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História Dezessete Mil Sentidos para Park Jimin - Capítulo 16 - Protetor


Escrita por: icebluegguk

Notas do Autor


Boa tarde, rs.

Com menos de um mês desde a última atualização, volto para vocês cOM 15 MIL PALAVRAS.

Vou aproveitar este leve momento de surto para anunciar para vocês que a @Cosmic_Boards está vendendo um kit fanmade de DMSPPJ que terá um brinde especial feito por mim!

Eu criei uma conta no Ko-fi, uma plataforma onde artistas tentam ganhar um pouquinho com a arte deles, hehe. Já que sou escritora, criei 4 tipos diferentes de assinatura; então, há opção de membro para ter acesso exclusivo à spoilers das minhas obras em andamento e obras que pretendo postar futuramente (já postei o primeiro capítulo de duas obras futuras no ko-fi inclusive), além de receberem recompensas exclusivas quando as metas forem atingidas. O link está nas notas finais, quem puder compartilhar ou assinar como membro, eu ficaria muitíssimo agradecida!


Não esqueçam de usar a tag #BlueDay no twitter para comentarem sobre o capítulo novo, ok?!

Desculpem-me se acharem algum erro ortográfico, o capítulo ainda será revisado.

Espero que gostem e aproveitem muito a leitura. ❤

Capítulo 17 - Capítulo 16 - Protetor


Fanfic / Fanfiction Dezessete Mil Sentidos para Park Jimin - Capítulo 16 - Protetor

☾ Há muitas coisas que eu gostaria de dizer a você, mas eu não sei como. Porque, talvez, você será aquele que me salva de tudo. E, no fim de tudo, você é meu protetor. ☽

― “Wonderwall”, Oasis

 

 

Existem várias coisas que eu gostaria de ter o poder para mudar, o passado era uma das principais delas. Quando você para e pensa demais em certas injustiças da vida, como o fato de nosso passado ser algo imutável e corroer tanto as coisas boas que sua mente falha em produzir no presente, consegue perceber o reflexo de cada coisa que poderia ter feito diferente, mas que — nem sempre — é culpa sua. Perceber que não há nada que você poderia ter feito na época em que aconteceu é — e digo isso por experiência própria — a pior sensação que você pode sentir nessa vida.

Não me importo de me usar como exemplo, então, vamos lá.

Eu gostaria de ter tido o poder de saber que um pedófilo estaria na esquina da vizinhança de minha avó, quando eu era criança, antes que eu saísse pela porta de sua casa e tudo que se seguiu acontecesse. Entretanto, eu tinha seis anos — quase sete — e, se tem algo que não podemos esperar, é que um tipo de aviso divino caia sobre nós, nos alertando sobre todos os perigos que poderíamos encontrar na próxima curva.

Achar um cantinho da minha mente para enterrar aquela lembrança foi a forma que meu estado emocional achou para me defender de todas as sequelas que aquele acontecimento poderia me causar — e causou. Esquecer foi a maneira que encontrei para lidar com aquilo, mas que se mostrou ineficaz assim que me apaixonei por outra pessoa. Demonstrar meus sentimentos se tornou algo difícil demais, complicado demais.

— Eu quero ser o suficiente para ele — finalmente disse, coçando minha mão esquerda com as unhas dos dedos da mão direita, evitando olhar para a pessoa que me avaliava — Mas é como se minha cabeça insistisse em esfregar na minha cara que eu não sou uma pessoa inteira, então, nunca vou ser suficiente para ninguém.

— O que faz você acreditar que não seja suficiente para ninguém? — a psicóloga perguntou.

Acontece que, depois daquela noite, Seokjin acabou contando o que havia acontecido para os outros meninos, mesmo eu insistindo para que não fizesse isso. Fiquei sem falar com ele pelo tempo máximo possível, ou seja, duas horas, e Min Yoongi cumpriu sua promessa de anos atrás, que consistia em marcar uma primeira consulta com um profissional em Psicologia, me colocando dentro de um táxi à força na data e me acompanhando até o consultório.

Eu fiquei emburrado durante a primeira consulta inteira, é claro, ainda mais quando descobri que Taehyung havia se candidatado para pagar todo o tratamento, porque era óbvio que não sobraria muita coisa do meu salário para mim mesmo, caso eu decidisse frequentar o consultório periodicamente. De qualquer maneira, não era como se eu tivesse muitas escolhas.

A única pessoa que não se estressou com meu período de negação foi Park Jimin; ele constantemente me encarava com aqueles braços cruzados, bico nos lábios e olhar irritado, dizendo coisas como “não seja tão irritante, nossos amigos querem te ajudar” e “você vai se sentir melhor se tiver com quem conversar sobre coisas que te incomodam, hyung”. Era estranho como, mesmo que estivesse bem claro que todos eles estivessem tentando me ajudar, eu me sentia cada vez mais como um peso, cada vez pior, cada vez mais dispensável.

— Eu não sei — respondi, suspirando com frustração — Não sei o motivo, mas me sinto assim quase sempre.

— Tente pensar em algo que você atribuiu a esse sentimento de insuficiência — a psicóloga instruiu; eu gostava da voz dela, era calma e suave, me passava a mesma sensação de estar deitado em um tapete felpudo — Consegue pensar em algo que desperta esse sentimento?

Eu assenti.

— Pode me dizer o que é?

— Minha mãe — respondi, sem pestanejar, decidindo olhar para ela dessa vez — Ela não me ama.

— Como você sabe? — perguntou, fazendo algumas anotações no papel já cheio de rabiscos que eu não conseguia identificar — É só uma impressão ou algo que tenha ouvido?

— Ela me disse diretamente que não conseguia me amar — soltei, como se estivesse me afogando e alguém tivesse me alcançado, soprando uma quantidade significativa de oxigênio para dentro de mim, para que eu conseguisse aguentar até chegar à superfície — Minha mãe nunca teve uma vida muito fácil, sabe? Ela é... hm... ela vende o próprio corpo... entende...?

— Você pode falar, Jungkook.

— Mamãe é prostituta — então, eu estava na superfície, mas o oxigênio fazia tudo arder ao chegar em meus pulmões — Ela nunca me contou direito o que a fez partir para esse caminho, ou como eu fui concebido, mas imagino que tenha alguma relação. E-Ela disse... disse que tentou me amar, mas que não conseguiu.

Não era o assunto mais convidativo para uma conversa, mas eu me sentia bem em contar as coisas para a senhorita Minji — Lee Minji, minha psicóloga —, porque ela sempre se mostrava disposta a me ouvir. Depois de pesquisar na internet e ler relatos de tantas pessoas que não se identificaram muito com os profissionais com os quais buscaram tratamento, ou não tiveram empatia, eu tive medo de que o mesmo acontecesse comigo e fiquei extremamente aliviado por ter dado sorte.

A fase da anamnese não foi a mais confortável, obviamente; era meu primeiro encontro com uma mulher completamente estranha em minha vida e ela me fez várias perguntas pessoais — pessoais demais —, mas foquei no fato de que queria sair daquela prisão que era minha mente, eu precisava e queria ser livre, então as respondi, mesmo que precisasse me acalmar por vários minutos antes de pronunciar minhas respostas. E Minji esperou por elas, com muita paciência.

Provavelmente, você deve estar pensando “é claro que ela foi paciente, ele estava sendo paga para isso”. Bem, esse pensamento faz muito sentido, sim. Mas existe uma grande diferença entre ser pago e fazer um trabalho qualquer, sem uma real vontade em atingir o objetivo principal daquilo, e ser pago por uma coisa que se está fazendo com prazer, felicidade e vontade.

Conseguia sentir que Minji queria me ajudar, tanto quanto eu queria me sentir melhor.

Talvez o dia em que ela fez a pergunta “já sofreu algum tipo de abuso sexual?” tenha sido o dia em que mais chorei na frente de alguém, ninguém nunca havia mencionado aquelas palavras perto de mim; todos sabiam o que havia acontecido, meus amigos, minha mãe — exceto Jimin — e nenhum deles conseguia colocar aquilo em palavras. Ouvir foi difícil, afirmar foi ainda mais, detalhar conseguiu ser pior.

Eu tive que encarar aquela realidade; meu nome era Jeon Jungkook, vinte anos de idade, me sentia insuficiente para qualquer pessoa, porque minha própria mãe sequer conseguiu me amar, havia sido sexualmente abusado, violado, por um desconhecido há quase treze anos, tinha um relacionamento familiar completamente desestabilizado e me formei no ensino médio um ano mais tarde do que seria considerado “normal”.

Jeon Jungkook, oficialmente diagnosticado com transtorno depressivo recorrente e transtorno de estresse pós-traumático. A única coisa que passou pela minha cabeça era a afirmação constante de que eu era mesmo um problemático, não falei com Yoongi dentro do carro, mesmo que ele fizesse perguntas insistentes de como eu estava me sentindo depois daquela sessão, não falei com ninguém. Nem com Jimin.

Ele só ficou ao meu lado, deixando-me abraçá-lo e me fazendo carinho, quando minhas narinas já estavam congestionadas e meus olhos inchados, por conta do tempo que fiquei chorando sem parar. Era perceptível que Park queria saber o motivo, mas me compreendeu e não perguntou.

As meditações que minha terapeuta me pediu para fazer quando sentisse que um período de crise estava próximo, ou quando pensamentos negativos começavam a rondar minha mente, não fizeram muito efeito nos primeiros dois meses, assim como a medicação que o psiquiatra que ela indicou me receitou. Eu acabava dormindo uma noite inteira, mas acordava com sono demais, aéreo demais, e isso não era bom para mim, tanto na parte fisiológica, quanto na social.

— Você disse que tem um namorado, certo? — Minji perguntou.

Como se só de imaginar o rosto de Jimin já me fizesse uma pessoa diferente, eu sorri.

— Sim — respondi, sem tentar esconder meu ânimo — O nome dele é Park Jimin.

Ela também sorriu.

— Você gosta dele?

Eu o amo.

— Sim — respondi, sem precisar pensar muito — Eu gosto muito dele.

— Como ele é com você?

— Para ser bem sincero, ele me surpreende mais a cada dia que passa — admiti, com um risada breve — Ele é compreensivo e tenta sempre me agradar, é naturalmente adorável, facilmente confundível com uma figura angelical, ele é lindo demais e… nossa, Jimin é tudo que eu jamais pensei que pudesse existir… ele faz eu me sentir seguro e querido e real e-

— E ele é muito especial para você — ela me interrompeu, parecendo comovida com meu jeito tagarela quando se tratava de Jimin — Eu entendi.

— Sabe, Jimin tem autismo moderado — eu contei, Minji pareceu surpresa, mas aguardou para que eu continuasse — Por muito tempo, eu me neguei a aceitar o que estava sentindo. Me neguei a aceitar minha sexualidade e o fato de estar apaixonado por um garoto autista, não por vergonha, mas porque me importava demais com a opinião das outras pessoas.

— Há quanto tempo estão juntos? — ela parecia levemente curiosa sobre aquele assunto em especial.

— Cinco meses, oficialmente, como namorados — eu ainda sorria — Começamos apenas nos vendo diariamente, ele gosta muito de músicas antigas, então, eu sempre ouvia com ele. A mãe dele pediu para que eu cuidasse dele durante a semana, porque ela… huh… também trabalha a noite toda, então, nos tornamos cada vez mais próximos.

— Você tem uma rotina bem diferente da dos jovens da sua idade, hm?

— Tenho, mas não acho ruim — dei de ombros — Eu adoro passar meu tempo com ele. Sinto falta agora, porque trabalho até às quatro, mas estou começando a me acostumar.

— Como ele lidou com essa mudança repentina na rotina? Foi complicado?

— Um pouco. Acho que ele ainda está se acostumando, os primeiros dias foram bem complicados, ele se estressava demais e não me deixava chegar muito perto.

— Como é o entendimento dele sobre a situação toda? Como funciona a dinâmica entre vocês?

