressionar mais sua boca carnuda contra a minha.

Jin abriu levemente a boca antes mesmo que eu pedisse passagem para aprofundar o ósculo, e eu movi lentamente a língua para dentro de sua boca. Acariciei sua semelhante com a minha língua e ele retribuiu ao toque, levando a mão ao meu ombro ao mesmo tempo que retribuía ao beijo calmo.

Aquele beijo tinha algo de diferente dos outros que havíamos trocado; em todas as ocasiões anteriores, ou algo havia acontecido ou um diálogo havia se feito presente antes de nos enlaçarmos – como uma espécie de permissão para fazê-lo. Mas naquele momento, apenas estar olhando-o tão de perto sem poder tocar-lo me parecera um desperdício de tudo o que era bom na vida.

Aquele beijo não tinha propósito ou desculpa, além do fato que estávamos próximos um do outro, e aproveitamos isso.

Passei meus dedos lentamente pela linha de sua mandíbula, chegando ao seu queixo e o puxando um pouco para mais perto. Jin segurou meu ombro com um pouco mais de força, e ofegou abafado quando suguei sua língua de forma leve.

Eu sentia que precisava respirar, mas não queria fazê-lo; respirar seria equivalente a me soltar de Jin, e isso eu não queria. Movi minha boca de encontro à dele da mesma forma calma, sem movimentos bruscos ou respiração ofegante; apenas apreciávamos a proximidade sem pressa para aprofundá-la ou apressá-la.

Ele ofegou como um suspiro mais uma vez, e eu mordi seu lábio inferior levemente, puxando-o de forma lenta antes de descolar nossas bocas.

Eu abri os olhos, e encontrei os dele ainda fechados com leveza. Ele tinha um sorriso sobrevoando o rosto, como se esperasse para sorri-lo de uma vez.

- Você não acha que está fazendo isso com freqüência demais ultimamente? – Perguntou, abrindo os olhos ao concluir a fala. Mirei seu olhar travesso e aéreo. Ele parecia estar tão sonolento que eu não me surpreenderia se não lembrasse disso no dia seguinte.

- Não posso fazer nada. É uma vontade absurda demais pra estar tão longe. – Soltei, sorrindo de canto e ele soltou um risinho fraco, fechando os olhos.

- Fique perto então. – Murmurou, deitando a cabeça em meu travesseiro e aconchegando-a em meu pescoço. Abracei seu corpo de forma que meu braço direito ficasse como um travesseiro para ele.

Não sei quanto tempo depois dele eu dormi, mas afundei num sono tão profundo, que eu sentia como se nunca tivesse conhecido a insônia.

 

 

 

Acho que algum dia eu aprenderia que não é seguro dormir abraçando com SeokJin numa casa lotada de crianças que não conhecem a palavra “privacidade”, mas não foi nessa vez.

Veja bem, quando eu acordei, soube imediatamente que algo estava errado.

A primeira coisa que notei foi o quanto minhas costas doíam, e que meus braço estava dormente. Franzi o nariz ainda de olhos fechados, tentando entender por que doía tanto, e como eu chegara àquela situação. Me movi minimamente, parando o que fazia ao sentir algo limitando meus movimentos.

A segunda coisa que notei foi que o que limitava meus movimentos era Kim SeokJin. Eu senti seu cheiro suave antes de abrir os olhos em frestas com dificuldade, incomodado pela luz em cima de mim.

A terceira coisa que notei foi a risadinha acima de mim, e antes de tirar os olhos semicerrados e perdidos de cima de Seok, que estava quase acordando em meu peito, já estava xingando Park JiMin por não conseguir aquietar essa bunda gigante dele.

Elevei o rosto amassado de sono, ranzinza e dolorido para cima com solenidade, ouvindo mais um risinho ao capturar o rosto de JiMin acima de mim.

- Bom dia hyung. – O filho da puta parecia bem humorado, otimista, saudável e radiante, tudo o que eu não estava no momento. Eu só queria me enfiar numa caverna e dormir pela eternidade num lugar mais macio que o chão do meu quarto.

Grunhi, ainda tentando abrir meus olhos direito. Analisei o baixinho acima de mim e em seguida a figura ruiva em cima de minha cama.

- Não olhe pra mim, ele me acordou também. – TaeHyung levantou as mãos. – Eu não chamei ele aqui.

Mirei Tae com os olhos semicerrados. A realidade era que eu ainda estava inicializando meus programas básicos. Ou seja: não lembrava como fazia pra falar ou para abrir os olhos direito. Estava remexendo meu cérebro atrás dos neurotransmissores que fariam minha boca mandar aqueles dois irem pra puta que pariu e me deixar dormir quando senti todo o meu esforço ir por água baixa ao ouvir o murmúrio baixinho vindo do garoto que jazia sobre meu peito.

E quando eu digo por água abaixo eu quero dizer que tudo o que meu cérebro já havia conseguido processar (meu nome, minhas costas doendo, eu morar no planeta Terra) ficou em branco. Nem sei como que eu abaixei a cabeça para olhar para ele. Não fui eu que comandei aquela ação.

Observei sem reação enquanto ele movia a cabeça lentamente e a elevava para me mirar. Piscou os olhos escuros e sonolentos, a boca carnuda semi aberta. Segurei um ofego, e JiMin, acompanhado de TaeHyung, soltaram risadinhas.

- ...O quê...? – Ele conseguiu balbuciar baixinho, com as pálpebras pesadas e um bico sonolento. Me mirou por mais um segundo, e então arregalou os olhos, parecendo entender a resposta à sua pergunta semi-feita.

Ele afastou-se de meu rosto com um impulso dos braços em meu peito. Engraçado, acho que já passamos por isso. Mas dessa vez ele não se atrapalhou ou caiu, apenas me mirou meio assustado sem nada dizer.

Vou admitir que aquela reação me chateou um pouquinho. Quer dizer, não havíamos feito nada de mais. Mas eu entendi o motivo de sua confusão, e eu sinceramente estava começando a sentir o nervoso de ter os olhares daquelas pestes em cima, entendendo tudo errado mais uma vez.

Me sentei no chão em que estivera deitado com uma careta e um grunhido, sentindo minhas costas reclamarem de dor. Jin levantou comigo (não como se ele tivesse escolha, pois ainda usava meu corpo como apoio), e manteve o olhar baixo, parecendo procurar qual luar daquele piso seria mais apto a se fazer um buraco pra enfiar a cabeça.

Mirei os dois que observavam tudo aquilo divertidos, e gesticulei com a boca: “GET OUT”.

Os dois me olharam como se eu fosse retardado. Eu não mereço isso.

- O que você disse? – Tae perguntou. Ele havia se sentado na beira da minha cama, o lençol todo enrolado em seu corpo. Ele que ia arrumar aquela merda de cama.

- Hyung, eu tenho cara de SeokJin? – JiMin perguntou, me olhando com uma ponta de mágoa e de descrença. – Eu não entendo essas suas comunicações alienígenas. – Assim que o falou, se virou, subitamente animada, para Tae. – TaeTae entende, né?

O mais novo ali fez uma careta, parecendo ofendido.

- Por que eu entenderia?

- Ah, você sabe... – JiMin encolheu os ombros. – Você é o alien aqui e...

- Não, JiMin, eu não entendo as conversinhas deles. – O ruivo cruzou os braços, como uma criança fazendo birra. Ou um Tae fazendo birra, é a mesma coisa. – E eu não sou um alien.

Eu franzi o cenho, junto de JiMin, que olhou para mim por saber que eu também havia me confundido com aquela alegação.

- Mas...você sempre gostou desse apelido. – O Park falou, cautelosamente.

- Não gosto mais. – Tae virou o rosto, birrento. JiMin olhou pra mim de novo, e eu dei de ombros de leve. Vai entender, é Kim TaeHyung.

- Tá...enfim, hyung, o que você disse? – JiMin ignorou o draminha de Tae, e eu vi, com o canto do olho, o garoto olhá-lo indignado por isso.

- “Get out”. – Respondi, sem expressão, olhando para JiMin, que apenas piorou sua careta confusa.

- É o quê? – Perguntou. – Pode falar a minha língua, por favor? – Colocou a mão na cintura, sendo apoiado por Tae, que cansou de sua birra e acenava energeticamente com a cabeça.

- Saiam daqui. – Eu no mínimo me surpreendi quando a tradução não saiu de minha boca. Eu, JiMin e Tae olhamos ao mesmo tempo para o garoto encolhido ao meu lado, que completou, ainda com a cabeça baixa: – É a tradução.

Eu observei o garoto encolher ainda mais a cabeça entre os ombros após falar de forma tímida, e não pude evitar soltar um risinho silencioso. Olhei para as duas pestes, que ainda miravam Jin com confusão, e indiquei a porta com o queixo, sorrindo de canto.

Tae abriu a boca, desistindo do que quer que fosse falar no meio do caminho, e apenas armou o bico e se deixou ser puxado por JiMin pelo braço para fora do quarto.

- Eu sei que você tirou foto, JiMin! – Gritei antes que o Park fechasse a porta. – Vai apagar isso.

- Me obrigue. – Ele me mostrou a língua, e bateu a porta.

Soprei o riso, balançando a cabeça em negativa. Depois eu daria um jeito naquilo. Precisava fazer uma limpa na galeria do celular de JiMin antes que ele saísse panfletando a minha vida por aí. Ou coisa pior.

- Ei. – Sussurrei quando soube que estávamos mesmo sozinhos. Jin se encolheu, reagindo a meu chamado. Sorri, passando a mão por seus cabelos. – Eles já foram.

Jin encolheu os ombros ainda mais, logo elevando um olhar tímido, que logo foi baixado de novo. Ele estava a não mais que dois centímetros de mim, com as mãos sobre os pés cruzados em lótus. Seus ombros estavam abaixados até o limite, e ele não voltou a me olhar quando disse:

- Eu sei.

Franzi o cenho com sua fala. Não era possível...vergonha de mim? Afinal, qual era o problema daquele garoto? Em um momento me provocava sem um pingo de vergonha, e então recolhia a cabeça pra dentro do casco sem sequer conseguir olhar em meus olhos pelo embaraço?

Que fofo.

Definitivamente fodido. Idiota.

Foda-se.

Sorri pequeno, aproveitando o meu momento de “foda-se” e me abaixando, deitando de novo no piso duro e apoiando a cabeça no colo de Seok. Ele arregalou os olhos, e eu apertei os meus num sorriso.

- Desde quando tem vergonha de mim? – Perguntei, suave. Se soasse agressivo ou acusatório demais, sabe-se lá onde ele ia enfiar a cabeça.

Ele não me respondeu, apenas me mirou com a boca levemente aberta, como se ainda não acreditasse que eu estava deitado em seu colo daquele jeito. Pois é, o mundo dá voltas, não?

Soprei um sorriso de canto, e ele piscou os olhos escuros. Seus cílios compridos acariciando suas bochechas macias e alvas. Peguei sua mão que estava ao lado de minha cabeça e a conduzi até meus cabelos.

- Estou com sono... – Falei, baixinho. Jin, sem que se fizesse necessário um pedido mais direto, começou a acariciar meus fios descoloridos. Fechei os olhos, sentindo minhas costas reclamarem por terem sido jogadas contra o chão outra vez, mas eu não estava prestando muita atenção nisso.

Naquele momento, a única coisa digna de minha atenção, consciente e inconsciente, era o garoto dono das mãos que me acalentavam. E eu faria questão de tê-lo perto o suficiente para isso o tempo todo.

- Desculpa... – Ele se manifestou após alguns minutos em que eu devaneava com a cabeça em seu colo e ele acariciava meu cabelo com gentileza.

Abri os olhos, mirando-o de baixo.

- Pelo quê?

- Ahn, você sabe, eu não quero te evitar mas eu...desculpa, eu só fiquei com um pouco de vergonha. – Ouvi o que ele proferiu de forma inconstante, nervosa e pouco compreensível, e então franzi o cenho. Viu o que eu quero dizer com “se desculpar sem a menor necessidade”?

- Jin. – Chamei, fazendo-o voltar a me olhar, já que deixara de fazê-lo enquanto falava. – Qual o seu problema, sinceramente? Eu já disse que não precisa se desculpar por esse tipo de coisa. – Falei de forma séria, mas sorrindo ao terminar a fala.

