1. Spirit Fanfics >
  2. Desejo Impuro - Jeon Jungkook >
  3. Dispostos.

História Desejo Impuro - Jeon Jungkook - Dispostos.


Escrita por: Maaru

Notas do Autor


Boa Leitura! ♥️

Capítulo 38 - Dispostos.


Fanfic / Fanfiction Desejo Impuro - Jeon Jungkook - Dispostos.


Jeon Jeongguk.


Sexta-feira.


Apertei os olhos, em decorrência da sensação incômoda e gradativamente quente pairando sobre o meu rosto, franzi a testa, entreabrindo as pálpebras devagar por causa da claridade. Virei-me para o lado oposto à janela, deixando escapar um bocejo dos meus lábios, sentindo-me pesado fisicamente. Era como se a noite estivesse durando horas a menos que o dia, não lembro a que momento exatamente peguei no sono, mas a irritação que começo a sentir se manifestando no meu humor é imensurável. 


— Bom dia, bela adormecida. — Ouço uma voz grave entonando na direção da porta, fazendo-me erguer o olhar preguiçosamente e deparar-me com a silhueta de Junghyun recostado no batente, com um pequeno sorriso no rosto, segurando uma caneca azul na mão esquerda.


— Bom dia… — Com a voz arrastada e sonolenta, respondi. — Hyung, que horas são?


— Sete em ponto da manhã. — Riu fraco. — Sabe, eu realmente já tinha esquecido como é acordar com o cantar de um galo.


— Ah… — Sorri pequeno. — Eu acho que não o ouvi.


— Sorte a sua. — Suspirou. — Enfim, levante-se. A mãe já pôs a mesa.


Assenti, o vendo se afastar e deixar o quarto. Espreguicei o corpo antes de finalmente sentar na cama e esboçar uma careta quando meus pés entraram em contato com o chão gélido. Definitivamente acordar dentro do mesmo quarto ainda conservado do mesmo modo que o deixei quando ainda tinha dezesseis anos era deveras "assustador", eu sequer me recordava que era o tipo de adolescente que colecionava livros de Harry Potter e jogava Nintendo, sem contar as medalhas do campeonato regional de taekwondo da minha antiga escola, era inacreditável e admirável em como os meus pais não fizeram nem mesmo questão de guardar as minhas coisas durante a minha ausência, apenas as deixaram no devido lugar e limparam, como se eu ainda estivesse aqui, e não foi diferente com o meu irmão, afinal, a sua coleção em miniatura de carros de corrida estava até hoje exposta na prateleira. Respirei fundo, deixando a cama e seguindo para o banheiro. 


— Mãe a senhora não precisa mais chorar. — Pude ouvir Junghyun enquanto caminhava pelo corredor. 


— Ya! Eu estava com tanta saudade, não sabem o quanto senti falta de acordar e tomar café da manhã com os meus filhos. — Respondeu a mais velha chorosa, e logo me recordei do dia em que chegamos, foi uma choradeira sem fim, e os dias que se seguem a nossa mãe não consegue conter a emoção sempre que nos vê sentado à mesa consigo para as refeições, e não a julgaria, foram cerca de oito anos afastados e nem sempre tínhamos tempo de vir visitá-los. — Jeongguk ainda não acordou? 


— Eu acabei de voltar do quarto dele, deve estar…


— Aqui. — Esgueirei o corpo para adentrar a cozinha, sendo recebido pelo olhar surpreso e caloroso de minha mãe, que de imediato veio me abraçar tão apertado que arregalei os olhos sem reação.


— Estou tão feliz, vocês cresceram tanto! — Ergueu a cabeça para me olhar, segurando o meu rosto com ambas as mãos. — Ainda recordo que Jeongguk era bem magrinho e pequeno quando foi para Seul. — Riu.


— É, ele era realmente só cabeça. — Provocou Junghyun e apenas eles dois riram.


— Estão tão bonitos, é um pouco difícil de aceitar que já se tornaram homens. — Suspirou. — Aliás, bom dia meu amor. 


— Bom dia, mãe. — Beijei a sua testa, me afastando para sentar ao lado do meu irmão. 


— Cadê o pai? — Junghyun perguntou, olhando ao redor.


— Ah, ele levantou mais cedo, hoje é dia do gado tomar vacina. 


— Entendi. Podemos ir até ele depois daqui? 


— É claro que podem, ora, essa ainda é a casa de vocês, fiquem a vontade. — Disse, animada. — Aliás, Jeongguk!


— Hum? — Enfiei um pedaço de pão na boca.


— Eu estava com um pouco de receio em perguntar antes, mas… — Hesitou por um instante. — Você está em um relacionamento, não é? 


Desviei os olhos, sentindo o peso da atenção e a quietude dos dois próximos a mim, engolindo a saliva com um pouco de dificuldade.


