História Descendentes - 1 Temporada - Capítulo 3 - Entrevista

Ficaram andando por aqueles corredores pelo que pareceu uma eternidade, mas o que na verdade não passava mais de ser quinze minutos. Aquele castelo era realmente grande. Mal já estava começando a perder a paciência, todos estavam, mas diferente dos outros ela não sabia se conter, ou ao menos disfarçar seu humor, afinal, ela não se importava. Não sabia se outros se importavam, eles também não. Mas eles não queriam ter que aturar os olhos desconfiados das pessoas que encontrassem no caminho. Já não era o bastante ter que aturar  os olhares assustados dos empregados que cruzavam? Apesar de ser divertido pra eles, mas era também entediante. Tudo naquele lugar era entediante, até o medo, pelo menos era assim que os novatos pensavam.

Ficaram andando por mais alguns minutos até que no meio do caminho se depararam com uma garota. Ela parecia ter a idade de Carlos mais ou menos, a primeira pessoa que encontraram que não pareceu sentir medo deles, só não sabiam dizer se isso era bom ou ruim, para ambos os lados. A garota não era muito alta, devia ter a mesma altura que Mal. Suas roupas deixava claro que ela era dali, mas também era diferente, ela não usava um vestido como todas as outras, usava apenas um macaquito verde água com bolinhas pretas, de um tecido que não conseguiram identificar, mas que com certeza não era couro ou jeans, era algo bem mais leve, e pra completar um fino cinto vermelho. Seus cabelos eram um tipo de loiro só que um pouco mais escuro, era longo e possuía cachos perfeitamente alinhados. Não prestaram atenção nos outros detalhes, até porque não pareciam ser relevantes. Deve ser a filha da Cachinhos Dourados.Pensou Mal.

Já percebendo de quem se tratavam, Dinah tratou-se de manter sua postura firme, se bem que isso não era difícil para a mesma. Não mais. Também tratou de abrir um sorriso, não um sorriso amigável como todos já tentaram fazer, mas um sorriso simpático e desconfiado ao mesmo tempo.

- Posso ajudar? – Perguntou Dinah.

- Sim, sabe onde ficam nossos quartos? – Perguntou Mal. Dinah olhou os quatro de cima a baixo, até para enfim dizer:

- Seus quartos ficam subindo as escadas,no segundo corredor virando ao lado direito vão encontrar um quarto ao lado de uma grande janela, esse é o quarto de Evie e Mal, e o de Jay e Carlos ficam descendo essas escadas, terceira porta do lado esquerdo. Entenderam?

- Segundo corredor? – Perguntou Mal.

- Vocês vão saber quando chegarem. – Os quatro companheiros se entreolharam, claramente confusos com a explicação da princesa. – Se quiserem eu posso levar-lhes até lá.

- Isso seria ótimo! – Falou Mal como se fosse óbvio.

- Tá, então vocês dois – Apontou para Jay e Carlos. – venham comigo. Vocês duas esperem aqui que eu já volto. – Com isso conduziu os dois rapazes para seus quartos. Decidiu levá-los primeiro pois seus quartos era o que estava mais próximo. Assim que chegaram ela abriu a porta para os dois, os dois por sua vez tiveram um pouco de receio ao entrar, Carlos principalmente.

Jay não estava assustado como Carlos, mas não queria demonstrar sua surpresa ao saber que teria que dormir em um quarto como aquele. Um quarto feito apenas para gente da realeza. Estava tão acostumado a ter que dormir em uma cama velha e caída com um colchão encaroçado que não conseguia imaginar-se dormindo tranquilamente em uma que ainda nem tinha sido inaugurada. Percebendo que ambos estavam se contendo, depois de alguns segundos em silencio Dinah falou:

- Sabe, esse quarto é de vocês agora. – Os dois olharam pra ela. – Não precisam se comportar desse jeito, podem se soltar. – Dito isso ela começou a se retirar, mas quando já estava de saída parou ao lado da porta assim que lembrou-se: - O almoço será servido meio dia na sala de jantar, caso queiram conhecer os outros ou não queiram comer sozinhos, estão convidados. – Eles acenaram mas não responderam, ela então fechou a porta retirando-se dali e indo até as garotas que para Dinah já deviam estar mais que impacientes com a demora da mais nova.

- Ai, cadê essa garota?! – Gritou Mal ao meio do corredor de onde aguardavam. Evie que esperava pacientemente sentada em um dos degraus da escada, começou a perceber os olhares assustados que as empregadas que por ali passavam fizeram ao ouvir o grito da garota.

