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História Deveria ter te amado (Versão Nova) - Deveria ter prestado atenção


Escrita por: Escritora6523 e AnaCCohen

Notas do Autor


Olá, como todos? Essa semana dei uma descansa, mas agora estamos de volta.

Boa leitura!

Capítulo 4 - Deveria ter prestado atenção


Jason andava pelas tranquilas ruas do Brooklyn e franzia as sobrancelhas, tentando entender. Não era o que ele estava esperando. Não havia tráfego, fumaça ou motoristas raivosos, quase parecendo que ele estava entrando em uma realidade alternativa. Olhando em volta, ele leu a placa e checou novamente, só então, se convenceu. Ele tinha certeza e não, não foi um erro; ele realmente estava em Nova York.

O bairro em si era simpático, composto por casas familiares e pequenas. De um lado da rua havia um parque com crianças brincando, e do outro, uma discreta sorveteria pouco movimentada. O lugar lhe dava a impressão de estar dentro de um filme antigo, onde os vizinhos eram amáveis e nada de ruim acontecia ou, talvez, ele estivesse em mundo a parte da realidade, como o acampamento grego ou o próprio Monte Olimpo. E, enquanto andava, Jason se perguntou como seria crescer em um lugar tão seguro e não ter que lutar a cada dia por sua vida, pois, para ele, que havia nascido em um campo de batalha e aprendido a ser um guerreiro muito antes de saber o próprio nome, era difícil imaginar que algo assim pudesse existir.

Jason parou em frente a um prédio antigo de cor azul-índigo e se virou para o lado, se lembrando de Annabeth. Ela, que seguia a seu lado como um fantasma silencioso, olhava para frente como se quisesse estar em qualquer lugar, menos ali. Parecia que se ela acreditasse o suficiente, poderia atravessar a parede e se poupar do que teria que enfrentar. Mas, tudo bem, Jason não precisava perguntar, olhar para Annabeth era o suficiente para ver a melancolia, mas também a nostalgia na amiga. Ela parecia conhecer o local como a palma da própria mão, liderando o caminho até que eles chegaram ao lugar indicado.

Jason levantou a vista e olhou para alto, lendo a placa do prédio com um sorrisinho no rosto.

“Edifício Atlântida.”

Jason balançou a cabeça e abriu o portão do prédio sem esperar por Annabeth, muito menos pelo elevador que estava parado naquele andar. Correu pelas escadas como um garotinho ansioso até que chegou ao 10º andar, parando em frente a porta de número 57, hesitando pela primeira vez na vida. Ele se apoiou em seus calcanhares e respirou fundo, tentando se acalmar, mas no momento que deixou o ar sair, uma de suas mãos agarrou sua camiseta a puxando para baixo e a outra se manteve firme segurando em sua espada.

Aquela situação era ridícula. Não entendia o que se passava e quase não fazia sentido. Jason já não era um garotinho inseguro e impaciente em busca do próximo desafio e ainda assim, estava ali, ansioso e inquieto. Talvez fossem as noites em claro se preocupando e quebrando a cabeça para encontrá-lo. E agora, finalmente, eles haviam o achado.

A pergunta importante era como eles não haviam pensado nisso antes.

Bem, para Jason, as razões eram infinitas. O ano escolar havia acabado, novos semideuses encheram os acampamentos dos romanos e dos gregos, sem contar as reconstruções e mudanças a serem feitas.

Ah, ele não podia se esquecer de Leo. Jason não sabia o que acontecia e não tinha tempo para pensar a respeito, ainda que ouvisse o suficiente das fofocas que rondavam o acampamento meio-sangue e que pareciam se espalhar como o vento. O amigo que antes corria atrás de Hazel e Calipso parecia um tanto deprimido e ao invés de continuar com suas investidas, passou a gastar todo seu tempo na escura e escondida oficina de metais nos limites do acampamento meio-sangue.

Ele podia se lembrar daquele dia como se fosse ontem.

Cansado e prestes a cair no sono na próxima superfície que encontrasse, Jason havia reunido o resto de suas forças e ido em busca de Leo. Procurou por todo o acampamento e soltou um suspiro de alívio quando o encontrou dormindo. Leo apoiava a cabeça na mesa, em cima da planta de uma invenção e segurava frouxamente um lápis em sua mão direita. A única resposta para cena deveria ser que Leo tinha caído no sono enquanto desenhava.

— Eu vou te derrotar... — Leo balbuciou, suspirando. — Eu vou...

Jason se aproximou do amigo e sorriu, tirando os cabelos cor de fogo do rosto alvo cheio de sardas claras. Ele, então, agarrou na cintura de Leo e o pegou no colo, segurando em suas pernas e o levando para longe dali.

...

Naquela noite enquanto Jason andava em direção ao chalé de Zeus com Leo nos braços e o colocava em sua cama, olhando para o rosto adormecido do amigo, jurou que não deixaria que isso voltasse a acontecer a nenhum de seus amigos.