— Ah, eu... — Pigarreei. 


— O seu pai e eu ficamos muito animados com a notícia de que estava noivo. — Sorriu. — Nós nunca tivemos uma boa oportunidade para conhecermos a Sora e a sua família, imagino que sejam maravilhosos.


— Mãe…


— Eu até queria sugerir que você a trouxesse para cá, teria feito um almoço com o que ela gosta e…


— Eles não estão mais juntos, mãe. — Como se tivesse entendido o meu pedido de socorro mudo, Junghyun cortou a fala da mais velha.


Ficamos em silêncio por um instante, a mulher que antes estava com uma expressão alegre, após processar as palavras recentes, relaxou os ombros enquanto começava a encarar cabisbaixa a própria xícara.


— Oh… desculpe-me. — Olhou-me, crispando os lábios. — Eu não sabia.


— Tudo bem, o erro foi meu em não ter dito nada antes. — Dei de ombros.


— Eu sinto muito, filho. Deve… ter sido difícil.


— A senhora não precisa se preocupar, nós… estamos seguindo em frente, está tudo bem, foi a melhor decisão naquele momento. — Disfarcei, sorrindo pequeno. 


— Entendo, é a minha obrigação como mãe respeitar isso. — Ela retribuiu o gesto. — E você, deu apoio ao seu irmão mais novo, não deu?


— É claro… — Junghyun me encarou, e foi nítido a desconfiança na expressão do mais velho. 


Um assunto aleatório foi iniciado e como se nada houvesse acontecido nós terminamos de tomar café, eu não gostaria que o clima entre nós ficasse estranho por causa disso. A minha família e a de Sora nunca tiveram uma oportunidade para se conhecerem como comumente acontece em um relacionamento, nós só estávamos juntos a mais ou menos um ano e eu mal tive tempo de explicar a minha situação quando de repente me vi diante de um anúncio de noivado, e sinceramente, contra a minha vontade. Ainda assim, os meus pais nunca demonstraram repulsa ou objeção, contanto que eu tivesse certeza do que queria e estivesse feliz, eles me dariam todo o apoio. E esse foi o meu maior problema, eu nunca tive certeza de nada, contudo, acreditei que tinha.


Foi como um piloto automático, ela pedia e eu dava, mandava e eu obedecia sem sequer questionar a mim mesmo se era realmente dessa forma que eu planejava a minha vida. E não era, longe de ser. Provavelmente o receio de não ser um bom parceiro me subiu à cabeça.


Assumo que cometi erros em ter sido flexível demais, e ter me envolvido demais, muito mais do que os meus limites permitiam, e acabei assim, fingindo que rompi um relacionamento normal, quando na verdade cometi um adultério, completamente agindo o contrário da forma que fui criado para ter lidado diante daquela situação.


Não importa mais.


                    [...]


11:30.


— Junghyun deixe de ser frouxo e abra essa porteira! — Enunciou o nosso pai, o tom razoável de estresse era perceptível em sua voz.


— Pai, o senhor tem noção que é um gado que acabou de ser vacinado e ficou horas trancado dentro desse galpão? — Rebateu o meu irmão.


— E?


— "E"? Assim que eu abrir essa porteira podemos ser esmagados! Eles estão estressados.


— É só correr.


— Só correr… — Riu nasalado. 


— Eles precisam voltar para o cercado, Junghyun, abre! 


Tive de virar o rosto para o lado oposto, tentando conter a vontade de rir, o meu irmão estava realmente nervoso, já fazia algum tempo que não fazíamos isso. 


— E por que o senhor não pede para o Jeongguk abrir? — Apontou para mim, e imediatamente arregalei os olhos.


— Porque você é o mais velho, e vai assumir essa fazenda quando eu morrer. Tem que servir de exemplo para o Jeongguk.


— Aish… — Bufou. 


— É só abrir, Hyung. — Ri fraco.


— Você está se achando, não é? — Retribuiu o riso. 


— Jeon Junghyun!


— Que Deus tenha piedade da minha alma! — Ele puxou a alça com força, afastando a grande porta de aço. E logo fomos capazes de ouvir os sons graves que os animais ali dentro emitiam, seguido dos passos agitados. Vi Junghyun correr para o outro lado do cercado, acompanhado por um gado não muito paciente, pulando para o outro lado para contornar e fechar o gradeado. No mínimo desesperado.


— Pai…


— Pois não?


— Por que o senhor sempre faz isso com ele? — Cruzei os braços, umedecendo os meus lábios.


— O seu irmão precisa aprender a ser menos preguiçoso, é bom um pouco de adrenalina de vez em quando. — O mais velho gargalhou.


