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História Destinos Entrelaçados - Recordações reais


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Mil obrigados pelos comentários, seguidores e favoritos que vão sempre aparecendo a cada semana e me deixam cada vez mais feliz!
Como prometido, cá está o novo capítulo com aquela conversa que todos esperavam há 36 capítulos o.o ( a verdade é que nem eu esperava que fosse escrever tanto, mas as ideias não pararam de surgir e por isso cá estamos nós no capítulo 37!). Espero que gostem!

Capítulo 37 - Recordações reais


Recordações reais

 

Finalmente, a última aula está reposta”, pensava Levi aliviado enquanto via os alunos saírem da sala de aula com um ar pouco satisfeito, por terem tido aquela aula extra.

Ninguém admitia em voz alta com medo de receber olhares incrédulos dos amigos, mas a aula de matemática tinha sido estranhamente mais compreensível e não tão má como de costume. A razão? Pelo menos, a maioria podia dizer que finalmente tinham saído da sala de aula a entender do que raio se esteve a falar visto que Levi deixou de lado o manual que seguiam para explicar alguns conhecimentos que todos deviam ter como base.

Levi arrumou as suas coisas e reparou que tinha uma mensagem no telemóvel. Ia ler quando foi um interrompido por uma voz melodiosa e um pouco tímida. A jovem de cabelos loiros e que hoje trazia algumas tranças no cabelo era observada de longe pelos amigos que pareciam aguardar o resultado daquela conversa com expetativa.

- Precisas de alguma coisa, Christa? – Perguntou.

- Hum, sobre a sugestão que deu na sala… - Começou um pouco acanhada. – Aquilo de… se as turmas a que agora dá aulas de matemática tirarem boas notas, melhor dizendo, as duas turmas que melhor se saírem no próximo teste têm direito a uma recompensa e o senhor perguntou o que nós queríamos.

- E ouvi coisas como viagens à Disneyland, mas parece-me um pouco exagerado e pouco provável tendo em conta, as nossas finanças que embora melhores, não são inesgotáveis. – Falou o professor.

- Eu sei, mas há uma coisa que todos gostariam de fazer este ano. – Começou Christa. – Todos os anos, na última semana de janeiro… - Mostrou um panfleto que trazia nas mãos. – Na zona de Sina, há um festival de inverno. – Apontou para uma imagem em específico. – Toda a gente sempre quis visitar este parque de diversões. É o mais próximo que temos, mas como faz parte de uma zona privilegiada é um pouco caro para a grande maioria por isso, acha que se essa poderia ser a nossa recompensa?

Levi pegou no panfleto, observando-o por alguns instantes.

- Nunca foram a um parque destes? – Christa confirmou com um aceno. – Isso seria uma boa recompensa pelo vosso esforço? – Viu outro aceno. – Acho que posso prometer uma coisa dessas… - Começou, vendo o sorriso da adolescente aparecer no rosto. – Mas têm que se esforçar e fazer o melhor para serem as duas melhores turmas, até porque haverá outros colegas a participar e que podem ficar com o vosso lugar.

- Claro, claro! – Disse Christa sorridente. – Muito obrigado, professor Levi!

Ao escutar o entusiasmo na voz da amiga, os amigos que aguardavam a resposta vieram juntar-se a ela e todos estavam igualmente entusiasmados com a ideia de receber aquela recompensa.

Levi pediu que levassem os festejos para fora da sala, visto que precisavam de sair para que ele pudesse fechar a porta.

Nunca foram a um parque destes…”, pensava enquanto caminhava pelos corredor, “Coisas que sempre tive, bastava que pedisse ou os meus pais sugerissem” e repentinamente, viu Armin e Mikasa encontrarem os outros amigos que lhes contaram das novidades e os dois também sorriram abertamente, “Provavelmente, ele também nunca foi um sítio destes. Gostava de o levar até lá…”.

Olhou novamente para o telemóvel e inicialmente, não reconheceu o número, mas o nome no final e o próprio conteúdo depressa o fizeram concluir de quem se tratava. A Dra. Ana queria vê-lo ao fim da tarde para falar acerca dos exames que tinha feito. Como a mensagem não dizia nada acerca dos resultados, se eram bons ou maus, isso também não o tranquilizou muito. Sentiu até uma necessidade de ligar para a mãe e perguntar como estava o adolescente, mas sabia que não devia fazer uma coisa dessas.

