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História Depois da Tempestade - Fotografia


Escrita por: erikastybrien

Notas do Autor


Oi amores! Primeiro de tudo eu queria dizer que esse capítulo merecia terceira pessoa mas como escrevi ele em sequência do outro eu estava super dentro da cabeça do Mitch. Até me esforcei para tentar mas depois de trezentas palavras eu desisti e voltei atrás, escrevi com o Rapp mesmo.

As interações de mapp hoje são mais mornas, mas ainda tem alguns capítulos com essa situação da casa então relaxem. Boa leitura!

Capítulo 20 - Fotografia


Fanfic / Fanfiction Depois da Tempestade - Fotografia

  Mitch Rapp  

Segui Scott até a sala de estar em silêncio, vendo ele estender a taça para Allison com um ligeiro sorriso. Em seguida se sentou ao lado dela no sofá e eu percebi que precisaria ficar com Lydia no outro.  

As meninas estavam conversando com um certo entusiasmo apesar de se calarem no momento que Scott se aproximou. 

Lambi ligeiramente a boca e entreguei a taça para a ruiva, reparando que ela deu um gole urgente no álcool enquanto eu me sentava ao seu lado. 

Todo o corpo tentador estava escondido de mim e mesmo assim senti a rotineira falta de ar ameaçar me invadir por estar tão perto dela. 

– Sobre o que vocês estavam falando? – Scott questionou passando o braço ao redor de Allison, o deixando estendido no sofá. 

Franzi a testa e comprimi os lábios o olhando para que percebesse como agia. Estava a tratando como uma namorada, como podia negar que gostava dela? Estúpido. 

Ele não reparou em mim, fixando os olhos em Allison que respondeu:  

– Um evento beneficente da faculdade que acontece todos os anos. – Explicou distribuindo a visão entre nós. – Tem alguns leilões e os universitários precisam levar uma cesta básica, além de irem acompanhados. 

– O prefeito e outros renomados sempre vão. – Lydia incluiu. – Estava comentando com a Allison se seria uma boa ideia te ver de terno e gravata. – Os olhos verdes pararam em mim. 

Eu não sabia o que significava mas de qualquer maneira a resposta era negativa. Nem me lembro qual foi a última vez que usei em terno em minha vida mas sei que a visão não é agradável.

– Achei que fosse com o Aiden. – Escutei Allison dizendo. 

– Ele me convidou e agora estou convidando o Mitch. – Explicou dando um gole no vinho, ainda olhando para mim. 

– Então você recusou?  

– Sim. – Desviou os olhos e eu imitei trazendo a taça a minha boca, ingerindo o álcool como se fosse me trazer alguma compreensão repentina. 

Ela queria me convidar? Por Deus, não! Além de não me dar nenhum pouco bem em eventos sofisticados eu não conhecia ninguém e inclusive Lydia também mal me conhecia, porque merda estava me chamando? 

– E com quem você vai? – Scott direcionou a pergunta para Allison, esperando a resposta com interesse. 

Fiquei quieto tentando ver que rumo a conversa estava tomando. Não escondi que os encarei. 

– Com você. – Sorriu para ele. 

Os olhos dele brilharam tanto que pareceram faróis em cima dela, mais uma vez naquele dia quis chamá-lo de sonso. 

McCall também sorriu e eles se encararam, me deixando desconfortável. Ele desviou o olhar para a boca feminina e os lábios se entortaram ainda mais, percebi a cabeça se inclinando na direção dela. Eles iam se beijar, puta merda! 

– Como eu estava dizendo... – Lydia interrompeu os dois, elevando a voz para receber atenção. Soltei um mínimo suspiro aliviado. – O evento é um pouco formal então os homens usam terno.  

Allison virou o rosto na direção da ruiva esquecendo de Scott enquanto ele agiu naturalmente apesar de saber que gritou por dentro, o pensamento me fez controlar a vontade de rir. 

– Que ótimo, tenho certeza que Mitch ficará lindo em um. – Scott me provocou com ironia.  

– Eu não disse que ia. – Cortei a proposta de imediato, agindo tranquilo. 

– E nem que não ia pensar sobre. – Lydia falou cruzando as pernas com seu convencimento natural. 

