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História Depois de Ti - II Temporada - Aniversário de Casamento


Escrita por: jaimencanto

Notas do Autor


Conheçam a Catarina!! Um amorzinho, não é? Se parece muito com o Fernando fisicamente, mas a personalidade é idêntica à de Lety. Uma linda junção dos dois, não é? Estou apaixonada! ♥

Capítulo 11 - Aniversário de Casamento


Fanfic / Fanfiction Depois de Ti - II Temporada - Aniversário de Casamento

Lety

 

 

- Jantar, ok. Luzes especiais, ok. Playlist sensual, ok. Sensual? Não! Risca isso! Uma playlist romântica...

               Rabisquei a minha agenda e acrescentei “playlist romântica” em minha lista. Depois de um mês de preparos, enfim chegou o grande dia. Não era nada fácil esconder uma surpresa de Fernando, mas eu estava me saindo bem. Pelo menos, ele não parecia desconfiar de nada. Na verdade, parecia nem sequer prestar atenção nos detalhes. Há um mês eu estava combinando um cardápio com Marta, pedindo receitas e dicas, já que o jantar seria preparado por mim. Há um mês estava planejando a noite mais especial do ano: A noite do nosso aniversário de casamento. Todos se prontificaram a me ajudar naquele dia, inclusive Terezinha e minha mãe, e é claro: Laura, Carolina, Márcia e Luigi. Passamos um mês inteiro planejando aquela noite especial, e eu estava correndo com os preparativos para que tudo desse certo.

- Nina, não faz isso, meu amor! – Tirei a caneta de sua boca, que por sorte estava com tampa.

               Por mais tranqüila que Catarina fosse, ela estava sempre procurando por travessuras, o que me colocava de cabelos em pé já que eu estava sozinha com ela grande parte do dia. Aos três anos de idade ela já conseguia andar por toda a casa, e tentar subir em todos os móveis possíveis, o que dobrava minha atenção.

- Quero brincar, mamãe. – Choramingou.

- Nós já vamos brincar. A mamãe só está terminando uma coisa importante. – Voltei minha atenção à agenda enquanto estávamos sentadas à cama.

- Amor?

               Fechei imediatamente a agenda e a coloquei debaixo do travesseiro.

- Oi amor! – Sorri para Fernando.

- Eu já estou indo para a Construtora. – Ele se aproximou e deitou à cama, brincando com Nina que dava gargalhadas abraçada à ele.

               Esperei que ele dissesse algo sobre o grande dia, mas ele nem ao menos parecia se lembrar. Normalmente assim que acordávamos ele me presenteava com uma bandeja de café da manhã, mas pelo visto, aquele ano seria diferente. Eu quem faria a surpresa, já que nos três anos anteriores era ele quem me surpreendia. O fato dele provavelmente ter se esquecido seria ainda melhor.

- Você volta para o jantar, não é? – Sorri, confirmando que tudo daria certo.

- Na verdade, marcaram uma reunião de ultima hora. Preciso comparecer.

- O QUE? – Praticamente gritei, o que fez ele e Catarina olharem para mim.

- Me desculpe, mas não tenho escolha, Lety...

- Mas... Não pode... Remarcar para amanhã? Ou... Mais cedo?

- Infelizmente não. Não depende apenas de mim, você sabe. – Ele encheu Catarina de beijos como sempre fazia quando saía de casa, e ela gargalhou.

               Estava tão desolada que nem mesmo as gargalhadas e as brincadeiras dos dois me deixaram feliz. Meu plano tinha ido por água abaixo!

- Mas eu prometo que não volto tarde. – Ele se inclinou e me deu um rápido beijo. – Volto antes que você durma.

               Não era esse o plano! Você deveria voltar para o jantar, que eu prepararia para você!

- Tudo bem... – Respondi triste.

- Eu te amo.

- Eu também... – Mal formulei a frase inteira como costumava fazer.

- Tchau meu amor! Se comporte! – Ele se levantou da cama.

- Tchau papai! – Catarina respondeu balançando a mãozinha.

               Fernando saiu do quarto, acenando da porta. Catarina continuou acenando animada, mas eu... Estava completamente sem ânimo depois de ter a minha noite estragada por uma maldita reunião.

 

 

                                                                          •••

 

 

 

- Eu estou dizendo! Ele disse que não pode remarcar! – Andei pelo jardim enquanto falava com Márcia.

