História Diário de Desafios(Sasusaku,Naruhina,Nejiten,Shikatema,Gaaino,Suika) - Capítulo 54

Ino era realmente uma vaca sortuda.

Ontem à noite para a madrugada foi sua festa e hoje como era de fato seu aniversário,ela faltaria.

Nós meros mortais teríamos que comparecer.

A situação estava decadente.

Havia pego carona com Naruto e Karin visto que meu carro ainda estava na pior. Bom,Karin estava só o pó dormindo feito pedra no banco de trás e Naruto...

—NARUTO,SHANAROO!—gritei quando quase batemos em um poste quando ele cochilou por um instante. O loirinho piscou atônito e engoliu seco.

—Desculpa,dattebayo...eu tô com sono...—murmurou manhoso.—E minha barriga está doendo...—completou voltando ao nosso caminho calmamente.

—Por que será né?—debochei e então bocejei.—Eu vi você e a Hinata caindo dentro no fondue.

Ele fez cara de cachorro que caiu da mudança.

—Estava muito gostoso...—murmurou tristonho.

—Agora aguenta.—brinquei e então bocejei.—Ah merda! Passa no posto de gasolina,Naruto! Passar o dia assim não vai prestar,ainda mais com a reunião do grêmio e companhia!

—Tá né.—ele rapidamente parou e então eu saltei do carro com a carteira em mãos. Franzi o cenho vendo uma moto bem familiar parada na frente da loja de conveniência.

Entrei e corri para onde eu sabia que haveriam energéticos de cereja e...

Não tinha nenhum.

Nem unzinho.

E eu só gostava desse sabor...merda.

Gemi de frustração,peguei um de laranja para Karin—Naruto tendo TDAH não era muito recomendável que ingerisse coisas com muita cafeína como energético—e peguei três barras de chocolate e fui na direção do caixa e aí compreendi porque não havia nenhum. 

Alguém havia pego um engradado inteiro do energético.

Não um alguém qualquer.

—SASUKE UCHIHA!—rosnei e ele se virou.

Sasuke estava com os cabelos presos em um coque samurai,seus olhos escuros pareciam exaustos,usava o uniforme do colégio todo fora do lugar e carregava nosso trabalho de economia doméstica em um canguru fofo cor de rosa.

—Não grita,Sakura...—ele balbuciou sonolento.

—Ah qual é Sasuke,eu só tomo esse sabor,não pode pegar outro?—implorei e ele arqueou uma sobrancelha.

—Eu também só tomo esse sabor,rosinha.—resmungou e então suspirou.—Eu divido com você...

Sorri amplamente e pulei para o seu lado.

A atendente nos encarava completamente confusa mas pareceu decidir não tentar entender.

—Ansioso para a reunião de hoje?—indaguei e ele fez careta negando com a cabeça.

—Vai ser um saco. Sempre é um saco.—resmungou.

—Nós podemos tornar divertida...—sorri travessa e ele arqueou uma sobrancelha.—Que tal discutirmos o fundo universitário da nossa linda Saradinha?—indaguei fazendo carinho no cabelo da boneca. A atendente arregalou os olhos mas continuou na sua postura de mão de meter. 

—Hum...acho que nem isso animaria essa merda. Preparada para lidar com o Morino,Guren...?—listou alguns dos líderes mais problemáticos que estariam nessa reunião e eu fiz careta.

—Eu vou matar um deles hoje...—murmurei.

Ele pegou sua sacola e eu peguei a minha e saímos da loja de conveniência.

—Veio com o dobe?—indagou e eu assenti.

—Ele quase bateu num poste e a Karin está dormindo no banco de trás.—contei e ele riu pelo nariz subindo em sua moto.

—Toma.—me deu uma das suas latas e eu assenti agradecida.

—Por que tanto energético?—indaguei e ele suspirou.

—Eu geralmente tenho em casa mas meu irmão fez o favor de tomar todos.—revirou os olhos.—Só encontro os de cereja aqui então comprei pra reabastecer o estoque lá de casa.

