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História Desejos Proibidos - Fora de controle


Escrita por: CeciliaBento

Notas do Autor


Oi, Balinhas de Hortelã?

A volta do cão arrependido, né? Eu sei. Devo pedir mil desculpas a vocês! Mas, lembrem que teve aqueles problemas com meu notebook que deletou os capitulos e tudo o mais...Eu não gostei muito de como esse capitulo ficou, mas, não podia ficar mexendo nele a vida inteira né? Então vou tentar modifica-lo depois...

Acho que é isso.

Me perdoem por tudo, sim?

Dedicado à:

~HHStyles

~Lili_No_Sabaku

~BTL-Masoli

~AmandinhaKeli

~Priscila0502

~Brooke-Senpai

~LadyDeluxe - Clan Dragon Slayer

~antikcius22

~vampira90

~Brooke-Senpai

~Cockie

~Gabi Al.

Capítulo 9 - Fora de controle


 

Gaara jogou-se no colchão velho que mantinha no andar de cima da oficina, especialmente para dormir, afundou-as mãos nos cabelos colocando os braços atrás da nuca. Estava com a cabeça a mil por hora, desde de domingo à noite não tivera nenhum sossego.

A visão de Ino debatendo-se contra a parede, olhos saltados e vermelhos cheios de um terror que ele nunca imaginara existir dentro dela, não parava de repetir-se em sua mente. Ele não parava de perguntar-se oque teria acontecido se tivesse chegado alguns instantes mais tarde, ou pior, se não tivesse nem decidido sair para correr aquela noite? Muito provavelmente ela seria assunto na cidade por meses a fio, em cartazes de procura-se ou coisa pior. Ele não queria imaginar.

Havia batido em Sai com todas as forças que tinha naquele momento, porém, não era toda a sua força. Ele estava tão anestesiado com a imagem dela desacordada que era a única coisa que tinha sua total atenção era ela, sua respiração ofegante e ruidosa a poucos centimetros dele.

Agora que ela estava fora de perigo, Gaara ficara livre para sentir muita raiva. Ele não sabia que era possivel sentir algo tão forte como aquilo, seu estômago revirava e as mãos tremiam ligeiramente antes que ele as cerrasse em punhos, segurando a vontade de chutar ou esmurrar alguma coisa. No final, não seria lucrativo para ele descontar sua fúria em qualquer coisa física que não fosse a cara do cretino do Mitaro.

- No que a florzinha está pensando?

A voz de Kankuro o impediu de culpar-se um pouco mais. Gaara remexeu-se um pouco no colchão cheio de calombos, não olhou para o irmão mais velho e tampouco lhe deu atenção. Kankuroarrastou os pés pelo assoalho, abriu a porta da geladeira coberta de ferrugem que zunia no canto oposto do quarto, fechou a porta com um baque surdo e voltou a arrastar os pés.

- Vamos lá, maninha. - Gaara revirou os olhos enquanto o outro arrastava uma cadeira dobravel. - Qual é o mal que toma seus pensametos? - Perguntou abrindo uma lata de cerveja e oferecendo a outra ao irmão.

Gaara resmungou, deconfortavel.

Ele e Kankuro não eram os melhores amigos no mundo inteiro. Podiam ser facilmente descrevidos como sobreviventes de guerra com suas cicatrizes e lembranças profundamente irraizadas que somente uma infância de negligencias poderia deixar. Eles eram familia, haviam passado por algumas barras juntos.

- Vamos lá! Vai me deixar falando sozinho? - Ele tinha os lábios curvados em um meio sorriso, tão cinico quanto seus olhos opacos. Gaara sentou-se, tomando a lata de suas mãos e abrindo-a. - Assim está bem melhor, não?

Gaara mexeu com os ombros, os lábios contraidos em uma linha rigida.

Não tinha muito a falar com o irmão, Kankuro tinha sua própria maneira de lidar com as coisas, ele não se importava em quebrar vários ovos para se fazer uma gemada. Embora, Gaara soubesse que ele seria o primeiro a entrar em uma briga para defendê-lo, tambem tinha total certeza que seria o primeiro a dar no pé se o seu traseiro estivesse na reta.

