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História Desde agora e para sempre - Capitulo Vinte e três - Ela


Escrita por: magnors e Bane

Notas do Autor


Eai meu povo, preparados para emoções fortes?

Anteriormente em 'Desde agora e para sempre': Aline seguiu reunindo mais pistas da investigação sobre o estupro de Olivia, mas sem muito sucesso. Dolores participou do concurso de beleza chamado "Garota do Bairro", mas seu quadro de saúde piorou e ela acabou no hospital, diagnosticada com bulimia. Em meio a isso, Veronica e Aline estabeleceram um acordo de paz e acertaram de uma vez por todas os problemas que tinham uma com a outra, iniciando uma bela amizade. Numa virada inesperada, Cris e Aline encontram um video do dia do estupro e constatam que Eric está nele. E agora? Será que o garoto é realmente culpado?

Por favor comentem o que estão achando.
Boa leitura :D

Capítulo 24 - Capitulo Vinte e três - Ela


Fanfic / Fanfiction Desde agora e para sempre - Capitulo Vinte e três - Ela

20 de julho de 2014.

 

           O caminho até a casa de Eric passa como em um sonho. O carro do tio de Cris corta o ar rapidamente, pegando todos os buracos da estrada e fazendo os pneus chiarem nas curvas acentuadas. Poucas pessoas já testemunharam a fúria fria que escapa da garota de cabelos azuis com a mão no volante. A cidade parece vazia, o mar tão escuro quanto o céu negro e nublado que se agiganta sobre nós. Os ruídos em minha mente não parecem fazer sentido algum. A mão que massageia minha têmpora dolorida não ajuda em nada a acalmar o turbilhão de emoções desprezíveis que ameaçam me “afogar”, à medida que as ondas quebram com uma força surreal no lado de fora.

            O percurso se mostra impossivelmente rápido e silencioso, mas ainda assim mais hostil que muitas brigas que tive o desprazer de presenciar. Guinchos agudos ressoam dos pneus quando Cris pisa no freio com força, fazendo com que o carro pare e o celular com o vídeo incriminador quase voe de minhas mãos.

            A sigo para fora do carro com as pernas trêmulas, sem ter certeza do que a garota fará em seguida. A vizinhança de Eric se mostra reclusa, quase nenhuma luz ajuda a iluminar a rua, a não ser pelos postes acesos. Cris não falara nada ao me arrancar do quarto e seguir furiosamente até ali.

            Sem avisar, ela simplesmente começa a esmurrar o portão.

            - Eric! - berra. A mão seguindo para o interruptor e apertando o botão sem parar. É possível ouvir o barulho da campainha ressoando pela casa. - Abra a porta!

            Engulo em seco, me perguntando sobre a família dele, mas a garagem não ostenta nenhum automóvel.

            Um Eric assustado, de pijama, abre a porta da frente poucos instantes depois; sem se demorar graças ao chamado intimidador. Olhando a garota ao lado, bufando e gritando, até eu quero me esconder.

            - O-o que foi? - ele gagueja, se apressando, atrapalhado, com o molho de chaves. Lança-me um olhar questionador por entre as grades enquanto procura pela chave certa, mas apenas retribuo transformando minha expressão em uma máscara gélida.

              As dobradiças do portão mal terminam de abrir quando Cris agarra a gola da camiseta de Eric e o joga de costas no chão da calçada.

            O impacto misturado com a surpresa fazem minha máscara de indiferença falhar, e inspiro ruidosamente, o coração saltando. Os olhos de Eric parecem tão surpresos quanto os meus.

            - Como pôde?! - Cris balança o punho fechado, fazendo com que a cabeça dele bata contra o concreto. Não tão forte, mas sem dúvida com nenhuma delicadeza. Está sobre um dos joelhos, sua sombra se agigantando sobre Eric. É quando finalmente encaro o rosto da garota, e o que vejo me atinge profundamente.

            Lágrimas brilham nos olhos de Cris. Traição, devastação, raiva, incredulidade. A lista de emoções se estende quase infinitamente. Mas a tristeza surpreendentemente toma conta de sua expressão, muito mais do que a fúria. E me pego fazendo a mesma pergunta.

            - Do que está falando, sua maluca?! - Eric tenta se desvencilhar, sem sucesso. Os óculos escapam da face e os cabelos escuros estão sujos de terra. Cris não o solta, em vez disso desfere um soco em seu nariz.

            Dou um pulo e avanço, sem saber o que pretendo fazer. Ver meus dois melhores amigos nessa situação é doloroso. Quando agarro o braço da garota ela afasta com um empurrão, e percebo a mancha de sangue no punho. Outro soco.

            - Não! - grito.

            A garota me mira, seu coração quebrado evidenciando-se pela contorção das feições. Meu próprio coração falha um compasso.

            - Não?! - questiona, alto. - O desgraçado estava no vídeo!

            - Que vídeo? - Eric geme, do chão.

            - Cala a boca, Eric. - declaro com raiva, o sangue escorre pelas narinas e não me sinto mal, pois apesar de tudo, ele merece. Lembro que a mesma substância manchava as pernas e o vestido de Olivia. Volto-me para Cris, que continua a encarar, quase descontrolada. - Não podemos... espancá-lo.

            - Claro que podemos! Olha o que o filho da puta deixou acontecer com Olivia! - uma lágrima rola pela bochecha. Sinto os olhos arder com a visão.