- Realmente, é uma reunião importante. Ele não poderia desmarcar mesmo se quisesse, Lety. – Márcia se lamentou. – Mas, tem certeza que ele não se lembrou?

- Não. Não falou absolutamente nada o dia inteiro.

- Estranho. Nos outros anos ele te fez surpresas tão lindas e românticas.

- Deve estar com muito trabalho. Isso é o de menos. Eu só... Queria uma solução. Eu planejei tudo... – Choraminguei olhando para Catarina brincando em minha frente, junto à Spike.

- Por que não faz uma comemoração amanhã?

- Mas... Isso quebra a tradição.

- Mas que tradição?

- Oras... Sempre comemoramos na data certa.

- Isso não é um termo de condições. Você pode comemorar quando bem entender. Não vai fazer diferença ser na data exata ou não.

- Você acha?

- Claro que sim! Olha, não desmarque nada... Apenas... Mude para amanhã.

               Sorri esperançosa.

- Tem razão! E será ainda melhor porque ele não vai esperar por isso! E caso ele ainda se lembre hoje, a surpresa só chegará amanhã!

- Não sei se entendi direito, mas é isso mesmo! E quer saber? Prepare uma coisa ainda mais especial. Carolina e eu tivemos uma idéia e vamos passar em sua casa para buscá-la.

- O que? Mas eu não posso! A Catarina...

- A Irminha pode cuidar dela por algumas horas. Não vamos demorar, prometo.

               Eu não gostava de deixar Catarina com Irminha, por mais que ela se mostrasse animada em poder ajudar, e feliz por ficar na companhia dela, já que elas eram totalmente apegadas uma na outra. Mas, o meu apego materno poderia se segurar por algumas horas, principalmente se isso significava surpreender Fernando de alguma maneira.

               Depois de algumas horas, finalmente Carolina e Márcia chegaram, e levaram Luigi para acompanhá-las. O suspense que os três faziam quanto ao lugar que iríamos visitar estava me incomodando, mas também me deixando ansiosa.

- Então vamos logo! – Falei beijando Catarina que estava no colo de Irminha. – A mamãe volta daqui a pouco, ta bom?

- Ta bom. – Catarina repetiu, sorridente.

- Irminha, se ela ficar muito enjoadinha você pode dar um pouco da mamadeira fora do horário para ela, tudo bem?

- Pode deixar. – Irminha sorriu. – Mas ela nunca fica enjoadinha, não é? Ela é uma boa menina! – Ela brincou com Catarina, que gargalhou.

- De qualquer maneira não vamos demorar. Não é? – Olhei para os três, que faziam palhaçadas para Catarina.

- Não. Se depender de você, vai ser mais rápido do que pensa. – Márcia sorriu e eu comecei a me sentir tensa.

- Mas, vamos logo! – Carolina disse, dando um beijo em Nina. – Que vontade de morder essa princesinha!

- Deixe as mordidas para depois. – Márcia disse, também se despedindo dela. – Até logo, Irminha.

- Vão com Deus!

- Ai... Acho que meu extinto materno está me dizendo que eu preciso ser mãe. – Luigi disse quando seguíamos para o portão.

- Ficou louco? – Perguntei olhando-o.

- O que é que tem? Eu não posso querer ser mãe?

- Querer você pode, o difícil é conseguir ser. – Márcia riu.

- Vocês são muito insensíveis! – Ralhou.

               Entramos no carro e descobri que Márcia estava no volante. Quando isso acontecia, poderia esperar que não me agradaria nada o que os três estavam aprontando. Mas, sem querer ser chata e ingrata com a ajuda que estavam me dando naqueles preparativos, achei melhor ficar calada e esperar para descobrir pessoalmente. Entramos ao centro onde costumávamos fazer compras de roupas e logo Márcia estacionou. Não me recordava daquela rua, e logo percebi que jamais fizemos compras ali.

- O que estão aprontando? – Não consegui evitar e soltei logo a pergunta.

- Você vai ver. – Márcia desceu do carro.

               Suspirei e os acompanhei, também descendo do carro. Paramos à calçada e eu ainda procurava por alguma loja conhecida, onde provavelmente compraríamos um vestido novo ou algo do tipo. Mas, assim que vi a placa para a qual os três olhavam, logo abri a boca em um misto de espanto e indignação.

- Não! Definitivamente não! – Fiz menção de voltar para o carro, mas Luigi me segurou.

- E por que não? – Márcia perguntou. – Não tem nada de mais em uma loja assim.

- É claro que tem! Eu nunca entrei nisso! E nunca vou entrar!

