História (Des)amar é Fácil (Chuuves) - Risos e mais risos

Yves

Eu estava em um sono tão gostoso, sério estava muito bom mesmo, eu até estava sonhando com alguma coisa boa - agora eu não lembro o quê, mas sei que era boa - porém infelizmente fui acordada por uma risada escandalosa vindo de fora do meu quarto. Normalmente essa risada estaria acompanhada de outra mais escandalosa ainda, mas elas estavam brigadas por motivos ainda desconhecidos por mim.

Não demora e minha porta é aberta com tudo, eu não me virei para ver quem era, pois já sabia muito bem, e além do mais era só mais ela que morava comigo - também tem outra pessoinha de 7 anos, mas ela estava na casa de uma amiguinha - então era bem óbvio quem seria. 

Abruptamente sinto alguém pular em cima de mim e solto um gemido de dor.

— Levanta a gente vai sair! - Jinsoul, minha melhor amiga, grita enquanto se acabava de dar risada. Ela parecia muito chapada, tipo muito mesmo.

— Que merda você usou, Jinsoul? - Me viro de barriga para cima e olho para os olhos dela, estavam apenas vermelhos, ainda bem. Se estivessem dilatados teríamos problemas. Jinsoul não é de usar cocaína, ela chegou a usar umas duas vezes, mas não se deu muito bem, então colocamos em nossa lista de nunca em hipótese alguma usar. 

— Só fumei unzinho, ou talvez dois, para ser mais sincera talvez três, mas eu juro que é só talvez que foi quatro ou cinco, mas não fumei nada não. Fumar é errado e eu fiz Proerd - Ela dá risada e pisca lentamente - É, quer saber? Pode ter sido mais ou menos, eu não sei, perdi a conta, mas sei que tô feliz, feliz, feliz, liz, liz... - Ela vai indo fazendo eco com a própria voz. Acho muito engraçado, mas me seguro e não dou risada.

— Que tal você comer alguma coisa e ir dormir?

— Não, a gente vai sair - Ela fica balançando a cabeça positivamente.

— Não, não vamos - Eu nego com minha cabeça - Eu vou voltar a dormir e você deveria fazer o mesmo - Me remexo para fazer Jinsoul sair de cima, mas não consigo e a única coisa que recebo é mais risadas vindo dela.

— Nananinanão. Eu já falei que a gente vai sair! Eu deixei umas gostosas me esperando lá na boate com a promessa de voltar acompanhada, então trate de levantar - Jinsoul dá um tapa na minha perna por cima da coberta e eu olho para ela desconfiada.

Ela falou duas gostosas? 

— Eu não vou participar de uma suruba com você! - Falo com uma careta. Jinsoul já havia sugerido isso há um tempo...

— Ei, eu não quero mais fazer isso com você! - As suas risadas vão cessando e ela se ajeita em cima de mim se sentando em minha barriga com seus joelhos ao lado de minha cintura, por sorte ela tem consciência de que é pesada e não solta todo seu peso em cima de mim - Quando eu propus isso eu estava triste e queria magoar a Jungeun… Mas agora nem tô ligando - Ela dá de ombros - Quem saiu perdendo foi ela, aquela otária, preferiu ficar com macho acabou perdendo uma grande gostosa.

— Ela estava aqui há uma semana atrás, o que rolou? Brigaram de novo? - Eu já sabia a resposta, mas ainda não sabia o porquê da nova briga.

— Ela falou que queria voltar a namorar comigo, mas eu falei que quem trai uma vez, trai outra e depois mais outra, e outra, e outra, outra, outra… - Jinsoul faz eco novamente com sua voz e depois respira fundo para continuar - Ela ficou puta da vida e me mandou se fuder, depois ainda falou para eu não procurar mais ela para nada.

— Jinsoul, ela não te traiu… - Começo hesitantemente. Jinsoul não aceitava e considerava traição, mas não foi... - Vocês tinham terminado.

— Foda-se, ela no mesmo dia foi atrás de pinto, ainda por cima nem soube se cuidar e acabou engravidando - Jinsoul cruza os braços.

— Pensei que já tinham superado isso.