            - Eu sei, também quero que pague, mas... - quase não reconheço minha própria voz, de tão embargada que se encontra. Suspiro, cobrindo o rosto com as mãos. - Não sei, simplesmente não sei o que fazer.

            Cris solta Eric violentamente, e ele faz a escolha sábia de permanecer no chão. Se levantasse, eu mesma seria a próxima a derrubá-lo.

            - Temos que pensar. - falo, a voz abafada. - Nos acalmar.

            - O que eu fiz?!

            - O que você fez? - Cris se inclina bruscamente em direção ao garoto no chão, que se encolhe. - Assista o vídeo do estupro da Olivia e me diz, robô desgraçado.

           Com a menção a sua fantasia, a face de Eric adquire uma cor pálida, quase lívida.

            - Eu... - tenta falar.

            - Nem começa. - soluço, sem me importar em segurar as lágrimas. Ele para, parecendo prestes a vomitar. Relanceio para Cris, que agora encara a moradia do asiático com nojo. - Vamos embora. Por favor.

            O “peso” nos ombros é surpreendente. A garota apoia a mão em minhas coisas, guiando até o carro mal estacionado, enquanto continuo a soluçar. Ela bate a porta do seu lado momentos depois, com força, e quando afunda o pé no acelerador, tenho certeza que vai acertar Eric, agora sentado no chão. Mas a mesma muda a marcha e da ré, atingindo a pista novamente.

            Deixamos a rua sob olhares dos vizinhos antes reclusos. E de Eric, com o rosto banhado de sangue.

            - Me deixa nesse bar - aponto pela janela, pouco antes de alcançarmos minha casa. Recebo um olhar preocupado de Cris. - Não quero voltar agora. Preciso... - respiro fundo. - De alguma distração.

            - Tudo bem - diz, cabisbaixa. Quando para o automóvel na entrada mal iluminada do lugar, me fita. - Cuidado.

            Suas palavras são breves. Cansadas e perdidas. Posso entendê-la melhor do que ninguém no momento e só torço para que também tenha cuidado nessa noite conturbada.

            Debruço-me sobre a mesa oleosa do bar, onde risadas e gritos animados ecoam. Não poderia estar mais alheia a tudo. Peço um shot de tequila. Miro o chão sujo, tentando afastar a face culpada de Eric, mas a tentativa é em vão. Para um domingo, esse está se mostrando desagradavelmente agitado e cheio de emoções.

 

~ <> ~

 

              A grande biblioteca da faculdade se encontra estranhamente vazia para aquela noite de meio de semana. Na verdade, com o começo do semestre, ainda não há necessidade para estudar para provas, e a ausência de alunos é até plausível, porém a da secretária não. Sinto um arrepio quando passo pela recepção, com a impressão de estar sozinha e desprotegida. Relaciono isso ao fato de sentir mentalmente perdida nos últimos dias.

            Não voltei a falar com Cris, por motivos que não sei explicar. Também não tenho me comunicado com Eric.

            Passo o mais distante possível do prédio de direito, e evito qualquer interação. Minha mente fragilizada não parece disposta a enfrentar tamanho problema. Praguejo, me sentindo covarde e incapaz.

            A estante de livros à frente está coberta por uma camada de poeira, e apenas três pessoas ocupam as mesas principais da biblioteca. A escuridão da noite só é amenizada por lâmpadas ocasionais ao longo do teto, que se estendem até o fim da construção.

           O pensamento insiste em voltar para Olivia, apesar de ser doloroso. A cena da garota no hospital se encolhendo à visão de Eric me embrulha o estômago.

           Passos ecoam pelo hall. Quatro pessoas além de mim, então. Não é um número ruim para o horário do intervalo. O que incomoda é o fato da pessoa não se deter em uma das mesas ou arrastar uma cadeira. Em vez disso, os passos se aproximam cada vez mais. Um frio toma meu corpo, e é como se já soubesse quem fosse antes de virar.

            Eric.

            Meias luas profundas e levemente roxas sob os olhos trazem um ar débil a sua figura. Os cabelos sem vida, quebradiços. O pé impaciente batendo no chão, indicando o estado de espírito nada sereno do garoto.

            - Você tem me evitado – fala como se não fosse óbvio.

            - Sim - respondo simplesmente.

            Ele engole em seco e continua a me encarar, como se quisesse perguntar o motivo, mas sem ousar fazê-lo. Talvez por medo, talvez por já saber do que se trata. Independente do que for, não conseguiu manter distância, como se o assunto o corroesse.

            Se escolheu vir até mim, ele provavelmente espera frases afiadas e uma dose da irritação de domingo a noite; por isso escolher o que falar em seguida não é nada complicado.

            - Sabe o que aconteceu com Olivia no dia da festa? - não fraquejo ao fitá-lo.

            - Acredito que nós dois sabemos.- Eric diz, mas sem de fato responder a pergunta. Tento apagar a centelha de raiva que insiste em se manter acesa e queima a garganta.

            - O vídeo de que te falamos... - saco o celular do bolso e os dedos treinados passam rapidamente pela tela, encontrando o frame em que aparece. - Parece familiar?

            Eric encara a tela, cabisbaixo. Abre a boca para responder duas vezes, mudando de ideia logo em seguida. Noto no olhar que lança que não quer mentir, mas falar sobre o que aconteceu parece uma opção igualmente inviável.