— Jason...? — Tinha ouvido Leo sussurrar enquanto se deitava na cama e abraçava Leo por trás, os cobrindo em seguida.

— Shhh, está tarde.

— Mas eu--

— Durma. Amanhã conversamos. — Se lembrava de encostar a cabeça no ombro de Leo e o apertar junto a ele, escutando os batimentos rápidos do coração de Leo até que eles finalmente desacelerassem, embalando seu sono.

***

Quando finalmente Jason notou o sumiço de Percy havia se passado mais de um ano. Ele não teve escolha e fez o que devia fazer, se reuniu com Annabeth, montou um time e passou o resto do verão em busca de Percy Jackson.

Eles começaram pela escola, um internato pequeno para garotos no interior do país. O responsável pela instituição os havia informado que Percy Jackson não frequentava as aulas desde o começo do ano letivo. Depois perguntaram a Quíron que apenas franziu o cenho e ordenou aos campistas disponíveis que os ajudasse na busca. Até com Poseidon falaram. O deus não havia dito muito, ainda que fosse óbvia a tristeza na voz dele. Eles imaginaram de tudo, que Percy havia sido sequestrado, morto e até virado um peixe e se mudado para Atlântida, mas nem em mil anos pensaram em procurar ali, no lugar mais óbvio possível. Era tão ridículo que Jason teve vontade de se bater e depois de se jogar do Empire State Building, a torre mais alta de Nova York. Ao invés disso, tudo o que fez foi segurar firme em sua espada, manter uma expressão neutra no rosto e olhar para Annabeth que saia do elevador e andava lentamente em direção a ele, levemente pálida.

Jason sorriu a ela e tentou transparecer compreensão. Annabeth não precisava saber o que se passava por sua cabeça. Ele, provavelmente, devia estar mais nervoso que ela.

 — Você está pronta? — Jason perguntou a Annabeth.

 — Não. — Ela lhe disse enquanto encarava a porta em frente a ela como se o pedaço de madeira tivesse a ofendido pessoalmente.  — Tudo bem, vamos em frente.

Annabeth esticou o braço e bateu três vezes na porta.

Por um momento, pensaram que ninguém estava em casa. Tudo estava tão silencioso e calmo que Jason já se virava para voltar de onde tinha vindo. Foi então que a porta foi aberta devagar e forçadamente, como se o peso fosse demais para a pessoa atrás da porta.

Eles finalmente haviam encontrado Percy Jackson.

...

Jason não podia acreditar em seus olhos.

Ele piscou e fincou os dedos no cabo de sua espada. Aquele não era Percy Jackson, não o semideus mais forte e corajoso que ele já havia conhecido. Pois tudo o que Jason via era uma carcaça; cabelos longos e desajeitados, olhos caídos e apagados e mãos que tremiam em seu esforço de segurar a porta aberta. O pior era o aspecto da pele de Percy, desbotada e amarelada, tão adoentada que doía só de olhar. Seus músculos também, eles pareciam querer saltar de seus nervos e passar direto por sua pele. Nem mesmo Nico depois de sair do jarro estava tão magro e fragilizado.

A verdade era que Nico Di Ângelo poderia ter deixado aquele mundo, mas quem havia morrido era Percy Jackson.

Jason piscou os olhos e respirou fundo. E sem pensar direito, largou a espada e foi em direção a Percy, segurando delicadamente nos braços finos. Ele, então, o guiou até o sofá macio o mais devagar que pode, com medo de machucar Percy, que caminhava como se reaprendesse a andar, dando um passo depois do outro, trêmulo e sem equilíbrio, parecendo não conseguir sustentar o peso do próprio corpo.

Jason se sentou ao lado do amigo e olhou por mais um momento para Percy, colocando seus braços em volta de Percy com o maior cuidado que pôde enquanto Percy continuava parado onde estava; imóvel, com a respiração falha e a pele fria.

 — Eu estava tão preocupado... — Jason disse baixo, somente para Percy escutar. —... estou feliz que você esteja bem.

— Você... está? — Percy disse com a voz fraca e rouca, inseguro, finalmente devolvendo o abraço, tremendo sem forças, deixando o ar preencher seus pulmões fragilizados.

 — Eu sinto muito, Percy.

O coração de Jason se apertou ao prever o que viria em seguida.

Percy se afastou dele e o olhou nos olhos, seu rosto se retorcendo numa expressão angustiada. Ele abriu a boca, mas de lá nada saiu. Percy agarrou a camisa de Jason entre os dedos fracos e soluçou. Em seguida, vieram outros soluços, outros e mais outros, soluços engasgados e secos que Jason esperava nunca mais ter que escutar.

Jason sentiu Percy o apertar mais contra si e encostar a cabeça em seu ombro. Ele não pode fazer nada além de segurar Percy e deixar que ele desabafasse.