Sinceramente, eu não entendo a relação das duas. Faz menos de uma semana que Jungeun estava aqui com seu bebê e Jinsoul faltava babar nos dois, mas agora estava aqui reclamando por uma coisa que já deveria ter superado faz tempo. Eu não estava aqui quando Jinsoul descobriu da gravidez de Jungeun e aconteceu a briga das duas - eu ainda morava em outra cidade - mas sei que Jinsoul ficou destruída. Eu a ajudei no que podia mesmo de longe, sempre ligava e tentava ao máximo fazer visitas para cuidar dela e da Yerim, filha da Jinsoul e minha afilhada. Eu sei que tudo foi realmente difícil para minha amiga, ela nunca tinha tido um relacionamento tão sério como o que ela teve com Jungeun, mas ela tem que superar isso de "traição". Eu super apoio ela com Jungeun, a mulher é incrível mesmo, super gente boa, mas se Jinsoul continuar agindo assim ela vai realmente acabar a perdendo, se já não a perdeu… Elas sempre ficam indo e voltando, então não tenho certeza. Mas enfim, Jinsoul já deveria ter superado. Não dá mais para voltar atrás e desfazer a briga que causou isso tudo, e além do mais agora tem um bebê envolvido. 

— Eu achava que tinha superado, a gente estava bem, mas… - Jinsoul respira fundo para continuar - Mas um tempinho atrás eu descobri que ela está morando com o pai do bebê há meses e não me contou - Ela abaixa a cabeça - Eu tinha deixado isso quieto porque a gente não estava mais namorando, apenas ficando, mas quando ela me pediu para voltar a namorar com ela, eu explodi e acabei falando merda… - Jinsoul volta a olhar para o meu rosto - O pior é que eu sei que falei muita merda mesmo, mas eu não sei se me arrependo Yves... Eu sei que já faz mais de um ano, mas eu ainda estou magoada e brava com ela por ter dormido com um cara no mesmo dia em que terminamos.

— Jinsoul, você pegou pesado e é bom que você reconhece isso, mas se você não se arrepende não tem nada o que possa fazer - Ela descruza os braços desanimada - Eu te aconselharia a pedir desculpas e tentar reconquistar a Jungeun, da pra ver que ela ama você e te perdoaria, mas pedir desculpas sem estar arrependida não vale de nada e ela te conhece muito bem e saberia que não são desculpas sinceras… Agora sobre a última parte, você não pode ficar brava por ela estar morando com o pai do bebê, antes a Jungeun morava aqui… e você a expulsou, ela não teve muita escolha.

— Ela poderia ter ido para a casa da mãe dela! 

— Você mesma já me falou que ela não gosta de ficar lá por muito tempo por causa das discussões que ela tem com a irmã! Imagine como o bebê ficaria presenciando isso - Jinsoul desvia o olhar do meu, ela sabe que estou certa - Você não pode cobrar ela por ter feito uma escolha melhor para o filho dela! Se coloque no lugar dela, Jinsoul. O que você faria se estivesse passando por isso e a Yerim ainda fosse apenas um bebê?

— Se minha mãe não tivesse me expulsado de casa, é lógico que eu preferiria ter ido morar com ela! 

Tá, fazer Jinsoul se imaginar no lugar de Jungeun não foi uma boa escolha, era óbvio que ela iria pensar no que aconteceu com ela quando engravidou com 18 anos… Os pais dela a expulsaram de casa e o genitor de Yerim meteu o pé, até hoje Jinsoul não sabe que merda aconteceu com o cara que prometeu que ficaria com ela e que cuidaria do bebê.

— Olha Jinsoul, você vivenciou uma experiência diferente, logo suas escolhas seriam diferentes, então pare de pensar no que você passou e pense apenas no que Jungeun está passando. Se imagine no lugar dela.

— Primeiro que se eu estivesse no lugar dela eu nem teria ido atrás de um cara no mesmo dia que terminei com uma gostosa que era, ou ainda é, o amor da minha vida. Segundo que se tivesse feito isso… - Jinsoul para de falar, pensa por uns segundos e depois volta - Primeiro que eu nem teria feito! Não iria perder uma gostosa de jeito nenhum - Respiro bem fundo para não dar risada, não deveria conversar coisas sérias com Jinsoul chapada.

Melhor encerrar o assunto.

— Você deveria ter conversado com Jungeun quando descobriu que ela estava morando com o cara para entender o lado dela, agora não adianta mais - Faço um gesto com a mão que queria dizer para ela sair de cima de mim, mas ela ignora.

