O vapor subia fazendo pequenas nuvens embaçando o enorme e elegante espelho exatamente a frente da banheira de nobre porcelana cor de pêssego.
A água perfumada e com algumas bolhas furta cor balançava suavemente com o movimento de dois pezinhos brancos batendo ao som da música que o garoto tomando banho cantarolava baixinho.
Sasuke aspirava fundo o cheiro de flores que vinha da água morna, tentando se livrar de vez daquele maldito perfume de laranjas que parecia ter feito uma morada eterna no seu olfato.
E também no seu paladar...
E em cada pedaço do seu corpo.
O ômega Uchiha afundou o corpo por completo na água, inerte e silencioso. Como ele queria passar o resto da vida.
Mas claro isso parecia impossível. Batidas na porta do seus aposentos podiam ser ouvidas mesmo debaixo da água.
- Mestre Sasuke?
O moreno se sentou novamente, olhando em direção a porta fechada, as batidas continuavam fortes e persistentes.
- Entre logo. — Grunhiu fuzilando o jovem Yuukimaru.
O servo ômega adentrou o quarto e voltou a fechar a porta. O garoto abriu a boca, mas a fechou corando vivamente ao encontrar Sasuke na banheira.
- Fale de uma vez. — Cruzou as pernas e fechando os olhos.
- Mestre, hum, Neji Hyuuga-San pediu-me que entregasse um recado ao senhor. — O rapaz disse tudo rápido, fazendo Sasuke levar alguns segundos para entender o que aquilo tudo significava.
Olhou do pequeno papel dobrado, para a mão de Yuukimaru tremendo levemente.
- Trazendo bilhetes de outro alfa até mim, humm... — Se remexeu na banheira apoiando os braços molhados na borda para olhar mais de perto o ômega ficando ainda mais vermelho, ciente de que parte do seu traseiro arredondado despontava da água perfumada. — O que a Senhora Uchiha acharia sobre isso?
Yuukimaru arregalou os olhos de uma forma impossível. Sasuke controlou o impulso de gargalhar. E não era todo dia que ele sentia vontade de soltar risadas aleatórias.
- Não... Mestre não foi minha intenção... Eu não...
- Basta. — Sasuke balançou a mão e o servo se calou. — Quanto o Hyuuga lhe deu para trazer esse recado?
- Perdão? — O rapaz de olhos liláses estremeceu. Mas Sasuke apenas balançou a mão de novo, sem dar a mínima importância ao temor do garoto. — Vinte moedas de prata. Sinto muito mestre, não farei de novo eu...
Perdendo a paciência, Sasuke puxou o servo pela gola do casaco.
- Mas com mil maldições, ouça bem jovem Yuukimaru. Vou lhe dar cem, cem moedas de ouro, se você manter esses recados entre mim e o senhor Hyuuga, apenas entre mim e o senhor Hyuuga. — Os olhos negros não se desviaram dos liláses. — Entendeu?
Yuukimaru pareceu pestanejar por alguns segundos, mas logo meneou a cabeça positivamente.
- Então devo esperar descrição de sua parte? — Outra vez o jovem de longos cabelos cor de areia concordou com a cabeça. — Ou... — Sasuke roçou seu nariz no do garoto mais velho. — Arranco sua língua e sirvo a você como jantar.
- Mestre! — Yuukimaru pulou.
E dessa vez o Uchiha não conteve as gargalhadas.
- Vamos, me dê esse bilhete. — Estendeu a mão depois de a secar.
Desdobrando o papel a primeira coisa que Sasuke notou foi a caligrafia elegante. Digno de alguém como o Hyuuga.
- Tsc. — Apoiou a cabeça na borda da banheira.
Sasuke Uchiha
Venho por meio deste dizer-lhe, que tenho assuntos importantes a discutir com o senhor, e um lugar a mostrar.
Se for de seu interesse, encontre-me as margens do lago a oeste a tarde.
