Outubro, 2013.
Angela estava sentada no banco da praça que ficava próxima a sua casa. Ela morava com seus pais e sua avó, que estavam tão ansiosos quanto ela naquele momento. Eles insistiram em levava até lá e esperar Pietro chegar, mas Angel, como a sua família a chamava, recusou a proposta. Era a primeira vez que Angel tinha um amigo, ela sempre tinha sido antissocial e esforçada nos estudos, e a sua mente insistia na desculpa de que “tinha coisas demais para fazer”. Não era tão inteligente, mas se esforçava ao máximo. Era considerada esquisita no colégio e desconfiava que até sua família achava a mesma coisa. Para eles, Pietro Orlotti, o garoto cheio de medalhas, tanto nos esportes quanto nas olímpiadas de conhecimentos, nunca chamaria ela para sair. Mas, ele chamou.
Ela estava vasculhando seu armário do colégio, a procura de uma anotação antiga da aula de Matemática, quando ele chegou caminhando em sua direção. O mundo ao redor sempre parava ao notar que ele estava no mesmo ambiente que ela. O coração de Angel acelerava e sua pele até transpirava um pouco. Ele sempre passava direito por ela, sem nota-la, mas ele estava naquele momento parado em frente a ela. Angel gaguejou um “oi” e ele respondeu com um sorriso no rosto mostrando as covinhas. Ele era bonito: cabelos lisos, curtos e negros penteados, um corpo atlético, olhos um pouco puxados e aquele sorriso encantador no rosto. E então, ele a chamou para o baile e nervosamente Angela aceitou. Por mais estranho que aquele pedido fosse, ela estava apenas feliz pela oportunidade de dançar com alguém no baile de formatura. Foram semanas de conversas e mensagens trocadas pelo celular. Angel nunca tinha se sentido tão bem.
Angel estava com um sorriso no rosto, estava radiante. Já eram cinco horas, o horário era esse. A qualquer momento Pietro viraria a esquina em sua moto vermelha. Cinco e uma. Olhou no celular e nenhuma mensagem dele. Até que uma limusine branca virou a esquina e parou na rua. Pietro saiu de dentro dela, vestia terno preto e estava com o sorriso habitual.
- Não vai entrar? – Abriu a porta para ela.
- Você é maluco, isso deve ter sido muito caro! – Ela pegou a bolsa do banco e se levantou. Equilibrou-se em seus saltos azuis e beijou o rosto dele.
- Dinheiro não é problema para mim. Agora entre, quero que esse dia seja épico! – Ele sorriu. Angel notou ele animado até demais, mas ficou feliz por toda aquela agitação dele. Entraram na limusine e seguiram para o baile.
A noite não poderia ter sido mais perfeita. Só não foi completamente por causa dos olhares estranhos que os dois estavam recebendo. Angel só conseguia pensar que os outros alunos estavam achando esquisito: o garoto perfeito e a esquisita. Pietro estava distraindo-a tão bem que ela simplesmente não se preocupou. Ele ainda não a havia beijado, mas Pietro prometera leva-la a um lugar especial naquela noite, então as expectativas de que ele a beijasse eram altas.
Pietro havia deixado sua moto no estacionamento do colégio no dia anterior, já que a limusine foi alugada apenas para a ida à festa. Ela subiu na moto e abraçou a cintura dele. Chegaram até um lugar chamado “Paraíso”, onde os casais iam com os carros e motos e ficavam por lá para namorar. Era o ponto mais alto da cidade, onde dava para ver as luzes dos prédios de lá de cima. Ele desceu da moto, ajudando ela em seguida. Havia alguns carros espalhados pelo lugar.
- Esse é o Paraíso? – Angel ficou encantada com a visão das luzinhas lá embaixo.
