Não importam os meios, se o fim compensa.
Eu tinha tudo para ser o melhor da família, o tão sonhado orgulho que todo pai e mãe pensa em ter. Bonito, inteligente, legal, fotogênico, o melhor da turma e por fim, humilde. Sim, eu era mil em um e com a vida que levo poderia ter sido facilmente um playbozinho da escola que se acha o melhor. Com a unica advertência que de meninas eu quero distância. Veja bem, eu não as odeio porém não tenho paciência para aquelas que chegam com segundas intenções. E sim, eu poderia ficar com a garota que eu quisesse, isso se a vida não tivesse me presenteado com o fato de achar meninos atraentes. Para o meu azar, eu não conhecia meninos com os mesmos gostos que os meus, somente um mas não conta pois é tão passivo quanto eu. Quer dizer, eu amo o Kyungsoo, mas não consigo me imaginar ficando com ele nem nada parecido. E ah, ele tem a sorte de estudar com a minha irmã. Não é de tudo sorte pois a garota é insuportável, no entanto, a escola deles é mais flexível e as pessoas de lá não veem problemas em se assumir.
Eu podia ser o melhor em muitas coisas, mas existia alguém que conseguia me superar. BaekHee, minha irmã.
Seria ridículo dizer que ela é mais bonita do que eu, afinal temos o mesmo rosto. É o que dá ser gêmeos univitelinos. Somente um terço dos bebês gêmeos nascem iguais, minha mãe foi um tanto quanto agraciada com isso. Mas bem, pelo menos eu posso garantir que ela é mais sortuda do que eu, pelo simples fato de estar fazendo aquilo o que quer. Ser o melhor da turma tinha suas desvantagens, e no caso a minha é que meus pais queriam que eu prestasse medicina, sendo que meu grande sonho sempre foi cantar. E o azar do destino é que ela estudava em uma escola onde este ano começariam uma espécie de Clube de Música. Desde o ano passado ela falava para os meus pais sobre isso e eles ficavam orgulhosos pois acreditavam no seu potencial, mas nunca acreditavam no meu. Não para cantar.
Devido a isso eu nunca pude mostrar meus talentos para eles, e não que eu guarde algum tipo de rancor, longe disso. Só que gostaria muito de realizar meu sonho também. Amanhã as aulas voltariam e este é meu último ano na escola, já até imagino com seriam as coisas nesses 365 dias, minha mãe me ligando toda semana perguntando como vão os estudos, se estou comendo direito, estudando, dormindo o suficiente, estudando.
Minha escola era muito longe, então eu ficava na casa da minha prima Tiffany na semana e no final de semana voltava pra casa. Era bom pois ela era uma grande amiga e seus pais passavam o dia trabalhando. Nossos pais não maldavam nossa relação, afinal sempre tiveram conhecimento da nossa sexualidade. O mesmo acontecia com minha irmã, com a pequena diferença de que nossos pais este ano haviam alugado um apartamento para ela. Como eu disse, ela sempre teve aquilo que chamamos de sorte.
☆☆☆☆
Já passavam das 10 da manhã do domingo e algo que me irrita muito é que o almoço sai quase na hora do jantar no final de semana. Estava começando a ficar com dor de cabeça de tanta fome, dois pedaços de bolo não enchem a barriga de ninguém. Estava saindo do quarto atrás de furtar um pacote de biscoitos quando me dou de cara com uma assombração.
— AI CARALHO! — Praticamente gritei enquanto colocava uma mão no coração para ver se ainda estava no lugar.
— Baekh-yun... — Ela chamou meu nome completo, então das duas uma, ou eu fiz merda ou ela fez merda. Espero que dessa vez não tenha sido eu.
Baekhee praticamente pulou no meu pescoço como se o mundo fosse acabar hoje, ou ela fosse embora para muito longe. Eu fiquei preocupado claro, ela não é de me abraçar a não ser por coisas importantes. E a situação ficou pior quando comecei a sentir meu ombro ficar molhado. Ela estava chorando. A menina que nunca chora, estava c-h-o-r-a-n-d-o.
— Hum...Hee, será que você quer conversar? Quer biscoito? Eu ia agora na cozinha roubar um pacote. — Me desculpem, mas na minha cabeça comida resolvia tudo. Pelo menos para mim.
Ela se afastou de mim e me puxou pelas mãos para sentar na cama. Olhou para cima como se estivesse fazendo uma espécie de contagem mental e começou a limpar suas lágrimas, respirou fundo, segurou uma de minhas mãos como se fosse para eu não fugir.
— Eu preciso.... da sua ajuda... Na verdade, você é o único que pode me ajudar Baek. — Ela parecia mais tranquila, no entanto eu comecei a ficar desesperado. Hee nunca foi do tipo que me pediu ajuda, ela sempre foi dessas que se virava sozinha, então o negócio era mais sério do que eu pensei.
— Pode falar. — Falei calmamente.
— É mais complicado do que você pensa. — Ok, eu comecei a pensar quantos membros eu quebraria se me jogasse da janela do meu quarto.
— Eu não vou roubar um banco e nem matar ninguém. — Só se fosse matar ela por querer corromper uma alma tão boa como a minha.
Ela suspirou fundo e virou o rosto, me olhou de lado como se pensasse que eu era super idiota, mas não podia fazer nada se ela já chega traumatizando.