            Sem perder muito tempo, ele olha ao redor, reparando nas poucas pessoas espalhadas pelas mesas, e indica as escadas com a cabeça. Seguimos pelo corredor de livros, o garoto com um passo firme, constante. E logo alcançamos as escadas que levam ao patamar superior e às cabines de estudo.

            Não há ninguém à vista. A luz que ilumina a silhueta dele é proveniente da claridade da noite que escapa pelos vitrais principais da fachada, assim como das lâmpadas do patamar inferior. Estico a mão trêmula até um dos abajures posicionados estrategicamente nas mesas circulares. Estamos parados ao lado do acesso para as cabines de estudos, onde alunos sentam para estudar em grupo; nessa, que é uma das grandes sacadas da biblioteca. O garoto se aproxima do batente com colunas que se estende até pouco acima da cintura.

            Mal consigo processar a decepção e tristeza que sinto. Eric nunca pareceu alguém capaz de tamanha atrocidade. Tento manter a mente aberta, conseguir captar seu lado da história, mas a tarefa é cansativa e dolorosa. Só consigo lembrar do sofrimento da ruiva sob as mãos nojentas daqueles homens. E meu melhor amigo estava entre eles. Uma guerra se desenrola em minha mente. Entre acusá-lo impiedosamente e tentar absolvê-lo de alguma forma. O conflito mental quase me deixara maluca nos últimos dias, e certamente está fazendo o mesmo no momento.

              Não espero Eric tomar a iniciativa.

            - O que fazia naquele quarto?! - pergunto, tentando manter a calma e lembrando de esbarrar com o mesmo na escada, momentos antes de encontrar Olivia. - Por que não parou o que estava acontecendo? Pelo amor de deus, Eric!

             Ele se encontra de costas para mim. Agarrando com força o encosto de uma das cadeiras, leva a outra mão até o rosto. Seus ombros começam a chacoalhar e um soluço baixo escapa por entre os dentes que devem estar trincados pela tensão visível no maxilar.

                - Eu não fiz nada.

              - Exatamente. Esse é o problema - digo, sem demonstrar compreensão na voz, apesar de sentir um aperto na garganta ao vê-lo começar a chorar.

               O garoto respira fundo algumas vezes, até que finalmente se volta para mim.

            - Eles me levaram para lá, não sabia o que ia acontecer! - exclama, seu rosto vermelho e úmido. - Olivia é minha amiga, porra.

            - Eu não tenho mais certeza quanto a isso. - sussurro, com a raiva impregnando as palavras.

            Ele deixa o ar sair de forma descompassada, virando bruscamente para chutar uma das cadeiras. O estrondo da madeira contra o chão faz com que tenha vontade de me encolher.

            - Desculpa, por favor, desculpa. - repete. - Trancaram a porta e não pude sair - ele funga. – Tentei impedir, quando vi o que estava prestes a acontecer, mas eles não deixaram. Diziam que sou um covarde e que deveria assistir para aprender como pegar uma mulher.

            Me enojo com as palavras, e Eric mais ainda. Cuspindo cada uma delas com desprezo. Ainda assim...

           - Fiquei paralisado quando vi aquilo, não conseguia acreditar. Afastei-me o máximo que pude. Então os gritos começaram... - se interrompe, cobre o rosto com uma das mãos e ficando em silêncio por alguns instantes.

          Vejo a boca contorcida enquanto tenta controlar o choro. Meu Deus, Eric está completamente aterrorizado. Exatamente como fico durante uma crise de ansiedade. Sinto o ímpeto de confortá-lo, mas não consigo me mover.

            Desabo na cadeira ao meu lado, me sentindo derrotada. Nunca vi Eric chorar. Não assim. As mãos não param de tremer, nem quando ele levanta a cadeira e também tenta se sentar, ainda trêmulo. Os punhos cerrados sobre a mesa mostram sua instabilidade emocional no momento.

            Tento, com toda força de vontade que consigo reunir, aceitar a explicação, observando por alguns segundos o rosto devastado de meu amigo.

                 - Foi a pior coisa que já presenciei. - declara, como se lesse minha mente.

            Assinto, ainda em silêncio. Se estivesse em seu lugar, não sei se conseguiria superar facilmente, mas ainda sinto extremamente magoada. E Eric sabe disso, pois repete:

                 - Me desculpa.

                - Se foi ruim para você... - murmuro. - Imagina para Olivia.

                Ele encolhe, como se a frase o machucasse fisicamente. Os ombros sacudem novamente.

                É quando algo cruza meus pensamentos.

              - Espera... - começo, mas a mente agitada com informações me atrapalha. Os olhos arregalados miram a mesa sem de fato vê-la.

            - O que?

            - Você viu quem fez? Sabe quem são?

            Ele respira fundo, mas quando os olhos emoldurados pelos óculos encontram os meus, vejo determinação ali.

            - Sei.

            Ponho-me de pé em um salto. Esperança preenche meu interior. O depoimento de Eric é a prova necessária para pegar os culpados.

            - Você precisa falar com a polícia - inclino em sua direção. - Por favor, Eric - imploro. - Diga tudo que sabe.

            O garoto limpa a bochecha com a manga comprida da blusa, sem desviar o olhar.

            - Farei o que for preciso para me redimir. - os olhos marejam novamente. - Com Olivia e com vocês.

            A onda de alívio que me atinge vem acompanhada de um ardor nos olhos e na garganta. Permito que um pequeno sorriso escape.