- Então, a filha do velho Yamanaka... - Ele começou enigmático, espreitando os olhos pequenos em cima do irmão. Gaara ocupou-se em sorver sua cerveja, não ia abrir a boca antes do necessario, conhecia bem demais aquele homem na sua frente. - Não se faça de desentendido. Estou sabendo de coisas bem interessantes, sabe? A cidade é pequena.

- Você não veio até aqui para me falar boatos dessa gente desocupada, veio? - Gaara retrucou displincente.

Kankuro mexeu-se na cadeira pressunçoso, apoiou os cotovelos nos joelhos, os olhos atentos e investigativos.

- O povo aumenta mais nunca inventa Florzinha... - Sorriu torto por cima da lata de cerveja. Gaara olhou para as unhas, procurando algo para roer. - Além do mais, eu vi como você olhava para ela aquela noite.

- Não me venha com suas merdas...

Kankuro levantou a lata com um dedo apontado para cima.

- Um momento... - interrompeu a frase do irmão pelo meio, soltou um sonoro arroto colocando a mão livre em punho na frente da boca. - Não adianta disfarçar com essas desculpas esfarrapadas, não estou aqui para ouvir suas histórias prontas. Eu vim aqui para por uma coisa na sua cabeça oca.

- Que seria? - Gaara rosnou, não era dificil para ele irritar-se com Kankuro.

- Se quer foder com a loirinha vá lá e faça. Não fique com essa cara de cachorro que cagou fora do jornal. - Acenou com a cabeça para mostrar que concordava consigo mesmo, rindo acrescentou: - Ou você virou uma bichinha?

- Vá se ferrar! - Gaara vociferou ficando de pé, a lata agora vazia apertada em sua mão.

Kankuro gargalhou recostando-se sobre o tecido colorido da cadeira, ele estava sempre se divertindo as custas dos outros, era um dos maiores motivos para não ser tão bem vindo em alguns lugares, geralmente Gaara não se importava ou fingia não se importar, desde de quê o alvo das humilhações fosse outra pessoa.

- Qual é maninha? Vai negar que estava lançando uns olhares cheios de taras em cima da menina?

Gaara olhou o irmão de cima, mas, Kankuro com todo o seu porte militar e musculos não precisava inclinar muito a cabeça para trás para encarar-lo nos olhos, muito menos tinha algum receio de que o caçula viesse a avançar sobre ele e atacá-lo de alguma forma. Continuou em sua posse relaxada e esticou as pernas cruzando-as.

A raiva que Gaara sentia estava sendo direcionada não intencionalmente para Kankuro, sentia suas mãos formigarem ao ponto de doer, ele queria muito socar alguma coisa ou a cara de alguém, para o azar do destino esse acabaria por ser seu irmão.

Tentando racionalizar em meio a sua confusão mental e sentimental sentiu seu corpo tremer, Gaara era uma bomba relógio em contagem regressiva.

- Cala essa boca cacete! - grunhiu. - Você não sabe oque está falando!

Kankuro tombou a cabeça de lado, estudando de perto as reações do irmão. Bebeu todo o conteudo que sobrara em sua lata, esticou a mão para coloca-la no carpete mofado ao lado da cadeira e aprumou-se na cadeira.

- Não sei mesmo. Não sei pra que tanta frescura e tesão reprimido... Na verdade, eu sei sim. É por causa do velho não é? Você ainda tem medo do velho Rasa?

Gaara fecha os olhos, por dois segundos muito longos ele pensa em chutar Kankuro e toda sua displincencia para fora de sua casa, porém, percebe que não vale a pena. Algo dentro dele se contorce preguiçosamente em menção ao nome de seu pai, os dois não falavam muito sobre o velho ou a época em que moravam em um trailer caindo aos pedaços na floresta.

- Você tem bosta na cabeça? - Gaara indagou andando até a cozinha improvisada, jogou a lata vazia no lixo. - Eu nunca tive medo daquele velho saco de merda, nem mesmo quando ele era vivo, vou ter agora depois de morto?

- Então porque simplismente não para de se colocar no lugar de coitado que arrumou para ser seu? Eu nunca deixei as pessoas dessa merda de cidade meterem o bedelho na minha vida, mas, você não... - Kankuro ainda tinha o brilho de divertimento nos olhos apesar de sua voz soar bem mais séria e centrada. - Você tomou esse titulo de caipira burro e sujo que todos querem nos dar.