Ele me mirou sem reação por um momento, e então deu um sorriso de canto sem graça. Tombou a cabeça levemente para a direita ao fazê-lo, e seu rosto um pouquinho torto com o qual eu estava acostumado mais que o normal sorriu de forma singela.

Foi minha vez de observá-lo com a boca levemente aberta, e Jin notou assim que desfez o sorriso. Arregalou um pouquinho os olhos, e se manteve me mirando.

Eu me via encarando aqueles orbes escuros e tentando entender cada canto de suas profundezas. A mistura de emoções sempre presente na imensidão castanho escura fazia disso um missão impossível.

Passei de seus olhos para suas bochechas, e então para sua boca. Já mencionei o quanto essa boca é bonita?

Sorri de canto, elevando um pouco uma mão e chamando-o para se aproximar com os dedos. Não faria mal aproveitar o raríssimo momento de paz um pouquinho, e, já devem ter percebido, meu lado racional e auto-crítico estava pouquíssimo presente nos últimos dias.

Jin não escondeu sua surpresa e embaraço pelo meu chamado, e recuou um pouco a cabeça que estava inclinada levemente para me mirar bem. Torci a boca num apelo, e ele engoliu em seco quase imperceptivelmente.

Chamei-o de novo, e ele, olhando para todos os lugares que não fossem meus olhos, começou, lenta e hesitantemente, a atender meu pedido. Estiquei os lábios num sorriso leve enquanto ele parecia lutar contra a própria vergonha. A verdade era que eu não estava realmente contando que ele fizesse aquilo (talvez um pouquinho. Pelo menos era o que eu queria), e sua vergonha era agradável e cômica de se ver.

Sabe, eu acho que quando for maior de idade, vou me isolar no Tibete igual àquele monges e meditar por trinta anos, porque, puta que pariu, as pessoas nessa casa não sabem mesmo o que é privacidade?

Tudo aconteceu muito rápido, mas eu sei que quando TaeHyung abriu a porta de uma vez, adentrando animado para o quarto, eu, num reflexo pelo susto, levantei a cabeça, resultando que acabei encontrando sim a boca de SeokJin, mas com a minha testa.

Ele levou imediatamente as mãos ao rosto e a cabeça para trás, gemendo baixinho de dor. Eu levantei de uma vez, me sentando no chão, preocupado.

- Hã...eu interrompi algo? Querem que eu volte depois ou... – Tae se manifestou, os olhos meio arregalados por também ter se assustado, recuando um pouco para fora do quarto.

- Claro que você interrompeu, idiota. – Não havia notado que JiMin também estava ali. Pragas. – Você está bem, hyung? – O Park adentrou no quarto, se dirigindo a Seok.

Jin retirou uma das mãos do rosto para indicar que o Park não precisava avançar, pois estava bem. Seus olhos ainda estavam fechados, e a mão esquerda ainda estava sobre sua boca.

Ele abriu os olhos levemente, e me viu o encarando-o preocupado. Ofereceu-me um sorriso tranqüilizador meio sem jeito, e eu me aliviei um pouco. Mesmo que não confiasse muito nos “estou bem” de Jin.

O garoto retirou a mão de cima de seu rosto, sorrindo mais uma vez. Ele parecia meio tonto. Eu arregalei levemente os olhos, olhando para o canto de seu lábio inferior, que se tornava escarlate.

- Jin... – Apontei de forma fraca para sua boca, e ele, emitindo um “hm?” singelo, passou a língua pelo sangramento. Notando o sabor ferroso do rubro, sugou a parte lastimada do lábio para dentro de sua boca, o olhar distraído de sempre.

- Hyung, para com isso.  O Mon está babando. – A voz aguda de JiMin meio que rompeu meu torpor, e eu o olhei com cara feia.

Dizer que babei seria um exagero, mas vou admitir que não me orgulho dos segundos que perdi olhando meio abobalhado para o gesto que o garoto fazia tão inocentemente.

Jin demorou alguns segundos para entender a brincadeirinha de JiMin, e me olhou com os olhinhos levemente arregalados, ainda segurando o lábio machucado dentro da boca.

- Hyung, porque você não ajuda a estancar o sangue? – Juro que mordi a língua para não soltar um palavrão quando a gracinha de Tae soou no quarto. Se Jin estava um pouco envergonhado antes, agora estava procurando o famoso buraco pra enfiar a cabeça.

Olhei reprovador para TaeHyung, que soltou uma risadinha de elfo. Eu queria pegar aqueles abanos que ele chama de orelha e arrastar no asfalto. Por que essas pestes só dificultam tudo? Tudo bem que Seok fica adorável com vergonha, e é engraçado, mas porra, assim o menino não ia mais olhar na minha cara, e isso eu não queria de forma alguma.

Jin levantou sem falar nada e se encaminhou ao banheiro, com passos leves. Eu não gostei daquela distância, e me repreendi mentalmente por estar tão estranho. Porra, são cinco metros.

 Observei a porta se fechar num clique, e olhei para as duas crianças ali.

- Eu não tinha mandado vocês embora? – Perguntei, olhando-os sem emoção.

- Tecnicamente, quem mandou a gente embora foi o Jin hyung. Você só ficou resmungando coisas incompreensíveis. – Tae disse, sorrindo largo. Já disse o quanto esse sorriso assusta? Como pode tanta boca em tão pouco rosto?

- E a gente não pretendia voltar, hyung. – Olhei sem crer nas palavras de JiMin, que encolheu os ombros. – Mas Tae se empolgou e acabou vindo te contar...eu tentei impedir, por isso vim junto.

- Isso não fez sentido, você sabe. – Tae olhou-o, e JiMin deu de ombros, descartando a observação engraçadinha.

- Contar o quê? – Perguntei, absorvendo o importante da fala de JiMin.

Tae abriu a boca para responder com animação, sendo impedido antes de sequer soltar uma palavra pela mão de JiMin.

- Idiota. Ela disse que não era pra contar pra ele. – Ela? Ai não. Ninguém merece.

Tae deu um tapão na mão de JiMin, que recolheu a mesma com uma expressão indignada pela agressão. O mais novo o mirou num bico, abrindo de novo a boca para falar, mas dessa ver desistindo por si mesmo.

- Ah, que saco. – Cruzou os braços, ainda com o bico armado, e olhou para a parede, chateado. – Deixa eu contar, JiMinnie... – Foi um segundo para ele desfazer a pose de birra e se apoiar em JiMin, falando manhoso.

- Não é pra mim que você tem que pedir isso, TaeTae. – JiMin deu um peteleco na testa de TaeHyung, que inflou as bochechas, bufando vencido enquanto ainda se apoiava no baixinho.

- Dá só pra me dizer que porras a minha mãe está armando de uma vez? – Interrompi o que logo se tornaria uma briguinha de moças muito engraçada e irritante de se assistir, e os dois me olharam com as bocas abertas.

- Como você...? – JiMin não terminou a fala, deixando a pergunta subentendida.

Dei de ombros.

- Dedução. – JiMin fez uma feição contrariada, abrindo a boca para resmungar algo, mas Tae o interrompeu, com tom óbvio:

- JiMin, o Mon tem QI de cem e não sei quantos. Isso é fácil para ele. – O garoto falou como se eu estivesse resolvendo uma questão absurda de química ou algo assim. Se fazendo de entendido de forma que parecesse meio cômico. Ele sequer sabia o que significava QI?

Logo depois de falar, Tae me olhou com os olhinhos animados, desfazendo a pose um pouquinho mais séria que tinha armado. Abri a boca para falar algo que me esqueci no momento que ouvi a porta do banheiro se abrindo e olhei para lá.

A franja de Jin estava molhada e ele já não tinha cara de sono. Saiu do banheiro com calma, alheio aos nossos olhares sobre si, fechando a porta antes de olhar para nós e então se encolher um pouquinho ao notar que era o centro das atenções.

Sorri um pouco para ele, que devolveu o sorriso de forma tímida. Ele se aproximou de nós três, cumprimentando com a cabeça.

- Bom... – Tentei quebrar um pouco o silencio de forma que este não fosse quebrado pelas frangas interiores de TaeHyung e JiMin, e me interrompi quando a barriga de Jin roncou. Olhei-o, e soltei uma risada, sendo acompanhado pelos outros dois, que riram baixinho. Jin se encolheu, olhando para o chão. – Acho que podemos ir comer agora, certo?

Jin me encarou com relutância, e então acenou de forma tímida. Eu sorri, seguindo os dois mais novos, que já se dirigia para fora do quarto.

Jin segurou minha camiseta, e eu me virei para ele, que me olhou com aqueles olhos profundos.

- Depois...podemos jogar o jogo do carinha bigodudo de macacão vermelho?

 

 

 

Depois de tomar café da manhã – meu irmão e KyungSoo hyung haviam saído para sabe-se lá onde, Hope não estava ali, não sabia o motivo – com JungKook e um Suga mais pra lá que pra cá (que eu não sabia por que merdas ainda estava na minha casa sendo que ontem havíamos ido a Lux, e ele nunca amanhecia com a gente depois dessas noites), fizemos como Jin havia pedido e nos dedicamos ao vídeo game por quase toda a tarde. Paramos quando o sol estava quase se pondo, que foi quando meu irmão voltou para casa.

O problema foi: ele não voltou sozinho. E eu não estou falando de KyungSoo.

Eu sei, eu não devia considerá-la um problema, mas porra, era da minha mãe que estávamos falando.

 Eu já estava naquele ponto da vida na frente da tela em que a dor de cabeça veio, sumiu, voltou, vazou de novo e agora tinha voltado com a maior força do mundo, me fazendo ficar num estado meio vegetativo jogado no sofá.

Jin estava ao meu lado, e o modo que meu braço estava jogado no encosto do sofá fazia possível que eu o abraçasse pelos ombros, de tão perto que estava. Fosse possível, porque, diferentemente de mim, eu nunca vira o garoto mais energético que naquele momento. Ele lutava com o joystick e soltava barulhinhos estranhos quando se livrava dos perigos do jogo.

Eu, mais que qualquer um, estava achando bastante cômica sua performance com pulos e solavancos enquanto jogava, e posso dizer que assisti-lo era a única coisa que me mantivera acordado até o momento.

No exato momento em que Jin havia ganhado mais uma fase e se jogara rindo para trás, tombando a cabeça em meu ombro com um suspiro após entregar o controle para Suga (que recém acordara), que eu ouvi a porta da frente batendo, e vozes entrando na casa, incluindo a feminina e levemente rouca que eu ouvi minha vida toda.

Assim que minha mãe surgiu na sala, saindo do corredor de entrada, TaeHyung largou o joystick e saiu correndo até ela. Minha mãe retribuiu o abraço da coisa que havia grudado em seu pescoço, mas – como estava desde que pusera os pés ali – não desgrudou os olhos de mim e Jin.

Seok havia arregalado levemente os olhos ao ver que ela estava ali, e se afastou, se sentando mais para a frente do sofá, abraçando as pernas, que estavam em cima do sofá.

Minha mãe esticou os lábios finos num sorriso sem dentes, malicioso e analítico na medida, me fazendo cerrar os dentes imperceptivelmente dentro da boca. Odiava quando ela me olhava assim. Parecia estar observando todo o resultado satisfatório de um plano que havia montado com os mais rigorosos detalhes, como se eu fosse um peãozinho em seu tabuleiro da vida, ou algo assim.

 JongIn e KyungSoo chegaram por trás dela alguns segundos depois, enquanto Tae ainda estava falando qualquer besteira sobre ter sentido falta dela. Meu irmão, que carregava uma das malas de minha mãe (a outra estava com ela), encontrou meu olhar e encolheu os ombros num meio sorriso cúmplice, no seu costumeiro gesto de “me desculpe, sempre me enfiam nessas tramas super mirabolantes que você fica de fora. Não é minha culpa”.

Voltei o olhar para minha mãe, que se livrara do carrapato que grudara em seu pescoço, e ainda olhava para Seok com um sorrisinho satisfeito no rosto. Eu não sabia quanto desses dias anteriores ela sabia, mas, mesmo que não soubesse nada, provavelmente estava tirando suas próprias conclusões malucas naquele momento.