            Eric me acompanha com um passo vacilante para fora da biblioteca, e segue para sua aula. Dessa vez, tenho certeza que as coisas funcionarão. Passo o restante da noite remoendo o impacto da declaração do garoto, ciente de que enfim fará a coisa certa.

 

~ <> ~

 

              A manhã é chuvosa, mas a felicidade permanece pela conquista de ontem. Ao chegar da faculdade, refleti bastante sobre estado emocional de Eric, mas uma parte ruim da minha personalidade não chegou a sentir a empatia necessária pelo garoto e suas lágrimas, principalmente ao lembrar o estado de Olivia ao encontra-la, e depois no hospital.

            Sou surpreendida ao abrir a porta de casa para ir trabalhar, dando de cara com Dolores. O rosto um pouco menos pontiagudo mostra um sorriso contido.

            - Dolores! – avanço para um abraço.

             A garota ainda está fraca e quase não aguenta meu peso.

             - Pega leve, Aline. - ouço Verônica da garagem. - Acabamos de sair do hospital.

             - Você está ótima! - declaro, com seu rosto entre as mãos. Por sua vez, ela lança um olhar incrédulo. - Ok, um pouco melhor.

            - É. - João Victor ri, me assustando com a aparição repentina. O garoto se põe a minha frente de forma impertinente. Os dois seguem para dentro.

            - Vou para o trabalho. - digo à Verônica e a mesma acena com a cabeça, abrindo um sorriso e fechando a porta da sala. Deve estar completamente exausta, emocional e fisicamente.

           O caminho até o escritório é acinzentado pela nuvens. Algumas gotas prateadas escorrem pelas laterais do ônibus, amenizando um pouco do clima normalmente abafado. Quando chego ao Jornal, Marcos logo nota que algo aconteceu.

            - Dolores voltou para casa! – revelo.

            - Como assim “voltou para casa”? - soa confuso. Então me dou conta que vim guardando todo o assunto durante as últimas semanas. O quão pesado o fardo pareceu. Me pergunto se ter lhe revelado tudo serviria de alguma ajuda. Provavelmente. Eu e meu orgulho idiota.

            - Passamos por alguns problemas em casa. - começo, baixo. Revelo como fui juntando os acontecimentos até ter certeza de que a garota sofria de um distúrbio alimentar. Das atitudes atípicas. Espero me deparar com surpresa nos olhos de Marcos, mas uma familiaridade dolorida toma conta dele. No fim, demonstra alivio, abrindo um sorriso gentil.

            - Que bom. Espero que ela fique bem. – parece selecionar uma entre as centenas de fotos no álbum repousado na mesa.

            Seu olhar revela mais preocupação do que inicialmente presumiria. Parece tratar o caso com muita seriedade.

            - A recuperação não será fácil. Ela não voltará a comer normalmente de uma hora para outra. - fala. - Pode até fingir que sim no começo, mas infelizmente espere algumas recaídas.

            Ergo as sobrancelhas, impressionada:

            - Parece saber muito sobre o assunto.

            O silêncio prevalece, e quando volta a abrir a boca, algo como pesar e carinho carregam sua voz:

            - Minha irmã...

            - Ah. - sussurro suavemente. - Nunca tinha falado disso.

            - Pois é. Acaba sendo um assunto meio complicado, você sabe.

            Assinto e ele continua:

            - Ouvir o que aconteceu com Dolores não é inédito para mim, mas ainda assim triste, pois me lembra dos problemas com o corpo que Bia possuía, e ainda suspeito que possua.

            Abraço sua cintura em um aconchego forte, e ele me envolve pelos ombros.

            - Qualquer coisa pode falar comigo. - sorri. – Bagagem sobre o assunto é o que não falta.

            Devolvo o gesto, imaginando pelo que Marcos passou com sua irmã, vislumbrando minhas desavenças com Dolores. Tenho vontade de abordá-lo com mais ênfase sobre o assunto, mas prefiro ver como as coisas com a garota seguirão.

            - Mas... - Marcos continua. - Você está diferente. Tem outra coisa, não é?

            Ele é definitivamente bastante atencioso. Hesito perante o seu bom discernimento, mas logo me obrigo a falar. Não posso voltar a acovardar como fiz durante a semana.

            - Tenho que te falar sobre Eric - sussurro ao ouvido.

            - Eric?

            O levo até minha mesa, onde desfrutamos de mais privacidade antes de o expediente começar. Desbloqueio o celular e clico no vídeo. Ele vira o rosto quase imediatamente. Recusou-se a ver quando viralizou, e imagino que também recusará agora. Não tinha lhe contado sobre a fantasia de Eric nas imagens. Cris e eu simplesmente permanecemos em um silêncio mórbido sobre o assunto.

            - É mais sobre essa história horrorosa, não é? - Marcos demonstra insatisfação. – Sei que sugeri que buscasse respostas, mas essa investigação não tem feito bem a você, principalmente nos últimos dias.

             Encaro com ternura sua preocupação.

            - Foi um erro incentivar que fizesse o trabalho da polícia. - suspira, se apoiando na mesa.

            - Não foi um erro. - comento, indicando para que sente ao meu lado e ele puxa uma cadeira de rodinhas. - Não tem que ver o vídeo todo, só uma parte.

            Preparo-me para o choque, e o recebo em cheio quando Marcos, sem que diga nada, vê do que estou falando.

            - Eric participou disso? – fala, surpreso. - Desgraçado!

