Ei, você aí
Podemos ir para o próximo nível?
Querida, você se atreveria?
Não tenha medo
Porque se você pode dizer as palavras
Eu não sei por que eu me importo
(...)
Eu estou aqui
Os dedos tamborilando na perna pálida revelavam a impaciência e ansiedade de Isabel. Os olhos verdes olhando ao redor, procurando pelos fios cor de areia de Farlan na multidão praticamente correndo para fora do campus em uma bagunça visual que piorou ainda mais a ansiedade da ruiva.
Depois de confirmar a situação com o quinto teste seguido, não houveram mais dúvidas. Isabel está inegavelmente grávida e suportar, na última semana, cada dia sozinha e sem o apoio do namorado foi quase insuportável.
Ela está feliz, claro que esta, é um bebê e Isabel sempre amou crianças, no entanto a adolescente nunca imaginou que teria seus próprios filhos tão cedo, antes de qualquer estabilidade funcional em sua vida, antes mesmo que tivesse certeza de qual profissão seguir, antes mesmo de imaginar um futuro tão distante com Farlan.
Ela estava vivendo o momento, sendo feliz, aproveitando as boas oportunidades quando fez sexo pela primeira e única vez, como foi possível? Eles usaram proteção, mesmo que no final não tenha dado muito certo, ela tomou um remédio indicado por Levi e tinha até mesmo menstruado alguns dias depois.
Ou sangrou o que achou ser menstruação, o que piora toda a situação, estar grávida na adolescência já é ruim o suficiente, Isabel não quer pensar que pode ter gerado qualquer problema físico no bebê por conta de seu erro mal calculado, ela nunca se perdoaria se algo do tipo acontecesse.
Respirando fundo, a ruiva apertou as mãos com força, sabendo muito bem que estava na hora, ela precisava de acompanhamento médico, precisava contar aos seus pais e principalmente, precisava do apoio de Farlan, do abraço reconfortante do loiro que sempre era tão gentil e compassivo, Isabel precisa mais do que nunca da calmaria do namorado.
– Isa? – Farlan surgiu com dois livros a tiracolo, escolhidos recentemente na biblioteca. – Você está bem?
– Sim. – Respondeu quase imediatamente, recebendo um arquear de sobrancelha de Farlan, que não acreditou.
– Tem certeza?
– Uhum. – Sorrindo para disfarçar sua apreensão, Isabel balançou as mãos antes de agarrar o braço do loiro entre os dedos. – Será que podemos ir até o lago antes de ir para casa?
– Claro, podemos ir lá sempre que você quiser. – Farlan sorriu suavemente antes de beijar os lábios da ruiva em um selinho carinhoso. – Você está mesmo bem?
Só movendo a cabeça, Isabel andou na frente, evitando os questionamentos até ser seguida pelo garoto levemente confuso que suspirando, seguiu em frente sem perguntar muito mais.
O lago não é longe, apesar do campus se localizar no meio da cidade, não muito longe existe um parque verde com um pequeno lago escondido nos fundos, a cor é de um azul royal intenso, escuro e profundo com diversos peixes vivendo nele, o ambiente ao redor com bastante verde, desde a grama sob os pés até às árvores altas com pequenos banquinhos de madeira. Em um desses estava riscado as iniciais de Farlan e Isabel, lugar onde se encontravam sempre que queriam ficar sozinhos.
– Amo a calmaria desse lugar, nem parece que estamos no meio da cidade. – Isabel sussurrou, quase como se não quisesse despertar a paz natural ao redor. – É incrível que sempre esteja vazio.
– Meu pai me trazia aqui muitas vezes, fazíamos piqueniques, ele me ensinou a soltar pipa e a andar de bicicleta. – Isabel sorriu, o rosto aconchegado no peito do namorado em meio ao abraço confortável, os dois sentados no banquinho com suas iniciais. – Quando meus pais se separaram, vim até aqui para pensar.
– É seu refúgio. – Isabel disse e Farlan anuiu em concordância. – Por isso me trouxe aqui quando começamos a namorar?
– Te trouxe antes, não lembra? – Corando e desviando o olhar, Farlan coçou a garganta quando a ruiva riu. – Armin e Levi não tinham ideia do que estava acontecendo, isso era óbvio, mas você, Isa, eu achei que tinha percebido.
Isabel riu mais alto do biquinho que se formou nos lábios rosados de Farlan, a voz melodiosa fazendo eco no lugar quase vazio se não fosse pelos dois.
– Você é um romântico. – Ela acusou, ainda recebendo um biquinho chateado.
– Você não gosta?
– Eu amo. – O sorriso de Isabel se desmancha lentamente. – Tudo que você fez por mim… é incrível.
– Isa… – Juntando as sobrancelhas, Farlan se aproximou para beijar a namorada, que cerrou os olhos, ainda movendo os lábios e falando.
– Você é tão gentil, compreensivo, autêntico e calmo… – Seus lábios estavam próximos enquanto Farlan sentia um misto de orgulho com constrangimento, confuso e sem saber como reagir às falas. – Você cuidou de mim, cuidou do Levi e até do Armin, do jeito que pôde, mesmo sem saber de nada, você sempre faz tudo ser incrível, tudo que você fez, Farlan…
Mordendo os lábios, Isabel sentiu seus olhos marejados ao olhar para cima, encontrando o azul como o céu e como o mar, limpos e refletidos de afeto.