O que me deixava nervoso é que talvez essas conclusões estivessem bem próximas da realidade.

- Olá garotos. – Por fim cumprimentou de forma geral todos os presentes na sala. – Fizeram coisinhas enquanto eu estava fora?

Eu fiz uma careta com sua pergunta, que foi terminada olhando diretamente para os meus olhos. JiMin soltou uma risadinha, e YoonGi tinha o começo de um sorriso debochado no canto da boca.

 - Esses dois fizeram suas coisinhas sim. – Tae assegurou, com uma pose quase orgulhosa. Como se ele tivesse ocasionado tudo aquilo ou algo assim. SeokJin se encolheu ainda mais, olhando para as próprias mãos.

- Sério? – Minha mãe pareceu surpresa. Apesar de não tanto. – Viu? Eu não disse que o ar do campo ia ajudar vocês a fazer a coisa certa?

- Nós não fomos pro campo, e não, você não disse isso. – Resmunguei, sendo ignorado com sucesso pela minha mãe, que provavelmente ia tagarelar até cansar depois daquilo.

- Uou. Eu realmente achei que ia ter que me intrometer pra essa merda avançar.

- Bom, nós tivemos que nos intrometer um pouquinho. – Tae ainda mantinha a pose de “artista orgulhoso da obra”, como o queixinho levantado e tudo.

- Intrometer pra atrapalhar eles né, TaeHyung? – YoonGi comentou, parecendo achar graça. Como se ele não fosse um dos intrometidos.

- Verdade. Você e o JiMin só foderam com todos os climas até agora. – JungKook se manifestou, simples e direto.

- Kook! – JiMin protestou, e o namorado apenas deu de ombros, emitindo um “o quê?” em tom óbvio. – Mas eu consegui a evidências que a ajumma pediu. – Cruzou os braços emburrado, logo olhando para minha mãe de forma esperançosa, como se esperasse que ela o elogiasse ou algo assim.

Bom, pelo menos agora eu sabia quem havia sido o investidor da carreira paparazzi de JiMin.

- Não brinca! Conseguiu mesmo? – O rosto de minha mãe se iluminou, animando-se como se não esperasse ouvir aquilo. – E, JiMinnie querido, faz dezessete anos que eu te digo para parar de me chamar de...? – Deixou o fim da frase no ar, e JiMin encolheu os ombros, olhando para o chão.

- Ajumma.

- E você me chamou de...?

- Ajumma. – Eu estava prendendo o riso que queria soltar na cara do baixinho apenas porque não queria que minha mãe desse por minha presença de novo. Se possível, queria que ela me ignorasse pelo resto da noite, seria menos embaraçoso. – E eu tenho dezesseis anos...

- Tanto faz. – Minha mãe dispensou num aceno. – Dezesseis, dezessete, vocês continuam sendo apenas uns bebês malcriados que insistem em me tratar como uma velha.

- Omma, eu não te trato como velha, né? – Tae levantou a mão, agindo daquele jeito infantil (mais que o normal) que sempre adotava com minha mãe.

Ela sorriu pequeno e bagunçou os cabelos laranjas desbotados de Tae.

- Claro que não, bebê. – Ok, eu não sei como ainda não tinha vomitado. Aqueles dois seriamente agiam como se TaeHyung fosse um bebê de dois anos.

Se bem que sua idade mental estava por ali mesmo.

- Bom, mas voltando: Yah! Park JiMin! Eu não falei pra me mandar tudo o que conseguisse? – Minha mãe tomou a voz de novo, brigando com o anão de jardim que eu teria que trocar uma ideia depois. Quanto de comida minha mãe ofereceu pra ele topar essa merda?

- Mas eu mandei!

- Ah, sério? – Minha mãe fez um bico confuso, e então soltou uma risada. – Ah é, tinha esquecido. Eu perdi o celular no aeroporto. – Tanto eu quanto Suga olhamos para ela com uma cara de “sério isso?” enquanto a mesma ainda ria, se desculpando com JiMin por ter gritado com ele sem motivo.

- Olha Mon, pelo menos ela não pode brigar com você por ter quebrado o seu. – YoonGi fez o favor de fazer a atenção de minha mãe voltar para mim, e eu segurei um palavrão quando os olhos grandes (diferentes dos meus) se viraram para mim.

- Você quebrou mais uma porra de telefone? – Ela não aparentava estar alterada, mas seu tom duro e cortante, junto do palavrão, que ela só soltava se estava muito zoeira ou zangada, me fazia saber que ela não estava tão calma.

- Só rachou a tela. – Falei. – Ainda dá pra usar.

- Ah, sério? – Ela desfez a expressão opressora, fazendo um projeto de bico pensativo. – Pode ficar com ele então. Eu estou com dois celulares novinhos aqui. Ia dar um pra você, mas já que você pode ficar com o seu, vou dar ele pro Jinnie. – Completou, com um sorriso travesso, olhando para o garoto à minha frente.

Jin arregalou os olhos ao notar que as atenções haviam se voltado para ele, e demorou alguns instantes para entender o que estava acontecendo.

- Não-

- Não venha me dizer que não precisa. Você não tem telefone, precisa de um, certo Joon? – Olhou para mim com um sorriso doce, que só a conhecendo bem daria para saber que seu significada estava mais para “concorde comigo ou eu te deserdo” que para algo doce.

- Não, o NamJoon quebrou o dele... – Jin tentou falar, notando que havia falado muito rápida e muito decididamente, logo voltando ao modo tartaruga assustada. - ...ele deveria ficar.

Minha mãe observou minuciosamente o garoto, logo abrindo um sorrisinho.

- Joon pode ficar o com o dele. E tenho certeza de que ele não vai importar em ter seu número. – Ela sorriu para mim, travessa, e eu me xinguei internamente por saber que ela estava certa: daria tudo para que conseguisse ter uma segurança a mais de onde Jin estava. Não que estivesse em meus planos ficar longe demasiado dele, mas sabia que não podia grudar no garoto daquela forma.

Ou podia? Essa era a minha vontade.

Que horror, eu estou me tornando um TaeHyung, grudento e possessivo.

Os minutos seguintes se passaram com minha mãe empurrando a posse do aparelho para Jin e o mesmo recusando. Eu estava ficando meio cansado disso. Sentia meu corpo – tenso desde a chegada de minha mãe – implorar por alívio. Respirei fundo, relaxando meus músculos que eu não havia planejado manter tensos, mas mantivera, e interrompi o falatório:

- Mãe, chega. – Olhei para ela, que me mirou. Agradeci por não ter me ignorado, como seria do seu feitio. – Ele não quer, só deixa quieto. – Senti Jin me lançando um olhar agradecido, mas não mirei-o. – Você acabou de chegar, deve estar cansada. Por que não toma um banho ou algo assim?

Ela me mirou por um segundo, como se não me conhecesse.

- Isso... – Ela apontou para mim, mas olhando para YoonGi. – Ele acabou de me mandar embora?

Meu amigo riu baixinho, concordando.

- Acho que sim.

Minha mãe virou-se para mim, franzindo o cenho.

- Se você acha que vai se livrar de mim tão fácil, está muito enganado. Você não tem moral pra me mandar embora, Kim NamJoon. Eu sou sua mãe! – Falou, num tom mais de ‘zanga-birra’ que ‘zanga-séria’, enquanto se encaminhava para a escada. Ela continuou gritando até no segundo andar, e eu ouvi ligeiramente o som da porta bater quando sua voz cessou.

Ela provavelmente ainda estava reclamando enquanto entrava no chuveiro, mas estava longe demais para que se ouvisse.

Todos na sala ou estavam segurando o riso ou estavam com confusão na expressão, como se não tivessem entendido direito o que se passara ali. Jin pertencia ao segundo grupo, mas eu ainda não estava olhando para ele. Não de forma direta, ao menos.

- Bom... – JongIn era do grupo dos risonhos, e soltou um suspiro meio risada. – Eu vou levar isso lá pra cima. – Indicou a mala que carregava e a outra, deixada por minha mãe quando ela subira.

Meu irmão deixou a sala, que ficou num silêncio desnorteado, que foi aos poucos se desfazendo.TaeHyung voltou a sentar  onde estivera antes e Suga despausou o jogo. JiMin se levantou, alegando estar com fome. KyungSoo o seguiu, sem dizer o que faria na cozinha (mas ele tinha algumas sacolas nas mãos, que eu não havia notado antes). JungKook estava dormindo, desde quando eu não sabia ao certo.

Enquanto observava tudo isso, senti os olhos ávidos de Jin me mirando, analisando o que eu fazia. Vou admitir que estava me esforçando um pouco mais do que me orgulharia de dizer para não devolver seu olhar.

Me mantive mirando a tela da televisão, onde meu olhar se perdia para além da imagem da partida de meus amigos. Via Jin levar e desviar o olhar de cima de mim constantemente com o canto da visão periférica, mas me mantive sem olhá-lo de volta por mais vários minutos.

Meu olhar ainda estava fixado na TV quando meu irmão desceu, perguntando por KyungSoo, e se dirigindo para a cozinha em seguida; quando JiMin chegou gritando para Tae lhe dar o joystick pois queria jogar, e levou uma bronca de JungKook por ter gritado e o acordado.

Tudo isso me passou despercebido. Meu olhar desfocado apenas via uma confusão de cores e uma imagem – muito mais nítida do que deveria, por estar no centro de minha verdadeira atenção – de Kim SeokJin se movendo poucos milímetros de vez em quando, buscando algo para focar atenção além de mim, que não lhe devolvia o olhar.

Isso, além de ser difícil para mim, era estranho: eu não me lembrava, nesses últimos tempos, de alguma vez ter ficado tanto tempo sem olhá-lo. Estava fazendo aquilo mais como um teste para mim mesmo, tentando tirar aquele garoto do centro de tudo o que fazia.

As imagens torcidas e desfocadas da TV já estavam me dando vertigem quando senti dedos leves em minha coxa, chamando timidamente a minha atenção.

Fechei os olhos, vendo pontinhos coloridos em minhas pálpebras escuras. Respirei fundo. E o olhei.

Jin parou no meio da ação de puxar sua mão de volta, me mirando em parte em susto, em parte em um fascínio singelo. Mirei-o sem expressão, enquanto ele baixava a mão, esquecida, e me devolvia o olhar cheio de confusão suave e...uma ponta de satisfação?

Deixei os cantos de minha boca se curvarem para cima, suavizando a expressão. Ainda estava com sono, assim que meus olhos pesavam. Mandei para a puta que pariu aquele impulso teimoso que me fizera ignorá-lo antes. Não tinha sentido não olhar para aquele rosto. Era até um desperdício.

Jin abriu a boca para falar, quando a atenção de todos ali foi chamada pelo barulho de passos acelerados na escada. Uhum, minha mãe desce a escada correndo e pulando, tipo o TaeHyung. Não sei ao certo quem aprendeu de quem.

- Ooookay! – Ela gritou, aterrissando logo depois de saltar de três degraus antes do chão.

Seus cabelos (que ela não fizera questão de secar), espalharam água para todos os lados. A camiseta cortada e o short jeans na mesma situação cobriam seu corpo magro. Tinha quase certeza de que aquela camiseta fora minha aos doze anos, e ela havia feitos suas artes na mesma.

Minha mãe tinha o costume de cortar mangas e golas de camisetas e barras de calças velhas, além de pintar roupas “sem graça” segundo ela, e todo tipo de coisa que você puder fazer com a sua roupa em casa. Basicamente: minha mãe se vestia como uma universitária de humanas liberal (e com certas influencias hippies).

- Quem está com calor? – Ela perguntou, gritando como aquelas professoras de educação física que sempre se animam muito mais que o necessário, e os alunos olham para ela com cara de tédio. – Hoje temos direito a um sorvete grátis na sorveteria Meng!

Ok, agora os alunos se interessaram.

- A Jia tá sabendo disso? – Perguntei, entre o divertido e o desconfiado. Jia nunca me dava sorvete fiado, nem quando eu implorava.