— Antes para mim estava tudo bem ela morar com o cara, a gente não estava mais juntas - Jinsoul dá de ombros - Jungeun é livre para fazer o que quiser, e confesso que também queria que ela colocasse chifre no cara - Ela solta uma risada - Seria legal.

— Eles estavam namorando?! - Pergunto com os olhos arregalados.

— Não sei e nem quero saber se estavam. Agora Jungeun é minha ex e eu não quero mais saber dela, pra mim já deu.

— Você ainda gosta dela?

— Eu amo ela, ela, ela, ela - Jinsoul volta a fazer eco, dessa vez eu não aguento e dou risada.

— Vem, entra de baixo da coberta para nós irmos dormir - Falo na esperança dela ter esquecido que veio me buscar para sair com ela. 

— Não, não, não! Eu vim te buscar! - Reviro os olhos. Isso que maconha te faz esquecer das coisas ou é mito ou não funciona com Jinsoul - Vamos Yves, eu não sou a única que precisa esquecer de ex.

— Minha situação é diferente… Eu não preciso esquecer da minha ex e eu não quero me esquecer dela... - Jinsoul revira os olhos, ela nunca foi com a cara da minha ex e minha ex também nunca foi com a cara dela, elas sempre ficavam trocando farpas quando ficavam juntas num mesmo cômodo. Eu não deveria, mas confesso que achava muito engraçado. - Sunmi é uma mulher incrível que me fez feliz por 5 anos, só não deu mais certo depois… - Jinsoul me olha com uma cara que queria dizer "certeza que só depois?" - Talvez durante o relacionamento também…? - Ela continua com a mesma cara - Ok, o meu relacionamento com ela nunca foi saudável e nunca deu certo.

Antes eu preferiria morrer do que admitir isso fácil assim, mas hoje eu reconheço que meu relacionamento com Sunmi foi bem tóxico e conturbado.

— Olha Yves, meu plano era eu ficar com a mulher que eu conheci lá e você ficar com a amiga dela, mas se você não quiser ficar com a amiga, nós duas podemos dispensá-las e aproveitar a balada sozinhas. Faz tempo que a gente não sai juntas para curtir um pouco e a gente também precisa comemorar seu novo emprego, certo?

Acho que deve ter outro jeito de comemorar um emprego novo, principalmente se esse emprego for de professora de jardim de infância, mas como sei que Jinsoul não vai desistir, respondo:

— Certo! - Depois da minha resposta Jinsoul se abaixa com tudo e me dá um abraço.

— É isso aí - Ela olha nos meus olhos - Agora se levanta e vai se arrumar.

— Se você saísse de cima de mim seria mais fácil - Falo e ela parece se ligar que ainda estava sentada em mim.

— Verdade, verdade, verdade, dade, dade - Ela fala, mas continua em cima de mim.

— Jinsoul, você precisa sair de cima! 

— Ah é, vamos - Dessa vez pareceu que ela tinha acordado e enfim saiu. - Caralho, aquela maconha é muito boa mesmo. Quando estivermos lá vou comprar mais.

[...]

— Jinsoul, vamos voltar pra casa - Peço uma última vez quando estávamos na frente da boate em que ela me trouxe. Vim praticamente o caminho todo implorando para voltarmos.

— Ah, não. Agora nós já estamos aqui, voltar só seria viagem perdida - Ela pega em minha mão e começa a me puxar - Vamos entrar logo. 

Após falar isso, Jinsoul me arrastou boate adentro e começou a procurar alguém com os olhos.

— Vamos pegar alguma bebida e depois você procura! - Falo em um tom de voz alto para ela conseguir me ouvir em meio a música eletrônica que estava muito alta.

— Vai indo lá que eu vou arranjar outra coisa - Jinsoul dá um tapinha em meu ombro e saí sem nem deixar que eu fale algo.

Ela deve estar indo atrás de outro baseado. 

Eu não deveria deixar ela fumar mais - Jinsoul já estava exagerando, um pouco mais cedo ela nem sabia quantos havia fumado - mas eu queria um, então quando ela chegar eu tomo dela.