Gaara encarou o irmão do outro lado da sala. Os dois passaram alguns momen/tos sustentando o olhar um do outro.

- Você é hilário quando tenta me dar lição de moral, sabia? - Gaara disse em tom acusatório e recebeu um aceno de cabeça cheio de arrogância vindo do irmão. - Não é você que sustenta o legado de bêbado arruceiro sempre que está aqui?

Kankuro riu descarado.

- Só que a diferença entre nos dois é exatamente essa maninha... - Kankuro apontou para si mesmo. - Eu gosto do que ser quem eu sou e me divirto muito com isso, os outros gostem ou não. - O sorriso cheio de cinismo dele não vacilou nem por um segundo quando ele apontou para o irmão a doze passos de distância, mas, seus olhos escureceram. - Já você assumiu um papel que não lhe cai bem, você não é um fanfarrão e muito menos um caipira bêbado... Olha se quer mesmo a filha do veado do Inoshi ou qualquer outra garota certinha e metida a princesa dessa droga de fim de mundo, vai lá e luta por ela okay?

As palavras de Kankuro rondaram lentamente o cerebro de Gaara, porém, ele logo arquivou-as no lugarzinho que tinha destinado pra conselhos inúteis. Pensava estar fazendo um bom trabalho em manter-se longe da Yamanaka, mas, era muito provável que não e tinha três bons motivos para acreditar nisso. Primeiro, Kira vinha tirando seu sossego por semanas sempre que eles cruzavam com Ino. soltando piadinhas e enfatizando o modo como ele estava perdidamente enlaçado por uma ninfeta.

Em segundo lugar tinha Sasori, que era algo o mais próximo de um irmão para ele, com seus olhares cheios de significados e suspiros pesarosos. Sasori nunca iria expor sua opinião tão explicitamente sobre assunto nenhum, contudo, Gaara sabia muito bem interpretar todo os sinais que seu amigo deixava. Os dois passaram tempo demais na floresta, caçando, conversas mudas eram seu ponto forte.

E agora o irmão de sangue que geralmente não prestava atenção nem no que colocava no próprio prato também vinha falar sobre seus olhares e desejos proibidos tão veemente negados. 

Gaara estava mesmo perdido.

- Digamos que você está certo pela primeira vez na vida... - Ele começou cutucando a unha do polegar com o indicador, os olhos fixos na atividade da mão direita. - Olhe ao redor, o que um cara fodido de tantas maneiras como eu poderia oferecer a alguma garota que tem tudo aos seus pés?

Kankuro olhou ao redor mesmo já conhecendo cada canto com mofo daquele lugar. O espaço acima da garagem que funcionava como ofina para o irmão era apenas um cômodo acarpetado em um tom amarelado de creme, com uma cozinha improvisada ao lado direito da porta de entrada, que consistia em basicamente um fogão de duas bocas, uma geladeira tão antiga quanto o prédio que zunia como um enxame de abelhas e um tanque de cimento que era usado tanto para lavar louças como roupas, tudo dividido por uma mesa de fórmica caindo aos pedaços, usada como balcão.

Na parede do fundo um aglomerados de caixas plásticas guardavam desde mantimentos até roupas, na parede de frente para a porta ficava uma imensa janela de correr onde Gaara tinha colado papelão com fita adesiva nos vidros e para finalizar tudo o velho colchão de casal embaixo da janela.

Ele não tinha nem chances de levar uma garota descente ali. Não havia uma garota na cidade inteira que Kankuro pudesse imaginar de pé ao lado do fogão para usar como exemplo. Gaara deu o seu famoso sorriso fantasma, mexeu os ombros para cima e para baixo fingindo indiferença.

Kankuro tragou a saliva, insatisfeito.

- Você pode parar de pensar no quanto esse lugar é parecido com um chiqueiro e começar a pensar sobre seus atributos sexuais? Não que isso me interesse. Inferno. Não me interessa nem um pouco se quer saber, mas, pensa comigo...

- Dá pra você voltar a pensar com seu pinto e deixar a minha vida em paz? - Gaara cortou com firmeza.