Perguntas direcionadas a um assunto específico sempre me deixaram muito nervoso, parecia haver mais pressão para respondê-las, era como se a expectativa aumentasse, como em uma prova de Química — uma das matérias que eu mais odiei na época da escola, depois de Fisica. Eram as mais difíceis de responder, porque eu precisava pensar um pouco mais, e minha mente ainda estava tentando se organizar.

— Às vezes, acho que ele é melhor nisso do que eu — eu disse, sem o sorriso — Nessa coisa de relacionamento.

— Por que você acha isso, Jungkook?

— Existem alguns momentos em que… eu realmente não me sinto a pessoa mais certa para ele, que ele merecia alguém melhor. Mais completo.

— Que momentos são esses? — Minji fez algumas anotações — Pode me dizer?

— Momentos mais íntimos.

Falar sobre aquele assunto ainda era uma coisa muito complicada para mim, mesmo que não fizesse sentido nenhum. Era estranho quando concluía que não me importaria muito se estivéssemos conversando sobre meu envolvimento sexual com outra pessoa, mas que, como era com Park Jimin, se tornava algo grandiosamente diferente e ainda mais íntimo.

Jimin era tudo que meu corpo pedia, mas as lembranças conseguiam ser mais fortes e eu detestava isso, porque conseguir ser dele, pertencer somente a ele, era o que eu mais queria; era como uma vontade incessante em meu peito. Sempre que o via, tudo dentro de mim gritava para que eu encontrasse alguma maneira de estar mais junto a ele do que nossos corpos fisicamente podiam suportar.

Não chegava a me sufocar nunca, só era muito intenso.

— Vocês já transaram?

Eu quis cavar um buraco, me esconder nele e nunca mais sair.

Respirei fundo, desviando meus olhos arregalados de suas vistas, encarando meus pés esticados sobre o divã da sala de Lee Minji e tentei enxergar o lado positivo de estar sendo questionado sobre as minhas mais recentes aventuras sexuais — que eram, na verdade, inexistentes. Percebi que estava nervosa por conta da pergunta, mas que, no fundo, não me sentia desconfortável em estar conversando com Minji sobre aquilo, porque sabia que ela saberia dizer algo que serviria como um exercício para mim, ela saberia me ajudar com aquilo.

— Não... t-transamos... — tudo bem, Jungkook, vamos lá — Não acho que isso esteja prestes a acontecer tão cedo também, não é isso.

— Me explique melhor, então — ela pediu, seu sorriso conseguia afastar o peso inicial que se fez sobre meu coração, deixando-me hesitante e com medo.

— Eu fico muito assustado quando ele... me toca... — cocei a nuca, aquilo era constrangedor.

— Até onde esses toques vão?

— Não vão muito longe, sabe, eu não o deixo ir muito além... — constrangedor, constrangedor — Na verdade, é quando ele tenta me tocar. Na primeira vez em que nos beijamos... de verdade, ele foi ousando um pouco demais nos toques e... segurou meu quadril com muita força. Eu me senti mal e disse que tínhamos que parar.

Ela apenas assentiu, como se estivesse pedindo para eu continuar.

— Quando nos beijamos por muito tempo, ele parece ficar mais agitado — murmurei.

— Vocês já conversaram sobre essas situações?

— Na última vez que conversamos sobre isso, foi ele quem tocou no assunto — respondi, mordendo o lábio inferior por estar nervoso — Ele apontou sobre eu nunca deixá-lo me tocar e eu pedi para que não conversássemos sobre isso.

— Por que não queria conversar com ele sobre algo assim?

— Não me sinto confortável, tive medo de que ele desconfiasse de algo sobre o que aconteceu comigo. Eu não quero que ele saiba.

— Você acha que ele não lidaria bem com a informação? Que seria demais para ele?

Assenti, concordando.

Era exatamente o que eu temia; a reação de Jimin.

Eu havia prometido que nunca o machucaria, de nenhuma forma.

Eu não queria machucá-lo.

— Bem, você o conhece melhor que eu, é claro — Minji tinha o tom de voz um pouco mais sério dessa vez — Mas disse que ele vem surpreendendo você, certo? Não acha que deveria dar mais esse voto de confiança à autonomia dele?

— Ele é incrível, sim, mas acho que se afastaria ainda mais de mim se eu contasse. Acho que Jimin ainda não precisa saber desse tipo de coisa.

— Quando você se afasta dele, nesses momentos mais intensos, ele não se sente... rejeitado?

Lembrei-me da maneira afetada que Jimin olhou para mim naquela noite, quando eu o afastei e não quis respondê-lo de primeira quando me perguntou se eu o desejava. A verdade era que tudo estava confuso para mim, mesmo que cinco meses já tivessem se passado, o tempo parecia estar em uma velocidade muito superior ao que meu nível de compreensão podia acompanhar, só bagunçava meus sentidos ainda mais.

Como já contei antes, tudo que sentia por Jimin era muito diferente do que haviam me ensinado sobre amor; eu pensava que o amor que diziam sentir pela pessoa com quem você quisesse passar o resto da vida ao lado não existisse e — agora que estava vivendo na pele a experiência que era senti-lo e a felicidade que era saber ser recíproco — só conseguia me sentir dentro de um sonho, a pessoa mais sortuda do mundo, aquele era o maior de todos os milagres, porque era genuína e puramente amor.

Eu sentia, sim, desejo pelo corpo de mim, atração física. Queria ter a oportunidade de vê-lo nu e poder me aproveitar da visão privilegiada que teria de todos os ângulos de seu corpo, só de imaginar o quão corado ele deveria ficar em momentos assim já me deixava arrepiado.

Mas eu sabia que seria diferente conosco, porque não era desejo levado pelo puro sentimento de luxúria, por necessidade carnal ou pela satisfação do ato de simplesmente foder alguém. Não era isso que eu queria, não era disso que eu precisava, não com Jimin.

Éramos diferentes, porque sabíamos que havia mais do que desejo carnal, porque não estávamos imaginando o corpo do outro e elaborando as maneiras diferentes que poderíamos satisfazer um ao outro com atitudes ousadas e libidinosas, não queríamos seduzir o outro, porque não precisávamos disso. Éramos diferentes, porque o pensamento de que, em algum momento, nossos corpos estariam unidos — sem começo, meio e fim, apenas um único segmento — já era o suficiente para que as respostas fisiológicas acontecessem para que aquela finalidade chegasse.

Eu só queria ser dele, queria sentir que ele era meu por um momento, que éramos um do outro; queria sentir aquela explosão de prazer, que todos diziam ser tão boa quando tido com alguém que se ama muito, por estar pertencendo a ele naquele breve momento.

E era por isso — por ter todos esses pensamentos — que a ideia de Jimin se sentir rejeitado quando me afastava dele, nos momentos que ele pedia mais pela minha aproximação, me deixava entristecido. Eu o queria mais que tudo, só era complicado.

— Nós conversamos — decidi contar — Fiz ele entender que não estava o rejeitando.

Ela sorriu.

— Você parece saber lidar bem com a situação, Jungkook — observou ela — Isso é bom.

Eu estava aliviado por, pelo menos, ter recebido algum elogio sobre como estava controlando uma parte da minha vida.

— Eu quero ser o melhor para ele — disse.

Minji assentiu novamente, olhou bem em meus olhos e disse:

— Vamos começar ajudando você a ser melhor para si mesmo. É a única maneira para que atinja seus outros objetivos.

 

 

— Sai daqui, seu fedorento! — ouvi Taehyung gritando assim que entrei em minha casa.

Minha casa… Taehyung…

Eu estava tentando entender o possível motivo de Kim Taehyung estar em minha casa em pleno sábado de manhã, enquanto minha mãe dormia no andar acima, xingando alguém — escandalosamente — de fedorento. Minhas consultas eram das nove até às dez da manhã, todos os sábados, a única vontade que eu tinha quando chegava em casa era dormir, para estar bem disposto quando fosse encher meu namorado de beijos.

— Fedorento é você!

Suspirei, enquanto tudo fazia sentido na minha cabeça, após ouvir a voz de Jimin xingando Taehyung de volta. Desliguei “Wonderwall”, que tocava já pela terceira vez na minha playlist, gostava de ouvi-la enquanto caminhava de volta para casa, porque era calma e não me deixava cansado, já que a clínica da doutora Lee era um pouco longe de casa. Assim que me livrei dos fones, conseguia ouvir a pequena discussão dos dois seres na minha cozinha, com “Mission Control” do Knox Hamilton de fundo.

— Como você conseguiu quebrar o ovo na própria cabeça, Jimin? — Taehyung questionou, desacreditado.

A partir do momento em que ouvi isso, comecei a andar em direção à cozinha mais rápido.

Eles vão destruir minha casa.

— Você encostou nele enquanto eu estava agachado, hyung! — devolveu o mais novo — Ele foi rolando, até cair na minha cabeça!

— Acentuou o amarelinho do seu cabelo, pelo menos.

— Eu vou te colocar dentro desse liquidificador, ligar ele e-

— O que vocês fizeram com a minha cozinha? — eu interrompi sua ameaça, ficando estático na porta do cômodo, tentando me convencer de que aquilo era apenas uma ilusão.

Eu estava sentindo cheiro de chocolate queimado, a mancha marrom grudada no fogão explicava o motivo disso, havia farinha espalhada pelo chão, a pia estava lotada com potes de plástico e uma gosma branca esquisita. As duas figuras no meio delas — Jimin e Taehyung — estavam estáticas, encarando meu rosto incrédulo, completamente mudas e com os olhos arregalados.

— Hyung! — Jimin tomou a frente, largando a tigela onde misturava alguma coisa em cima do balcão da pia, antes de correr até mim com as mãos agitadas — Eu pensei que a consulta ia demorar um pouco mais!

— Anjo, já são dez e meia da manhã, eu nem sabia que você estava aqui em casa — eu disse, segurando seu rosto com ambas as mãos, sorrindo por ter um pouco de farinha em seu rosto também, depositando-lhe um beijo na testa — Por que estão tentando destruir minha cozinha, hm?

Seu semblante suavizou-se, mas ele ainda parecia agitado.

— Não seja bobo, não estava tentando destruir nada! — ele respondeu, cruzando os braços — Só estava tentando fazer aquele bolo de morango que Seokjin-hyung me ensinou!

Olhei por cima de sua cabeça, dando mais um bom vislumbre no local bagunçado, notando que Kim Taehyung ainda estava esperando uma reação escandalosa minha, enquanto apenas assistia meu momento de encanto pelo meu namorado, que já nem era mais uma novidade.

— Não teria sido mais simples se tivessem chamado ele para ajudá-los? — perguntei, entortando a boca, porque teria que ajudar a limpar tudo aquilo.

— Nós chamamos, hyung, no grupo daquele aplicativo de mensagem.

Franzi as sobrancelhas, tirando as mãos de seu rosto para alcançar meu celular.

Eu não lembrava de ter visto mensagens deles dois chamando Seokjin, senão teria estado mais preparado para a cena que encontrara em casa, ou teria tido tempo para impedir aquela destruição.

— Tem certeza? — disse — Eu não lembro de ter visto nada.

— Não foi nesse grupo, hyung — Jimin negou com a cabeça — Foi no grupo das Três Espiãs Demais!

Eu estava mesmo muito desacreditado.

— As Três o quê?

— Jimin! — Taehyung gritou, correndo até nós, os olhos de Jimin aumentaram de tamanho novamente quando olhou para o outro mais velho — Se mais pessoas, além de nós três, sabem do grupo, ele deixa de ser secreto!

— Ah, não! — ele apertou as mãos contra a boca, depois as agitou, como se quisesse rebobinar o que havia acabado de acontecer — Esquece o que eu disse, hyung! Eu nem sei o que é As Três Espiãs Demais!