- Foi ela que me ofereceu. – Minha mãe informou, com as mãos na cintura, triunfante. – Eu encontrei com ela quando fomos ao super mercado agora a pouco. Ela ficou feliz em me ver e disse que me daria sorvete grátis se eu fosse na sorveteria mais tarde.

- Te daria. – Falei. – Ela sabe que você tá levando o bonde?

- Joon. – Minha mãe se virou para mim, parecendo não entender por que eu perguntava tanto. – Eu sempre estou com vocês. Se me convidarem para uma festa, estão automaticamente convidando seis- oito. – Corrigiu-se, olhando carinhosamente para JungKook e Jin.

JungKook estava apertando as bochechas de JiMin de forma meio agressiva (motivo desconhecido por mim) quando ela disse, e o garoto arregalou os olhos e soltou o namorado no mesmo segundo, ocasionando uma risada de minha mãe e de quase todos ali.

- Bom, hoje tem dez. – JiMin falou, acariciando as próprias bochechas de forma chorosa, quando KyungSoo e JongIn entraram na sala, respectivamente. KyungSoo negou com a cabeça.

- Nós dois não vamos. – Disse, recebendo uma indagação surpresa de JongIn. – Não vamos. – O baixinho repetiu, mirando JongIn com o canto do olho, ameaçadoramente. – Temos que resolver umas coisinhas aqui, JongIn.

- Gente, é sorvete. – Tae se manifestou, balançando para frente e para trás com as pernas cruzadas em lótus. – Vocês transam depois. – Suga engasgou com o ar de cada dia pela fala do mais novo, que recebeu um olhar repreensivo de KyungSoo.

- Nós somos adultos, TaeHyung. – O garoto-coruja falou, com os olhos gigantes cerrados de forma ameaçadora. Já disse que KyungSoo hyung dá um pouco de medo? – Não pensamos só em sexo como vocês. Temos outros problemas.

- Sim, mas sexo é bom. – Minha mãe interferiu, pensativa. – Eu estou numa seca de anos, mas não vou dizer que não gostaria de uma boa transa de vez em quando. – Se tem uma coisa que eu gosto (ou odeio, dependendo do momento) em minha mãe é essa coisa de falar o quer que venha em sua cabeça. Sem fingimentos, sem desculpas, a verdade.

KyungSoo ficou sem reação enquanto Suga explodiu em risadas, desencadeando as de JiMin e uma muito bem disfarçada de JongIn.

- E você é só cinco anos mais velho que eu, hyung. – Tae acrescentou, cruzando os braços, chateado por ter levado bronca.

- Isso é um montão pros seus dezesseis aninhos. – Suga alfinetou.

- Você só tem dezessete, hyung! – O rosto de Tae estava meio vermelho, o que, acompanhado de seu bico gigante formava sua cara de criança que não ganhou doce.

- Sou muito mais velho que você na mentalidade. – YoonGi deu de ombros.

- Sim Tae. – Falei, com um sorriso de lado. – O Suga tem idade mental de cinqüenta anos, você não sabia? – TaeHyung olhou para mim com um sorriso, e YoonGi apenas me olhou com tédio.

- Bom, então seremos oito mesmo. – JiMin falou, excluindo KyungSoo e JongIn de suas contas mentais.

- Oito não. – JungKook se manifestou. Ele estivera olhando para o chão como um zumbi nos últimos minutos, assim que eu não achei que estivesse prestando atenção no que dizíamos. – HoSeok hyung não está aqui.

Assim que ele o disse, eu meio que me toquei. Como não sentira a falta de Hobi? Tentei lembrar qual fora a ultima vez que o vira, e apenas me vinha ele se jogando no sofá da sala na noite anterior enquanto eu e Jin seguimos lá para cima com KyungSoo e JongIn hyungs.

Olhei para Tae, que adotara a idéia de Jeon de “vamos-olhar-para-o-chão-como-se-ele-fosse-mais-interessante-que-a-conversa”. Franzi o cenho, Tae havia dormido comigo e com Jin, então eu concluí que ele e Hope não estavam cem por cento bem ainda, mas quando Hope havia ido embora?

 Mirei YoonGi, que deu de ombros para a minha pergunta silenciosa. Minha mãe pareceu ter se dado conta da falta de HoSeok apenas naquele momento, como eu, e, como eu, teve como primeira reação mirar TaeHyung.

Ela observou o garoto por um momento, que mirava o chão de forma melancólica e pensativa, falhamente tentando passar tranqüilidade e descaso, e suspirou, entendendo o provável drama. Acontecia sempre, e, como quase sempre, eu tinha certeza de que minha mãe ia evitar que aquilo abalasse o ânimo do grupo, e de quebra fazer aqueles dois se acertarem.

- Não vou para lugar nenhum sem todos os meus garotos. – Ela disse, voltando à sua pose decidida e animada. – Ginnie, seu celular. – Estendeu a mão para o branquelo, autoritariamente.

Suga fez uma careta.

- Por que o meu?

- Porque TaeTae não tem crédito. – Minha mãe falou, em tom óbvio, olhando para o garoto em seguida. – E ele não vai atender se eu ligar.

- Você mudou de número, não mudou? – YoonGi não movera um dedo para pegar o aparelho requerido, e parecia decidido a não fazê-lo.

- Mudei, mas eu não tenho crédito mesmo. Me passa esse telefone logo. – Moveu os dedos, pedindo impacientemente o aparelho.

Meu amigo bufou, levantando a bunda parcialmente do sofá e pegando o celular, entregando-o à minha mãe com má vontade.

 Minha mãe sorriu pequeno, digitando no telefone, e fazendo uma careta em seguida.

- Você mudou a sua senha? – Ela torceu o nariz para YoonGi, que olhou para a parede oposta, e não para ela. – Por quê?

- Porque você descobriu ela. – Meu amigo elevou uma sobrancelha, o tom óbvio de tédio transbordando de suas palavras. – É suposto que você tenha uma senha para as outras pessoas não poderem mexer no seu telefone como bem entendem.

- Por isso que você sempre consegue descobrir a minha senha nas coisas e sai usando? – Falei, irônico. Suga deu de ombros, e respondeu sem sequer me olhar.

- Você é muito óbvio, Mon. – Me olhou. – É só digitar “RapMon” em tudo o que seja seu e tenha uma senha. Vai funcionar. – Completou, num risinho. Os outros presentes na sala soltaram uma risadinha e concordaram. Jin me olhou, cúmplice, mas divertido.

- Shiu! – Minha mãe balançou a mão como se espantasse um mosquito quando pediu que calássemos a boca. A outra mão tinha o celular de Suga na orelha. Manteve a mão levantada enquanto o telefone provavelmente chamava, esperando ser atendido. – Alô? Honnie? – Perguntou depois de alguns segundos.

Nunca vou cansar de rir do apelido de Hope. Quando o conhecemos e ele recebeu esse apelido de minha mãe, eu e Suga o provocávamos chamando-o de “honey”, “docinho” e “meu potinho de mel”, além de soltarmos uns “Winnie Pooh, vem cá!” de vez em quando. Claro que a graça acabou depois de um tempo, mas vez ou outra ainda o alfinetávamos com apelidinhos assim.

Minha mãe sorriu com algo que Hobi provavelmente falara no outro lado da linha.

- Sim, eu chego e puf, cadê você, moleque? – Fora uma bronca, mas ela estava brincalhona. Já disse que minha mãe as vezes é mais amiga dos meus amigos que eu? – Não quero saber. – Eu apostaria que ela interrompera o começo da ladainha de desculpas (e culpas, para TaeHyung) dele. – Você vai vir sim. Estamos indo para a sorveteria Meng, se você não aparecer lá em quinze minutos, eu vou te buscar pelas orelhas.

Ela não deixou Hope responder nada, e encerrou a chamada, acenando uma vez com a cabeça, decidida.

- Toma. – Jogou o telefone para Suga, que o aparou com o cenho meio surpreendido.

Sorri pequeno com o jeito dela, e olhei para Jin, que ainda estava na ponta do sofá, como se tivesse medo e voltar para muito perto de mim. O garoto tinha o olhar preocupado em cima de Tae, que ainda mirava o chão.

Olhei para o ruivo, me perguntando qual seria a ceninha da vez na sorveteria. Eu realmente não sabia o quanto eles haviam se acertado na noite anterior, então não tinha idéia de quais conseqüências teriam juntar os dois no mesmo espaço agora.

Olhei para Jin de novo, que dessa vez devolveu o olhar, e me mirou preocupado. Todo o seu apego com Tae ainda me incomodava um pouco, mas já não da mesma forma que antes: eu me preocupava com Tae na mesma intensidade, de forma fraterna, e apenas isso.

Sorri fraco, encolhendo um pouco os ombros, cúmplice. Não havia nada que pudéssemos fazer, pelo menos não no momento.

Jin fez uma expressão meio chateada, mas apenas se levantou comigo quando minha mãe conduziu a tropa para fora da casa. A mão tocando na minha à medida que andávamos me enviava ondas de calor que eu ainda não entendi direito como ele ocasiona.

 

 

 

- Deu 300 won, Mon. – Jia – que provavelmente retocara o rosa dos cabelos naquele mesmo dia, considerando o cheiro de tinta que havia em volta dela – esticou a mão para mim após eu pegar meu sorvete com ela.

- Você não cobrou de nenhum deles! – Retruquei, apontando para todos os meus amigos e minha mãe (que quase desfilava por aí com a sua porção de três bolas caprichada que Jia havia lhe dado). Por que todo mundo baba tanto ovo na minha mãe? Às vezes eu sinto que as pessoas são minhas amigas por causa da minha mãe. Me sinto usado.

- Você não tem privilégios comigo. – A rosada deu de ombros.

- Porra Jia. – Resmunguei. – Somos amigos desde a segunda série. Isso não vale nada pra você?

- Hm... – Ela jogou o lábio inferior um pouco para a frente, como sempre fazia ao fingir pensar. – Não. – Concluiu, e eu bufei. – Mas se você me arranjar uma mina boa eu posso pensar no seu caso. – Ótimo, adoro negociar com lésbicas pervertidas.

- Ok. – Falei. – Quando voltarem as aulas eu te arranjo alguém pra pegar. – Não fazia idéia de como faria isso, mas no momento só queria comer logo o sorvete que derretia em minha mão.

- Pegar não. – Ela levantou o dedo, exibindo a unha comprida pintada de um azul claro chamativo. – Eu to afim de namoro, papo sério. Você sabe qual é o meu tipo, né? – Revirei os olhos, acenando com a cabeça. Apenas uma coisa sobre o tipo de Jia: esse tipo de garota não existe. Ao menos, eu não conheço nenhuma. – Ótimo. Então eu faço por metade do preço pra você. – Sorriu cheia de dentes, estendendo a mão de novo.

- Tomar no cu. Eu não vou te pagar. Já vou fazer os trampos pra você. – Levei meu sorvete à boca, sem me importar com a careta que ela fez por não ter conseguido o trocado.

- Olha como fala comigo, Monster. – Disse. – Posso fazer você se arrepender.

- Ah é? – Falei, debochado, desfrutando do sabor do chocolate em minha boca. – E como você faria isso, exatamente?

- Bem simples. – Ela sorriu, travessa. – Eu posso contar seus podres pro seu amorzinho aí. – Apontou com o queixo para Jin, que, na falta de morango nos sabores do dia, encarava com um olhar indeciso e perdido a vitrine dos doces gelados.

Olhei-a incrédulo, e ela deu de ombros com o mesmo sorriso sacana. Não era como se eu tivesse segredos horríveis ou algo assim, mas não sabia se gostaria que tudo o que Jia tinha para contar chegasse aos ouvidos de Jin.

- Não tem o que fazer não? – Perguntei, torcendo o nariz.

- Tenho sim. – Ela sorriu. Seu sorriso era famoso por ser adorável e radiante (apesar de sua personalidade), mas eu só vi a ameaça implícita nele no momento. – Estragar sua tarde. Ô SeokJin! – Chamou, e eu prendi a respiração pelo susto.

Jin levantou a cabeça, olhando para Jia de forma meio perdida, como se não achasse que ela estava falando com ele.