Aguardo sua resposta.
Neji Hyuuga.
Sasuke mordeu o lábio inferior, mas em seguida sua decisão já estava mais do que tomada. Levantou da banheira, ignorando o arfar de Yuukimaru.
- Cem moedas de ouro. Agora me ajude com as roupas.
O dia em Konoha se fazia atipicamente frio e nublado. Tornando mesmo em plenas quatro da tarde a floresta sombria e mais fechada que de costume.
Sasuke caminhava com cautela, coberto pelo pesado manto azul marinho, tentando ao máximo se fundir as altas árvores.
Sentiu o traço fraco de chakra do Hyuuga antes de o ver alisando a cabeça de um cavalo de pêlo cinzento. Dessa vez o rapaz tinha as madeixas presas em uma trança e usava também um manto de cor negra.
Neji o olhou por cima do ombro, antes de finalmente deixar o cavalo e dar um passo a frente fazendo uma leve reverência educada.
- Uchiha.
- Hyuuga. — Sasuke também se aproximou, olhando em volta e sem perceber apertar o manto que pertencia a Naruto em torno do seu corpo. — O que queria mostrar?
- Um lugar. Mas primeiro devo explicar alguns pontos que lhe são de interesse.
Sasuke aguardou enquanto Neji tirava de uma pequena bolsa escondida sob seu manto um livro de capa escura e aparência desgastada.
— É tão difícil quanto achar agulha em um palheiro encontrar qualquer coisa referente a separação de pares destinados. — O alfa se sentou a margem do lago calmo e quieto. — Em sua maioria toda informação apenas descreve que diferente de pares comuns, a remoção da marca mataria de imediato não um, mas sim os dois. As vidas se tornam ligadas eternamente junto a marca.
Sasuke sentiu um frio na boca do estômago, caminhado até Neji e se sentando a pouca distância. O alfa virou o livro em sua direção, mostrando as letras gastas e antigas.
- Onde conseguiu isso?
- Na biblioteca da escola. — O Hyuuga deu um leve sorriso.
O ômega Uchiha assentiu, segurando a língua para perguntar. Veja bem, Neji Hyuuga vinha de uma boa família, não era comum que frequentasse a academia escolar como outros menos abastados.
E Neji o encarou, olhos perolados parecendo ler cada palavra que Sasuke se recusava a dizer.
- Dispensei por conta própria os professores quando ainda era menino. — Balançou a mão. — Não gostava da maneira como eles me tratavam, e a acadêmia sempre foi um lugar razoável.
- Como eles lhe tratavam? — O Uchiha franziu o cenho.
- Com pena.
Sasuke se calou.
- Mas isso não é de importância alguma agora. O que preciso mostrar a você é isso. — Neji tirou um pergaminho pequeno e bem enrolado de dentro da mesma bolsa. Sasuke estendeu a mão para o tocar mas foi impedido pelo toque do outro.
O garoto Hyuuga desdobrou o pergaminho, deixando Sasuke ver nada mais do que papel em branco. Assistiu Neji fazer um sinal com os dedos, antes de fechar os olhos e murmurar uma palavra estranha. O papel se iluminou por uma fração de segundos, e palavras e códigos começaram a se revelar escritos em negro.
- Foi difícil passar pelo velho Danzou, esse aqui estava na sessão "proibida". E selado, com um tipo de jutsu que apenas um alfa poderia desfazer.
- E tem alguma informação útil para nós? — Sasuke revirou os olhos.
- Talvez. — O Hyuuga suspirou. — Infelizmente consegui ler apenas algumas coisas, são códigos estranhos, não os conheço por completo... Mas há algum tipo de forma de feitiço, que poderia partir a linha que liga destinados um ao outro.
- Sem os matar?
Neji se limitou a assentir.
Sasuke piscou para os códigos pintados no pergaminho.
- Usando Sharingan poderia ser possível ler por completo? — Murmurou pensativo. Neji o olhou com uma expressão surpresa.