Eu fiquei assistindo aquela cena maravilhosa a minha frente, de Park Jimin tentando mudar toda a informação que já havia me entregado, enquanto Kim Taehyung revirava os olhos e voltava a encará-lo com decepção, os dois acabavam discutindo — aquele tipo de discussão que é impossível de se levar a sério. Negar meus sentimentos por aquele garoto parecia ter sido algo completamente impossível que eu pudesse ter feito algum dia, só o fato de já tê-lo feito já me dava vontade de rir de mim mesmo.

Afirmar que meus amigos e Park Jimin foram as melhores coisas que já aconteceram em minha vida era um fato, além de ser totalmente verdadeiro.

Eles eram os únicos que faziam eu sentir diferentes tipos de amor, coisa que jamais soube que poderia sentir. Eu era um homem cheio, inundado, transbordado de amor; eu amava e era amado na mesma intensidade, com a mesma vontade. Eu sabia amar e sabia receber o amor de volta, mesmo que — em muitas vezes — achava não merecê-lo.

— Tudo bem, tudo bem, silêncio — eu acabei me intrometendo, fazendo os dois ficarem em silêncio e com os olhos grudados em mim — Como minha mãe não acabou acordando com todo esse barulho? Essa é a minha maior dúvida, no momento.

— Ela saiu cedo com a minha mãe, hyung — Jimin respondeu, olhando para os próprios pés dessa vez, um pouco mais desanimado — Elas precisaram ir para um lugar.

— Que lugar?

Ele deu de ombros.

— Elas não me disseram — foi sua resposta.

Antes que eu insistisse mais, Taehyung se intrometeu.

— Enfim, vamos acabar esse bolo logo — a cobra disse, puxando Jimin delicadamente pelo ombro e empurrando-o em direção à cozinha — Ou seja lá o que isso aqui está virando.

— Não fala mal do meu bolo!

Ai, eu estou tão caidinho...

— Eu vou trocar de roupa, tudo bem? — avisei, dando um passo para trás.

— Tudo bem, hyung. Eu vou terminar o bolo e mandar o chato do Tae-hyung embora!

— Ei, por que vai me mandar embora? — Taehyung perguntou, incrédulo.

Meu sorriso se abriu tanto, que minhas bochechas começaram a doer, quando Jimin respondeu:

— Quero o Jungkook-hyung todinho para mim!

Eu subi os degraus da escada com certa preguiça, então, demorei mais do que o necessário, segui para a porta do quarto de mamãe, que estava aberta como naquele dia, bagunçada e — mais uma vez — com a mesma aparência de um quarto abandonado. Sempre fora muito fácil associar essa palavra a ela; abandono. Era o sentimento que ela mais exalava, sempre que passava tempo demais analisando-a, era o que mais me atingia, a sensação de estar abandonado.

Será que ela sente algo por mim?

Poderia ser qualquer coisa...

Esses pensamentos me consumiam, ao mesmo tempo que outros tomavam o lugar deles, como:

Você não merece “qualquer coisa”, Jungkook.

Você merece mais.

E, automaticamente, a lembrança de Jimin sussurrando-me as palavras “Você merece ser amado, Jungkookie” faziam eu me arrepiar inteiro. Acontece que muitas coisas estavam diferentes desde a noite em que chorei nos braços de Seokjin, logo após eu ter despertado daquele pesadelo, principalmente as “coisas” entre Jimin e eu.

Não era para a pior, é claro, mas não era para a melhor também.

Mesmo que nossos momentos juntos ainda estivessem acontecendo em um ritmo confortável, eles haviam se tornado mais curtos e, além disso, menos comunicativos. As aulas de Jimin haviam voltado e eu sempre ia buscá-lo quando podia e quando não estava cansado demais para isso, mas não eram muitos os momentos em que ele começava a falar sobre um assunto e não parava mais, assim como era mais comum encontrar-me perdido em meus próprios pensamentos com mais frequência do que antigamente, acabando por quase nunca estar atendo às palavras de qualquer pessoa ao meu lado.

Eu estava passando por uma fase estranha, não era confortável, mas minha mente parecia saber que era necessária. Me sentia mal pelos momentos a menos que compartilhava com meu namorado, porque sabia que ele também precisava de atenção, mas ele sempre se saiu mais compreensivo do que estava esperando, por isso ficava quieto na maior parte do tempo — mesmo não sendo um pedido meu particularmente.

As tardes que passávamos juntos durante a semana eram focadas em suas lições de casa, com beijos roubados esporadicamente — por parte de Park Jimin — e carícias eventuais em suas panturrilhas e rosto — por minha parte —, já que sempre nos sentávamos no tapete de minha sala.

— Você não vai descer? — a pergunta vinda com a voz de meu namorado me arrancou de minha viagem momentânea.

Eu havia acabado de vestir uma camiseta branca, estava com minha bermuda mais confortável e com os fios do cabelo levemente húmidos, por conta do banho recente, eles haviam crescido um pouco e eu não andava muito incomodado a ponto de cortá-los. Olhei em direção à porta de meu quarto, me deparando com Park Jimin vestido em sua calça de moletom e uma camiseta azul celeste, os fios de seu cabelo estavam mais desbotados e amarelados, mas ele continuava lindo, como meu anjo particular.

Lindo, como só o meu amor poderia ser.

— Está tudo bem? — ele perguntou, cruzando os braços relaxadamente e escorando o braço direito no batente da porta.

O fato de sua expressão facial ter mudado tão drasticamente ao proferir aquela pergunta, como foi de relaxada à preocupada, só por querer saber se havia algo de errado comigo... aquilo fez eu me apaixonar um pouco mais por ele, como acontecia todos os dias.

Estava tocando “Watch You Sleep” do girl in red quando eu estendi meus braços em sua direção, sabendo que meus olhos estavam brilhando quando chamei-o:

— Vem aqui.

Seu semblante se suavizou um pouco mais quando seus olhos focaram em meu pequeno sorriso, ele se aproximou devagar, lentamente entrelaçando seus dedos com os meus, até que seu peito encostou no meu e todo meu mundo se transformou nos traços de seu rosto. Era meu universo particular, ao qual apenas eu tinha acesso, meu único verdadeiro lar.

Desfiz os nós que uniam nossas mãos e segurei seu rosto com ambas as minhas, acariciando as maçãs de seu rosto com meus polegares, assistindo o tom avermelhado tomar conta de suas bochechas, como se desse cor a tudo em nossa volta; como se apenas Park Jimin pudesse me ajudar a transformar o mundo em um lugar vivo.

— Você está lindo hoje, Minie — sussurrei.

Se os olhos são mesmo as janelas de nossa alma, nossas almas estavam se amando entre elas naquele exato momento.

Jimin sorriu e eu sorri com ele.

— Seu bobo — ele disse — Me deixou ansioso apenas para me dizer que estou bonito.

— Foi por uma boa causa, então! E eu disse que você está lindo, não apenas bonito.

— Você é um mentiroso, Jungkookie-hyung! — ele acusou, dando-me um tapa leve no ombro, sem se afastar um centímetro sequer de meu corpo — Eu estou todo sujo de farinha, hyung, isso não é nada bonito.

— Quem disse um absurdo desse?! — fingi estar desacreditado com sua afirmação — Com certeza, essa pessoa nunca viu Park Jimin sujo de farinha!

— Aish, Jungkook!

Ele escondeu o rosto entre as palmas das mãos, completamente constrangido, mas ainda alegre com meus elogios. Assim que me rendi às risadas também, ele começou a gargalhar, escondendo o rosto em meu peito dessa vez, como naquela noite na praia. Eu estava explodindo novamente e era, tão, tão bom.

— Onde está Taehyung? — perguntei, ainda com aquele tom de divertimento na voz.

Eu estava com saudade da sensação de leveza que os momentos com o homem que amava me proporcionavam, sentia falta dele.

Ainda com um sorriso preguiçoso nos lábios, Jimin voltou a olhar para meu rosto — com o seu mantendo o tom vermelho — e respondeu, orgulhoso:

— Eu o expulsei!

Acabei rindo anasalado, achando incrível como ele conseguia fazer o meu sorriso nunca morrer quando o causava.

— E o bolo?

— Eu o joguei fora — ele forçou um semblante frustrado — Estava horrível, hyung! Acho que só consigo fazer um bolo bom com a ajuda do Jin-hyung.

— Você pode tentar chamá-lo na próxima vez... — segurei-me para não rir quando continuei: — No seu grupo das Três Espiãs Demais.

Ele franziu o cenho, eu conseguia diferenciar exatamente quando ele estava fingindo uma expressão ou não — por melhor em disfarçar que ele fosse — e, naquele exato momento, Park Jimin estava fingindo, ele estava brincando comigo.

— Aish, hyung, você debocha tanto de mim — ele murmurou, como se estivesse sentido — Você não tem sido um bom hyung para mim, Jungkook.

— Não tenho sido um bom hyung?! — arregalei os olhos, mais do que satisfeito em entrar na brincadeira, percebendo um brilho peculiar nos dele assim que o fiz; era certo que Jimin estava aprontando alguma coisa — Como eu poderia corrigir esse erro terrível?

Eu nem precisei pensar muito, porque parecia que Jimin estava esperando exatamente por aquela pergunta para agir, facilmente interpretando meu lado mais apaixonada e completamente bobo por ele. Em uma fração de segundos, seus braços estavam ao redor do meu pescoço e seus olhos, fechados.

— Ainda não me beijou hoje — ele disse.

— Você está me saindo um belo de um beijoqueiro ultimamente, Park Jimin — retruquei, rindo suavemente.

— A culpa é sua!

— Minha?!

O motivo de minha repleta euforia naquele momento — em quase todos os momentos em que passava pensando em Jimin, na verdade — era o fato de eu estar completamente disposto, qual fosse a hora, em fazê-lo mostrar exatamente a expressão que exibia enquanto nos olhávamos ali, prestes a iniciar um beijo. Seu rosto sorridente poderia fazer eu me mover ou tomar qualquer atitude, assim como sua infelicidade e seu olhar triste poderia me transformar no homem mais miserável do mundo.

Minha motivação era continuar fazendo-o feliz, fazendo-o sustentar aquele sorriso.

— Você me acostumou mal, Jungkook — ele murmurou, chegando um pouco mais perto com seu rosto, passeando os olhos lentamente dos meus lábios até meus próprios olhos, enquanto mordia o lábio inferior — Fez eu me apaixonar pelos seus beijos, como se já não fosse suficiente eu estar completamente apaixonado por você.

Ele me levava ao meu limite.

Não esperei mais um segundo sequer para unir meus lábios aos dele, meu coração explodiu novamente e eu soube que agora, mais do que nunca, ele estava completamente tomando pela cor azul, eu estava completamente tomado pelo amor que sentia pelo homem que beijava e que apertava seu corpo contra o meu, nos envolvendo ainda mais na intensidade daquele momento. Eu não queria me afastar, não queria parar, só queria amá-lo ainda mais.

Os dedos de Jimin acariciavam os fios de cabelo em minha nuca, os meus acariciavam a área de sua cintura, por cima da roupa. Nossos lábios apenas eram flexionados contra o outro no começo, causando alguns sons engraçados, mas que apenas me instigavam mais a ir um pouco além. Com isso, avancei minha língua timidamente, lambendo seu lábio inferior com suavidade, como se pedisse permissão para que continuasse com aquilo.

Com um suspiro de satisfação audível, ele me concedeu espaço em sua cavidade quente, e eu fiquei mais do que feliz com isso, expressando minha própria satisfação com um aperto um pouco mais forte na cintura dele, enquanto ele também firmava uma de suas mãos em minha nuca e a outra em meu rosto. Era como se ele tentasse me encorajar a seguir adiante com o que estava fazendo, com o que minha mente criava e me comandava a fazer, com cada lugar de seu corpo que minhas as células de minha derme gritavam para eu tocá-lo.