Ele tombou a cabeça para o lado, num pedido silenciosos para que ela falasse, e foi o que ela fez:

Abriu a boca, puxando o ar enquanto olhava para mim com o canto dos olhos, como se me provocasse antes de falar. E então sorriu, gentil, para Jin.

- Já decidiu o sabor? Você não precisa pagar, então pode pegar o quanto quiser. – Falou, e, enquanto os olhos de Jin brilhavam e suas bochechas ganhavam um pouco de cor por ter parecido tão animado, minha amiga riu da minha cara.

Só consigo amigo cuzão, é impressionante.

Depois de alguns poucos minutos, Jin parecia se controlar para não chorar diante sua indecisão na vitrine. Eu segurei uma risada baixa, e me abaixei um pouco, ficando como ele, inclinado sobre o vidro.

- Quer que eu escolha pra você? – Perguntei, adivinhando o drama. Jin me olhou, parecendo meio surpreso, e agradecido. Acenou com a cabeça de forma tímida, quase imperceptível, e eu sorri.

- São muitos. E todos são bons. Eu não sei qual pegar. – Franziu as sobrancelhas, chateado, e eu sorri de novo.

- Pega todos ué. – Falei, e ele me olhou, assustado. – Jia disse que podia pegar o quanto quisesse, não? Aí você aproveita e me vinga por ter que pagar por um mero sorvete de chocolate.

Jin desfez a expressão surpresa por uma mais irônica, me olhando como se dissesse “sério isso?”, rindo baixinho em seguida, enquanto balançava a cabeça em negativa.

- Mas não pagou, não? – Falou, e eu me perguntei quanto de minha conversa com Jia ele havia ouvido. Como se lesse meus pensamentos, ele sorriu, sacana. – Quais são os seus podres, Kim NamJoon?

Me permiti ficar sem reação por um momento, mas acabei por relaxar um pouco e sorrir junto com ele.

- Nada mais sério que algumas noites de bebedeira. – Falei, esperando que ele não ficasse imaginando muito o quanto aquilo incluía.

Jin encolheu os ombros, sorrindo sem jeito com os olhos fechados.

- Tudo bem então. – Minha boca se esticou num sorriso de novo sem a minha permissão, e eu me perguntei pela enésima vez por que meus sorrisos vinham tão fácil quando estava com ele. – Mas o que faremos sobre o sorvete? Eu não vou pegar todos. E – Apontou para a minha mão. – O seu sorvete meio que derreteu.

Soltei um palavrão ao notar minhas mãos completamente sujas do doce, e Jin soltou uma risada.

Acabei falando para Jia pegar quantas bolas de chocolate conseguisse colocar numa casquinha para Seok, o que ela fez rindo diante do olhar incrédulo de Jin.

- Como eu vou comer tudo isso? – Perguntou, segurando com dificuldade o pote em que Jia colocara cinco bolas de sorvete de chocolate com uma casquinha em cima. Pelo menos um pouco de bom senso ela tem, porque equilibrar uma casquinha de cinco andares não é pra qualquer um.

- Primeiro: você não vai ter o menos problema com isso. Faz tempo que não comemos nada e eu já te vi comer mais que isso. – Falei, ocasionando uma careta, mas não uma negação, de Jin. – E segundo porque você não vai comer sozinho. – Sorri, e ele me olhou desconfiado. – Eu perdi meu sorvete por sua culpa. Vai ter que dividir isso comigo.

Jin arregalou minimamente os olhos, mas no fim lá estávamos os dois com colheres dividindo o mesmo sorvete.

- Vocês estão tão casalzinho que nem conseguem mais comer de dois pratos diferentes? – YoonGi perguntou, nos olhando com um pouco de nojo. Jin corou, minha mãe sorriu, e eu torci o nariz para meu amigo.

- Jia não queria me deixar pegar sorvete. – Não era de todo mentira. – Então estou pegando do dele.

- Ah, não tem o menor problema. – Suga levantou os braços em rendição. – Mas por que vocês não pediram em uma casquinha mesmo? Ia ficar mais fácil de trocar saliva. 

JiMin riu alto, e JungKook soltou uma risadinha discreta, abraçado de lado pelo namorado que insistia em pedir para o mais novo lhe dar sorvete na boca.

- O casal Park-Jeon aqui não tem problemas e fazer essas coisas grudentas e nojentinhas de casais fofinhos de mangá shoujo. – YoonGi terminou, apontando para os dois, que olharam para ele com caretas, mas não pareceram se importar realmente.

Eu, por outro lado, me importava, e não sabia como reagir àquele tipo de brincadeira agora. Eu já não podia negar na cara dura, mas também não éramos um casal, éramos?

Jin havia encolhido um pouco mais a postura, como se tentasse passar despercebido, e comia o sorvete de forma tímida.

Senti um olhar sobre mim e vi minha mãe, que sorriu com um brilho sacana no olhar e voltou sua atenção para o telefone, onde estivera olhando fazia um tempo (roubando Wi-Fi da sorveteria pra jogar Amor Doce, aposto). Ao seu lado estava a última pessoa do mundo que eu esperaria estar tão quietinha e triste numa sorveteria: TaeHyung.

Ele brincava com o seu sorvete quase derretido com uma colher, revezando o olhar da mesa para a vitrine que mostrava a rua. Ele parecia tenso, como se esperasse que alguém surgisse pela porta. E de fato esperava, mas eu não sabia se ele ficaria feliz se isso de fato acontecesse.

Como que esperando a deixa, veio, correndo pela calçada a figura de HoSeok, afobado. Ele entrou no estabelecimento correndo, vindo em direção à mesa em que estávamos.

Minha mãe havia largado o telefone e observava o garoto chegar também. Suga parecia levemente impressionado, e Jin entre o surpreso e o tenso. JiMin e JungKook, que estavam de costas por onde Hope entrava, pararam tudo e o observaram também.

Diferente do que havia se passado em minha cabeça num primeiro momento, Hope aparentemente não fora ali pela ameaça de minha mãe.

E tampouco fora ali atrás dela.

- Me explica isso aqui, TaeHyung. – Parou, curto e grosso na frente do alaranjado, que perdia sua aparência melancólica aos poucos, reagindo às ações do namorado. Eu vira Jung HoSeok zangado pouquíssimas vezes, então demorei um pouco para entender que era isso o que sua expressão contorcida dizia.

Tae olhou para o telefone do garoto, que exibia uma foto. Uma foto de Tae e um garoto que eu já havia visto em algum lugar – provavelmente a escola, visto que eles estavam de uniforme –, os dois estavam sentados na sala de aula, rindo.

O garoto franziu o cenho para a foto, e em seguida subiu o olhar para o namorado, que ainda o encarava raivoso.

- Explicar o quê?

- Você não tinha cortado todos os laços com esse moleque? – Ok, aparentemente a criatura era um amiguinho colorido de Tae, mas e daí? Não haviam dezenas deles?

- Ele é da minha sala, HoSeok. – Tae tinha as expressões delicadas torcidas numa mágoa escondida. Parecia não entender onde o namorado queria chegar com tudo aquilo. Eu, sinceramente, não estava entendendo o que Hope estava querendo fazer. – Tivemos que fazer alguns trabalhos juntos.

- Ah, e você parecia muito triste por ter que fazer o trabalho com ele, não? – Hope disse, com ironia ácida.

- Afinal, qual o seu problema, HoSeok? – Tae pareceu se alterar pelo deboche do mais velho, e se levantou. Eles haviam aumentado o tom de voz, e isso chamara um pouco as atenções dos outros clientes.

- O meu problema?! – Hope não precisava ter gritado, mas o fez, indignadamente. – Me diga você, TaeHyung!

- Sabe o que eu acho? – Tae também levantou a voz, fechando os olhos, parecendo procurar paciência. Abriu a visão e encarou o namorado desafiadoramente. – Acho que você só está procurando motivos do além para me culpar! Diz de uma vez! O que você quer com tudo isso?! – Eu, como todos na mesa, creio, me assustei com o tom sério de Tae. Normalmente, mesmo em discussões, ele era infantil e conseguia êxito com birras. Vê-lo assim, sério diante do surtinho de Hope, me assustou ao mesmo tempo em que me admirou.

- Ei, ei, garotos. Estamos num lugar público. – JiMin tentou se intrometer. A princípio eu achei que iriam ignorá-lo, mas HoSeok fechou os olhos, desviando do olhar pesado de Tae por um segundo e concordando.

- Vem, vamos lá pra fora conversar. – Chamou, andando sem olhar para trás. Tae hesitou, mas o seguiu, o rosto tenso e repleto de uma mágoa antecipada.

Observei-os sair dali com os rostos baixos, seguidos pelos olhares de quase todo o estabelecimento. Não notei que estava fazendo força com a mão, e apenas voltei à realidade quando Jin soltou uma pequena reclamação.

Olhei para ele, e em seguida para o seu colo, onde o pote de sorvete havia caído, virando todo o doce em suas pernas.

- E o monstro da destruição ataca novamente! – Suga disse com voz de tédio, batendo palmas debochadamente.

Olhei feio para meu amigo, mas ele tinha razão: eu sempre dava um jeito de fazer esse tipo de coisa. Embora conseguir derrubar um pote de sobremesa inteiro no colo de alguém fosse novo.

Jin era o único que não me olhava como se me repreendesse, e apenas olhava meio sem reação para o doce se derretendo em cima da calça jeans que usava. Por um pequeno instante eu esqueci do sorvete e fiquei apenas encarando suas coxas (não me orgulho disso), mas minha mãe fez questão de me tirar de meu transe.

- Filho, leve SeokJin até o banheiro, ele precisa limpar isso. – Não olhei para ela, mas podia jurar que ouvi o risinho entretido em sua voz.

Acenei com a cabeça, meio aturdido, meio pesaroso. Jin olhava para o sorvete como se se despedisse, e fiz a nota mental de compensar aquilo.

Quem sabe conseguisse fazer uns esquemas com a Jia pra quando tivesse sorvete de morango.

Levantei, chamando Seok, que apenas me seguiu com as mãos melecadas do chocolate que havia tentado evitar que escorresse.

- Tentem não se pegar no banheiro. – JiMin alertou antes que nos distanciássemos da mesa, sorrindo satisfeito ao receber uma careta minha e o encolher de ombros tímido de Jin. Realmente parecia que ele procurava um buraco pra se esconder nessas horas.

- Minnie. – Minha mãe chamou, forçando uma voz doce, ou seja: ela estava ameaçando-o. – Não estrague meus esquemas. – Falou, ríspida, logo virando para mim como se eu não tivesse ouvido. – Façam o que quiserem. Demorem o quanto quiserem, queridos. – Sorriu, angelical, e eu fingi ignorar aquilo.

Jin me seguiu até os banheiros ao lado do balcão de sorvetes. Eu sabia que as pessoas na mesa estavam nos observando, e me perguntava por que havia ficado tão nervoso com toda essa ceninha.

E o pior: eu sabia que não estava nervoso por causa da historinha com TaeHyung.

Digo, eu me preocupara, principalmente porque Hope, mesmo que ciumento e inseguro pela “popularidade” de Tae, nunca havia feito um show daqueles por algo tão pequeno. Eu sinceramente concordava com a fala de Tae: ele parecia estar buscando motivos para brigar, e isso sim me preocupava.

Mas no momento eu não estava com cabeça para o relacionamento conturbado de meus dois amiguinhos. Todos os meus sentidos pareciam estar focados em SeokJin.

Isso não estava sendo freqüente demais?

Ajudei o garoto a gastar cinqüenta mil e mais algumas toalhas de papel para limpar aquela meleca com a cabeça meio nas nuvens, até notar que aquilo não estava dando certo e tomar uma atitude que assustou tanto a SeokJin quanto a mim (quando parei e pensei no que fiz de forma tão natural).

- Vou molhar um pouco. – Falei após colocá-lo sentado na bancada de mármore das pias. Jin soltou meus ombros (que havia segurado num reflexo pelo susto de ser levantado do nada) e apenas me olhou, ainda surpreso.

- Ahn, eu acho que não... – Disse, deixando sua voz morrer enquanto eu molhava minha mão e passava em sua coxa direita. Senti o garoto estremecer quando a água fria ultrapassou o tecido, chegando à sua pele, e molhei mais um pouco.