Obviamente, aquilo não era necessário. Haviam pessoas para ajudar a conduzir os bovinos de modo mais calmo e prático, no entanto, o nosso pai adorava judiar com Junghyun, e sempre que tinha oportunidade, o colocava para realizar tal tarefa da forma mais difícil.


— Pai! Eu não consigo fechar essa porra! Eu vou morrer! — Gritou o rapaz, atordoado enquanto tentava fechar o cerco.


— Frouxo… — O genitor meneou a cabeça. — Eu vou lá, pode fechar o galpão para mim?


Assenti, o vendo se afastar em direção ao meu irmão. Então, antes que pudesse me designar ao portão para fechá-lo, senti o meu celular vibrar algumas vezes dentro do bolso, curioso e ao mesmo tempo entediado, decidi pegar o aparelho pela segunda vez naquele dia, afinal, o sinal nessa área não é dos melhores. Desbloqueei a tela, não me surpreendendo com as notificações de mensagens, sendo estas de um chat em grupo um tanto quanto inconveniente que eu até hoje me questiono o motivo de fazer parte.


Revirei os olhos, abrindo a aba de conversa para ver as mensagens.


Kim Taehyung: Quem não me der "bom dia" é viado!


Kim Namjoon: Quantos anos você tem? 


Jung Hoseok: No mínimo cinco.


Min Yoongi: Definição de homem carente no século vinte e um.


Kim Seokjin: Os diabéticos que se retirem, porque o docinho chegou! 


Jung Hoseok: Hum.


Min Yoongi: Quem?


Kim Seokjin: Eu.


Min Yoongi: Te perguntou? Hahahahah.


Kim Taehyung: Eu não acredito, Jin hahahahah.


Jung Hoseok: Yoongi, por que você é assim? Hahahahah.


Kim Seokjin: Otários. 


Crispei os lábios, era como testemunhar uma creche virtual, mas ao invés de crianças, eram seis marmanjos.


Park Jimin: Quem foi que me enviou a porra de um áudio de gemido? 


Min Yoongi: Você está de sacanagem com a minha cara? Como ainda consegue cair nisso, Park? 


Park Jimin: Eu achei que fosse algo importante, e tive o azar de reproduzir esse caralho enquanto gravava no estúdio. 


Kim Taehyung: Puta merda, que vexame.


Park Jimin: Sorte que eu estava sozinho. Acho bom o palhaço se entregar ou eu juro que vou caçar até o inferno! 


Min Yoongi: Selvagem.


Jung Hoseok: Calma Jiminie, foi só brincadeira, eu enviei sem querer pra você ao invés do Yoongi.


Park Jimin: Se eu fosse você, garantia que todas as portas e janelas da sua casa vão estar bem fechadas, vai ter volta.


Jung Hoseok: Te falta mais amor nesse coração, Park. 


Min Yoongi: O que falta pra ele é tainha, vinho e muito sexo.


Kim Namjoon: Recomendo.


Kim Taehyung: Falando em vinho, Jimin, você me deve um Merlot Chileno.


Min Yoongi: Uau, acho que me equivoquei.


Park Jimin: O que? 


Kim Taehyung: No último final de semana, a minha avó reclamou que o tapete do quarto onde a Sunhee dormiu estava manchado e a garrafa de vinho que eu levei pra tomar vazia do lado. 


Jung Hoseok: Caralho…


Min Yoongi: Pego no pulo. 


Kim Namjoon: A Sunhee bebeu? 


Franzi o cenho, não estava entendendo muito bem o assunto, mas surpreendentemente o meu interesse se acresceu quando o nome "Sunhee" foi citado.


Kim Taehyung: Especificamente, deram para ela. 


Min Yoongi: Não sabia que a Sunhee tinha uma queda por más influências.


Jung Hoseok: Então os estalos que eu escutei não eram zumbis, interessante.


Kim Taehyung: Ao menos para alguém, aquele final de semana foi verdadeiramente emocionante. Bom saber que contribuí de alguma forma. De nada.


Park Jimin: Vão se foder.


Se arrependimento matasse, creio eu que já estaria em estado de decomposição agora, mas só consigo sentir frustração por mim mesmo ao perceber que minha interpretação textual foi eficaz. Não que estivesse chateado, mas honestamente, gostaria de não ter perdido o meu tempo lendo tudo isso. Realmente não imaginei que eles tinham feito uma viagem juntos como costumávamos fazer nos anos anteriores, entretanto, é compreensível que não tenham me convidado, e notório que incluíram outras pessoas, ela, inclusive.


Suspirei com pesar, reprimindo os meus próprios pensamentos.


"Sabe, eu acho que não me importo de correr o risco."


Pisquei os olhos, com minha atenção atraída por uma notificação, mas dessa vez era de uma conversa privada, Kim Namjoon.