— Hyung, você se lembra do que eu disse naquela noite? — ele sussurrou, selando meus lábios a cada palavra proferida, não querendo realmente ter de fazer aquela tarefa de separá-los para que pudesse dizer — Lembra quando eu disse que gostava que fossem suaves comigo, quando estivesse calmo... e que me abraçassem com força quando não estivesse?

Sua última pergunta me fez paralisar.

Eu havia aprendido que precisava interpretar as entrelinhas das frases que Jimin soltava de tempos em tempos, com sorte, aprendera aquilo rapidamente, porque nunca teria sabido lidar com ele apropriadamente se não conseguisse. Apenas precisei encarar seus olhos com toda a profundidade que a situação exigia para ter certeza, para me assegurar que poderia experimentar aquilo, para me certificar de que Park Jimin queria tanto aquilo quanto eu.

Ele não estava calmo.

Jimin não queria suavidade.

Ele queria me sentir um pouco mais, tanto quanto eu queria senti-lo.

Quando ele me puxou de volta, “Like A Prayer” da Madonna estava começando a tocar e eu me senti dentro do melhor filme clichê já produzido no mundo inteiro. Jimin mordeu meu lábio inferior antes de tomar minha boca inteiramente com a sua, mas meus lábios não foram as únicas coisas que se entregaram a ele naquele momento, eu estava todo entregue.

Enquanto suas mãos me apertavam contra seu corpo, meu corpo o obedecia como se estivesse completamente rendido às vontades dele. Mantive meus olhos fechados, porque tive medo de abri-los e me assustar com as consequências que cada ato nosso poderia causar daquele instante a seguir, só queria continuar enquanto ainda me fosse permitido, até o limite que Park Jimin estipulasse ou minha mente nos desse.

Senti-lo daquela maneira era inexplicável, a maneira que nossas línguas procuravam mais pela outra, como se tivessem uma necessidade enorme de se acariciarem, ou como nossos toques se tornavam mais quentes e intensos, como se aquilo fosse capaz de nos fundir. Eu me sentia em uma cena em slow motion, em um daqueles filmes especiais que sempre mudava a vida de quem o estivesse assistindo e que sempre usava esse mesmo recurso nas cenas mais importantes. O que estávamos fazendo era importante, porque foi o primeiro passo que eu precisava avançar em minha longa caminhada de tentativas.

De repente, eu não ouvia mais a voz da Madonna, apenas uma música ambiente e instrumental ao fundo, algo como “Fall To Earth” do Andrew Lockington, onde cada toque servia apenas para dar mais intensidade ao modo nada discreto que Jimin me puxava em direção à cama. As coisas entre nós sempre foram desastrosamente certas e eu sempre amei isso, o fato de encaixarmos do melhor jeito possível, mesmo que parecesse que nossas vidas estavam tentando tomar caminhos diferentes.

O modo que eu o tratei quando éramos crianças fez com que ele tivesse receio de chegar mais perto de mim quando crescemos, o que me encorajou a insistir na vontade de mudar isso, acabando por causar nossos frequentes encontros em sua varanda para ouvirmos música; o fato de nossas mães trabalharem juntas — mesmo que Jimin não soubesse exatamente o que a dele fazia durante as noites — era um detalhe que ainda me pesava e me causava dor, mas que causou o pedido da senhora Park para que eu cuidasse de seu filho. Eu nunca havia cuidado de alguém que realmente precisasse de atenção, nunca tive muitas responsabilidades ou um ritmo de vida apropriado e saudável, as necessidades e as crises de Jimin me fizeram crescer. Park Jimin fez eu me descobrir, ele fez com que eu me lembrasse de meus traumas, fez com que eu buscasse por ajuda, fez com que eu aceitasse ser ajudado.

O amor que nós dois temos pelo outro me tornou o homem que nunca pensei ser capaz de ter dentro de mim, e que muito me orgulha ser nos dias de hoje.

Eu ainda não pensava assim naquela época, é claro.

Jimin acabou tropeçando quando estava perto demais da cama e caiu de costas no colchão, eu tropecei nos pés dele e precisei apoiar meu braço ao lado de seu corpo, para que o peso de meu corpo caísse completamente em cima dele. Quando nos encaramos e notei os olhos arregalados dele, acabamos explodindo em risadas, mesmo que anda estivesse me esforçando para manter a forças em meus braços para continuar com meu tronco erguido.

— Desculpe, hyung — Jimin disse, ainda que continuasse a rir descontroladamente — Se machucou?

Eu estava rindo junto a ele, só que de uma maneira um pouco mais observadora; gostava de reparar nos longos “rasguinhos” que seus olhos se tornavam quando ele sorria demais.

— Não me machuquei — respondi, aproximando meu rosto do dele — Eu estou bem.

Àquela altura, o som normal das coisas já havia voltado, não estávamos mais em câmera lenta, “Must Be Dreaming” estava tocando e a realidade estava começando a fazer sentido para mim. Eu estava mesmo em cima de Park Jimin, naquele exato momento depositando um beijo em seu pescoço, como se aquele tipo de proximidade fosse muito comum a nós dois, como se nunca tivesse um ataque a cada toque mais íntimo que ele tinha sobre mim, como se nunca houvesse lhe pedido para se afastar uma única vez sequer.

— Se sente bem? — perguntei em um sussurro, encostando meu nariz na pele um pouco abaixo de sua orelha, me permitindo sentir seu cheiro pela primeira vez.

Consegui sentir o corpo dele se remexendo, provavelmente por estar ficando arrepiado ou se sentindo nervoso demais.

Estava prestes a abrir meus olhos e me afastar, até ele dizer, no mesmo tom que o meu:

— Me sinto ótimo, Jungkook.

Sequer me preocupei em abrir meus olhos para me assegurar de que havia escutado direito olhando para ele, as mãos de Jimin apertaram meus ombros para que eu tivesse certeza de que podia seguir em frente, ele virou o rosto e fez meu lábios entreabertos se esfregarem em todo o caminho até seu queixo, até que eu erguesse meu rosto para encaixá-los aos dele.

Sem desfazer aquele contato, ajeitei meus joelhos para que se apoiassem sobre o acolchoado, um em cada lado de seu corpo, enquanto ele se apoiava nos próprios cotovelos e parecia tentar se erguer. Para ajudá-lo um pouco, eu também levantei meu tronco lentamente, até que me encontrei sentado sobre as coxas de Jimin.

Eu precisava me inclinar um pouco mais, mesmo estando em seu colo, para conseguir continuar beijando-o, ao mesmo tempo que ele precisava esticar levemente o pescoço para acompanhar meu ritmo, mas nada realmente nos atrapalhava. Se parasse demais para pensar no que estava acontecendo naquele instante, que eu estava sobre o corpo dele, enquanto suas mãos agarravam desesperadamente meu quadril e agora eu era a pessoa que mergulhava minhas mãos em seus fios dourados.

— Ei — sussurrei, ainda incapaz de desfazer nosso beijo, suspirando assim que as pontas de seus dedos da mão direita adentraram sutilmente sob o tecido de minha camiseta e tocaram minha pele — Eu acho que já é o suficiente por hoje.

— Hyung... — devolveu ele, descendo os beijos até meu pescoço — Isso é tão bom...

É agora que eu finjo um desmaio...

— Jimin — eu ri de nervoso, segurando seus ombros com leveza e afastando-o devagar, erguendo seu rosto quando já estávamos a uma distância favorável — Eu estou tentando superar, tudo bem? Mas ainda não estou pronto para algo além disso, não ainda. Você entende?

Parar era tão difícil para mim quanto era para ele, eu sabia reconhecer quando estava começando a ultrapassar meu limite agora, mas ainda me frustrava por saber que ele estava se aproximando, porque eu queria poder ir muito mais além do que aquilo — queria poder ir muito além de apenas beijos intensos e apertos. Minha maior vontade era tocá-lo diretamente, mais intimamente, sem ter medo de que minha mente acabasse criando imagens desagradáveis durante um momento assim; queria ter a chance de apenas esquecer tudo que acontecera antes do momento em que conheci Kim Namjoon.

— Tudo bem — Jimin sussurrou, desfazendo o aperto em minha pele, afastando suas mãos lentamente — Me desculpe por não parar quando me pediu, hyung.

— Não se preocupe com isso, anjo — depositei um último beijo em sua testa, preparando-me para sair de seu colo.

Deus, eu estava no colo dele, quase encostando no seu-

— Huh... Jimin... — eu murmurei, assim que me pus em pé a sua frente.

Olhos arregalados.

Meus. Olhos. Estão. Arregalados.

— Hm? — ele grunhiu.

Por mais constrangido que eu estivesse, eu precisava dar um jeito naquela situação. Ainda assim, não conseguia falar para ele o que estava acontecendo, então, tive que apontar para a área que eu precisava que ele controlasse no momento. Mais precisamente, apontei para a região no meio de suas pernas, onde um volume bem considerável estava presente.

Assim que seus olhos seguiram a direção que meu dedo indicador apontava, ficaram tão grandes quantos os meus, seu rosto tomou uma coloração extremamente avermelhada, fechando as pernas rapidamente e se levantando da cama com um pouco de dificuldade. Jimin arrumou a camiseta que vestia, alinhando-a corretamente no corpo, como se tentasse checar se o comprimento era longo o bastante para cobrir o que acontecia dentro de sua calça, mas não era.

— E-Eu vou... no banheiro... — apontou para baixo, já passando por mim e caminhando em direção ao cômodo que havia mencionado — Dar um jeito nisso...

Ele disse que vai “dar um jeito nisso”?

Ele não vai... vai...?

Oh, Deus, fuga, fuga, fuga.

Quando ouvi a porta do banheiro sendo fechada e trancada, me apressei para sair do quarto rapidamente, praticamente correndo ao descer os degraus da escada e me jogando no sofá, assim que estava na sala. Tudo que eu mais queria naquele instante, era que minha mente parasse de imaginar as coisas que Park Jimin deveria estar fazendo dentro do nosso banheiro, enquanto eu surtava no andar de baixo.

— Não é o momento, Jungkook — sussurrei para mim mesmo, respirando fundo e deixando-me relaxar sobre o estofado — Não é o momento.

Pelo resto daquele dia, nós apenas comemos chocolate e assistimos filme, até que nossas mães tivessem retornado. Não era muito difícil perceber que a senhora Park não estava muito bem, mas Jimin sequer pareceu surpreso, o que havia acontecido entre nós dois naquela manhã fora completamente esquecido e ele só quis saber do bem-estar da mãe.

Por eu ainda não saber sobre a situação da senhora Park, é claro que fiquei curioso na época, mas não me preocupei em perguntar o motivo de toda aquela preocupação; não parecia um assunto que Jimin estava aberto a conversar sobre, de qualquer maneira, e a mãe dele parecia desconfortável por estar tão “não-apresentável” em frente a alguém que claramente não apreciava muito a sua presença.

Como eu já havia dito, queria poder mudar várias coisas que aconteceram no passado.

Minha antipatia pela mãe de Park Jimin era uma delas.

 

 

Em um contexto geral, não houveram muitas novidades com o passar do ano; eu continuava sendo o caixa do café onde trabalhava, a grande diferença — porque eu, meus amigos, Jimin e minha psicóloga considerávamos isso uma mudança muito grande — era o fato de eu começar a ir para o trabalho com um sorriso no rosto, atender pessoas ainda sustendo-o na face e ser elogiado por dois ou três cliente frequentes. Aquilo estava começando a fazer eu me sentir bem, mais feliz.

Meu namorado preferia cupcakes de morango agora, então sempre separava um para levar comigo no final do expediente nas sextas-feiras; quando passávamos muitos dias da semana separados, eu fazia questão de buscá-lo na escola no último dia útil da semana, para lhe entregar o cupcake e para não desgrudar minhas mãos das dele. Jimin ainda se saía bem nas matérias da escola, mesmo que seu rendimento tenha caído um pouco nas primeiras semanas após eu começar a trabalhar.

