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História Dez - Omegaverse ABO - Pedido em aberto


Escrita por: Suh03

Notas do Autor


AVISO: o texto a seguir pode despertar emoções diferentes entre um parágrafo e outro. Contém altos níveis de satisfação, pieguice, tensão, reflexões sobre a vida e uma (considerável) dose de calor. Mantenha-se hidratado.

ALERTA DE LIMONADA. Sirva-se por sua conta e risco.

Este capítulo segue o ponto de vista de Klaus e Cieszyn.

Capítulo 49 - Pedido em aberto


Fanfic / Fanfiction Dez - Omegaverse ABO - Pedido em aberto

O casal arco-íris estava mais brilhante e colorido do que nunca, numa felicidade contagiante. Klaus os deixou em paz depois de brincar ao tentar convencê-los de que “Klaus” era um bom nome para uma criança, inclusive para uma menina.

Afinal, ele sabia que Laulliet tinha uma reunião com Zehel e obviamente iria aproveitar a oportunidade para vê-lo. Quando desceu para a sala, que estava vazia, encontrou Minna sozinha na entrada da mansão, sabendo, então, que Laulliet já estava com Zehel no escritório. Notando a ansiedade da jovem, ele perguntou qual era a notícia boa, descobrindo, assim, que ela iria sair do reduto com Ayva para um passeio.

Será que convidar Laulliet para uma volta na cidade seria uma boa ideia?

Pensando nisso, Klaus resolveu ir até o jardim que ficava entre a mansão e a ala sul. Assim, Laulliet teria que passar por ele para voltar ao dormitório. Havia uma área coberta e calçada por ali, com alguns vasos de plantas que se davam melhor na sombra. Como não havia nenhum banco, Klaus simplesmente se sentou no chão, encostando-se à parede, como costumava fazer quando estava na fazenda dos seus pais. Aquela parte do reduto até lembrava um pouco o lugar.

Falando nos seus pais, em pouco tempo, eles deveriam receber a carta de Klaus em Hailac, noticiando sobre o sucesso da entrega da carta da mãe de Laulliet. Klaus ainda pediu que eles avisassem quando iriam retornar para Solara, a capital, para que ele pedisse a Laulliet que ele escrevesse uma resposta para a mãe e, assim, seus pais tentassem entrega-la em mãos à destinatária.

Foi quando ele ouviu passos se aproximarem. Viu que era Laulliet, que foi até ele com a classe de sempre, até sem fazer nenhum esforço.

– O que você está fazendo aqui? – ele perguntou, quando parou ao seu lado.

– Esperando por você. – Klaus disse – Já terminou sua conversa com Zehel?

– Sim.

– Bem, – Klaus disse, apoiando-se no chão para se levantar – eu acho que um lugar que tenha cadeiras-

– Não precisamos sair daqui por minha causa. – Laulliet falou, interrompendo-o.

Para a surpresa de Klaus – uma surpresa boa – Laullliet não hesitou nenhum pouco em se abaixar e ocupar um lugar no chão ao lado dele, dizendo:

– Eu já fiz muitas coisas que deixariam meus instrutores de etiqueta horrorizados desde que fui para as ruas.

Como se fosse possível Klaus se apaixonar ainda mais por aquele ômega.

– Se sentar diretamente no chão está entre elas? – Klaus perguntou.

– Agora está.

– E como está indo a experiência?

– Surpreendentemente confortável. – Laulliet respondeu – E libertador.

– Não é? – Klaus disse, contente.

Ele estava muito tentado a perguntar quais eram as outras coisas que Laulliet tinha feito que matariam do coração os seus instrutores de etiqueta, mas Laulliet falou no momento seguinte:

– Percebe isso? O vento mudou de repente.

Klaus sentiu a mudança, mas só depois de Laulliet ter falado aquilo. Ele estava prestando mais atenção em Laulliet do que em qualquer outra coisa ao redor deles. Mas, sim. O tempo tinha mudado de repente. O sol desapareceu de um minuto para o outro.

– Lá vem a chuva. – Klaus falou.