O cenho do mais velho se franziu formando quatro grandes linhas de expressão na testa castigada pelo sol, eles trocaram olhares sérios por pequenos milesímos de segundos para depois relaxarem em risadas, o som da gargalhada escandalosa de Kankuro encobrindo totalmente a de Gaara que parecia apenas um movimento de ombros.

- Você que deveria pensar mais com seu pinto, se é que ainda tem um!

- É claro que tenho seu grande panaca. - Gaara falou nervoso, o que fez o outro rir ainda mais. - Eu vou é trabalhar que eu tenho mais o que fazer...

- É vai lá levar a caminhonete da Sunshine, vai! - Ele falou entre o ataque de risos, Gaara parou o ato de vestir sua jaqueta de couro por alguns segundos. - Qual é? Achou mesmo que eu não reconheceria aquela velharia estacionada lá embaixo?

Gaara desceu as escadas rosnando.

                 

                                                                                                         **********

 

 

Ino olhava a chuva na velha poltrona perto da janela, enroscada em uma manta de retalhos abraçava os joelhos. Havia passado o dia sendo paparicada e amada por Karin e Yahiko sentira-se tão querida que nem parara para pensar sobre os acontecimentos recentes, mas, agora sozinha no quarto enquanto a amiga havia ido preparar algo para lancharem as imagens pareciam encher sua mente trazendo uma sensação que não estava acostumada a sentir.

Ela sentia um aperto no peito que não conseguia identificar. Seu coração parecia encolhido em uma caixa minuscula e se contraia apertado de maneira dolorosa. Era medo.

Um pavor que ela nunca se permitiria sentir na vida, que por mais que aperta-se as cobertas ao redor de seu corpo ainda sim não fazia diferença no frio que parecia gelar seu estômago.

Ficou parada respirando pela boca e olhando de forma fixa para a paisagem alaranjada que as arvores formavam, o outono havia chegado e com ele suas chuvas fortes que logo começaria a congelar as ruas e floresta anunciando mais um inverno branco e cheio de neve. Pensava sobre Gaara quando Karin entrou no quarto empurrando a porta com as costas, trazia uma bandeja com algo fumegante em uma tigela de cerâmica azul escura.

- Fiz uma sopa de cebola para você. - Anunciou com um sorriso cansado, Ino lançou um olhar pesaroso para ela antes de voltar a fitar o vidro embaçado. - Não faça essa cara, sabe como é difícil para mim cozinhar. Além do mais, você vai ter que comer tudo se quiser mesmo melhorar. Não pode tomar os remédios para dor com a barriga vazia.

A ruiva tagarelava enchendo o local com o sua voz e vida, mas, Ino não sentia a minima vontade de tentar parecer animada ou até mesmo disposta a comer alguma colherada, nem que fosse para fazer Karin ficar satisfeita.

- Você não pode ficar assim Ino... - Disse com a suavidade de uma mãe, colocou a bandeja sobre a penteadeira e acariciou os cabelos loiros da outra. - Não pode ficar sem comer e muito menos pode se entregar.

Sentiu Ino encolher-se ainda mais no amontoado de cobertores. Balançou a cabeça em entendimento, sabia como ela estava se sentindo, também tinha sido pega por esse mesmo sentimento de culpa e medo uma vez. Um sentimento que fazia remoer todos os mínimos detalhes de uma lembrança, mudando-os em sua mente para saber como poderia evitar tanto sofrimento e assim, culpar-se um pouco mais.

- Eu não posso aceitar isso. Você não pode cair em depressão.

Sua voz soou firme, mesmo quando não sentia nenhuma firmeza em seu corpo. Ela queria ajudar a amiga, não sabia como já que sempre era a loira que a tirava de seu estado de letargia, mas, sabia que queria e muito.

- A culpa de nada disso foi sua. - Falou pegando uma escova e passando nos fios dourados dela com delicadeza. - Não fique se culpando por nada disso, você é a única vitima em toda essa história e se quiser, eu vou com você na delegacia é só decidir e assim será feito... - Karin colocou a escova de lado quando os fios loiros pareciam reluzir começando a separar grossas mechas para trançá-las formando um penteado bem elaborado. - Basta você querer e eu vou estar do seu lado, e não vou sair dele nem por um instante.

- Eu não posso falar nada. - Ino proferiu em um sussurro seco. - Não sem falar sobre...