– Até o bebê que fizemos, tudo é incrível e eu não me sinto nada menos que orgulhosa em ser sua namorada. – Piscando lentamente, Isabel se viu angustiada enquanto as palavras faziam sentido para Farlan, ela viu nos segundos que se passaram cada mudança no rosto bonito, os olhos bonitos se estreitando, as sobrancelhas formando um vinco entre elas, a boca se abrindo em surpresa e o corpo ficando tenso contra o seu, tão honesto em suas emoções como sempre, Farlan não foi capaz de esconder seu choque.
Isabel então tremeu, incerta e insegura, ela não sabe o que esperar do namorado e da situação ao todo, ela não sabe como se sentir ainda – talvez a ficha não tenha caído? –, ela não sabe o que fazer, a realidade até o momento não tinha batido em sua porta, mas com a expressão de Farlan algumas questões surgiram com força.
E se ele não quisesse ser pai? E se Farlan ficasse tão aterrorizado a ponto de fugir, terminar o relacionamento ou fingir que nada aconteceu? O que ela faria se fosse deixada sozinha? O que seria de Isabel se Farlan pedisse para abortar? A ruiva não sente que conseguiria realizar algo assim.
– Ei. – A voz mansa surgiu em seus ouvidos, fazendo Isabel piscar confusa, percebendo estar tão tensa quanto Farlan, pequenas lágrimas descendo de seus olhos. – É isso mesmo? Isa…
– Sim. – Eles se encararam, emocionados e com lágrimas rolando pelo rosto, não é fácil. – Me desculpe…
Farlan juntou ainda mais as sobrancelhas, parecendo bravo.
– Não fale como se isso fosse ruim, como se você tivesse cometido um erro. – determinado, Farlan agarrou o rosto de Isabel entre seus dedos trêmulos. – Eu estou apavorado, morrendo de medo, não sei o que fazer, Isa, é uma notícia surpreendente.
– Mas? – Os olhos verdes brilharam com carinho quando Farlan sorriu de um jeito lindo.
– Mas é você, eu te amo e quero estar ao seu lado nesse momento, por mais difícil que seja, acredito que possamos superar isso, juntos. – Mordendo o lábio com força, Farlan riu baixinho. – Seus pais vão me matar, os três.
– Eu amo você. – Isabel disse, ignorando a última frase do namorado, ela não quer pensar sobre isso agora. – Eu também estou com medo.
– Nós vamos conseguir, ok? Fizemos isso e vamos lidar com as consequências. – Ficando sério, Farlan desviou os olhos para o lago. – Eu posso parar de estudar e começar em um emprego, precisamos comprar roupinhas, berço, cobertores e fraldas? Muitas fraldas, meu Deus, Isa, seremos pais! – Isabel tentou segurar, mas foi impossível não rir do desespero de Farlan, que sacudiu os braços. – Você precisa ir ao médico, não é? Fazer aquele exame de ver por dentro…
– Ultrassonografia? – Rindo suavemente, Isabel foi quem agarrou Farlan desse vez, obrigando-o a encarar seu rosto. – Ei, Farlan, acho que vamos conseguir.
– Você acha? – Olhos azuis brilhavam, cheios de lágrimas e amor.
– Com certeza. – Suspirando, Isabel olhou para o lago. – Devemos contar a alguém.
– Sim. – Suspirando também, Farlan se ajeitou no lugar. – Levi? Armin?
– Eles já sabem. – Mordendo a bochecha, Isabel deu de ombros. – Desculpe não te contar antes, eu estava nervosa…
– Tudo bem, não estou bravo com isso, você fez o que achou melhor.
– Sim, mas ainda acho que devemos contar a alguém. – Mordeu os lábios. – Levi disse que poderíamos tentar falar com o dindo primeiro, ele ajudaria com nossos pais…
– O Eren? – Farlan murmurou, pensando no moreno alto e sorridente, no jeito que ele sempre tratou Isabel com muito carinho, dando máxima atenção e fazendo todas as vontades dela e na forma como ele sempre parecia saber o que todos estavam pensando com seu olhar intenso. – Ele parece bem, você tem certeza disso?
Farlan não quis dizer em voz alta que estava com medo do Jaeger ficar decepcionado com a ruiva, ele sabe que a menina não lidaria bem com isso, seria doloroso assistir.
– Sim, acho que Levi tem razão… – Farlan tombou a cabeça.
– Por que Levi de todas as pessoas diria isso? Ele sempre parece distante quando Eren está por perto.
– Parece que o homem mais velho que Levi tem um caso é Eren. – Isabel suspirou, ainda um pouco confusa com a revelação enquanto Farlan arregala os olhos.
– É sério? – Isabel anuiu e um silêncio confortável se instaurou por um tempo, os dois olhando para o lago, abraçados e carinhosos. – Acho que podemos fazer isso, então. – Farlan disse por fim.
– Podemos fazer isso hoje? – Isabel sendo ansiosa como sempre, sabia que precisava contar o mais rápido possível, eles não tem muito tempo para isso mais.
– Claro. – Farlan respirou fundo e apertou a garota em seus braços, a cabeça doendo levemente enquanto pensa em tudo que deveriam fazer agora, no que seus atos coincidiram e do que seria feito seu futuro.
Em silêncio novamente, nenhum dos dois se mexeu para cumprir com as palavras ditas, mergulhados na paz que os cercava, aproveitaram mais um pouco disso.