Não é sempre que eu ou Jinsoul fumamos ou fazemos merda, é só quando a Yerim não está em casa e temos a certeza de que ela irá demorar para voltar - Ela foi numa festa do pijama na casa de uma amiguinha dela, então só voltaria a tarde. - Esse tempo curto longe da nossa pequena de vez em quando faz a gente aproveitar o que não podemos na nossa juventude - bem... Eu aproveitei, até o que não deveria, mas Jinsoul não, porque teve Yerim, então eu me permitia aproveitar com ela, mesmo que não devesse... - Enfim, podemos ter perdido algumas coisas, mas aproveitamos muitas outras com Yerim e  e eu não trocaria isso por nada. Talvez apenas mudaria o jeito que conheci Jinsoul…

Balanço a cabeça para afastar a última parte, não gostava de lembrar como nos conhecemos, foi um jeito mórbido e estranho de começar uma amizade… 

Decido parar de pensar no meio da boate e caminho até o bar.

— Me vê uma caipirinha, por favor. - Falo para a bartender de cabelos laranjas enquanto me sentava no banco alto que fica na frente do longo balcão.

— É pra já! - Ela me dá um sorriso e começa a preparar minha bebida. Enquanto a caipirinha não ficava pronta, eu virei meu rosto para olhar ao redor e ver se encontrava Jinsoul, mas tive minha atenção voltada novamente a bartender quando colocou a bebida na minha frente e me fez uma pergunta - Procurando o namorado? 

— Não tenho namorado - Dou ênfase no "do".

— Hm, isso aumenta minhas chances em um por cento - Ela fala soltando uma risada fraca e eu abro um sorriso - Agora deixa eu reformular minha pergunta, procurando a namorada?

Abro minha boca e no automático ia sair sim, mas eu não estava procurando minha namorada, eu nem tenho mais namorada! A realização disso me deixa um pouco triste e confesso que bateu uma saudadezinha da Sunmi. Droga. Já fazia meses e eu ainda não superei.

— Infelizmente não tenho namorada também - Solto um suspiro e com isso deixo óbvio que gosto de mulheres.

— Com isso então eu diria que minhas chances aumentam em… - Ela finge pensar - Uns cinquenta por cento? 

— Talvez - Dou de ombros.

— O que eu posso fazer para minhas chances aumentarem mais?

— Se você me arranjar uma outra caipirinha, desta vez por conta da casa, suas chances aumentam em oitenta por cento - Respondo com sorriso.

— Você ainda nem terminou a que eu acabei de colocar na sua frente - Depois dela falar isso, peguei o copo, o levei até a boca e coloquei o líquido todo para dentro. Quando terminei bati com o copo na mesa e fiz uma careta, estava muito azedo, fiquei até arrepiada.

— Agora terminei - Falo ainda com uma careta.

— Outra caipirinha saindo - Ela fala e já iria começar a preparar outra, mas parou e me perguntou - Mas antes poderia me falar qual o seu nome? Eu queria saber o nome da mulher que roubou todo o meu ar, sabe... para te denunciar na delegacia mais tarde, ou apenas para gritar… Quem sabe, né?

Faço uma careta. Nossa, que péssima.

— Não acredito que você mandou essa - Nego com a cabeça e ela dá risada.

— Se você não quiser me falar seu nome depois dessa eu irei entender, é que não consegui controlar, foi mais forte do que eu.

— Se eu falar você promete não mandar mais essa para ninguém? Sério, isso é para o seu bem. - Ela ri um pouco mais forte

— Prometo - Ela fala em meio ao riso e me oferece o seu dedo mindinho, no automático estendo minha mão e cruzo o meu dedo no seu. As crianças da antiga escola que eu dava aula sempre faziam isso, então sempre ajo no automático com isso - Promessa de dedinho é coisa séria, pode ter certeza que irei cumprir. Agora falta a sua parte.

— Meu nome é Yves - Descruzo nossos mindinhos e estendo a mesma mão para ela pegar - E o seu?

— Me chamo Kahei - Ela pega na minha mão - Mas sou conhecida aqui por Vivi.

— Prazer em te conhecer, Vivi.

— O prazer é todo meu, Yves - Ela solta a minha mão e com um enorme sorriso começa a preparar outra bebida para mim.

— Você não vai acreditar no que eu consegui! - Jinsoul chega em mim gritando e quase me fazendo cair do banco pelo enorme susto que me deu.