- Não importa. - Karin cortou-a. - Nada mais importa, Ino. Você foi atacada e sabe lá o que teria acontecido se o Gaara não estivesse por perto.

- Se eu abrir minha boca as coisas vão sair do controle.

- Deus! Elas já saíram do controle! - Exclamou em choque. - Você foi atacada! Seu pescoço tem marcas horríveis, e eu nem quero pensar no que pode acontecer se...

Um pigarro alto cortou a conversa entre as duas. Gaara estava parado no umbral da porta com as mãos nos bolsos e visivelmente envergonhado.

- Você voltou... - Ino murmurou olhando para trás por cima das costas da poltrona.

- Voltei.

O silêncio que se instalou no quarto foi pesado e estranho, apesar de ter durado menos que dez segundos pareceu mais que duas horas para os dois.

- Bom... - Karin quebrou o clima tempestuoso que se instalara e Gaara olhou para ela rapidamente como se a notasse somente agora. - Eu vou deixar vocês conversarem um pouco... - Ele abriu a boca para falar alguma coisa, mas, ela não permitiu. - Já terminei aqui. - Falou referindo-se ao penteado. - E preciso tomar um bom banho.

Ele balançou a cabeça em concordância, a menina não tinha descansado um único minuto enquanto a amiga estava desacordada. Ela colocou a mão no ombro dele de maneira confortadora quando passou saindo do quarto e sussurrou:

- Tente convencê-la a comer um pouco.

Gaara afirmou com um fechar de olhos e ela se foi pelo corredor, deixando-os sozinhos no quarto. Ele deu dois passos para dentro do quarto e encostou a porta fazendo com que Ino notasse pela primeira vez como ele parecia deslocado naquele lugar. Tão másculo e viril em meio as paredes coloridas e femininas. Não pode deixar de imaginá-lo de pé em seu quarto, seria engraçado se não fosse estranho.

- Trouxe o seu carro de volta. - Ele falou mostrando as chaves que ela reconheceu pelo chaveiro como suas. - Dei uma olhada no motor para você...

- Obrigada. - Pronunciou incerta. Não sabia o que dizer, nem sabia que sua caminhonete estava com ele. - Eu acho...

- Não precisa se preocupar com dinheiro. - Tentou manter a conversa. - Eu fiz por conta própria de qualquer forma. - Completou rapidamente.

Era estranho para eles conversarem sóbrios e mais estranho ainda pelos acontecimentos que se seguiram depois da primeira conversa. Ela havia aberto seu coração para ele aquela noite que parecia ter acontecido à anos luz daquele momento, ele havia se declarado mesmo que de um modo torto e principalmente, Ino o beijara em seu carro.

Mesmo com os dias em que seguiram depois disso não tinha como fingirem que nada daquilo aconteceu, porém, continuariam sem tocar naquele assunto como se houvessem esquecido dele ou até mesmo imaginado em um sonho distante.

Ainda assim, não podiam fingir que eram os mesmos de antes. Eles haviam mudado muito em uma semana e o relacionamento deles tinha evoluído muito em poucos dias. Gaara salvara a vida dela. Não dava mais para continuarem com as briguinhas infantis que mantiveram durante tantos anos. Eles não eram inimigos.

Tampouco eram amigos.

- Vejo que sua voz melhorou... - Ele deu outro passo incerto para o meio do quarto.

- Acho que parece pior do que realmente é.

- Não. - Retrucou grosso. - Não parece.

- É, talvez você esteja certo. - Concordou a contragosto, voltando a olhar para fora. - Estou melhor por fora.

Gaara soltou uma risadinha de puro desdém.

- Você está um lixo. - Ino lhe lançou um olhar raivoso e descrente, ele levantou os braços em rendição. - Desculpe, mas, é a verdade.

- Veio aqui com mais alguma intenção além de me colocar para baixo? - Ela semicerrou os olhos para ele. - Por que se não pode dar meia volta. Já fez o seu trabalho.

- Não. - Respondeu rápido demais, ele não queria ir embora. - Quer dizer, sim. - Coçou a cabeça desconcertado, não sabia lidar com as palavras. - Eu quero dizer que... Não fiz meu trabalho aqui ainda. - Explicou pontuando as palavras que havia dito antes. - E... Sim, eu vim com outra intenção.