&&&
A tarde estava sendo estranha na opinião de Eren. Depois de ter um dia relativamente calmo no trabalho – o que tem sido raro – e ter tempo para bater papo a vontade com Levi por meio de mensagens e figurinhas idiotas, o moreno não imaginou que encontraria Armin quando convidado por Mikasa para um café em um quiosque próximo ao centro.
Os dois pareciam muito próximos quando o moreno chegou e mesmo que estivesse feliz por Armin ter conseguido o emprego, Eren não pôde deixar de se surpreender com a forma como Mikasa parecia à vontade com o loiro, os ombros relaxados e um mínimo sorriso nos lábios ao falar com ele.
Além do claro flerte que sempre surgia entre os dois, sutil, mas não o suficiente para passar batido pelo Jaeger. Não quando ele próprio agia exatamente como Mikasa quando estava com Levi.
Parece que ele não é o único a ser contagiado pela juventude alheia.
– Do que está sorrindo? – Mikasa perguntou, as sobrancelhas bem desenhadas arqueadas em sua direção. – Você parece um idiota.
Armin riu das palavras e Mikasa mudou sua atenção para o loiro, sorrindo do som.
– Desculpe. – O assistente corou, coçando a garganta constrangido enquanto Mikasa balançou a cabeça, negando.
– Não precisa se desculpar por se divertir, Eren é sempre idiota assim, não te culpo. – Eren levantou a sobrancelha com as palavras de Mikasa, que falava dele mas olhava para Armin, a voz saindo em um tom baixo quase rouco, quase como se ela estivesse ronronando para o loiro, que retribuiu o olhar de baixo para cima, as bochechas rosadas.
– Sem querer interromper o estranho flerte de vocês. – Eren interrompeu, rindo quando Mikasa bufou e Armin engasgou. – Fui convidado para assistir isso? Sério?
– Você quer mesmo falar sobre-
– Dindo! – No momento certo, Isabel surgiu, interrompendo Mikasa ao se aproximar de mãos dadas com o namorado. – Mika, Min!
– Isa, Farlan. – Armin cumprimentou, estando mais perto foi o primeiro a se levantar e ser abraçado pelo casal. O loiro lançou um olhar preocupado para os dois, que apenas encolheram os ombros, deixando de aviso que não era para tocar no assunto no momento, Armin assentiu e voltou ao seu lugar enquanto Isabel espremia Mikasa e por último, Eren nos braços.
O moreno sorriu feliz com a presença da afilhada, beijando as bochechas gordinhas dela e bagunçando os fios ruivos.
– O que faz aqui? – Eren perguntou ainda sorrindo. – Eai garoto? – Cumprimentou divertido Farlan, que se encolheu constrangido, mas respondeu baixinho.
– Levi disse que você estaria aqui tomando café. – Isabel deu de ombros, Mikasa cruzou os braços encarando Eren e Armin levantou as sobrancelhas.
– Levi? – O loiro tombou a cabeça. – Mas Levi não está aqui.
– Eu sei. – Isabel então riu enquanto Eren corava em seu lugar, fazendo beicinho. – O dindo conta tudo para ele o tempo todo. – Isabel riu mais abertamente junto de Armin e Mikasa enquanto Eren apenas estalava a língua.
– E porquê estava me procurando? – Decidido a mudar de assunto, Eren ignorou as provocações, ele não daria o gostinho a nenhum deles. – Está tudo bem?
– Na verdade… – Farlan tomou a frente, surpreendendo Isabel. – Gostaríamos de conversar com o senhor.
Eren entortou o rosto e Mikasa riu.
– Senhor? Não sou tão velho assim. – Balançando a cabeça, Eren se levantou de onde estava, se colocando ao lado do casal de adolescentes. – Podemos conversar no meu escritório, você parece sério, Farlan.
O citado apenas acenou com a cabeça.
– Mikasa vai pagar a conta. – Sorrindo debochado, Eren deu um tchauzinho enquanto andava em direção ao estacionamento junto dos outros dois, ignorando completamente o "idiota" xingado de Mikasa e a risada tímida de Armin.
Eles faziam um bonito casal, opostos e com uma diferença de idade grande, porém com química suficiente para ultrapassar qualquer um desses fatos e por mais preocupado que Eren seja com Mikasa, ele nunca se colocaria no lugar de atrapalhar ou se meter nas relações dela, não quando ele faz a mesma coisa.
Quando ele e Levi também são vistos do mesmo jeito, como um casal…
Um casal, hein?
Algo estalou na mente de Eren enquanto passa bem ao lado de uma loja em específico, seus olhos verdes brilhando com a ideia que surgiu.
Talvez esteja na hora de levar isso para o próximo nível, contar a Levi o que sente e tentar, eles poderiam, não é?
– Levi te contou, então? – Perguntou ao casal que estava ao seu lado, Isabel seguiu seu caminho, também encarando a loja antes de olhar para Eren de volta.
– Sim e foi um pouco chocante. – Isabel sempre foi honesta demais, então Eren não se incomodou. – Gosto de saber que vocês estão tão próximos assim, quero dizer, mesmo você sendo meu padrinho e mais velho, sei que Levi precisa de alguém cuidando dele.
– Bom saber disso, querida, sua opinião importa para mim. – Eren sorriu afetuosamente.
