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História Destinos Entrelaçados - Kitten


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


(Continuo sendo chata, mas preciso mesmo de fazer isto em todos os capítulos) Muito obrigada por cada comentário, mensagem e leitor novo que decidiu dar uma oportunidade a esta fic.
Desta vez, também só consegui atualizar uma semana depois, mas para compensar têm mais um capítulo com uma dimensão considerável e momento ErenxLevi. Espero que gostem!

Capítulo 45 - Kitten


Kitten

 

Apesar do frio de inverno, o número de pessoas na rua ainda era considerável e Sarah sabia que mais estavam a chegar, pois a curiosidade chamava um público que observava de forma cada vez mais curiosa, os funcionários do novo café Kitten. As meninas com trajes semelhantes ao que muitos consideravam empregadas francesas, enquanto outros já conheciam indumentárias semelhantes naqueles que praticavam cosplay. E se isso não fosse apelativo o suficiente, com certeza as pequenas orelhas de gato tornavam tudo incrivelmente adorável.

Christa era sem dúvida a que recebia mais atenção e era acompanhada por Eren, uma vez que ficou acordado que nenhum dos funcionários deveria andar sozinho quer fosse ali na rua, ou mesmo no interior do estabelecimento. A regra era que a “maid” fosse sempre acompanhada pelo que em inglês se designaria de “butler”. Servia assim, como uma medida de segurança para todo aquele que mostrasse algum comportamento desviante.

Os pares foram decididos num pequeno sorteio e se a maioria não se queixava, Carolina preferia ter ficado com o moreno que sorria ao lado de Christa. Os dois tinham acabado de convencer mais algumas pessoas a visitarem o café que abriria na hora do almoço.

- Pode ser na próxima vez tenhas mais sorte, Carolina. – Comentou Armin, acenando a uma senhora que segurava a mão da filha que apontava para ele, mais precisamente para as pequenas orelhas de gato que levava.

- Desculpa, Armin, mas é que…

- Eu sei. Querias o Eren. – Concluiu. – Mas sou assim tão má companhia?

- Claro que não! – Disse rapidamente e o loiro riu. – Olha, mais alguém a acenar para ti. És bastante popular. Há pouco disseram que tens um ar angelical.

- Acho que passo essa ideia com muita regularidade. – Comentou.

- O Eren disse qualquer coisa sobre nós não te conhecermos.

- O Eren é um bocadinho exagerado. – Sorriu na direção de um grupinho que se aproximava com curiosidade.

Entretanto, o rapaz de olhos verdes tentava seguir à risca os conselhos de Sarah que os observava da pequena carrinha que os tinha levado até à praça central da cidade. Não era difícil seguir o que lhe tinham dito. Estava a divertir-se bastante com os comentários e explicações que davam aos curiosos com quem chegou a tirar algumas fotos. Ser amável e acima de tudo sorrir era das coisas mais naturais naquele dia em que apesar da noite mal dormida, o dia começava a mostrar sinais de melhoria. Estava entusiasmado com o trabalho e por ver que os receios de que não quisessem aproximar-se dele, tinham muito pouco ou nenhum fundamento. Aliás, chegou a encontrar alguns dos pais dos miúdos que tinham ido à escola dias antes. Ao reconhecerem-no, vieram logo conversar com ele e Christa. Era bom ver como não seguravam nas crianças com ele perto ou lhe dirigiam olhares que procuravam rebaixá-lo. Pelo contrário, após alguma desconfiança inicial, seguiam-se sorrisos e elogios ao jeito que mostrava ter com as pessoas, principalmente com crianças.

- Os miúdos estão fascinados connosco. – Brincou Eren.

- A Mikasa tem razão. Tens imenso jeito.

- Acho que é o hábito. – Disse, acenando a um grupo de raparigas que não deviam ser muito mais novas do que eles e que soltaram gritinhos ao ver a atenção que lhes dirigiu por momentos.

- A Mikasa chegou a dizer que no orfanato sempre que chegavam crianças novas eras a pessoa que mais os defendia e olhava por eles.

Eren encolheu os ombros.

- Só fazia aquilo que qualquer pessoa no meu lugar faria. – Respondeu.

- Às vezes, acho que não sabes como és alguém especial. – Comentou Christa e o amigo olhou para ela curioso e depois, sorriu e disse:

- Hoje a menina especial do dia és tu.

Ela riu.

- Já me deste os parabéns várias vezes hoje.

- Mais vezes do que a Ymir? Não acredito. – Disse divertido.

Christa corou ligeiramente.

- Por falar nisso, Eren… posso perguntar-te uma coisa?

- Claro. – Confirmou o amigo. - O que é?

- Hum… quando a Ymir diz que gosta de mim, ela não se refere só a…

- Acho que é um bocado óbvio. – Disse Eren sem perceber o porquê da pergunta. – Tens alguma dúvida sobre o que ela quer dizer cada vez que diz que gosta de ti?

- Então, é verdade. – Agarrou o braço do amigo. – O que é que eu faço?

- Eu pensava que já havia oficialmente alguma coisa entre as duas. – Falou francamente surpreso.

- Não… quer dizer, eu acho que não.

- Se calhar, deviam falar disto abertamente e nada de preocupações. – Ajeitou as pequenas orelhas de gato na cabeça de Christa. – É mútuo e isso qualquer um que olhe para as duas é capaz de adivinhar. Até mesmo eu que sou uma cabeça no ar.

Christa riu.

- Nisso tens razão. És mesmo muito distraído. Tanto que nunca reparaste que a… hum, alguém gosta muito de ti.

- Acho que há algum tempo andam todos com uns comentários nesse sentido e ou é tudo piada, ou não entendo como alguém pode andar interessado em mim sem eu saber.

Christa abanou a cabeça.

- Ai Eren o que vamos fazer contigo?

- Isso pergunto eu, Miss Christa que precisa falar comigo para concluir aquilo que meio mundo sabe. – Provocou e o riso de ambos, foi interrompido com um grupo de rapazes que passou mesmo atrás de Christa que afastou-se bruscamente e Eren só podia concluir uma coisa.

- Não nos dás o teu número, gatinha? – Perguntou um deles.

Eren puxou Christa para que ficasse atrás dele.

- Encosta um dedo nela e faço-te engolir cada um dos teus dentes. Desanda!

Ainda recebeu uns olhares provocadores, mas o grupinho continuou a andar e acabou por desaparecer.

- Obrigada, Eren.

Ele ofereceu-lhe o braço, dizendo:

- Não tens que agradecer e que tal mudarmos de lugar, Fräulein(senhorita)?

A loira riu e aceitou o braço do amigo.

- A Sarah tem toda a razão. O alemão falado por ti soa muito bem.

- Danke (obrigado). – Agradeceu. – Fräulein já nem se usa muito, mas a Sarah diz que tem um ar sofisticado e que a ala feminina gosta tanto disso, como ser chamada de mademoiselle.

A dona do café Kitten, Sarah, assim que soube da fluência no alemão de Eren pediu que lhe ensinasse algumas palavras e deu-lhe autorização para que usasse algumas palavras durante o trabalho. Ficou acordado que ele e Armin seriam os funcionários encarregues de falar essa língua em algumas ocasiões. Pretendiam dar um ar sofisticado e multicultural através do uso de línguas diferentes no interior do café. Quanto a Connie tentaria não atrapalhar-se com a história dos idiomas.

Eren viu uma rapariga distraída no teu telemóvel. Usava uns óculos escuros e os cabelos negros estavam parcialmente escondidos por baixo do gorro. Como não viu qualquer panfleto nas mãos dela, deixou Christa a conversar com um casal que tinha três filhos e aproximou-se do banco, onde se encontrava mais uma cliente potencial.

- Bom dia. – Cumprimentou e chamou a atenção da rapariga que não notou que o encarou atónita, pois os óculos disfarçavam esse sentimento por detrás das lentes escuras. – Gostaria de convidá-la a visitar-nos no café Kitten. Seria uma honra recebê-la, Fräulein. – Estendeu o panfleto que a rapariga aceitou e conseguiu murmurar um obrigado.

Eren sorriu mais uma vez e voltou para perto de Christa, não vendo o ar ainda completamente abismado da rapariga que rapidamente, deslizou o dedo indicador sobre o ecrã do telemóvel e iniciou uma chamada.

- Mãe?

- Onde estás, Lya?

- Não vais acreditar quem acaba de falar comigo.

- Reconheceram-te?

- Não, mas finalmente encontrei o cantorzinho de rua. Eu disse-te que tinha reconhecido o professor daquela notícia em que se diz que salvou uma miudinha qualquer. Se ele estava neste fim do mundo, então o teu cantorzito de rua também teria que estar. – Respondeu, continuando a observar Eren de longe. – O meu palpite está certo e acabei de descobrir onde trabalha.

- Diz-me onde estás.

- Mãe tens a certeza disto? Tudo bem que até é bonitinho e tem uma voz engraçada, mas vamos mesmo tirá-lo deste buraco? Não acho que ele vá saber lidar com o que pretendes dele.

- Sei o que vi, Lya. Preciso que ele aceite a minha proposta, antes que alguém também veja o mesmo que eu.

- Humpf, o professor mesmo tendo uma profissão nada interessante e ambiciosa, era bem mais interessante.

- Lya…

- É a verdade, mãe. – Disse e explicou onde se encontrava, sem desviar o olhar de Eren e dos amigos que estavam por perto.

É uma pena. O professor não está aqui, mas tenho a certeza que vou vê-lo se continuar a vigiá-lo de perto. A minha mãe já devia saber que não me interesso muito por miúdos da minha idade, prefiro que sejam mais experientes e aquele professor… era no mínimo interessante”.

 

*_*_*_*_*_*

 

Beijou os cabelos loiros totalmente desorganizados e tirou alguns da pele branca que era tocada por alguns tímidos raios de sol naquela manhã. Os olhos azuis continuavam escondidos por detrás de umas pálpebras que teimavam em permanecer fechadas. Por entre os lábios semiabertos, deixou em evidência mais um pedido para dormir mais.