Kim Namjoon: Desculpe se estiver soando folgado, mas, se não for incomodar, você poderia trazer um pouquinho de adubo para mim quando voltar? 


Eu: Não é incômodo. Eu levo.


Kim Namjoon: Obrigado, você fez um pai de planta feliz! 


Eu: Você tem plantas?


Kim Namjoon: Cactos. 


Eu: Ah, que legal.


Kim Namjoon: Como estão as coisas por aí na fazenda? 


Eu: Está tudo bem. E por aí?


Kim Namjoon: Nada novo sob o sol, nós até tentamos fazer uma daquelas viagens que fazíamos, mas, não foi a mesma coisa sem você e o restante dos outros. 


Eu: Entendi, quem sabe eu vá no ano que vem.


Kim Namjoon: Seria ótimo, sabe, eu convidei a Sunhee pela primeira vez, acho que ela se divertiu.


Eu: Que bom. Ela já está melhor?


Kim Namjoon: Aparentemente, melhorando.


Eu: Fico feliz em saber disso.


Kim Namjoon: Jeon!


Eu: ?


Kim Namjoon: Eu não acho seguro falar sobre isso com os outros, mas estou desconfiado, preciso fofocar. 


Franzi o cenho.


Eu: Desconfiado sobre o que?


Kim Namjoon: Você o conhece a mais tempo do que eu, então… acha que o Jimin gosta da Sunhee?


Era um ótimo momento para o sinal ir para a puta que pariu. Respirei fundo.


Eu: Eu realmente não sei. 


Kim Namjoon: Como não sabe? 


Eu: Eu só não sei, Jimin não costuma comentar muito sobre os próprios relacionamentos.


Kim Namjoon: Aish, a Sunie também não, mas todo mundo sabe que eles em algum momento já ficaram. 


Eu: É…


Kim Namjoon: Inclusive, depois do último final de semana, acho que realmente aconteceu alguma coisa.


Eu: Acha?


Kim Namjoon: Acho, parecem bem mais próximos. Mas isso é bom, né? Quem sabe o Jimin fica menos arisco.


Eu: É, quem sabe.


Kim Namjoon: Desculpa se estiver sendo chato, senti falta de conversar com você.


Eu: Não se preocupe, eu também. 


Kim Namjoon: Estamos com saudades, quando você volta?


Eu: Talvez, depois do natal.


Kim Namjoon: Tá. Se cuida.


Eu: Você também.


Bloqueei a tela do celular, disposto a ignorar qualquer coisa que viesse daquele aparelho agora, segundos depois ouvindo a voz de minha mãe, nos chamando para o almoço.


                    [...]


19:21.


— Você não quer mais ir? — Senti o colchão remexer, com o peso de Junghyun quando se sentou ao meu lado na cama.


— E o que nós vamos fazer?


— Sabe, o centro de Busan a noite é como Las Vegas. — Suspirou. — Já faz tanto tempo.


— Pode ir sem mim.


— Mas você já até se arrumou… Jungoo! 


— Perdi a vontade de sair… — Bufei.


— Perdeu a vontade, ou algo te fez perder?


— Porra… — Murmurei. — Me dá um tempo.


Ele ficou quieto por alguns segundos, aparentemente pensativo.


— Por que você mentiu? 


— Sobre o que?


— O seu relacionamento.


— Eu não menti, nós terminamos.


— E está tudo bem?


Franzi o cenho, virando-me para encarar o mais velho.


— Está.


— Céus… — Murmurou, rindo nasalado em seguida.


— Não estou te entendendo.


— Sou eu quem não te entende, irmão. — Suspirou. — Por que não admite logo, que estava em um relacionamento abusivo?


Arregalei os olhos.


— O que?


— Não se faça de sonso.


— Junghyun, isso não…


— Nunca faz sentido para quem está envolvido, eu sei. — Cortou-me. — Jeongguk, eu não sou tapado. Posso não ter conhecido essa tal Sora pessoalmente, nunca tivemos um contato mais direto, e honestamente me arrependo de não ter prestado mais atenção antes.


— Junghyun…


— Você parou de fazer muitas coisas que gostava desde que começou a namorar com ela, comecei a perceber desde que chegou em casa com o coelho e quis mandá-lo direto para cá. E depois, toda aquela confusão com a… banda, porque iria querer sair de algo que tanto gostava de fazer com os seus amigos? Ou rejeitar um animal que gosta tanto? 


Abri a boca diversas vezes, mas nenhum argumento parecia plausível para rebater.


— Eu…


— Vou te poupar de lembrar do resto. Mas saiba que eu me sinto mais aliviado que você se afastou daquela família.


— Não é bem ass…


— Você era manipulado sem perceber, nem cuidava de si mesmo, Jeon! 


— Por que está falando isso? — Passei as mãos pelos cabelos.