– Ele parece bem com isso, eu acho. – Farlan comentou. – Mas ainda estou preocupado, ele anda tão distante…
– De qualquer maneira. – Isabel cortou o assunto, encarando o namorado em aviso. Eles não deveriam falar nada que o próprio Levi não quisesse dividir e quando Eren ficou em silêncio, foi como um acordo mútuo. – Vamos logo, estou morrendo de fome.
– Isso não é surpreendente. – Farlan murmurou, fazendo Eren rir e concordar.
Não demorou em achar o carro e dirigir rapidamente até o escritório, os assuntos divertidos e aleatórios que Isabel puxou no caminho distraíram Eren o suficiente para não se preocupar com todo o misterio cercando a conversa que aconteceria. Apenas quando entraram na sala espaçosa e Isabel e Farlan se colocaram nervosamente na frente de sua mesa, Eren pareceu notar qualquer coisa de errado, os olhos verdes estudando as duas figuras com interesse e confusão.
– Vocês parecem ansiosos. – Foi honesto, esperava receber o mesmo de Isabel. – Não vão sentar?
Sentando na própria cadeira, Eren encostou as costas no estofado macio enquanto apenas Isabel sentava no lado oposto a mesa de trabalho, Farlan permaneceu de pé ao lado da adolescente, as mãos fechadas na frente do corpo em um sinal claro de nervosismo.
– Parece que os dois estão prestes a se cagar. – Eren falou divertido, fazendo Isabel rir e Farlan bufar.
– É o tipo de coisa que seu namorado diria. – A ruiva provocou, falando baixo enquanto aperta as mãos no colo, os olhos presos na parede atrás de Eren.
– Precisamos contar uma coisa. – Farlan foi quem disse em um puxão forte de ar, o peito subindo e descendo rapidamente.
– Sim… – Eren inclinou o corpo para frente, apoiando o peso nos cotovelos apoiados na mesa, as sobrancelhas grossas agora juntas em curiosidade.
O Jaeger não esperava algo realmente grande no que quer que fosse a confissão dos adolescentes, ele tinha sido um adolescente – e um problemático! Eren sabe como as coisas podem acontecer e dar errado, crianças não medem consequência e está tudo bem, faz parte do aprendizado e não seria ele a pagar de moralista, esse papel ele deixaria para os pais dos dois.
– Então… nós… – Farlan parecia travado, o rosto vermelho e a voz embargando.
– Vocês…?
– Aconteceu uma coisa. – Isabel disse baixinho. – Fizemos…
– O que vocês fizeram? – Eren podia sentir sua paciência esgotando com a demora, não poderia ser tão ruim assim…
– Nó-nós… – Farlan engasgou outra vez.
– Estou grávida! – A ruiva interrompeu a gagueira repentina de Farlan, falando rápido e alto enquanto o rosto pega fogo e as mãos tremem. – Nós fizemos sexo e a camisinha ficou lá dentro, foi um acidente, não sabíamos que-
– Espera. – Eren cortou, rindo anasalado. – Que tipo de piada é essa, princesa?
– Não é uma piada. – Farlan murmurou, fazendo o Jaeger arregalar os olhos comicamente e cair de costas contra a cadeira, o peso pendendo para trás e a boca aberta como de um peixe. – Vamos ter um bebê.
– Sim. – Puxando o ar, Isabel pegou na não do namorado, olhando para o padrinho ainda chocado com determinação. – Eu decidi contar a você primeiro porque achei que entenderia, sei que é uma surpresa, mas não sou mais criança…
– E iremos nos responsabilizar pelo que fizemos, cuidaremos do bebê.
– Um bebê? – Eren murmurou, completamente perdido, os olhos correndo de um adolescente para o outro. – Não é possível, Isa… vocês são crianças.
– Eu tenho quase a mesma idade que seu amante, dindo, não seja hipócrita, nós dois sabemos que vocês fazem sexo. – Fazendo bico, Isabel cruzou os braços sobre o peito. – Vocês tem sorte de Levi não poder engravidar.
– Não é a mesma coisa. – Eren respondeu baixo antes de respirar fundo e se ajeitar no lugar.
– É absolutamente a mesma coisa. – A teimosia de Isabel faria Eren rir e cantarolar se a situação fosse diferente, se uma terceira vida não estivesse envolvida e se algo tão fodidamente grande não estivesse acontecendo ali.
– Acho que vocês não entenderam. – Cruzando as mãos no colo, Eren encarou Isabel e Farlan friamente antes de voltar a falar. – Eu não me importaria se dissessem que estavam transando ou qualquer coisa do tipo, sexo é natural, principalmente nessa idade e assim como nunca me meti em seu relacionamento, Isabel, eu não seria incoveniente em relação a isso. – A ruiva abriu a boca, mas Eren levantou a mão, não tinha terminado. – Mas nós estamos lidando com outra coisa aqui, outro ponto que acredito que nenhum de vocês pensou.
– Nós conversamos. – Farlan tentou apenas para receber o olhar arrepiante do mais velho, calando-se imediatamente.
– Vocês não têm a mínima noção do que é isso, não é? Da gravidade disso.
– Você só diz isso porque não quer ter filhos, por isso não deu certo com a tia Mika. – Isabel cuspiu, os olhos marejados de lágrimas e as mãos tremendo, não estava gostando da reação de Eren. – Não pode medir minha vida usando a sua como régua!
– Não estou medindo. – Eren respirou fundo, ignorando as palavras afiadas de Isabel, não se tratava disso, ele não queria discutir e brigar. – Eu te amo Isa e posso dizer que vocês dois podem contar comigo, eu nunca te abandonaria nessa situação.