Ino não pode deixar de rir do estado de nervosismo em que ele se encontrava, aquilo era algo que ela nunca imaginou conseguir causar em um Sabaku, afinal, eles sempre tinham respostas para todos os tipos de provocações e principalmente, não perdiam a chance de revidar um Yamanaka.

Balançou a cabeça com os próprios pensamentos. Porque diabos ela tinha que voltar sempre para essa linha de raciocínio? Yamanaka versos Sabaku. Sera que nunca chegaria ao fim? Aquela rivalidade estava tão enraizada em suas convicções que era inevitável não pensar nisso?

- Você não comeu nada.

Não era uma pergunta e ela não se incomodou em responder. Gaara torceu os lábios mexendo com a colher na sopa quente, soprando-a e levando-a boca. Repetiu o processo umas quatro vezes antes de Ino finalmente protestar.

- Você pode comer tudo se quiser. Só... - Ela apertou a ponte do nariz com o indicador e o polegar. Parecia cansada e frustrada. - Não faça tanto barulho.

- Está muito bom. - Disse depois de sorver outra colherada ruidosamente. - Você devia provar.

- Não. Pode ficar. - Responde mexendo com os ombros. - Não sinto fome.

Os dois ficaram em silêncio por mais alguns minutos que pareceram se arrastar de forma vagarosa demais. Gaara empurrou para o chão alguns bichinhos de pelúcia que ficavam em cima de um baú de madeira próximo a cama, e sentou no mesmo colocando os cotovelos nas coxas.

Eles voltaram para aquele silêncio confortador que Ino tanto apreciou noites atrás. Ela sabia que ele estava ali para escutá-la quando fosse preciso, isso fazia o aperto em volta do peito dela diminuir drasticamente o que era assustadoramente engraçado, considerando que eles deveriam ser inimigos naturais e ela não deveria se sentir tão protegida perto dele.

- Onde você vai? - Gaara perguntou preocupado, assim que ela começou a levantar-se.

- Banheiro.

- Hn... - Resmungou voltando a fitar suas unhas roídas.

Observou a menina arrastar os pés pelo carpete até o banheiro, e só quando a porta bateu suavemente, respirou aliviado outra vez. Não conseguia entender o motivo de estar sentado ali em meio de tanto rosa e bichinhos fofos, mas, também não podia simplesmente pensar em ir embora. Olhar para ela acabou por ser tornar a única coisa que o acalmava e impede de ter pensamentos assassinos, apesar de que as marcas arroxeadas em torno de seu pescoço ainda o fizessem sentir mais vontade de quebrar alguma coisa, era Ino Yamanaka o único motivo para que ele não fosse atrás de confusão com o Mitaro.

Ela precisava de alguém com controle da situação naquele momento, e ele tinha que ser aquele alguém mesmo que fosse com muita força de vontade. Passou as mãos pelos cabelos oleosos outra vez, empurrando-os para detrás das orelhas, assim que escutou a torneira ser ligada no outro comodo.

Tentou a todo custo afastar as palavras de seu irmão que pareciam rondar sua cabeça com imagens nada puritanas, a vida já estava uma verdadeira merda sem que eles envolvessem uma relação carnal no meio de tudo aquilo.

Perdido em suas fantasias ele escutou a porta do banheiro ser aberta, viu ela arrastar os chinelos cor de rosa pelo quarto pela visão periférica e mexer na bandeja a sua frente. Manteve o olhar baixo durante todo o percurso dela do quarto para o banheiro outra vez e só arriscou subir o olhar quando a porta estava sendo fechada outra vez.

Já tinha coisas demais na cabeça para alimentar ainda mais a sua mente poluída com a pele branca de suas pernas desnudas. Porque ela tinha mesmo que está vestida com aqueles calções tão curtos? Não deixava nada para imaginar com aquelas pernas de fora.

Mais minutos passaram e para Gaara pareceram horas, até ouvir ela se arrastar pelo quarto e deitar na cama, afundando em lençóis atrás dele. Gaara esperou com a cabeça entre as mãos por mais alguns segundos, decidindo entre ir embora ou não. Estava óbvio que ela não queria conversar e mais claro ainda que não queria a presença dele por perto.

Levantou-se decidido a ir embora.