- Nunca diga nunca, mona. – Luigi sorriu.

- Não. Vocês perderam o juízo. O que eu vou fazer aí?

- Lety, deixe de besteira. Você é uma mulher casada!

- É exatamente por isso, Márcia. O que uma mulher casada vai fazer em um lugar como esse? Esse lugar é para mulheres... Que não tem... Parceiros!

- Eu vou sempre. – Respondeu com as mãos na cintura.

- Você não é casada!

- Mas eu me senti ofendida! Eu tenho sim quantos parceiros eu quiser, mas sua opinião é do século passado! Lety... É apenas um sexshop!

- Eu não vou entrar lá!

- LETY! – Márcia exclamou batendo o pé.

- Lety, eu sei que parece assustador, mas acredite... Não tem nada de mais. – Carolina tentou me acalmar.

- Você já foi em um?

- Sim, várias vezes.

- E o que Omar disse?

- Ele não sabe, é claro. – Ela riu. – Mas ele adora as fantasias que eu compro.

- Viu só? – Márcia disse. – Até Carolina que é bobinha vai à um sexshop.

- Ei! – Ralhou Carolina.

               Márcia tinha razão. De todos nós, Carolina era a mais centrada e correta, e por mais que ela se parecesse muito comigo quando eu era “leiga” sobre sexo, eu tinha que admitir que depois de longas conversas e bebidas entre amigas, a vida sexual dela e de Omar era bem ativa, e se Carolina não via nada de mais em entrar em um sexshop, eu também não deveria.

- Está bem. – Suspirei. – Mas se vocês contarem isso para alguém...

- Nossa boca é um tumulo. – Luigi sorriu empolgado. – Ai, você vai adorar.

- Me empresta seus óculos. – O tirei do rosto de Luigi, colocando-o em mim.

- Para que isso, louca?

- Caso alguém passe aqui e me veja.

- É claro! Não vão te reconhecer por causa de um óculos de sol! – Márcia balançou a cabeça. – Vamos logo antes que você desista.

               Luigi e Carolina me seguraram cada um em um braço, e praticamente me arrastaram para dentro da loja. Assim que Márcia abriu a porta e adentramos, tirei os óculos de sol e olhei abismada para as prateleiras, que estavam lotadas com... Aquilo. De todos os tipos.

- Olhe só a cara dela. – Márcia riu. – Que vontade de tirar uma foto.

- Fecha a boca, Lety. – Carolina riu.

- É bom mesmo, porque com essas prateleiras assim andar de boca aberta é até perigoso. – Luigi comentou, seguindo diretamente para uma prateleira.

- Eu vou sair daqui! – Falei me virando, mas Márcia me segurou.

- Não seja boba!

- O que é que eu vou comprar aqui, Márcia? – Perguntei irritada. – Eu não preciso dessas coisas! – Apontei para as prateleiras. – Caso não saiba, Fernando já tem um! E ele ainda funciona muito bem!

- Lety! – Carolina riu.

- Não seja boba, Letícia! Aqui não vende apenas isso! Mas, só para saber, isso não é utilizado apenas por mulheres solteiras. Algumas mulheres casadas gostam de ter um a mais, sei lá porque.

               Suspirei impaciente, já louca para sair daquele lugar. Luigi não parava de andar pelas prateleiras, e eu queria saber como alguém conseguia ficar tão a vontade rodeado de coisas como aquelas.

- Boa tarde. Posso ajudá-las? – A vendedora se aproximou, sorrindo.

- Não!

- Sim!

               Márcia e eu respondemos juntas e ela nos olhou confusa.

- Pode sim. – Márcia se escorou ao balcão. – Nós estamos procurando por coisas especiais para uma comemoração.

- Que tipo de comemoração?

- Um aniversário de casamento.

               Cruzei os braços, envergonhada pelos detalhes de Márcia. Ao contrário de mim, a vendedora parecia acostumada com aquele tipo de coisa, e logo que Márcia disse a comemoração, ela tirou várias caixas detrás do balcão.

- Aqui tem várias coisas. Tenho gel, cremes, bolinhas...

- Não quero nada disso. – Falei rapidamente.

- Queremos algo mais... Careta. – Márcia disse. – Ela não gosta muito desse tipo de coisa.

- Ah, entendo. – A vendedora sorriu.

- Por que não compra uma calcinha comestível? – Luigi perguntou se aproximando do balcão, carregando algo que tirou minha atenção.