- Sharingan? Você o tem mesmo sendo um... — O garoto de longas madeixas se inclinou para frente, como se Sasuke de repente houvesse criado mais uma cabeça. Mas foi cortado friamente.
- Apesar de ser um ômega inútil, ainda sou um Uchiha, senhor.
- Oh, não. Perdão, não foi minha intenção o ofender. Apenas não sabia...
- Não sei como ativar, ou sequer se funciona como o dos outros. — Sasuke cruzou os braços, encarando o lago. — Foi uma ideia sem fundamento.
Neji correu os dedos pelo pergaminho. Entendia o ômega irritado a sua frente em um nível profundo. Também havia herdado por familiaridade o divino Byakugan, mas não era como se um dia fosse usar o poder por completo. Mesmo sendo alfa, ainda não era digno o suficiente.
- De qualquer forma, se aqui há um feitiço, já sei de alguém que pode nos ajudar.
Os dois garotos trocaram um olhar.
Tinham um novo destino a seguir.
Era de comum conhecimento em toda a Konoha que as terras ao leste, eram território fechado.
As histórias variavam, passando por versões onde feras escondidas dominavam o lugar. Outras contando como o solo amaldiçoado poderia se abrir e engolir o curioso, e até dizendo que um monstro comedor de carne humana se escondia entre os troncos retorcidos e cinzentos de árvores que não tinham uma sequer folha durante o ano inteiro.
Histórias corriam com diversas versões, contando que ali vivia uma velha senhora, reclusa na casa de madeira com a chaminé sempre soltando uma fumaça arroxeada.
Alguns diziam que ela controlava as feras. Outros que ela poderia fazer o chão se abrir e dar um sumiço instantâneo em qualquer forasteiro. E uns ainda, que era ela quem fazia ensopado com as criancinhas que se perdiam na floresta morta.
Mas o que todos realmente sabiam era que as terras ao leste pertenciam a uma bruxa.
Sasuke nunca havia vindo até o leste. Obviamente já havia parado de acreditar nas histórias usadas para assustar crianças desobedientes, mas isso não impediu o arrepio que subiu por sua coluna ao ver a casinha caindo aos pedaços semi escondida entre as árvores secas.
Neji fez o cavalo parar, largando as rédeas para descer, os olhos claros com veias saltadas em volta passando em reconhecimento por toda a vasta extensão. Antes de voltarem ao normal e se focarem no ômega ainda sobre o cavalo.
Tirou a luva de couro e estendeu a mão para Sasuke. O garoto de capa negra lançou seu olhar superior, antes de graciosamente pular de sobre o animal e cair com perfeição ao lado do alfa. Neji sorriu, então sua ajuda não era necessária.
O Uchiha baixou o capuz, pisando com cuidado pelos galhos no chão, estudando o lugar esquisito e sem vida, até ouvir um som diferente.
Os dois rapazes se viraram, encontrando um par de gatos sobre uma das árvores, os olhando como se estivessem pensando como seria a melhor forma de os devorar.
- Hina, Denka. Sejam bonzinhos com os nossos visitantes.
Sasuke se recusava a dizer, mas outro arrepio havia o percorrido ao ouvir a voz aguda atrás de si.
Na porta da cabana, havia uma velha. Com cabelos tão cinzentos quanto os troncos das árvores, desalinhados e com orelhas negras como as de gatos despontando na parte de cima.
- Nekobaa-Sama. — O Hyuuga se adiantou fazendo uma reverência educada.
- Entrem, entrem crianças! — A senhora balançou os braços alegremente, sendo seguida pelos dois gatos.
- Hyuuga. — Sasuke segurou o braço do alfa. — Tem certeza de que isso é seguro?
- Tão seguro quanto os braços de sua mãe, menino Sasuke. — Ouviu aquela voz esquisita vir de dentro da casa.
