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História Destinos e Origens - O conto do quarto irmão


Escrita por: storytellerann

Notas do Autor


Eu tenho um fraco por diálogos. Eu prontamente admito que 90% dessa fanfic será composta por diálogos. Também aproveitando para falar que a previsão são 7 capítulos.

Capítulo 2 - O conto do quarto irmão


O clima no quarto de Lynn se tornara tão confortável que Satan lamentaria muito partir, então foi uma surpresa agradável quando a humana não se mostrou sonolenta ou com vontade de encerrar a conversa.

— E você? Você também não estava muito feliz mais cedo.

Ele demorou alguns segundos para se lembrar do que ela estava falando. Lembrou-se da conversa no planetário.


 

— O sótão sempre foi o santuário particular do Lúcifer, sabe? Ele nunca deixou ninguém entrar lá. Eu sempre achei que estivesse cheio de coisas dos dias de glória dele no Reino celestial, coisas que ele não tinha coragem de jogar fora. Mas eu não achei que ele seria capaz de manter o próprio irmão prisioneiro lá. Todo mundo sempre me diz o quanto eu pareço com o Lúcifer, mas eu nunca teria imaginado que ele estava fazendo algo assim… Lynn… você acha que eu sou parecido com o Lúcifer? Você acha que eu seria capaz de fazer uma coisa assim com meus irmãos?


 

— Uau, isso parece que foi há mil anos.

— Acho que você entenderia disso melhor do que eu.

Ambos riram.

— Mas, se você não se importa que eu pergunte, como foi isso? De você ser considerado “o quarto irmão”, em vez de ser o mais novo. Você chegou a falar que isso seria a ordem que vocês receberam seus nomes de demônios, mas eu confesso que não sei se entendi.

— Hm. Você está disposta a ouvir uma história muito longa?

Lynn assentiu. Satan encontrou uma posição mais confortável, e ela viu o olhar dele se perder na distância.

— Acho que nenhum de nós nunca parou para contar a história toda para ninguém, porque não é uma história da qual a gente se orgulhe. Pra mim, é como pegar um álbum com aquelas fotos embaraçosas de bebê – exceto que eu nunca fui realmente um bebê, ou mesmo uma criança. Você consegue imaginar a vergonha que é ser quase um adulto e não saber coisas básicas como falar ou se vestir? E para os meus irmãos… bom, eles tinham acabado de se rebelar contra o nosso (bom, não meu, mas você entendeu) pai e perder. Eles levaram uns cem anos para se recuperar das feridas. Nós chegamos aqui sem casa, sem objetos pessoais, e enfraquecidos. O ar do Mundo Inferior é tóxico para anjos, sabia? Se eles não fossem anjos do alto escalão eles teriam morrido envenenados em questão de dias. Mas com os nomes deles apagados dos registros do Reino Celestial eles estavam começando a se tornar demônios. Asmo não lidou muito bem com isso. Ele passou meses chorando sobre… as asas dele. E odiando os chifres. Dizendo que ele era horrível. Eu devo ter ido pra cima dele. Eu nunca tinha não tido chifres, e eu não tinha controle o suficiente para mantê-los escondidos. Mammon precisou me parar. Ele também não estava lidando muito bem com a falta das asas – as asas demoníacas dele demoraram mais para aparecer, e elas não são muito boas para voar. “Mas pelo menos você tem asas!” o Levi gritava. Apesar de que ele parecia muito mais triste pelas pessoas que ele conhecia no Reino Celestial. Acho que ele tinha amigos lá, que gostavam das mesmas otaquices que ele. Eu acho… que se dependesse dele ele teria começado a se trancar no quarto nessa época mesmo, mas ele não podia, porque sempre que Lúcifer estava fora – e ele ficava fora um bocado, resolvendo coisas para o Diavolo – ele e Mammon ficavam responsáveis por não me deixar destruir as coisas, ou atacar os mais novos. E Mammon frequentemente sumia por dias. Ele voltava trazendo dinheiro, roupas chiques, coisas para a casa e uma vez ele trouxe uma miniatura para o Levi, e acho que foi a primeira vez que vi ele não passar o dia mal-humorado. É claro que Mammon não estava conseguindo essas coisas legalmente. Às vezes o dinheiro era manchado de sangue. As roupas também. Belphegor passava o dia inteiro dormindo, no começo se recuperando das feridas, mas mesmo depois ele nunca queria sair da cama. Beel ficava tão preocupado… A gente morava em outra casa naquela época. Uma menor, num lugar mais afastado, providenciada por Lorde Diavolo. Sendo ex-anjos, meus irmãos não eram muito populares entre os demônios, e naquela época Diavolo não tinha tanta influência quanto hoje. O Rei Demônio ainda estava na ativa, e apesar do Lorde Diavolo já ser o herdeiro oficial há três mil anos, ainda havia alguns demônios do alto escalão que apoiavam o irmão dele.