É, eu não tinha dito. Eu realmente ia precisar de mais um pensamento desnecessário? Uma decisão? Que merda. Encarei os olhos verdes com divertimento enrustido e ela sustentou relaxada, esperando minha resposta. 

– E você deduziu isso? – Soei sarcástico pelo mínimo que fosse. 

– Sim. 

– Adoraria ver sua bola de cristal mais tarde. – Prossegui dando um gole desinteressado no vinho. 

Lydia sorriu com desdém. Eu realmente acho que ela já se acostumou com o meu jeito considerando que não existia raiva, pelo contrário, me pareceu... contente, talvez. 

– Eu quero água. – Allison falou para Scott. 

– Vamos lá. – Chamou se levantando e a morena acompanhou. 

Era tudo que eu precisava, ficar sozinho com a Lydia. Merda! Eles abandonaram a sala e eu bebi mais, queria secar aquela taça o quanto antes. 

– Você realmente não quer ir? – Martin me questionou. 

Eu queria ir, esse era o problema. Nunca soube me comportar nesse tipo de lugar e agora muito menos, ainda mais com ela do meu lado.  

Não imagino como seria, sem contar que Lydia poderia levar qualquer um. Nós um do lado do outro é quase ridículo pela beleza dela e a minha, além do modo distinto que agimos. Só a farei passar vergonha. 

Escutei uma risada caçoada no interior de minha cabeça, meu subconsciente concordava comigo. 

– Não sei. – Confessei. – Talvez fosse melhor ir com alguém mais educado. – Ofereci com um sorriso debochado. 

Estava me empurrando para baixo e aquilo era rotineiro, não vi problema algum em esclarecer que poderia ser muito melhor para ela levar alguém mais sofisticado no meu lugar. 

Apesar de que no fundo, bem no fundo eu senti que não queria que Lydia chamasse mais ninguém. Imbecil. 

– Eu quero ir com você.  

Puta merda! Me concentrei nos olhos verdes e pareceu que algo tinha derretido dentro de mim.  

– E por qual motivo? – Você realmente não pensa para falar, Mitch. – Meus olhos lindos ou o físico? – A ironia estava escapando de mim no modo automático. 

Não conseguia enxergar nenhuma razão para Lydia querer que eu a acompanhasse, sequer entendia porque tinha tocado no assunto. 

Ela suspirou e um bico estressado moldou a boca grossa, por um ligeiro segundo eu percebi que a irritei como fiz na enfermaria da academia. 

– Mitch. – Se sentou mais perto de mim e colocou uma mexa do cabelo ondulado atrás da orelha, em seguida encarou meus olhos. – Se lembra quando eu disse que não iria mais insistir sobre o seu segredo? – Afirmei com a cabeça. – Bom... eu menti. – Lydia corou e desviou os olhos. – No começo pode ter sido verdade mas agora não é. 

– Por isso quer me levar? – Acho que eu deveria calar a boca, puta que pariu. 

Era como se minhas cordas vocais não chegassem nem perto de obedecer meu comando, elas tinham vontade própria. Não existia filtro entre a consciência e minha língua. 

– Não. – Negou e senti algo em mim se aliviar. – Quero que me acompanhe, só isso.  

Inalei o perfume feminino como se existisse uma nuvem invisível em volta dela com a fragrância, e era muito boa.  

Por um momento me esqueci que precisava responder, fiquei entretido na boca grossa. Eu encarei aquela carne sem o menor pudor e sequer percebi o que estava fazendo. 

– Promete que vai pensar? – Questionou esperançosa.  

– Não costumo fazer promessas. – Minha voz soou grave e Lydia mordeu a boca. 

Dessa vez ela quem encarou meus lábios e suspirou baixo por mais que tivesse percebido. Meu coração palpitou só por receber atenção exagerada e quase me esqueci de respirar. 

– Pode fazer uma? – Perguntou tardiamente, fixando o olhar em minhas íris. 

Nossos rostos estavam longes e mesmo assim parecia que a sala era minúscula e as paredes se espremiam de segundo em segundo. 

Lambi o começo de meus lábios e senti a taça ameaçar escorregar de minha mão suada, o que me fez desviar os olhos de Lydia para o ato. 