– E vem forte.

Somente alguns segundos após Laulliet dizer isso, os pingos de chuva começaram a cair. E, de um instante para o outro, o gotejar esporádico e aleatório da água da chuva se tornou constante e torrencial, encharcando o solo rapidamente e fazendo um barulho alto chocando-se contra o telhado acima deles.

– Essa chuva com certeza pegou muita gente de surpresa. – Laulliet falou.

– Ah... tantas pessoas correndo... E depois, ruas vazias.

Laulliet concordou em silêncio com um movimento de cabeça. E permaneceu em silêncio.

Klaus olhou para ele, que observava a chuva cair, mas sua mente claramente estava mais longe. Não dava para saber onde ela estava agora, com Laulliet mantendo o semblante tão neutro quanto o possível. Mas houve uma mudança sutil quando uma lufada de vento passou por eles mais forte do que antes e Laulliet fechou um pouco mais o casaco que usava para se aquecer.

Klaus não pensou duas vezes antes de tirar seu próprio casaco e Laulliet, vendo isso, rapidamente começou a gesticular com as mãos, dizendo:

– Ah, não, não precisa fazer isso. Fique com ele.

– Tudo bem, eu não sinto tanto frio.

E era verdade. Para Klaus se sentir incomodado pelo frio, a temperatura deveria cair ainda mais. E, além disso, Klaus já tinha tirado o casaco e o oferecido para Laulliet antes mesmo de ele terminar de falar.

Laulliet pegou o casaco de Klaus como se segurasse algo que pudesse quebrar com facilidade e acabou vestindo pela insistência no olhar de Klaus. O casaco ficou grande em Laulliet, mas com certeza servia para protegê-lo do frio. Ao observá-lo mais um pouco, Klaus disse:

– Então você não tem problema em usar as coisas de outras pessoas. – constatou.

– Não. Não me incomoda.

– Hum. – Klaus disse, pensativo.

Então era só o toque físico. Laulliet não se incomodava com proximidades e cheiros dos outros. Fazia sentido. Enquanto esteve nas ruas, ele devia ter lidado com multidões. Pessoas se esbarrando, mesmo que rapidamente, muitos cheiros diferentes por todos os lugares... Saber que a fobia dele se limitava à parte física deixava Klaus despreocupado com as outras coisas, mas não facilitava em nada numa forma de enfrentar aquele empecilho.

Klaus continuou olhando para Laulliet, que, com o silêncio, passou a olhar para ele. Como Klaus permaneceu sem dizer nada, um olhar de dúvida surgiu em Laulliet.

– O que foi? – o ômega perguntou.

Ao invés de responder, Klaus fez outra pergunta:

– O que você sente exatamente quando mantem contato por muito tempo?

Laulliet demorou para responder:

– Bem... essa é uma pergunta complicada. – disse, devagar – É como se eu me sentisse preso. E me falta ar, é aterrorizante. Eu paro de pensar racionalmente. E... não dá mais pra saber o que realmente está lá ou não.

– Como más lembranças?

– ...Também. – Laulliet respondeu, após alguns segundos em silêncio.

Então, o contato físico despertava más lembranças. E eram essas lembranças as responsáveis por ele se sentir tão mal. Um dos problemas que o próprio Laulliet citou quando tentou afastar Klaus da última vez. Uma das coisas que estavam “danificadas” nele.

– Você já tentou... – Klaus começou – Como posso dizer... Treinar isso? Pra aumentar o tempo que você consegue manter contato?

Mais alguns segundos em silêncio depois, Laulliet disse:

– Eu não pediria isso pra ninguém.

– É... Bem que imaginei. Mas, você quer tentar? Comigo?

Laulliet olhou nos olhos de Klaus, apreensivo e duvidoso. Será que ele estava pensando no quanto poderia ser frustrante para Klaus ele não conseguir manter o contato? A suposição de Klaus deveria estar certa, mas Laulliet não poderia estar mais errado. Klaus estava ali para tentar, quantas vezes fossem necessárias.