— Eu quero trocar de lugar com você, Baekhyun. Eu não quero cantar, não quero fazer parte de um grupo idiota de música, esse sonho é seu e não meu. Quero ser médica Baek, sempre sonhei com isso. — Ela falava de um jeito tão simplista, que nem parecia que estava falando absurdos.
Puxei minha mão rapidamente e me levantei, para não me estressar precisava andar e foi o que comecei a fazer.
— Por acaso você enlouqueceu de vez? É impossível o que você está falando, BaekHee. Até o mês passado você estava vomitando arco-íris com a ideia de cantar. — Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto, não pude evitar, a garota estava falando de abrir mão do sonho que eu sempre quis realizar.
— Baek, me escuta. — Ela se levantou para me encarar, dessa vez voltou até a porta e a trancou para garantir que ninguém iria nos ouvir. — Eu tinha que ficar feliz, era a vontade dos nossos pais. Da mesma forma que você fingiu ficar feliz sabendo que ia estudar em uma escola preparatória para medicina. — Ela voltou a a se sentar e colocou as mãos no rosto como se quisesse voltar a chorar. Não aguentei e me ajoelhei na sua frente.
— Hee... Eu até posso te entender... mas não podemos fazer nada. Decepcionar nossos pais não está entre as opções. — E realmente não estava, isso é a coisa mais sem noção do mundo.
— Mas eu pensei em tudo Baek...Você ia para minha escola e no final do ano mostrava para os nossos pais que é capaz de cantar e eu mostraria que minha vontade é fazer medicina. — Ela abriu um largo sorriso e segurou os meus ombros. Eu até teria me animado se o plano não fosse tão insano.
— É mesmo? Então como seria esse seu plano? — Perguntei como um deboche, o que eu não esperava é que ela fosse responder.
— Eu já falei com a Tiffany e com o Kyungsoo, no começo eles acharam meio absurdo mas depois eu os convenci. Você sabe como eu sou convincente. — Entendi isso como uma indireta.
— A unica coisa que você tinha que fazer Baek é fingir ser eu. Na escola ninguém nunca me ouviu cantar e sua voz já é um pouco parecida com a minha. Eu já cuidei de tudo, meu apartamento está com as suas roupas, e na casa da Tiffany já mandei minhas roupas também.
Não aguentei, comecei a rir. Era tanta coisa sem lógica que só poderia ter saído da cabeça da Hee.
— Ah, e vai querer que eu use calcinha também? Maquiagem, peruca, fale com a voz fina e ande com as menininhas da sua escola? — Quase não consegui parar de rir, foi com muita dificuldade.
— Não! Você não precisa usar calcinha, basta uma cueca box e um short curto por causa da saia. Sim, teria que usar a peruca e maquiagem, mas não se preocupe porque eu só ando com o Kyungsoo. Eu não gosto das colegas da minha sala, a não ser a Taeyeon. — Ela sorriu de lado e correu até a porta, abriu e saiu do quarto na velocidade da luz. Eu fiquei parado no mesmo lugar olhando pra parede tentando entender se eu não estava tendo um sonho.
Quando ia começar a me beliscar para tentar acordar, ela voltou.
— Vamos fazer um teste no almoço, se depois disso você não concordar, eu desisto.
E então, eu dei um suspiro de derrota e resolvi fazer parte daquele teste mirabolante. O que eu não sabia é que iria dar certo.
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Lá estava eu lindo e maravilhoso só que agora com um vestido e peruca. Estava usando meias para meus pais não perceberem nada. Atrás de mim estava a sem noção parecendo uma calopsyta com peruca que na cabeça dela se parecia com o meu cabelo. Ocupamos os lugares na mesa e eu comecei a bater os dedos na mesa de nervoso, não acredito que estava me prestando a esse papel.
— Mãe, eu estou com muita fome. — Hee falou e eu me assustei, a criatura falou com a voz idêntica a minha.
— Já estou indo, filho. — Mamãe respondeu enquanto lavava os pratos.
Hee me chutou em baixo da mesa e começou a fazer mimicas estranhas, não sei como ia explicar que não entendo linguas dos sinais, até que ela fez sinal para que eu testasse minha voz.
— Hum... Mãe, eu quero suco. — Falei usando a voz mais feminina que consegui.
Mamãe se virou e veio até a mesa com alguns pratos, ela me encarou e sorriu acariciando a peruca. Meus olhos quase sairam enquanto a ridícula a minha frente começava a se servir.
— Você está tão linda hoje, Hee. — Ela falou e eu nem percebi que papai já havia se sentado na mesa.
— É mesmo, seus olhos estão com um brilho diferente, parece mais magra também. — Papai falou e quando eu ia responder, Hee se engasgou de raiva por ter ouvido aquilo.
Só sei que meia hora depois do almoço, já estava começando a gostar da ideia da trocar. Mas não por um ano, seria impossível.
☆☆☆☆
Voltamos para o quarto e eu deitei na cama, ainda de peruca e comecei a sorrir involuntariamente. Me animei com a ideia de cantar, mesmo sendo tão errado a forma como faria isso.
— Seis meses. — Me levantei e fiquei encarando ela. — Vamos tentar por seis meses.
Ela abriu um sorriso e pulou na cama para me abraçar. Só espero que Deus nos ajude nesses seis meses, porque se tudo der errado é capaz de irmos morar em países diferentes.
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