Contudo, a ansiedade continuou a incomodá-lo na última aula que ainda deu naquele dia, antes de dirigir-se ao hospital. Não se lembrava da última vez em que tinha sentido tanta inquietação. Não queria pensar em nada negativo, mas não conseguia deixar de pensar nas febres altas, nas estranhas dores de cabeça e os desmaios que o adolescente dizia não ser nada de grave, mas também nada de novo.

Depois de sair do carro, a sensação angustiante fez com que também sentisse algumas náuseas. Não queria imaginar o pior e ao mesmo tempo, não conseguia evitar.

O que faria se Eren tivesse algum problema grave? Se existisse a hipótese de perdê-lo por algo tão injusto como alguma doença, não saberia o que fazer.

Assim que parou na receção, o nó na garganta tornou-se mais evidente e tentou que as palavras saíssem com fluidez e sem denunciar o turbilhão de pensamentos que lhe passavam pela cabeça. A rececionista indicou-lhe a sala, onde encontraria a Dra. Ana, embora tivesse que aguardar até ser chamado, pois não tinha a certeza que a última consulta já tivesse terminado.

Para seu alívio, a última consulta já tinha acabado há alguns minutos e por isso mesmo, a médica já o esperava na porta e pediu que entrasse. Os pensamentos negativos apenas se acentuaram ao ver outro médico no interior que se apresentou como sendo um ortopedista, na área da traumatologia. Antes de sequer entrarem no assunto dos resultados dos exames, também disseram que falaram com outro colega que não podia estar presente e esse era da área da neurologia.

A essa altura, por muito que quisesse manter uma expressão impassível, a preocupação tornou-se algo evidente no seu rosto.

- Lamento imenso por estar a deixá-lo tão tenso. – Comentou a Dra. Ana. – Mas como pediu que fizesse um bom check-up geral, achei que devia consultar alguns colegas para ter a certeza.

- É… - Ouvia claramente a hesitação e o receio na sua voz. – Há alguma coisa de grave com ele?

- Os exames ao sangue não apontaram nada. – Disse a médica, procurando tranquilizá-lo. – Ele estava bem, na medida do possível, já que uma pneumonia não pode deixar ninguém em bom estado. Os reflexos também não apontavam nada de errado, a ressonância também foi francamente vulgar, à exceção de uma coisa e por isso, pedi os Raio-X. – Olhou para o outro médico que se mantinha de pé e desligou algumas luzes, mostrando atrás dele, algumas dessas radiografias.

- Não são recentes, mas durante alguns anos houve várias remodelações. – Começou o outro médico, apontando para as imagens. – Fraturas em locais que normalmente denunciam abusos. As costelas foram partidas várias vezes, os pulsos, alguns dedos…

Levi fechou os olhos por alguns instantes, procurando afastar as teorias que não andavam muito longe da verdade. Ele sabia como aquelas fraturas teriam acontecido.

A sensação nauseante estava de volta e tinha a certeza, de que se alguma vez se cruzasse com o responsável por aquilo, seria capaz de matá-lo sem pensar duas vezes.

- Mas esta… - Apontou para uma das radiografias. – Esta é a mais antiga, mas a mais preocupante de todas. Esta fratura no crânio deve ter ocorrido quando era muito novo. Provavelmente, três ou quatro anos.

- A idade em que ele entrou no orfanato… - Deixou escapar Levi.

Ou pouco antes de ir para lá, o que significa que estava com os pais…”, concluiu em pensamentos, não gostando nem um pouco do começava a imaginar.

- Pus a hipótese de ele ter sofrido algum tipo de acidente. – Comentou a Dra. Ana.

- Mas se foi um acidente, ele tem sorte em estar vivo. – Concluiu o outro médico.

- Mas o senhor não pensa que tenha sido um acidente, pois não? – Quis saber Levi.

- Infelizmente, já vi coisas terríveis ao longo dos anos e não é que a teoria do acidente seja totalmente infundada, mas existe uma hipótese que não excluo, sobretudo tendo em conta que o rapaz em questão, acabou num orfanato. Pode ter sido propositado e se assim foi, quem fez isto, tinha toda a intenção de que não sobrevivesse.

Os próprios pais… os próprios pais podem ter tentado matá-lo… Se isso for verdade, não posso e nem vou procurar nada sobre eles. Não quero sequer saber se estão vivos ou as razões por detrás disto. Não posso cumprir a minha promessa com o Sr. Arlert se isto tiver algum fundo de verdade. Não posso tentar trazer para a vida dele, pessoas que podem ter desejado a morte do próprio filho. Até é melhor que já não estejam vivos, que tenham morrido… que se isto for verdade, que tenham pagado pelo que tentaram fazer. Além disso, se for verdade, jamais poderei contar-lhe nada disto. Não quero que pense que as suspeitas dele podem ter algum fundamento…que os próprios pais não o quiseram e pior, tentaram livrar-se dele”.

