História Devil's Voice (Jikook) - Capítulo VI

O garoto, com seus 16 anos, passou a noite em claro treinando, assim como seu mentor mandara.

- Hyung! Ei, hyung! Onde você está?! - Pela manhã, o adolescente voltou para casa e chamou o homem, o procurou por todos os lugares e não o encontrou de forma alguma.

A única coisa que encontrara foi um bilhete que dizia: “Chegou a hora de se virar um pouco, pequeno. Volto logo”.

O menino esperou o dia todo e ele não apareceu.

Esperou uma semana, um mês, um ano e seu hyung nunca voltava.

Ele se viu sozinho e perdido mais uma vez.

“Mesmo que a tristeza eterna te leve para longe,

Diga-me que não há corações separados aqui.

Eu não consigo encontrar as palavras certas para preencher esta grande distância

Eu sabia que não seria capaz de capturar a distância com as estações do ano passando tão rápido.

Ao invés de apenas lembrar, eu era capaz de dizer que os dias inesquecíveis são algo que eu poderia aceitar” Shiver, The Gazzet

Era o dia de folga de Jeon e as únicas coisas que ele queria era passar um tempo deitado em sua cama, treinar seu corpo para uma próxima luta que tivesse que enfrentar ou apenas aceitar e remoer os pensamentos que lhe rondavam.

O moreno tentou a todo custo se distrair, porém, a cena da noite passada lhe atormentava.

Jimin surgiu em sua mente e, por um instante, ele associou o garoto a aquele momento terrível.

E se tivesse sido ele?

Se Jungkook não tivesse chegado a tempo naquele dia, o menino terminaria da mesma forma que aquela mulher e isso, por algum motivo, fez o peito de Jeon doer muito ao pensar que não teria o garoto de fios rosados entrando na cafeteria, conversando consigo, se preocupando com ele, lhe tocando e lhe fazendo descobrir coisas que nunca pesou que sentiria.

A alma preciosa foi tirada de seus pensamentos e preocupações quando o som irritante da campainha soou alto.

- Oi, Jeon! - O moreno se sentiu aliviado ao ver a figura de Jimin parado em sua porta

- Oi, Park. Estou de folga hoje, quero apenas descansar. - O mais velho lhe fitou de cima a baixo preocupado como se procurasse algo.

- Está machucado? - Aquela pergunta intrigou o moreno que franziu o cenho

- Um pouco, mas estou bem.

Como ele sabe?

- Me deixe cuidar de você, por favor. - Jungkook quase não teve tempo de reagir, o garoto adentrou seu apartamento. - Sente-se aqui, Jeon. - O menino de alma pura soltou um suspiro pesado e fechou a porta antes de sentar no sofá como o outro pedira.

Jimin segurou a barra de sua camisa e a tirou de seu corpo, pegou alguns utensílios em sua bolsa e começou a cuidar do ferimento não muito profundo.

- Como soube que eu estava ferido? - O moreno perguntou tentando ignorar seu corpo que arrepiava com os toques de Jimin.

- Intuição.

- Intuição? Isso não me convence. - O mais velho lhe olhou impaciente.

- O que importa é que estou aqui cuidando de você. ‘Como?’ e ‘por que?’ são perguntas irrelevantes. - Os dois ficaram em silêncio. Jeon não sabia sobre o que falar, sua cabeça estava cheia demais para focar em algo assim, já Jimin, apenas se mantinha calado em respeito ao silêncio do outro.

- Como aprendeu a lutar contra demônios? - Jimin se arriscou em lançar a pergunta ao garoto.

- Um homem me ensinou, ele caçava essas criaturas e me ensinou tudo que sei. - Havia carinho em suas palavras, porém, a mágoa era evidente.

- Ele te deixou triste? - Era como se o mais velho capitasse todos os sentimentos de Jungkook ou, como se, de alguma forma, ele soubesse tudo que aconteceu.

- Um dia ele foi embora sem me deixar explicação alguma, mas eu já superei... - Era mentira.

Jeon nunca superou nada que aconteceu em sua vida, ele apenas aprendeu a lidar durante os anos.

- Será que realmente superou, Jeon? - Aquilo atingiu o garoto em cheio.

Ele sempre foi fraco, por mais que matasse mil demônios, ele continuaria fraco porque nunca foi capaz de superar seus traumas.

O silêncio novamente reinou ali e Jimin finalmente terminou seu curativo com esmero e atenção.

Seus olhos se encontraram por um momento e seus corações pareciam estar quase pulando para fora de seus peitos.

- Por que se importa tanto comigo? - A pergunta surgiu na mente de Jungkook e ele apenas liberou em cima do mais velho.

- Porque você é muito especial pra mim, Jeon.

- Como assim...? - Cada palavra do garoto de fios rosados era uma incógnita para o mais novo, ele tentava, mas era demais para sua compreensão.

- É uma longa história, Jungkook.

- Então me conte. - Jimin mordeu seu lábio carnudo mostrando insegurança.

Ele sabia que esse momento chegaria, mas não estava preparado, nunca esteve.

Anos e anos ele se preparou e planejou como contaria toda a verdade que escondia para o garoto, mas quando o momento chegou, sua voz travou, ele só fitava os olhos curiosos em cima de si sem conseguir dizer nada.

- Vamos, Jimin. Me diga. - O garoto balbuciava coisas sem sentido tentando achar uma resposta menos chocante, mas era difícil até que o som da campainha adentrou seus ouvidos e, por um momento se sentiu aliviado por poder fugir daquela conversa dolorosa.

Jungkook se levantou e foi em direção a porta.

Ninguém ia até seu apartamento além de Jimin e isso o deixou apreensivo.

Ao abrir a porta seus olhos arregalaram-se e seu corpo arrepiou, de todas as pessoas no mundo, aquela era quem ele menos esperava.

- Olá, pequeno! - A voz do homem saiu simpática, porém, Jeon mantinha a expressão surpresa e irritada. - Quanto tempo uh. - Os punhos do garoto se fecharam com força enquanto fitava os olhos do homem que sumiu por tantos anos sem nem ao menos lhe dar uma satisfação.

- O que está fazendo aqui?! - A voz do mais novo saiu alta, mas o outro não parecia si importar tanto.

- Vim apenas cumprir meu trabalho.

- Quem é esse, Jeon? - Jimin foi para perto dos dois tentando entender o que estava acontecendo e sua expressão logo se fechou quando seu olhar encontrou com o do homem do outro lado da porta.

- Eu sou Kim Namjoon, o homem que vai lhe mandar para o inferno.

"Por favor, não chore pelo tempo que não voltará mais

Se pra mim você diz que não há almas esquecidas aqui

Enquanto nós estamos perdendo o amanhã, você está chorando.

Quando você revelar o seu verdadeiro eu para mim, não serei mais capaz de te tocar.

Mesmo que a tristeza eterna te leve para longe,

Não se esqueça dos dias em que você pensou que o nosso adeus era uma mentira

O céu que você viu sozinha e os sonhos em que você colidiu enquanto passava por isso

Aqueles dias permanecem inalterados desde então, para sempre, em seu coração..." – Shiver, The Gazzet