- Luigi, larga isso! – Márcia ralhou.

- Por quê? Eu só estou vendo! Estou me sentindo no paraíso aqui! – Ele sorriu.

- Meu Deus! – Balancei a cabeça envergonhada.

- Se quiser calcinha comestível nós temos de vários sabores...

- Eu não quero... Uma calcinha comestível. – Tentei não parecer tão rude e nem tão boba ao dizer aquela palavra.

               Embora eu tivesse a curiosidade de saber por que alguém usaria uma calcinha comestível durante um momento tão intimo, eu não queria nada daquelas coisas. Eu não queria me sentir um prato servindo uma peça intima comestível, e Fernando provavelmente iria rir da minha cara se eu aparecesse usando uma coisa dessas. “O que temos para o jantar, meu amor?” “Temos calcinha!”

- Lety!

- O que?

- A moça está falando com você!

- Desculpe. – Falei envergonhada. – Pode repetir?

- Eu disse que tenho algo ideal para pessoas casuais como você.

- E o que é?

- Fantasias! – Carolina e Márcia disseram ao mesmo tempo.

               Não parecia tão ruim quanto àquelas coisas de todos os tipos e tamanhos nas prateleiras. A vendedora nos levou aos fundos da loja, onde havia várias fantasias. Uma a uma ela me mostrou, mas nenhuma me agradava ou sequer me faziam pensar em usá-las para Fernando.

- E tenho essa daqui também. – Ela me entregou uma fantasia de policial, que tampava apenas a parte de cima.

- Ahm... Acho que não. – Falei.

- Lety! Você recusou todas as fantasias! – Márcia disse indignada. – Inclusive a de freira!

- Quem se veste de freira para fazer algo assim, pelo amor de Deus? Desculpe. – Olhei para cima. – Márcia, eu não vou usar coisas assim. Já basta a vergonha que me fizeram passar em minha lua de mel.

- Você disse que Fernando adorou, e não reclamou quando lhe demos outras de presente.

- A questão não é essa. Eu não vou usar algo que tampa apenas... ¼ do meu corpo! – Apontei para a fantasia de policial.

- Bom... Nós temos essa. – A vendedora me mostrou uma. – Ela é a mais “comportada” que temos. Não é tão à mostra como você disse.

               Olhei bem para a fantasia, e realmente ela era diferente das outras. Continha um top branco que poderia ser amarrado, provavelmente acima do umbigo, uma saia curta demais, mas ao menos tampava toda a parte íntima, e um tipo de chapéu, que logo me fez entender que era uma fantasia de enfermeira.

- É... Não é tão ruim. – Falei.

- Finalmente! – Carolina comemorou.

- Você vai ficar uma gata com ela. – Luigi disse colocando um sutiã na frente do corpo.

- Mas não sei se quero usar isso.

- É um presente nosso. – Márcia disse. – E você não pode recusar.

               Suspirei sem ter mais nenhum argumento. Só queria sair logo dali e aceitar aquele presente louco.

- Está bem. – Falei vencida. – Mas eu não garanto que irei usar!

- Ah você vai sim!

               Os três sorriram cúmplices.

- Eu odeio vocês.

 

 

                                                                          •••

 

 

 

               De volta à minha casa, desci do carro carregando a sacola, contrariada.

- Tenho certeza que ele vai adorar. – Márcia disse divertida, escorando-se na janela do carro.

- Onde é que eu vou guardar isso? – Perguntei impaciente.

- Guarde em algum lugar que ele não mexa.

               O único lugar da casa que Fernando não costumava mexer era nas gavetas de Catarina. Até porque quem costumava arrumá-las sempre era eu, já que Irminha jamais abria nossas gavetas, sempre dizendo que não gostava de mexer em nossas coisas pessoais. Eu sempre disse que era besteira, mas naquele dia me senti aliviada por ela pensar assim. Seria o único lugar da casa seguro o suficiente para esconder uma coisa como aquela.

- Lety... Tenho mais um presente para você. – Luigi abaixou o vidro e me mostrou um gel, que comprou na loja.

- Eu não quero isso! – Falei rindo.

- Não seja boba! Diz aqui que dá uma sensação de... Frio!

- Não preciso disso. – Balancei a cabeça rindo.

- E se contenha até amanhã! – Carolina se debruçou sobre Luigi para que eu a visse de dentro do carro. – Lembre-se que precisa ser a surpresa completa.

- Tudo bem. Eu consigo me segurar. – Ri.