—Só gosta mesmo do de cereja?—indaguei divertida e ele assentiu levemente sorrindo de lado antes de pôr seu capacete.

—Até mais,rosinha.—falou antes de partir.

Quando entrei no carro Naruto estava babando em cima do volante.

—NARUTO!—vociferei.

•—•

O dia havia sido uma merda ao quadrado.

O energético serviu até metade dele mas eu estava realmente um caco,minha cabeça parecia que ia explodir por estar com tanto sono e tão cansada.

Ainda havia aquela maldita reunião.

Por ano o grêmio estudantil e os clubes se reuniam para resolver questões imprescindíveis apenas. Os tópicos eram exaustivos e sempre haviam brigas entre os clubes e times.

Tenten estava a um passo de voar no líder da banda marcial mas Sasuke estava a contendo,ou tentando ao menos.

Naruto havia ficado até que bem. Bom,eu tinha dedo nisso,claro. Quando chegamos na escola ele bateu a cara na porta e aí eu vi que deixar ele daquele jeito certamente ia acarretar em um acidente feio então o arrastei até o vestiário masculino e mandei ele tirar a parte de cima do uniforme,o que ele fez após muita lerdeza. Simplesmente enchi uma das banheiras de metal que haviam ali para os jogadores relaxarem os músculos pós jogo e mergulhei a cabeça dele umas cinco vezes na água gelada. Depois disso ele ficou direitinho. Ele estava se divertindo bastante com as discussões idiotas e comigo tentando conter todos,era assim todo ano,ele ajudava nas decisões mas não se metia em brigas,apenas assistia e às vezes continha Sasuke.

Ino deveria estar aqui mas como ele faltou,Guren estava ali representando sozinhas as líderes de torcida e ela parecia mais insuportável que o normal,talvez meu sono tivesse algo a ver.

Shikamaru permanecia de braços cruzados encarando a cena toda entediado e sonolento mas,como sempre,sabia que no fundo ele estava atento a tudo.

Sasuke além de estar contendo Tenten também estava se contendo para não voar em Idate que estava ali representando o time de atletismo. Esse era um fato que revoltava Sasuke,Idate fazer parte de dois times grandes mas não havia nenhuma proibição nisso,Sasuke apenas não aceitava porque o odiava,tinha certeza de que ele diria que não aceitava que Idate tinha direitos humanos básicos caso eu perguntasse então...

Tenten socou a mesa.

—Vamos agir como adultos,senhoras e senhores?!—ralhou ela furiosa e todos acataram. 

Consegui guiar a reunião de maneira até que bem organizada depois disso.

A viagem para Kumo apenas iriam com o ônibus da escola os alunos que necessitassem estar presentes e até o final do dia de amanhã deveriam me entregar uma lista dos alunos que iriam para saber se precisaríamos de mais de dois ônibus ou não. Viagem bate e volta em dois dias,iríamos dormir no ônibus mesmo,era uma forma de economizar.

Bom,por ano nós recebíamos determinada renda ata eventos escolares e coisas do tipo,meu tesoureiro—que por algum acaso era Shikamaru—cuidava para que não extrapolássemos os gastos e assim desse para tudo. Tentávamos economizar ao máximo em eventos deste tipo para que sobrasse bastante para os bailes e a viagem do último ano em janeiro.

Depois resolvemos algumas questões dos bailes. O baile de Halloween não teria mesmo,Tsunade foi irredutível,entretanto,o baile de inverno seria no tema Tempos da Brilhantina,ou seja,gel,motoqueiros,cinturas altas,camisetas justas por dentro das calças,saias rodadas,jaquetas de couro,óculos de gatinho e Elvis Presley no último volume. Decidimos os temas dos outros bailes mas esse era o mais próximo então foi o que teve mais enfoque.

Decidimos também o hotel onde ficaríamos na viagem de janeiro. Beira mar,piscina,duas refeições inclusas...excelente. O problema foi na hora de decidir como dividiríamos os quartos e bancos no ônibus.