- Acha que ainda pode haver sequelas disso? – Quis saber Levi.

- Agora, penso que seja difícil. – Respondeu o médico. – Ele teve uma boa recuperação. Uma coisa milagrosa ter conseguido remodelar a este ponto, mas na altura, acredito que tenha ficado num estado muito grave. Segundo o nosso colega neurologista, este tipo de trauma deve ter causado uma grande falha na memória dele. O que numa criança deveria significar esquecer-se inclusive dos próprios pais. Disse também que pode ter tido dificuldades em reter informação ou recordar algumas coisas por algum tempo, mas que a julgar pelo que vemos aqui, agora podemos dizer que é um rapaz perfeitamente normal e saudável.

- Saudável… - Repetiu Levi.

- Sim, saudável. – Confirmou a Dra. Ana com um sorriso. – Só o chamei aqui para falarmos melhor sobre estas radiografias porque ainda que fisicamente, esteja tudo bem com ele, acredito que as sequelas psicológicas ainda continuem presentes.

- Acredito que agora, o rapaz não viva num ambiente abusivo. – Comentou o outro médico.

- Não, não vive em nenhum sítio assim. – Falou Levi. – Felizmente…

- Então, não se preocupe mais, mas aconselhe-o a visitar um médico, pelo menos uma vez por ano. É bom fazermos estes check-ups gerais de vez em quando e a julgar pela bateria de exames propostos pela minha colega, acredito que ele já não fosse a um médico há bastante tempo. – Levi anuiu. – Pronto, então daqui para a frente, diga-lhe para ter isso em atenção e acima de tudo, que aproveite bem a vida já que tem sorte de apesar de tudo, ser um rapaz forte e saudável.

A Dra. Ana sorriu e concordou com o colega que então, se despediu e saiu da sala.

- Muito obrigado pelo que fez. – Disse o professor por fim.

- De nada. – Respondeu a médica. – Apenas fiz o meu trabalho e... – Fez um ar um tanto curioso. – Agora que ainda estamos aqui os dois e em sigilo médico, diga-me uma coisa, professor.

- Sim? – Indagou não entendendo o tom entusiasmado da médica.

- Está apaixonado por ele, não está?

- O qu…? De onde tirou essa ideia absurda?! – Perguntou num tom que infelizmente, não conseguiu controlar.

- Oh meu Deus, romances proibidos! – Disse, ignorando completamente o ar chocado do professor. – Sabe, eu tenho que admitir uma coisa, adoro romances destes. Sempre fui fascinada e há alguns meses comecei a escrever e por isso, não resisti em perguntar porque vocês dariam uma ótima inspiração para o meu próximo romance.

- Eu… - Ia dizer Levi, mas estava completamente traumatizado com o rumo da conversa.

- Já ouviu o título “Pétalas de pecado?” de Mafalda Teles? – Perguntou a médica.

- Ah…

O nome não me soa estranho. Agora que penso melhor, acho que a Hanji chegou a sugerir-me esse livro porque era sobre…”.

- A doutora, pediatra que cuida de crianças escreve romances sobre casais homossexuais sob um pseudónimo? – Perguntou um pouco receoso pela resposta.

- Ora, todos nós temos o nosso lado mais atrevido. – Falou e o professor encarou aquilo como uma confissão.

- Bem, ah… obrigado por tudo e até... – “Nunca mais!” – Qualquer dia. – Falou e saiu rapidamente da sala, perguntando-se como é que a ida tensa ao hospital tinha acabado daquela forma.

É um fato. Eu atraio pessoas loucas. A Hanji, o Mike com aquele hábito maldito de cheirar pessoas, a Nanaba e as transformações alcoólicas, o Irvin e as sobrancelhas… e agora a médica que escreve romances gay! Puta que pariu, preciso de um exorcismo!”.

Já dentro do carro, sentiu-se aliviado porque apesar da conversa estranha dos últimos minutos, uma coisa era certa. Estava tudo bem com a saúde de Eren e isso era o maior alívio que podia ter naquele momento, depois de ver que todos os seus receios eram totalmente infundados.