Depois de molhar consideravelmente sua roupa (e a minha. Não me pergunte como), notei que talvez molhar não tivesse sido a melhor medida a se tomar.

- Eu tentei dizer. Não tinha como isso dar certo. – Jin falou, parecendo se importar bem pouco com o oceano que se fazia presente em suas coxas. Sorriu cúmplice, e eu fiz um muxoxo.

- Desculpe. – Baguncei os cabelos da nuca, num gesto nervoso.

- Tudo bem. – Ele deu de ombros. – Está quente mesmo. – Sorriu, mas eu torci o nariz.

- Quer que eu use essas? – Perguntei, recebendo um olhar confuso dele. – Você pode usar as minhas calças, que estão secas. – Os olhos de Jin se arregalaram assim que a compreensão chegou à sua expressão, e ele negou rapidamente, balançando a cabeça e as mãos. – Eu estou falando sério, é justo. Eu que sujei e molhei suas calças.

- Não precisa. – Jin disse, e eu o encarei. Ele abaixou a cabeça em reação ao meu olhar, falando com seus botões. – Sério, não precisa.

Achei aquela timidez bonitinha, mas apenas dei de ombros, deixando que ele fizesse o que quisesse.

- Você é que sabe. – Jin levantou a cabeça. – Vamos, então? – Perguntei, e ele acenou com a cabeça, fazendo menção de descer do mármore, mas parei seus movimentos com minhas mãos em sua cintura.

Ele me olhou como se fosse protestar, mas se calou ao me ver encarando-o. Me encarou sem expressão por um momento, e eu sorri, quebrando aquela comunicação silenciosa onde eu não sabia sequer o que estava querendo dizer. E muito menos sentindo.

Jin ocasiona isso em mim com bastante freqüência também.

- Eu te coloquei aí, eu te tiro daí. – Falei, apertando o sorriso, e segurando uma risadinha pela expressão meio indignada que Jin fez. Não faz isso que eu me arrependo de não ter seguido os esquemas da minha mãe.

 Levei Jin ao chão, perdendo mais alguns segundos numa troca de olhares como a anterior. Dessa vez ele estava mais perto, e senti receio de tirar minhas mãos de sua cintura. Aqueles momentos me deixavam tenso e ansioso, como se ambos estivéssemos esperando algo, mas nenhum tivesse a iniciativa, e então ficávamos na mesma.

Quando saímos do banheiro e voltamos à mesa, estranhei por não ver Tae e Hope em lugar algum (nem mesmo fora da loja), e senti o desapontamento de minha mãe como meu quando aleguei que não tinha rolado nada no banheiro.

Como todos haviam terminado, não tínhamos que esperar Tae (ou isso achávamos) e Jin estava ensopado (sim, fui zoado e repreendido por isso. Um montão), nos movemos para voltar para a minha casa.

- O Hope vazou um pouco depois de vocês irem no banheiro, e o Tae correu para o lado oposto. – JiMin informou quando perguntei pelos dois ao constar que eles realmente não estavam do lado de fora do estabelecimento.

Encarei-o sem acreditar na calma que ele havia falado aquilo. O JiMin (e a minha mãe) que eu conhecia teria ido atrás do dois no mesmo minuto. Por que eles agiam como se não ligassem?

Ao ouvir Jin a seguir, notei que esse estranhamento não era só meu.

- E onde ele foi? – Perguntou, incrédulo com a calma dos outros. Eu sinceramente deixaria Tae em paz por agora, mas Jin não parecia concordar.

- Quem sabe. – Suga deu de ombros. – Eles claramente brigaram mais ainda, então ele deve ter se escondido em algum lugar para chorar. – Aquilo pareceu ser a gota d’água para Jin, e parou subitamente de andar, ocasionando a parada dos outros posteriormente.

- Me dê o seu telefone. – Jin estendeu a mão para Suga, que franziu o cenho, com as mãos nos bolsos.

- Por quê?

- Eu tenho que achar o Tae. – Jin falou com a voz um pouco aguda, como se fosse óbvio. Meio que era.

- Tá, mas por que o meu?

- Porque eu não tenho telefone. NamJoon deve ter esquecido o dele. JiMin está sem bateria e JeongGuk e a nonna não têm crédito. – Jin falou rapidamente, e eu me perguntei se aquele garoto tinha uma bola de cristal após apalpar meus bolsos e contar que, realmente, havia esquecido o telefone (não que isso fosse incomum). – Precisa de mais motivos? – Perguntou, a mão ainda esticada para o mais baixo, levantando a sobrancelha como se desafiasse Suga a contrariá-lo.

YoonGi abriu a boca para contestar, mas acabou por bufar, tirando o aparelho do bolso, desbloqueando-o e entregando à Jin.

Já disse que adoro esse garoto? Nunca vi alguém calar a boca de Suga assim. Bom, talvez a minha mãe, mas ela era exceção pra tudo.

Jin buscou no telefone por um tempo, e então levou-o à orelha, esperando a chamada se completar.

Tae provavelmente atendeu nos primeiros toques, porque Jin não teve que esperar muito.

Falou com o garoto de forma séria, acenando com a cabeça enquanto Tae lhe respondia à pergunta “onde você está?”. Encerrou a chamada parecendo dividido entre estar aliviado ou mais preocupado, e devolveu o telefone a Suga.

- Sabe chegar no “parquinho”? – Jin perguntou diretamente para mim, que acenei com a cabeça. – Ótimo. Vem. – Pegou minha mão e me puxou, parecendo ansioso.

- Hã, Jin? – Chamei, ignorando os olhares dos outros enquanto nos distanciávamos deles.

- O que foi? – Perguntou, seco. Não grosseiro, apenas com a cabeça em outro lugar.

- Se você quer ir para o parquinho, é por ali. – Apontei para a direção contrária à que estávamos nos encaminhando, e Jin mudou o rumo com um bufo. Ri baixinho, me deixando puxar por ele.

Depois de mais ou menos uma quadra naquele ritmo, ele pareceu notar que estava me conduzindo enquanto eu deveria ser ao fazê-lo, e parou a caminhada, me olhando meio inseguro. A pose dura que adquirira naquele surto de ansiedade indo por água abaixo.

Sorri pequeno, usando a mão livre para bagunçar seus cabelos e tomei a frente, andando de forma mais calam agora. Jin me seguiu com a cabeça meio baixa, e eu senti uma pequena pontada decepcionada quando ele soltou a mão que segurara a minha de forma tão imperativa.

E então ele encaixou sua mão na minha de novo, entrelaçando nossos dedos da forma certa dessa vez, e eu tentei não deixar meu sorriso transparecer muito o quanto aquilo me deixara satisfeito.

Olhei para ele, que tinha a cabeça baixa, observando os próprios pés se moverem numa caminhada regular. Sorri de novo, e apertei fracamente sua mão.

Um pouco antes de chegarmos onde Tae nos mandara ir, cruzamos com duas senhoras na rua, e Jin, antes que nos vissem, soltou o aperto rapidamente.

Eu não sabia por que ele fizera aquilo, mas suspeitava que, novamente, havia sido por mim. Eu admirava-o por se preocupar, e era agradecido, mas, sinceramente? Não podia me sentir mais decepcionado que quando ele fazia aquele tipo de coisa.

Me decepcionava comigo mesmo por ter feito coisas assim parecerem necessárias.

Assim que chegamos à pequena praça que era nosso destino, varri o lugar com os olhos, passando a visão por cada um dos brinquedos, franzindo o cenho ao encontrar por fim a figura de Tae encolhido em cima do galho da árvore ao lado do escorregador.

Tanto lugar pra se enfurnar, por que tem que subir na árvore?

Jin o viu mais ou menos no mesmo momento que eu, mas, diferente de mim, que encarei aquela criança como se lhe perguntasse por que estava fazendo aquilo comigo, reagiu correndo até o ruivo o mais rápido possível.

 Segui-o com passos calmos, me postando ao seu lado enquanto ele pedia para Tae descer dali.

- Eu não consigo descer, hyung. – Tae choramingou, com a expressão se iluminando ao me ver ali. “Ótimo, o trouxa veio me resgatar” era o que estava escrito naquela cara bonitinha, eu via com clareza.

- Você subiu sozinho. Pode descer sozinho. – Falei, mesmo sem achar que discutir fosse adiantar. Não adiantara nos últimos dezesseis anos, por que adiantaria agora?

- Não consigo, hyung. – Tae soluçou, e eu vi seu rosto manchado por lágrimas secas e frescas. Parecia estar chorando à segundos atrás, e eu diria que aquilo fora o motivo do desespero de Jin.

Abri a boca para reclamar, mas calei a boca ao sentir a mão de Jin em meu pulso. Ele me encarou como se pedisse por favor que eu ajudasse Tae de uma vez.

Bufei, me dirigindo ao escorregador e subindo nele, passando para o galho com facilidade e observando enquanto Tae se pendurava com a agilidade de um macaco no galho em que estávamos e pulou para o chão.

Revirei os olhos, imitando a ação do garoto e voltando para a terra firme. Precisava de ajuda porra nenhuma. Não cansa de fazer cena não?

Tae abraçou Jin assim que o mesmo se aproximou, e grudou nele como um filhote de bicho preguiça enquanto o mais velho o conduzia até o banco ali perto, se sentando e se livrando com um pouco de dificuldade do aperto de Tae, que já tinha os olhos brilhantes em futuras lágrimas.

 - O que aconteceu? – Jin perguntou, cuidadosamente gentil, segurando o garoto mais novo enquanto o mesmo se apoiava um pouco nele ao sentar ao seu lado.

Me mantive de pé na frente dos dois, apenas notando que, apesar de todo o exagero e a manha usual de TaeHyung, ele estava claramente abatido. A mágoa transbordava de seus olhos em lágrimas secas.

- A-a gen-gente... – O lábio inferior de Tae tremia, e ele se encolheu como se sentisse frio, mesmo que estivesse fazendo uns trinta e cinco graus. – A gente vai dar um tempo. – Soprou de uma vez, baixinho, abaixando a cabeça no ombro de Seok.

Jin franziu o cenho em preocupação, e eu estalei a língua. Aquilo nunca havia acontecido. Eles brigavam muito sim, mas nunca passaram de ameaças de términos ou os famosos ‘tempos’. Aquilo parecia sério, e não fazia sentido. Eram HoSeok e TaeHyung, eles nunca eram sérios, em nada.

- Tem certeza? Não acho que Hope faria algo assim... – Comecei, tentando encaixar aquela situação na minha realidade rotineira.

- Não foi o Hope. – Tae me interrompeu, baixinho de novo. – Fui eu. – Ofeguei quase inaudivelmente. Ok, aquilo sim não se encaixava na minha realidade. Tae podia ter muita atitude e tudo o mais, mas não era segredo para ninguém que o mais inseguro naquele relacionamento era ele, e que ele nunca tomaria a frente para que aquele namoro arriscado e precário, cheio de medos e mágoas escondidas, desabasse de vez.

- Com- – Comecei a falar, mas Jin levantou a mão, me pedindo silêncio. Me calei.

 - Por agora, vamos voltar para casa. Quando você estiver mais calmo, conversamos os dois, ok? – Senti um leve reforço no “os dois”, me excluindo do papo com uma fina frieza. Aquilo me incomodou, mesmo que não significativamente. Tudo bem que eu não era a pessoa mais afável do mundo, e não teria a paciência de Seok com aquele assunto, mas mesmo assim.

Jin se levantou e ajudou Tae a fazê-lo, sempre gentil e cuidadoso. Os dois caminharam devagar por todo o caminho até a minha casa. Jin tinha a mão no ombro de Tae, como um cuidado extra, e o garoto apenas fungava de vez em quando, se deixando conduzir.

Eu? Posso não ser o ser mais egocêntrico do mundo, mas não estava gostando de ser deixado de lado daquele jeito. Uma parte de mim sabia que aquilo era criancice, que eu não devia me deixar levar por aquele ciumezinho nada a ver, mas, já devem ter percebido, eu não sou muito de escutar a parte racional de minha cabeça.