—Não entendo porquê garotos não podem dividir o quarto com garotas!—Idate disse como se fosse a coisa mais simples do mundo.—Eu estava doidinho para dividir o quarto com a Haruno...tenho certeza que nos daríamos muito bem,agora tô vendo que ela é gostosinha.—sorriu malicioso e eu fiz uma cara de nojo.

—Dobra a porra da língua,Idate,antes que eu a arranque fora.—Sasuke se pronunciou em tom lento e sombrio. Ele não havia dito uma palavra desde que Tenten havia calado a todos. O grupo ficou em silêncio. Idate estreitou os olhos.

—Só fiz um comentário. E por que está se metendo,você não é nada dela e ela mesma até agora não reclamou de nada.—falou cheio de si e eu fechei os olhos com força. Estava com raiva mas minha cabeça latejava tanto que não conseguia pensar numa resposta,nada vinha.

—Sou amigo mas defenderia qualquer um no lugar dela,o seu comentário foi escroto e desnecessário,aliás,isso se configura como assédio,se ela quiser dar parte de você,ela pode. E é óbvio que ela não reclamou,ela está passando mal,teria notado isso se tivesse mais que dois neurônios que passam a maior parte do tempo dando cabeçadas um no outro.—frisou Sasuke sério.—Se quiser,meu pai está na discagem rápida e tenho o número de mais da metade dos advogados da cidade,quero ver achar um que te defenda.

O rosto do Morino se contraiu em fúria pura.

—Agora,peça desculpas.—ordenou o Uchiha.—Aí nós prosseguimos com a reunião.

As narinas do idiota dilataram e seu rosto ficou vermelho de ódio mas se virou para mim lentamente.

—Perdão,Haruno.—rosnou e eu assenti inexpressiva.

—Prontinho. Algum outro engraçadinho?—indagou Sasuke e ninguém se manifestou.—Ótimo. O que Sakura e Shikamaru estavam tentando explicar mas as genialidades não estavam deixando é que a escola jamais permitiria algo do tipo pois se algo acontecer,eles levarão a responsabilidade. Não importa o quanto alguns jurem de pés juntos que nada vai acontecer.—todos pareceram concordar em silêncio.—Quanto aos lugares no ônibus,creio que isso é algo que podemos resolver de uma forma pacífica. E acho que colocarmos essas mesmas duplas como duplas de checagem é uma boa ideia,mais prático.

Todos assentiram e eu suspirei cansada,ainda haviam outros tópicos que eu sabia que seriam ainda mais estressantes.

—Nara,cuida da reunião?—indagou Sasuke de repente e eu franzi o cenho. Shikamaru assentiu,

Sasuke se aproximou de mim e tocou minha testa.

—Ela está ardendo de febre.—ele murmurou.—O que está sentindo?

—Dor de cabeça,moleza...isso é febre emocional...—murmurei e ele estalou a língua no céu da boca. Pegou o bebê conforto que estava ao meu lado e pôs Sarada nele o apoiando na mesa e então senti seus braços passarem por baixo de mim e me erguerem.

—Me empresta o carro,Naruto? Prometo que volto rápido.—Sasuke pediu. 

—Não quer que eu leve?—indagou Naruto preocupado.

—Você é mais controlado que eu. Você fica,prometo que cuido dela.—disse o Uchiha. Ele estava me carregando no estilo noiva e segurava Sarada na outra mão.

Eu me aconcheguei em Sasuke e ele fez carinho,meus olhos estavam muito pesados e ali eu adormeci.

•—•

Eu estava deitada em algo extremamente macio e confortável,coberta também. Poderia até pensar que era minha cama mas não,minha cama não tinha esse cheiro amadeirado gostoso.

Abri os olhos lentamente e me deparei com um breu de escuridão.

Vi que ao lado da cama havia uma mesinha onde havia um abajur de canos com uma lâmpada,algo bem industrial. Apertei o botão e então o ambiente iluminou um pouco.