– Mas? – Isabel perguntou entredentes, irritada por estar sendo tão rudemente tratada por seu padrinho, Eren nunca falou assim com ela antes.
– Mas eu não posso deixar de avisar que vocês vão ter que lidar com as consequências sim e que elas são um pouco piores do que estão pensando. – Eren se inclinou sobre a mesa outra vez. – Estou falando sobre vocês criando uma pessoa, dando atenção vinte e quatro horas, cuidando para que não se machuque, não morra de fome, frio, doença, engasgo, estou falando de vocês dedicando sua vida cento e noventa e nove por cento a alguém que não é você mesmo, sobre como vão passar noites em claro e dias correndo e mais do que isso, sobre como serão responsáveis por seu desenvolvimento, amadurecimento e ideias, criando um ser humano para o mundo, dando todo apoio, físico, emocional e financeiro sem pedir nada em troca…
Parando para puxar o ar, Eren então se levantou de onde estava, Isabel e Farlan permaneceram no lugar, olhos arregalados.
– Vocês vão estar cansados, irritados e sem dinheiro e não terão a quem pedir ajuda, seus pais não podem ser os pais dos filhos de vocês, entendem? Vocês serão a parte que fornece, vocês serão o apoio necessário. – Balançando a cabeça, Eren lançou um olhar chateado para a afilhada. – É por isso que eu escolhi não ter filhos e por sorte, não me aconteceu, sei que não é inteiramente culpa de vocês e por isso ainda estou aqui.
– Você está decepcionado? – puxando o ar com força, Isabel se forçou a se acalmar, deixando as palavras fazerem sentido e efeito em sua cabeça, pequenas lágrimas estavam em seus olhos quando perguntou, tão baixo que se não fosse o silêncio na sala, Eren não teria escutado.
– Não, eu não sinto isso. – Eren foi sincero. – Estou preocupado com vocês, tudo que falei foi para que entendam que a situação é pior do que estão achando, otimismo é bom, no entanto ainda assim vocês terão muito que lidar pela frente, não só com a criança, mas seus pais…
– É por isso que viemos aqui. – Farlan sussurrou, o rosto vermelho de vergonha e as mãos tremendo pelas palavras que escutou, Eren apostou que o loiro estaria surtando por dentro. – Isa acredita que pode ajudá-la a contar para os pais dela…
– Ela pode, mas você… – Entortando o nariz, Eren gostou da forma como Farlan estremeceu. – Você deve fazer seu papel e estar lá, garoto, não espero menos que isso de você, entende? Assuma suas responsabilidades. – Eren anuiu satisfeito quando Farlan acenou, recebendo com sucesso a ameaça velada.
– Vai mesmo fazer isso? – Isabel perguntou ainda emocionada, lágrimas agora escorrendo de seu rosto. – Eu estou com medo.
As palavras dolorosas foram o suficiente para quebrar o padrinho coruja, que correu até a menina para abraçá-la, quase pegando Isabel no colo com o aperto em seus braços.
– Eu vou marcar um jantar em família com seus pais e vou estar lá para te apoiar, você pode contar comigo. – Suspirando, Eren acariciou os fios vermelhos com carinho. – Farlan também deve ir e levar a família dele, infelizmente não poderei fazer muito, mas posso tentar amenizar as coisas.
– Muito obrigada. – Ignorando as lágrimas descendo de seus olhos, Isabel se afastou para olhar no rosto moreno. – Eles vão ficar bravos?
Trincando os dentes, Eren acenou com a cabeça, apertando novamente Isabel em seus braços.
– Vou fazer tudo que puder para ajudar vocês. – Infelizmente o Jaeger não podia fazer mais, Sasha surtaria e os outros dois provavelmente ficariam desesperados e ele não poderia culpá-los, mesmo enquanto segura Isabel em seus braços Eren não podia mentir sobre isso, seria ainda mais difícil a partir de agora.
&&&
A tarde refletindo no vidro da janela parecia bonita, as cores laranja, amarelo e vermelho se mesclando em um pôr do sol que em qualquer outro momento, atrairia Levi, mas agora tudo que fez foi arrancar um suspiro dos lábios finos e rachados do Ackerman, que andou de um lado para o outro mais um pouco.
Foi novamente até a geladeira, verificando o conteúdo e percebendo, pela talvez sexta ou sétima vez, não haver qualquer coisa alcoólica ali dentro.
Seus dedos estavam ardendo, alguns sangrando em carne viva depois de roer as unhas sem parar, as olheiras debaixo dos olhos evidentes e o estômago doendo de ansiedade e enjôo. Levi tinha trabalho bem cedo de manhã naquele dia, a rotina tinha sido agitada por ser fim de semana e depois de mais algumas conversas com Eren, Isabel e Armin, descobriu que alguma conversa tensa aconteceu entre os dois primeiros e que nesse mesmo dia eles contariam para os pais da menina sobre a gravidez.
Armin estava com Mikasa em alguma reunião de moda que ele não se interessou para prestar atenção – Como poderia quando estava tantos dias sem beber nada? Seu coração batia tão forte que Levi se tornou quase surdo para o mundo.
Sem nada para aliviar o aperto constante em seu peito e a sensação horrível em seu corpo, Levi se viu entrando em uma espiral de desespero, a rotina o impediu de comprar e agora em casa, ele tentou se segurar antes de sair atrás de outra coisa.