- Você a ouviu, não há nada a temer. — Neji sussurrou entrando no casebre.
- Hum, diz isso por que não conhece minha mãe. — E Sasuke também entrou.
O lugar era iluminado apenas pela luz de uma grande lareira, dando sombras estranhas a cada pequena coisa. A velha caminhou até um caldeirão fumegante, o remexendo enquanto cantarolava.
Neji contou pelo menos oito gatos ao redor, olhos cintilando nos cantos escuros.
- Gostariam de algo para beber?
Sasuke revirou os olhos, dando um passo para frente.
- Não, mas temos algo a lhe mostrar. — Lançou um olhar impaciente para Neji. O alfa hesitou por um momento, antes de tirar o pergaminho de dentro de sua pequena bolsa.
- Não esperava que viesse até mim tão cedo, Ômega. — Nekobaa disse entre suas cantorias, pegando um gato cor de abóbora no colo e rodopiando como se dança-se com o animalzinho. — Uma criança tão bonita.
- Nekobaa-Sama, precisamos que...
- Vindo de uma família tão poderosa, uma pena ter nascido com a maldição, uma pena.
Os dois garotos pararam.
- A história sempre se repete não acham? Não se adianta correr de algo que já foi escrito. Como cortar erva daninha, ela sempre vai crescer novamente. No mesmo lugar. Um ômega veio, outro ômega sempre vai vir. — Ela parou de dançar, o gato saltou de seus braços com um rosnado.
- O que está dizendo?
- Segredos amaldiçoados. — Foi a única coisa que ela respondeu.
- Olhe aqui, sua bruxa. — Sasuke arrancou o pergaminho das mãos do alfa Hyuuga. — Não vim até aqui saber de suas lamúrias sem sentido, ou sobre maldições. Quero saber se pode ler o que está escrito ai, se não puder diga logo e irei embora.
A anciã piscou os olhos que pareciam sempre apertados. Dando um sorriso que parecia destoar infinitamente da atmosfera em volta.
- Você me lembra tanto aos meus gatinhos!
- Vamos embora. — O garoto Uchiha grunhiu, batendo suas botas no chão indo em direção a porta.
Neji aspirou o cheiro de uma tempestade se formando vindo do ômega. Olhando mais uma vez para a velha sorridente antes de seguir Sasuke.
- E se vão tão cedo, sem me deixar dar a resposta que procuram? — Nekobaa ergueu a mão. — Vamos, me dê.
Sasuke estreitou o olhar, mas entregou o pergaminho ao alfa Hyuuga. Porém quando Neji fez menção de refazer o jutsu que revelaria o conteúdo secreto. Nekobaa sacudiu a cabeça e tirou o pergaminho da mão do rapaz.
Ela se virou sentando em uma cadeira, os dois gatos que estavam do lado de fora quando chegaram se sentaram atentos ao seu lado.
- Por qual razão querem saber sobre o Senhor das Serpentes? — Quando a única reação foi a confusão dos dois garotos, Nekobaa abriu o pergaminho, ganhando um ofegar do alfa, que não havia chegado a dssfazer o jutsu de proteção. Mas mesmo assim, os símbolos estavam todos expostos. — O mestre dos rastejantes, possuidor do poder de atar os mais impossíveis nós.
- Esse, hum, homem. — Sasuke se aproximou. — Seria capaz de, desfazer a marca que une pares destinados?
- Então é isso o que busca, jovem criança? Brincar com o destino que lhe foi concedido?
- Não, desejo desfazer o destino que me foi dado sem meu consentimento. — O ômega parou em frente a velha, sendo abservado com atenção pelos gatos. — Se houver alguma chance de que eu possa ter uma vida digna em que não seja obrigado a ficar junto com alguém contra minha vontade, quero buscá-la.
- Você não sabe o que deseja. Não sabe como há coisas que poderiam ter lhe acontecido de muito pior, do que ser destinado ao príncipe. — Nekobaa parecia assustadoramente séria.