- Aproveite, Lety! E nos conte como estão os preparativos para amanhã!

- Tudo bem!

- Até logo! – Márcia buzinou e aumentou o som do carro, acelerando exageradamente.

               Balancei a cabeça e ri, vendo a poeira pelo caminho que ela passou baixar.

- Oi Spike!

               Antes que ele pulasse em mim e quase me jogasse ao chão, subi as escadas e entrei em casa, procurando por Irminha e Catarina. Segui para a sala de estar e vi as duas sentadas ao tapete, enquanto brincavam.

- Isso, muito bem! – Irminha comemorava algo que Nina havia feito.

- Olá!

- Lety! – Irminha sorriu. – Não ouvi você chegar.

- Demorei muito?

- Para dizer a verdade nem vi a hora passar. – Ela riu, levantando-se.

- Ela se comportou? – Me abaixei ao lado de Catarina e acariciei seus cabelos.

- É claro. Sempre comporta, não é Nina?

- É! – Respondeu animada, sem tirar a atenção dos seus brinquedos.

- Fernando já chegou?

- Ainda não.

- Pode olhar ela por mais alguns minutos? Preciso de um banho.

- É claro!

- Obrigada! – Olhei para Nina. – A mamãe já volta para brincar com você, ta bom?

- Ta bom!

               Por mais que ela apenas repetisse o que pedíamos, era sempre gratificante ouvi-la conversando tão à vontade. Subi as escadas e fui diretamente para o quarto de Catarina, para guardar aquele “presente” o mais rapido possível. Tirei a fantasia da sacola e a olhei.

- Só vocês para me induzirem a algo assim. – Balancei a cabeça, rindo.

               Abri a ultima gaveta, que costumava ser a mais cheia com as roupas mais usadas de Nina, e escondi a fantasia bem ao fundo, debaixo de todas as roupas. Por sorte a fantasia era “pequena” e prática de guardar, e eu consegui escondê-la bem. Me senti péssima por estar escondendo coisas daquele tipo no quarto da minha filha de três anos, mas por sorte ninguém descobriria, e apenas a minha consciência pesaria depois. Isso se Fernando não gostasse da surpresa.

               Fechei a gaveta e juntei alguns brinquedos que estavam espalhados no chão. Ouvi as vozes de Irminha e Nina do primeiro andar, e sorri inevitavelmente. Ela era sempre tão falante, mesmo que na maioria das vezes fosse difícil entender o que ela dizia, por falar tanto e tão rápido. Guardando os seus bichinhos de pelúcia, logo as lembranças vieram em minha cabeça, e eu pensei em como o tempo passava rápido.

 

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               Fernando chegou exausto do trabalho e se jogou no sofá da sala. Não sabia qual sensação o incomodava mais: a de cansaço ou a fome que estava fora do normal. A casa estava silenciosa, e por já ser altas horas da noite ele imaginou que Lety já tivesse adormecido. Ela tinha o costume de esperá-lo, mas desde que Catarina nasceu ela não conseguia agüentar por muito tempo e acabava se entregando ao sono depois de fazê-la dormir. Cansado depois de um dia inteiro andando de um lado para o outro nas obras, Fernando deitou a cabeça no sofá e por alguns segundos pareceu adormecer. Mas, o barulho de passos o despertou, e assim que abriu os olhos, viu Lety parada na porta carregando Catarina.

- Pensei que já estivessem dormindo. – Disse sorrindo.

- Ainda não.

               Lety parecia diferente. Estava com um sorriso alargado em seu rosto, que normalmente era resultado de algum acontecimento muito bom.

- O que foi? – Fernando perguntou notando o sorriso dela.

- Temos uma coisa para te mostrar.

               Fernando se preparou para se levantar, mas Lety o interrompeu.

- Não se levante. – Falou rapidamente. – Fique aí onde está.

               Sem entender, Fernando continuou sentado ao sofá, escorando-se em suas pernas. Observou Letícia colocar Catarina no chão, que parecia animada e ansiosa com a presença do pai. Lety segurou suas mãos, como costumavam fazer quando a colocavam no chão, mas um pequeno detalhe fez Fernando dar um pulo do sofá. Lentamente Lety soltou as mãos de Catarina, e ela deu passos lentos na direção de Fernando.

- EU NÃO ACREDITO! – Fernando exclamou abismado.

               Catarina pareceu achar graça do espanto de Fernando, e assim que gargalhou, caiu sentada no chão. Fernando imediatamente a pegou no colo e a olhou orgulhoso.