Era um quarto grande,as paredes de cimento queimado com alguns quadros e pôsteres de filmes de ação e bandas de rock,muitos da Harley Davison também. Um saco de porradas preto meio surrado estava no canto do quarto junto de um par de luvas da mesma cor com detalhes roxos. Um PS5 junto de uma TV grande,alguns jogos enfileirados. Haviam porta retratos também e foi com eles que eu descobri de quem era o quarto.

Havia um porta retrato grande com vários espaços. Um deles era a foto de um casal jovem bem conhecido por mim,Mikoto e Fugaku Uchiha. Haviam também os dois irmãos pequenos,a família toda...

Era o quarto de Sasuke.

E isso só se confirmou mais ainda quando ele vestindo uma calça xadrez vermelha e uma camiseta preta entrou trazendo consigo uma bandeja de comida—que estava cheirando muito bem—e um remédio e um termômetro.

Ele sorriu gentil para mim.

—Eu ia te levar pra casa mas você dormiu e eu não achei suas chaves então te trouxe pra cá e avisei sua mãe.—falou.—Aliás,ela e seu pai estão lá embaixo conversando com os meus.

Pisquei atônita. Era informação demais para a minha pobre cabecinha.

Eu havia tido febre emocional. Idate, como sempre, havia sido um merda. Sasuke havia me defendido. Ele me pegou no colo e eu adormeci. Ele me trouxe para sua casa. Meus pais vieram para cá. Os meus e os pais dele estavam lá embaixo conversando. Ele havia me trazido comida na cama.

—Aqui.—ele me entregou a bandeja abrindo as pernas que a levantavam sobre mim. Era sopa de legumes,uma sopa com cheiro e aparência divinos.—Levanta o braço só um pouquinho...—pediu baixinho delicadamente e eu o fiz. Ele pôs o termômetro e olhou o relógio no celular que marcava 19 horas e 37 minutos.—Como está se sentindo? Come um pouco para eu te dar esse remédio,você está de barriga vazia...

Isso era verdade,eu estava morrendo de fome.

—Bem melhor...desculpa te dar trabalho.

—Não foi trabalho algum.—retrucou imediatamente de forma serena e terna.

—Eu...—bom,não sabia o que dizer.—Eu estou bem melhor,me sinto menos exausta.

—Sua mãe disse que deve ter sido cansaço extremo misturado com o estresse da reunião.—comentou e então retirou o termômetro sob meu braço e pareceu satisfeito com o resultado.—36,2°.—falou contente.—Acho que nem vai precisar do remédio mas come um pouco,vai te fazer bem. 

—Sua mãe que fez a sopa?—perguntei sentindo o cheiro gostoso. Ele sorriu amarelo de forma fofa e bagunçou os cabelos.

Peraí,o Sasuke fofo? Sasuke Uchiha se enquadrou na descrição fofo?!

—Er...não exatamente...—estreitei os olhos para ele.—Dia de segunda-feira quem cozinha é Itachi ou...eu,e como meu irmão está sabe Deus onde com Konan,fiquei responsável pelo jantar dessa vez.—respondeu.

Eu pisquei uma,duas e até três vezes tentando digerir e lidar com a imagem de Sasuke cozinhando.

Ah,eu dava tudo para ver essa cena extremamente atrativa aos meus olhos...adorava um homem que cozinhasse.

—Não está envenenada,está,Sasuke........?—indaguei e ele me encarou quase ofendido. Tudo fingimento,eu sabia.

—Sim,sim,deixei um pouquinho de arsênio no seu prato,um tempero a mais.—ironizou e eu ri antes de experimentar a sopa cautelosa.

Ora ora...

Quem diria? Sasuke Uchiha era um cozinheiro de mão cheia,estava extremamente bem temperada e um pouquinho apimentada de maneira que eu tinha certeza ter sido proposital,eu adorava comidas picantes e não esperava menos visto que apesar da grande influência chinesa e italiana,sua mãe ainda tinha certos traços mexicanos.

—E aí?—ele perguntou e eu analisei seu tom.

Ele parecia nervoso,como uma criança que espera ansiosamente pela aprovação dos pais em algum feito.