— Porque ninguém teve coragem de te dizer até agora. 


Ficamos em silêncio, olhar nos olhos do meu irmão começou a se tornar tortuoso, e não pude conter em fechar os punhos com força, como se realizar tal gesto me impedisse de ceder em lágrimas. Eu esperava por qualquer coisa, menos por isso vindo dele, que Junghyun mesmo não sendo tão presente, percebesse tudo isso, guardei tudo que passei justamente para não preocupá-lo e muito menos transpassar isso aos meus pais. Perceber que fui ingênuo feria de fato o meu ego, mas doía ainda mais ver o olhar decepcionado e magoado do meu Hyung.


— Desculpa…


— Peça desculpas a si mesmo, não a mim. — Enunciou calmamente. — Eu te amo muito e não quero mais te ver passar por uma situação assim novamente, só lhe fez mal.


— Você poderia, por favor…


— Acho que já somos responsáveis o suficiente para assumirmos esse infortúnio sem envolver terceiros. — Senti a mão alheia pousar sobre o meu ombro. — Eu realmente espero que você seja um pouco mais flexível consigo mesmo, é bonzinho demais e isso também pode te machucar. 


Assenti, desviando os olhos.


— Eu sei…


— Me desculpe também se… posso ter soado duro. 


— Não, na verdade, você tem razão… é só que, eu não sei como falar sobre isso, preferi não relevar mais… 


— Entendo. — Sorriu pequeno. — Enfim, eu ainda quero dar uma volta. Por favor venha comigo, a gente… pode conversar melhor.


Respirei fundo, respondendo em um aceno positivo de cabeça, para ser mais exato, me dando por vencido e sem escolha. Não faria mal, certo? Desabafar ao menos um pouco…


                      [...]


Oh Sunhee.


Assim que passei pela porta, pude sentir o ar mais quente me cercar, juntamente de um aconchego inegável. Respirei mais aliviada em decorrência da sensação térmica a ponto de retirar a minha jaqueta. O calor humano preenchia o ambiente. A luz escura e num tom amarelado parecia se misturar ao marrom rústico dos móveis e balcões, os copos e garrafas de vidro traziam um brilho especial para o estabelecimento. Por ser a minha primeira vez frequentando aquele lugar, meus olhos não mantêm-se focados em um ponto só, desbravando pacientemente o local.


— Quer sentar aqui? — Gentilmente o rapaz perguntou, próximo a uma mesa redonda, e então, distraída, virei-me em sua direção. 


— Não, acho que prefiro o balcão ali, pode ser? — Sugeri despreocupada, comprimindo os lábios. Sem protestar ele fez sinal para que eu rumasse até o local e o mesmo me acompanhou. Nos sentamos nas banquetas um ao lado do outro. Jimin fez questão de pedir bebidas enquanto eu me acostumava com o ambiente, aparentemente é plausível que o mais velho entenda melhor disso do que eu, daqueles nomes complicados que no fim, sempre terminavam com o mesmo gosto de álcool.


Apoiei parte do meu corpo sobre o balcão, à medida que aguardava o homem anotar os nossos pedidos. Olhei de soslaio para o ruivo ao meu lado, lhe encarando de perfil. Por vezes, vinha à cabeça a impressão de que o Park era alguém intolerante demais, metido do tipo que gosta de ser o centro das atenções, mas… estando aqui ao seu lado, mesmo depois de tantas ocorrências indesejadas, eu pressentia que que ao menos dessa vez, deveria estar aqui, e apesar de nem sempre suportar a personalidade instável, tinha de admitir que também o achava ser alguém realmente interessante. E não era pela sua aparência ou talento, mas por sua companhia.


— Você disse que era um bom lugar para conversar. — A minha fala fez com que o outro me encarasse, virando o rosto em minha direção. — Tem certeza, que não vamos perder o foco? — Desviei os olhos, esboçando um pequeno sorriso em meus lábios. Encarei a minha própria mão, dedilhando sobre a superfície plana. — Imagino que não seja complicado somente para mim, eu te deixo confuso também, não é? — Presumo que o meu semblante tenha mudado drasticamente agora, e não para uma expressão feliz. Inevitavelmente me recordando das palavras que ouvira de si, confessando que não queria tomar um pé na bunda caso fosse o único com intenções mais significativas. — Sinto muito por ter sido tão insensível. — Retomei o olhar vacilante para ele, o vendo franzir o cenho enquanto parecia digerir aquilo. — Eu não queria que chegássemos a esse ponto, e.... — Fiz uma pausa um tanto dolorosa. — Nos sentíssemos assim agora. — O Park entreabriu os lábios para verbalizar, no entanto eu já estava pronta para para enunciar aquilo que se manteve preso em minha garganta há algum tempo. — Eu também pensei em você, muitas vezes. E doeu, quando me rejeitou. Até… me arrependi por ter proposto tal relação entre nós dois, acho que estraguei a chance de sermos realmente amigos, acreditei que pudesse lidar com isso, não fazia questão. 