Segurei o vidro por baixo, fazendo uma concha com a mão para sustentar o topo redondo. Deixei um rastro molhado por onde meus dedos passaram e foi o suficiente para saber como estava nervoso.  

Antes que respondesse Scott e Allison ressurgiram na sala, sentando no mesmo lugar de antes. Espiei Lydia e dei um gole no vinho reparando que ela também bebeu a substância no mesmo tempo que eu. 

Eu sabia que em algum lugar dentro de mim existiam pequenas chamas causadas por ela e queria que o líquido as apagasse antes que um incêndio surgisse.  

Assim que terminamos de beber Lydia ajeitou mais uma vez o cabelo enquanto se remexia no sofá macio.  

– Então Mitch, soube que você dá aulas de boxe para a Lydia. – Allison puxou assunto e eu olhei distraído para ela. 

Me inclinei para a frente e escorei os antebraços nos joelhos, segurando firme a taça com medo de deixar que caísse. Cocei o queixo com a mão livre sentindo minha barba rala. 

– Sou instrutor, na verdade. Auxilio a turma dela. – Expliquei vendo a Argent assentir, interessada até demais no assunto. 

– E quem é Cora?  

– Allison! – Lydia reprimiu. 

– O que? – Questionou inocente, desviando os olhos de mim.  

– Cora? – Perguntei confuso, sem ter a mínima ideia do que estava acontecendo ali. Busquei uma resposta em Lydia que vi devorar a amiga com os olhos, tendo as bochechas marcadas por um rosa claro. – É a atendente da academia, porque? 

– Allison... 

– Escutei algumas coisas dela que incluem você. 

– Ah meu Deus... – Lydia encolheu os ombros e escorregou um pouco no sofá, cruzando os braços rente ao peito. 

Ela estava envergonhada e era tão raro acontecer que acabei me divertindo um pouco com a situação, sendo impedido de tentar raciocinar alguma provocação somente pela mente confusa. 

– Cora? Sobre mim? – Questionei. 

– Mitch tem problema de audição. – Scott interveio arrancando uma risada de Allison que prosseguiu. 

– Ela é afim de você pelo o que Lydia me contou.  

De novo aquela história, puta merda! Era só algo que Lydia acreditava e porque ela precisava ter uma intuição tão forte? Martin não precisava estar sempre certa. 

Senti minha cabeça ferver com o ódio pela insistência no assunto sendo que eu mal sabia quem era Cora. Escutei ponteiros de um relógio tilintarem no fundo de minha cabeça, preenchendo todo o espaço com o barulho irritante. 

Tic tac. Tic tac

– Ah. – Finalmente saiu algo contextualizado de minha boca apesar de soar decepcionado. – É só uma opinião. 

– Você acha? – Allison me encarou com crítica e Scott e Lydia a imitaram. A voz da Argent era paciente, morna, e por um segundo me senti intimidado. 

– Acho. – Dei de ombros. Senti uma ligeira irritação dentro de mim, uma vontade de revelar algo preso em minha garganta. Tic tac. O impulso bateu em minhas cordas vocais como um martelo e antes que percebesse acrescentei: – Desde quando você conhece o Aiden, ruiva?  

A olhei para questionar, vendo-a cerrar os cílios com relutância. Meu coração acelerou com nervosismo pelo o que eu diria mas simplesmente não suportava mais a ideia de deixar Martin sem ter certeza. 

Se ela não sabia eu iria insistir para que descobrisse. 

– Desde que entrei na faculdade, porque?  

– Bom, já que Allison citou a suposta queda que Cora tem por mim porque não falamos sobre a vontade que Aiden tem de arrancar suas roupas? – Eu estava trêmulo por dentro, meu estômago gelou com o nervosismo e quis gritar. 

Desde minha adolescência eu não me sentia tão nervoso, elétrico, não sabia se a sensação me agradava. 

Acabei soando calmo, debochado apesar de sentir o suor em minhas mãos aumentarem consideravelmente. O Mitch antigo ergueu as mãos para o alto e berrou em comemoração mas o ignorei. 

– Isso está ficando interessante. – Allison comentou enquanto bebia vinho sem tirar os olhos de nós, reparei em um sorriso leve na boca de Scott. 