— O que?! - Pergunto e coloco a mão em meu peito para tentar me acalmar, ela nem sequer percebeu que me deu um susto.

— Isso - Ela me mostra duas balinhas com formato de coração. Só de bater o olho já sabia que era MD.

— Você está louca? - Pego as drogas da mão dela - Não vamos usar isso, lembra da última vez?

— Não…

— Exato, você não lembra! E sabe por que? - Ela nega - Porque você misturou isso aqui com bebida alcoólica e foi parar no hospital! - Jinsoul não chegou a ter uma overdose, mas ela ficou muito desidratada. Naquele dia eu descobri que MDMA é uma droga que desidrata muito por si só, misturada com álcool então nem se fala. 

— É… mas foi antes - Jinsoul desvia os olhos dos meus - E eu também tinha exagerado e tomado mais que uma... hoje eu vou tomar apenas uma das que estão na sua mão - Ela abre um sorriso para mim - Vai, Yves, é só de comemoração. Você logo vai começar a trabalhar e a gente nem sabe quando vamos poder sair e aproveitar de novo.

Ela tem razão...

— Eu quero você longe desse bar! - Falo bem séria com ela e entrego um dos corações.

— Você vai usar também?

Não devia, mas…  Respiro fundo e dou de ombros, depois pego o comprimido em formato de coração entre os dedos e o coloco na boca. Jinsoul logo faz o mesmo e fala:

— Agora vou procurar as mulheres que eu tinha falado para você, agora é só torcer para elas não terem ido embora... - Jinsoul fala a última parte baixinho, mas consigo escutar, e depois saí.

— Ei, Yves! - A bartender me chama - Sua caipirinha está pronta, mas agora já não acho que seja uma boa ideia você tomar… - Pego o copo e faço o mesmo que fiz com o primeiro, viro o líquido todo para dentro. Parecia que estava mais azedo do que o primeiro e eu não consigo evitar uma careta. Eu com toda a certeza não deveria ter virado a bebida novamente, mas não queria desperdiçar, era de graça. - Ok, essa foi a última bebida alcoólica que você toma hoje, precisa ficar longe do bar pelo resto da madrugada.

— Como eu vou ficar perto de você então? - Pergunto e no exato segundo que Vivi abre a boca para responder seu celular toca. Ela pega o aparelho em seu bolso de trás da calça e vê quem era.

— Com licença, eu preciso atender - Apenas concordo com a cabeça e ela logo sai.

Enquanto Vivi não voltava, eu fiquei tentando achar Jinsoul com meus olhos, mas estava difícil, não dava para enxergar direito por causa que estava escuro, as únicas coisas que dava para ver mesmo eram as luzes piscantes e coloridas nos corpos dançantes. O jeito mesmo vai ser esperar Jinsoul vir aqui me buscar, se eu sair daqui para procurar ela vou acabar me perdendo. Espero que pelo menos o MD não faça efeito até ela me achar.

— Ei, Yves, não vai dar para eu ficar aqui - Vivi volta parecendo estar com pressa - Foi muito bom te conhecer, espero que não seja a última vez que nos vemos - Ela fala tudo bem rápido. - A gente se vê por aí - Ela faz sinal de tchau para mim e se vira para sair.

— Que tal você me passar seu número?! - Grito para Vivi me escutar e ela vira seu corpo novamente para mim.

— Agora não dá - Ela nega com a cabeça - Eu preciso sair agora. Mas volta aí qualquer dia para nós conversarmos direito e marcar alguma coisa, ou sei lá… - Concordo com cabeça e levanto meu polegar em uma joinha. 

— Tudo bem. - Digo com um sorriso triste. - Foi um prazer te conhecer.

— Eu digo o mesmo. - Após isso ela me deu um sorriso e uma piscada de um olho só, depois saiu.

Voltei meu olhar para o emaranhado de pessoas e tentei mais uma vez achar Jinsoul - não tinha nada a perder mesmo - mas após uns cinco minutos olhando para as pessoas, vi que também não tinha nada a ganhar, então desisti.

— Ei! - Grito e levanto uma das mãos para chamar o barman mais próximo, ele chega até mim e eu peço - Pode me arrumar uma tequila, por favor?

— Não, sinto muito - Ele responde negando com a cabeça - Minha gerente deixou avisado para ninguém aqui te arranjar nenhuma bebida.