- Annie já estamos nisto há vinte minutos. Vamos chegar atrasadas à inauguração. – Avisou a voz pouco firme, mas tranquila daquela que percorria com os dedos os fios loiros. – Estás quase a chegar ao nível do Eren.

Um pequeno riso escapou entre as duas.

- Que horas são? – Perguntou ainda de olhos fechados.

- Dez e trinta e cinco. – Respondeu, depois de olhar mais uma vez para o relógio sobre a mesinha de cabeceira, ao lado da cama que as duas partilhavam naquela manhã.

- Há imenso tempo ainda…

- Ainda temos que ir para debaixo do chuveiro, vestir algo decente, comer qualquer coisa rápida. – Relembrou e encostou o nariz ao rosto de Annie que por fim, abriu os olhos e estendeu a mão até tocar no rosto que tinha bem próximo.

- Bom dia… - Murmurou, recebendo um beijo rápido. – Mikasa dormiste melhor esta noite?

- Tendo em conta que chegámos a casa perto das seis da manhã, não sei se posso chamar as três horas de sono de uma noite decente. – Brincou com a situação.  

- Três?

- Lembra-te que não dormimos logo. – Falou com um meio sorriso. – Mas sim, dormi melhor aqui. – Suspirou. – Ultimamente, tenho andado com muita coisa na cabeça. – Sentou-se na cama. – Primeiro tudo o que fiquei a saber sobre o Jean, o Eren… e claro, saber que a qualquer momento o Armin pode descobrir o que se passa.

Annie espreguiçou-se antes de sentar-se ao lado da rapariga de cabelos negros, deitando a cabeça sobre o ombro desta.

- Não podes deixar que essas coisas te tirem o sono.

- Não consigo evitar… preocupa-me o que pode acontecer com o Eren e o Armin… se ele descobre que estamos a esconder-lhe uma coisa destas. Ele não merece passar por isto. Logo agora que nunca o tinha visto tão seguro de si mesmo. – Fez um ar pensativo. – Sempre o admirei muito porque em qualquer situação, sempre soube manter a calma e tomar a decisão mais acertada. Se tivesse algum problema, alguma decisão importante em mãos, sabia que ele saberia aconselhar-me como ninguém. Sempre confiei muito nele a esse ponto e penso que só recentemente, começou a ver as qualidades que tanto eu, como o Eren sempre realçámos nele. – Sorriu com alguma tristeza. – Sempre pensou que era um fardo porque eu e o meu irmão sempre o defendemos bastante daqueles que o queriam ridicularizar por ser inteligente. Nunca quis admitir que desde que começou a sair com o Jean, começou a tornar-se mais confiante e a reconhecer que tanto eu como o Eren tínhamos razão. Havia muito mais nele para descobrir e que devia deixar outras pessoas verem que é alguém que muitos queriam ao seu lado. – Seguiu-se uma pequena pausa. – Tenho medo do que possa acontecer quando souber a verdade. Tenho medo da reação dele… medo que odeie o Eren, medo que me odeie a mim, a ti… medo que pense que não merece alguém que o ame de verdade. Tenho medo, Annie.

- Ele adora-te e ao Eren também. Nunca irá conseguir odiar-vos em circunstância alguma. – Beijou o rosto de Mikasa. – E quanto a mim, não e como se não estivesse habituada a ter opiniões negativas a meu respeito.

- O Armin também gosta de ti, Annie. Sabes muito bem disso. – Afirmou. - Espero que o meu irmão tenha razão em esperar alguma coisa do Jean… - Bufou. – Nunca entendi, como podem insultar-se tanto e sei, mesmo que não me digas exatamente o que foi que ele disse que magoou o Eren. Seja com palavras ou que for, só por isso, eu deveria espancá-lo durante dias.

- Por muito que eu gostasse de ver uma coisa dessas, vamos respeitar a vontade do Eren por agora. – Disse Annie, saindo da cama. – Acompanhas-me?

- Annie… precisamos de um banho rápido.

- E então? Só quero que me dês uma mãozinha. – Piscou o olho e saiu do quarto, deixando para trás um sorriso divertido de Mikasa que se levantou da cama e seguiu a loira para o duche.

 

*_*_*_*_*

 

- Queres que te empreste uns óculos escuros? Tenho algum algures dentro da minha mala. – Ofereceu Hanji enquanto parava num sinal vermelho e tentava mais uma vez, ligar o rádio e Levi bateu-lhe na mão.

- Qual é a parte que não suporto ruído que não entendeste?

- Nem claridade. Pareces um vampiro. – Brincou a amiga.

- Estou com a puta de uma ressaca do caralho e tu achas que este é o momento para fazer piadas? – Encostou a cabeça ao banco.

- Vais já ficar animado assim que chegares ao café e vires o teu Eren a sensualizar.

Levi fechou os olhos e optou por não responder ao comentário da amiga que conduzia o carro dele. Ponderou seriamente se iria ou não sair de casa. Tinha dezenas de testes para corrigir, alguns planos de aula para rever e claro, a ressaca que mesmo com chás não afastava uma dor de cabeça e sensibilidade à claridade que sabia que só passariam com o tempo e de preferência com algumas horas de sono decente.

Não obstante, a necessidade de ficar em casa ou as obrigações para com as tarefas escolares, não superaram a vontade de ver Eren. Pese embora o embaraço da noite anterior, iria desvalorizar isso em prol de poder ver o rapaz com os trajes que Hanji descreveu dezenas de vezes durante a manhã. E querendo ou não, a parte que mais lhe interessava ver eram as ditas e famosas orelhas de gato que os funcionários eram obrigados a levar, tendo me conta, o nome do café – Kitten.

Quando chegaram ao local, Levi teve a certeza que antes de ver a única razão para ter saído de casa, iria pensar seriamente em assassinar várias pessoas.

O café alcançava o sucesso pretendido. Quiçá, até mais do que previam visto que a quantidade de pessoas dentro e à espera de entrar era invulgar. Muitos motivos pela curiosidade ou novidade, pois não existia outro sítio com aquelas características e para conter as fotografias, estas apenas poderiam ser tiradas no exterior e não no interior para salvaguardar, o direito à privacidade dos trabalhadores. Ainda assim, muitos fotografavam a entrada do café para poderem mostrar nas redes sociais que estavam presentes na inauguração da cidade.

O local espaçoso, luminoso e com uma decoração baseada em cores claras, mas suaves, tinha a sua maior atração nos empregados de mesa que os recebiam e distribuíam pela mesa.

- Por favor, acompanhe-me, mademoisella. – Brincou Connie ao ver Hanji entrar, acompanhada por Levi que acabava de pronunciar a sua vigésima ameaça de morte a mais uma adolescente que gritava ao ver, alguém que reconheceu como sendo Armin que sorria e tentava acalmar os ânimos do público feminino.

- Mademoiselle. – Corrigiu Levi. – Já dás facadas suficientes no português, Connie, não precisas de trucidar o francês também.

- Eu queria ter ficado com o inglês, mas o Armin disse que preferia o inglês ao francês e eu perdi uma aposta com ele. – Disse o rapaz, revirando os olhos. – Sigam-me. Vou levar-vos para a mesa onde já está o resto do pessoal, mademoiselleee e Monsier Levi.

- O teu sotaque é péssimo, Connie. Estás a dar-me cancro só de ouvir. – Comentou Levi.

Connie revirou os olhos e conduziu-os a um conjunto de mesas, onde já estavam sentadas Annie, Mikasa e Ymir que receberam os professores com alguma surpresa. Esperavam ver Levi, mas não que viesse acompanhado. Se bem que as três entendiam o porquê, ainda que toda aquela história da discrição não estivesse a apresentar grandes resultados no geral.

- O Eren? – Perguntou a mulher de óculos.

- Ali. – Apontou Ymir na direção de uma mesa, onde o rapaz de olhos verdes acabava de pousar alguns pratos com refeições que eram sobretudo, saudáveis. Ainda que a ementa disponibilizada mostrasse que as sobremesas eram a verdadeira perdição daquele local.

- Eren. – Chamou Mikasa.

Os olhos verdes viraram-se de imediato para a mesa e sorriu ao ver quem tinha acabado de chegar. Passou por entre as mesas e aclarando a garganta, disse:

- Willkommen! (Bem-vindos) Guten Tag, Fräulein Zoe und... (Boa tarde, senhorita Zoe e…) – Abaixou-se para poder falar mais discretamente. – Mein Bärchen.

O professor deixou escapar uma expressão confusa e esperou pela tradução da última parte da frase, uma vez que o resto era bastante óbvio sem qualquer explicação.

O sorriso animado no rosto do adolescente desvaneceu diante do olhar acusador de Ymir que disse:

- Nem tentes mentir, Eren. O facto de teres esquecido que estava aqui para presenciar este pequeno momento, apenas confirmou o que já suspeitava.

- Scheisse (merda). – Murmurou o rapaz. – Ymir…

- Calma, não vou dizer nada a ninguém. A minha boca é um túmulo, mas sugiro que disfarcem melhor porque todas as trocas de olhares tornam tudo muito óbvio para quem vos observe por mais de cinco minutos.

- Eu sei, mas não é fácil. – Respondeu com um sotaque que não escapou a ninguém.

- Estás a falar português com sotaque alemão? – Arriscou Levi.

- Ya (sim). – Conformou Eren. – Foi um pedido da Sarah. Sei que há vogais que devo pronunciar mais fechadas ou letras em que devo carregar. Acho que ela quer que passe mesmo por alemão. Não sei ao certo porquê, mas há mais gente do que pensava que gosta do sotaque alemão.

- Não que seja especialista no assunto, mas soas-me bastante fluente apesar de não usares essa língua com frequência. – Comentou Hanji.

- A professora Helga ajudou-me muito a não esquecer. – Falou e então, ouviu Christa chamar por ele para que fosse ajudá-la. – Falamos depois. Quando decidirem o que vão comer, podem chamar.

- Professora Helga? – Repetiu Hanji curiosa, trocando um olhar curioso com o amigo e logo pegou no telemóvel para aceder à internet.

