Park Chanyeol era um bom presidente. Administrava mais do que bem a empresa de moda que havia construído com seu marido. Mesmo que não fossem ricos, o mercado sul coreano era um ótimo consumidor de moda.
O catálogo rascunho da coleção de primavera precisava ser entregue ao comitê em exatos 15 dias, e nesse meio tempo, Chanyeol apenas precisava aguardar a chegada dos desenhos feitos por seu designer, cargo antes ocupado por Byun Baekhyun, homem que compartilhava da mesma aliança que o presidente Park.
Era inegável que Baekhyun tinha talento para seu trabalho, mas este era dificultado por seu único problema perceptível: Baekhyun sofria de amnesia. Há alguns anos o jovem sofrera um acidente necessitando passar por uma cirurgia, na qual uma pequena parte de seu cérebro fora afetada. O homem conseguia viver lembrando de coisas do passado quase perfeitamente, enquanto memórias recentes apagavam-se em lapsos.
E entre uma das memórias passadas que Baekhyun não conseguia se lembrar estava seu casamento.
Mesmo com o fato do Byun não se lembrar de seu marido, Chanyeol convivia com o outro todos os dias, como amigos que dividem a casa, assim como viviam antes de desenvolverem sentimentos um pelo outro.
Mas a cada dia que se passava, Chanyeol escutava o homem, como um adolescente, descrever o rapaz que amava.
— Chanyeol? – chamava ao escutar a porta da sala se fechar – Você já chegou?
— Sou eu, já estou subindo.
Guardava sua mochila no escritório e passava a subir as escadas ao encontro do homem no quarto acima.
Nunca gostou de usar maletas formais, as usava apenas em reuniões internacionais para que os desenhos não fossem prejudicados, pensava: afinal, eu sou o dono, ninguém vai me demitir por falta de profissionalismo.
Abriu a porta do quarto lentamente para não assustar o marido e sentou-se na cadeira ao lado da que o outro encontrava-se sentado, rabiscando um vestido longo, como se o lápis costurasse o tecido e este fosse capaz de ver o chiffon prateado balançar ao vento.
Chanyeol conseguia lembrar da primeira vez que encontrou Baekhyun. Imerso em folhas de sulfite na biblioteca da escola numa aula vaga qualquer, os dedos corriam pela folha de modo suave, com lápis, canetas ou marcadores de texto, o garoto deixava transparecer a simplicidade de seu coração com seus traços e então Chanyeol percebeu que, entre muitos desenhos aleatórios havia também peças de roupa e na maioria das vezes saias e vestidos.
Sentava-se ao lado do garoto e perguntava coisas bobas apenas para perder seu tempo observando o ato do menor.
“Você gosta de desenhar?”
Baekhyun o encarava e respondia simples a qualquer indagação.
“Gosto”
Até que um dia, Chanyeol aproximou-se da mesa e questionou o garoto.
“Você pode desenhar qualquer coisa?”
“É”
“Então... você pode desenhar uma roupa para que eu use na formatura?”
Incrivelmente, Baekhyun achara engraçado o pedido e cobrou 2 dólares.
Chanyeol não tinha dólares.
Baekhyun sugeriu que o maior lhe pagasse um café com bolinhos.
Chanyeol aceitou.
E ao final daquele ano – após se formarem com calças e camisas sociais, suspensórios e um blazer bordô desenhados e algumas partes costuradas pelo próprio Byun – mudaram-se para a casa que os pais de Baekhyun mantinham perto da faculdade, e por quatro anos vivendo sob o mesmo teto, ambos vieram a apaixonar-se um pelo outro.
Baekhyun jamais perdeu sua personalidade dócil, gostava de fazer qualquer coisa que o deixasse feliz, cozinhava se sentia que deveria fazê-lo, tentava acompanhar as aulas de zumba na academia que Chanyeol frequentava, costurava roupas e fazia acessórios de última moda da internet para que o namorado usasse e tirava fotos o tempo todo. Era o típico personagem de filme que você deseja ser, que faz com que se pergunte como conseguir tanta determinação para realizar inúmeras tarefas diferentes.
Foi assim que Chanyeol percebeu que, estar com Baekhyun era como viver um novo mundo a cada dia.