— E ainda não faz?


— Não queria que você me achasse imatura, do tipo que confunde as coisas! — Virei-me na banqueta, o olhando fixamente. — A minha vida toda é como se eu fosse parte de um bastidor, uma platéia… observando de longe a vida de outras pessoas que parecem dez vezes mais interessantes que a minha, ver vocês, todos adultos, donos dos próprios narizes enquanto eu mal comecei a faculdade e parando de ser comparada com uma criança, tentando me convencer de que tenho o meu próprio tempo, quando na verdade, eu apressei demais as coisas. Enfim, não sou tão madura quanto aparento.


— Eu sei como é, Sunhee.


— Não, você não sabe! — Sorri de modo nervoso. O barman entregou as bebidas e sem pestanejar, eu dei um grande gole em meu copo. Sentia a adrenalina pulsar em minhas entranhas, minha mente estava elétrica. Fechei os olhos ao sentir o álcool cortar a minha garganta e coloquei o drink sobre o balcão. — A sua vida é completamente diferente da minha, por favor não aja como se me compreendesse. Nós mal nos conhecemos além do sexo.


— Oh Sunhee! — Após suspirar de forma audível, foi a vez dele se virar de frente para mim. — Eu realmente… — O mais alto olhava profundamente em meus olhos. — Eu realmente não a conheço como gostaria. — Admitiu, em partes. — Mesmo assim, isso não significa que eu seja um ser humano desprovido de compaixão e sentimentos que também me frustram. Acha que eu gosto de conviver na situação a qual estou? Eu também tenho problemas, não faz ideia do que tive de suportar na sua idade e ainda suporto até hoje, e assim como você, também me machuca ter de fingir que nada me afeta e as consequências foi ter me tornado alguém impulsivo demais, do tipo que tem medo de demonstrar as próprias fraquezas e usarem isso contra mim depois. 


— D-Desculpa, eu não quis soar dessa forma. — Os meus lábios tremeram ao ouvir as palavras inesperadas. Com as mãos geladas eu segurei o copo, encarando o líquido avermelhado daquele drink. — Estou cansada de não me sentir suficiente, viver de momentos e insistir naquilo que não está ao meu alcance. Confesso que te invejo às vezes por parecer tão forte. Eu vivi um pesadelo nos últimos meses e achei que poderia passar por cima disso da forma mais fácil. Só consegui me sentir ainda mais sozinha… — Levantei o olhar para ele, umedecendo os meus lábios, não acreditando que estávamos tendo esse tipo de conversa pela primeira vez, mas estávamos. Nunca tinha admitido aquilo para alguém. Acostumei-me com o conforto da minha própria bolha, não achando que fosse necessário o meu íntimo algo a ser discutido ou relevante. — Sinceramente… eu tinha medo do que você poderia pensar de mim, se me conhecesse mais que o suficiente. Se ainda ia conseguir me olhar nos olhos, ou estar comigo. — Ri de mim mesma, com tristeza. — Você não faz ideia do quanto é difícil para mim também. Eu nunca estive em um relacionamento. E também não sei se tenho estabilidade para estar em um. — Respirei de forma ofegante, focando a vista no outro sem ao menos piscar. — Eu queria ter tido a mesma facilidade para ser honesta como você foi comigo no último final de semana, mas… eu também tenho medo. E acho que nos fizemos sentir usados de novo. — Mesmo sem querer, comecei a sentir os meus olhos arderem, de imediato, virei mais uma vez o drink e dessa vez pressionei as pálpebras para não chorar. Detestava chorar diante da presença de alguém, principalmente se esse "alguém" agora fosse ele. — Deixou de ser uma brincadeira há muito tempo. Então, é melhor tomarmos uma decisão e pôr um fim definitivo nisso, se realmente não quiser se machucar. — Suspirei de maneira profunda, olhando para cima. Jimin permanecia inexpressivo, não porque parecia chateado ou surpreso, mas por também compartilhar da mesma concepção e temer que a mesma história mórbida se repita. — Se for para sermos amigos, aquilo nunca mais deve se repetir. Mas se eu tiver que seguir adiante, então deve ser recíproco. 


Após aquela conclusão, um rápido silêncio se instaurou entre nós. Por mais que um som acústico de violão preenchesse o ambiente, fazendo a trilha sonora do lugar.


Com os olhos deveras vacilantes, o vi tomar mais um gole do drink, assim como eu.


— Você gostou da bebida?