- Hum, é bom que o meu irmão consiga dizer o nome dessa professora sem problemas. A Sra. Helga morreu há quanto tempo, Annie? Quase um ano, certo?

- Hum, hum. – Assentiu a loira.

- Pouco depois de termos ido viver com o Sr. Arlert, o nosso avô, - Acrescentou com um sorriso triste. – Houve um trabalho qualquer que tivemos na escola em que precisávamos de consultar uns livros em específico que não existiam na biblioteca municipal daqui, o que significa que a opção passou por ter ir a Sina. Como também era um sítio público, pensámos que não haveria problema algum em ir lá consultar alguns livros, mas em Sina respira-se e transpira-se dinheiro e arrogância. Nem sequer nos queriam deixar passar da porta da biblioteca, mas ignorámos os comentários maldosos e num desses dias, o meu irmão descobriu uma sala na biblioteca que poderíamos utilizar sem problemas durante um período específico de tempo. Na primeira vez que vimos o papel da porta, tanto eu como o Armin não fazíamos ideia do que dizia lá, mas o Eren explicou que estava escrito em alemão que ali era uma sala de explicações de alemão e o horário indicava quando a sala estaria ocupada, ou seja, se evitássemos esse período, poderíamos estar ali longe dos olhares indiscretos. Numa dessas vezes, fomos apanhados pela professora Helga que em vez de se aborrecer connosco, perguntou como sabíamos a que horas a sala esta disponível. Penso que ela suspeitou que algum de nós tinha algum conhecimento de alemão. Quando descobriu que era o Eren e começou a falar com ele, ficou fascinada pelo sotaque, na opinião dela, impecável apesar de ter alguns pequenos erros na formulação de frases mais complexas por falta de contacto com a língua.

- Ela reconheceu a zona do sotaque dele? – Perguntou Hanji, interrompendo por momentos o relato de Mikasa.

A pergunta poderia aparentar inocente, mas na verdade, ela queria ter mais pistas sobre a zona de onde a família Jaeger era originária.

- Penso que ela falou em Hamburgo ou mesmo, Berlim. Segundo sei, a professora Helga nos seus tempos de estudante morou numa dessas cidades. – Falou Mikasa pensativa. – Ela deixava-nos usar a sala dela de explicações nas horas livres e ficou tão impressionada com a facilidade do meu irmão para falar uma língua daquelas que se ofereceu para ajudá-lo a falar melhor e aprender a escrever, já que embora falasse razoavelmente bem, a parte da escrita causava-lhe muitas dúvidas. O meu irmão gostava muito das aulas com ela, só que a professora Helga adoeceu e acabou por morrer há cerca de um ano. – Baixou um pouco o tom de voz. – Ele visitou-a todos os dias, desde do internamento e chegou a dizer que se ainda existisse alguma coisa justa no mundo, ela não iria morrer. – Respirou fundo. – Não gosto sequer de lembrar como foi o dia em que morreu… não só por causa da morte em si, mas porque a família dela tratou o meu irmão como se fosse uma doença contagiosa que não queriam por perto e nem sequer o deixaram ir ao enterro. A professora Helga morreu com cancro e aqueles filhos da puta disseram que não teria tido uma doença dessas se não se tivesse envolvido com a escória da sociedade, ou seja, o meu irmão…ou mesmo eu e o Armin. É assim que somos classificados por não ter os bolsos cheios de dinheiro…

- Por isso é que sou alérgica àquela parte da cidade. – Comentou Ymir, revirando os olhos. – Se mordessem a própria língua, morreriam envenenados.

O silêncio reinou nas mesas onde estavam sentados enquanto viam a ementa que Connie tinha deixado com eles antes. Levi ainda refletia sobre o que tinha escutado. Só podia imaginar o quanto Eren sofria com aquela onda de azar que por vezes, chegava à vida dele. Como se cada pessoa que alguma vez mostrasse ter algum carinho por ele acabasse por ser retirada da vida dele com traços de crueldade, acima de tudo se tivesse em conta, não só essa professora de alemão, como também o Sr. Arlert.

Já para não falar dos pais dele… eventualmente, terei que falar-lhe disso. Nem sei ao certo por onde começar e tenho a certeza que não vai ser uma conversa fácil. Cada vez que tendo fazer alguma pergunta sobre se tem curiosidade sobre o passado dele, as respostas não são só evasivas, mas são principalmente azedas”, olhou para Hanji que parecia estar a escrever uma palavra várias vezes de forma diferente. Esta chamou Eren que veio apenas por alguns momentos recolher os pedidos das refeições e sussurrou algo ao ouvido da professora que sorriu e logo voltou a escrever no telemóvel.

- Encontrei! – Exclamou.

- Do que estava à procura, professora Hanji? – Perguntou Mikasa curiosa.

- Do significado de ‘Bärchen’. Pensei que se escrevia com ‘e’ e não com é ‘a’ e aquela coisinha em cima. Pedi ao Eren que soletrasse e pus num tradutor automático. – Sorriu para o amigo.

- E então? O que é que significa? -           Quis saber, cruzando os braços, certo de que não gostaria do significado.

- Gostas de peluches, Levi? – Perguntou Hanji.

- Estás a falar de ursos e coisas do género?

- Sim, mas no teu caso seria um ursinho. Uso o diminutivo para ter em conta… - Levi despejou o copo de água na cara da amiga que riu.

O professor remeteu-se ao silêncio e questionou-se mais uma vez a razão para ter saído de casa.

Ah sim, o Eren. Eu queria vê-lo”, recordou-se, “E embora, vê-lo com estas roupas e posturas elegantes seja um momento que queria presenciar, esta dor de cabeça e dor no estômago, aliado ao histerismo geral não está a ajudar a apreciar o momento”.

Após a refeição que não conseguiu degustar como queria, pois o apetite não estava nos seus melhores dias, veio um momento que somente Annie parecia ter conhecimento de que iria acontecer. Repentinamente, a dona do café Kitten surgiu com um microfone, anunciando a todos os presentes que teriam uma pequena apresentação dos funcionários como um agradecimento pela presença de todos na inauguração.

Nesse momento, as luzes do local apagaram-se na sua grande maioria, iniciando um instrumental conhecido pela maioria e duas vozes masculinas ecoaram pelo espaço.

Tarzan and Jane were swingin' on a vine
(Candyman, candyman)

 

Nos dois extremos do café, encontrava-se Connie e Armin à medida que numa zona mais central aproximavam-se Carolina, Christa e Sasha com Eren um pouco mais atrás delas. As vozes desses quatro silenciaram quando em coro começaram:

I met him out for dinner on a Friday night
He really got me working up an apetite

 

No entanto, ainda que as três raparigas mantivessem o tom de voz sempre regular numa coreografia cuidadosamente ensaiada para realçar o que tinham de mais atraente, sem perder o charme, a verdade é que a voz mais forte estava atrás delas e ocupava-se das notas mais altas.

A certa altura, os seis juntaram-se no centro com Eren a segurar na mão de Christa e proporcionar alguns passos de dança que causaram alguns pedidos para estar no lugar da loira. Embora, a reduzida, mas ainda presente ala masculina preferisse matar para estar no lugar do moreno. À semelhança dos seus amigos, Eren tentava assegurar-se que no meio da atuação, ninguém se entusiasmasse demasiado e quisesse tocar em algumas das amigas que em certas partes da música, percorriam espaços por entre as mesas.

 

(Sweet, sugar, candyman)
He's a one-stop, gotcha hot, 
makin all the panties drop(…)

 

No momento em que cantavam essa parte, aproximaram-se de várias mesas sussurrando de forma sugestiva aquelas partes da canção. Numa dessas vezes, passando mesmo atrás de onde Levi se encontrava sentado e fingindo falar na direção de Hanji, Eren sussurrou a última parte desse refrão, antes de se afastar com um sorriso travesso. A professora estava literalmente extasiada e Levi ainda não acreditava no que estava a presenciar e quando viu os amigos do moreno reunirem-se à sua volta, formando um círculo sem deter a coreografia ou a música, entendeu que ainda viria mais qualquer coisa que o ia surpreender.

E se dúvidas houvessem de que Eren podia tocar em notas bem altas, o momento que se seguiu mostrou que o controlo que tinha sobre a própria voz, faria com que muitos cantores atuais tivessem vontade de esconder-se em algum canto.

- De verdade que queres dar uma oportunidade destas a um cantorzito destes? – Perguntou Lya, observando discretamente o verdadeiro interesse que a levou até àquele café. – Alguém que canta Christina Aguilera. Ela não faz mais do que berrar.

- É preciso ter um ótimo controlo de voz para elevar a voz daquela forma sem dificuldade, sem exceder-se, sem estragar toda a performance. Não devia desperdiçar o talento dele num lugar destes.

- Vou confiar nos teus palpites, mas ainda não estou convencida. – Respondeu.

 

*_*_*_*_*_*

 

- É a primeira vez que o vê a cantar em modo diva? – Perguntou Ymir divertida com a expressão estupefacta do professor.

- Já o ouvi cantar outras vezes, mas aquelas notas eram bem altas e tendo em conta o ruído, teve que o fazer na proporção certa para não se tornar irritante.

- É por estas e por outras que o adoro. – Falou Annie. – Uma noite destas vamos deixá-lo encarar algumas divas do anos 90 e aí vai poder ver o que ele pode fazer com aquela voz. Entretanto, mostro-lhe uma coisa bem interessante, professor. – Pôs o telemóvel à frente do homem de cabelos negros e entregou-lhe os fones, indicando-lhe vários vídeos que tinham datas do ano anterior.

Entreteve-se algum tempo a ver alguns vídeos de atuações e ver que a voz do adolescente moldava-se perfeitamente a qualquer música. Mesmo aquelas que não eram nada de especial e que na sua opinião, nem deveriam ser chamadas de músicas assumiam uma sonoridade diferente na voz dele. Sem querer tirar crédito alguma ao talento evidente de Eren, questionava-se também se não andava a cada dia que passava a ver mais razões para estar apaixonado por ele. Como se a cada dia, descobrisse uma nova razão para estar tão envolvido por ele.