—Aceitável.—falei de brincadeira mas me senti mal quando vi ele murchar,ele havia levado a sério.—Hey! Eu estou brincando,essa definitivamente é a sopa mais gostosa que eu já comi,não é brincadeira.—falei e ele me olhou sorrindo pequeno com as bochechas levemente vermelhas.

Era estranho vê-lo assim,Sasuke sempre foi fechado,temperamental e sisudo,era...novo vê-lo assim,fofo e gentil ansioso pela minha aprovação. 

E os olhos dele...

Os olhos tão escuros quanto a noite mais escura do ano,no ápice do inverno,brilhavam como se houvessem ali mil estrelas. Brilhavam diante de mim,para mim. Eu sentia que podia me perder ali por horas e horas. Sasuke era lindo,isso eu nunca neguei e nem pretendia fazê-lo,entretanto,ali com os cabelos bagunçados,roupas amarrotadas...com aqueles olhos tão brilhantes e cuidando de mim,achei que nunca havia o visto tão lindo.

—Arigatou,Sasuke-kun.—falei sorrindo pequeno e ele piscou algumas várias vezes tão atônito quanto eu antes.

—De nada,tsuma...—murmurou sorrindo pequeno e eu ri lembrando-me das nossas ceninhas na escola.

Eu...por algum motivo senti que não era só por conta das nossas brincadeiras que ele me chamava assim...que...era uma forma carinhosa dele me chamar. Talvez eu estivesse viajando demais,não parecia algo que ele se preocuparia em fazer,ele chamava o melhor amigo de "dobe",então...

—Vamos descer?—indagou após eu terminar a sopa.—Eu subi para te dar comida mas nossos pais...bom,eu estava responsável por impedir que sua mãe e meu pai se matem enquanto minha mãe e o seu pai estão secando uma garrafa de tequila.

Arregalei os olhos horrorizada com aquele cenário caótico que ele descreveu e saltei da cama após ele retirar a bandeja de cima de mim. Ele riu atrás de mim e então eu desci desesperada para me deparar com a cena descrita só que ainda pior.

O pai de Sasuke—com as bochechas coradas de vinho provavelmente—corria tentando desgrudar minha mãe de suas costas—com as bochechas igualmente coradas—que aparentemente estava tentando lhe dar um mata leão enquanto na bancada da cozinha americana estavam meu pai e a mãe de Sasuke rindo igual crianças da cena entre seus cônjuges,segurando copos de shot de tequila.

Respirei fundo e senti Sasuke ao meu lado no pé da escada.

Assobiei alto conforme minha madrinha havia me ensinado e os quatro paralisaram nervosos.

—Mãe,desce das costas do senhor Uchiha.—ela fez careta.—Agora.—reiterei e ela obedeceu mas não sem dar um empurrão no amigo depois que a encarou feio.—Pai e senhora Uchiha,chega de tequila. Sasuke,pega deles.—o caçula da família obedeceu e foi até lá e pegou a garrafa sem resistência dos dois que pareciam constrangidos.—Que coisa vocês quatro,nós não podemos sair cinco minutos que vocês já aprontam?!—ralhei e minha mãe debochou de mim como uma criança.—Está debochando? Bom,pode continuar,vai ficar de castigo um mês. Sem fofocas pelo telefone com suas amigas até altas horas.—determinei fazendo uma nota mental de pegar o celular dela à noite. Ela me olhou indignada mas bufou cedendo.—Que exemplo estão dando para a neta de vocês?!—exclamei indicando a boneca no bebê conforto.

Sasuke atrás de mim abafou o riso e eu confesso que estava me segurando para não rir.

—Desculpe...—os quatro disseram em uníssono.

—Estão desculpadas,crianças.—Sasuke disse zombeteiro e seu pai estreitou os olhos.

—Não provoque,Sasuke Uchiha se não vou te deixar dormindo na casinha de cachorro!—ralhei e ele me olhou indignado enquanto seu pai agora parecia vingado.—Vamos agir como pessoas civilizadas,hum?