Que merda. Nem conhecia Vivi direito e ela já estava me complicando.

— Me arranja uma cerveja então - Tento mais uma vez. Cerveja tem um baixo teor alcoólico então vai quê, né.

— Desculpa moça, mas não vai rolar. Quero continuar no meu emprego - Depois dele falar isso outra pessoa o chamou e ele foi.

Respirei fundo e me levantei do banco. Já que não iria conseguir mais bebidas - coisa que não deveria mesmo - iria dançar um pouquinho. Já estava começando a sentir os efeitos iniciais da droga. Jinsoul fala que a melhor parte é quando você já está na brisa, mas para mim a melhor parte é o começo e o jeito que vai batendo o efeito até estar no pico, aproveitar essa parte é simplesmente maravilhoso, é bom sentir que você vai indo ficando leve e agitado e depois parece que você é capaz de tudo com a energia que você sente. Essas sensações de início vale toda a ressaca e tristeza que bate no dia seguinte.

Estava caminhando normalmente até o meio da boate quando alguém esbarrou com tudo em mim e me fez ao chão.

— Minha nossa, me desculpa! - A pessoa grita e no mesmo segundo me ajuda a levantar - Eu não queria te derrubar, é que minha amiga pediu ajuda com uma garota no banheiro que está chapadona e eu queria chegar logo lá, mas esqueci de tomar cuidado com os outros. - Quando enfim estou de pé, bato na minha calça para tirar qualquer sujeira e levanto meu rosto para olhar a pessoa. Eu já estava com a boca aberta para falar que estava tudo bem e que ela não precisava se preocupar, mas quando notei quem era, travei. - Sooyoung? É você mesmo?! - Ela me reconhece, abre um enorme sorriso e me dá um abraço, que não consigo retribuir por ainda estar travada - Como você está? Quanto tempo! - Ela separa o abraço e olha meu rosto, ela parecia prestar atenção em cada detalhe, enquanto a única coisa que eu conseguia prestar atenção nela eram os seus olhos, eles estavam do mesmo jeitinho que eram há anos. Isso enfim me desperta.

— Haseul! - Parecia que eu estava em delay, respondendo só agora - Eu estou bem, e você? Quanto tempo mesmo! - Dei muita ênfase no "mesmo", porque, sério, fazia muito tempo mesmo, mesmo, mesmo. Já eram quase 10 anos ou mais que eu não via ela. Haseul foi minha primeira namorada, depois que meus pais descobriram nosso relacionamento deu muita merda e eu nunca mais a vi. Também eu não tive outra opção, fui mandada para longe e fui obrigada a casar… Enfim, é uma história longa e complicada que eu não gosto de me lembrar.

— Eu estou bem também - Ela responde - Você quer… - Ela hesita - Quer ir ao banheiro junto comigo para socorrer a minha amiga? A gente pode ir conversando um pouco...

— Quero! - Respondo rapidamente, ela dá um sorriso e logo começamos a andar, ela ia na frente e eu a seguia logo atrás - Você está muito linda, Haseul - Decido puxar assunto quando já estávamos perto do banheiro. Aqui o som da música estava meio abafado, então estava dando para escutar melhor.

— Você também está muito linda, Sooyoung. Foi ótimo te reencontrar.

— Eu digo o mesmo, foi ótimo… - Espero Haseul voltar a falar alguma coisa, mas não vem nada. E é isso, agora o assunto acabou. Eu não sabia mais o que falar ou como puxar assunto, era estranho conversar com alguém que faz anos que eu não vejo.

— Não vamos deixar isso ficar estranho, por favor - Haseul fala e dá uma risada sem graça - Já faz tanto tempo… Que tal a gente conversar sobre como está as nossas vidas agora e não tocar no passado? 

— Eu acho que essa é uma ótima ideia - Dou risada e espero ela começar a contar da vida dela, mas ela não começa. Acho que Haseul estava esperando eu começar e acabou ficando um silêncio chato enquanto terminavamos de caminhar até o banheiro - Pode começar você, essa foi sua ideia.

— Eu estava esperando você começar! - Ela dá risada - Você falou que era uma ideia ótima, então para mim quem tem que começar é você. - Ela me olha, depois coloca a mão na maçaneta do banheiro e abre a porta.