Concluindo que estava a ter pensamentos melosos demais para quem já estava sóbrio há algumas horas, agradeceu a Annie pela intenção, mas devolveu o telemóvel e os fones depois de ver cerca de três vídeos. Além disso, a dor de cabeça era persistente e a indisposição não estava a melhorar. Portanto, trocou algumas palavras com Hanji, perguntando se iria ficar ali ou queria boleia para casa porque não iria ficar ali até á hora encerramento do estabelecimento. Como era o primeiro dia e também uma data especial pelo aniversário de Christa, as portas iriam fechar aos seis da tarde.

Depois disso, o único dia em que o café estaria fechado seria ao domingo. Todos os funcionários trabalhariam em regime part-time, o que significaria que aquele primeiro dia podia ter sido a única exceção em que estavam todos juntos. Os turnos variariam com outras pessoas que optaram por não estar presentes no dia da abertura porque preferiam trabalhar durante a semana.

Antes de deixar o café, Levi pediu um favor a Annie e Mikasa que escutaram com atenção ao pedido. As duas já tinham planos para cumprir o que ele queria, mas ficaram agradavelmente surpreendidas por ouvir palavras que apesar de tentarem aparentar alguma indiferença, mostravam uma preocupação sincera da parte dele.

Prometeram que manteriam Eren debaixo de olho e o professor deixou o café, acompanhado pela amiga que ainda se ofereceu em acompanhá-lo até casa, mas este disse-lhe que não era preciso, pois iria tomar qualquer coisa para as dores de cabeça e deitar-se. Os efeitos pesados da ressaca ainda o atormentavam e sabia que só depois de um bom comprimido e algumas horas de sono poderia sentir-se melhor.

Já em casa notou que por alguma razão tinha o seu telemóvel em silêncio e por isso, não viu as duas chamadas não atendidas. Uma com um número que lhe era familiar e o outro totalmente desconhecido. Começou por observar mais atentamente o número que lhe trazia algum tipo de recordação. Entrou no quarto e procurou dentro de uma das gavetas da secretária, o caderno com os dados que até então tinha conseguido da família Jaeger. O número era aquele que suspeitava e isso deixou-o um tanto perplexo.

Esperava que tivesse que ser ele a ligar ou ir diretamente até Sina para pedir desculpa pela crueldade das palavras. Porém, sem esse pedido de desculpa, Rute procurava-o.

Resolveu ignorar o outro número desconhecido e retornar a chamada à senhora que ainda guardava muitas peças do puzzle que contava a história por detrás de um passado que podia ter sido muito diferente, se as pessoas certas tivessem interferido em momentos oportunos.

O passado não podia ser alterado, mas Levi sabia que por mais doloroso que fosse, Eren devia saber a verdade.

 

*_*_*_*_*_*

 

- Eren?

- Bitte? (O quê?) – Ao ver o ar interrogativo de Sasha, coçou a cabeça. – Desculpa, ainda não desliguei o alemão. – Brincou e acabou de arrumar as cadeiras à volta da mesa.

- Há uma senhora que quer falar contigo. Está lá fora e disse que te conhecia.

- Disse o nome? – Perguntou o rapaz confuso.

- Disse o teu e qualquer coisa sobre estância na neve. – Falou Sasha igualmente confundida.

Estância na neve?”, repetiu e logo se arrepiou. Será que alguém o teria visto com Levi? Não qualquer pessoa, mas alguém que os pudesse prejudicar. Questionando-se sobre o que realmente essa desconhecida queria, pediu a Sasha que guardasse silêncio acerca da pessoa que o esperava no exterior e saiu discretamente, longe dos olhares dos amigos que ajudavam a limpar a zona da cozinha, onde Marco tinha estado todo o tempo, acompanhado pela mãe.

Saiu por uma das portas laterais e não demorou a encontrar uma mulher com um longo casaco castanho, cabelos escuros bem curtos, olhos igualmente escuros e uma maquiagem discreta. Sorriu ao ver o adolescente e estendeu a mão que este não se preocupou em aceitar. Não estava ali para ser bem-educado e sim para perceber o que aquela desconhecida pretendia. Não lhe agradava a ideia de que alguém tivesse referido a estadia dele na estância de neve, onde deveria ter estado seguro de olhos indiscretos.

Apesar da falta de cordialidade, o sorriso manteve-se no rosto da mulher que exibia uns saltos altos, poucas joias e uma aparência excessivamente cuidada para pertencer àquela zona de cidade. Não se lembrava de a ter atendido no café, mas o rosto não lhe era totalmente estranho, pois provavelmente teria passado diante da mesa dela algumas vezes, mas só agora via como aquela mulher estava deslocada de um local como aquele.

- Pode dizer-me de onde me conhece e como sabe o meu nome? – Perguntou sem rodeios.

- Ouvi o nome pelos teus amigos quando estavam de manhã a distribuir os panfletos deste café.

- E posso saber porque é que o meu nome é da sua conta? – Indagou, cruzando os braços, cada vez menos satisfeito com o rumo da conversa. – Tenho a certeza absoluta de que não nos conhecemos por isso, não vejo razão para que ande, aparentemente, a vigiar-me de longe.

- Desde do dia que te vi perto da estância da neve não deixei de pensar…

- Oiça, pode parar por aí. – Já tinha ouvido outras conversas começarem exatamente daquela forma. A isso usualmente seguia-se alguma proposta indecente. – Não estou interessado.

A perplexidade cobriu o rosto da mulher. Seguiu-se alguma confusão e por fim, suspeitou que as suas palavras estivessem de facto a serem distorcidas para um sentido que não pretendia. Com receio de que as suspeitas tivessem algum fundamento, tirou um pequeno cartão do bolso e estendeu na direção do rapaz de olhos verdes que num primeiro momento, ponderou em dizer que não queria nada, mas a imagem era familiar. Pegou no pequeno cartão, vendo o logótipo da agência “Utopia”. Reconhecia aquela agência porque Annie tinha contado que fazia bastante sucesso no exterior, apesar de ter a sua sede na cidade em que estavam.

Qualquer um promovido por essa agência quer fosse apenas para modelo ou cantor, ou até mesmo a combinação de ambos alcançava sucesso além-fronteiras. O marketing e todo o trabalho que colocavam naqueles que acreditavam possuir o que procuravam, resultavam em elevadas taxas de sucesso.

Annie mostrou-lhe sobretudo modelos, mas ultimamente, a música passou a assumir um papel cada vez mais relevante. A isso devia-se à última estrela com concertos marcados nos quatro cantos do mundo. Outra característica era a forma como tratavam os artistas. Ao mínimo escândalo, a agência retirava-se de cena e como tal, controlavam muitos aspetos dos que trabalhavam lá. O que podia soar extremamente controlador acabava por traduzir-se em efeitos práticos bem úteis. A vida privada mantinha-se e os artistas levavam uma vida relativamente normal em público, pois os rumores diziam que podiam cruzar-se a qualquer momento com um deles e não fazer ideia. A aparência em locais públicos, segundo os rumores, mudava bastante.

- A senhora trabalha nesta agência? – Inquiriu desconfiado.

- Para dizer a verdade, sou eu quem avalio aqueles que quero dentro da Utopia. – Respondeu. – Utopia entrou no mercado há menos de três anos. Uma aposta arriscada da minha parte, mas que tem tido o retorno que sempre ambicionei. Para tal, avaliei durante vários anos, aquilo que o público procura e precisa. Avaliei as pessoas que têm dentro delas não só o talento, mas estofo suficiente para lidar com o sucesso que eu lhes posso dar. Podem argumentar que só tenho cerca de meia dúzia de estrelas na minha agência, mas essas já fizeram mais do que centenas de agências espalhadas por este mundo fora.

- O que é que…?

- Não é óbvio, Eren? – Perguntou. – Vi talento. Vi presença em palco. Vi domínio de voz tão natural, quanto respirar. Vi em ti aquilo que procuro naqueles que trabalham ao meu lado. Quero fazer-te uma proposta. Quero que trabalhes ao meu lado e em troca, faço o teu nome ressoar nos quatro cantos do planeta. Faço o mundo conhecer o artista que em ti já é algo tão natural. Quero que todos vejam o mesmo que vi.

Espantado. Perplexo. Abismado. Assombrado.

Soava-lhe completamente surreal. De verdade que estava a ouvir aquelas palavras de alguém que estava na frente de uma agência em tão pouco tempo ultrapassou outras que se afundavam num mercado tão incerto como aquele? Procurava algum traço de que aquilo fosse alguma piada ou que aparecesse alguma câmera a anunciar que se tratava de uma partida para algum programa estúpido de televisão.

Nada. Silêncio.

Olhou mais uma vez para o cartão nas mãos e mais uma vez para a mulher na frente dele que sorria com confiança e sem demonstrar qualquer hesitação sobre o que lhe tinha dito.

Aquela era uma oportunidade de ouro. Aquela que não julgou que alguma vez conseguisse. Já tinha decidido ir para uma Conservatória de Música aprimorar as suas capacidades como músico uma vez que aprendeu aquilo por conta própria e mais tarde, foi ajudado por Annie e os seus colegas de banda.

A vida não lhe oferecia nada de mão beijada. Estava habituado a ter que lutar bastante para conseguir que ter uma carreira oferecida assim de repente, soava-lhe inacreditável.

- Fazemos assim, Eren. Dás-me uma resposta mais calma quando tiveres processado tudo o que disse aqui. – Pegou no telemóvel. – Podes dar-me o teu número? Ficas também com o meu e daqui a uns dias, voltamos a conversar, pode ser?

- Ah…sim. – Disse ainda um pouco atordoado e trocaram os números.

- A propósito, prazer, Helena Foster. – Estendeu a mão e desta vez, Eren aceitou um pouco embaraçado pela atitude de antes.

- Eren Jaeger. Peço desculpa pela forma como falei antes, mas…

- Não tem importância. – Largou a mão dele ainda com um sorriso no rosto. – Compreendo que possas ter mal interpretado a situação. Da forma como falei, acho que tinhas todo o direito de pensar que era alguma stalker. – Riu.