Os lábios grossos de Lydia abriram em estarrecimento e ela pareceu chocada. Não é possível que ela não saiba que Aiden quer dormir com ela, é óbvio para qualquer um que enxerga os dois juntos. 

O jeito que a dava atenção, conversava, a maneira que desejava tocar em alguma parte do corpo feminino a todo instante. Lydia é tão esperta, como pode não ver isso? 

– Vai dizer que não sabia? – A pergunta pulou de minha boca. 

Martin balbuciou uma vez totalmente perdida em seus pensamentos por mais que seus olhos permanecessem fixos em mim, estava perdida em seu raciocínio. 

– Você sabia, não é? – Olhei para Allison e ela sorriu. 

Argent estava se divertindo com a situação, o jeito que Lydia reagiu e comigo também já que enxerguei uma espécie de contentamento em seus olhos. 

– Claro que sim, tento enfiar isso na cabeça dela a muito tempo.  

– Eu... – Lydia encarou as próprias mãos ainda extasiada, balançou a cabeça em negação. – Ele nunca me disse nada. 

– Ele quer fazer, não dizer. – Porra, Mitch! Dei um gole no vinho para disfarçar como quis me xingar em voz alta por mais uma fala tão direta. 

Olhei para Scott vendo um meio sorriso encantado por mim, sabia que tinha ficado de alguma forma orgulhoso por ter tido coragem de responder com uma insinuação a sexo. 

Martin ergueu os olhos para mim depois de segundos e sua expressão estarrecida foi transformada para sarcasmo. 

– E de onde você tirou isso, Mitch? Da declaração que ele fez para mim? – Lydia me provocou com o que disse sobre Cora e bufei. Era a mesma situação para nós dois, não existia prova para convencer o outro mas continuávamos insistindo. 

Dei uma pequena risada incrédula absorvendo o calor dos olhos verdes. Não era estresse e nem desejo, me pareceu ser apenas uma atenção absurda acompanhada de alguma espécie de contentamento.  

– Lydia, o cara te olha como se você fosse a única pessoa no mundo. – Justifiquei. – Também não quero que soe ciumento mas é verdade. 

– Bobagem. – Fez pouco caso. 

– Então ele está apaixonado. – Scott quem se meteu e eu sorri faceiro, assim que pegou meu olhar nele questionou: – O que? 

– De paixão você entende, não é?  

Scott trincou o maxilar e eu ri para o chão, me divertindo por deixá-lo sem graça. Fazia tanto tempo que não sabia o que era estar apaixonado que não poderia deduzir se era o que Aiden sentia, mas sinceramente, as chances eram enormes e eu reconhecia o fato. 

– Até que ele fica bonito rindo. 

Ergui os olhos para a morena dona da voz, vendo que comentou para Lydia sobre mim. Não espiei a ruiva, permaneci calado com o elogio enquanto dava um gole no vinho. 

– Eu sei. – Martin respondeu tranquila. Fui elogiado de novo, meu Deus! Preguei os olhos nela vendo um suspiro chateado ser liberado. – Vocês estão malucos. – Retomou o assunto anterior. 

– Conheço você a uma semana e já percebi, imagine Allison que mora com você. – Falei. 

– E do que ela sabe? – Lydia debochou com um som mínimo. 

– Ei! – Argent franziu as sobrancelhas com rancor. – Concordo com o Mitch. 

– De que lado você está? – Lydia questionou brava. 

– Do meu. – Respondi vendo Allison sorrir para mim e mesmo sem corresponder fiquei satisfeito com a cumplicidade. 

Minha boca secou com a discussão e o vinho estava excessivo em meu organismo, por isso levantei segurando um suspiro que ameaçou escapar. 

– Vou beber água. – Murmurei por obrigação, andando rumo a cozinha.  

Respirei fundo com a pequena privacidade, passando a mão pelo cabelo com o fervor de meu corpo. Além de ansioso agora eu estava irritado. 

Lydia realmente não acredita que Aiden quer dormir com ela e por mais que não tenha absolutamente nada haver com isso ela deveria saber. Por Deus! Qual a dificuldade em entender? 

Não estou nenhum pouco afim de pensar sobre esse maldito evento beneficente agora e também preciso ignorar essa pontada de curiosidade em mim. 