Nós tivemos uma conversa séria sobre aquilo, que rendeu em algumas almofadas atiradas em minha direção por parte de Park Jimin, porque eu havia pedido que ele demonstrasse o quanto estava chateado por termos precisado a começar a passar mais tempo longe do outro. Pode até parecer algo adorável para alguém que assistisse a cena de fora, mas — particularmente — foi bem mais doloroso; apenas a aparência de Jimin é delicada, sua força, entretanto, é um fator que a contradiz.

— Nós nunca vamos ser o tipo de casal que faz algumas coisas só pelo modo adorável que ela parece ser — eu contei para Minji uma vez — Eu estava quase morrendo de amores com o bico que ele ficou nos lábios e, nos próximo cinco segundos, fiquei tonto com a força que ele jogou a almofada do sofá no meu rosto.

Eu conseguia ouvir os grunhidos que minha psicóloga fazia quando tentava não rir dos meus relatos que eram, na maioria das vezes, muito incomuns para alguém que, no ano anterior, poderia chegar ali reclamando da monotonia irritante que sua vida era. Eram em momentos assim que eu parava por um segundo, repensava em minhas palavras ditas, relembrava aqueles relatos como se estivesse acontecendo naquele exato momento e sorria.

Minha vida era incomum e nem sempre muito agradável... mas talvez esse tenha sido o preço que precisei pagar para que tivesse pessoas como Kim Namjoon, Kim Seokjin, Min Yoongi, Jung Hoseok, Kim Taehyung e... Park Jimin.

Talvez aquele fosse o sentido da minha vida, conhecer e cuidar de pessoas extraordinárias.

— É um caminho difícil, sabe — Minji disse, chamando minha atenção — É uma montanha-russa de sentimentos, não posso dizer que posso sentir as mesmas coisas que você, porque isso é impossível, mas entendo. Hoje você está tendo um dia bom, não é?

Eu assenti.

— E isso torna os dias ruins ainda piores, porque você sente como se estivesse falhando ou regredindo. Certo?

Assenti mais uma vez, era exatamente como me sentia.

— Nós não estamos bem o tempo todo, não somos obrigados a estar, você precisa ter isso em mente — ela continuou — O que nós queremos é evitar os pensamentos excessivos, os que atrapalham sua convivência com as pessoas do seu dia a dia. As tarefas são para isso, para você praticar em um momento que está mais confortável e sozinho.

Minji me passava tarefas semanais para eu realizar em casa, eram mais como meditações particulares, para eu praticar — principalmente — nos momentos de crise, para eu conseguir controlá-las; o objetivo era que as meditações chegassem a suprir minha necessidade em fazer aquelas sensações se amenizarem, sem precisar da medicação.

Alguns meses depois que eu já tinha uma dose fixa para o tratamento receitado pelo psiquiatra, comecei a não priorizar o medicamento que ele havia receitado para as crises, tentando focar nas técnicas que aprendia com a terapeuta; é claro que nem sempre tinha sucesso, apenas recorria à alívios químicos quando a aflição estava perto do insuportável, mas ficava feliz em perceber que momentos assim começaram a se tornar mais raros.

— Por que está sorrindo tanto? — Taehyung me pergunto, quando fomos à lojinha de conveniência perto da clínica uma vez — Pensei que sua expressão mais assustadora fosse a visões de Jungkook, mas te ver sorrindo assim, sem motivo nenhum, é ainda mais assustador.

Eu sempre vou me perguntar os motivos para nunca ter socado Kim Taehyung uma vez sequer, por toda minha vida.

— Vocês reclamam quando não sorrio e reclamam quando sorrio demais. Jimin não mente quando diz que pessoas consideradas neurotípicas são mais confusas do que pessoas como ele — eu disse, revirando os olhos.

Ele olhou para mim serenamente, tomando um gole de café, antes de responder:

— Eu não entendi nada do que você disse.

— O que caralhos é visões de Jungkook?

— Mesmo se eu tentasse imitá-la, seria impossível, é um dom especial que só você tem — eu detestava o tom e os trejeitos naturalmente rebuscados que Taehyung tinha, ele conseguia ser elegante até tomando café pronto em uma lojinha de conveniência — É quando você está viajando pra Jungkooklândia e esquece que tem um corpo físico que fica sem funcionalidade, olhos arregalados e membros paralisados.

— Supimpa, isso é ridículo.

— Eu não acredito que você realmente usa supimpa na vida real.

— É uma palavra engraçada — dei de ombros — O que você quer de mim? Você não vai pagar um táxi para me levar para casa e não pedir nada.

— Você me odeia, por acaso? — ele colocou as mãos no peito, como se sentisse extremamente afetado. Fingido... — Como pode pensar tão mal de mim, quando sou eu que pago todo o seu tratamento?

— Porque eu te conheço — respondi, abocanhando um pedaço do pão de mel que havia comprado — E você está pagando porque quer, desembucha.

Existiam duas coisas bem diferentes na minha concepção de amizade. Uma coisa era meus amigos compartilharem suas experiências sexuais de forma vaga, sem muitos detalhes constrangedores ou palavras exageradamente explícitas; outra coisa bem diferente era eles saberem sobre minha necessidade sexual oprimida por medos provocados pela minha mente.

— Park Jimin tem tesão em você — ele simplesmente disse.

Eu consegui evitar que me engasgasse com a comida, mas não tive sucesso em impedir que meu rosto tomasse uma coloração extremamente avermelhada de forma repentina. A parte mais ridícula era que eu nunca ficaria daquele jeito se estivéssemos falando de qualquer outra pessoa com quem havia me envolvido no passado, mas estávamos falando de Jimin.

— Eu não sei do que está falando — murmurei.

— Você também disse que era hétero e olha aonde chegamos — Taehyung retrucou, sorrindo como se conseguisse ler meus pensamentos — Só existe uma Cleópatra, então pode parar.

— Eu sabia que essa coisa de Três Espiãs Demais não ia dar certo, daqui a pouco Jimin vai estar falando igual a você!

— Acho que não, ele não é muito habilidoso com sarcasmo, metáforas e essas coisas. Ele não entendeu a brincadeira do fish ball cat.

Frustração era pouco, perto do que eu estava sentindo naquele momento. Suspirei, já afundando meu rosto nas mãos.

— Depois que eu expliquei — ele tomou mais um gole de café — Ele quis saber o que era boquete.

— Meu Deus — murmurei, soou abafado, porque eu ainda não havia erguido meu rosto.

— Você deveria estar me agradecendo, ok?

— Agradecendo? Sério? — revirei os olhos, me jogando de vez contra o encosto da poltrona onde estava sentado — Vocês ficam implantando esses tipos de coisa na cabeça dele, fazendo ele pensar que quer experimentar essas coisas, quando ele ainda não está pronto.

— Nossa, como você é burro! — de repente, aquela conversa se tornou séria demais — Ele tem dezessete anos e tem os mesmos hormônios que você, quando ele vai estar pronto? Quando ele tiver cinquenta anos?

— Ele vai estar pronto-

— Era uma pergunta retórica, seu boboca, somente o Jimin dirá quando ele estiver pronto! — ele me interrompeu, bufando logo em seguida; eu o imitei e cruzei os braços, desviando o olhar para qualquer outro canto da loja, até que paralisei ao ouvi-lo falar: — O verdadeiro foco aqui é que você não está pronto.

Conseguia ouvir “Bobby” do beabadoobee tocando através das caixas de som parafusadas no alto das paredes daquele lugar, meu primeiro pensamento foi que a pessoa que cuidava dali tinha um bom gosto musical, o que era muito raro de se encontrar até mesmo nos dias de hoje. A segunda coisa, foi o motivo de eu ainda não estar pronto, breves flashes daquela noite.

Voltei a encarar Taehyung e suspirei.

— Por que partimos para esse assunto? — perguntei, desanimado — Era sobre isso que queria conversar? Sobre o que aconteceu comigo?

— Não quero conversar sobre aquela noite, se quisesse conversar comigo sobre isso, já teria me procurado — ele respondeu, brincando com o copo que estava vazio agora — Só queria que soubesse que não precisa ter medo de Jimin se assustar, ele sabe mais das coisas do que você imagina. Ele entende que você não quer... amassos intensos, por enquanto.

— Foi ele quem te disse isso?

— Na verdade, sim.

Ele contou sobre aquela amanhã.

— Ele me contou sobre aquela manhã — Taehyung admitiu, sorrindo.

Eu queria me afundar naquela poltrona e nunca mais ver a luz do sol.

— Quando eu perguntei para ele se “a barraca dele ficou armada” — ele fez aspas com os dedos —, ele não entendeu sobre o que eu estava perguntando. Quando reformulei a pergunta com seu pau ficou duro?, ele me corrigiu e disse sim, hyung, meu pênis ficou ereto.

O choque era maior do que eu poderia explicar, muito maior.

— Então, eu acho que você pode ser sincero e dizer que não está pronto para transar agora. Usando a palavra tra... Pensando bem, diga que você não está pronto para copular, ele vai entender melhor.

Franzi as sobrancelhas, com um claro questionamento em mente.

— Não pergunte, faça — foram as palavras do mais velho.

Quando Seokjin me contou, anos depois, a história por trás daquela conversa, eu não consegui olhar para Park Jimin sem rir depois de dois segundos o encarando, muito menos fazer amor com ele, porque sempre me lembrava que ele poderia estar pensando em coisas, como “ok, nós vamos copular agora”; só durou uma semana, porque era o máximo que conseguia aguentar ficar sem fazer amor com Jimin.

Naquele dia, Taehyung me levou para casa — de táxi, é claro, ele não sabia dirigir e nem pretendia aprender — e nós não tocamos mais em assuntos íntimos demais. Ainda faltavam dois meses para o meu aniversário, mas o Kim decidiu falar sobre aquilo; eu trabalharia no dia, então não pretendia nada muito especial, já que estaria muito cansado para uma comemoração. Contudo, conseguir sossego — mesmo que em seu aniversário — é algo impossível quando se tem um amigo como Kim Taehyung.

De qualquer forma, meu foco era a figura de Park Jimin, acompanhado de Seokjin e Namjoon, sentado no gramado da nossa casa, com olhos atentos na rua, enquanto parecia conversar com nosso casal de amigos. Os fios do cabelo estavam mais acastanhados — Jin o havia levado para a casa dele e de Tae quando Jimin começou a reclamar do amarelo misturado com o tom escuro da raiz — e mais curtos, mas ele ainda parecia um anjo.

Assim que saí de dentro do carro, me despedindo de Taehyung — ele ficou mais preocupado em acenar para meu namorado e nossos outros amigos —, quando olhei para Jimin, eu me senti o homem mais poderoso do mundo inteiro, porque ele sorriu para mim. Esse é o impacto que Park Jimin tem em minha vida, o de fazer eu me sentir no topo do mundo.

— Hyung! — ele disse, ao se levantar e andar rapidamente até mim, me abraçando e afundando o rosto em meu peito — Você chegou...

— Eu cheguei — murmurei, com um sorriso.

Depositei um beijo em sua cabeça e retribuí o abraço.

— E o casal fofura ataca novamente — Seokjin disse, cruzando os braços, sustentando um sorriso ladino e atentado nos lábios.

Afastei Jimin com cuidado, para que nos aproximássemos de nossos amigos, e os cumprimentei.

— O que vamos fazer no seu aniversário? — Nam perguntou.

— Meu aniversário é daqui a dois meses, por que essa preocupação de repente?

— É porque queremos planejar o que vamos fazer para comemorar, hyung — Jimin respondeu.

— Não sou eu quem deveria escolher como comemorar meu aniversário? — retruquei, ainda sorrindo para ele.

— Por que acha que estamos preocupados? — Jin deu de ombros.

— Porque Taehyung me fez a mesma pergunta hoje.