- Não me trate como se eu fosse apenas uma criança tola!
- Pois é o que você é. Deveria estar grato apenas por estar aqui... — Abaixou o olhar. Graça que aquele pobre ômega não teve. — Sussurrou por fim.
- Do que está falando, que ômega? — Sasuke deu um passo a frente, Neji segurou firmemente o seu braço.
- Onde podemos encontrar o Senhor das Serpentes?
O gato de pêlos negros miou alto.
Nekobaa abriu olhos completamente brancos, estendendo a mão enrugada para Sasuke. Neji foi mais rápido e puxou o Ômega para trás.
- Em todos os lugares e em nenhum, dizem que está abrigado nos montes mais altos ao Norte, ou que vaga buscando o que lhe interesse por terras distantes, é ardiloso e escorregadio como suas cobras, mortal e vaidoso, cobrando um preço muito caro por seus serviços. E quem capaz for de encontrar o grande Senhor das Serpentes agraciado será.
Sasuke respirou fundo, sentindo como se algo o sufocasse. Os olhos da senhora voltaram a serem apertados.
- Lhe digo uma coisa, esqueça essa ideia, criança. Se junte ao seu alfa, e agradeça ter um laço tão forte e bom, pois vai precisar quando as águas se tornarem revoltas, Sasuke do clã Uchiha. — Ela riu baixinho. — E nunca se esqueça, o que o destino junta, o próprio destino pode separar. — Voltou a cantar para os gatos.
Sasuke voltou um olhar perturbado para Neji. O alfa o guiou para a porta.
- Obrigado por seu tempo, Nekobaa-Sama.
E quando já estava quase do lado de fora ouviu:
- O valor de alguém não mora em ser alfa ou ômega, criança, siga o seu caminho e nunca, jamais dúvide de si mesmo. Voltem sempre!
~~¥~~
Através da janela, Naruto observava a noite chegando sobre Konoha. Levando o dia cinza e trazendo uma noite cheia de trovoadas.
O príncipe jogou mais uma folha para o lado, eram tantas empilhadas que pareciam não haver fim, muitos contratos a serem aprovados, leis a serem aplicadas, casos a serem resolvidos e mais e mais deveres.
E ainda nem era Hokage.
Deitou a cabeça na mesa de mogno maciço. Deixando a mente vagar, suspirou sentindo aquele nervoso que parecia estar fazendo morada nos cantos do seu ser há dias.
Pensou também no que Sasuke Uchiha deveria estar fazendo nesse momento.
Sorriu ao se lembrar do último encontro com o ômega, mas logo se tornou um daqueles sorrisos amargos. Sasuke não queria se casar...
E pensar no seu atual noivo, também o fazia pensar em Hinata. Naquela fatídica noite a apenas dias atrás.
Algo martelava na cabeça de Naruto, um certo ressentimento em ter visto a doce e recatada Princesa Hyuuga daquela maneira, se humilhando e dizendo coisas que sabia que ela nunca seria capaz de fazer em circunstâncias normais. Não, a garota com quem havia crescido provavelmente desmaiaria ao sequer pensar em estar perto de algum alfa em qualquer menção de que entraria no cio, quem diria invadir o quarto de alguém nesse estado.
Hinata estava desesperada, e Naruto só podia imaginar o quão difícil deveria ter sido toda a reviravolta que aconteceu na vida da Hime em tão pouco tempo. Sempre haviam acreditado que era juntos que iriam constituir uma família, Hinata havia sido educada durante a vida toda para um dia ser a rainha de Konoha. E de um momento ao outro tudo havia sido tirado do seu alcance. Sendo obrigada a se casar com alguém de sua própria família.
E todo o sofrimento da jovem ômega poderia ser evitado tão facilmente.
Naruto sentia a culpa latejando, mesmo que tivesse ciência de que não era sua culpa. Não havia escolhido o destino.