Baekhyun tinha seus cabelos loiros cobrindo a testa, hora ou outra cacheava sua franja com um babyliss apenas para fazer coquinhos com os fios crescidos e tirar fotos polaroides e espalha-las pelo quarto.
Quando Chanyeol chegou à conclusão que o amava incondicionalmente, a proposta foi feita. Felizmente não houvera negações e algumas semanas depois estavam legalmente casados.
Não fizeram uma grande festa, sequer um almoço, o fato de estarem ligados um ao outro bastava por aquele momento, mas afirmaram que haveria uma comemoração, em algum lugar com flores brancas, para que Baekhyun pudesse andar descalço e sentir a brisa em seu rosto como a criança dentro dele desejava.
O dia em que Chanyeol recebera a ligação de sua sogra dizendo que Baekhyun estava em uma cirurgia de emergência pois um carro desgovernado havia colidido com o taxi em que o mesmo se encontrava fora o pior sentimento que poderia experimentar até então, estava desesperado, mas inegavelmente feliz pelo garoto estar vivo, mesmo que com sequelas.
Não o deixaria sozinho, apenas desejava que o outro se mantivesse vivo.
Entender que após o acidente Baekhyun poderia ou não lembra-se dos momentos que viveram juntos, Chanyeol aceitou como um teste imposto pela vida que permaneceria ao lado do marido. Não como obrigação ou por piedade a família, mas sim porque o amava e não iria a lugar algum, pois tinha consciência de que era recíproco.
— O que está desenhando? – indagou o maior.
— Um vestido, bobo – sorria – Talvez, quando pudermos sustentar uma empresa, esse possa ser a capa do catálogo, o que acha?
— Acho que ficaria lindo.
— Chanyeol – virou-se em direção ao outro, fitando os olhos alheios seriamente – Eu acho que estou apaixonado.
O maior fazia-se surpreso, como se não escutasse isso com frequência, mas a verdade era que o mesmo discurso se repetia a cada dia, mesmo que de modos diferentes.
— Não brinca.
— É sério – riu, ameaçando um tapa – Sonhei com ele, pra ser exato.
— E vai me contar?
— Não ria, mas era um casamento. Eu estava caminhando sob um enorme arco de flores brancas, copos de leite, margaridas, rosas, tulipas, o chão coberto por pétalas de cerejeira. Era lindo, Yeol! – contava entusiasmado.
Caminhou até a porta do banheiro e sentou-se no degrau, escutando Chanyeol ligar o chuveiro e gritar:
— E o que aconteceu?
— Um rapaz alto caminhava ao meu lado, nossos dedos estavam entrelaçados e seu terno era de um marfim opaco com detalhes em azul ardósia. Chanyeol, e seu eu pudesse encontra-lo na vida real?
— Como faria isso, você pode ver o rosto dele? – questionava, secando os fios negros do cabelo na esperança de que sim, Baekhyun se lembrava dos planos para a festa de casamento, a festa da qual ele sabia descrever perfeitamente os detalhes pois estes estavam presentes toda noite em seus sonhos, mas por que era tão difícil lembrar-se daquele que o amava?
Queria gritar com a vida e perguntar o motivo pelo qual não podia ter aquele homem, que o seguia de cômodo em cômodo contando sobre seus sonhos, por completo.
Mas não deixaria que isso o abalasse.
— Não posso ver o rosto – jogou-se na cama do maior, resmungando – Isso me deixa frustrado.
— Um dia você verá, Baek – sorria.
Aproximou o rosto do outro, ainda deitado e praticamente sussurrando disse:
— Vamos jantar.
Ambos desceram em direção a cozinha e como sempre, Baekhyun encarregava-se dos acompanhamentos, enquanto Chanyeol fazia o arroz e geralmente, uma sobremesa.
Todas as noites Chanyeol esperava que o menor adormecesse para que assim, pudesse admirá-lo de perto e acariciar os fios loiros como fazia enquanto ambos compartilhavam das mesmas memórias. Depositava um beijo terno na testa do corpo adormecido e por alguns segundos apoiava a cabeça ao lado do mesmo para sentir a pulsação suave.
Mesmo que talvez o menor jamais pudesse se lembrar dos momentos passados, Chanyeol permaneceria ali.
E um dia, talvez, Baekhyun fosse capaz de perceber que o homem com quem sonhava todas as noites dormia no quarto ao lado, usando a mesma aliança que a sua.
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