— Esse menino é doidinho, Jungkook — Seokjin fez um círculo imaginário com o indicador na lateral da cabeça, como se estivesse indicando o problema de Tae — Ele fala coisas sem sentido.

— É, hyung — meu namorado me cutucou, para que eu prestasse atenção nas seguintes palavras: — Ontem ele me perguntou se eu tinha armado a barraca no dia em que nos beijamos muito, mas eu nem tenho barraca e não sei qual seria a utilidade de uma em um momento como aquele.

A conversa se transformou em um silêncio absoluto, eu sequer tinha coragem de desviar os meus dos confusos de Park Jimin, porque já estava morrendo de vergonha dos olhares de incredulidade que tinha certeza estarem presentes nas faces de Namjoon e Seokjin.

— E essa é a hora que eu me despeço e finjo que essa cena jamais aconteceu — Jin se pronunciou, passando por mim com caminhadas lentas, como se tudo estivesse normal.

— E essa é a hora em que eu faço o mesmo que meu namorado — Nam o seguiu.

Assisti meus amigos se afastando e entrando na casa de Namjoon, aproveitando o momento para me colocar exatamente a frente de Jimin, olhando com firmeza em seus olhos, quase me distraindo com o jeito adorável que ele precisa inclinar seu rosto para cima para conseguir manter contato visual comigo.

— Muito bem — eu disse, segurando seus ombros — Agora nós teremos uma conversa séria sobre coisas que devemos evitar falar em público.

 

 

— Eu disse que ela ia morrer!

Meu coração estava em pedaços, meus joelhos estavam no chão, minha vida estava acabando enquanto assistia Jon Snow esfaquear Daenerys Targaryen. Não estava acreditando que fizemos uma maratona — que acabou durando três meses — para, enfim, assistirmos à última temporada de Game of Thrones só para ela acabar daquele jeito.

— Esse é o pior roteiro que eu já vi na minha vida inteirinha — Hoseok comentou, olhando com decepção para a tela da TV.

— Até mesmo a teoria do motivo da morte dela era melhor — Taehyung continuou — Sério, eu aceitaria se fosse mesmo daquele jeito. Gente, eles ficaram um ano em hiatus e deixaram um copo do Starbucks aparecer na edição final, a coisa já começou a dar errado aí.

— Qual é a dificuldade que os roteiristas têm de deixar uma mulher se tornar rainha no final de uma história épica? — eu me perguntei, suspirando, enquanto me jogava deitado no chão — Pelo menos, a trilha sonora foi boa.

— Ramin também estava sofrendo com a direção que o roteiro estava tomando, ele compôs músicas boas para compensar — Yoongi concordou.

— Ou para que a gente sentisse uma sensação de injustiça — Namjoon entrou na conversa — Uma trilha sonora tão boa, para um final tão dispensável...

— Vocês estão tristes de verdade? — Jimin perguntou, completamente confuso — Na maioria das vezes, eu não entendo se o que vocês falam é verdade. Eu deveria te consolar, Jungkookie?

— É claro que deveria — eu estendi meus braços em sua direção, abrindo e fechando as mãos — Eu sou apenas um pobre homem, de coração partido por estragarem minha série favorita, eu preciso de consolo. Isso inclui beijos, abraços e-

Boiolice — a víbora do inferno me interrompeu, revirando os olhos — Uma dose extra de boiolice, Jimin.

— Kim Taehyung! — Jimin gritou, fazendo com que todos nós nos assustássemos — Você não pode chamar alguém de boiola, é um xingamento muito feio, não se pode tentar deixar uma pessoa para baixo só por ela gostar de pessoas do mesmo sexo, você também gosta!

— Eu disse que precisamos levar ele na Parada LGBT do próximo ano!

As falas de Kim Taehyung sempre despertavam uma discussão infinita entre nós, daquela vez não foi diferente. Seokjin se levantou e chutou a costela do mais novo — não a ponto de ser uma agressão, mas o suficiente para irritá-lo —, enquanto eu me sentava no chão da sala e revirava os olhos, porque os de Jimin me encaravam em dúvida, e eu já comecei explicando-o que nem sempre chamar alguém de “boiola” poderia se caracterizar como xingamento, apenas quando a entonação da pessoa que a dissesse parecesse provocativa.

Obriguei Namjoon-hyung a explicar ao meu namorado o que — e como — era uma Parada LGBT, ele começou a gritar que queria muito ir e eu me senti mal por aquilo. Deixe-me explicar, acontecimentos assim são extremamente importantes para muitas pessoas, mas muito mal visto pela maioria delas e a Parada era, particularmente, mais frequentada por pessoas que julgavam do que a própria comunidade em si. Ser diferente era errado por aqui.

Era uma droga, mas era a verdade.

Minha mãe não sabia a verdade sobre mim, eu nunca tinha ousado falar em voz alta sobre gostar do sexo masculino e o que mais me apavorava, apesar de tudo isso, era imaginar a possível reação da senhora Park quando descobrisse sobre meu envolvimento com Jimin. Expor Jimin ao ódio alheio era a última coisa que escolheria fazer, então aquilo estava completamente fora de cogitação.

— Vem, nós precisamos ir para casa — eu disse, me levantando e estendendo minhas mãos para ele tomá-las nas suas e se apoiar para fazer o mesmo — Precisamos dormir cedo hoje.

— Você não engana ninguém, cara, para com isso — Yoongi resmungou — Você só não quer se pegar com seu namorado em público.

Ele estava certo.

— Decidiu o que vamos fazer no seu aniversário, Kookie? — Jin-hyung perguntou, ainda deitado no sofá.

— Na verdade, eu queria passar ele dormindo, mas Jimin brigou comigo quando sugeri isso — respondi — Então, podemos... sei lá, ir naquela sorveteria retrô perto de casa e depois assistir algum filme na casa de Joon-hyung.

— Sério, o que você tem contra o seu aniversário? — Taehyung perguntou, desacreditado com a minha ideia.

— O que você tem contra nós? — Nam corrigiu — Não sabe que Taehyung gosta de fazer uma análise crítica de cada cena de filme?!

— Como vocês conseguem não analisar um filme?! — o mais novo retrucou.

Aquela foi a hora perfeita para me retirar, junto a Jimin.

Nós fomos para casa, tomamos banho — um de cada vez —, jantamos e fizemos o que mais gostávamos de fazer juntos.

Nos beijamos por horas, antes de dormimos nos braços do outro.

 

 

Existe algo que tento muito deixar claro para as pessoas hoje em dia, como tento deixar claro com todos os meus relatos escritos até aqui; saber que seu filho tem algum transtorno não é o fim do mundo. Os pais têm um grande defeito: acharem que têm filhos perfeitos quando, obviamente, nenhum ser humano pode ser. Eles se recusam a aceitar que um filho possa estar com problemas, porque foram incapazes de percebê-lo quando ainda era um problema pequeno; cometer falhas é algo extremamente humano, mas temos muita dificuldade de lembrarmos disso quando acabamos falhando com alguém que amamos.

Lidar com Jimin era bem mais difícil do que pode parecer, ainda é muito difícil; ele tem seus momentos de instabilidade — muito mais do que eu queria que fosse —, seus acessos de raiva me assustam, mesmo que seu comportamento natural seja muito doce. Digo isso porque, mesmo que sempre evite pensar nas coisas dessa maneira, eu firmei um compromisso quando decidi participar da vida de Park Jimin com um posto de parceiro amoroso, mesmo com toda sua autonomia e a pouca dependência, eu sempre precisaria cuidar dele.

Há momentos em que preciso censurá-lo na frente de pessoas desconhecidas, que não sabem sobre sua condição e sequer se importam em fazer algo além de julgar; existem momentos em que preciso ficar sozinho, Jimin precisa ficar sozinho, porque estamos nos estressando demais com as situações do dia a dia; existem dias que ele não quer que eu fique nem a um metro perto dele, não quer que o toque, se nega a me beijar, se nega a me tocar ou a me deixar tocá-lo. Porém, nada disso tem algum intuito de me machucar, não é tóxico, só são as limitações que existem na vida dele — no mundo dele —, da qual eu escolhi fazer parte.

E eu nunca — jamais — me arrependi, mesmo que houvesse momentos em que repensava todas as minhas decisões.

Na noite do meu aniversário de vinte anos,

Na tarde do meu aniversário de vinte anos, Kim Taehyung bateu na porta de minha casa como se quisesse derrubá-la e, assim que a abri — com o semblante irritado e cabelo bagunçado, porque estava usando a ausência do meu namorado para tentar descansar um pouco antes de sairmos —, aquela criatura sorriu, bagunçou ainda mais meu cabelo e disse:

— Feliz aniversário, pirralho!

Ele estava vestindo calças de lavagem amarronzadas largas, com um cinto preto de couro, a camiseta era branca e estava por dentro do cós da calça, com uma jaqueta de tactel por cima; ele estava calçando meias brancas e longas e all stars pretos com os cadarços a mostra.

Eu tinha certeza que era possível fazer um meme com a minha expressão confusa, enquanto tentava montar um quebra-cabeças em minha mente, com o motivo que mais me fizesse sentido para Taehyung estar vestido como se fôssemos parte de uma gangue dos anos oitenta.

— Nós vamos estrelar uma adaptação de De Volta Para o Futuro, só que ao contrário? — eu perguntei.

— Muito engraçadinho, você só melhora a cada ano, Jungkook — ele riu forçadamente, indo para trás de mim e me empurrando com as mãos nos ombros em direção a escada — Achou mesmo que eu ia deixar você tirar toda a diversão de uma data comemorativa? No time, bro. De jeito nenhum!

— Eu não vou me customizar como se vivesse nos anos oitenta!

— Você vai, sim, amado, sabe por quê? — ele me virou bruscamente — Porque foi ideia do Jimin, ele está se produzindo todo ali na casa do Namjoon, com a ajuda do Jin, e está ficando lindo demais!

Ele não precisou insistir muito mais, mesmo que estivesse me mordendo de raiva por todos eles saberem meu ponto fraco, mas eu estava ansioso para ver Park Jimin bonito — não que fosse raro ele estar, Park sempre estava bonito — mas, naquela noite, eu estava me sentindo... diferente. Mais ansioso, de um jeito bom.

Taehyung me mandou tomar banho, porque seria a pessoa que escolheria o que eu iria me vestir, quando contestei e disse que não iria fantasiado, muito menos que era uma criança que ele precisava vestir, o Kim me mandou calar a boca e me prendeu dentro do banheiro. Tentei abrir a porta de todas as formas, berrando para que ele parasse de se comportar feito um ridículo. Ele não me deu a mínima.

Eu desisti e fui tomar meu banho.

Ouvi “The Good Side” do Troye Sivan tocando em meu quarto, sempre foi muito comum que colocássemos música quando estávamos reunidos ou quando nos arrumávamos para sair juntos. Assim que saí de dentro do banheiro, já parcialmente seco e com a toalha em volta do quadril, encarei as roupas cuidadosamente espalhadas sobre minha cama com pavor, porque eu realmente não me lembrava de ter aquelas peças guardadas no armário.

— Honestamente — bufei, me aproximando cautelosamente — Por que estamos fazendo isso? As pessoas vão nos achar estranhos, todo mundo vai ficar reparando e isso vai deixar Jimin desconfortável!

— Existe um motivo para eu gostar de lá, garoto — ele respondeu, jogando uma cueca limpa no meu rosto — Não seja insuportável, se vista logo e pareça estar se preparando para seu primeiro encontro com um Park Jimin dos anos oitenta!

Assim que ele me deixou sozinha em meu quarto, eu suspirei, sorrindo logo depois. Ter meus hyungs e Jimin se esforçando para tornar a data do meu aniversário um dia especial em deixava tão bobo, que não sabia como agir com eles. Alguma coisa me dizia que meu namorado havia, sim, concordado e adorado a ideia de agirmos como se vivêssemos nos anos oitenta, mas que a ideia fora dos mais velhos.

E uma coisa me convencia disso; nossa amizade.