Não adiantava de nada ficar ali alimentando ainda mais sua mente pervertida com milhões de imagens dela, enroscada entre cobertores com os lábios entreabertos. O certo era sair dali o mais rápido possível e esquecer tudo aquilo. Ele estava quase fazendo isso quando os soluços começaram.

Virou-se olhando abismado para aquela cena. Ino estava jogada na cama, com a barriga para baixo e o rosto afundado em um travesseiro, ela chorava tão desesperadamente que seus ombros se mexiam de maneira estranha. Gaara ficou uns dois segundos paralisados tentando decidir o próximo passo a seguir, então sem pensar muito sobre isso, ou sobre as consequências que poderiam vir depois disso, retirou as botas e deitou-se na cama ao lado dela, puxando-a para o seu peito.

Ino tentou resistir.

Ela não queria que ele visse seu rosto coberto pelas lágrimas, mas, sentia-se tão fraca e sonolenta que não podia lidar com nada aquela altura do campeonato. Nem mesmo conseguia segurar as lágrimas ou controlar suas emoções, como conseguiria lutar contra os puxões nada sutis de um homem daquele porte? Não dava. Desistiu de lutar e entregou-se aos afagos.

Chorou como nunca antes tinha se permitido fazer e Gaara apenas ficou ali do seu lado, abraçando-a de uma maneira torta e estranha, passando as mãos pelos seus cabelos trançados e cantarolando alguma canção que ela desconhecia.

Sentia seus medos esvaziarem conforme as lágrimas desciam molhando a camisa do mecânico, mas, ele parecia não se importar com nada disso. Só ficava ali cantarolando e olhando para aqueles adesivos de estrelas colados no teto do quarto, enquanto perguntava-se mentalmente o que podia fazer para ela parar de chorar.

Aos poucos, os olhos dela começavam a pesar juntamente com seu corpo. Ino perguntava-se era os comprimidos que estavam fazendo efeito e isso fez com que ela risse esfregando o rosto no peito de Gaara.

- Isso é bom. Eu nunca imaginei que fosse tão bom... - Falou ainda esfregando o rosto na camisa dele.

- Que você disse?

Gaara perguntou parando tudo o que fazia e olhando para ela. Ino olhou para cima, mirando o rosto dele com os olhos inchados e sonolentos, o nariz ainda enfiado no tecido branco e macio.

- Você é tão cheiroso. - Gaara afastou-se em um pulo, assustado sentou-se mais ereto. - Eu não esperava por isso.

- Você está delirando. - Resmungou. - Deve ser a fome. É, deve ser isso.

Ino tentou agarra-lo quando ele tentou levantar, mas, Gaara foi mais rápido e ela apenas caiu com a cabeça no colchão onde antes ele estava sentado. Gargalhou rolando na cama, sentia-se tão leve e feliz que poderia dançar pelo quarto.

- Aqui. - Gaara rosnou com a bandeja nas mãos. - Sente-se.

- Você gosta de mandar, não é? - Perguntou sentando-se com as costas esparramadas nos travesseiros. Ela piscava os olhos como uma louca, tentando afastar a escuridão que se aproximava. - Vai ter que dar na minha boca, como o papai faria... - Ela abre a boca e depois fecha rapidamente. - Mas, você não é o papai e nem poderia saber como ele cuida de mim, já que são arqui-inimigos como o Batman e o Coringa.

- Não tô entendendo merda nenhuma do quê você tá falando... - Gaara sibilou, nervoso. - E, eu não tenho idade para ser o gordo do seu pai.

- Uuuh... - Ino zombou gesticulando com os braços. - Eu sei disso. Você definitivamente adoraria me ter entre as cobertas da sua cama e não como a filhinha do papai, mas, sim como a própria mamãe... 

- Qual é o seu problema? 

- Você. - Atacou, mas, sua expressão ainda parecia feliz. - Você é meu problema.

Gaara suspirou sentando na borda da cama, aquela garota louca estava deixando-o tonto. Ela parecia um carrossel de emoções e sentimentos, sempre explodindo de uma hora para outra da maneira mais surpreendente e inesperada possivel.

- Explique-se. - Sibilou, colocando a bandeja em cima do colchão entre eles.

- Eu estou confusa. - Ela começou tombando a cabeça de lado, era visivel que não estava em seu estado mais normal. - Você me deixa confusa, desde... Desde sempre, eu acho.