            - Ele disse que irá depor contra os caras. - tento explicar. – Ajudará como puder.

            - E será preso no processo. – percebo o prazer ao dizer a frase.

           Sinto um calafrio na coluna.

            - Mas ele não fez nada!

            Marcos me olha com um ar interrogativo.

            - E quem te deu essa certeza? Se for ele, pode estar mentindo.

            Sinto a boca ressecar e a garganta fechar. Não teria absoluta certeza, mas Eric é meu amigo, o que causa certa angústia.

            - Então não posso levar o vídeo à polícia. - declaro baixinho, mordendo o lábio. - Tem razão, ele pode ser preso.

            O garoto me mira, incrédulo.

            - Está brincando, né?

            A mente se encontra tão ocupada em busca de soluções que nem presto atenção a seu comentário. De repente, tenho uma ideia:

            - Nick!

            - O que tem ele? - o garoto sopra uma mecha encaracolada para longe dos olhos.

            - Uma vez disse que ele entendia de informática.

            - Sim. - Marcos confirma, mas então cai em um silêncio pesado, até que certa reprovação cintila em seus olhos castanhos. – E o que isso tem haver com Eric e o estupro?

            - Ele pode editar a parte do vídeo. – falo, empolgada.

            - Pra salvar Eric?! De jeito nenhum.

            Incorporo parte de sua indignação.

            - Não permitirei que ele seja preso! Mas ainda assim não posso deixar de fora essas provas em vídeo. São importantes demais.

            Marcos levanta, balançando a cabeça negativamente.

            - Ocultar provas para encobrir um amigo. Isso é errado, sem contar que é crime!

            - Não ligo, farei o que preciso. - a voz soa quase como um rosnado.

            Ele ri brevemente, desdenhando.

            - Estou vendo. - declara. - Mas não te ajudarei nessa. Não salvarei um estuprador.

            O garoto sai. O que diz me atinge profundamente, aumentando a pontada de raiva em meu peito e abalando a pouca confiança que voltara a depositar em Eric. Chateada, observo a imagem no aparelho, mas ainda sem descartar a ideia.

 

~ <> ~

 

            Cris soa incrédula ao telefone depois de ouvir sobre minha atitude.

            - Não acredito que aceitou falar com aquele canalha.

            - Calma. - tento.

            - Calma nada. Você sempre pede calma. - se irrita. - Devia ter terminado de quebrar a cara dele no domingo.

            Decido falar tudo de uma vez, sabendo que ela não dará ouvidos de outra maneira.

            - Eric sabe quem fez. E vai prestar depoimento.

            Silêncio. Posso ouvir o som da chuva noturna batendo nas telhas do outro lado da linha, e a televisão ligada no noticiário. Provavelmente o tio dela está desmaiado no sofá com o aparelho ligado.

            - Ele vai mesmo? - quando Cris finalmente fala, sua voz sai tímida, diminuta.

            - Espero que sim.

            Ela suspira.

            - É... - conclui. - Espero que aquele filho da puta faça a coisa certa pelo menos uma vez na vida. - e desliga antes que eu tenha a chance de responder.

            Encaro a tela e suspiro, às vezes ela age como uma adolescente. A mensagem de Nick confirmando nosso encontro no dia seguinte pisca logo em seguida, e desabo na cama. Mirando o teto escuro e ouvindo a chuva até cair em um sono agitado e repleto de pesadelos.

            A manhã se mostra menos nublada do que no dia anterior, e quando o meio dia chega, o sol está brilhando, quente, em toda sua glória sobre mim. Sigo até o apartamento que Nick divide com Marcos, temendo a presença do mulato lá. Porém Nick me garantiu que o amigo não costuma ir para casa naquele horário, e insistira em saber o motivo do encontro.

            É sério demais para que falasse por mensagem, por isso guardo a informação até estar diante o edifício. A construção agigantando como um monstro. Engulo em seco e sigo para o elevador.

            O garoto simplesmente grita para que eu entre, e ao empurrar a porta, só espero não o encontrar pelado no meio da sala, como de costume.

            - Fico lisonjeada por ter vestido uma blusa pra me receber. - brinco, jogando a bolsa em um dos sofás puídos e acomodando nas almofadas.

             Nick esparrama na única poltrona do ambiente. Encara o televisor com uma pequena caixa de comida chinesa nas mãos. Outras estão espalhadas pela mesa de centro entre nós. Reconheço quase imediatamente a narração e os apitos da partida de futebol.

            - Que nada. - fala com a boca cheia. - Fiquei com preguiça de tirar a roupa de ontem.

            Rio com repulsa, acenando negativamente com a cabeça.

            - Deve estar fedendo horrores.

            - Com certeza, gata - ele pisca para mim. - Quer? - indica a comida.

            Faço uma careta para o arroz colorido. Normalmente aceitaria, mas a seriedade do assunto a ser discutido tira todo meu apetite.

            - Passo.

            - Beleza, mais pra mim. – tira o foco do aparelho e se volta para mim. Acho o gesto estranhamente educado, vindo dele. – Mas então... o que caralhos quer comigo? Já vou avisando que cobro por serviços sexuais.

            - Cala a boca, Nick. - ele ri do meu insulto. - Vim pedir algo sério.

            O garoto permanece em silêncio até que eu prepare o vídeo.

            - Viu isso aqui? Se não, quero que veja. - estendo o celular para ele, que imediatamente inicia a gravação.