Quando chegou a casa, encontrou três pessoas à sua frente, entre as quais a sua mãe que lhe pediu o carro emprestado. Precisava fazer algumas compras e Mikasa e Armin iriam ajudá-la com isso, pois seria menos cansativo para o professor ficar em casa a vigiar Eren. Ele não discutiu, pois aquela seria uma oportunidade para conversar mais à vontade com ele. Entregou as chaves à mãe, pousou a pasta com os livros e computador sobre a mesa e dirigiu-se ao quarto.

Não esperava encontrar o adolescente fora da cama com um ar preocupado enquanto apanhava alguns morangos que tinham caído no chão. Ao escutar que Levi tinha chegado e iria ficar sozinho com ele por algum tempo, a pequena taça com morangos que Catherine lhe tinha dado caiu das suas mãos e ali estava ele a tentar não ser assassinado por possivelmente, ter sujado o chão do quarto.

- O que estás a fazer fora da cama? – Perguntou Levi e aproximou-se. – Deixa que eu apanho isso.

- Des…desculpa… - Falou, sentindo o rosto cada vez mais corado.

- Tch, acho que manchaste o tapete. – Falou e levantou-se em seguida. – Vou à cozinha procurar um pano e um produto qualquer que salve o meu tapete. – E estava prestes a sair do quarto, quando Eren finalmente deixou escapar as palavras que queria dizer há duas noites atrás, mas falhou quando viu o professor de óculos na sala.

- Capitão Levi.

O professor parou de imediato sem se virar para trás. Não tinha entendido mal, aliás tinha sido absolutamente evidente o que lhe tinha chamado.

Depois daquela tentativa frustrada naquela noite, Eren andava cada vez mais ansioso e nervoso, mas sem qualquer oportunidade para poder falar sobre isso. Desde então, nunca mais tinha visto Levi sem ninguém por perto, por isso aquela era a oportunidade ideal e não queria adiar mais.

- Capitão Levi. – Repetiu mais receoso por não ter obtido qualquer resposta ou reação, além do homem de cabelos negros ter parado perto da porta e então, este sem olhar para ele, perguntou:

- Se te dissesse… que cumpri a minha promessa faria algum sentido para ti?

Os batimentos do coração soaram ainda altos aos seus ouvidos.

- Nunca duvidei que fosses cumprir… não há mais muralhas. – Disse com a voz trémula. – E além disso… mesmo que não acreditasses que era possível, encontrámo-nos outra vez. Cumpriste as duas promessas.

Levi olhou para trás e encontrou os olhos verdes expetantes.

Não eram sonhos.

Eram lembranças.

Coincidência? Não, isso já seria negar demasiadas evidências. Ele sabia das muralhas, ele recordava as promessas e em momento algum, alguma vez falou disso com alguém e muito menos com ele. A única explicação era que ele tivesse as mesmas lembranças e se assim era…

- Eren… - Murmurou por fim, voltando a aproximar-se da cama onde estava o rapaz sentado. – Eren… - Repetiu e tocou no rosto dele. – Não é um sonho, estás aqui. És real, eu julgava que estivesse a enlouquecer, mas… - Sorriu e beijou o rapaz que se separou ligeiramente.

- Então, lembras-te de mim?

- Nunca esqueci. – Foi a resposta que recebeu. – Nunca, nem mesmo depois de tanto tempo a lutar dentro e fora daquelas malditas muralhas.

- Pensava que naquela altura não sentias… - Começou Eren.

- Não podia. Dizia a mim mesmo que não podia porque eras tão novo e tão impulsivo que temia que te arriscasses demais por minha causa Preferi que nunca tivesses qualquer esperança porque pensei que dessa forma, não haveria tanto impulsividade de ambas as partes e no fim, acabei por te perder na mesma. Mesmo fazendo o que pensava ser o mais correto para te manter vivo… - Falava sem deixar de acariciar o rosto do rapaz que ruborizado ouvia a sinceridade por detrás daquelas palavras. – Arrependo-me de todas as vezes que te afastei, que não deixei que…

- Eu amo-te. – Confessou Eren. – Amava-te naquela altura e mesmo sem inicialmente, saber que a pessoa nas minhas lembranças e tu eram a mesma pessoa, apaixonei-me mesmo assim. Mesmo sem saber, acabei por apaixonar-me por ti novamente.

Precisava dizer-lhe.

Tinha que ter coragem de dizer-lhe, mas as palavras estavam presas na sua garganta e como se a frustração de não conseguir falar, não fosse má o suficiente, o telemóvel tocou. Ponderou em ignorar, mas como isso pressupunha tentar dizer aquelas palavras que lhe custavam sair, optou por tentar tranquilizar-se um pouco. Era uma chamada da mãe e foi isso que disse para que Eren compreendesse que precisava de atender.