— Está tentando mudar de assunto… — Afirmei mais para mim mesma do que para ele, meu riso quase foi deprimente. Olhei de soslaio para o ruivo e ele possuía um semblante ameno, compreensivo, porém ainda assim… optando por manter o silêncio. — É, gostei… tem um sabor bem docinho. — Dei de ombros, deixando um suspiro penoso escapar dos meus lábios, virei o restante do drink em minha garganta e coloquei o copo no balcão. — Eu quero mais um. — Enunciei, erguendo a mão para chamar a atenção do barman.


Ouvi uma fraca risada nasalada, e ao perceber o peso do olhar do outro me secando, de modo irritado virei o rosto para o rapaz, o fitando.


— O que foi? Achou engraçado? Por acaso se arrependeu de ter me trago até aqui? Acha que fui idiota e emocionada em ter dito tudo aquilo, não é? — Peguei o outro copo do mesmo drink e indaguei, bebericando o líquido colorido e saboroso entre os meus lábios agora úmidos.


— Ao contrário. — A fala rápida fez com que o meu cenho se franzisse imediatamente. — Sabe, Sunhee… eu estava mesmo bêbado naquela noite. Mas, eu não blefei em momento algum. Mais do que nunca estou certo do que fiz e do que ainda vou fazer… — A fala levemente risonha, despertou um fino arrepio na minha espinha.


— O… o que pretende? 


— Eu consigo te entender melhor agora. — Jimin, ainda com os olhos presos aos meus, aproximou sua banqueta sutilmente, quase encostando-a a minha. Meu olhar não tão ágil desceu para o balcão ao perceber a investida camuflada. — Eu realmente não me importaria de correr o risco. — Inclinou levemente o rosto, próximo a mim, apoiando seu braço no balcão, como se analisasse cada linha de expressão que eu esboçava. — Desde que você tenha certeza.


— É muito cedo para dizer que tenho… mas eu quero tentar. — Respirei fundo, apoiando o meu braço ali, igualmente a ele. O olhava de perto, bem em seus olhos. Aquilo tudo me intrigava, sentia um temor estranho, porém ainda assim, desejava fazer isso. — Vai ser paciente comigo? 


— Depende, vai ser comigo também? — Com a mão que estava sobre o balcão, ele me tocou o braço de uma maneira terna, diante do olhar intenso e sério. Provocador. — Talvez, não seja tão ruim se conhecer de um outro jeito. Vou estar disposto se estiver. 


— Acha que conseguimos?


— Você tem outra opção que não seja tentar? — Aos poucos ele quase saiu da banqueta, bem de frente para mim. O Park se tornou ainda maior, engoli a seco por um instante, fitando a boca do rapaz que estava na direção da minha testa, e então, elevei o rosto e o olhar. — Se realmente esse for o seu primeiro relacionamento, então eu quero que seja comigo. 


— Ah… — O meu peito inflou em decorrência da respiração pesada em meus pulmões, estávamos tão perto novamente. Minha visão percorria pela face bem delineada do mais velho, sentindo-me até um pouco tola por querer tocar em seu maxilar. 


— Não que eu seja o mais adequado. — Riu fraco. Com a mão que antes estava em meu braço, Jimin a subiu até chegar em meu ombro direito, e por fim, tocou-me a lateral do pescoço. A temperatura em meu corpo esquentava gradativamente. — Precisamos aprender a lidar com tudo isso juntos. — Pisquei os olhos, a fim de constatar que verdadeiramente estou vivendo esse momento, o toque da mão alheia se direcionou a minha nuca, arrancando-me um arfar, sem querer, mantendo os meus olhos abertos de frente para ele. A boca carnuda entreaberta, mais vermelha por causa dos resquícios da bebida em seus lábios. 


Incercerta, me convencia de que precisava viver algo novo, caso quisesse de fato seguir em frente e entender os meus próprios sentimentos. Eu tenho interesse nele, de alguma maneira, eu quero me sentir capaz de prosseguir adiante com isso. Jimin colocou sem nenhum tipo de receio, os seus lábios sobre os meus. Assim como uma brisa tranquila, eu fiquei quieta como se não soubesse como reagir ou até mesmo, como se não quisesse protestar. Em meio ao meu silencioso consentimento, ainda com os olhos entreabertos, ele me acariciou levemente lábio inferior com a sua língua. Tinha gosto de cereja. Um sorriso malicioso se apossou do Park, e ele me levantou, puxando-me pela cintura. Senti meus seios pressionarem em seu torso assim que me prendeu ali.


— Já chega por hoje. — Murmurou contra os meus lábios, dando-me um último selinho antes de se afastar. 


— Jimin…


— Você é mais sensível do que eu pensava. — Sorriu. — Vamos, vou te levar para casa. 


Assenti, o deixando pegar em minha mão e guiar-me para fora daquele lugar após pagarmos pelo que consumimos.