Daria tudo para estar nos braços de Eren agora, com certeza o moreno o acalmaria com gentileza e o faria esquecer do mundo, da dor e de qualquer outra merda. Seus dedos comidos não incomodariam mais, seu cansaço seria um detalhe e ele poderia até sorrir, ficando aliviado na presença do moreno assim como ficava quando estava lutando.
Foi realizador e assustador ao mesmo tempo perceber o quão afetado por Eren sempre estava, Levi não conseguia mais se afastar, se pegando sempre pensando em quando falaria ou veria o moreno, não só apenas para sexo, mas para ouvir a voz rouca, sentir o cheiro amadeirado ou aproveitar a presença do homem mais velho.
Levi se viu ansiando por coisas pequenas, por algo que ele não deveria, melhor, não merecia, ele não merece a afeição de Eren, a paciência e a calma.
Por isso não ligou ou mandou mensagem, ele não poderia atrapalhar o momento em família com suas besteiras, seria demais, Eren não tem qualquer obrigação de ajudá-lo em momentos confusos, ele é apenas-
O toque de Mike foi facilmente reconhecido e movido ao impulso, Levi não pensou quando agarrou o celular, os dedos desbloqueando a tela rapidamente para revelar a mensagem simples do loiro.
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Connie tinha acabado de retirar as roupas brancas quando Nicolo entrou no quarto, os dois se encararam por um segundo antes do mais baixo desviar os olhos, guardando as peças rapidamente debaixo do olhar aguçado do loiro.
– Vai me ajudar com o jantar? – Nicolo perguntou casualmente, aparentemente mexendo em algo em uma das cômodas do grande quarto em conjunto dos três, a cama kingsize no meio bem arrumada. – Eren marcou um jantar e disse que viriam mais pessoas, estranho, não é?
– Isa também está estranha, se trancou no quarto desde que acordou, eu sei que ela não teve aula, mas… – Suspirando, Connie se vestiu rapidamente, se Inclinando para subir o jeans pelas coxas. – É realmente estranho.
– Sim. – Nicolo respondeu distraído o suficiente para fazer Connie se virar, confuso ao perceber o outro lhe encarando tão intensamente, um arrepio subiu pelas costas do careca.
– O que tanto olha?
– Você. – Sem rodeios, Nicolo disse de uma vez só, as bochechas ficando rosadas. – Se estiver cansado não precisa me ajudar.
– O turno foi tranquilo hoje. – Connie é enfermeiro, porém não trabalha em horário integral como os outros dois. Com a boa renda da família, o mais novo dos três não se importa em ficar em casa e fazer tarefas mais domésticas. – O que tem em mim?
– Não consigo parar de olhar, desculpe. – Nicolo mordeu os lábios, aparentemente nervoso mas não o suficiente para não ser honesto. – Tenho feito muito isso mas… não consigo mais me controlar, estou atraído e-
– Eu sei, percebi. – Por mais distraído que pudesse parecer, Connie achou difícil não reparar nos olhos cor de mel sempre presos em sua figura. – Acho que preciso pensar sobre isso.
– Sério? – Juntando as sobrancelhas, Nicolo de repente sorriu, deixando Connie confuso. – Isso não é um não.
– Você esperava um não? – O loiro deu de ombros antes de caminhar até a porta, ainda sorrindo Nicolo se virou uma última vez, encarando Connie antes de sair e abrindo a boca, mas nenhum som saiu atravez dela e sacudindo a cabeça e sorrindo outra vez, o loiro saiu, deixando para trás, sem perceber, um Connie também sorrindo.
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Eren segurou a mão de Isabel por baixo da mesa com força, a situação não poderia ser pior, porém mesmo assim o Jaeger manteve sua palavra de apoiar a adolescente, mesmo que concordasse com as palavras duras dos adultos na mesa.
Foi constrangedor chegar ali com o senhor Smith e Farlan a tira colo, principalmente quando os anfitriões nada sabiam sobre o motivo do jantar. No entanto tudo piorou quando Isabel enfim contou, Erwin já sabia e apesar de parecer um homem sério e calmo, ele se mostrou um tanto irritado e contrariado com tudo enquanto falava sobre o assunto.
Quando encontrou os dois homens mais cedo, Eren sentiu pena de Farlan, os olhos estavam baixos e a postura envergonhada enquanto seu pai, apresentado como Erwin Smith, um homem grande e de ombros largos, olhos frios e sobrancelhas gigantes, passou uma impressão intimidadora e irritada.
Mas Eren não culpou o senhor Smith por isso, Farlan seria pai aos dezessete e se fosse ele no lugar do loiro, com certeza estaria tão irritado quanto.
– Farlan não vai parar de estudar. – Erwin decretou em um tom de voz áspero que não deu vazão para ser contrariado, Sasha que parecia ainda em choque após a revelação, balançou a cabeça, piscando confusa enquanto a discussão se seguiu. – Vou dar todo o apoio financeiro necessário para o meu filho. – O suspiro foi irritado quando olhos azuis se encontraram, Farlan parecia prestes a chorar ali. – Vocês são duas crianças irresponsáveis, sim, mas ainda são crianças e precisam construir a vida de vocês e até lá, darei meu apoio.
– Isabel também não irá parar. – Nicolo respondeu tão friamente quanto sua voz gentil pôde.
