História Dernière Danse - Cafés, croissants e mudanças

Astrid ainda estava meio receosa sobre entrar na cafeteria no meio da noite, mas depois de alguns minutos ela e Soluço ficaram mais confortáveis. 

Eles comeram, beberam café e conversaram das coisas mais triviais. Eles contavam histórias da infância, das mais bobinhas às mais constrangedoras e Astrid achava que seu estômago doeria por semanas de tanto rir com o garoto. Os dois suspiraram para conterem as risadas causadas por mais uma das histórias do garoto.

-Então, - ele começou - o que aconteceu com você essa noite? - Ele perguntou e Astrid suspirou, mexendo na xícara quase vazia. 

-Eu estava em uma festa com o meu namorado, - ela balançou a cabeça e se corrigiu - ex namorado. Eu o vi com alguma garota e saí de lá, eu não sabia para onde ir, então fiquei andando por aí, até que você apareceu. - Ela terminou e Soluço não disse nada, ela olhou para ele e sorriu. - E você? 

Ele deu de ombros. 

-Parece não ser uma boa noite para os casais de Paris. - Ele disse com um certo sarcasmo e ela esperou que ele continuasse. - Minha namorada e eu brigamos porque ela não quer que eu vá para o exército. - Ele explicou e o sangue de Astrid congelou, ela sempre havia odiado guerras e tinha pavor delas, ela não entendia como alguém entrava no exército por vontade própria. 

-E por que você quer ir para o exército? - Ela perguntou curiosa.

-Para ajudar as pessoas. - Ele respondeu co o se fosse uma razão óbvia, Astrid revirou os olhos. 

-Quer ajudar as pessoas?  Faça medicina, é mais útil e mais seguro. 

Foi a vez de Soluço revirar os olhos. 

-"Guerra" é apenas política com outro nome, Astrid. 

-E com mais mortes também, mas não sou eu quem deve te dizer o que fazer. - Ela deu de ombros, desistindo do assunto, se convencendo de que aquele não era um problema dela e que se Soluço fosse para a guerra, nada mudaria em sua vida. 

Entretanto, uma voz persistente no fundo de sua cabeça continuava infeliz com a notícia. Astrid nunca gostou de guerras, ela nunca entendeu o que as causava; como alguém conseguia querer destruir cidades inteiras? Matar milhares de pessoas? Homens, mulheres e crianças inocentes que não mereciam tal fim e tudo para quê? Para um título? Um pedaço de terra? Por poder? 

Balançando a cabeça, ela afastou aqueles pensamentos. Aquilo não era problema dela, ela sequer conhecia Soluço direito, não deveria se preocupar com a segurança dele... Mas ela se preocupava. 

07:20 am. 

Soluço parou o carro em frente à casa que Astrid havia dito ser dela. Depois de uma madrugada inteira apenas conversando e tomando café, ele havia decidido a levar para casa. 

-Obrigada por ficar comigo essa noite. - Ela agradeceu e Soluço sorriu para ela.

-Foi um prazer te fazer companhia. - Ela sorriu de volta e os dois ficaram em silêncio por um momento. Era difícil se despedir depois de terem se divertido tanto com coisas tão pequenas. 

-Eu te ligo quando recuperar o meu celular. 

Soluço franziu a testa.

-Você não tem o meu número. 

Astrid deu de ombros.

-Não, mas a Charlotte me fez decorar o dela. 

Ele riu, não realmente supreso, as duas pareciam ter se dado bem e ele sabia que Cabeça-Quente não pensaria duas vezes antes de dar o número dele à loira. 

-Então eu não vou sair de perto do celular.

Os dois riram por um momento antes de ficarem em silêncio outra vez, sem saberem exatamente o que dizer ao outro. 

-Obrigada... Outra vez. - Os dois sorriram um para o outro e Astrid saiu do carro. 

Soluço ficou ali, a observando até que ela fechasse a porta da casa atrás de si. Ele suspirou antes de acelerar o carro, tentando pensar em alguma coisa para dizer à Alícia sem causar uma guerra nuclear. 

Astrid soltou a respiração quando fechou a porta. 

-Onde você estava? - Astrid olhou para o pai que a esperava na sala. - Louis veio te procurar, dizendo que você sumiu no meio da noite, - Astrid apenas revirou os olhos - ele trouxe sua bolsa. 

Ela foi até a sala e pegou a bolsa que estava na mesinha de centro e logo se virando para ir para seu quarto, mas seu pai repetiu a pergunta: 

-Aonde você foi no meio da noite, Astrid?

-Para o mais longe possível daquele imbecil. - Ela respondeu e subiu as escadas correndo, não dando chance para que o pai fizesse mais perguntas. 

Soluço fechou a porta do apartamento e se preparou para a explosão que tinha certeza de que aconteceria... Mas nada aconteceu. Nada de gritos ou lágrimas. Ele franziu a testa. 

-Alícia? - Ele chamou, não escutando nenhuma resposta.

Ele subiu as escadas, procurando no quarto, no banheiro, até mesmo no closet e não a encontrou. Ele desceu as escadas outra vez, foi até a sala e não encontrou nada, foi até a cozinha e encontrou... um bilhete sobre o balcão. 

Ele pegou o bilhete, o lendo atentamente:

"Henrique,

Me desculpe por sair assim, mas eu não podia esperar que você voltasse porque eu sei que apenas teríamos mais uma briga. 

Você é um homem incrível, mas acho que não consigo mais viver assim, eu preciso de tempo para pensar, para decidir se vale àpena levar adiante o que temos e eu não vou conesguir pensar se estiver perto de você. Espero que entenda.

-Alícia."

Soluço suspirou depois de ler e esfregou a testa com uma das mãos. Alícia havia ido embora e ele tinha quase certeza de que ela não voltaria. 

Parte dele se arrependia de ter saído na noite passada, talvez se ele tivesse ficado Alícia ainda estaria com ele... Por outro lado, o que teria acontecido com Astrid se ele não estivesse lá? 

Ele balançou a cabeça, cansado demais para pensar em tudo aquilo no momento. Seu celular vibrou em seu bolso e ele o pegou, desbloqueou a tela e leu a mensagem no visor.

Desconhecido (07:48 am.): Consegui o meu celular de volta, Charlotte me passou o seu número  ;). 

Ele sorriu, esquecendo do drama que vivia no momento antes de responder.