O adolescente assentiu e ouviu como o professor ouvia atentamente as indicações da mãe que antes de sair tinha esquecido que era suposto dar a medicação a Eren.

- Levi…

- Precisas de tomar a medicação. – Falou, indo até à cozinha buscar um copo de água e ao pegar num dos copos notou como estava nervoso. A mão tremia ligeiramente e respirou fundo, tentando acalmar-se antes de voltar ao quarto. – Aqui tens.

O rapaz tomou a medicação sem reclamar, mas assim que acabou de beber o copo de água continuou a olhar para o professor que honestamente, não sabia o que dizer. E quem sabe, Eren estivesse na mesma situação, mas pelo menos ele tinha dito palavras bem importantes. Essas que Levi queria retribuir, mas subitamente via-se incapaz de verbalizar algo assim.

- Levi. – Estendeu a mão e o professor aproximou-se da cama e surpreendeu-se ao ser puxado contra o peito do adolescente. Antes que pudesse perguntar a que propósito vinha aquilo, Eren começou a falar. Disse-lhe que começava a entender a razão para ter nascido. A razão era simples: “Nasci para te encontrar de novo e ser feliz ao teu lado”.

O outro escutava em silêncio desde quando o adolescente desconfiava da veracidade daqueles sonhos. Sempre os teve desde muito novo, mas os rostos das pessoas ou mesmo as suas vozes eram coisas distantes e quase apagadas. Apenas o terror, a cor do sangue e os sentimentos assumiam contornos mais reais.

Contrariamente, Levi disse-lhe que desde pequeno, coisas como os rostos das pessoas sempre foram bem visíveis e quanto a isso, surpreendeu-se ao ouvir algo que Eren ainda não tinha comentado.

- Não me lembro ao certo porquê, mas logo que entrei no orfanato, não falava uma palavra de português. Entendia, mas por alguma razão, só falava e respondia em alemão. O que foi um problema por muito tempo, pelo menos foi o que me disseram. – Falou pensativo. – O Armin também chegou a dizer-me que esquecia-me das coisas a curto ou médio prazo e queixa-me bastante de dores na cabeça.

- Eren… lembras-te daqueles exames que fizeste?

- Sim. Passaste pelo hospital? Estou bem, não estou? – Perguntou, continuando a manter Levi junto ao seu peito e este não se movia.

- Sim, estás bem… - Hesitou por alguns instantes. – Ao que parece tiveste algum acidente que te provocou uma pancada forte na cabeça e por isso, tiveste esse problema. Pelo menos, foi isso que me disseram.

- Hum, se calhar é por isso que durante muito tempo, não via os rostos ou reconhecia os rostos de ninguém naqueles sonhos. – Falou pensativo e não escapou ao professor, como o adolescente recusava-se a falar muito do seu passado, sobretudo se este remetesse para o que teria acontecido antes do orfanato. Nem mesmo falando do acidente, teve vontade em perguntar. Não que Levi quisesse responder, porque o acidente não era a única teoria.

Em vez disso, Eren contou-lhe que a primeira imagem clara que teve dele foi no dia em que tomou a decisão errada de chamar aquele banqueiro. Nesse dia, sem sombra de dúvidas teve a certeza de quem era a pessoa nos sonhos, dos sentimentos e acima de tudo, que tudo aquilo não eram somente sonhos e sim, lembranças.

Admitiu também que não falou antes do assunto porque teve medo de se sentir ridicularizado, caso não fosse verdade ou Levi não se recordasse das coisas tal como ele. Ao escutar isso, o professor disse que desde da primeira vez que o viu na escola teve medo de sequer pensar na possibilidade de tudo ser real. Mesmo que a ideia de sonhar com alguém que nunca tinha visto antes, também fosse no mínimo difícil de aceitar.

No entanto, com o acumular de coincidências tornou-se cada vez mais evidente que havia algo misterioso a acontecer. Algo que até mesmo naquele momento não conseguia explicar, mas confessou que não estava assim tão interessado na explicação.

- E porquê? – Perguntou Eren.

- Já te tenho ao meu lado e isso é suficiente. Não preciso de explicações, não preciso de mais nada. – Reconheceu e nesse instante, o jovem de olhos verdes afastou-se ligeiramente e sem qualquer aviso, beijou-o enquanto o deitava na cama.