– Mas- – A ruiva tentou argumentar, mas o tapa pesado de Sasha na mesa interrompeu qualquer raciocínio, atraindo a atenção de todos enquanto se levantava em seu lugar.
Sasha então surtou, jogando coisas no chão e falando alto antes de sair para se acalmar no banheiro, sendo seguida por Nicolo enquanto Connie jogava a cabeça para trás, esfregando os olhos e ignorando os outros na mesa.
Isabel parecia aterrorizada com a explosão de seus pais, eles que sempre foram gentis e calmos agora não estavam mais que desesperados com aquilo. Até o momento, a ruiva não tinha entendido toda a problemática da situação, mas agora ela não sente nada mais que culpa.
Ela não é filha biológica de qualquer uma dessas pessoas, sendo acolhida na infância quando seus pais morreram e a única família restante era Sasha, uma tia distante que aceitou acolhê-la e a tratou com todo o carinho por anos, assim como Nicolo e Connie. Isabel foi adotada logo no começo do casamento dos três e mesmo quando tudo parecia dar errado, eles se mantiveram fortes, como uma família deve ser.
Mas seus erros agora pareciam provar o contrário e desesperada, Isabel apertou as mãos de Eren debaixo da mesa, tremendo e soluçando.
– Acho que você precisa se acalmar, Sa. – Eren disse gentilmente, usando a mão livre para agarrar a de Sasha por cima da mesa, seus grandes olhos verdes de corça piscando na direção da mulher furiosa.
Sasha expirou e inspirou, olhando de Isabel para Farlan, ainda nervosa.
– Por favor. – Eren disse com seu tom de voz mais manso possível, quase cantarolando para a mulher.
– Acho que devemos lidar com isso como adultos. – Nicolo disse, assumindo o controle. – Se vocês foram adultos para engravidar, então deverão ser para criar, como o senhor Smith disse, daremos apoio financeiro, mas será apenas isso.
Connie anuiu e completou com mais algumas palavras, logo a conversa emendou e em alguns momentos, explodia em falas mais duras e altas, foi difícil lidar com o caos instaurado no jantar e por um momento, Eren sentiu vontade de sair correndo até Levi para se esconder no apartamento dele. Fugir da realidade e beijar a boca macia do pequeno pareceu incrivelmente tentador naquele momento.
Então quando tudo parecia controlado, Eren mal tinha comido, assim como todo o resto da mesa, Erwin e Farlan se despediram e o Jaeger acabou fazendo o mesmo, soltando a mão de Isabel para ir embora.
A ruiva precisava enfrentar os pais dessa vez, sozinha.
Dirigir até Levi foi quase instintivo e nesse momento, Eren se sentiu quase frágil, chateado demais para pensar em mandar uma mensagem ou avisar, ele apenas atravessou a cidade e foi, tudo para encontrar apenas Armin chegando no apartamento.
O loiro disse não saber onde estaria Levi e com um aceno decepcionado, Eren voltou para o carro, sentando no banco e jogando a cabeça para trás, mandou mensagens para Levi e esperou alguns minutos.
Nada.
Tentou ligar algumas vezes, mas a chamada nunca completou e depois de longos minutos, Eren sentiu suas mãos suando de preocupação.
Algo tinha acontecido? Levi estava perdido? Machucado? Ou estava chateado com ele? O que Eren poderia ter dito para chatear tanto o mais novo?
Mil perguntas encheram a cabeça de Eren que se viu ficando desesperado, as mãos agora apertando o volante com força enquanto apenas pensa no pior. Levi tinha dito que não trabalharia, que estaria em casa descansando.
E da última vez que ele sumiu desse jeito, Eren encontrou o garoto chorando na chuva.
Enviou mais mensagens e tentou ligar outra vez, mas a resposta foi a mesma de antes, as mensagens agora não chegando mais ao destino e as ligações encerrando antes mesmo de completar, como se Levi estivesse com o telefone desligado.
Teria descarregado? Sem área? Quebrado não poderia estar, Eren tinha dado um telefone novo para esse tipo de coisa não acontecer novamente.
– Por favor Levi… – Murmurou preocupado, ligando outra vez apenas para receber as mesmas respostas.
Inquieto, Eren então saiu do carro, pronto para falar com Armin para tentar iniciar uma busca pelo Ackerman, preocupado demais para pensar direito, Eren mal percebeu o próprio Levi chegando na calçada quando fez menção de entrar no prédio.
O alívio não durou muito tempo pois logo Eren percebeu o estado do garoto que chegava andando lentamente, trocando as pernas e tropeçando em si mesmo, os olhos caídos, as bochechas vermelhas enquanto murmura e ri para si mesmo até que esteja perto de Eren, quase caindo e sendo amparado.
– Levi… – Eren suspirou o nome, sentindo seu coração ainda mais acelerado que antes.
– É Eren? – Levi soluçou, sua fala fazendo o cheiro azedo de álcool e vômito subir, completamente embriagado o Ackerman não se importou com isso. – É você mesmo?
Como se quisesse testar a realidade, Levi apalpou o rosto moreno, seus dedos apertando a carne macia.
– Onde estava? – Perguntou, não recebendo resposta alguma, o que Eren já esperava, ninguém nesse nível baixo de consciência responderia, de qualquer forma.