- Abra a boca. - Mandou.

Ela abriu parecendo pensar em alguma coisa, tentando lembrar de algo. Gaara aproveitou e empurrou uma colher cheia de sopa em sua boca.

- Lembrei... - Falou depois de engolir, mas, logo estava abrindo a boca para outra colherada. - Eu tô tentando falar aqui... - Ela tentou dizer entre outras duas colheradas. - Você me enlouquece desde o colegial, quando acertou aquela bola de neve na minha cara.

- Eu não acredito que você lembra disso. - Ele respondeu amargo.

Gaaralembrava de ter feito aquilo e não sentia nenhum pouco de remorso com a situação, apesar de sua idade avançada naquela época e de não ter motivo algum para o feito, ele havia simplesmente abaixado e pego um punhado de neve entre as mãos enluvadas, sem pensar muito fez a bola desajeitada e jogou na direção do rosto da garotinha a sua frente com toda a força que tinha. Era irracional e mesmo sem se arrepender não sentia orgulho.

- Claro que lembro. Doeu como o diabo! - Exclamou antes de abrir a boca mais uma vez. - Porque fez aquilo?

- Porque você estava lá. - Respondeu com sinceridade. - E isso parecia motivo o suficiente para fazê-lo.

Ino torceu os lábios contendo um bocejo, sua visão começava a escurecer, mas, ela queria relutar e continuar conversando com ele. Nunca haviam tido tempo suficiente para falar sobre algumas coisas, muitas precisavam de explicações e ela tinha medo de não conseguir mais esse nivel de proximidade com Gaara. 

- Beleza, então, bastava eu estar em algum lugar para você aparecer e me importunar? - Ela franziu o cenho com a linha de raciocinio dele. - E agora, anda por aí me protegendo e...

- Não seja uma vadia ingrata! - Avisou ele. - Eu salvei a sua bunda mais vezes nesses últimos dias do que posso me imaginar fazendo em toda uma vida... 

- Eu nunca pedi nada a você! - Cortou com raiva.

- Claro. - Rebateu com o mesmo tom, jogando a colher dentro da tigela com força. - Eu deveria deixar você com aquele merda. Era isso que você queria, não era? 

- Não seja um caipira arrogante. - Ela rosnou, porém, seus olhos não tinham as chamas tão conhecidas por ele. 

- Só que é isso o que eu sou, não é? Um caipira estúpido e arrogante? Nem sei o que estou fazendo aqui. Nenhum de nós dois sabe, não é verdade? 

As palavras sairam da boca dele como tapas na cara. Deixando-a com um sabor amargo de derrota na boca. Eles estavam conversando como pessoas normais e civilizadas, e de repente, tudo mudou de direção outra vez. Ino não sabia o que estava fazendo ao tentar irritá-lo, mas, sabia que a culpa de toda a sua ingratidão vinha do orgulho machucado. 

Ela observou as costas de Gaara quando ele parou de caminhar pelo quarto, parecia tenso e confuso. Talvez ainda mais confuso do que ela mesma afinal, ela havia ingerido muitos compridos diferentes e não sabia o que estava falando direito, porém, continuava a despejar palavras e mais palavras em cima dele.  

- Pare de me tratar como criança! - Gritou ficando de pé. 

- O quê vo... - Gaara tentou falar, mas, calou-se ao ver a expressão no rosto dela. 

- Eu preciso que você pare! - Ela cambaleou em cima dos pés descalços. - Pare de me proteger, ou de me tratar como uma boneca. Pare de olhar para mim como se eu fosse me quebrar em pedaços, ou simplesmente me desmanchar ao menor toque. Pare de ver como a filha mais nova do velho fazendeiro, ou como a pobre garota que foi atacada em um beco. - Disparou as palavras o mais rápido que podia. Sentia-se prestes a desmaiar e tinha certeza que não teria coragem de falar tudo aquilo sem o efeito dos remédios. - Você era o único que me via como eu realmente sou e parecia gostar disso. 

- Você... - Gaara estava em choque, as coisas pareciam sair do controle de maneira estranha aquele dia. 

- Não quero ser... - Ela começou a falar, e então tudo se apagou. 

 


Notas Finais




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