- Pois…eu, realmente peço desculpa.

- Sem problema. Não te preocupes tanto com isso. – Pegou novamente no telemóvel. – Preciso ir. Espero que penses muito bem sobre a nossa conversa. – Piscou-lhe o olho. – Falamos daqui a uns dias. Tchüss (adeus), Eren.

- Tchüss. – Respondeu ainda com a sensação de frio na barriga e um sorriso que surgiu no seu rosto à medida que se apercebia do que tinha acabado de acontecer.

Estava sozinho e preparava-se para regressar ao interior do café quando ouviu um ruído e olhou rapidamente para uma das laterais, onde estavam alguns contentores.

Terá sido algum gato?”, questionou-se e ao pensar nisso, recordou-se que durante todo aquele tempo ainda não tinha tirado as orelhas de gato que tinha sobre a cabeça, “Que bela forma de causar uma boa impressão…”, suspirou.

Ouviu novamente um ruído, mas desta vez ao olhar, viu Jean.

- Estás à espera do Armin? Podes entrar. Acho que a Sarah preparou qualquer coisa e vamos cantar os parabéns por aqui à Christa e só depois é que vamos para…

- Por que razão tudo tem que correr tão bem na tua vida? – A pergunta apanhou-o desprevenido.

- O quê? Estás a falar do quê? – Perguntou Eren sem entender de onde vinha aquela pergunta, aliada a um olhar estranho que lhe era dirigido.

- Agora vais ficar importante demais e nem sequer queres contar que estivesses a falar com a tipa que gere a Utopia?

- Estavas a ouvir?

- Sim, eu vinha ao encontro do Armin. Ele disse-me que podia bater e entrar por uma destas portas laterais. O que não esperava era presenciar uma coisa destas. – Falou a última frase, quase como se cuspisse as palavras.

- Nem sequer sabia quem ela era até que se apresentou. Estou tão pasmo como tu. Não esperava uma coisa dessas. – Falou sem entender de onde vinha aquele tom desagradável da parte do outro.

- Pasmo? Não, Jaeger. Acho que essa palavra não se aplica ao que estou a sentir neste momento.

- Juro que não estou a entender porque estás assim.

- A vida corre bem, Jaeger? Pelo que oiço, boas notas, namorado rico, trabalho e agora oferta de uma carreira…

- Posso saber qual é o teu problema? – Perguntou irritado. – Também podias ter algo parecido se não tivesses começado com toda aquela história do dinheiro fácil. Devias aproveitar aquilo que eu não tive direito. A uma família que te dava…

- Não fales do que não sabes!

- Tu é que não te atrevas a vir com insinuações para cima de mim! – Rebateu. – Não andei à procura de namorado rico para melhorar as coisas na minha vida!

- Claro que não. – Ironizou. - És sempre o inocente. O coitadinho sem família, mas que surpreendentemente obtêm as coisas de maneira bem fácil.

- Fácil? – Antes que Eren pudesse prosseguir, Jean continuou:

- Não acredito nesta merda. Uma coisa dessas acontecer logo agora até parece uma ironia… uns afogam-se em humilhação e peso na consciência e outros têm tudo tão fácil.

- És humilhado porque queres. – Retrucou Eren. – Podias ter uma vida mais simples na casa dos teus pais.

Mais uma vez, um olhar repleto de ódio e desta vez, Jean aproximou-se do amigo e este recuou até sentir a parede nas suas costas. Não queria ceder perante a raiva, mas o outro estava definitivamente a pisar o risco.

No entanto, não conseguia deixar de pensar que algo de muito errado andava a acontecer nos últimos tempos com o amigo. E era somente isso que o impedia de agir de cabeça quente e deixar-se levar por insultos ou a violência física. A preocupação dele estava a superar a raiva provocada por aquela troca de palavras.

- Eu devia deixar que… - Jean deteve-se antes de terminar a frase e continuou a encarar os olhos verdes que não se desviavam dos dele.

- Jean… se me contares o que se passa, pode ser que possa ajudar. – O tom calmo deixou o outro sem reação por vários momentos, até que deixou a cabeça cair e encostar-se ao ombro de Eren, murmurando:

- Não é justo…

- Jean?

Como é que posso odiar-te contigo a dizer estas coisas? A agir desta forma?”.

- Quero que pares de ser assim comigo, Eren… - Afastou-se.

- Assim como? Estou preocupado. É normal que…

- Jean? – A conversa dos dois foi interrompida quando notaram a porta entreaberta e Marco olhava para um deles em específico. – Eu sabia. Na última vez que vieste trazer o Armin, pensei que eras tu, mas não ficaste tempo suficiente.

Eles conhecem-se?”, perguntava-se Eren, vendo a postura pouco à vontade do amigo.

- Sabia que ainda vivias por cá. – Continuou Marco, indo na direção de Jean que desviava o olhar. – Senti a tua falta. – Estendeu a mão até tocar no rosto do outro que se distanciou de imediato.

- Marco, já deves ter percebido que estou com o Armin. – Falou.

- E? – Perguntou confuso. – Isso nunca foi um impedimento antes.

A conversa parou quando Ymir surgiu na porta, chamando os três para entrarem porque estavam à espera dos ausentes para dar os parabéns à Christa.

Marco e Jean quase não trocaram mais palavras nas horas que se seguiram e o comportamento era bem indiferente. Porém, Eren não conseguia esquecer as palavras de antes e a familiaridade com que Marco tratava Jean. Era óbvio que se conheciam e mais importante, em algum momento, houve alguma coisa entre eles e desde daquela altura, o amigo não atribuía qualquer importância à palavra fidelidade.

Esse tipo de pensamento não deixou que aproveitasse como queria da festa de aniversário de Christa que agradecia por cada presente, palavra e surpresa que os amigos prepararam. Bertholdt e Reiner juntaram-se mais tarde à festa num bar, onde todos decidiram que acabariam a noite.

O karaoke, as apostas, os jogos e conversas que carregavam uma certa nostalgia, recordando como todos se conheceram e as situações pelas quais já tinham passado alimentaram grande parte dos festejos.

Contudo, a certa altura, Eren concluiu que a festa para ele poderia acabar por ali. Até porque Levi também só tinha respondido a uma das suas mensagens e em modo telegrama para lhe dizer que estava bem. Soube por Mikasa e Annie que o professor ainda estava a sofrer os efeitos da ressaca e portanto, voltou para casa mais cedo do que pretendia.

Essa era outra razão para que o adolescente quisesse deixar a festa. Queria estar com o professor. Queria contar-lhe o que tinha acontecido. Queria falar-lhe do dia dele em geral. Queria saber como estava. Queria ouvir a voz dele. Queria estar com ele.

Foi quase por milagre que conseguiu escapar dos olhos atentos de Mikasa e Annie. Disse-lhes que ia à casa de banho e saiu sorrateiramente do bar. Sabia que se pedisse boleia a Reiner, este depois teria que ir e voltar novamente ou então, acabaria por desmotivar a continuidade da festa. Pedir boleia a Jean estava fora de questão porque Armin também iria sugerir em ir para casa e não tinha a certeza de conseguir esconder como o clima entre ele e Jean estava no mínimo estranho.

Assim, mesmo sabendo que ia contra o que tinha dito que ia evitar, saiu pelo próprio pé do bar. As ruas vazias e decoradas com uma madrugada chuvosa não deixaram que encontrasse muita gente na rua. Algumas iam em pequenos grupos de amigos em busca do bar mais próximo, outras regressavam do trabalho e outras pessoas com aspeto suspeito, simplesmente se mantinham nas sombras das ruas mal iluminadas.

Eren estava habituado a andar por aquelas ruas sem qualquer problema e se houvesse algum problema, sempre soube cuidar da situação sozinho. Portanto, até entendia a preocupação da irmã e amigos ou mesmo de Levi, mas não via razões para tanto alarme e para ter que ser “escoltado” a cada passo que desse na rua.

Soprou o ar quente para as mãos, abrigando-se da chuva fina que caía. Para tal, servia-se dos toldos de alguns estabelecimentos encerrados ou caminhava junto às paredes. Sabia que se o vissem sem guarda-chuva várias pessoas na vida dele teriam alguma espécie de síncope, seguida de sermões sobre a falta de cuidado com a sua saúde. Porém, Eren sabia que não era por meia dúzia de pingas de chuva que iria cair numa cama outra vez.

Adoecia com pouca frequência e usualmente, depois de uma crise febril como a que tinha tido há pouco tempo, a próxima podia surgir passado meses ou até um ou dois anos. O espaço de meses ocorria, principalmente no orfanato devido às más condições das instalações que eram geladas no inverno e repletas de humidade por todo o lado.

Assim, não havia sistema imunitário forte o suficiente para que se mantivesse bem.

Só que a situação ultimamente era diferente e por isso, pouco se importou em apanhar alguma chuva, embora soubesse que assim que Levi o visse, iria fazer no mínimo comentários sobre a falta de responsabilidade dele.

Ainda estás acordado?

A resposta demorou menos do que esperava.

Sim, pirralho. Vê lá a que horas vais para casa. Não devias ter por hábito dormir tão tarde”.

Eren sorriu ao ler a mensagem.

Podias dar o exemplo. Isto também não são horas para estares acordado

Vai dar lições de moral a outro, pirralho”.

A resposta fez o rapaz rir um pouco.

Posso dormir contigo?

A mensagem fez com que o professor perdesse a concentração quanto ao teste que estava a corrigir naquele momento. Ele pensava que o adolescente estava na festa de aniversário ou então que tivesse acabado de chegar a casa.

Contudo, aquela última mensagem não era de alguém que estivesse em qualquer um desses sítios e assim que teve o pressentimento que Eren estaria por perto, ouviu o som da campainha e levantou-se do sofá. Carregou no botão do intercomunicador para abrir a porta da entrada do prédio, sem sequer confirmar que se tratava de Eren. Sabia que àquela hora e tendo em conta aquela troca de palavras, não podia ser outra pessoa.