Nem quando ficamos sozinhos Lydia me provocou e apesar de sentir em partes aliviado no fundo estava implorando para ela o fazer logo. 

Agarrei um copo no escorredor de louça e me servi.  Assim que fechei a geladeira peguei meu celular do bolso para verificar as horas, me virando para a mesa do centro. 

Minha carteira caiu quando puxei o aparelho e acabou esparramando algumas contas e cartões de crédito que não eram usados a meses. Gemi de raiva deixando o copo vazio em cima da mesa, me abaixando para pegar minhas coisas. 

– Merda. – Resmunguei catando papéis que nem sabia que ainda estavam comigo. 

– Mitch?  

Ergui os olhos para Lydia parada na entrada do cômodo, observando ela andar até mim e se agachar para me ajudar. Dessa vez nossos rostos ficaram próximos e o cheiro dela novamente me contaminou. 

A encarei em silêncio, reparando nos detalhes daquele rosto tão bonito.  

– Queria conversar com você. – Explicou e eu me senti incapacitado de responder por um segundo. Ela tira meu fôlego, puta merda! – Eu te ajudo com isso. – Voltou a visão para o chão enquanto eu permaneci a encarando. 

Lydia começou a recolher minhas coisas e só então me desconcentrei dela, abaixando os olhos para ajudar.

Ela me passou tudo o que encontrou e eu recoloquei nos compartimentos de couro, me levantei e guardei novamente a carteira no bolso. 

Martin continuou abaixada, o que atraiu minha atenção. Sua visão estava direcionada para abaixo da mesa, mais precisamente algo ao lado de uma das cadeiras de madeira. 

Eu não consegui ver o que era mas Lydia observou por alguns segundos, até finalmente esticar a mão para alcançar. 

– O que foi? – Perguntei. 

Ela não respondeu e só quando recolheu o braço que finalmente entendi o porquê. Porra! Era a foto que eu havia tirado com Katrina no dia da praia, puta merda! Nunca tive coragem para jogar fora e guardava na carteira, como esqueci que não estava ali?! 

Merda! O pânico se instalou em minha garganta como uma cola que paralisou minha língua, nem balbuciar eu consegui. Não sabia o que dizer, o que fazer, só aceitei a bronca que meu consciente gritou: Burro! 

Não consegui falar nada coerente, permanecendo quieto com o rosto assustado. Lydia segurou a foto na altura dos seios e encarou os sorrisos imensos que Katrina e eu tínhamos naquele dia. 

Os olhos verdes reluziam curiosidade, um interesse imenso. Assim como o toque no pescoço agora eu havia dado mais um motivo para que me fizesse perguntas. Parabéns, Mitch. Agora eu precisaria contar a todo custo, não importava mais se estava com coragem ou não. 

– Quem é ela? – Perguntou sem tirar a visão da foto, juntando o cenho. Martin nos encarou e por um segundo acreditei perceber estar triste. – Você me parece muito feliz. 

– Lydia... – Por instinto minha mão foi em direção a dela para pegar a fotografia, mas a ruiva se afastou alguns passos de costas, tomando distância. 

Seus olhos continuaram longes de mim e pude sentir o latejar de minhas veias. 

– Ela é bonita. Muito bonita. 

Eu sei, caralho. Precisava pegar de volta, já era ruim o suficiente que estivesse vendo não tinha necessidade de comentários. 

– E você está de cabelo curto. – Escutei espanto em sua voz, talvez alguma satisfação. Abri a boca para implorar que me devolvesse e ela me interrompeu, perguntando: – É sua namorada? – Praticamente sussurrou. 

Dessa vez os olhos verdes bateram em mim e ela estava assustada, apavorada na verdade. Senti suor frio escorrer da minha testa em gotas, denunciando como estava nervoso. Meu coração palpitou e eu desconsiderei sem dar atenção. 

– Lydia... 

– É isso que você está escondendo? Ah meu Deus! – Sua voz além de fina demonstrou desespero. – Porque você não me avisou? Você não podia ter feito isso! Ela mora aqui? Conhece o Scott? Eu jamais teria feito alguma coisa ou... – Ela cuspiu as palavras com pressa, não parou nem para respirar. Porra, ela estava a beira de um ataque histérico! – Não sei, não teria me aproximado de você! 