—Não é muita novidade Mebuki e Fugaku estarem brigando,sempre foi assim.—dona Mikoto disse divertida. Ela não estava bêbada ao que parecia,apenas mais alegrinha.—Lembra de quando eles jogaram pôquer como dupla?

—Claro que lembro.—meu pai disse gargalhando enquanto os mencionados estavam fazendo careta.—Os dois ficaram jogando errado para que perdessem.

—Mesmo que eu fosse pra foça,pelo menos ele ia também.—minha mãe disse irônica.

—Idem.—Fugaku resmungou.

—Está melhor,florzinha? Ficamos preocupados quando o Sasuke ligou...—meu pai falou terno mudando o rumo do assunto.

—Estou sim.—falei serena.

—Belo modelito,filhota.—minha mãe pontuou com malícia na voz e então quando baixei os olhos notei que eu não usava nada mais,nada menos do que uma camiseta de rock do Sasuke que me servia como vestido. Engasguei com saliva e arregalei os olhos.

Ouvi gargalhadas.

—Fique tranquila,meu bem,eu que te troquei porque o antitérmico,que provavelmente você não lembra de tomar,te fez suar muito e suas roupas estavam encharcadas.—falou Mikoto gentilmente e eu assenti aliviada.

—Vou lavar a louça,se comportem.—Sasuke disse.

—Vou com você.—falei e o segui para a cozinha.

Era um lugar bem espaçoso e pelo balcão americano conseguíamos ver bastante da sala onde os nossos pais riam e brincavam.

—Tenho vontade de ser como eles quando mais velho.—Sasuke murmurou e eu o encarei curiosa.—A maioria das pessoas dos quarenta para cima já sossegaram,são ranzinzas e acham que já fizeram tudo o que havia para ser feito,eles não,aproveitam cada segundo como se fosse o último do jeito que querem,riem,se divertem com os amigos...eu acho que até que fechemos os olhos,ainda temos o que fazer por aqui.

Analisei Sasuke conforme ele dizia e após ele concluir,sua postura relaxada e sábia de certa forma...eu admirava sua maneira de pensar e concordava plenamente apesar de nunca ter analisado dessa forma propriamente dita. Na verdade,por muito tempo...eu inconscientemente reneguei os maneirismos e jeito de ser dos meus pais por não ser o convencional,por eles aproveitarem só extremo,serem "malucos"...e quando não,era julgada por isso e me feria. Hoje...eu vejo que não deveria me importar tanto com o que os outros dizem ou julgam,aprendi que não havia nada de errado em ser como era,em ser diferente e me aceitei assim. Observando o futuro...também gostaria de ser como eles.

—É,eu também...—concordei com o moreno.

Nos organizamos para ele lavar e eu secar a louça. Tínhamos um ritmo bom e sincronizado mas eu era desastrada,estava já esperando que algo caísse e não fiquei surpresa quando uma faca que eu secava escorregou e cortou meu antebraço de leve mas doeu e eu dei um gritinho baixo e Sasuke viu o sangue pingar em pânico.

—Merda!—rosnou para si mesmo e me puxou para lavar enquanto pegava uma caixa de primeiros socorros nervoso.

Não era profundo,não precisaria de pontos mas sangrava bastante. Havia sido próximo dos meus cortes antigos do incidente com Sasori. Sasuke limpava e cuidava do machucado com cuidado e após finalizar colou um curativo sobre o corte mas vi suas sobrancelhas se franzirem sem entender a razão.

—Por que desses cortes?—indagou e eu gelei completamente.—Sempre os vi mas...nunca soube um momento para perguntar. São cortes com cacos de vidro mas são muitos,uns menores e outros maiores.

—C-como sabe...?—perguntei trêmula.

—Tcs. Eu tenho umas iguais.—mostrou seu braço onde havia um corte médio e outros espalhados mas bem mais discretos que os meus.—É vidro temperado. Eu sou o caçula da família,ou seja,sempre tentando provar que era tão capaz quanto meu irmão e primos...—revirou os olhos.—Numa dessas eu tentei andar de skate na piscina vazia da casa do meu tio Madara como meus primos e Itachi,bom,não deu muito certo. Acabei voando e atravessando a janela de blindex e aí me ferrei todo,ao menos meus primos passaram o resto das férias me tratando como rei por terem me desafiado à uma loucura dessas,minhas tias são bem criativas com castigos.