– Eu não estou esperando que dê certo nem tão cedo, se é isso que está preocupando você. – Klaus falou – Na verdade, eu queria... entender uma coisa.

– O quê?

– Até que ponto você domina as suas lembranças – Klaus disse, estendendo a mão – E também o contrário.

Até que ponto aquelas lembranças dominavam Laulliet.

Dessa vez, Laulliet passou mais tempo olhando para a mão de Klaus, estendida no espaço entre os dois, do que para o rosto dele. Após uma respiração lenta e profunda, o ômega repousou levemente a mão sobre a de Klaus. Apesar de toda a hesitação, seu movimento estava firme. Parecia decido e empenhado em levar aquilo adiante.

Sempre de olho na sua expressão, Klaus apertou um pouco a mão de Laulliet e perguntou:

– Tudo bem?

– Ainda. – Laulliet  respondeu.

Mas, em cada instante que se passava Klaus podia notar muitas mudanças em Laulliet: a alteração no ritmo da sua respiração, o olhar cada vez mais distante, o tremor suave da sua mão – que crescia rapidamente, espalhando-se pelo resto do corpo. O contato já o estava incomodando, e ficava pior à medida em que a expressão no seu rosto manifestava sinais de medo.

Era muito pouco tempo.

Klaus começou a pensar. Como ele poderia ajuda-lo com isso?

Ele notou o momento em que Laulliet chegou ao seu limite seguro, começando a puxar de volta a sua mão. Contudo, quando sentiu o contato indo embora, o alfa colocou a outra mão sobre a de Laulliet, impedindo-o de tirá-la de lá.

De cabeça abaixada, a respiração de Laulliet ficou mais pesada.

Klaus...

– Olhe para mim. – Klaus falou.

Laulliet não respondeu, nem fez o que Klaus pediu, só continuou tentando soltar sua mão.

– Laulliet. – Klaus chamou, novamente, mantendo a voz calma – Olhe nos meus olhos.

Dessa vez, ele pareceu tê-lo ouvido. Laulliet ergueu a cabeça e olhou para Klaus. E o olhar dele deixou Klaus arrasado. Por mais que Lauliiet tentasse esconder, era o olhar de alguém apavorado, o suficiente para não pedir por ajuda.

Klaus quase o soltou na mesma hora, mas sua razão o manteve firme. Ele precisava tentar uma coisa. Só mais um pouco de tempo.

– Você sabe quem está segurando sua mão, não sabe? – Klaus disse, e levantou as mãos até a vista de Laulliet – Você sabe que sou eu. Você sabe que está no Reduto de Ardósia, em Sozan. Você pode ouvir a chuva. Ela acalma você, não é?

Klaus falava tudo devagar e com clareza. E, talvez por sorte, sua tática teve algum efeito. Ainda havia medo no olhar do ômega, mas ele conseguia controlar, aos poucos, a sua respiração.

– ...A-Acalma. – Laulliet disse, com a voz trêmula – A chuva... me acalma.

Mesmo que Laulliet tivesse voltado a si, ainda estava apreensivo. E foi depois do que ele disse que Klaus soltou a sua mão. O ômega abaixou sua cabeça e recolheu a mão junto ao corpo, que ainda tremia.

Apesar de ter conseguido o que queria – que era entender exatamente o que se passava com Laulliet em situações como aquela – Klaus não se sentia nada bem por ter provocado as reações que testemunhou no outro. Se sabia desde o início que seria difícil ajudar Laulliet com isso, Klaus fora um pouco ingênuo. Era mais difícil do que havia imaginado, não só para Laulliet. O sentimento de culpa dentro dele doía como um soco.

– Me desculpe. – Klaus falou.

Laulliet balançou a cabeça em negação, ainda encarando o chão, e disse:

– Você continua se desculpando como se fosse culpa sua. Pare com isso.

– Foi culpa minha não ter soltado sua mão quando você quis se afastar.

– Não... – Laulliet disse, e olhou para Klaus – Não. Ainda bem que você não soltou. Você não faz ideia... do que você fez.