— Minha vida vai boa, eu… - Comecei, mas no momento em que entrei no banheiro logo atrás dela parei. A cena que eu estava vendo me deixou com os olhos arregalados e de boca aberta em completo choque, e Haseul não ficou diferente. A mulher - que provavelmente era a amiga da Haseul - estava se pegando forte com Jinsoul. As duas estavam quase se fundindo ali.

— Chaewon! - Haseul grita e chama atenção das duas que estavam bem ocupadas. Jinsoul dá um pulo de susto e arregala os olhos quando me vê, depois começa a dar risada. Ela com certeza ainda estava muito chapada. - Pra que merda você me chamou aqui sendo que estava ocupada e gostando de estar ocupada?! - Haseul parecia indignada.

— Era pra você participar também - A mulher respondeu e deu de ombros. Da onde eu estava conseguia ver seus olhos vermelhos, eles estavam do mesmo jeito dos de Jinsoul. - Certeza que Jinsoul não se importaria, né? - Jinsoul nega com a cabeça.

— Com toda certeza não. - Ela responde e olha para mim. - Ei, Yves! Eram elas que eu estava te falando.

Nego com a cabeça. Não acredito que Jinsoul resolveu ficar aos pegas ao invés de ir atrás de mim!

— Vocês se conhecem?! - Haseul pergunta olhando para mim.

— Sim, nós somos amigas - Jinsoul responde no meu lugar. 

— Nossa… Vocês são amigas, eu e a Haseul somos amigas… Vocês duas pelo jeito já se conhecem - Ela apontou para eu e Haseul, que estávamos perto da porta - Seria muito divertido se nós quatro saíssemos daqui, não é? - Ela perguntou com um olhar sugestivo.

Olhei para Jinsoul e ela juntou as mãos em forma de súplica. Revirei meus olhos. Eu não deveria aceitar, mas fazia tanto tempo que eu não encostava em uma mulher…

— Eu topo - Concordei de uma vez. Não iria negar isto para mim.

— Eu também topo - Haseul falou me olhando com um sorriso de lado. - É bom que dá para relembrar os velhos tempos ao mesmo tempo que veremos como evoluímos. - Arqueei minhas sobrancelhas. Essa com toda certeza é uma nova Haseul. Se fosse no tempo da escola ela teria vergonha só de ser pega encarando meus peitos.

As outras duas nem precisaram falar nada, o beijão que Chaewon deu em Jinsoul logo depois de Haseul concordar já bastou.

— Agora quem vai pegar algumas bebidas para a gente? - Jinsoul pergunta depois que Chaewon desgruda da sua boca.

— Eu não vou conseguir pegar nada, conheci a bartender gerente e ela deixou avisado para ninguém ali me arranjar nenhuma bebida - Falo para me tirar da reta.

— Eu e Haseul buscamos - Chaewon começa - Vocês duas podem ficar esperando a gente do lado de fora - Depois de terminar de falar, ela ajuda Jinsoul a ajeitar sua roupa.

— Vou ficar te esperando, é para vir mesmo - Jinsoul fala e dá um selinho em Chaewon, depois vem até mim com suas pernas bambas, pega em minha mão e começa a me puxar para fora do banheiro.

— Caralho, a mulher estava mandando bem hein? - Começo a puxar assunto quando estávamos atravessando a porta para sair do lugar.

— Nossa, Yves, você tem que experimentar aquela boca. Sério, eu ainda tô sentindo minha perna meio mole - Jinsoul fala e dá risada.

— Vamos ver o que rola… Amanhã eu posso colocar a culpa na bala mesmo - Falo dando risada também.

— Se for pensar assim… - Jinsoul chega perto de mim - Eu também posso colocar a culpa na bala e nos baseados que fumei hoje mais cedo… - Ela chega mais perto ainda de mim e coloca suas mãos em minha cintura - O que você acha?

Arregalo meus olhos. Não, não. De jeito nenhum. Meu tempo de ficar com Jinsoul já passou.

— ih, doida, saí pra lá. - Falo nervosa, mas Jinsoul não tira suas mãos da minha cintura.

— Vem cá, Yves. - Ela aproxima seu rosto do meu e começa a fazer sons de beijos. Dou risada. No começo pode ter sido sério, mas depois Jinsoul decidiu apenas brincar comigo. Ela nunca me beijaria sem a minha permissão.