Porque ela não cala a boca por um segundo e então eu explico? Bufei com raiva, sentindo a impaciência queimar meus pés os fazendo andar em direção a ela. 

– Mitch, você não podia ter feito isso. Meu Deus, o que eu vou fazer agora?! Nós nos beijamos e agora estamos aqui... – Me aproximei com pressa e ela substituiu a falação desenfreada por um arfar de susto quando segurei seus pulsos frios e a virei para o lado com minha força, a deixando imprensada contra uma cadeira. 

Corpo contra corpo o ar sumiu de meus pulmões mas não consegui dar devida atenção, só reparei em como minha pele queimava apesar de tantos tecidos me cobrirem. 

A boca grossa se tornou o caminho para oxigênio e os olhos verdes se concentraram em meus lábios com a repentina proximidade dos rostos. Eu queria beijar ela mas não precisava de mais uma cota de burrice, lutei para me desfocar da vontade. 

Mais uma vez deu tudo errado e eu não tinha nenhum pingo do que mais precisava: Controle da situação. 

– Esse é o momento que você fica quieta. – Minha voz rouca e grave soou fazendo Lydia engolir seco, intercalando a visão de meus lábios para os olhos que a devoravam.  

Ela jogava o ar quente e pesado nos meus lábios onde minha oxigenação arranhada era feita. A  sensação de meus dedos envolta daquela pulso delicado era tão sutil e boa, só piorava a situação para o meu lado. 

Além de fantasiosa despertava desejo em mim e eu gostava muito. Não exerci força, apenas controle e ela obedeceu calada, permitindo que eu a segurasse. 

Salivei lutando para escolher as palavras certas, tentando de alguma maneira deixar que parecesse menos pior do que realmente é. 

Meu coração acelerou, as mãos suaram e eu desviei o olhar dela. Estava a um passo de estragar qualquer tipo de relacionamento que criamos e precisei ignorar o Mitch antigo implorando em meu interior para que desistisse. 

Não podia continuar mentindo, escondendo tudo o que aconteceu. Suspirei e encarei o verde atento com determinação, sentindo que iria pular em um buraco muito fundo. 

– Eu tenho estresse pós traumático, Lydia.  

E minha ex-noiva está morta. 

Meu coração latejou tão forte, estava esmurrando o peitoral com a adrenalina que me percorria.  

Progredimos dez por cento, talvez vinte. Não era o que eu pretendia falar mas como o bom covarde que sou foi o que consegui dizer, me contentei por ter tido um resquício de coragem e suficiência. 

Martin arregalou de leve os olhos fixos em mim, a boca se abriu um pouco mais e senti as mãos dela se remexendo, mas não as livrei. 

Ela ficou quieta, tão quieta que fui capaz de ouvir uma risada de Allison vindo da sala. Eu não soube se ela estava decepcionada ou triste, talvez brava, não consegui perceber nenhuma reação. 

Só me concentrei no medo que sentia. Meus ombros endureceram ainda mais com a possibilidade de Lydia adquirir ódio de mim, nunca mais querer me ver. 

Era um direito dela mas eu sabia o quanto almejava que ela insistisse , que continuasse me provocando e tentando ter algo comigo. 

Vi a boca grossa se fechar com lentidão enquanto ela respirava fundo. Não conseguia imaginar o que passava em sua cabeça e sequer tentei. Já era complicado para mim, não queria me colocar no lugar dela. 

– Tudo bem. – Disse baixo. – E qual é o trauma? Tem haver com a cicatriz, não tem? 

Ela não sabia fazer uma pergunta de cada vez? Que inferno! Bufei baixo e fechei os olhos, imaginando como iria contar sobre o incidente.  

Uma agitação incomum se manifestou em meu estômago, fervendo minha cabeça. Não seja um covarde, não seja um covarde, não seja um covarde... Meu subconsciente repetia o mantra no interior ecoando alto. 

– Lydia, eu sou solteiro. – Esclareci e ela soltou ar bem baixinho, demonstrando alívio. – Eu não menti sobre a cicatriz, foi um tombo. Eu estava correndo e acabei caindo no chão. 