- Eu sei que todo mundo leva uma garota aqui, mas tem um lugar que eu gosto muito de ficar sozinho, nunca levei nenhuma garota lá. – Pietro pegou sua mão e a guiou até uma parte mais reservada, onde havia uma rocha enorme e achatada. Os dois se sentaram e ele olhou para ela. Fazendo Angel ficar corada. Ele se aproximou e beijou-a, ela nunca tinha beijado ninguém, mas ele não parecia tão ruim nisso. Gostou tanto que por instinto, o fez tirar o paletó. Ele subiu a mão por sua coxa e desceu a calcinha.
- O-o que está fazendo? – Ela parou, gaguejando.
- Eu pensei que você quisesse. – Pareceu irritado.
- Eu... Eu não sei... – Virou o rosto.
- Eu terei cuidado. – A voz dele se tornou mais amena. Ele segurou seu queixo e puxou-o para si. Continuou beijando-a e Angel deixou-se levar por ele. A sua primeira vez não foi uma coisa tão maravilhosa, quanto pensou que seria. A única coisa que sentiu foi dor e arrependimento. Cinco minutos depois ele já tinha acabado tudo. Ele saiu de cima dela e sentou-se na rocha. Angel ouviu alguns risinhos ao fundo e se levantou rapidamente, assustada. Viu alguns rostos conhecidos na escuridão. Eram as garotas e os garotos populares, amigos de Pietro.
- Eu venci a aposta, agora paguem o que me devem. – Pietro disse. Angel franziu as sobrancelhas.
- Você se saiu muito bem. – Tanya, uma das garotas, disse. Angel havia entendido o que acabara de acontecer. Pietro nem mesmo olhava para ela, recebeu o dinheiro das mãos de Tanya.
- É melhor você ir adiantando, o caminho é longo e Tanya vai comigo em minha moto. – Pietro ajeitou o cinto da calça e se levantou.
- Vo-você não vai me levar? – As lágrimas em seu rosto afloraram. Angela se sentia suja. Havia acabado de ser usada. Todo aquele conto de fadas era mentira.
- Você sabe o caminho de volta. – E assim, ele a deixou lá. Partindo logo em seguida com os amigos. Angel sentiu o corpo inteiro estremecer e a única coisa que conseguia sentir era nojo de si mesma. Como pôde ser tão burra? É claro que só podia ter sido uma brincadeira de mau-gosto. Passou as mãos pelos braços, sentia frio, mesmo que não estivesse ventando.
Ouviu a moto dele se distanciar, percebeu que estava sozinha naquele lugar, mas ela tinha visto um ponto de ônibus próximo e ainda bem que estava com a sua bolsa. Levantou-se e andou pela escuridão, passando pelos carros que balançavam com os movimentos dos casais que se encontravam dentro. Andou por aquela estrada até o ponto de ônibus. Retirou os estúpidos saltos azuis que machucavam seus dedos dos pés. Duas horas depois ela estava em casa. Sua pele ainda arrepiava em todos os lugares que Pietro havia tocado. Sua mãe tentou conversar e Angel tentou parecer a mais animada que pôde, escondendo os detalhes daquela noite terrível. Subiu as escadas e foi para o quarto. Chorou até dormir. Os meses seguintes até a formatura seriam um inferno, mas pelo menos iria se livrar de todos que riram dela naquela noite. E essa seria apenas uma lembrança.
Mas, dois meses depois ela descobriu que estava grávida e foi contar a Pietro. Estava nervosa e paranoica. Contou a ele aos prantos. Ele acabou espalhando para todo o colégio que tinha usado camisinha e que o filho dela só poderia ser de “qualquer um”. Se tornou, mais uma vez a piada do colégio. Angel não sabia mais o que fazer, estava triste, grávida e morrendo de medo de seus pais descobrirem. Voltando do colégio com o carro da mãe, ela parou em um bar e afagou as mágoas no álcool. Se levantou, cambaleando. Nevava naquele dia. Entrou no carro e acelerou o máximo que pôde. Sua mente não raciocinava direito. Viu o borrão verde da luz do farol se tornar laranja, mas não conseguiu frear a tempo quando se tornou vermelho. Um carro passou em sua frente. Era tarde demais para parar.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.