- Albus. Você nunca se preocupou com diabetes?
O bruxo ancião ergueu as sobrancelhas grossas com surpresa por cima da caneca verde limão cheia de chocolate quente. Através do vapor, enxergou a professora em vestes de tecido tartãn com o olhar duro típico sobre ele.
Após terminar seu gole e desfrutar brevemente do calor da bebida, Dumbledore estalou a língua no céu da boca. Aquela fora uma pergunta bem aleatória. Estavam desfrutando de um fim de semana próximos à lareira falando sobre transfiguração e trocando dicas de crochê e bordado. Em nenhum momento McGonagall assinalou que gostaria de mudar a conversa para aquele rumo e tampouco era algo que costumavam discutir. O diretor, entretanto, não se importou em responder.
- Hmm... – ele murmurou, pouco antes de virar a caneca e começar a mastigar um pequeno marshmallow – Na verdade não. Não creio que algo assim poderia acontecer comigo. Por quê?
- Seu chocolate quente está tão doce que deixou açúcar nos meus cabelos! – ela contestou exasperada.
Sem pensar duas vezes ele abaixou o queixo e a retribuiu com um olhar caído e tímido, como uma criança de cinco anos.
- Mas eu gosto de açúcar...
A bruxa rolou os olhos com um suspiro contrariado. Nunca esperou que conseguisse mudar os hábitos alimentares de seu amigo, na verdade sequer pretendia. Apesar de o diretor apresentar modos infantis aqui e ali, reconhecia-o muito bem como um adulto. No fundo ela talvez só estivesse sendo fiel aos próprios hábitos, o que a fez refletir bebericando o restante do chocolate.
Momentos de quietude se passaram e isso não era um problema. Estavam acostumados a ficar juntos no silêncio. Muitas vezes saber da presença de outrem era o bastante para seus espíritos encontrarem a paz que procuravam, o carinho que desejavam e a companhia que apreciavam. Sim, às vezes o melhor que podiam oferecer era o silêncio. Naquela ocasião, entretanto, estava sendo demasiadamente incômodo. Minerva não soube dizer o porquê, então lançou olhadas de esguelha para o ambiente. Não demorou muito para descobrir o motivo e ela se perguntou se o excesso de açúcar estava afetando sua percepção. Deveria ter imaginado mais cedo.
Emoldurado pelos longos cabelos prateados e oclinhos abafados pelo vapor, um par de olhos inocentes cintilavam sobre a caneca verde limão. Rapidamente a professora afastou a xícara da boca e suas sobrancelhas escuras deram voz aos seus pensamentos. Dumbledore quase engasgou com a própria risadinha, no entanto recompôs-se rápido como o especialista em travessuras que era. Perdurando o olhar puro, questionou com delicadeza:
- Posso experimentar o gosto do seu cabelo?
- NÃO!
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