            Os sons de choro e xingamentos começam. Meu estômago se embrulha e Nick franze o cenho para a tela.

            - É aquela ruivinha.

            - É.

            Ele pausa.

            - Por que acabou de me mostrar um estupro?

            - Quero que edite uma parte - explico.

            - Ok... - ele analisa a proposta.

            Entrego um post-it com os segundos que quero fora do vídeo. Ele segura o papel amarelo entre os dedos em um silêncio preocupante. Não faço a mínima ideia de qual será sua resposta.

            - Isso vai pra polícia? - pergunta, simplesmente. - É uma gravação bem séria.

            - Sim.

            - Então podem descobrir que alguém mexeu no vídeo.

            Engulo em seco, já sentindo perder a calma.

            - Por favor. - peço. - Eu pago.

            Me mira rapidamente, os olhos brilhando.

           - Porque está tão disposta a fazer isso?

          - Para prevenir que uma injustiça aconteça.

          O garoto ergue uma sobrancelha, preferindo não continuar com os questionamentos.

            - Está bem. – diz. – Tem sorte que sou muito bom no que faço. - abre um sorriso sacana. Respiro fundo, aliviada. – Quando pagará?

            - Depois que fizer.

            O sorriso se mantém.

            - É definitivamente uma proposta irrecusável. - se põe de pé. – Veio ao homem certo.

            Reviro os olhos.

            - Obrigada. – falo, sinceramente.

           - Não ganho nem um beijinho?

          Mostro o dedo do meio e sigo para a entrada, sabendo que minhas ações não são corretas, mas ainda assim não pretendo voltar atrás.

            - Aquele é o Eric, né? - pergunta antes de fechar a porta, quando já estou esperando o elevador. - Reconheceria um C3PO em qualquer lugar.

            Sinto meu sangue gelar.

            - É. - confirmo.

            Nick me encara longamente, e então fecha a porta, se voltando para dentro do apartamento.

 

~ <> ~

 

            Olivia está passando um tempo na casa dos pais. Ela mandou a localização assim que saiu do hospital. Agora me encontro em um dos bairros mais ricos de Salvador. Prédios luxuosos e casas exóticas, me sentiria deslocada se não estivesse ocupada demais os admirando.

            É final de tarde, o GPS faz com que eu pare em frente a uma casa de três andares. Videiras floridas descem pelas sacadas, colorindo as paredes externas de um verde refrescante. Do portão de vidro - nunca vi um portão de vidro antes, não parece ser nada seguro, apesar de chique - posso ver pequenos bebedouros açucarados para os beija-flores que se banqueteiam. Entendo o motivo dela ter escolhido ficar aqui para a recuperação, é um lugar incrivelmente agradável.

            Toco o interfone e uma voz feminina familiar atende.

            - É Aline. - me apresento. - Aquela amiga de Olivia do hospital.

            - Ah, olá querida! - a voz adquire um tom animado, mas muda rapidamente. - Infelizmente Lili não está disposta para visitas no momento.

            A mulher soa triste, e compreendo. Estou ciente do isolamento da ruiva.

            - Não tem problema, vim falar com a senhora.

            - Comigo? – parece surpresa. - Só um instante.

           Nunca tinha visto um portão de pedestres automático, porém este se abre para mim sem ao menos tocá-lo. A porta gigantesca e retangular se abre para revelar a mulher vestindo um avental. Uma visão simples, que destoa do ambiente. Sorrio.

            - Entre, guria. Que bom te ver.

            Aproximo-me recebendo um abraço acolhedor. A mulher me guia até uma sala de estar bem decorada em tons de creme e dourado. Sai por alguns instantes, e quando retorna, segura uma bandeja de biscoitos quentes.

            - A senhora que fez?! - fico extasiada.

            Ela se acanha.

            - Sim. Tenho tentado de tudo para animar Lili um pouco. - o rosto se ilumina com carinho quando diz o apelido da filha. - Ela não tem muito apetite ultimamente.

            - Imagino... – falo com certo pesar. – Vou direto ao assunto.

            - Sim?

            Mastigo um dos biscoitos, ganhando tempo para pensar como proceder.

            - Vim pedir para que a senhora me acompanhe até a delegacia.

            A frase a faz se encolher.

            - Para que? - faz menção de se levantar, desamassando a roupa. É notável o fato de que está desconfortável. - A polícia já está investigando.

            - Eu sei mas...

            - Não devia se preocupar com isso, querida. - me interrompe.

            - Tenho provas em vídeo, e um testemunho. Além de evidências por meio de fotos e posts na internet. Podemos pegar os culpados.

            O silêncio que se segue é carregado por sentimentos pesados. Tristeza, medo, desesperança. Quando ergue os olhos azuis, os vejo marejados. Porém a mulher permanece em silêncio, como se não possuísse a capacidade da fala.

            Alcanço uma de suas mãos.

            - Por favor. - peço. - Falarei com Olivia por mensagem, mas quero que a convença a dar depoimento. O melhor a se fazer é dar um fim nisso logo.

            A única resposta que recebo é um aceno de cabeça resignado. Sinto alívio, mas também a incerteza que emana da mulher. Inclino-me para abraçá-la, e logo estou de partida.