Apoiando o corpo pequeno, Eren se deixou ser analisado enquanto faz o mesmo, olhos verdes estudando o rosto pálido de Levi, olhos azuis vidrados e vermelhos, boca entreaberta e lábios rachados, rosto manchado de algo que Eren sabia ser lágrimas, não estava tudo bem e isso estava óbvio.
– Eu procurei por você. – Levi sussurrou, os dedos descendo até os fios castanhos, brincando com eles. – Por que tem três de você? Porra, eu mal aguento um.
– Procurou por mim? – Eren se moveu, ajustando Levi em seu peito para carregá-lo até o apartamento.
– Claro que procurei. – Levi disse como se fosse óbvio. – Eu sempre quero você, mesmo quando ele me machuca.
– Ele? – Eren perguntou enquanto sobe as escadas com o peso em seus braços. Seu coração bate tão forte que Eren tem certeza que qualquer um poderia escutar, suas mãos suando em ansiedade e nervosismo.
– Mike, meu ex, ele me fudeu depois de me pagar algumas bebidas. – Arregalando os olhos, Levi pareceu ter percebido que falou demais enquanto Eren, com o corpo tenso, continuou andando, os olhos agora presos na parede, sem foco. – Eu, eu…
– Você deveria descansar. – Eren suspirou, magoado e cansado, a cabeça cheia demais para pensar muito agora. – Vem, vou te ajudar.
– Eren? – Armin apareceu na porta, confuso com a volta do moreno porém logo consciente ao perceber o pacote no colo do homem. – O que aconteceu com ele?
– Não sei bem, disse ter ficado com um tal de Mike e bebido com ele. – Eren desviou o olhar quando Armin arregalou as orbes azuis.
– Mike? Ah não… – Fechando a porta depois de Eren entrar, Armin seguiu o mais velho pelo corredor. – Eren…
– Está tudo bem.
Não estava, mas o que ele poderia fazer? Ele e Levi não tinham nada – oficialmente – e mesmo que Eren não tenha ficado com mais ninguém, isso não significou que Levi poderia querer o mesmo.
Merda, ele nem sabia se Levi sentia o mesmo que ele ou se algum dia poderia sentir, ele apenas empurrou e usou de sua influência para convencer o garoto mais novo e suscetível a permanecer.
Talvez Levi ficasse melhor com o ex? Não, o próprio Levi tinha admitido que estava machucado, então o que ele poderia fazer? Estava confuso, Levi claramente não estava bem, caindo cada vez mais, bebendo mais e sempre se desmerecendo. Eren não aguenta assistir isso, é demais, ele não quer ser mais um espectador alheio, ele não quer ignorar o quão Levi está afundado.
Mas ele preferiu ir até o ex, o que Eren podia fazer com isso? Levi tem seu número e Eren deixou claro tantas vezes que estaria lá por ele e mesmo assim o Ackerman preferiu ir até quem o machucava.
– Mike não faz bem a ele. – Armin sussurrou enquanto ajuda a despir o garoto mole nos braços de Eren, preparando-o para um banho. – Levi acredita que merece isso, ele não pensa…
– Vai ter que dizer isso a ele. – Eren suspirou, abrindo o chuveiro e ajudando Levi com o banho.
Armin entendeu o recado e não disse mais nada, tentando ajudar o melhor que podia.
Eren ainda deitou Levi e saiu para buscar remédios para dor e ressaca, voltando para deixar na cabeceira junto de uma garrafa d'água. Antes de sair, bagunçou os fios escuros e beijou a testa pálida, analisando o rosto calmo de Levi dormindo na penumbra do quarto, Armin não estava mais ali rondando e por isso, Eren se permitiu abaixar a cabeça e fungar.
Apesar disso nenhuma lágrima caiu, Eren está magoado, mas não decepcionado com Levi, merda, ele entende o garoto, mesmo que seja doloroso Eren não consegue simplesmente culpar e xingar Levi, eles nem estão juntos para que sua chateação seja justificável, inferno. Ele está bravo e com ciúmes, mas não exatamente com Levi.
Merda, ele nunca poderia ficar com raiva do garoto.
Ele quer tanto contar a Levi, se abrir e receber um dos raros lindos sorrisos do Ackerman, aquele com covinhas e dentes levemente tortos do garoto, ver os olhos azuis brilhando incrédulos porque Eren sabe que Levi nunca acredita no quanto pode ser cuidado e amado. Eren quer isso, ele quer provar para seu menino o quanto ele pode ajudar a curar as feridas, o quanto ele pode ser um apoio e auxílio para a melhora, ele quer convencer Levi de que não está quebrado e quer ser aquele a assistir a melhora, ele quer ser aquele a segurar a não pálida e pequena em momentos como esse, ele quer ser aquele a quem Levi recorre quando está sem chão.
É tanto que dói.
E isso assusta Eren.
Mas ele precisa que Levi perceba isso, ele precisa que Levi deixe que ele entre, que Levi entenda que Eren está ali por ele, disposto e de braços abertos.
– Eren… – Levi chamou em seu sono e nesse momento, Eren pulou no lugar, esfregando os olhos antes de dar passos para trás, um de cada vez até que estava contra a porta, então girou no próprio eixo e saiu, deixando Levi e seu pequeno apartamento para trás.
Porque aqui estou eu
Estou dando tudo o que posso
Mas tudo o que você faz é estragar as coisas
Sim, estou bem aqui
Estou tentando deixar claro
Que ter metade de você simplesmente não é o suficiente
Eu quero te dar tudo
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