Quando chegamos à minha casa, me surpreendi por me dar com a sala vazia. Onde estava todo o exército de folgados sedentários que usavam a minha casa de hotel?

Se bem que hotel você vai de vez em quando, e aquele povo mais morava ali que outra coisa.

Mas ninguém se encontrava ali. Bom, ninguém se ignorássemos a carcaça jogada no sofá que era YoonGi dormindo. Mas aquilo já fazia parte da decoração.

Jin disse que Tae precisava de um banho, e me pediu para buscar algo que ele pudesse comer depois.

Com má vontade, deixei eles subirem, e me direcionei até a cozinha. Olhei a geladeira, encontrando-a bastante vazia de algo comestível (ao menos para mim). JiMin havia matado os últimos bolinhos de microondas na noite anterior, e eu não achava que Jin queria que eu pegasse um pacote de balas de goma e levasse lá para cima.

Estava decidindo se devia arriscar fazer algo por mim mesmo ou se subia para pedir ajuda a Jin quando o mesmo parou ruidosamente ao lado da porta da cozinha.

Mirei-o sem reação, estranhando a pressa. Ele adentrou a cozinha.

- Você não fez nada, né? – Perguntou, e eu apenas neguei com a cabeça. – Ótimo. Não faça nada. Esqueci que era com você que estava falando. Não pegue em nada da cozinha, ok? – Disse tudo isso sem me olhar, avançando nos armários e pegando a chaleira. Esquentou água e buscou saquinhos de chá, encontrando-os em seguida.

Me perguntei internamente (porque não estava afim de falar com Jin no momento. Aquela mudança de tratamento estava me irritando) se era mesmo uma boa tomar chá quente naquele clima, mas fui respondido num segundo quando ele colocou cubos de gelo no chá concentrado, enchendo de água fria e um pouco de açúcar. Pôs um pouco de limão e se dirigiu para fora da cozinha.

Me perguntei se ele sabia ou havia adivinhado, mas era exatamente aquilo que minha mãe preparava para quando alguém estava irritado ou triste no verão. Tae gostava particularmente daquele mimo.

Estalei a língua, mantendo a irritação que vinha me acompanhando desde o parquinho, e fui para a sala.

Peguei uma almofada e joguei com força em Suga, que acordou xingando.

- CÊ QUER MORRER SEU FILHO DA PUTA?! – O loiro tinha levantando num impulso, se mantendo sentado no sofá e me encarando assassino.

- Não xinga a minha mãe. – Cortei, mal humorado. YoonGi notou isso, e relaxou um pouco a postura. – Cadê a tropa?

- A mãe do JiMin meio que ameaçou ele se ele não voltasse pra casa com o genro. – Suga deu de ombros, passada a raiva inicial de ter sido acordado, seus olhos estavam pesados de sono como sempre. – A dona ta lá em cima. – Falou, sorrindo travesso ao completar sua fala: – ‘’E tu? Tá de cu amarrado por quê?

- Tô porra nenhuma. – Respondi, grosso. YoonGi soltou uma risadinha.

- Que foi? A princesa não tá te dando atenção? – Algum dia eu descubro como alguém tão “foda-se o mundo” consegue ser tão perceptivo. Me irritei de novo, dessa vez por estar sendo tão transparente.

- Não te interessa. – Comecei a me direcionar para a escada, com as mãos nos bolsos.

- Não se preocupa, Mon! – YoonGi disse, o riso divertido com a minha situação marcando sua voz. – Já já ele volta pra você. Só deixa ele cuidar do filhote primeiro.

Não me virei para continuar o papo, mas me perguntei como Suga podia estar acordado e atento a tudo com aquela pinta de “morri e não volto mais” que ele tinha quando chegamos à casa.

Subi até o meu quarto, encontrando este vazio, e a porta do banheiro aberta, sem ninguém também. Supus que a “conversa de dois” havia se tornado de três, e apenas deixei que eles ficassem no quarto de minha mãe.

Me joguei na cama, mirando o teto por um momento. Tentei dormir, mas não consegui nada além de ficar vários minutos rolando na cama sem conseguir pegar no sono. Por fim, peguei um mangá qualquer que Tae havia deixado ali em algum momento da vida e me pus a ler, prestando pouquíssima atenção à historia.

Não sei bem quanto tempo depois (eu estava lendo o mangá pela terceira vez, só que dessa vez estava realmente lendo), ouvi a porta de meu quarto abrir o pouco que estava encostada, e vi Jin entrar com relutância.

Desviei o olhar dele rapidamente, fingindo não ligar para sua presença e estar muito focado nos quadrinhos. Grande mentira. Toda atenção possível e impossível da minha pessoa estava focada nele.

 Jin parou por um momento na porta, parecendo tentar decidir se devia chamar a minha atenção ou não. Chame. Era o que rogava todo o meu ser. Droga, era suposto que eu estava irritado com ele, não?

Por fim, ele se aproximou devagarinho, se sentando na ponta de minha cama. Pousou a mão a poucos centímetros de minha perna, e se manteve me mirando por um momento.

Contei até dez, e baixei a revista, mirando-o com um tédio nada sincero.

Ele pareceu ter sido pego de surpresa com minha atenção subitamente focada em si, e abaixou um pouco o olhar, logo voltando a me mirar.

- Como Tae está? – Perguntei após alguns instantes de um silêncio meio tenso.

- Está dormindo. – Jin respondeu. – Ele dormiu logo depois de tomar o chá. – Pareceu pensar por um momento, e então completou: – Estava conversando com a sua mãe.

- E o que ela disse? – Perguntei, elevando a sobrancelha e me sentando na cama, ficando subitamente bem mais perto do que esperava dele. Ele ofegou pela proximidade súbita, e eu apenas o encarei.

Em vez de me responder, Jin abaixou a cabeça e se levantou do colchão, se aproximando de mim de pé e me surpreendendo ao abraçar minha cabeça contra seu peito. Fiquei sem reação por um momento. Teria que me acostumar com aqueles momentos em que Jin parecia esquecer a timidez e tomar a iniciativa, e eu não estava nem um pouco triste por isso.

- Disse que você provavelmente estava se sentindo meio sozinho. – Falou, baixinho. Minha cabeça estava enterrada em seu peito, e seus braços circundavam meu pescoço com uma firmeza gentil. Levantei o rosto, mirando-o de baixo, e ele sorriu amarelo. – Desculpe por ter te tratado meio mal.

Cerrei um pouco os olhos para ele, que pareceu mais sem graça ainda, e então sorri, colocando as mãos em volta de seu corpo.

- Já disse que tem que parar de se desculpar por tudo. – Falei, e Jin pareceu suspirar aliviado. Sorri de novo. – Mas dessa vez, aceito suas desculpas. – Mostrei a língua numa careta, e Jin riu baixinho. Enterrei o rosto em seu peito de novo. – Só não faça isso de novo.

Ouvi uma risadinha de novo, e a mão de Jin em meu cabelo.

- Ok. Eu prometo. – Sorri contra o tecido de sua camiseta. Não me deixe sozinho, porque eu nunca faria isso.

  Depois daquilo, ele se deitou ao meu lado na cama, e conversamos. Na verdade apenas falamos sobre besteiras, evitando assuntos sérios propositalmente, e muitas vezes só rindo sem motivo e olhando para o telhado branco já não parecia tão vazio de meu quarto.

Eu falei sobre meus sonhos, e ele falou sobre os seus, singelos, simples e humildes, dignos de alguém que depois de muito tempo finalmente havia se permitido sonhar.

 

De noite, enquanto Jin e Suga tentavam distrair Tae de seu drama pessoal com o videogame, minha mãe veio, toda marota, conversar comigo.

Eu estava tomando um copo de suco apoiado na porta da cozinha, sorrindo de vez em quando pela animação de Jin com o jogo. Ele realmente parecia outra pessoa quando relaxava assim.

Assim que a vi se aproximar, pressenti que não seria coisa boa. Ela estava sorridente demais.

 Mas, diferentemente do que eu pensara, ela não chegou fazendo um alarde absurdamente desnecessário ou tentando arrancar histórias de mim. Apenas se apoiou na parede ao meu lado e disse:

- Eu quero o Jinnie pra mim. – Minha primeira reação foi uma careta, bastante confusa e desconfiada para ela, que riu. – Calma. Só estou dizendo que esse garoto é muito fofo. – Virou pra mim com aquele olhar de maníaca que ela adquiria às vezes. – Ele estava todo preocupado sobre eu estar achando ele “indigno por ter se envolvido dessa forma com o meu filho”. Simplesmente adoro esse garoto. Ele é uma gracinha. – Olhava para Jin com um sorrisinho, e então se virou para mim, subitamente séria. – Não se atreva a trocar ele por outro, me ouviu? Eu quero ele sendo pai dos meus netos.

 Olhei-a com uma careta por um momento. Minha mãe é muito estranha.

Mas ignorando isso, estranhei a insegurança de Seok, afinal, minha mãe havia se mostrado a principal investidora desse “envolvimento” desde o inicio. Mas quem era eu pra entender a cabecinha complicada e agudamente auto-culpável de Kim SeokJin?

- Ele é tão educadinho e jeitoso. Eu quero um filho assim, Joonie. Como eu consigo? – Voltou a falar, me olhando pidona, e eu soltei uma risada curta pelo nariz.

- Engravida de novo.

Ela estalou a língua e me olhou, chateada.

- Sem graça. – Eu ri, e ela me acompanhou depois de um tempo.

Apesar de tudo, ela só queria meu bem, e pra mim, estava tudo bem.

 

 

 

O resto das férias passou voando.

JiMin e JungKook voltaram para a minha casa dois dias depois, mas foi pra passar a noite e dar um jeito de roubar Seok no dia seguinte. Digo roubar porque eles literalmente esperaram que eu dormisse pra arrastar o garoto para a casa de JiMin.

Acordei em questão de alguns minutos, porque eu tenho algum problema mesmo e, sem o meu apoio anti-sonhos, acordei mal humorado pouco depois. Quando minha mãe me viu perdido sem encontrar Jin por perto, deu um ataque de risadas de cinco minutos antes de me falar sobre a trama criminosa dos dois moleques.

Quando liguei para JiMin, a única coisa que recebi foram mais risadas (JungKook parecia vitorioso como se tivesse ganhado na loteria) e um “nossa vez, hyung” antes de desligarem na minha cara.

Jin voltou dois dias depois.

Não preciso dizer que meu humor não foi dos melhores nesse tempo, minha mãe fazia questão de dizer isso minuto sim, minuto não.

JiMin e JungKook apenas largaram Jin em casa e fugiram, por isso não tive em quem extravasar minha frustração. Frustração que não durou muito depois do sorriso culpado e abraço que recebi de Jin. Saímos juntos naquela tarde, como minha mãe exigiu até nos empurrar para fora de casa com um bolo de dinheiro e sem horário para voltar.

Não que tenhamos voltado depois das sete da noite, mas foi um passeio agradável. Jin parecia sinceramente animado quando eu falava sobre meu sonho de trabalhar com música, então aos poucos eu não tive mais problemas em falar sobre isso com ele.

Para minha alegria, ele também começou a se abrir aos poucos, não hesitando tanto quanto antes para falar sobre si mesmo. Evitamos falar sobre seu pai, apenas porque aquilo o deixava desconfortável, e nossas conversas não mereciam tornar-se isso.

Aos poucos, notei que Jin era mais que apenas um garoto solitário e esforçado. Ele parecia nutrir um grande afeto por sua mãe, que, mesmo que ele não tenha dito diretamente, provavelmente tinha uma saúde frágil. Trabalhava não apenas para ajudar a manter o pai, mas também por ela, que não podia fazê-lo. Estudava porque acreditava num futuro em que pudesse tirá-la da sombra do marido.

 Quando perguntei o que ele queria fazer no futuro, ele respondeu que apostaria na medicina. Eu não insisti, mas notei que o brilho em seus olhos enfraqueceu ao dizer aquilo.

 

JongIn e KyungSoo hyungs conseguiram ir para seu novo apartamento mais rápido que o previsto, então duas semanas antes do fim dás férias, se despediram e deixaram de freqüentar minha casa.

Eles passaram lá uma ou duas vezes de novo naquele mês, mas estavam ocupados arrumando sua nova vida mais no centro da cidade.