- Mal. – Chamou a atenção da menor. – Se sua intenção era passar despercebida por esse castelo sinto lhe dizer que falhou bruscamente. – Falou enquanto retocava sua maquiagem, Mal revirou os olhos e bufou. Vendo que seu rosto permanecia impecável como sempre, Evie guardou sua maquiagem e seu espelho dedicando toda a sua atenção para a garota de cabelos púrpura à sua frente. – Mal daqui a pouco ela volta. – A garota apenas ignorou seu comentário e continuou a andar em círculos. – Mal...

- O que é Evie?! – Evie a olhou surpresa e desconfiada, aquele não era o normal de sua amiga. E Mal sabia disso.

- O que você tem, Mal? Desde que chegamos você parece mais nervosa que o normal, e não diga que é bobagem porque nós duas sabemos que não é! – Fez uma pausa. Sabia o motivo da Mal estar assim, só não queria pensar nisso, apesar de ter concordado. – É pela nossa missão, não é? – Houve silencio depois disso, já que ambas não sabiam o que dizer. Mas também não foi necessário que as duas falassem mais nada já que Dinah finalmente chega ali chamando a atenção das duas villain kids.

- Finalmente, por que demorou tanto?! – Perguntou Mal se voltando pra Dinah.

- Fui levar os outros até seus quartos. – Respondeu a mais nova, com seu ar de calma e compreensiva.

- E onde fica esse quarto? No porão?! – Evie respirou fundo, compreendia porque Mal estava daquele jeito. Afinal, não estavam lá para se divertir, estudar ou fazer novos amigos, não, eles estavam lá para orgulhar seus pais, caso eles falhassem talvez nunca tivessem outra chance. Não, eles sabiam que nunca teriam outra chance.

Dinah ficou encarando Mal, seu cenho franzido apenas observando e analisando a atitude da garota. – Você tá bem? – Enfim perguntou, ambas das mais velhas estranharam sua pergunta.

- O que? – Perguntou Mal sem entender o motivo da pergunta.

- Você parece ansiosa. Isso para não dizer assustada. – Dinah era atenciosa, analista e muito detalhista, mas só no que se interessava, é claro. Perceber que a filha da Malévola está parecendo um filhote de tigre assustado claro que lhe interessava. Era prestando atenção nas pequenas e quase insignificantes atitudes da mais velha que Dinah percebeu isso. Como por exemplo, o modo de como Mal não ficava quieta, impaciente, isso podia ser normal para uma princesa ou até uma camponesa que estivesse fora de sua casa, em um lugar completamente diferente e até um pouco longe do que está acostumado. Mas para uma filha de vilã? Que obviamente gosta de ser uma? Só quero ver como será o relacionamento de Ben com ela. Pensou a aspirante a princesa. Mas Mal pareceu não ligar muito pra esses detalhes, na verdade isso apenas a deixou ainda mais irritada, o que apenas fez Dinah sorrir mais cinicamente, sabia que como Mal era, já tinha ouvido muito falar da garota e sabia que tinha razão.

- Tá legal. – Evie começou a falar quando viu Mal já prestes a atacar a loira. – Já esperamos tempo demais, podemos ir para nossos quartos agora? – Perguntou à mais baixa.

- É claro. – Respondeu e logo começando a andar.

Chegaram logo depois de uns dois minutos. Fazendo o mesmo que feito com os garotos, exceto que indicou tudo o que elas precisavam saber. Dinah sorriu quando viu a reação de Evie ao anunciar o almoço real, a de cabelos azuis não parava sorrir, um sorriso tão grande que parecia rasgar seu rosto, diferente de Mal. Não demorou muito e ela se retirou, deixando as duas sozinhas no local.

- Esse lugar é muito-

- Nojento!

- Pois é né? Muito nojento. – Nem preciso dizer que ambas tiveram uma reação completamente diferente.

- Eu vou precisar de muito filtro solar. – Nisso a mais alta tinha que concordar, do jeito que Mal era branca iria mesmo precisar de muito protetor solar, já que sua pele sensível nunca algum dia já teve tanto contato com o sol. Morando em um lugar como a ilha era praticamente impossível. A mais baixa logo tratou de fechar as cortinas, sua amiga a ajudou com isso.