Olhando agora para Laulliet, Klaus não sabia o que ler daquela expressão. Porque ao mesmo tempo em que o medo estava presente, havia também alívio.

– Se... – Laulliet continuou – Se eu me afasto logo, essas... lembranças... alucinações... não aparecem. Mas quando demora assim, tudo fica... tão distante... E quando as pessoas percebem e me soltam... Elas me deixam lá.

Então era assim que funcionava. Era isso que acontecia com Laulliet. Como se ele fosse transportado novamente para a prisão que era a sua casa em Hailac. Deveria mesmo ser sufocante passar por tudo aquilo de novo.

– Eu não tenho... nada pra diferenciar o que está só na minha cabeça do que é real. – Laulliet continuou – Eu consigo sair sozinho. Mas leva mais tempo. Só que você... Eu ouvi você. Eu vi você. E eu consegui diferenciar...

Laulliet suspirou e disse:

– Eu não vou mentir para você, foi assustador. Mas... não tanto quanto costuma ser. Porque eu não estava lá sozinho.

– É bom ouvir isso. – Klaus disse, então se arrependeu logo depois – Não “bom” porque foi assustador, mas porque compreendi melhor... Eu falo umas coisas meio estúpidas às vezes.

Laulliet sorriu de leve.

– Não, tudo bem. – disse – Deu pra entender.

– Certo... Eu não vou mais pedir que você segure a minha mão, então não se preocupe.

Nenhum dos dois disse algo por alguns longos segundos. Até que Laulliet falou:

– Então eu é que terei que pedir isso.

Klaus olhou para ele e teve que sorrir.

– Quando quiser. – ele disse. Ele estaria sempre disponível para Laulliet.

A chuva forte tinha passado tão de repente quanto tinha começado. A água agora caía apenas dos telhados e das folhas das árvores, e o barulho do gotejar e do vento balançando os galhos era o que predominava naquele instante.

– Que tal um chá? – Laulliet falou – Oscar encomendou uma caixa de chá de jasmim de uma safra muito boa.

– Excelente ideia. – Klaus falou, se levantando do chão.

Enquanto fazia isso, por hábito, quase ofereceu a mão para ajudar Laulliet a se levantar também, como o cavalheiro que era, mas hesitou no ultimo instante, olhando para ele com uma expressão de dúvida. Laulliet, por sua vez, notou a confusão de Klaus e resolveu o problema sem dizer nada: estendeu a mão na direção dele.

Klaus segurou sua mão, e se colocou de pé, levantando Laulliet consigo, e não tardou em soltá-lo. Agora que sabia qual era o seu tempo seguro de contato, evitaria, a não ser que fosse proposital, que Laulliet entrasse no seu estado de pânico.

Saber que conseguia tirá-lo daquele estado também era promissor, mas... Era angustiante de se presenciar.

Mas Klaus afastou tais pensamentos, por enquanto. Laulliet parecia bem agora, caminhando ao seu lado, com o casaco de Klaus, cujas mangas cobriam totalmente suas mãos, pela trilha do jardim que levava à ala sul, desviando das pequenas poças d’água que a chuva deixou para trás. Só pelo convite dele para tomar chá no dormitório já deixava Klaus feliz.

E era assim que ele queria continuar pelo resto do dia.

 

*

 

O dever. O mais importante dos propósitos da Irmandade dos Justos. Cumprir o dever era quase sagrado. Até superestimado. E, como uma orgulhosa e prodigiosa Caçadora, Cieszyn nunca havia falhado com sua função.

Levava a justiça á sério, tanto que não media esforços para fazê-la valer, mesmo que tivesse que cuidar de tudo com as próprias mãos. Era o que significava o título que conquistara. Ela não era uma policial. Ela não espionava, capturava e julgava seus alvos. Ela os rastreava, os encontrava e os eliminava.

Mas ela era uma líder, desde que se conhecia como gente. E líderes sempre questionavam se as regras estavam mesmo servindo para o bem dos que se subordinavam a ela. Inclusive eles mesmos.

Quantas vezes ela já havia questionado A Ordem? Perdera a conta.