Não havia escolhido Sasuke Uchiha.
- Oras, é difícil vê-lo tão centrado em algo, que bicho lhe mordeu, príncipe?
O alfa loiro pulou na cadeira. Pego de surpresa pela voz alta ecoando na sala. Mas logo esboçou um sorriso ao sentir o perfume leve de flores silvestres e encontrar o homem na porta.
- Iruka-Sensei! — Acenou contente. — Não sabia que havia voltado de Iwa.
- Cheguei a pouco. Mas me diga, o que fez você pensar tão profundamente em algo que nem notou minha presença?
Naruto apoiou o queixo na mão, Iruka se sentou a frente do seu ex aluno. Esperando que o loiro decidisse compartilhar o que corria por sua cabeça.
- Sabe, Kakashi parece muito empolgado com o seu casamento, mais até do que no nosso. — Riu, mas o alfa não o acompanhou. — Hum entendi, então esse é o problema, o casamento?
- Não! — Naruto tentou disfarçar, mas a sobrancelha de Iruka erguida dizia que ele não cairia fácil. — Talvez, eu não sei, dattebayo!
O príncipe se levantou andando de um lado ao outro.
- Coloque para fora menino, o que lhe preocupa?
- Sensei, eu... — Naruto parou, as emoções vazando pelas imensidões azuis do seu olhar. — Há alguma forma de se separar um par destinado?
Iruka arregalou tanto os olhos que Naruto achou que eles iriam rolar para o chão.
- Eu, o quê... Naruto...
O alfa se arrependeu de ter feito aquela pergunta tola. Mas não disse nada ao sentir a presença de seu próprio pai se aproximando.
Iruka também sentiu, pois se levantou e mesmo sem perder o semblante assombrado, fez uma reverência quando o Hokage abriu a porta.
- Hokage-Sama.
- Iruka-San, que bom vê-lo. — Fez um leve gesto em direção ao ômega. Logo se voltando ao filho. — Naruto, Deidara também está de volta da sua missão em Suna No Sato... E trás notícias devastadoras.
- Perdão? — Naruto passou a mão nos fios claros e desarrumados, o tom e o chakra de Minato não estavam o ajudando em nada. — Onde está Deidara?
Minato colocou a mão sobre os ombros largos do Namikaze mais novo, azul refletindo no azul.
- Rasa No Sabaku está morto, o príncipe Gaara será coroado como novo Kazekage.
Naruto arregalou os olhos. Gaara iria ser o novo governante da nação da areia?
- Vamos, Deidara explicará melhor, e acho que essa conversa será de seu interesse. Iruka, se junte a nós, sim?
- Claro. — O loiro mais velho foi o primeiro a sair, deixando o filho atônito para trás. Iruka tocou levemente o braço do rapaz. — Naruto, você não quer se casar com o menino Uchiha...
- Esqueça, foi uma coisa descabida de se pensar. — Naruto ergueu a cabeça, os olhos cor de céu determinados. — Vamos. — Indicou a porta aberta.
Mas mesmo que dissesse para o seu antigo Sensei esquecer, a pergunta ainda continuava martelando em sua cabeça.
Naruto apertou uma mão sobre o pescoço e pensou em olhos negros e em cheiro de chuva.
~~¥~~
A casa estava em polvorosa quando Sasuke colocou os pés dentro do salão de entrada. Criados trabalhando animados e com pressa.
Parecia até que uma festa estava sendo organizada. E o pequeno Uchiha rezou para aquilo não ter nenhuma relação com aquele maldito casamento que seria dali a dois dias...
Sentiu um enjôo repentino ao pensar em tudo o que havia acabado de ouvir daquela bruxa sênil. Não havia encontrado nada de útil, ainda estava amarrado a aquele enlace com o Dobe Uzumaki Namikaze.
Controlou a vontade de quebrar alguma coisa, tomando o caminho da escada. Mas foi impedido ao ver a própria Mikoto descer de braços dados com ninguém menos do que Itachi.