- Eu amo-te, Levi… - Falou num sussurro, antes de beijá-lo novamente e o outro tinha a certeza que por muito que quisesse, não estava a conseguir esconder o rubor que alcançava o seu rosto. – Sempre te amei… - Falou em mais um sussurro enquanto, deixava beijos que subiam do queixo até à orelha, mordendo-a um pouco. – Capitão Levi… - Ouviu o outro conter um gemido e parou por alguns instantes para observar uma expressão que não estava habituado a ver. Levi nem o encarava nos olhos, optando por fechar os olhos e tentar conter os suspiros.

Não conseguia explicar o frio na barriga, os arrepios que sentia cada vez que ouvia Eren declarar os seus sentimentos com aquele tom de voz. Não conseguia esconder como aquilo o afetava e por isso, estava pouco a pouco, a perder a coragem de encará-lo.

Desde quando ele tem este tipo de influência sobre mim?”, perguntava-se, “Isto é mau… muito mau… não consigo pensar direito. Não consigo sequer falar…Como é que alguém pode deixar-me assim?

- Ah! – Deixou escapar quando Eren o acariciou ainda sobre o tecido das calças enquanto a língua quente molhava mais um pouco da sua orelha.

Não compreendia como podia estar tão sensível àquele tipo de toque. Seria pelas palavras que tinha escutado? Ou por saber que afinal, os dois tinham nascido novamente para se encontrarem? Talvez, fosse um pouco de ambas, mas deu por si a arquear as costas na cama enquanto deixava escapar outro gemido.

Quanto ao adolescente estava cada vez mais fascinado pelo que estava a conseguir fazer. Levi não estava a oferecer resistência quase nenhuma e ele estava a aproveitar-se disso sem qualquer vergonha e mentiria, se dissesse que não estava a gostar de ver o outro contorcer-se por baixo dele.

Ao repetir mais uma vez que o amava, sentiu claramente as mãos sobre os seus ombros tremerem. Não se importava de não ouvir as mesmas palavras, se pudesse ver o efeito que as dele tinham sobre o professor que estava vulnerável… como nunca o tinha visto antes.

- Quero fazer com que te sintas bem… - Falou Eren e Levi entreabriu os olhos com o rosto ruborizado e uma respiração cada vez mais acelerada ao sentir que as calças eram puxadas, juntamente com os boxers.

- Esp…ah! Espera… - Pediu. – Eren… tu nunca fizeste isto antes…ngh…- Dizia enquanto tentava ignorar a língua que percorria a sua barriga e descia lentamente enquanto as mãos, apertavam com força as suas coxas.

- Prometo que vou com calma e oiço qualquer pedido teu, seja para parar ou para fazer mais e melhor. – Falou Eren completamente tomado pelo desejo e vontade de possuir aquele homem que se remexia e gemeu mais alto ao sentir que o seu membro desaparecia na boca do outro.

- Eren… não… - Tentava falar com dificuldade e apoiando-se nos cotovelos para poder olhar o adolescente. – Eu nunca…

- Eu sei… - Falou, deixando a boca livre por alguns instantes. – Já me disseste que nunca estiveste por baixo, mas prometo que tenho cuidado… - Levou os dedos à sua boca, sem deixar de encarar Levi que se deixou cair novamente sobre o colchão, pensando o quanto estava a perder o controlo da situação.

Susteve a respiração ao sentir um dos dedos molhados demasiado perto, onde nunca tinha deixado que ninguém o tocasse.

Merda, nem eu mesmo alguma vez…”, os pensamentos foram cortados abruptamente pelo som da porta de casa a abrir-se e também Eren congelou por completo.

Numa reação rápida, começou por se levantar rapidamente e pegar nas suas roupas, vestindo-as desajeitadamente.

- Preciso de um banho gelado… - Murmurou.

- Espera, eu tamb… Ah! – Recebeu um golpe nas partes baixas.

- Pronto, isso deve ser o suficiente para te acalmares. Nem pensar que podemos ir dois para a mesma casa de banho por isso, espero que tenha batido com força suficiente para te acalmares. – Acabou de fechar o zíper das calças e saiu rapidamente na direção da casa de banho, deixando Eren curvado sobre a cama a contorcer-se com dores.

Levi suspirou de alívio ao entrar na divisão que mais precisava naquele momento, sem se cruzar com nenhum dos recém-chegados. Fechou a porta à chave e dirigiu-se de imediato ao chuveiro. Com certeza, não se iria golpear a ele próprio para acabar com aquele problema que tinha dentro das calças por isso, iria recorrer ao banho.