 — Está tudo bem. Vai ficar tudo bem. — Jason disse enquanto massageava as costas do amigo. — Annabeth também está aqui. Ela vai ficar feliz em te ver.

Foi então que Jason olhou para trás e viu Annabeth. Ela continuava parada no mesmo lugar perto da porta, como se presa por uma força invisível. Ela não falou nada ou se mexeu. A única mudança eram seus olhos vermelhos e inchados.

 — E-eu... não... e-eu não posso. Me descu-lpe. — Sem avisar, Annabeth se virou e saiu correndo.

Aqueles poucos minutos haviam sido o suficiente para ela. Era como se tudo o que eles tinham passado não importasse mais, como se nunca tivesse existido. Assim, ela correu e correu, correu o mais rápido que suas pernas aguentaram e não parou até que a imagem de Percy desaparecesse de sua mente.

***

Aquela havia sido uma tarde interessante.

Jason havia acompanhado Percy até o quarto e sentado o amigo na cama, enquanto se sentava em uma cadeira ao lado da cama de Percy. Mas antes que ele pudesse se sentar, Jason olhou para a cadeira, sozinha e solitária, e se perguntou qual seria o motivo dela estar ali. O objeto destoante lhe dava a impressão de estar em um quarto de hospital, como se alguém costumasse passar noites ali, do lado de Percy, para se certificar que ele comesse e continuasse a respirar.

Jason não sabia o que falar. O que ele deveria dizer num momento como aquele? Dizer como sentia muito, que gostaria que Percy não tivesse que passar por isso? Nada que pudesse falar faria Percy se sentir melhor, então decidiu que preencher o silêncio seria o melhor. Ele se levantou e ligou a televisão, se voltando para Percy. E Percy, observando Jason desconfiado, suspirou fundo e bateu levemente no lado vago de sua cama com feições sérias no rosto.

— Você não precisava vir aqui. Não precisava ficar comigo. Ou agir como se isso fosse normal. Mas... mas se você quiser me fazer companhia... — Percy lhe disse incerto com o rosto virado para a parede, franzindo as sobrancelhas, como se ele próprio não acreditasse no que tinha dito.

Foi o momento que Jason enxergou quem Percy Jackson realmente era.

Foi um momento estranho. Via Percy por um ângulo um tanto quanto... sentimental. Percy não o herói ou o benfeitor que todos achavam, sem falhas e invencível. Ele era uma pessoa de carne e osso que sentia e que sofria e que no momento estava fraco e debilitado. Percy parecia tão cansado que Jason podia notar em cada movimento de seu corpo fraco e em suas ações lentas, como se ele não pudesse gastar energia. Talvez fosse por isso que Percy não se preocupou em fingir ou mostrar um sorriso.

Finalmente Jason entendia, depois de passar o dia com Percy, entendia tudo. Percy havia sido corajoso, a prova disso era ver o amigo vivo e respirando, havia sido o suficiente para Jason ver o que precisava ver.

Jason se sentou ao lado de Percy na cama e segurou em seus ombros enquanto deixava que Percy desabafasse com a voz mansa e se encostasse a ele, descansando a cabeça em seu ombro.

Percy havia falado pouco. Suas palavras soavam entrecortadas e arrastadas, bem escolhidas e por vezes sem fôlego, mas o pouco que havia falado tinha sido sincero, provavelmente a conversa mais honesta que Jason havia tido com Percy. E enfim, quando Percy falou sobre Nico, ele não precisou dizer os detalhes. Porque apesar das palavras serem espaçadas e sussurradas, os objetos espalhados pelo quarto eram explicativos por si só. Percy tinha fotos de Nico na cabeceira de sua cama e a espada de estígio negra estava bem ao lado de sua caneta. Quando Percy não teve nada mais a dizer, Jason permaneceu calado. Ele não tinha o que dizer e não saberia mesmo que quisesse. Sentiu que aquele não era seu objetivo ali, ele era somente um ouvinte passivo.

Mais tarde naquela noite, Jason deixou seu corpo relaxar junto ao de Percy e se deitou na cama, segurando por debaixo das costas a cintura de Percy, o puxando delicadamente para baixo, o reclinado e o fazendo se estirar na pequena cama de solteiro junto a ele, os cobrindo e desligando a luz em seguida.

— Você vai ficar comigo? Até eu dormir? — Percy lhe perguntou. Jason sentia a respiração irregular de Percy bater em seu rosto, parecia que até abrir os lábios era mais esforço do que Percy podia fazer.

— Eu vou. Não se preocupe. — Foi o que Jason disse. Sua voz soou baixa e trêmula, mas forte o suficiente para colocar um sorriso pequeno no rosto de Percy. Ele ficaria o tempo que Percy precisasse.

 — Obrigado.


Notas Finais


Obrigada por ler!
Comentarios são sempre bem-vindos.


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