— Minha nossa, já começaram? - Escutamos uma voz fina falando, pelo o que eu reconheci era de Chaewon - Nem esperaram por nós, vão ter que compensar quando chegarmos lá... - Ela continua falando mais alguma coisa que eu e Jinsoul não escutamos por ainda estarmos rindo enquanto brincamos. O máximo que Jinsoul me acertou com seus beijos foi na minha bochecha. - Ei, vocês não vão parar não? - Depois dessa última fala de Chaewon, eu resolvi me separar de Jinsoul.

— Caralho, Yves, seu beijo imaginario é incrível! - Jinsoul fala com os olhos arregalados.

— Eu digo o mesmo para você. - Respiro fundo para fingir recuperar todo o ar que não tinha perdido. - Foi todos tão bons que eu nem senti. - Falo e dou risada. Também agradeço mentalmente por não ter sentido. Não rolava nada entre Jinsoul e eu desde quando eu comecei a namorar a Sunmi, isso já fazia uns 5 anos.

Eu e Jinsoul, antes de começarmos a nos envolver com outras pessoas, chegamos a namorar, mas isso nunca estragou nossa amizade.  Eu nunca amei ela além da amizade. Após nós vermos que não dávamos certo, terminamos e soubemos separar muito bem as coisas para o nosso próprio bem e para o bem de Yerim, aquela pessoinha era como se fosse minha filha e eu não queria perder ela se eu e Jinsoul não déssemos certo, então fiz ela jurar nunca me afastar da sua criança - que tinha como minha também.

— Acho melhor a gente chamar um Uber para sairmos logo daqui - Haseul fala olhando para o céu - Tá com cara de que vai chover.

— Putz, agora que eu percebi que nós não decidimos para onde vamos! - Chaewon arregala os olhos.

— Vamos para o apartamento meu e da Yves, é quase perto daqui, que tal? - Jinsoul sugere - Se a gente andar rápido não pegamos chuva.

— Por mim tudo bem - Haseul dá de ombros.

— Bora ir logo então - Chaewon logo concorda.

Fomos andando e conversando o caminho todo, às vezes íamos revezando quem carregava a sacola com as bebidas. Pelo o que eu tinha visto quando estava com a sacola, eram umas latinhas de cerveja e uma garrafa de vinho. De uma coisa eu sei, não vou beber mais nada - talvez uma latinha só - e muito menos vou deixar Jinsoul beber. Já basta a ressaca que vamos sentir amanhã só pela droga, imagine se tomassemos o vinho. 

Estávamos passando por uma praça quando começou a garoar.

— Iiiih não deu tempo - Jinsoul falou negando com a cabeça.

— Ainda tá só garoando - Falo colocando minha mão para frente para sentir os pingos - Acho que se a gente andar um pouco mais rápido conseguimos chegar lá sem estarmos totalmente molhad… 

— Saí da frente! - Uma garota grita, assim me interrompendo. Todas viramos para trás para ver quem era e vimos uma garota com roupas da cor preta e um boné na cabeça, que estava vindo em nossa direção em uma bicicleta amarela - Saíam daí! Minha bicicleta tá sem freio e tem vários cachorros atrás de mim! - Todas nós corremos para a calçada, lugar que deveríamos estar andando desde o começo, e a garota logo passa por nós dando muita risada. A risada dela era tão gostosa de se ouvir que não controlei e um sorriso involuntário apareceu em meu rosto. Não deu para ver a face dela direito, porque ela estava de boné, mas seu sorriso largo foi visível, e era muito lindo. Fiquei olhando para as costas dela até ser despertada por latidos de cachorros. Olho para trás novamente e vejo que eram um bando, que passaram pela gente rápidamente e continuaram atrás da garota. Dou risada.

Como ela atiçou tanto cachorro?

— Que doida.

— Aqueles cachorros tinham chifres?!

— Estranho.

As três faltaram ao mesmo tempo. Tentei, mas não consegui saber quem falou o que, só sei que uma estava bem brisada e que Jinsoul falou mais depois que a garota e os cachorros já estavam longe:

— Eu já escutei essa voz em algum lugar, mas não me lembro de onde - Ela fala com uma cara pensativa. Não dá tempo de comentar algo sobre o que Jinsoul falou porque a chuva começou a ficar forte e tivemos que começar a correr.