— Peraí, Diavolo tem um irmão?

— Uhum. Diaval. Você não o conheceu porque ele está em intercâmbio no mundo humano. Ele nunca foi tão forte ou tão inteligente quanto Diavolo, e talvez exatamente por isso os demônios mais antigos quisessem que ele assumisse o trono. Alguém mais fácil de manipular. Eu não sei se em algum ponto ele realmente quis governar, mas o Rei Demônio encorajava a competição. Enfim. Nos primeiros anos o trabalho do Lúcifer foi ajudar Lorde Diavolo a acabar com a oposição. Política e economicamente, se possível, e em ruas escuras e desertas caso contrário. E nós estávamos vivendo como imigrantes ilegais. Pior ainda, imigrantes ilegais de um país que costumava ser inimigo do Mundo Inferior. Demônios vinham atrás da gente, e era um massacre atrás do outro. Mesmo enfraquecidos pela derrota no Reino Celestial, meus irmãos eram uma força terrível de se ver. Eu também, depois que eu parei de atacar meus irmãos de passei a me concentrar nos inimigos. As pessoas aprenderam a nos temer, e começamos a ganhar fama. Diavolo nos deu a Casa da Lamentações. E finalmente o Rei Demônio decidiu nos receber formalmente. Foi… uma cerimônia e tanto. Nesse ponto toda a oposição ao Diavolo já tinha desaparecido, e basicamente os demônios nobres que haviam sobrado não ousavam demonstrar hostilidade, já que Lorde Diavolo deixou muito claro que ele tinha grandes planos para nós. Meus irmãos também já tinham se acostumado a serem demônios. Asmodeus passou três horas lustrando os chifres antes da cerimônia, e fez todo mundo lustrar os deles também. E então o Rei Demônio usou o poder dele para fabricar nosso grimório, e começou a chamar os irmãos um por um para registrar nossos nomes em demônico antigo, com toda a magia e cerimônia envolvidas em nomear um demônio. Ele chamou Lúcifer, Mammon e Leviathan em ordem, então Asmodeus começou a se empertigar, preparado para se apresentar diante do trono… e eu fui chamado.

Para algo que havia acontecido há seis mil e quinhentos anos atrás, a lembrança era surpreendentemente nítida: Satan se lembrava de ficar tão surpreso que por um segundo não conseguiu sequer odiar ninguém. Asmodeus estava numa situação semelhante. Levi e Mammon trocando olhares entre si e buscando Lúcifer, que por sua vez olhava para Diavolo. Este explicou, num sussurro alto o suficiente para que apenas os irmãos demônios o ouvissem – nem Diavolo ousava interromper o Rei Demônio durante uma cerimônia solene – que no Mundo Inferior questões de herança e sucessão eram decididas por força, poder mágico e conquistas.

— E então o Asmo só deu de ombros e me empurrou pra frente antes que o Rei Demônio ficasse irritado com o atraso. Eu acho que ele pensou que seria o último. Beelzebub ganha dele em força física, e Belphegor ganha em poder mágico bruto. Mas acho que Asmo não considerou que ele tinha uma especialidade assustadora, e a fama que decorria dela. A técnica de controle mental dele é… nada menos que impecável. Não foi uma nem duas vezes que um inimigo pronto pra matá-lo olhou nos olhos dele e se apaixonou pelo “ser mais belo do Mundo Inferior”. E Asmo os recebia em seus braços… e devorava eles inteiros. Enquanto Belphie raramente saía de casa. Então depois de mim o Rei Demônio chamou o Asmo, então Beel e Belphie, e a ordem ficou mais ou menos a mesma… exceto pela minha presença exatamente no meio.

Lynn ouvia absorta. Ela imaginou seis anjos – as seis pessoas que haviam tomado chá com ela sendo tão amáveis e atenciosos – de repente longe de tudo que eles conheciam, e cercados de demônios hostis.

— Qual é a diferença de força entre os mais velhos? Mammon sempre age como se o Lúcifer fosse infinitamente mais forte.

— Ele provavelmente é… eu acho que nós nunca vimos ele usar a força total dele como demônio. Mesmo os antigos apoiadores do Diaval não eram páreo pra ele, e depois que eles se foram… nós éramos os demônios mais poderosos. Mas estimamos que precisaria de todos nós juntos para conseguir ter uma luta justa contra ele.

— Por isso vocês disseram que se isso acontecesse seria uma guerra civil.

Ele assentiu.

— Mas com os outros a diferença não é tão absurda?

— Não. Mammon é mais forte que o Levi apenas o suficiente para termos certeza que ele ganha, mas não o suficiente para fazer isso de forma rápida ou sem receber um dano colossal. A mesma coisa entre Levi e eu. Entre eu e o Asmo é um pouco diferente, porque o poder dele não é bem distribuído. Minha mágica é forte o suficiente para resistir à sedução dele, então ele ficaria sem defesa nenhuma se fossemos lutar. Hoje em dia Beel deve ser o segundo mais forte fisicamente, mas naquela época o Levi era mais forte. Só que o poder mágico do Beel é ridículo. Belphie não é tão fraco. Eu acho que o Rei Demônio só deixou ele por último porque ele nunca se dava ao trabalho de usar os poderes.