Olhos verdes. Reluzentes, quase como esmeraldas claras e preciosas. Peculiares, únicos. Mas não eram os de Lydia. 

Me senti pesado, rígido, fui pego desprevenido por uma breve pontada de dor na cabeça que apesar de aguda não me fez gemer, apenas respirei forte fechando os olhos. 

Não consegui absorver a atenção que recebia junto com a culpa fodida que me acarretou. Rompi todo o nosso contato, me afastando de Lydia.  

Precisava respirar, estar longe para não pensar no quanto queria beijar a boca tentadora. A lembrança da praia me corroeu secando minha boca, não existia saliva alguma. 

Agarrei de novo o copo largado na mesa e abri a geladeira com pressa, me servindo de água gelada, bebendo desejando que me afogasse de alguma maneira. 

Dei goles ferozes sentindo o trinco frio banhar minha garganta e gelar ainda mais meu estômago. Fechei a geladeira com força e levei o copo a pia, ficando de costas, sentindo Lydia encarar todos os meus movimentos. 

Suspirei pesado e fechei os olhos, apoiando meu tronco com as mãos na pia. Se vire e diga que Katrina morreu. Eu queria que minha cabeça calasse a boca uma vez ou outra, puta que pariu. 

Parecia tão fácil, tão simples, mas para mim era o cúmulo. Seria como abrir o armário e tirar todos os meus demônios de lá, obrigando que eles dessem “Oi” para Lydia. Estou sufocado com o receio da reação dela e isso me impede de prosseguir, de mexer a boca para dizer um simples ''Por favor, vamos para a sala''. 

– A gente pode falar disso depois. – Ela murmurou.  

Olhei para ela com dúvida, talvez alívio, vendo uma ligeira expressão cabisbaixa no rosto atento. Martin sustentou meu olhar apesar de perceber que não queria, vi seu tórax lutando para se mexer com mais velocidade e ela engoliu seco duas vezes seguidas. 

Lydia estava nervosa, tão nervosa que conseguiu me deixar ainda pior, culpado. 

– Eu não quero pressionar, é difícil para mim mas ver você assim é bem pior. – Respondeu calma e andou até mim que petrifiquei. 

Não conseguiria me mexer nem se quisesse, observando de esguelha ela suspirar parando atrás de meu corpo duro.  

Ela analisou minhas costas, os olhos curiosos percorreram todos os músculos que encontraram. Lydia lambeu a boca e ergueu uma mão em meu rumo. Trinquei o maxilar por instinto e senti ela encostar em meu ombro com relutância, de leve, observando minhas reações. 

Os dedos pequenos apertaram a carne tensa no que me pareceu algum tipo de carinho, massagem, mas minha reação foi oposta quando gemi de desconforto pela dor. 

Meus ombros estavam transformados em pedra e desejei que aquele mero toque os fizesse virar gelatina. 

– Você está tenso.  

– E você nervosa. – Respondi e ela quase sorriu. Me virei para Lydia com um surto de coragem, perdendo o contato da mão sobre mim. 

A encarei quieto, envergonhado, esperando que me desse algum sermão por novamente só ter piorado tudo.  

– É... prefiro você resmungando. – Comentou e um ligeiro sorriso escapou de mim, acompanhando o dela. Ficou séria e novamente observei a expressão chateada. – Desculpa insistir é que... – Sua cabeça balançou em negação enquanto observava os dedos. – Bom, gosto do nosso confuso relacionamento. – Sorriu sem jeito e ruborizou. 

Por Deus! Eu ia beijar ela, a corrente elétrica e exclusivamente nossa percorria minhas veias como se disputasse uma corrida. 

Não conseguia pensar com dois lados opostas gritando dentro de mim. Beije ela, estúpido! Um Mitch implorava alto. Além de covarde quer se aproveitar, não faça nenhuma besteira. O outro dizia e era quase impossível esquecer como meu corpo gritava para ela. 

Interrompi minha linha de raciocínio quando Lydia se afastou de mim andando de costas, sorrindo fascinada provavelmente pelo jeito bobo que eu a encarava. 

– Você está jogando comigo, Mitch?  – Parou distante e estreitou os olhos com desconfiança.  

– O quê? 


Notas Finais


Comentem <3 , até!


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