Algum tempo atrás, quando comecei a realmente me dar bem com todos eles, tínhamos o costume fazermos maratonas de filmes adolescentes da época, pesquisávamos objetos que pareciam muito legais e eram novidade naquele tempo, mas que hoje em dia eram considerados velharias. Nosso maior ritual, quando estávamos entediados demais para fazer algo produtivo juntos, era deitarmos no chão do quarto de Namjoon e ouvirmos “Blue Monday” do New Order ou criar passos para música eurodance dos anos noventa.

Então, ainda mantendo o sorriso enquanto me lembrava daqueles dias, vesti a cueca, as calças pretas, a camiseta polo preta por baixo do moletom verde musgo — ajeitando as golas da camiseta para que ela ficasse por cima das do moletom —, calcei as meias escuras e longas e o tênis de tecido esverdeado que, com certeza, não era meu. Liguei meu secador e penteei meus cabelos, ao mesmo tempo que os secava.

Quando desci a escada, Kim Taehyung estava espalhado pelo sofá da minha sala, mas se sentou assim que percebeu minha presença. Ele me analisou, colocando a mão sob o queixo, se levantou e passou a andar em volta de mim; eu cruzei meus braços, porque estava começando a me irritar com aquilo. A sensação de ansiedade aumentava quando eu me arrumava, sabendo que Jimin estaria me analisando também em futuro próximo demais.

Mas aí, ele assobiou.

Taehyung assobiou...

A única coisa que me impediu em partir para cima dele, foi a campainha de casa tocando. Eu congelei, porque achava que fosse Jimin.

Não era o Jimin.

— Você está fofo! — Hoseok disse, se aproximando de mim.

— Você está colorido — eu respondi.

As mangas da camiseta dele tinham cores diferentes.

Tudo bem, Hoseok usando roupas coloridos não era um motivo para ficarmos surpresos, realmente. Eu estava mais surpreso por ver Yoongi vestindo uma camiseta branca e um casaco meio salmão — ele raramente usava roupas de cores claras —, chegava a reluzir com tudo aquilo contrastando com a cor da pele dele. E Namjoon estava usando meias brancas com um sapato xadrez cafona.

Nós nos encolhemos para sentarmos todos juntos no maior sofá da sala, quase ficando um em cima do outro, suspiramos e deitamos as cabeças no encosto do estofado. Ficamos em silêncio por dois minutos, porque Taehyung começou a se mexer demais e Yoongi reclamou, os dois começaram a discutir, enquanto Hoseok observava tudo com certo incômodo. Nam-hyung começou a bufar com irritação, porque não gostava do que estava assistindo, assim como eu.

As coisas entre os três sempre foram um pouco estranhas, desde que nos juntamos como um grupo — um deles sempre estava mais retraído, enquanto os outros dois estavam em bons-termos. Eu nunca quis me intrometer nos assuntos particulares dos meus amigos, mas aquele me incomodava bastante, porque sempre acumulavam situações desconfortáveis entre nós. Nas sessões de terapia com Lee Minji, eu aprendi que acúmulo de emoções e sentimentos desencadeava em uma explosão; dependendo da escala, o resultado poderia ser desastroso.

Mesmo assim, coloquei em minha mente — naquele momento — que eu poderia dar uma folga em minhas preocupações e em fatores que aumentavam meu nível de estresse, já que sempre me preocupei muito com o estado emocional dos meus amigos. Em toda minha vida, eu sempre preferi sacrificar meu bem-estar para promover o bem-estar das pessoas que eu amava, ainda sou assim, porque é um traço da minha personalidade, ainda que não seja a mais saudável delas.

Peguei meu celular e tentei me distrair com redes sociais, ou revendo as várias fotos que eu tirava com Jimin e guardava como um prêmio limitado e exclusivo. Sentia um frio na barriga tão bom a cada minuto que se passava, porque — ao mesmo tempo que era um minuto a mais sem sua presença ao meu lado — era um minuto mais próximo de por encontrá-lo.

— Hyung?

A voz dele...

Virei minha cabeça e, sobre a borda do estofado, vi sua figura parada no meio da minha porta de entrada, com Seokjin-hyung atrás dele. Sua mão esquerda estava sobre a maçaneta da porta de madeira, calçando meias brancas e um tênis preto com uma baixa plataforma, ele vestia uma jardineira longa, a qual a barra chegava até a canela, e um moletom branco, com estampas de chamas nas mangas e uma gola alaranjada.

Ele era a criatura mais maravilhosa que eu já havia visto — que um dia chegarei a ver — em toda a minha vida.

Seokjin incentivou-o a entrar e passou por ele para se aproximar de mim, depositando um beijo no topo de minha cabeça, desejando-me um feliz aniversário e sentando-se no colo de Nam-hyung. Enquanto isso, Jimin ainda estava na porta, encarando-me atentamente, dessa vez mexendo nos próprios dedos com agitação, como se esperasse algo.

Eu me levantei e, após assegurar-me que havia saído do foco dos meus amigos por um momento, andei lentamente até meu namorado. Ele parecia estar ansioso, mas sorria para mim e estendeu suas mãos quando estava perto o suficiente; entrelacei-as com as minhas e, sem esperar mais um minuto, uni nossos lábios, fechando meus olhos para absorver a doçura da pele dele em toda sua plenitude.

— Feliz aniversário, hyung — ele sussurrou, sem se afastar mais do que um milímetro de mim.

— Você é a coisa mais linda que já aconteceu na minha vida, Park Jimin — sussurrei, como se estivesse contando-lhe um segredo precioso.

Decidimos que era hora de ir poucos minutos depois.

Todos nós entramos no carro dos pais de Namjoon-hyung, colocamos “Are You Bored Yet?” e cantamos até chegarmos na sorveteria; o trajeto durava apenas aquela música, porque era bem perto de casa. O carro só tinha lugar para cinco pessoas se acomodarem, então Jimin ficou no meu colo, rindo do quanto Seokjin reclamava do peso de Taehyung, já que ele teve de sentar no banco de trás, porque Yoongi preferiu ficar no da frente, enquanto Nam dirigia.

A verdade sobre meu relacionamento com meus amigos é que até mesmo nossas discussões me despertavam uma sensação incrível de familiaridade, como se eu pertencesse àquilo, como se fosse uma parte de mim. E era exatamente isso que eu estava sentindo naquele momento, estava me sentindo em uma comemoração com a minha família, sequer me importando que minha mãe de verdade havia apenas deixado um post-it de feliz aniversário na geladeira antes de ir dormir.

Assim que entramos no estabelecimento retrô, acabei entendendo o motivo de Taehyung ter dito que havia uma razão para ele frequentar o lugar. Durante a noite, parecia bem diferente do que era durante o dia, o lugar parecia ser um encontro de décadas diferentes; eu me sentia dentro de uma máquina do tempo maluca, como se tivesse a opção de escolher para qual época eu preferia ir.

Ainda estava tocando músicas atuais quando chegamos, Jimin quis achar uma mesa para podermos tomar sorvete e nós fomos, com exceção de Hoseok e Taehyung — eles preferiram começar a andar na pista xadrez, quando “Can I Call You Tonight?” começou a tocar. Fiquei aliviado em perceber que não éramos o único grupo vesti a caráter. E que também não éramos os únicos casais compostos por pessoas do mesmo sexo.

— Se você começar a se sentir desconfortável, pode me dizer, tudo bem? — eu disse baixinho, perto do ouvido de Jimin, para que apenas ele ouvisse.

Sua resposta foi sorrir, assentir e voltar a tomar seu milkshake de chocolate.

O clima só ficou um pouco estranho quando Jin e Namjoon resolveram se juntar ao nosso outro casal de amigos para dançar, quando “The Look” do Roxette começou a tocar. Eu estava ao lado de meu namorado na poltrona, enquanto Yoongi — que estava de frente para nós dois e de costas para a pista de dança — mexia o canudo de seu milkshake de morango com desinteresse. — Vá se divertir — eu mandei, puxando o copo para longe de suas mãos.

— Com quem? — ele suspirou.

— Com alguém — dei de ombros, como se fosse óbvio — Você é demais, vá conhecer alguém.

— Eu não sou demais — Yoon revirou os olhos — Se eu fosse demais, um deles estaria aqui.

— Claro que é, hyung! — Jimin disse, colocando as mãos em volta da boca, como se fosse contar um segredo que só Yoongi podia saber — Se eu já não namorasse o Kookie, te convidaria para sair. Eu não posso fazer isso, porque sou comprometido, você entende, não é?

O rosto do meu amigo imediatamente ficou vermelho, ele chegou a tossir, enquanto me olhava um pouco apavorado, mas eu apenas ri baixo, porque já estava começando a me acostumar com as preciosidades que meu namorado soltava de vez em quando.

Quando Yoon cedeu ao nosso conselho e se levantou, para ficar mais perto da bancada onde faziam os pedidos — para encontrar alguém interessante —, tudo pareceu estar encaminhado para uma noite mais divertida. Jimin disse que queria dançar quando “Karma Chameleon” começou a tocar e eu não podia resistir a um pedido dele, ainda mais porque uma quantidade a mais de pessoas se juntaram na pista de dança para dançar ao ritmo da música.

Ao longe, consegui enxergar Yoonie conversando animadamente com um garoto ruivo mais alto. Ele usava jaqueta de couro preta e tinha sardas nas bochechas, as maçãs do rosto de Yoongie estavam avermelhadas e ele estava sorridente. Finalmente, tudo perfeito.

Eu quase saí correndo quando as músicas dos anos noventa começaram, porque Taehyung e Seokjin foram atrás de mim assim “The Rhythm of The Night” se iniciou, eles passaram toda a parte da introdução da música insistindo para que eu aceitasse a fazer os passos que inventamos para o refrão. Yoonie, o cara ruivo, Namjoon, Hoseok e Jimin se juntaram à dupla de víboras, até que eu cansei de dizer “não”.

Era uma sequência de passos um pouco complicados, a coordenação motora dos pés era essencial e todos da pista de dança nos deram espaço para executá-la. Foi o momento em que eu mais recebi atenção em toda minha vida, todos pararam para olhar e todos nos incentivavam a continuar. Meus olhos estavam apenas na forma com Jimin pulava, sorria, abraçava Namjoon com animação e batia palmas para mim.

Foi o suficiente para mim, por isso não me desgrudei dele enquanto “Tough Girl” tocava ao fundo.

— Hyung, o que eu falei para o Yoon — ele me fez olhar para o seu rosto, seus olhos estavam atentos em mim — Era só para ele se animar um pouquinho, ok? Eu sei que você ouviu, mas não precisa pensar que eu sairia com ele. Só como amigos.

Eu estava segurando a vontade que tinha de rir da doçura dele, porque Jimin estava levando aquilo a sério.

— Sem problema, você o animou — eu disse, desfazendo meu sorriso assim que olhei para um pouco mais além de nós e consegui enxergar Yoongi quase em cima do garoto ruivo, eles estavam se beijando muito — Você com certeza o animou.

Tudo estava em seu lugar, nada anormal e nada triste.

— Quer ir para casa?

A pergunta de Jimin me chamou a atenção.

De repente, todo o meu foco estava em estudar seu rosto para identificar algum sinal de desconforto.

— O que foi? — me aproximei mais um pouco, a iluminação era bastante escassa na pista de dança — Tem alguma coisa te deixando desconfortável?

Ele ainda estava sorrindo e negou com a cabeça.

— Queria passar um tempo sozinho com você no seu aniversário, hyung.

Foi de uma hora para outra que passei a sentir um pouco mais de calor ao notar que as mãos dele estavam bem firmes em minha cintura, a música e a animação das pessoas ao redor pareciam um som de fundo muito distante da minha realidade, porque nela só havia espaço para nós dois — Jimin e eu. Talvez eu sempre soubesse que mais um passo estava prestes a ser dado em nossa relação quando assenti e segurei sua mão, mas me sentia menos ousado se dissesse que ingenuamente aceitei a proposta dele.