— E essas auras demoníacas que vocês soltam às vezes… isso é tipo… nada em comparação.

— Com medo?

— Eu não sei. Eu sou humana, eu fico fascinada pela demonstração ocasional de poder. Mas eu não lido bem com “Você é muito importante pra mim, vou quebrar seus ossos”. É aquela coisa de eu me sentir segura.

Silêncio.

— Fazia tempo que eu não pensava sobre isso. Eu sinto tanta vergonha da pessoa que eu fui. Eu dei tanto trabalho para os meus irmãos.

— Faz parte de crescer. Perceber que foi uma criança tonta, um adolescente idiota. Quer dizer que você está finalmente se tornando adulto.

— É uma coisa estranha para dizer para um homem de sete mil anos, haha.

— Em anos humanos, que idade você acha que você teria?

— Hm. — Satan resistiu ao impulso de dizer “a mesma idade que você” e deu à pergunta a devida consideração. — Quando chegamos no Mundo Inferior Beel e Belphie eram praticamente adolescentes. Não dá pra fazer uma escala linear e dizer que tantos mil anos para nós equivalem a tantos anos humanos. Mas baseado no quanto eles mudaram com o tempo, eu diria que hoje eles tem uns 19 anos? Então depende se você quer me considerar mais velho ou mais novo do que eles.

Lynn o avaliou criticamente.

— De jeito nenhum você teria dezoito. Muito menos dezesseis ou dezessete. Fora de contexto você até poderia ser aquele adolescente que vive enfiado nos livros e age com muito mais maturidade, mas acho que ficaria estranho para as suas interações com o Asmo. Se eu não soubesse que os gêmeos eram Beel e Belphie, eu acharia que eram você e o Asmo.

— Sério?

— Aham. Quando eu cheguei parecia que vocês estavam juntos o tempo todo. Mesmo sendo totalmente diferentes.

— Antes de eu me tornar o “quarto mais velho” Asmodeus sempre me levava para fazer compras. Ele achava que as roupas que o Lúcifer escolhia para mim eram “sóbrias demais e não realçavam o meu rosto”. Ele quase infartou quando eu quis uma gravata borboleta, mas ainda me ajudou a escolher roupas que combinassem com ela.

— Então, se estamos dando 19 para o Beel e o Belphie… 23 para você e o Asmo?

— 24 para mim, 22 para o Asmo.

— Se você diz… 25 para o Levi.

— Mammon… eu me sinto inclinado a dizer 27.

— E isso faria do Lúcifer… 29. Talvez até 30.

— Quantos anos você tem, Lynn?

Ela sorriu. Considerou por um instante dizer que no mundo humano era indelicado perguntar a idade de uma dama. Em vez disso apenas respondeu.

— Vinte e seis.

— Eu jurava que você tinha no máximo vinte!

— Ha! Se eu ainda estivesse no meio da faculdade, eu teria chegado aqui com muito mais preocupações do que “será que isso é um sonho? Ai, como esses demônios são rudes.” Lúcifer com raiva não é metade tão assustador quanto a ideia de alguma coisa me impedindo de receber meu diploma.

— Você se formou em quê?

— Astrofísica.

— Isso é… totalmente diferente do que eu imaginava. Eu sempre achei que você fazia alguma coisa com ciências humanas. Acho que é estranho você já estar aqui há meses e eu nunca ter me interessado em saber. Talvez você esteja certa sobre demônios serem rudes.

— Tud-wah bem. O importante é que agora você está sendo… não, pensando b-wen… — os bocejos interrompiam a clareza da frase — Se aparecesse um novo estudante de intercâmbio, como você o trataria? Um humano sem nada de especial.

— Eu acho que eu não ameaçaria devorar ele. E também não faria apostas sobre quanto tempo ele iria durar.

Lynn acenou com a cabeça, satisfeita, e bocejou ais uma vez.

— Então é isso. Você aprendeu a lição. Mas se eu for a única humana ganhando tratamento especial, daí não vale a pena. — Ela franziu as sobrancelhas, tentando isolar um pensamento importante, mas que lhe escapava. — Tem uma coisa que eu preciso te perguntar sobre p-wah-ctos.

— Você está caindo de sono. Certeza que isso não pode ficar para amanhã?

— E se eu esquecer?

— Coloque um alarme no seu telefone. A gente pode continuar essa conversa amanhã à noite.

— …

— O quê?

— Eu posso tentar te invocar de novo? É que vai ser muito man-weh-iro se um dia eu conseguir.

Satan se levantou, garantindo que Lynn estava bem acomodada debaixo das cobertas. Parou à porta.

— É claro que pode. Boa noite.



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