Mesmo que não demonstrasse, Cieszyn se importava. Preocupava-se com cada um dos seus subordinados, sua família, seus amigos e aliados. E sua natureza a transformava numa leoa feroz caso algo acontecesse com algum deles. Ela ainda guardava o desejo pulsante de vingança dentro dela pelos dois Irmãos que perdeu nas marinas para os Eternos. Ela ainda tinha gravado na sua mente o rosto do cocheiro que a levou para uma armadilha, esperando pelo dia que o veria novamente.

E agora... era extraordinário o fato de que uma delicada ômega da nobreza poderia ser, para ela, um tipo de ameaça.

Para começar, foi o dever que fez Cieszyn enxergar o país vizinho ao seu como inimigo, estudando a história da guerra de Nilaver e Hynon, e o envolvimento direto dos Eternos na quase destruição de Nilaver. Foi o dever que a fez criar aquela postura de autoridade e força, equivalente aos mais condecorados guerreiros da Irmandade, e a fez lutar contra sentimentos que pudessem torna-la fraca e manipulável. Foi pelo dever que ela tentou fazer de Arthos um adversário ainda mais perigoso, por ser o futuro líder da nação historicamente rival à dela.

Tentou.

Porque Arthos era irritantemente persistente em se tornar seu amigo. Brincando com a sua paciência durante o processo.

E ele conseguiu, eventualmente. Ela podia negar até a morte e nunca contaria isso para ninguém, mas quando soube que Arthos tinha conseguido autorização do rei para ser um representante comercial em Sozan e a permissão de Zehel para frequentar o Reduto, alguns anos atrás, onde ela já fazia negócios em nome de Nilaver, além de revirar os olhos e suspirar pelo final dos seus dias de paz ali, Cieszyn se viu curiosa e ansiosa, no sentindo bom, pensando no que ele iria fazer para continuar atormentando-a com aquela história de amizade.

Sim, aquele sentimento não tinha surgido de uma hora para a outra.

Mas, pela primeira vez, ele tinha a força equivalente ao que ela – até agora – mais prezava: o dever. E escolher entre um e outro foi até relativamente fácil: seu inconsciente fez isso por ela quando a conversa sobre o casamento de Arthos despertou seu lado mais selvagem. A Cieszyn Boreain não estava interessada em perder quem ela já considerava como seu.

Seu. E de mais ninguém. Ela não o deixaria sair daquele quarto nunca mais se fosse preciso. Só que então Zehel bateu à porta e aconteceu o que aconteceu. Cieszyn se esforçou para prestar atenção ao que Zehel disse sobre as roupas à prova de balas que começariam a ser produzidas. E ela passou o almoço inteiro pensando no que faria à respeito de Arthos, a conversa de todos entrando por um ouvido e saindo pelo outro.

Quando decidiu que daria prioridade ao dever, sabia que era o certo, mas não tinha certeza se era o que queria. Ainda assim, foi atrás de Arthos depois de ele se despedir com isso em mente. Contudo, ouvir uma única frase vindo dele a fez mudar de ideia rapidamente.

“Eu teria que mudar em algum momento”.

Mais parecia um ultimato. “Não serei mais quem você conhece” daria no mesmo. “Ficarei longe de você” daria no mesmo. “Entre nós dois, nunca haverá nada a mais”.

Se fosse continuar seguindo o dever, ela teria permanecido indiferente e diria algo como “Finalmente, continue assim”. Uma verdadeira Caçadora da Irmandade agindo. Mas o que ela fez ao invés disso?

Era surpreendente o fato de que um beijo poderia resolver rapidamente um problema. E ela deixou para depois os problemas que ele definitivamente iria causar. Definitivamente, porque Arthos fez o contrário de afastá-la, e o beijo deixou de ser suficiente.

– Eu não ia bater em você. – Cieszyn falou, enquanto olhava nos olhos dele – E eu realmente não quero que você volte para Hynon agora.

Arthos ainda parecia abalado pelo beijo quando respondeu:

– ...Tá.

E como ela queria beijá-lo de novo...  E mais. Queria muito mais.