[...]


Desci da moto, um tanto desequilibrada, logo retomando a postura entre suspiros frustrados, devolvendo o capacete ao rapaz que retirava o seu para arrumar os cabelos e me enxergar com mais clareza.


— Se sente mal? — Perguntou.


— Não é embriaguez, só cansaço. Eu estou bem. — Sorri pequeno. — Obrigada, e me desculpa por ter te feito sair tão repentinamente.


— Eu não ligo. — Pegou-me pelo pulso, puxando-me para mais próximo de si. — Sunhee…


— A sua raiz… — Descaradamente direcionei as mãos ao seu cabelo, afagando os fios rubros que já denunciavam indícios de uma coloração natural castanho querendo retomar o seu lugar. — Está crescendo.


— Merda… — Suspirou. 


— Qual é o problema? Não gosta do seu cabelo natural?


— É complicado… — Riu fraco. — Você não entenderia as minhas paranóias. 


— Eu poderia entender se você fosse mais aberto sobre…


— Lide com isso.


— Aish… — Revirei os olhos. 


— É melhor você ir, está deserto aqui. 


— Já quer se livrar de mim? — Formei um bico nos lábios.


— Desperdicei a chance que tive. — Rebateu.


Olhávamos fixamente um para o outro, agora silenciosos.


— Jimin…


— Hum?


— Está tudo bem, não é? — Desviei os olhos. — A gente…


— Está… — Beijou a minha testa. — Está sim.


Assenti, retribuindo o gesto anterior com um selar em sua bochecha, me despedindo definitivamente com um rápido acenar e virei-me para seguir a passos rápidos até a portaria, sendo ainda capaz de ouvir o barulho do acelerador da moto ao passo que Jimin também ia embora. 


Adentrei o apartamento cautelosamente, ainda não era meia noite, no entanto eu não gostaria de ser inconveniente caso alguém da minha família já estivesse em seus aposentos dormindo. Retirei a jaqueta e soltei o cabelo que estava preso em um coque frouxo, soltando o ar lentamente dos pulmões enquanto caminhava vagarosamente em direção a escadaria, tateando a parede do corredor a procura do interruptor.


— Ah, Jesus! — Tropecei, arregalando os olhos quando uma silhueta surgiu, passando pelas portas de vidro da varanda.


— Oh, querida! Me desculpe, não quis assustá-la. — Reconheci a voz de minha genitora, aproximando-se.


— Mãe! — Relaxei os ombros, um pouco chateada pela mesma situação estar se repetindo. — Um dia a senhora ainda pode me causar um infarto! — Bufei, retomando os passos até a escadaria.


— Então eu estava certa?


Cessei os movimentos, franzindo o cenho quando virei-me para olhá-la por cima do ombro.


— Ao que se refere?


— Não que eu estivesse bancando a mãe espiã, mas eu estava tomando um ar na sacada e a vi chegar com o Park Jimin. — Cruzou os braços, lançando-me um olhar acusador. — Qual a sua desculpa agora? 


Abri a boca várias vezes, aturdida. Entretanto, fechei os olhos, umedecendo os meus lábios.


— A senhora vai ficar chateada?


Ela riu baixo, meneando a cabeça.


— Eu gosto dele, mesmo que o conheça pouco. — Deu de ombros. — Se estiver se sentindo bem com isso e também sente o mesmo por ele, então eu não preciso me preocupar e muito menos ficar chateada. 


— Obrigada… e, me desculpe por ter chegado tarde. Perdi um pouco da noção da hora. — Crispei os lábios.


— Eu desculpo, com uma condição… — A encarei confusa. — Você tem dez minutos para se trocar e descer até aqui para me contar tudo. A sua mãe está com insônia e muito curiosa! — Bateu palminhas e eu me rendi ao riso, concordando em um gesto de cabeça.


Subi as escadas correndo e passei pelo corredor, esticando a mão para tocar a maçaneta e abrir a porta, esgueirando o corpo para dentro do cômodo escuro. Ascendi a luz ao passo que pegava o celular no bolso e desbloqueei a tela, abrindo a aba de conversa específica e meus polegares foram tão ágeis que tive receio em ter escrito a mensagem de forma errada.


Eu: Eu sei que pode parecer loucura.


Eu: Eu saí com o Park hoje.


Eu: Nós estamos namorando.




Notas Finais


Para que inimigos se o JK tem os amigos dele? 🤡

Então gente... #JiHee quem amou? 🤰

Brincadeira a parte, eu entendo que muitos de vocês podem não apoiar o relacionamento deles, e ficarem com medo mais pelo Jimin do que pela Sunhee sair machucado nessa estória. Porém, não sejam precoces ok? Nem tudo é o que parece.

Até o próximo bebês. ♥️


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...