- Bem melhor. – Sorriu ao ver seu novo quarto mais escuro. Não havia muito o que fazer, Evie ligou a TV que pela primeira vez tinha mais do que apenas dois canais. Mal, por outro lado, não estava muito afim de assistir, então apenas sentou-se na cama e se perdeu em pensamentos. Sua mente estava cheia. Os recentes acontecimentos estavam acabando com ela. Primeiro, ela é mandada para uma nova escola em um lugar completamente do qual cresceu. Segundo, sua mãe põe nela toda a responsabilidade de um futuro que pode ou não acontecer, porque ela pode muito bem falhar. Não, para. Você não deve pensar assim. Você vai conseguir. Você tem que conseguir. E por último, havia aquele garoto. O príncipe Ben, o garoto que havia dado o decreto, o garoto dos seus sonhos. Quando viu nem conseguiu acreditar. Depois de tanto tempo sonhando com o mesmo, ele parecia ainda mais bonito ao vivo. E diferente. E quando seus olhares se cruzaram, ela pôde ver em seus olhos que era especial, único. Mas não. Não devia pensar assim, não devia em hipótese alguma pensar desse jeito. Logo tratou de esquecer esses pensamentos alguns segundos de ouvir Evie lhe chamar.

- Mal, olha só. – Chamou a de cabelos azuis. Chegando perto Mal pôde ver do que se tratava. Enquanto explorava todos os canais que tinha ali, Evie tinha encontrado um em especial. Na verdade, não era um canal novo para elas, mas a programação sim, e pela primeira vez elas realmente se importavam com isso. Era o rei Fera, junto com sua esposa e seu filho. Eles estavam dando uma entrevista sobre o último decreto dado pelo futuro rei de Auradon.

- Mas o rei não sente medo de ter os filhos dos nossos inimigos convivendo entre nós? – Perguntou um dos repórteres. Mal revirou os olhos, fingindo não ligar para tal pergunta. Evie, por outro lado, não conseguiu disfarçar o desconforto que aquela pergunta lhe causara. Se perguntava se Jay e Carlos estavam vendo aquilo também. Era provável que sim, pois, igual a ela, Carlos é muito curioso, e com certeza estava louco para explorar tudo que ele não pôde ter. A TV principalmente, já que ele já tentou e já conseguiu fazer com que a ilha recebesse mais sinais uma vez, mesmo que por pouco tempo.

- Confesso que de inicio eu fiquei receoso pela escolha do meu filho. – O rei começou a falar. - Afinal, iríamos receber aqui quatro jovens completamente diferentes. Com costumes e personalidades diferentes.

- Diga logo, vilões. – Falou Mal, já perdendo a paciência novamente. Evie sorriu, às vezes era engraçado ver a Mal chateada. Às vezes.

- Mas daí eu percebi uma coisa. Por meio do meu filho – Lançou um olhar para o mais novo que ouvia tudo atentamente e ansiosamente. – eu percebi que não importa os pecados que os famosos e antigos vilões que todos conhecemos nos causaram. Os filhos? São inocentes. Eles não têm culpa de qualquer coisa que tenha nos acontecido, portanto, merecem uma nova chance. Merecem a chance, a oportunidade de ter uma vida melhor. A vida que eles nunca puderam ter. E é por isso que não, não tenho medo. Do mesmo jeito que nossos descendentes têm sua liberdade de escolha, todos os outros podem ter também. É por isso que eu fico mais que feliz em recebê-los na minha casa. - Finalizou. A esse ponto os nossos VK’s não sabiam o que pensar. Não que eles fossem confessar algum dia, mas a resposta do rei mexera muito com eles.

Já estavam se retirando quando outro repórter fez mais uma pergunta. – Majestade, majestade só mais uma pergunta: Onde está a princesa Dinah?

- A princesa não pôde comparecer essa manhã. – Respondeu o rei.

- E podemos saber por quê?

- Por motivos pessoais, meu senhor, e desconhecidos. – Dito isso a entrevista tinha acabado.

Evie desligou a televisão. Nada foi dito. Já que as duas estavam ocupadas demais pensando no que o rei Fera disse. Foi então que, depois de um tempo, Evie disse:

- O que acha que aconteceu com ela? – Mal a olhou confusa. – Com a princesa, por que acha que ela não foi? – Mal revirou os olhos, não havia gostado da garota.

- Não sei, e não me importa. – Falou e logo depois se retirou para o banheiro particular das duas.

Evie não tinha muito o que fazer. Na verdade, não tinha nada o que fazer, então logo tratou de vasculhar o quarto. Abriu o guarda-roupa que para sua surpresa – ou nem tanto – suas roupas já estavam lá. Sorriu e depois fechou o mesmo, estava prestes a olhar as gavetas de suas cômodas mas ouviu alguém bater na porta. Levantou-se e foi em direção da mesma, quando abriu viu que se tratava de uma das criadas do lugar.

- Posso ajudar? – Perguntou, confusa.

- Bom dia, senhorita, só vim avisar que o almoço irá começar em uma hora e o rei queria saber se poderíamos contar com a presença dos convidados. – Evie olhou para a porta do banheiro que continuava fechada. Pensou um pouco. Novamente virou seu olhar para a mulher em sua frente e então respondeu:

- Estaremos lá.