 

Tae estava mais manhoso que nunca, e não largava de Jin nunca. Eu, aos poucos, deixei de me importar com aquilo, ou até de notar quando ele estava lá e quando não. Apesar de tudo, ele não tinha a aura radiante que sempre carregava consigo, e parecia prestes a quebrar a qualquer momento. Ele tentava disfarçar, mas sempre que o deixávamos um pouco sozinho, ele se punha a chorar.

Sinceramente, eu estava ficando irritado. Hope não dera as caras depois daquele episódio, mesmo quando tentávamos falar com ele, não como um diplomata para o seu relacionamento, mas como amigo.

Suga, que surgia e sumia em intervalos irregulares, não falava sobre HoSeok, menos ainda perto de Tae (que parecia estar voltando a confiar em YoonGi aos poucos), mas eu apostaria que já tinha contatado o moreno. Querendo ou não, eles eram uma espécie de confidentes, e tinha certeza de que o ombro pra chorar de Hope era o de Suga (um ombro frio e impaciente, sem coração e o menor senso de sentimentalismo).

 

Faltando uma semana e meia para o fim das férias de julho, Jin foi roubado de novo, mas dessa vez por Tae, que parecia quase, quase, o mesmo de antes, sorrindo bastante e fazendo barulho.

Jin apenas se deixava arrastar pelo garoto sempre que o mesmo o fazia, então não me surpreendi quando Tae voltou para a própria casa, com a desculpa de que precisava de um banho de loja, e levou Jin com ele.

O que eu não esperava era que eu não poderia acompanhá-los, e fui jogado para ficar com Suga e JiMin em casa, sendo que o alien estranho havia abduzido JungKook também, e minha mãe tivera uma emergência no trabalho.

Esse dia (sim, o dia todo. Quanto se supõe que deva durar uma volta num shopping?) se resumiu com JiMin repetindo que estava com fome e que não minha casa não tinha nada pra ele saciar suas gordices até por fim eu me dar por vencido e arrastado o cadáver de ressaca de Suga (que sumira na noite anterior e voltara podre de bêbado de madrugada para a minha casa. E olha que ele não era fraco com álcool) até o supermercado mais próximo para comprar as besterinhas de JiMin.  

Depois de comer feito três condenados, JiMin pareceu lembrar que ele supostamente era saudável e ficou pegando no meu pé para ir até a academia perto de sua casa com ele. E eu? Depois de meia hora de vozinha fina absurdamente irritante de Park JiMin na minha orelha, cedi.

Fiquei olhando JiMin usar os aparelhos pesados e suar feito um porco enquanto ouvia música de boas. Ri dele algumas vezes, mas em noventa por cento do tempo, fiquei entediado e sentindo falta de Jin para conversar.

Eu estava sinceramente me tornando cada vez mais dependente da presença dele, e aquilo, sempre que me permitia pensar, me preocupava.

No fim do dia, quando eu já estava no aconchego do lar e do meu sofá (que tive que travar a Terceira Guerra Mundial com YoonGi para conseguir usar), as dondocas voltaram das compras.

Eu sinceramente não sabia o que pai de Tae ia dizer quando visse a quantidade de dinheiro que ele havia gastado, mas meio que esqueci isso quando eles chegaram.

Quando Tae apareceu com os cabelos loiros like a Barbie, eu sinceramente não me surpreendi, ele vinha reclamando sobre o ruivo desbotado fazia tempo.

Não, o meu problema foi quando, depois de um JungKook com os cabelos – surpreendentemente – ainda negros entrou na sala carregado de sacolas (que a julgar pela sua cara descontente, eram de Tae), a única pessoa que eu realmente queria ver se manteve escondido no corredor, aparentemente com vergonha de adentrar na sala.

Tae largou as sacolas e puxou Jin para dentro do cômodo. A primeira coisa que vi foi seu rosto assustado com a boca paralisada num protesto ao mais novo.

A segunda coisa que vi, foram seus cabelos.

Vermelhos.

Não era como o vermelho que Tae uma vez me convencera a usar, que mais parecia peruca de carnaval que qualquer outra coisa. Era como se eles apenas tivessem passado a tinta vermelha sobre seus fios castanhos, o que resultava numa cor discreta, mas forte.

Eu devo ter feito uma cara meio estranha enquanto encarava, porque JiMin e Suga começaram a rir da minha cara enquanto eu ainda observava o garoto, que me mirava meio inseguro.

- Ficou muito legal, hyung! – JiMin falou, animado, enquanto JungKook se aproximava dele e sentava em seu colo, com um sorrisinho nos lábios após ter se livrado das sacolas. – Não é, Mon? – Virou para mim, e todos me miraram.

Eu fiquei sem reação, não esperava ter que falar tão cedo, então não consegui fazê-lo rápido o suficiente.

Por fim, apenas sorri de canto e acenei com a cabeça. Tae sorriu grande, cheio de dentes, e abraçou Seok, animado.

- Eu disse que ele ia amar. – Falou, para um Jin que corou assim que todos riram baixinho da fala supostamente baixa de Tae.

 

Jin falava frequentemente com sua mãe, e mais ou menos uma semana antes das aulas começarem, ele teve que voltar para casa.

Assim que o deixei na estação, me arrependi no mesmo minuto de tê-lo deixado ir. Apesar de tudo, era para aquela casa que ele ia voltar, depois de quase um mês e, deuses, com o cabelo tingido e as roupas que Tae havia comprado para ele (que incluíam calças bastante apertadas e camisetas que combinavam bastante com o Jin que eu conhecia, mas certamente não com o que sua mãe estava acostumada).

Passei aquela semana me arrependendo de não ter tido apoiado mais minha mãe na campanha “aceita a porra do celular” e fazendo nada. Sério, eu não sentia vontade de fazer nada sem ele ali, então apenas deitava e contava as horas restantes para os dias de espera acabarem.

Minha mãe a principio me provocava por eu estar tão desanimado sem Seok por perto, mas ao ver que eu não dava muita bola, parou de encher, e apenas me abraçava do além quando sentia que eu “estava muito sozinho”.

Tae havia ido acampar na casa de JungKook, que na realidade era a casa de JiMin, então a casa estava bastante silenciosa.

Suga vinha de vez em quando, apenas para me encher e tentar me fazer sair de noite com ele, coisa que eu não sentia a menor vontade de fazer.

Quando, finalmente, as aulas voltariam, eu não consegui dormir (não que o estivesse fazendo muito, sem Jin ali). Parecia que, depois de descobrir a solução para o meu problema de sonhos barulhentos, este se tornara dez vezes pior, e eu ansiava Jin como uma droga para finalmente conseguir dormir em paz.

- Joon. Hoje começam as aulas... – Minha mãe se calou ao me ver de pé em frente ao guarda-roupa, procurando a camisa do uniforme. Ela sorriu soprado e se apoiou na porta. – Acho que não precisava te lembrar, né?

- O que está fazendo acordada a essa hora? – Perguntei, soltando uma exclamação satisfeita ao encontrar a peça que procurava no fundo do móvel. Não era como se ela sempre me acordasse para ir para a aula ou algo assim (na verdade eu sequer lembrava da ultima vez que ela o fizera).

- Yah, eu tenho que trabalhar hoje. Sou uma adulta, eu trabalho e tenho responsabilidades, sabia? – Perguntou, em tom de bronca de brincadeira.

- Sério? – Me virei, sorrindo para ela. – Que estranho, pensei que estava falando com a minha mãe. Você viu ela por aí?

- Yah. Olha como fala, moleque. – Sorriu ao terminar a fala. – E ponha uma camiseta. Eu não casei exatamente pra não ter que ver homem pelado de manhã.

Franzi o cenho num estranhamento divertido.

- Se casar inclui isso, é? – Perguntei, colocando a camisa e deixando os dois últimos botões abertos. Me aproximei dela e beijei sua cabeça. – Bom dia, mãe.

- Bom dia. Vai lá comer que eu vou buscar meu celular. Tenho que registrar esse evento histórico. – Esticou suas mãos para frente como se visualizasse uma manchete de jornal. – Kim NamJoon acordou cedo para ir à escola!

- Muito engraçado. – Falei, passando por ela e descendo para a cozinha. Mal sabia ela que eu não havia acordado cedo. Eu não dormira.

Comi com uma calma forçada, porque estava cedo, mas tudo o que eu queria era correr até a escola.

Saí para a rua um pouco depois, ligando a cobrar para YoonGi, que me atendeu um pouco antes da chamada cair.

- Que foi viado? – Ele estava de mau humor e com voz de sono, mas isso não era nada que ele não estivesse o dia todo.

- Onde você tá? – Chutei uma pedrinha.

- To no Wu’s.  – Respondeu, molenga. – O Lay hyung deixou eu tomar café de graça hoje.

- E quando ele não deixa? – Respondi, com riso na voz. Suga sempre insistia por comida de graça no Wu’s, e Lay hyung, com seu coração mole, sempre acabava deixando.

- Cala boca que eu não vou te dar café.

- Eu já tomei.

- Ah é? Então eu vou tomar esse cappuccino extra grande caprichado que o Kris hyung fez aqui.

- Pera aí que eu já chego, viado. – O sorriso sumiu de meu rosto. – Não se atreva a tomar essa merda.

Meu amigo soltou uma risada maléfica e desligou, reclamando sobre eu ser pobre e ficar ligando a cobrar pra ele.

Depois de tomar o café (que Suga havia tomado bastante quando eu cheguei – dei um tapa nele por isso), sem senti um pouco melhor, sem aquela lentidão no cérebro de ter passado a noite rolando na cama sem adormecer.

Chegamos na escola quando os alunos ainda estavam chegando com calma (e os alunos do meu tipo ainda estavam acordando ou nem isso), e nos postamos ao lado da escada da entrada do prédio, onde sempre ficávamos.

Aquilo me deu uma sensação de nostalgia meio estranha, como se tudo o que eu passara nos últimos tempos tivesse sido apenas um sonho, e estávamos ali apenas para esperar JiMin e Tae, que viria com Hope. Entraríamos na escola e nos separaríamos apenas até o intervalo, quando nos reuniríamos na base e faríamos um pouco de musica, como todos os dias. Depois da escola iríamos ao Lux, e viraríamos a noite, recomeçando tudo de novo no dia seguinte.

 Aquela sensação já estava me deixando meio deprimido quando levantei o olhar e o vi.

Mal ouvi quando Suga disse que ia vazar para “o reencontro esperado rolar sem um filho da puta metido no meio”, apenas olhei para os cabelos vermelho balançando enquanto ele meio andava meio corria até mim.

Ele estava sorrindo, e parecia pouco se importar por estar correndo daquele jeito no meio do pátio escola.

Franzi o cenho, sentindo minha animação e alívio se esvaírem.

O hematoma roxo ao lado de seu olho esquerdo e o corte rubro em sua boca não me permitiram manter meu sorriso.

 

 

 


Notas Finais


Intão meus lindos, curtiram? Amaram? Odiaram? Quero saber *-*

Me desculpem mesmo por esse capitulo ter sido mais corrido (odiei isso, era o motivo de eu estar com bloqueio), mas eu realmente não tinha mais nada a acrescentar sobre as férias, e queria chegar logo nas coisas importantes da estória. Além do mais, precisava dar uma acelerada nos esquemas, senão cairia na mesmisse.

Bom, antes de dar adeus, eu queria agradecer à minha Jin lindinha que conversa comigo todos os dias (que eu tenho internet) e me ajuda o tempo todo com bloqueios e inseguranças (a cena do sorvete foi ideia dela). Obrigada gatinha, você é incrível.
Ah, e como já estou falando dela, ela começou uma fic (YoonSeok) faz alguns dias, e eu queria pedir pra vocês darem uma olhada. Aideia é bem legal e eu particularmente gosto do jeito que ela escreve. Podem olhar se quiserem:
https://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-bangtan-boys-bts-o-menino-de-branco-5467833

Bom, acabou espaço publicitario (sempre tem :P), como sempre, espero comentários <3

Amu tus. Fui~


PS.: viram o comeback? *-* daqui a pouco tão com a gilete se cortando por aí.


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