Então isso explicava toda aquela comoção.
Os dois pares de olhos negros pararam sobre si. Os de Mikoto com uma fúria que mal conseguia ser represada mesmo sob a máscara elegante, e os de Itachi com um toque de curiosidade, e talvez até alegria.
- É bom revê-lo, Sasuke. — O irmão mais velho fez um aceno de cabeça educado.
- Itachi. — Sasuke fez uma reverência com a mesma educação.
Mikoto passou altiva pelo filho ômega, sua presença mais forte do que qualquer outra.
- Vamos jantar, sei que tem muitas coisas a nos dizer, querido.
Sasuke conteve o ímpeto de revirar os olhos, seguindo a mãe e o irmão.
Na grande sala de jantar, servos esperavam para servir a comida fumegante em travessas de prata. Fugaku já estava a mesa, juntamente com Obito e sua esposa, Rin, e também a bela Izumi, sorrindo com delicadeza.
Itachi fez uma reverência a sua noiva, mas para Sasuke a distância que ele mantinha da moça pareceu ainda maior que a de costume.
Todos se sentaram, e apenas quando os pratos já estavam cheios Fugaku pediu para Itachi relatar com havia sido sua viagem a vila da areia.
- Sinto em dizer que o Kazekage veio a falecer. — Apenas os barulhos de talheres caindo nos pratos foi ouvido. Itachi deixou que a notícia ss assentasse antes de continuar. — Até onde foi dito, foram causas naturais, um ataque cardíaco.
- E o que você acha? — Mikoto perguntou.
- Não devo achar nada minha mãe, apenas sinto em ver um homem justo com Rasa No Sabaku partir. — Fugaku acenou em concordância.
- Sim, uma perda irreparável.
- O príncipe Gaara irá ser coroado de imediato? — Obito arregalou os olhos. — Ele é apenas um menino.
- Gaara me pareceu bem mais do que apto de assumir o comando da vila. — O alfa disse pensativo, lembrando de como Gaara havia o atacado ao ouvir a notícia de que não iria mais se casar com Sasuke.
E com isso encarou o ômega sentado do outro lado da mesa. E logo decidiu que isso seria algo para se discutir em outra ocasião. Sasuke e Naruto já iriam se casar dali a alguns dias e não tinha nada que Gaara pudesse fazer.
- Gaara No Sabaku Kazekage de Suna. — Mikoto disse pensativa.
- Tenho certeza de que está arrependida de não ter me casado com ele, pois melhor que um príncipe só um rei. — A voz ds Sasuke soou cortante.
Izume que estava mais próxima do garoto quase cuspiu o vinho.
- Sasuke, tenha modos a mesa. — Fugaku foi quem repreendeu.
Mikoto ficou em silêncio, o rosto impassível.
Sasuke mordeu a língua.
O jantar correu sem mais emoções, mas todos ainda pareciam levemente chocados com o que o ômega havia dito e ainda mais com a falta de reação da matriarca Uchiha.
Quando Sasuke subiu as escadas, depois de procurar por Yuukimaru e entregar o pagamento anteriormente combinado ao garoto, se surpreendeu ao sentir o chakra já conhecido da mãe em seus aposentos.
Mas sendo como era, Sasuke empinou o nariz e abriu a porta calmamente. A senhora Uchiha se encontrava próxima a janela, o vestido volumoso e cor de sangue reluzindo nas luzes dos lampiões.
- Onde estava hoje a tarde?
- No consultório de Haku. — Respondeu de imediato e sem qualquer sinal de que fosse mentira.
Mas em dois segundos, Mikoto já avançava e Sasuke só pode sentir a mão pesada se chocar contra sua face.
- Sua meretriz! Quero saber o motivo de estar se esgueirando com um alfa que não era o seu noivo na floresta, e quero a verdade!
Sasuke sentiu seu mundo rodar.
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