Depois de nos despedirmos dos nossos amigos, decidimos voltar para casa caminhando e de mãos dadas. Nós não falamos nada durante todo o caminho, apenas balançamos nossas mãos e sorrimos para o outro, apertando-as em busca de conforto. Estávamos nervosos, mas não sabíamos exatamente o porquê.

Quando chegamos em casa, Jimin foi até a cozinha para tomar um copo d’água enquanto eu trancava a porta de casa e fechava as cortinas das janelas, tranquei a porta cozinha e segui atrás dele na subida dos degraus da escada. Fiz o mesmo procedimento — que havia feito com as portas de entrada do resto da casa — com a porta de nosso quarto e fiquei ali, encostado na madeira, assistindo Park sentar-se na beirada da cama para desamarrar o cadarço de seus tênis e tirá-los.

Logo depois, ele se acomodou mais ao centro do colchão — ainda sentado —, mas encostando suas costas na cabeceira da cama. Nossos olhares se encontraram por causa da iluminação que a luz da lua emitia em meu quarto, já que sempre deixava as cortinas abertas durante a noite, porque Jimin havia pegado costume de observar o céu todas as noites antes de dormir.

— Você não vem? — ele perguntou.

Um arrepio incompreensivelmente bom correu por meu corpo, desde a base da espinha até o começo da nuca.

— Posso colocar música? — devolvi.

Ele apenas manteve um sorriso sutil nos lábios e confirmou com a cabeça.

Eu coloquei “The Trip” do Still Corners.

À medida que a música crescia pelo quarto, a quentura do meu corpo também crescia e, quando me dei conta, também estava tirando meus sapatos antes de ajoelhar na cama e engatinhar sobre o colchão até alcançar Jimin. Eu acordava todos os dias ansiando vê-lo ao meu lado, chegava do trabalho desejando abraçá-lo e havíamos nos tocado pouco demais naquele dia, mais do que eu ousava suportar.

Assim que estava tão perto dele que nossas respirações chegavam a se misturar, eu me pus de joelhos novamente, fazendo a cabeça do Park inclinar-se para cima por ele querer acompanhar cada expressão minha. Coloquei minha perna direita para o lado esquerdo de seu corpo, depois me sentei em seu colo, suspirando pesadamente e contendo-me para não acabar me acanhando naquele momento, porque já conseguia senti-lo sob meu corpo.

Então, eu soube que não haveria muita calma depois que um de nós desse o próximo passo, acabaríamos explodindo.

Nossos narizes se encostaram, os suspiros ficaram mais altos e as mãos de Jimin foram postas em meu quadril, seus dedos começaram uma leve carícia naquela região. Os olhos dele adentravam os meus com uma profundidade que nunca tinha visto partir dele, como se estivesse me encorajando a seguir adiante. Ele queria que eu desse o primeiro passo.

E eu dei.

E nós explodimos.

Minhas mãos estavam na curvatura entre seus ombros e seu pescoço, começando a segurar aquela área com mais firmeza, porque — tão logo comecei a beijá-lo — sua língua já estava inserida em minha cavidade em questão de segundos, brincando com a minha, animando-a e a incentivando a fazer o mesmo, era um convite extremamente bem-vindo. Comecei a clamar por passagem, como ele, e Jimin sequer resistiu ao meu pedido, concedendo-me o passe livre para sua boca.

As mãos dele apalparam meu quadril quando tomei controle do beijo, apertando um pouco mais a porção de carne concentrada ali quando minha língua foi pincelada por baixa da sua, suspirando um pouco mais alto e mexendo seu quadril levemente. Nosso fôlego acabou com rapidez e, para retomá-lo sem que aquele contato parasse, desfiz nosso beijo, mas continuei percorrendo meus lábios por sua bochecha, descendo até seu queixo — onde depositei um beijo um pouco mais lento e molhado —, logo depois, descendo mais para onde começava a região do pescoço.

No momento em coloquei a ponta de minha língua sobre sua pele, os braços de Jimin rodearam minha cintura e me apertaram contra si, consequentemente, fazendo meus glúteos esfregarem para frente sobre ele e minha região pélvica ser esfregada em sua barriga. Ao mesmo tempo em que senti um choque em meu pênis, consegui ouvir um gemido baixo, saindo quase como um sussurro ou apenas um suspiro de Jimin:

Hyung...

Eu precisava de ar, mas queria que Park Jimin tirasse todo o restante de oxigênio que ainda tinha em meus pulmões.

— Você está bem? — perguntei, apenas para me certificar de que podia continuar.

Sua resposta foi:

— Eu estou instável, Jungkook.

E eu entendi.

Sem suavidade, Jungkook.

Eu poderia lidar com as consequências na manhã seguinte.

Então, nos beijamos mais, com mais vontade e mais força; me deixei perder o controle, prometendo a mim mesmo que faria Jimin se sentir bem — se sentir maravilhoso. Acima de tudo, eu queria saber como ele se comportava, qual era sua expressão, quando sentia prazer com algo.

O distraindo com aquele beijo intenso, consegui tirar o gancho em volta do botão da jardineira que ele vestia, mesmo quando percebeu o que eu fazia, ele nem se importou com o fato de que estava prestes a ser exposto para mim pela primeira vez. Interrompi o contato de nossos lábios novamente, ouvindo um resmungo de insatisfação partindo dele; saí de cima de seu copo, deixando calor de seu abraço para arrastar-me um pouco mais para baixo, para seus pés.

Alcancei a barra da jardineira e comecei a puxá-la, lentamente tirando-a de seu corpo com sua ajuda, sem me incomodar em tirar as meias brancas de seus pés. A pele de suas coxas era alva e parecia suave, fazia a palma de minhas mãos formigarem com a vontade de tocá-las. Eu não esperei muito para fazê-lo, depois de me livrar da peça jeans que as escondia antes.

Toquei a parte interna de suas coxas e vi suas sobrancelhas franzirem, uma confusão prazerosa tomava todo seu semblante, encorajando-me a subir minhas carícias até o volume muito visível sob sua roupa íntima. Apertei com cuidado aquela região e, dessa vez, Jimin gemeu um pouco mais alto. Era como se ele tivesse ateado fogo por todo meu corpo. Minhas mãos foram até o cós da peça, adentrando os dedos para conseguir puxá-la para baixo, apenas até seu membro estar livre do espaço escasso ali dentro.

Park Jimin suspirou meu nome e eu sorri com aquela sensação nova.

A sensação de estar sendo extremamente desejado por alguém.

Não era só desejo carnal e casual, Jimin me queria tocando-o porque era apaixonada por mim, sentia atração por mim. Ele queria meus toques, porque não conseguia mais ficar um minuto sem tê-los, assim como eu não aguentava ficar um minuto sem tocá-lo.

Aproximei meu rosto daquela região íntima, ouvindo o ofego dele se tornar mais alto quanto mais perto eu chegava do membro exposto. Eu nunca havia praticado sexo oral em outro homem e, com toda certeza, aquele não era o melhor momento para treinar; era preciso um pouco mais de calma e nós dois estávamos fazendo tudo às pressas, desenfreadamente, seria irresponsável demais da minha parte tentar aquilo pela primeira vez em um momento que estávamos tão livres de paciência.

Por isso, segurando firmemente ambas as coxas de Jimin, umedeci os lábios com minha língua e beijei-o intimamente. Como se fosse um reflexo eliciado por um estímulo forte demais para ser contido, as mãos dele foram para meu cabelo; aquilo era claramente um pedido silencioso para que eu continuasse com o que quer que estivesse tentando fazer, então, coloquei minha língua úmida para fora e lambi todo seu comprimento mediano, arrancado o gemido mais longo que ele havia soltado até então.

Continuei usando minha boca para acariciá-lo por mais alguns minutos, até notar que os fios de cabelo de Jimin estavam grudados em sua testa, seus olhos estavam cerrados com força e as bochechas pareciam bem mais vermelhas do que o normal. Eu queria ver aquilo mais de perto, então parei com o carinho, já parecia ter sido o suficiente por uma noite.

Voltei a me sentar sobre suas pernas e, apoiando uma de minhas mãos na cabeceira da cama, usei a outra para envolver seu membro e começar a masturbá-lo, observando o jeito maravilhoso que seus lábios se entreabriam para chamar meu nome, sussurrando. O momento em que ele abriu os olhos, automaticamente conectando-os aos meus, como se já estivessem destinados a se encontrarem, me fez paralisar.

Ele olhou para baixo, se deparando com seu pênis envolvido por minha mão e, quando voltou a olhar para mim, disse com firmeza:

— Eu também quero tocar você, Jungkook.

Deixe as consequências para amanhã.

Eu não o neguei, jamais poderia negá-lo.

Desabotoei minhas calças, deixando o zíper bem aberto, abaixei o cós da peça íntima preta que vestia por baixo, o suficiente para também expor minha intimidade a ele. Deixei que seus olhos curiosos analisassem toda a cena, deixei que me analisassem. Deixei seus dedos curiosos me tocarem, porque eles sabiam muito bem o que fazer e como me tirar suspiros de prazer.

Fechei meus olhos e deixei-me ser guiado pelas sensações, sem ousar emitir algum som mais alto que um suspiro, a única pessoa que eu queria ouvir ali era Park Jimin. Ele me masturbava com lentidão, sentia seu olhar em meu rosto, como se tentasse me testar para ver qual era o meu limite para jogar tudo para o ar e avançar ainda mais.

Quando notei estar quase implorando para que Jimin me fizesse gozar, abri meus olhos e segurei sua mão com calma, afastando-a de mim. Aproximei-me ainda mais, fazendo com que nossos membros quase se tocassem, os olhos de Minie estavam grudados naquela região, quase como se desejasse que aquilo acontecesse.

Ele me encarou com surpresa quando segurei meu pênis e o pus junto ao dele, envolvendo a ambos com minha mão direita. Antes que ele dissesse ou perguntasse qualquer coisa, tomei seu rosto com minha mão livre e o beijei, ao mesmo tempo que começava a movimentar meu quadril e a mão que envolvia as duas intimidades, para frente e para trás, devagar no começo.

Hyung, isso é incrível — Jimin sussurrou, quando ganhei mais velocidade — Você é incrível...

Eu não ousava respondê-lo com palavras, não queria ouvir minha voz, apenas as reações dele.

Apenas ele.

Com esse pensamento, voltei a fechar meus olhos e grudar minha testa na dele, começando a notar como ambos os nossos corpos já estavam mostrando alguns sinais de cansaço, como as nossas testas molhadas de suor. Me assustei um pouco quando Park gemeu mais alto e um pouco mais rouco, afundando as unhas curtas em meus ombros e pedindo para que eu continuasse a causar aquela sensação nele.

Ouvindo o quanto eu estava fazendo-o se sentir bem, eu me desmanchei primeiro — com um grunhido alto, porque segurei um gemido no fundo de minha garganta —, sentindo os efeitos do orgasmo se apoderarem do corpo sob o meu logo depois.

Respiramos com dificuldade por dois minutos inteiros, foi quando percebi que minha playlist havia sido ignorada por mim e que — agora — “Blue”, do Troye Sivan, estava tocando.

Estava me sentindo esgotado.

Esgotado e incrível.

Repeti para mim mesmo apenas mentalmente todos os sentimentos arrebatadores que havia presenciado naquela noite, já que Jimin parecia ainda mais cansado e não havia aberto os olhos até então.

Ele precisa de um momento para se recuperar e eu também.

Ajeitei-o no travesseiro e ele sorriu, como se soubesse que o veria.

Deitei-me em seu peito e também sorri.

Sorri, porque sabia que — ao modo que eu conseguia fazer, por enquanto — havia acabado de amar Park Jimin com meu corpo.

Eu era capaz de amar.

E isso era fantástico.


Notas Finais




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