- Ela está andando! – Fernando repetiu para que ele mesmo pudesse acreditar.

- Sim! – Lety respondeu emocionada.

- Mas... Quando? Quando isso aconteceu?

- Hoje a tarde quando Irminha e eu brincávamos com ela na sala. Ela simplesmente se apoiou no móvel e deu passinhos em nossa direção.

- Eu... Não acredito! – Fernando beijou o rosto da pequena. – Filha, você está andando!

               Lety se aproximou dos dois e Fernando a puxou pela cintura, também beijando seu rosto.

- Eu sabia que ficaria feliz! – Lety sorriu, abraçando-se aos dois.

- Eu não acredito que perdi isso... – Ele a olhou.

- Não pense nisso. Você acabou de presenciar.

- Mas eu não vi os primeiros passos...

- Mas o dia não acabou, então esses ainda são considerados os primeiros passos. – Lety riu.

- Tem razão. – Fernando suspirou. – Nem acredito que minha menininha já está andando.

- E está cada dia mais esperta!

               Os dois a olharam orgulhosos enquanto Catarina se divertia com o botão da camisa de Fernando.

 

 

 

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               Eu estava ansiosa para o dia seguinte. As coisas não saíram exatamente como eu planejei, mas eu tinha certeza que no dia seguinte tudo daria certo. Fernando não me escaparia. À noite, depois de Nina adormecer, Fernando chegou em casa. Eu estava na cama lendo o livro quando ele chegou tirando o seu paletó suspirando, sinais de que estava cansado e desmaiaria assim que deitasse.

- Oi. – Falei fechando o livro.

- Oi. – Respondeu sem animo. – Como estão as coisas? – Perguntou vindo em minha direção, beijando minha testa.

- Normais. – O olhei. – Parece cansado.

- A reunião foi um porre. E Márcia e Carolina inventaram de se atrasar, Omar e eu tivemos que carregá-la nas costas enquanto não chegavam.

- Ah... – Sorri sem jeito. – Não vai comer alguma coisa?

- Não. Só quero tomar um banho e dormir.

- Tudo bem.

               Nada. Nem um “feliz aniversário” ou qualquer frase romântica. Pelo visto ele realmente não se lembrava do nosso aniversário. Eu pensava que assim a surpresa seria ainda melhor, mas começava a me sentir frustrada por isso. Fernando estava de certa forma distante, e cansado demais para comemorarmos ao menos o resto da noite. Eu não me importava com presentes, mas ser paparicada era uma das coisas que eu mais gostava em nossos aniversários. Mas, pelo visto, aquele ano não seria assim. Decidi apelar para as indiretas, e talvez assim ele percebesse que se esqueceu.

- Hoje é dia 15? – Perguntei quando ele entrou no banheiro.

- Sim. – Respondeu simplesmente.

               Primeira indireta descartada. Esperei que ele tomasse o seu banho para pensar em algo melhor. Será que ele está tão cansado que nem ao menos percebe as indiretas? Assim que saiu do banho, o observei seguir até a cômoda para pegar sua calça de pijama.

- Estranho... Não tem a sensação de que esquecemos algo hoje?

               Assim que fechou a gaveta ele virou-se para mim. Por um segundo pensei que ele perceberia, mas...

- Não. – Respondeu vestindo sua calça. – É realmente estranho.

- Eu estou com a sensação de que esqueci algo importante.

- Não esqueceu o fogão ligado?

- Não.

- Esqueceu de dar banho em Catarina?

- Não. – Respondi impaciente.

- Então realmente não sei o que pode ter esquecido. Pode ser só uma sensação.

- É...

               Fernando deitou-se ao meu lado e se cobriu. Nem ao menos virou-se para mim para um “boa noite” digno, como costumava fazer. Irritada, coloquei o livro sobre a cômoda e apaguei o abajur. Me virei para certificar de que ele não estava fazendo uma pegadinha, mas para o meu maior desanimo, ele já estava dormindo. Deitei irritada no travesseiro e fiquei de costas para ele, pensando se ele ainda merecia a surpresa do dia seguinte.

 

 

                                                                          •••

 

 

- Ele não se lembrou, Carol! – Falei indignada enquanto preparava a mamadeira de Catarina.

- Ele só deve estar muito cansado com o trabalho. Hoje quando você mostrar a surpresa para ele, você vai ver... Ele vai pedir desculpas por não se lembrar.