Retirou as próprias roupas rapidamente e assim que se pôs debaixo do chuveiro, desistiu de tomar banho com água totalmente gelada. Os dias andavam bastante frios e ainda que não adoecesse com facilidade, não seria bom arriscar. Deixou que a água morna caísse sobre o seu corpo enquanto pensava no que quase tinha acontecido no quarto.

Encostou a testa à parede fria e notou que a água não estava a ter o efeito desejado. Ainda estava bastante agitado pelo que tinha acontecido e por isso, provavelmente precisaria de masturbar-se para solucionar o problema de uma só vez. Assim que levou a mão ao próprio membro, recordou-se do último pensamento que estava a ter.

Não… não posso sequer estar a considerar uma coisa destas. Aquilo foi um momento de fraqueza. Obviamente, que não o ia deixar…”, tentava convencer-se a si mesmo, mas sabia que esteve prestes a deixar Eren possuí-lo e para dizer a verdade, não estava a oferecer qualquer tipo de resistência.

Estava a considerar a ideia. Aliás, a sua imaginação estava excessivamente vívida e mordeu o lábio ao imaginar como seria a sensação. Nunca tinha tido essa curiosidade porque não se imaginava nessa situação com ninguém. Não admitia que ninguém sequer colocasse essa hipótese e no entanto, agora estava a excitado apenas de pensar.

Talvez fosse a tensão sexual de antes, a curiosidade, o tesão que ainda sentia, possivelmente um variedade de fatores que o fizeram experimentar algo que até então, evitava pensar. Desviou a mão do seu membro e deixando que a água continuasse a escorrer e dirigiu lentamente um dos dedos pela sua cintura, até alcançar o que queria. Desceu mais um pouco, tomado por um desejo que não estava a permitir que pensasse com clareza e naquele momento, pouco lhe importava isso.

- Ah… hum… - Mordeu o lábio, tentando que os sons não escapassem pela sua boca, mas não era fácil, sobretudo quando imaginava que não era ele que estava a fazer aquilo e sim, Eren. A sua imaginação estava tão agitada que jurava que podia sentir a respiração do rapaz perto da sua orelha. – Eren…

Outro dedo.

A fantasia cada vez mais real, fazia com que ouvisse não só a respiração descompassada pelo da sua orelha, como também sentisse os dentes cravarem-se sobre o seu ombro. Queria-o ali naquele momento. Queria que fosse real.

Acrescentou outro dedo e abriu a boca num gemido inaudível, imaginado como seria sentir aquele corpo quente contra o dele…dentro dele. Podia ouvir a respiração, juntamente com o seu nome e as palavras que antes o deixaram sem saber o que fazer.

E isso foi o suficiente para que em poucos minutos, finalmente tivesse o alívio que procurava desde que tinha entrado ali.

Conforme se ia acalmando, mais se apercebia do que tinha acabado de fazer e que jamais deveria admitir uma coisa dessas.

 

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

 

- A Catherine está ao telefone com o marido dela, este é o momento pelo qual ansiei durante todo o jantar. – Disse Armin, depois de encostar a porta do quarto e sentar-se na cama onde estava Eren.

- Estás a falar do quê? – Perguntou, desviando olhar.

- Não mintas, Eren. – Pediu o amigo. – Estavas estranho e mesmo o professor Levi praticamente ficou mudo o tempo todo. Sei que ele não é muito conversador, mas até a mãe dele disse que ele parecia muito calado. Aliás, deve ter sido por isso que apesar de ter corrido de manhã, saiu outra vez para correr à noite. – Agarrou as mãos de Eren. – Preciso saber o que aconteceu. Sexo selvagem enquanto estivemos fora, é isso?

- O quê? Não! – Apressou-se a dizer.

- Oh, então? Não acredito que ele tenha ido tomar banho quando chegámos, só porque estavam a conversar inocentemente no quarto. – Comentou Armin e ao ver o rubor no rosto do amigo, olhou-o com um ar acusador. – Eu sabia! A tua cara não mente! Conta tudo!

Eren hesitou por alguns momentos. Sabia que a partir do momento em que decidisse falar, o loiro não pensaria duas vezes em questionar acerca de tudo. Todos os detalhes eram importantes e nada era demasiado gráfico ou sórdido. Tudo era informação valiosa.

Ainda assim, o melhor amigo era o único com quem podia confidenciar aquelas coisas. Jamais tocaria nesse assunto com a irmã e mesmo a Annie não tinha ar de quem queria saber desse tipo de coisas ao pormenor. Ou mesmo superficialmente, ela já parecia contente apenas em saber que estava feliz com outra pessoa.