– Eu quero que você fique. – Cieszyn disse, sem pensar duas vezes.

– Não vou sair de Sozan. – ele respondeu, recuperando o seu humor.

– Aqui. – ela falou, mais explicitamente.

– Eu gosto do reduto. – Arthos disse. Ele realmente queria que ela dissesse...

– Comigo.

E ele conseguiu. Dane-se. Ela não estava com paciência para evitar as jogadas dele. Mas quando ele respondeu, estava mais sério, abandonando suas provocações:

– Sim. Eu também quero.

Bastou uma troca de olhares com o mesmo vigor e Cieszyn segurou a mão de Arthos, deu meia volta e andou a passos largos para a casa de hóspedes. Ela amaldiçoou o fato de o reduto ser grande demais, fazendo o quarto dela ficar um tanto distante de onde estavam. Mas a caminhada fez mais bem do que mal. Deu-lhe tempo para pensar. Deu à Arthos tempo para pensar. E nenhum dos dois desistiu do que estavam prestes a fazer.

Ela abriu a porta do quarto e ele a fechou após passarem. Cieszyn se livrou do seu casaco comprido deixando-o cair no chão e segurou as lapelas do sobretudo de Arthos, afastando-as pelos largos ombros dele, enquanto aproximava seus rostos para outro beijo.

Os feromônios – que ambos liberavam desde o corredor – formavam juntos uma composição muito forte. Muito diferente de quando feromônios de um alfa e um ômega se misturavam. Entre dois alfas, o domínio não estava definido. Os cheiros brigavam entre si. Não havia muita harmonia... Mas havia mais intensidade. Muita intensidade.

Com o sobretudo fora, as mãos de Arthos desceram da nuca e do ombro de Cieszyn pelas costas dela, sobre a roupa, até o coldre para facas que ela usava atrás da cintura. Ela sorriu, separando brevemente suas bocas, enquanto ele a desequipava daquela arma, por ter sido a primeira coisa que ele procurou para tirar dela.

– Mais alguma? – ele perguntou, próximo ao ouvido dela.

– Não. – Cieszyn respondeu, abrindo a camisa dele com força, espalhando os botões pelo chão.

Arthos a abraçou, beijando o seu pescoço, colocando as mãos por baixo da camisa dela, acariciando suas costas, provocando arrepios por todo o seu corpo. A impaciência veio mais forte, e Cieszyn começou a andar para trás, levando Arthos com ela para a cama. Quando suas pernas encostaram na beirada, ela trocou de lugar com Arthos, virando-o, fazendo-o se sentar na cama, subindo sobre o colo dele, com as pernas ao redor do seu tronco.

Cieszyn puxou a camisa dele dos seus braços, arrastando as mãos por seu peitoral, seu abdome firme, gravando na superfície das suas palmas cada curva como se reconhecesse território. Seu território. Ela sentiu as mãos de Arthos descerem pelas suas coxas e em busca dos sapatos de Cieszyn – os únicos empecilhos para tirar-lhe a calça – quando ouviu o tinido de uma lâmina ser puxada da bainha. Ela se separou de Arthos o suficiente para procurar de onde tinha vindo o som e o viu olhando para ela, estreitando os olhos, com uma faca pequena na mão.

Não, ela disse. – Arthos falou, provocando-a.

– Oh. – Cieszyn pegou a faca da mão dele – Eu me esqueci dessa aí.

Após dizer isso, ela jogou a faca para o lado e capturou os lábios alheios com os seus, ocupando-se em abrir o fecho da calça de Arthos. Assim que conseguiu, Cieszyn percebeu a intenção de Arthos em virá-la para a cama, para inverter as posições. Mas, antes disso, ela o segurou pelos ombros e o empurrou contra o colchão, inclinando-se sobre ele de modo a fazer com que seu próprio peso o mantivesse ali.

– Eu fico por cima. – Cieszyn disse.

Arthos olhou para ela como se ela tivesse dito algo realmente rude.

– Ah, não fica não. – ele disse.

Que ótimo”, Cieszyn pensou, abusando da ironia. Até numa situação como aquela... Eles tinham que brigar.