 

~ <> ~

 

            A delegacia está simplesmente caindo aos pedaços. Consegui convencer Olivia e Cris a virem. Então no dia seguinte, eu, Eric, Olívia, sua mãe e Cris caminhamos cautelosos para o pequeno posto cheio de rachaduras e infiltrações. A prefeitura realmente não dá a atenção necessária para as estruturas militares.

           O policial que havia interrogado Olivia no hospital, já estava à espera. Entrar em contato com eles para marcar um depoimento não foi difícil, pois é exatamente disso que a investigação está precisando no momento.

            Olivia parece cansada, porém mais disposta a falar. Ela é a primeira a entrar em uma pequena sala com mais dois policiais. O tempo que passa lá é curto, e quando sai, a expressão abalada revela a dificuldade de abordar o assunto.

            Eric, sentado ao meu lado, não para de se contorcer. Cris nem se digna a dirigir a palavra à ele, e Olivia se mostra tão indisposta quanto ela. Não posso culpá-las.

            - Line. - Eric chama a atenção, baixinho. A mão treme e eu a seguro com firmeza. Seu olhar transmite o medo do que está por vir.

            - Relaxa, dei um jeito em tudo. - digo, me referindo à edição que Nick fizera no vídeo. - Ficará bem.

            É quando uma voz grossa ressoa pela sala de espera, chamando o garoto, que dá um pulo.

            Antes de ir, ele relanceia para Cris, que o mira com faíscas nos olhos. Como se dissesse: ‘é melhor que faça a coisa certa’. Ele assente, sem trocar nenhuma palavra.

            O depoimento do garoto é o que mais demora. Uma hora e meia, no mínimo. Eric sai tremendo. Lágrimas brilham nas bochechas e o rosto está completamente vermelho. Com certeza não foi uma experiência agradável.

            Quando minha vez chega, tenho o vídeo novo no celular e em um pen drive. Os prints dos snaps impressos e fotos dos suspeitos que Eric apontara. Os policiais se mostram muito satisfeitos. Insistem em ver o vídeo mais de uma vez, o que leva uma eternidade para mim. Meu estômago revira a cada replay. É melhor Nick ter feito um bom trabalho mesmo. Estou sem dinheiro até meu pagamento cair na conta no mês que vem.

            Oferecem água e café. Pedem para citar nomes e contar os acontecimentos da noite. Falo dos momentos em que estava presente e dos que descobri graças às investigações. O tempo inteiro escondendo as unhas roídas, tento parecer calma.

            A minha vez consegue ser mais demorada que a de Eric, e ao sair me sinto completamente esgotada. Como se houvesse tirado e entregue cada pedacinho de mim para aqueles policiais. A Senhora Stein me recebe com um abraço caloroso, e depois que assinarmos vários papéis, somos dispensados.

            A vontade de chorar é grande. Finalmente consegui fazer algo, provar um ponto, reunir evidências, ajudar minha amiga, e bem... - olho para Eric - ajudar meu amigo também.

            - Tenho uma coisa para contar. - a voz melodiosa de Olivia chama minha atenção e a de Cris. A mãe dela conversa com Eric perto do carro, e o asiático parece desconfortável.

            A garota de cabelo azulado passa o braço ao redor de Olivia. Um gesto carinhoso, quase fraternal.

            - Diga, senhorita.- Cris fala e nós rimos.

            - Voltarei para o Sul com minha mãe. Meu pai já está lá, preparando as coisas para nossa chegada. - ela declara. Porém quando vê nossas expressões, acrescenta rapidamente. - Vai ser por um tempo, mas não pretendo que seja para sempre.

            Pulo em cima dela, dando um longo abraço.

            - Promete que não vai ser pra sempre? - pergunto, a voz abafada. Ela ri.

            - Prometo.

            No fim, é uma boa notícia. Apesar de sentirmos sua falta, Olivia permanecerá afastada de toda essa confusão. Trancar a faculdade não será o fim do mundo também.

            - As aulas de balé serão um saco. - falo, tentando segurar as lágrimas.

            - E as aulas de libras também. - Cris completa, fazendo Olivia rir. É um som maravilhoso.

            Pelo canto do olho vejo a Senhora Stein se aproximando.

            - Boa viagem para vocês, e obrigada por comparecer - agradeço a mulher de cabelos já quase grisalhos. Ela me dá um sorriso acolhedor, me puxando para um abraço logo em seguida.

            - Eu que agradeço, guria.

           As duas se distanciam até o carro.

           - Quando voltar traz presente. Aquele doce que você tanto fala. – aumento a voz.

           - Trarei uma cesta de cucas, pode deixar. – a ruiva responde.

           - Pra mim só traz um loirão de olho azul, bem gato. – Cris grita.

           Com um último sorriso, ela adentra o veículo. E com certo pesar, me pergunto quando o verei novamente.

 

~ <> ~

 

            - Não estou com tanta fome assim, mãe. - Dolores insiste, chateada. - Já disse.

            Eu e papai estamos assistimos televisão no sofá com nossos pratos de comida. João Victor se encontra completamente desaparecido, talvez jogando vídeo game no quarto. Verônica é a única que acompanha Dolores à mesa.

            Para a recuperação, é necessário que façamos dos horários das refeições algo descontraído, para que Dolores não se sinta pressionada. Seguimos as recomendações à risca, apesar de o sofá não agradecer pelo tanto de arroz que consigo derramar em seu belo forro.

            - Mas você só comeu três garfadas! - Verônica se exalta.

            Contorço-me no estofado para lhe lançar um olhar afiado de aviso. Péssima escolha de palavras.