Olhou para as folhas sobre a mesa de centro da sala e recolheu-as. Há algumas horas que tinha começado a corrigir pilhas de testes visto que usou parte do dia para recuperar horas de sono decentes e assim, recuperar dos efeitos nefastos da ressaca.

O tempo que demorou a organizar as folhas sobre a secretária do quarto, foi exatamente o tempo que demorou até que ouvisse novamente a campainha, desta vez, na porta de casa.

Saiu do quarto e logo tentou diminuir a frequência dos passos, recriminando-se por parecer um adolescente empolgado demais com uma simples visita. Tentando aparentar o mais normal e indiferente possível, abriu a porta, encontrando um sorriso do outro enquanto tirava o casaco claramente molhado. Não muito, mas notava-se que tinha estado debaixo da chuva.

- Posso saber porque caralho não tens um guarda-chuva?

- Nem um beijo ou um boa noite?  – Brincou Eren, entrando e foi empurrado antes que se pudesse aproximar mais.

- Descalça-te. Tira esse casaco. – Ordenou e o rapaz assim o fez, revirando os olhos. – Dá cá isso. – Pegou no casaco que lhe foi entregue. – Senta-te no sofá. Vou secar isto… - Levou a mão ao cabelo de Eren. – Tch, quem vir, pensa que nem tiveste doente há pouco tempo.

- Pareces a Mikasa.

- Tens uma irmã inteligente. – Falou, levando o casaco até uma outra divisão e Eren sentou-se no sofá da sala, apercebendo-se de um pequeno objeto sobre a mesa de centro da sala. Algo que até podia passar despercebido, mas que logo reavivaram memórias.

Eram os mesmos óculos que tinha visto anteriormente e que o professor deveria ter tirado antes de abrir a porta.

Não precisava ter tirado… queria vê-lo outra vez com eles”, pensava distraidamente.

Levi regressou à sala minutos mais tarde, dizendo algo sobre ter deixado o casaco a secar e nas mãos trazia o secador de cabelo. Ligou o aparelho e começou a secar os cabelos do adolescente enquanto dizia algo sobre a falta de cuidado dele. Eren estava gradualmente a desligar-se das palavras e do sentido delas. Em vez disso, deliciava-se com as mãos que tocavam os seus cabelos e embora as palavras estivessem a perder o sentido, não se cansava de escutar o som daquela voz.

Estava definitivamente apaixonado pelo toque. Apaixonado pela voz que lhe soava diferente de qualquer outra.

Sem dar por isso, fechou os olhos e só os abriu novamente quando o secador foi desligado.

- Não ouviste absolutamente nada do que disse, pois não? – Perguntou Levi.

- Ah…mais ou menos. – Falou, vendo que o outro à sua frente, olhava para ele com uma das mãos na cintura e arqueando uma sobrancelha, tentando entender a razão daquela distração.

Quanto a Eren estava novamente distraído pela mão na cintura que atraía a atenção dele para um pormenor que já tinha notado em outras ocasiões. Os pijamas usados pelo professor ficavam-lhe sempre largos, mais precisamente as calças. Este chegou a dizer-lhe em alguma ocasião que comprava propositadamente esse tipo de roupa num número acima do seu. A razão era simples. Gostava de dormir com algo confortável e isso incluía algo que não ficasse justo ao corpo.

Era um argumento válido e ao mesmo tempo, razão de distração porque parecia que podia cair a qualquer momento. Porém, de alguma forma, acabava sempre por ficar na posição certa. O que na perspetiva de Eren significava deixar a imaginação ao rubro por ver um pouco daquela cintura bem delineada. Aliás, tudo era insanamente delineado naquele corpo à sua frente.

- Eren? – Chamou pela segunda vez e bateu na testa do rapaz.

- Huh? Hei! Para que foi isso?

- Para te trazer de volta à realidade. – Respondeu. – Tch, estás mais distraído que o normal. Posso saber qual é o problema?

- O que estavas a fazer antes que eu chegasse? – Perguntou, procurando desviar o assunto dos pensamentos indecentes que não paravam de marcar presença na sua cabeça.

- Corrigir testes. Tinha uma noitada planeada à volta de correções para poder entregar os resultados na segunda.

Os pensamentos indecentes passaram para segundo plano visto que havia algo que queria saber.

- Já corrigiste o meu? Tirei uma boa nota?

- Como deves imaginar não vou dizer uma só palavra sobre isso. – Pousou o secador que ainda tinha numa das mãos sobre a mesa de centro. – Vais saber o resultado ao mesmo tempo que os teus colegas.

- Mas Levi, isso não é justo.

- O que não é justo é pensares que só por termos um relacionamento eu iria de alguma forma beneficiar-te.

- Mas não quero que me dês uma boa nota só por estarmos juntos. – Tentou explicar-se de imediato. – Só queria saber o resultado. Só isso.

- Nem pensar.

- Nem uma dica? – Insistiu Eren.

- Não. – Cruzou os braços.

- E se eu pedir, por favor? – Tentou mais uma vez e viu o professor arquear uma sobrancelha, mas mais uma vez negar o pedido. – E se… eu fizer qualquer coisa que me peças neste momento sem hesitações?

- Farias de qualquer das formas porque adoras que te dê ordens. – Respondeu, fazendo o outro ruborizar-se por completo. – Vais esperar e saber da tua nota ao mesmo tempo que os teus colegas. – Viu Eren amuar.

- Então, se é assim, tenho direito a um pedido.

- Não tens direito a coisa nenhuma porque não te estou a dever nada, mas diz lá o que queres porque acho que essa deve ser a razão pela qual estás tão distraído desde que chegaste.

- Hum… - Olhou para os óculos sobre a mesa e Levi também decidiu olhar na mesma direção para tentar entender o que Eren pretendia e assim que o fez, a sua memória reavivou um acontecimento recente.

Sorriu com uma certa malícia.

- Queres ver-me com eles? – Pegou nos óculos, sem afastar os olhos do adolescente. – Provavelmente, queres que os use o tempo todo enquanto estiver entre as tuas pernas a fazer-te gritar a única coisa que vais conseguir dizer o tempo todo… o meu nome.

Um arrepio percorreu todo o corpo do rapaz que não desviava os olhos do outro. Ainda nem sequer lhe tinha tocado e bastaram aquelas palavras para sentir todo o corpo quente. Mordeu o próprio lábio ao ver que o professor colocava os óculos e continuava a olhar para ele.

Se sexy precisasse de uma definição, usaria esta imagem agora. Ele não deve ter a noção de como fica bem assim”, Eren estendeu a mão e pretendia tocar em Levi que se desviou, dizendo:

- Quem faz as regras aqui sou eu. Hoje não mereces que satisfaça a tua fantasia. Em vez disso, vou divertir-me com uma das minhas. Não te levantes.

Um pouco nervoso e sobretudo, curioso aguardou pelo regresso de Levi à sala. Assim que ouviu os passos, ia virar-se para trás, mas a voz autoritária ordenou que não alterasse a posição em que estava. Isso incluía não olhar para trás.

Arrepiou-se ao sentir o nariz do outro na sua nuca. A isto seguiu-se alguns beijos nessa zona que o fizeram morder o lábio para controlar os sons que queriam escapar dos seus lábios. As mãos de Levi pousaram sobre os seus ombros. Pressionava alguns pontos numa massagem lenta que o fez fechar os olhos.

Podia não satisfazer a fantasia daquele naquela noite, mas desde que o outro continuasse a tocá-lo daquela forma, pouco importava.

As mãos percorriam as costas dele em toda a extensão, pressionando alguns pontos que o fizeram sentir pequenos choques. Sabia onde tocar, quais os pontos que pediam somente uma carícia ou outros que pediam alguma pressão mais firme. Num desses pontos, ao mesmo tempo que pressionou um ponto mais tenso dos seus músculos, mordeu a nuca do rapaz que desta vez, não conteve um suspiro e gemido.

Ao obter essa reação, Levi sorriu e desta vez, as mãos encaminharam-se para as extremidades da camisa.

- Levanta os braços.

O rapaz obedeceu e num ritmo vagaroso, o professor retirou a camisola que levava. Deixava assim a pele morena de que tanto gostava, exposta para que pudesse percorrê-la com mais gosto com as mãos.

Aquelas carícias estavam arrepiar a pele do outro a que se acrescia o frio na barriga. Ouvia a própria respiração alterar-se com aquilo e repentinamente, as mãos afastaram-se e ia virar-se para trás para puxar Levi, quando veio novamente o tom autoritário.

- Quieto!

Tremeu ligeiramente, mas acatou a ordem.

Não esperava que as mãos agora à altura do rosto cobrissem os seus olhos com um tecido negro que não o deixava ver nada. Sucederam-se vários arrepios. Daquela forma não veria se Levi continuava ou não com os óculos ou mesmo qualquer parte do corpo dele que tanto gostava de admirar.

No entanto, mais do que aborrecer-se com essa perspetiva, a ideia de não ter a noção do que podia acontecer, estava a deixá-lo ainda mais excitado. Sem a visão teria que confiar somente nos outros sentidos e quando os toques pelas suas costas e as mordidas na sua nuca regressaram, entendeu que todas as sensações ficavam mais intensas. Como se remover um sentido da equação, intensificasse os restantes.

- Hoje a palavra da noite será tortura. Agrada-te a ideia, Eren? – Sussurrou perto da orelha do outro, passando a língua nesta e arrancando mais um gemido.

- Mais do que isto?

O outro riu um pouco.

- Já estás assim tão desesperado por mim?

- Levi… não é justo. – Ouviu como o outro, saía das costas dele e passava para a parte da frente do sofá. - Também quero poder tocar-te…

- Shh… - Sentiu o dedo indicador sobre os lábios dele. – Se fores um menino paciente, a tortura vai compensar, mas por agora… - Retirou o dedo indicador e beijou-o. Sem querer perder mais tempo, entreabriu os lábios, dando passagem a Levi que logo encontrou a língua dele. Ambos gemeram com aquele contacto e o professor agarrou um dos braços de Eren, deslizando até encontrar a mão do outro e trazendo-a de encontro ao corpo dele. Aquela era a permissão que o rapaz queria. Podia tocar nele.