- Sinceramente, eu não sei se ainda quero fazer a surpresa. Ele está tão cansado que o desanimo dele está passando para mim.

- Não diga isso! – Carolina praticamente gritou e eu tive que afastar o telefone do ouvido. – Ele vai adorar a surpresa, Lety!

- Tudo começou a dar errado a partir do momento que não pude fazer a surpresa na data certa.

- Não se preocupe com isso. Isso não vai diminuir o fato de que ele vai amar.

- Você acha mesmo?

- Claro que sim!

               Dei um longo suspiro.

- Tudo bem... Mais tarde eu ligo para avisar como estão as coisas.

- Certo. Até mais.

               Desliguei o celular e peguei a mamadeira de Catarina. Depois da frieza de Fernando na noite anterior, acordei totalmente desanimada à fazer a surpresa. Mas, como Carolina disse, já estava tudo pronto, e no final valeria a pena. Isso é, se ele não estivesse cansado demais para a surpresa. Ah... Droga! E se eu preparasse tudo com todo o carinho e ele não desse a mínima? Eu ficaria ainda mais desanimada e magoada, e o nosso aniversário de casamento (que já não começou muito bem) iria por água a baixo.

               Desanimada e pensativa, segui para a sala onde Fernando estava com Catarina, mas parei à porta quando vi os dois no tapete da sala, brincando. Me escorei ao portal e sorri admirando a relação que os dois tinham. Catarina estava sentada mostrando os seus brinquedos à Fernando, e ele deitado ao seu lado, participando empolgado da brincadeira. Foi então que tive certeza de que Fernando merecia uma surpresa, e era o mínimo que eu poderia fazer por ele. Além de ser um marido maravilhoso, carinhoso e atencioso, ele também era um excelente pai, e eu sempre ficava derretida quando via os dois a sós, tão à vontade, sem ao menos notarem minha presença.

- E onde está o peixe? – Ele perguntou animado.

- Aqui! – Catarina pegou um brinquedo em formato de peixe.

- Muito bem, meu amor! – Comemorou lhe dando um carinhoso beijo no rosto. – E esse aqui, qual é?

Catarina pegou outro brinquedo.

- A vaca! – Respondeu animada.

- Você é esperta igual a mamãe!

- Igual a mamãe?

- É, igual a mamãe! – Fernando riu, e só então olhou em minha direção, percebendo que eu estava ali parada. – Oi! – Sorriu.

- Oi. – Continuei sorrindo, olhando-os.

- Estamos aprendendo sobre os animais.

- Eu notei.

- Quer se juntar a nós?

               Suspirei orgulhosa e me aproximei, colocando a mamadeira em cima da mesinha de centro e me juntando aos dois no tapete.

- Mamãe! – Exclamou Catarina.

- Oi, meu amor! – Sorri. – Está brincando com o papai?

- Sim! Papai, aqui o cavalo! – Disse entregando outro brinquedo à Fernando.

- Ah... O cavalo! Igual o da casa da Vovó Estefânia, não é?

- Sim!

               Vê-la tão falante e repetindo tudo o que dizíamos me trouxe lembranças de quando ouvimos sua primeira palavra...

 

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               Era uma linda manhã de domingo. As duas famílias estavam reunidas no jardim para um almoço preparado por Lety. Como todos os almoços em família, aquele também se mostrava animado, sempre com ótimas lembranças durante a refeição. Fernando estava com Catarina em seu colo enquanto dividia sua atenção em lhe dar a papinha e em dar gargalhadas com as histórias de Erasmo e Tomás sobre a infância de Lety. Por mais que ele já soubesse de quase todas as histórias da vida de sua esposa, seu sogro sempre aparecia com uma ainda mais divertida, que constrangia Lety e arrancava gargalhadas do restante da família.

- E ela saiu com uma calcinha amarrada no cabelo, como se fosse um prendedor. – Tomás contou e todos gargalharam.

- Eu não acredito que você fez isso! – Fernando disse ainda rindo.

- Isso não é coisa que se conte durante o almoço, Tomás. – Lety disse afundando-se à cadeira.

- Mas foi engraçado. – Tomás riu.

- Lety como sempre nos surpreendia com suas idéias. – Disse Dona Julieta.

- E ainda nos surpreende, não é? – Tomás brincou, levando um tapa da amiga que estava sentada ao seu lado. – Ok! Eu parei!

- Poderiam parar de me difamar ao menos um pouco! Terezinha, por que não conta algo vergonhoso de Fernando também?