Independente da posição, sempre haveria aquela que era a institivamente predominante. E que definia quem tomaria o controle. Cieszyn gostava de ter tudo sob seu controle.

– Eu sou uma alfa. – ela disse, irredutível.

– E eu sou uma torta de maçã. – Arthos falou, transbordando sarcasmo.

Pelo jeito... Não era só ela que gostava de ter o controle.

– Certo, vai ser do seu jeito... – ela falou, apertando os ombros de Arthos com mais força – Se conseguir me tirar daqui.

Ela estava sendo absolutamente errada em usar sua força – maior que a de Arthos – para resolver aquele impasse? Sim. E ela não se importava nenhum pouco com isso.

Arthos segurou os braços de Cieszyn e tentou tirá-los dali para se levantar, mas mal conseguiu tirar suas costas da cama. Não tentou novamente, ciente de que perderia seu tempo.

– Como você joga sujo, Cieszyn Van-Bahr. – Arthos falou, indignado – Sabe quem nunca faria algo assim comigo?

O comentário de Arthos cumpriu bem o seu propósito e fez o sangue de Cieszyn subir à cabeça. Mas o resultado talvez não tenha sido como ele imaginara. Movida pela irritação, Cieszyn avançou para cima dele e abocanhou um lado do seu pescoço, sentindo um pouco do gosto férrico de sangue na sua boca e o corpo de Arthos se contrair pela dor.

– Aah! – Arthos arfou, afastando-a um pouco – Por que você fez isso?

– Vá mostrar isso pra ela. – Cieszyn respondeu.

– Cys, ciúmes demais é patológico. – Arthos disse, fingindo descaradamente estar falando sério – Você precisa de ajuda profissio-

Cieszyn interrompeu Arthos ao soltar seu ombro e virar a cabeça dele para expor o lado do pescoço que ela não mordeu.

Ainda.

Porém, o avanço dela foi impedido pela mão de Arthos cobrindo a sua boca.

– Pare já com isso, qual é o seu problema? – ele disse.

O olhar dela para ele ela muito claro: sua tolerância sobre aquele assunto era menor que zero.

Arthos suspirou. Ele tirou a mão que tapava a boca dela e perguntou:

– Você vai parar de me morder se ficar por cima?

– Sim. – ela respondeu, pegando o braço dele e beijando seu pulso – A não ser que você peça.

Cieszyn levantou uma das pernas dele por cima da sua, e enfiou a mão por dentro da calça que já tinha aberto, trazendo para fora o pênis já excitado, estimulando-o ainda mais com a sua mão. Ela sentiu Arthos estremecer abaixo dela e um suspiro de prazer escapou da sua garganta.

– Por que eu pediria... – Arthos falou, tentando controlar sua voz – Pra você...

– Por que não? – Cieszyn disse, parando de tocá-lo para tirar a própria camisa.

Despida da cintura para cima, deixando seu longo cabelo branco de um lado só, Cieszyn voltou a se inclinar sobre Arthos, colocando as mãos dele no seu quadril, sobre sua calça, incentivando-o a livrá-la daquelas últimas peças de roupa ele mesmo.

– Eu deixo você ficar por cima... – ela sussurrou, selando seus lábios contra os dele brevemente – Depois dessa vez.

Porque naquela vez, naquele momento, ela faria com Arthos exatamente o que queria, da forma que queria. E não era porque era o seu dever. Era porque era a sua vontade.

Ser tão inconsequente quanto Arthos pela primeira vez na vida nunca tinha sido tão prazeroso.

Lá fora, o céu parecia estar caindo. O barulho alto da chuva não podia ter vindo em momento mais conveniente.


Notas Finais


Chooooooove chuva!!!!

Quem sabe daqui a um tempo o pedido de Laulliet para Klaus segurar sua mão vire algo mais parecido com o pedido de Arthos por uma mordidinha marota de Cys no rala e rola, hum? (Eu dando ideias a mim mesma).

Cuidado com o coronga, povo bonito. Atenção sempre ^^


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