As mãos dele puxaram Levi para que este se sentasse no colo dele e agarrou com força as coxas dele. Sabia que o podia marcar com a pressão que estava a fazer, mas não havia qualquer indício de que Levi não gostasse daquilo, pois pelo contrário, moveu os quadris contra os dele, assim que sentiu aquela pressão e gemeu contra a boca do outro, mordendo os lábios de Eren que sentiu o gosto de sangue.

- Queres marcar-me, Eren?

- Ngh… Levi…

A língua do outro passou nos lábios dele limpando o sangue que tinha saído do pequeno corte que agora o adolescente tinha na boca.

- Gosto dessas mãos bem fortes em mim… não queres mais? – Beijou o pescoço do moreno que gemeu mais alto, pois no momento em que decidiu mover os próprios quadris, Levi fez o mesmo criando uma fricção que ambos desejavam. – Marca-me, Eren. Bate.

- Hum? – Balbuciou atordoado com as sensações e aquelas palavras.

- Obedece, bate!

Não querendo questionar aquela ordem, afastou ligeiramente uma das mãos das coxas e bateu numa das nádegas. Ouviu um gemido do homem sobre ele e logo sentiu os dentes dele no seu pescoço.

- Outra vez. – Repetiu num sussurro. – Mais forte, Eren.

Repetiu o gesto com um pouco mais de força e depois de escutar mais um gemido que o arrepiou por completo, a boca de Levi tomou novamente a dele. O beijo apaixonado, desejoso por mais e mais, estava a deixar o rapaz completamente fora de si. Não aguentaria muito mais tempo, apenas com aqueles joguinhos e provocações.

Levi prendeu a língua dele entre os dentes, antes de afastar-se e murmurar:

- Pausa…

- Huh? – Ao sentir que o outro se levantava. – Onde vais? Levi?

O professor agarrou a mão do rapaz e fez com que se levantasse. Sem dizer uma palavra, guiou-o até ao quarto. Eren seguia-o com passos incertos e receio de que a qualquer momento tropeçasse em alguma coisa ou nos próprios pés, já que tinha essa capacidade mesmo quando não tinha os olhos vendados.

Ao entrar no quarto, Levi empurrou Eren para cima da cama. Este caiu de barriga para cima e ia tentar ajeitar a posição em que tinha caído, pois não sabia exatamente se estava ou não no centro da cama, mas assim que sentiu o professor sobre a cama e sobre ele manteve-se no mesmo sítio.

- Mãos acima da cabeça.

Automaticamente, moveu os braços e deixou as mãos tocar na cabeceira da cama e em seguida, ouviu um som que não lhe era familiar. Um trinco? O som de metal? Não conseguia entender e então, sentiu algo frio contra o pulso. O som repetiu-se e logo entendeu pela forma como Levi aprisionava os pulsos que se tratavam de umas algemas.

A boca dele secou.

Vendado. Algemado à cama.

Levi moveu-se novamente sobre a cama e desapertou as calças do rapaz que começava a sentir o rosto cada vez mais quente, à semelhança de todo o corpo que queimava por dentro e por fora. Sentiu como o outro despia-o por completo e ouviu o som da roupa ser atirado para o chão. O passo lógico seria que Levi voltasse para cima dele, mas vez disso, os passos afastaram-se da cama.

- Vais esperar aqui quietinho e caladinho como um bom menino. – Ouviu o professor dizer, mesmo antes de sair do quarto.

Eren apenas podia escutar desconcertado como os passos se distanciavam até se tornarem quase inaudíveis. Questionou-se por que razão Levi faria algo assim quando tudo o que Eren mais queria era ver cumprida a promessa de não se lembrar de mais nada a não ser de gemer o nome do outro. Pensava que a tortura na sala já tinha sido suficiente e com ele algemado e vendado na cama não havia razões para ouvi-lo distanciar-se.

O corpo dele pedia desesperadamente para ser tocado e era uma agonia pensar que ali preso, nem sequer poderia ir ao encontro de Levi.

Remexeu-se desconfortavelmente na cama e ouviu um som ainda distante. O som de um armário? O som repetiu-se e aliou-se a outro que não conseguia entender, mas tornou-se óbvio que o professor estava na cozinha.

O adolescente não conseguia entender o que poderia estar na cozinha que fosse mais relevante do que estar em cima dele naquele preciso momento.

Os sons discretos na cozinha estavam a deixá-lo entre um misto de frustração e raiva. Não poder ver, também tirava a perceção do tempo a que já estava ali à espera do regresso do outro.

Lembrou-se que queria comer qualquer coisa a esta hora? Quem se lembra de algo assim numa situação destas?! Podia comer-me a mim em vez de…”, corou por completo ao ver a direção que os seus pensamentos estavam a seguir e assustou-se quando ouviu passos tão próximos. Estava tão absorto na própria raiva e frustração que não notou quando Levi regressou ao quarto. Havia um cheiro diferente no quarto. Algo muito familiar. Doce.

- Impaciente?

- És um homem cruel. Deixar-me aqui todo este tempo depois de me teres passado a ideia errada na sala.

- Passei-te uma ideia errada? – Perguntou e nisto, Eren ouviu o som de algo a ser pousado na mesinha de cabeceira. O cheiro doce tornou-se mais evidente.

Chocolate?

- Ah… - Tentou ignorar a razão para que houvesse chocolate ali. – Tive que esperar para te tocar lá na sala e pensei que vindo para aqui, fosses…

- Que te fosse foder com força contra esta cama sem mais demoras. Eu sei, Eren. – Disse num tom tranquilo. – É uma ideia que ainda tenho em mente, mas antes… - Ouviu o som de algo ser retirado de cima de mesinha de cabeceira e uma espécie de vapor quente próximo à barriga.

- Levi?

A resposta não veio e em vez disso, algo quente tocou a sua pele. Líquido que escorria sobre o peito. Quente. Muito quente, mas…

- Demasiado quente ou deliciosamente quente?

- Ngh… quente, mas… bom… - Murmurava entre os tremores que agitavam o corpo que se arrepiava com aquele líquido quente que caía sobre o peito. Estava quente, mas não doía num mau sentido. Era bom. Tão bom que a respiração que entretanto se tinha tranquilizado, voltava a ecoar pelo quarto.

Nunca tinha feito nada assim e nem lhe teria passado pela cabeça que fosse tão bom. A temperatura daquele líquido de cheiro forte ardia na pele, mas em vez de lhe trazer desconforto, arrancava pequenos gemidos de satisfação que melhoraram quando a língua de Levi também começou a deslizar pela sua pele.

- És delicioso, Eren. Quero percorrer todo o teu corpo com a minha língua.

Não sabia ao certo se o corpo se tinha sacudido por mais uma porção de chocolate derramado sobre ele ou se aquelas palavras também tiveram algum efeito eletrizante.

Levi pousou o recipiente na mesinha ao lado e debruçou-se sobre Eren, beijando-o. Se ainda tivesse dúvidas, Eren podia concluir com toda a certeza que era chocolate, o líquido que tinha sido derramado sobre ele. O beijo afastou-se da sua boca e passou ao queixo, pescoço e desceu pelo peito que ainda tinha alguns restos de chocolate e depois de pegar na colher que alcançou sem nunca deixar de beijar a pele morena suja de chocolate, passou o metal quente e também repleto de chocolate mais abaixo. Pela cintura, coxas e sobretudo no membro duro ao qual demorou a dar atenção.

Entreteve-se a lamber e morder na zona da cintura e lentamente, alcançou as coxas que o outro afastou instintivamente para que Levi pudesse ter acesso sem qualquer problema. Este beijou, mordeu e chupou várias vezes aquela zona, deixando para trás várias marcas bem vermelhas e só então, quando Eren praticamente implorava pelo fim da tortura, envolveu o membro com a boca.

- Ah! Levi… Levi… - Gemia, incapaz de controlar os movimentos do corpo.

Um dos pés de Eren bateu em alguma coisa que ele não sabia que estava sobre a cama. Era algo frio e que fez com que Levi tivesse que afastar uma das mãos rapidamente para alcançar o frasco antes que este caísse.

- O que…?

- Nada que não tenha usado antes. – Foi a resposta antes de ouvir um som que já tinha ouvido antes. Sim, Eren reconhecia o som daquele frasco e logo sentiu um dedo perto da sua entrada que o fez arquear as costas na cama. – Estás muito tenso, tens que relaxar, Eren…

- Hum…ngh…

- Eu ajudo. – Murmurou, voltando a pôr o membro do outro na boca enquanto o segundo dedo deslizava com maior facilidade com ajuda não só do lubrificante, como também da distração que tinha proporcionado a Eren que gemia com cada vez mais frequência.

Relaxando os músculos da garganta, Levi arriscou-se a engolir mais do que costumava fazer, pois se Eren se empolgasse demais, o resultado seria óbvio. Acabaria por engasgar-se como já tinha acontecido em outra ocasião. Mantendo uma das mãos os dedos dentro do rapaz, a outra seria o seu único método de tentar impedir que o outro o sufocasse.

- Merda… Levi… mais… - Murmurava palavras soltas entre os gemidos que iam subindo cada vez mais de tom.

Mais um dedo e desta vez, os quadris de Eren também se moviam contra os dedos que havia dentro dele.

- Levi… chega… Levi, quero-te dentro de mim!

- Tão impaciente. – Falou e passou mais lubrificante, desta vez, no próprio membro. – Mas mereces que te recompense. Aguentaste bem até agora.

- Por favor, Levi… nã…AH! – A voz subiu de tom ao sentir que o outro entrava dentro dele de uma só vez, sem cuidado.

- Forte e rápido, certo? – Perguntou, sentindo o rapaz tremer por baixo dele e este assentiu. – Pede, Eren.

- Po…por favor… - Falou com a voz entrecortada. – Por favor, Capitão Levi.

- Hum, se me pedes dessa forma, não tenho como recusar. – Disse, mesmo antes de segurar nos quadris do rapaz e iniciar uma série de investidas rápidas e fortes.