- Eu não me lembro de algo desse nível. – Terezinha riu.

- É claro! Eu nunca saí com uma cueca na cabeça. – Fernando brincou.

- Você é um bobo! – Lety exclamou balançando a cabeça. – Filha, não escute essas coisas que o papai diz, ok?

               Enquanto todos à mesa gargalhavam, Catarina murmurou algo que não era apenas uma “palavra indecifrável” como costumava fazer. Todos se calaram pensando ter escutado a mesma coisa, mas ninguém foi capaz de dizer. Lety olhou assustada para Fernando e ele abaixou sua cabeça para Catarina, não muito diferente dos outros.

- Você disse...? – Fernando não terminou sua frase.

- Nina, o que você disse, meu amor? – Lety perguntou.

- Repete para o papai! – Insistiu Fernando.

- Papai... – Murmurou, sem dar muita atenção aos outros. Parecia mais interessante brincar com o guardanapo sobre a mesa.

               A pobre garotinha mal sabia que uma simples palavra fez toda a mesa se explodir em alegria, fazendo Fernando e Lety se levantarem para comemorar.

- Ela disse a primeira palavra! – Fernando exclamou animado. – E foi papai!

- Ai meu Deus! – Lety disse emocionada. – Eu preciso... Preciso anotar isso no álbum dela!

- A primeira palavra da princesinha! – Dona Julieta também estava emocionada.

               De repente todos se levantaram e rodearam a pequena Catarina, que em poucos segundos mudou todo o repertório do almoço. Antes, a alegria era causada pelas histórias divertidas sobre Lety, depois, a alegria era ainda maior pela comemoração da sua primeira palavra. Fernando e Lety estavam ambos emocionados e orgulhosos, mas o coração de Fernando estava prestes a explodir de felicidade. Saber que a primeira palavra de sua filha foi “papai” era algo para se lembrar pelo resto da vida... E ele se lembraria.

 

 

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               Catarina revirou os seus brinquedos e pegou sua boneca preferida para me entregar.

- Essa é a mamãe!

- É a mamãe? – Fernando perguntou divertido.

- Ah... Que linda! – Peguei a boneca. – Ela parece com a mamãe?

               Catarina riu e voltou sua atenção para os brinquedos.

- Realmente, parece a mamãe... – Olhei para a boneca completamente descabelada depois de tanto ser arrastada por toda a casa.

               Fernando riu.

- Pobrezinha, precisa de cuidados. – A coloquei em cima do sofá. – Eu também.

- Posso ajudar nisso. – Fernando sentou-se, me olhando maroto.

- Ah é? – Sorri divertida. – E como vai fazer isso?

               Fernando se aproximou, e quando estávamos prestes a nos beijar ele abaixou sua cabeça olhando para o seu relógio.

- Ah! Estou atrasado! – Disse se levantando, sem ao menos terminar o que havia começado.

- Atrasado? Pra que? – Perguntei.

- Preciso ir à uma obra. – Respondeu vestindo o seu paletó.

- De novo? E vai ficar até tarde hoje de novo? – Perguntei com certa arrogância.

- Eu não sei, provavelmente não. Mas, de qualquer maneira, não me espere para o jantar.

               Ótimo! Quando eu finalmente estava convencida de fazer a surpresa, ele volta a me tratar com desprezo.

- Não vou. – Respondi indiferente.

- Agora o papai vai trabalhar... – Ele pegou Catarina no colo e a encheu de beijos, arrancado gargalhadas dela. – Se comporte, hein!

- Tchau papai!

               Fernando se inclinou e me entregou Catarina. Pensei que ele ao menos me daria um beijo de despedida, mas ele logo se afastou, parando apenas na porta da sala.

- Me ligue se precisar de alguma coisa, ok?

- Tá. – Respondi fria.

- Tchau!

- Tchau...

               Nem ao menos fiz questão de Catarina dizer “tchau” como sempre fazíamos. E ele também não pareceu sentir falta disso, porque logo depois saiu às pressas. Insensível! Eu estava planejando uma surpresa romântica para ele, e ele me tratava com tanta frieza.

- Mamãe, um beijo! – Catarina segurou meu rosto.

- Beijo?

- Beijo! – Ela beijou o meu nariz.

- Ah! Ao menos alguém se lembra de me dar um beijo! – Sorri, iniciando uma sessão de cócegas.

               Ouvir as gargalhadas de Catarina sempre me animavam, mesmo em momentos como aquele.



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