Engoli seco.

Como eu queria que minha história fosse doce e saudosa como essa...

—É...complicados...—murmurei e ele franziu as sobrancelhas.—Eu...eu tenho uma história difícil por trás.

—História difícil,o que quer dizer com isso?—indagou ele tenso e eu suspirei.

—Alguém me machucou muito há alguns anos.—respondi hesitante.—Não me peça para aprofundar o assunto,apenas algumas pessoas sabem e eu posso contar nos dedos de uma mão as vezes que eu falei sobre ele.

Ele ficou em completo silêncio e eu não o encarei.

—Essa....—ele pareceu procurar palavras.—...pessoa que te machucou,ela...ainda pode te fazer mal?—indagou sério e frio. Me lembrei do tom de Itachi quando jogou Sasori na cela da delegacia e de quando Fugaku o interrogou.

—Não. Nunca mais.—falei séria. Eu mesma quebraria ele na porrada agora se ele sequer apontasse o dedo na minha cara.—Eu realmente prefiro não entrar em detalhes do assunto...eu...não me sinto nada bem.

—Certo...talvez seja melhor.—falou sério e eu franzi o cenho o encarando confusa. Ele olhava para as próprias mãos tenso.—Saber quem te fez mal...isso teria tudo para dar errado.

—Por que?—indaguei sem conseguir conter minha confusão.

—Sakura.—ele finalmente me encarou diretamente nos olhos.—Eu precisei de todo o autocontrole do mundo quando Idate começou a vomitar merda na reunião hoje,eu juro que quase o ergui pelo pescoço e o fiz implorar pelo seu perdão.

Arregalei os olhos mas,bem ou mal,não duvidei de nenhuma de suas palavras.

—Imagine se eu soubesse quem ousou encostar um dedo em você? Eu sem dúvida alguma ia enfiar tanta porrada na pessoa que eu só ia sair de cima com alguém me tirando de lá.—falou sério e frio.

Eu sabia que era verdade.

Só não entendia a razão.

—Por que?—indaguei hesitante.

Ele suspirou.

—Na minha família temos alguns ditados,um dos principais é:ninguém ama como um Uchiha.—falou e meu coração errou uma batida.—Eu posso contar nos dedos as pessoas fora a minha família com quem me importo,Sakura,não são muitas. Para bem ou para mal,você é uma delas. Eu não amo ou me importo com muita gente mas quando o faço,é intenso,extremo talvez,eu vou defender essa pessoa até o inferno sem nem hesitar. Eu vou proteger,vou cuidar e amar com todas as minhas forças. Isso é com família,amigos...—ele disse calmamente enquanto fazia um carinho no interior do meu pulso.

—Por que se importa comigo assim...?—indaguei.

Nossa amizade era relativamente recente e até então brigávamos e implicávamos um com os outros sempre.

—Você é uma pessoa incrível,Sakura,não deixe ninguém te dizer o contrário.—disse sério e afetuoso.—Você também me defendeu,lembra?

A cena no refeitório.

—Não precisava mas me defendeu.—reiterou.—Não foi só isso que me fez perceber isso ou confirmar,vários outros fatores estão inclusos,esse é só um exemplo. Você é leal,fofa,gentil,intensa,cheia de personalidade,justa,inteligente,divertida,meio maluca,linda...para mim,é difícil acreditar que alguém não goste de você. 

Eu não sabia mesmo que lhe responder,estava paralisada. Senti uma lágrima escorrer e então outras.

Ele se aproximou de mim carinhosamente e cada uma de minhas lágrimas ele beijou até que não houvesse mais nenhuma lágrima ou vontade de chorar,eu ria pois fazia um pouco de cócegas. Ele se afastou sorrindo docemente e eu o abracei apertado.

—Obrigada...—murmurei.