Os gemidos subiram de tom e confundiam-se entre os dois. Aliava-se o som da cama que se agitava ao ritmo sobre ele e Eren queria ter as mãos livres para agarrar os cabelos de Levi, arranhar os braços e as costas dele, mas em vez disso, os pulsos ficavam cada vez mais doloridos. O metal arranhava os pulsos. Fazia com que a sua pele ardesse novamente e logo veio a dormência naquela zona enquanto entre sons desconexos, a única coisa que a certa altura conseguia dizer era o nome de Levi. Por vezes, o nome ou chamando-o de Capitão, o que se fazia com que o outro respondesse com uma investida mais forte que a anterior.

Estava perto. Tão perto quando repentinamente, Levi saiu de dentro dele sem qualquer explicação.

- Nã…Não… Levi, por favor… Capitão… - A voz soava-lhe fraca e rouca.

Levi moveu-se até ficar perto do membro do outro, movendo os quadris sobre ele.

Bastava que se posicionasse um pouco melhor e Eren teria a oportunidade de entrar no outro, mas em vez disso, Levi torturava-o, apenas deixando que sentisse como estava tão perto e ao mesmo tempo, tão longe.

Repentinamente, sentiu os dedos do professor perto da sua boca.

- Abre a boca.

Assim o fez, começando a lamber os dígitos enquanto gemia em agonia porque a tortura continuava. Envolveu os dedos com a língua, chupou-os com vontade e estes acabaram por sair da sua boca novamente. Esperou que os fosse sentir outra vez, dentro dele, mas em vez disso, ouviu um gemido abafado do homem ainda sobre ele.

Ele está a…

- Levi?

- Hum, Eren… pensa assim, a tua saliva está dentro de mim.

E se o rapaz ainda tivesse alguma dúvida, passou a ter a certeza de que aqueles dedos estavam dentro do homem que gemia sobre ele.

Quero ver. Puta que pariu a venda!

- Levi, deixa-me… tirar a venda.

- Não. – Foi a resposta que recebeu, seguida de mais um gemido que o arrepiou. – Vais imaginar, como seria estar dentro de mim. Eras capaz de fazer-me gemer assim? Hum… como querias que fosse? Querias que me deitasse e deixasse tudo nas tuas mãos? Ah…Eren… ou querias que te montasse? – Assim que acabou de fazer essa pergunta, servindo-se da mão desocupada, pegou no membro de Eren e começou a masturbá-lo. Sabia que ele não podia estar muito longe do clímax e com ele a gemer sobre ele e a deixar toda aquelas sugestões na cabeça, não poderia durar muito mais.

E tinha razão, os gemidos de ambos regressaram em força e pouco depois, atingiam o seu limite.

- Banho agora…

Eren riu enquanto o outro retirava as algemas e a venda.

- Nunca és muito romântico.

- O que queres que diga depois disto? – Olhou com um certo nojo para o estado dos lençóis que tinham chocolate. – Vou ter que mudar esta merda toda. Vá, vai indo para o banho. Já lá vou ter.

- Para uma nova ronda?

- Quem sabe. Vai.

Trocados os lençóis seguiu-se um banho em que Eren teve sim, direito a mais uma ronda que o fez cambalear para a cama ao sair da casa de banho. Levi deitou-se do lado oposto a Eren e propositadamente, virou-lhe as costas. Murmurou um “boa noite” e ouviu como o adolescente não parava de se mover na cama, hesitando sempre que pensava em falar para o homem que mantinha-se de costas. Ao fim de alguns minutos em que Levi julgava que iria perder a paciência com a falta de coragem de Eren em dizer exatamente o que queria, este decidiu falar.

- Levi… posso?

- Hum?

Aproximou-se de Levi, abraçando-o e o outro não fez nada para afastá-lo, em vez disso, aconchegou-se mais no braço que estava sobre ele. Deixou também que Eren entrelaçava uma das mãos com a dele. Apenas sorriu ao ver que apesar de toda a hesitação, o rapaz tinha reunido coragem para o envolver daquela forma.

- Custou assim tanto? – Ironizou Levi.

- Viraste-me as costas. Pensei que não querias que…

- Fiz de propósito e quis ver se terias ou não coragem de fazer o que querias. – Admitiu.

- És mau… - Murmurou com o rosto contra os cabelos negros do outro que riu um pouco.

- Eu sei e tu gostas. – Respondeu.

- Levi?

- Diz…

- Sei que não devia ter vindo aqui hoje à noite. Não estamos a ser discretos, mas…

- Ouviste-me a reclamar de alguma coisa? – Perguntou e apertou mais a mão entrelaçada na dele. – Eu queria que viesses, Eren. Não é fácil para mim esta situação de ter que esconder estas coisas na frente dos outros.

Eren sorriu.

- Levi, estás com muito sono?

- Ainda estás com disposição para mais? Não queres sair da cama no que resta do fim-de-semana?

O outro corou.

- Não, não é isso. Queria… contar-te sobre o que aconteceu hoje.

Levi olhou de soslaio.

- Apareceu alguém suspeito? Ouve, se apar…

- Não, não. O dia correu bem e eu queria… falar um pouco sobre isso contigo, pode ser?

- Não precisas de perguntar esse tipo de coisa.

- Não quero aborrecer-te.

- Impossível. – Levi fechou os olhos. – O som da tua voz é uma das melhores coisas que… tch, ok, fala e não me faças dizer estas coisas!

Eren riu um pouco e logo começou por contar como tinha sido o dia no café Kitten. Não poupou detalhes e o professor não se queixou. Ouviu atentamente o relato do dia, fazendo algumas perguntas pelo meio. A parte que mais o tinha deixado empolgado naquele dia veio no fim. O encontro com Helena Foster, a cara por detrás da agência Utopia que lhe fez uma proposta que o deixou completamente embasbacado.

- Desde que não atrapalhe os teus estudos e… - Murmurou Levi.

- E?

- Sou alguém muito egoísta, Eren e espero que te lembres disso em cada decisão que queiras tomar e venhas pedir a minha opinião. Digo isso porque podes ignorar-me, caso…

- Levi porque estás a dizer-me isto?

- Provavelmente, vai querer tirar-te daqui. – Falou por fim. – Mas tu tens o direito de perseguir os teus sonhos e eu não sou ninguém para te impedir.

Só então a parte menos luminosa da proposta caiu sobre os ombros de Eren. Até àquele momento não tinha parado para pensar no que significaria aceitar aquilo. Mesmo que lhe fosse permitido terminar o Secundário, era óbvio que não ficaria na cidade. A sede podia ser ali, mas as estrelas patrocinadas por essa agência levavam as suas vidas longe dali, na terra das estrelas de cinema, músicos e sonhos. Outro país.

Usualmente, as estrelas tinham as suas residências nos Estados Unidos. Só que mais do que isso, as relações era algo altamente controlado e só dessa forma, se mantinha uma vida longe das revistas e páginas da internet que procuravam o mínimo deslize para espalhar rumores.

Era evidente que seriam afastados.

- Não…

- Eren?

- Vou dizer-lhe que não. – Abraçou o outro com mais força. – Não te vou perder. Não quero uma vida em que não posso estar contigo quando e quanto tempo quiser.

O sentimento de culpa tomou conta de Levi que começou a tentar argumentar de forma lógica para que Eren não decidisse nada sem pensar muito bem na resposta. Não queria de forma alguma que o adolescente desperdiçasse uma oportunidade daquela que a ser verdade, poderia mudar a vida dele e realizar um sonho de uma carreira que o professor sabia que o outro merecia.

Eren disse que apenas reconsideraria se Helena aceitasse algumas das condições dele, caso contrário afirmou que recusaria sem qualquer peso na consciência. Afirmou que não estava disposto a abdicar de Levi ou diminuir o tempo em que pudessem estar juntos. O outro tentou contra-argumentar, mas algumas palavras foram suficiente para silenciá-lo.

- Nasci para ser feliz ao teu lado, Levi. Se ela aceitar isso, muito bem, posso reconsiderar, mas só segundo algumas condições. Eu amo-te, Levi. Não há futuro se não estiveres ao meu lado.

Silêncio.

Novamente o frio na barriga e a certeza de que aquelas palavras precisavam ser ditas.

Ainda com a garganta seca, separou os lábios e hesitou por mais alguns momentos. Engoliu em seco e o rosto aqueceu. Com a escuridão do quarto, talvez Eren não notasse esse pormenor. Não visse o rosto que certamente estaria corado. Não veria aquele estado tão vulnerável enquanto dizia aquelas palavras.

- Eu amo-te, Eren… - Disse, sentindo como se um peso finalmente saísse do peito.

Nada.

Silêncio que perdurou de um modo que o estava a deixar entre o nervosismo e a irritação.

Finalmente consigo falar e a única coisa que este pirralho faz é ficar em silêncio?!”, virou-se irritado para encarar Eren e a incredulidade apoderou-se da sua expressão, “Está a dormir?! Não… ele não faria uma merda destas num momento destes!”. Esteve a escassos milímetros de dar uma cotovelada que poderia até partir alguma costela do rapaz, quando olhou para o relógio do quarto, “Espera… quanto tempo é que passou desde que ele falou e eu lhe respondi? Será que fiquei em silêncio por muito tempo?! Puta que pariu a minha sorte!”.

 


Notas Finais


Ainda não escrevi muito do próximo capítulo, mas já tenho qualquer coisa para alimentar a preview desta semana:

«« (...) - E vais? Pensava que íamos… se bem que recebi agora uma mensagem da Carolina. Ela perguntou-me se podíamos almoçar os dois antes de ir ao cinema.
- Claro, o teu pequeno encontro… - Murmurou entre os dentes.
- Levi não vamos discutir outra vez sobre isto, pois não?
- Não, não…diverte-te. Podes ir almoçar com ela, até porque também não vou estar aqui. – Saiu do quarto.
(...)
"Sim, Eren, espero que te divirtas imenso com a tua 'amiga'. Já nem me lembrava desse maldito encontro. Será que este domingo pode ficar pior? É melhor não perguntar…" (...) »


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