            Escuto o barulho característico de Dolores empurrando o prato com força pela mesa. Marcos tinha razão, a recuperação não acontece em um passe de mágica.

            Sem me aguentar, descarto meu próprio prato em uma das almofadas e vou até a mesa. Verônica está prestes a reclamar novamente, mas capta meu olhar e se cala. A situação está sendo completamente desgastante para as duas.

            Pego o prato que fora jogado do outro lado da mesa. Dolores realmente não comeu nada. Suspiro internamente.

            - Já está ótimo - minto. - Vou deixar isso na geladeira se sentir fome mais tarde.

            Dolores permanece em silêncio.

            - Quer sorvete? Fiz calda de chocolate - sugiro, rezando para que aceite.

            A garota sorri para mim, e devolvo o gesto, tomando-o como um "sim". Sorvete é bem mais gostoso que arroz com frango. Não é exatamente cheio de nutriente, mas é melhor do que nada.

            Estou no fogão esquentando a calda novamente quando João Victor aparece. Acho que vai descartar o prato sujo na pia, mas na verdade fica ao meu lado, se servindo de mais uma montanha de comida.

            Assobio baixinho.

            - Que fome, hein.

            Ele não responde. Só continua sua tarefa, concentrado, mas ao mesmo tempo disperso. Algo em sua postura me incomoda. Nas últimas semanas João esteve muito recluso. Mal o vi durante o dia, apenas quando comia a refeição da manhã e eu estava de saída para o trabalho.

            Ainda em silêncio, sai da cozinha. Vou até a porta e encaro sua silhueta lenta subindo as escadas com o prato abarrotado. Franzo o cenho, mas dou de ombros, sem poder fazer nada a respeito. A adolescência tem das suas esquisitices.

 

~ <> ~

 

            Um semana, duas, e nenhuma notícia da polícia. A essa altura Olivia já estava acomodada na nova casa em Santa Catarina e parecia mais tranquila ao telefone. Não trouxe o assunto à tona em nenhuma das ligações. Cris e eu voltamos ao normal, enquanto nossa relação com Eric progride lentamente. Ele até entrou em uma briga com um pessoal do curso. Provavelmente algum dos culpados. Saiu com um olho roxo que ainda está cuidando.

            Balanço a cadeira nas duas pernas traseiras tentando prestar atenção na aula do professor substituto. Até os professores estão deixando de vir com o fim do semestre. Cris simplesmente se deu por vencida e baba em folhas de caderno ao meu lado. Está cochilando desde que a aula começou.

            Uma espécie de burburinho começa lá fora. Primeiramente não dou muita atenção, universitários tendem a ser escandalosos. Porém a confusão só faz aumentar, fazendo com que o professor interrompa o que diz. Inclino o rosto para a janela, como muitos dos estudantes, mas não consigo ver o campus dali. Cochichos tomam conta da sala e o professor finalmente apoia o livro na mesa. A face barbada está tão pálida que parece saber exatamente o que acontece, diferente de nós.

            É quando uma sirene soa. Luzes azuis e vermelhas iluminam a escuridão lá fora. Meu coração dá um salto e sou a primeira a se por de pé e correr até a janela, chutando a carteira de Cris no processo. Uma viatura está estacionada no campus. Um veículo maior atrás. Pessoas gritam e filmam ao redor dos policias armados que fazem uma espécie de barreira para que a multidão fique afastada.

            O cochicho na sala agora se transforma em gritos de exasperação. Agarro o batente da janela com força, me sentindo prestes a cair do pranto. Cris empurra alguns alunos e se posiciona ao meu lado. As luzes das sirenes refletem em seus olhos arregalados segundos antes da garota soltar um grito gutural de comemoração. Ela pula em meus braços, me esmagando. Começo a rir, sem conseguir acreditar.

            Lá fora, quatro estudantes de Direito estão algemados e são escoltados para o camburão. Me questiono se Eric deveria estar entre eles, se a escolha que tomei foi realmente certa.


Notas Finais


Eai, ficaram satisfeitos com o final do plot? Depois de ler esse cap, mudaram a opinião sobre Eric ou ela continua a mesma do cap passado?
Independente se concordam ou não com a decisão de Aline sobre o video, se fosse vc no lugar teria feito o msm?
Merecida essa surra em Eric, né? #EuAmoTreta
Acreditaram no q ele disse? Existe sempre a possibilidade de ter inventado tudo.
Aline deu um show de verdades, sambou msm na cara do menino.
O q acharam da revelação da irmã de Marcos? Esse assunto será abordado mais pra frente na história.
Nick sendo Nick <3
Nos despedimos de Olivia por enquanto, mas ela voltará, e mais rápido do que vcs imaginam...
Na próxima quarta, dia 05/12, Aline vivenciará novas aventuras, e se posso dar uma dica diria q ela seguirá por caminhos bastante assustadores HAHAHAHA (imaginem como uma risada diabólica kkkkk), aguardem...
Peço que nos ajudem falando da história para os amigos, na escola, para a familia, cachorro, gato, piriquito kkkkkkk Pega esse link e manda pra todo mundo, nos ajude a espalhar essa história maravilhosa kkkk:
https://www.spiritfanfiction.com/historia/desde-agora-e-para-sempre-13451170
Não esqueçam de comentar.
Obrigado por ler, até o proximo e aquele cheiro no cangote com o respeito de sempre kkkkkkk


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