Sendo assim e porque estava tão feliz por finalmente, ter descoberto a razão por detrás daqueles sonhos que afinal eram lembranças, decidiu contar ao amigo. Não essa parte, pois não queria perder tempo com as explicações racionais do Armin, mas a parte que ainda lhe provocava frio na barriga.

- Eu disse que… estava apaixonado por ele, que o amava. – Falou envergonhado.

Armin sorriu.

- Ah, ainda não lhe tinhas dito. – Concluiu. – Embora, fosse um tanto óbvio, mas nada como ouvir esses sentimentos da boca de quem se gosta. E ele também te disse o mesmo?

- Bem… na verdade, não. – Disse, coçando um pouco a cabeça. – Acho que ia dizer qualquer coisa, mas não parei de repetir o mesmo… é como se depois de finalmente lhe ter dito, não conseguisse parar de repetir. – Confessou.

- Para ele não deve ser fácil dizer essas coisas.

- E achas que para mim é? – Indagou. – Ou se calhar, ele ainda não sent…

- Podes parar por aí. – Interrompeu o amigo. – Qualquer pessoa que o observe de perto vê que ele gosta de ti. Só que põe-te no lugar dele, se o ouvisses declarar-se a ti mais do que uma vez, olhando-te nos olhos como deves ter feito, como te sentirias?

Ao imaginar-se nessa situação, Eren percebeu que provavelmente, agiria de uma forma semelhante. Sem ter coragem de encarar, sem saber ao certo o que fazer ou dizer. Lembrava-se de sentir as mãos um pouco trémulas do professor sobre ele.

- Vendo as coisas por esse lado e também porque estive prestes a… - Parou de falar, pois viu que tinha deslizado sem querer para outro tema e essa pausa não escapou a Armin.

- Prestes a? Oh MEU DEUS! – Falou com as teorias que se estavam a formar na cabeça dele. – Ele deixou-te ficar por cima?

- Ah…não chegou a acontecer nada.

- Oh Eren enviavas-me uma mensagem e eu inventava uma razão qualquer para a Catherine dar mais uma volta no supermercado.

- Claro, faz todo o sentido. – Ironizou. – “Hei Levi espera aqui um minuto enquanto envio uma mensagem ao Armin para podermos ter a casa só para nós”.

- Que desperdício… - Disse Armin pensativo. – Pode ter sido a tua única oportunidade.

 


Notas Finais


Preview:
« (...) Algo que teve que adiar nos últimos dias devido à carga absurda de trabalho que Irvin descarregava sobre ele. Portanto, só agora teria a oportunidade de explorar o conteúdo do pequeno baú que tinha sobre as pernas.
Optou por não fazê-lo perto de casa e por isso, entrou no carro e conduziu até à zona do parque, escolhendo uma zona discreta. Um poste de iluminação incidia a luz diretamente o vidro do condutor e foi aí que estacionou ao fim de alguns minutos de viagem. Retirou então a chave do bolso do casaco e destrancou o pequeno cadeado que saiu sem problemas.
No interior, estavam três (...) »

Entrevista com as personagens, desta vez com...
Bertholdt entrou na sala, vestia um avental azul claro por cima das roupas e parou na frente de Reiner que estava a ver algum jogo na televisão.
- Estás na frente, Berth.
- Não compraste manteiga? - Perguntou o outro. - Pedi-te mais do que uma vez, Reiner.
- Ah... - Reiner coçou a cabeça. - Ups, desculpa, Berth. Esqueci-me completamente.
- Pedes que te faça um bolo e esqueces-te de comprar os ingredientes. - Pousou uma das mãos na cintura e suspirou. - A sobremesa vai ser fruta.
- Também é bom. Amanhã não me esqueço. - Sorriu e estendeu a mão até puxar Berthdolt que praticamente se desequilibrou e acabou sentado sobre as pernas do outro.
- Reiner, a comida está no fogo. - Falou, corando bastante. - Não tenho tempo para...
- Oh, são só cinco minutos. Além disso... lembras-te que hoje é a nossa vez de responder a perguntas?
- Isso significa... - Escondeu o rosto no pescoço de Reiner. - Que vergonha, estão todos a ver-nos.
Reiner riu.
- Agora é tarde para ficares assim. Vá, lembra-te que vão fazer perguntas e temos que responder os dois por isso, não vale se eu responder por ti.
- Ninguém vai querer falar comigo Reiner... - Murmurou ainda com o rosto escondido. - Não tenho nada de interessante para dizer.
O outro abanou a cabeça.
- Vamos esperar para ver.


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