David
-Certo, Bruna... Certo. - Eu falo, enquanto ouço Bruna falar sobre a situação de Neymar. Desligo o telefone e Oscar me olha, de perto. Eu encolho os ombros e meneio a cabeça. - Ele vai pra granja antes de ir pra Santos. - Engulo seco, e passo uma mão pelo rosto. Fito as pessoas ao meu redor, e sinto um certo vazio que nosso amigo deixa.
A festa não é a mesma sem Neymar. O jogo não será o mesmo sem Neymar e Thiago. E eu levanto os olhos até meu companheiro de zaga. Ele ainda está encostado a um pilar, com uma garrafa de gatorade na mão. Natalia ainda está com ele, e agora eu começo a suspeitar que meus amigos querem pegar as amigas de Fernanda. Estreito os olhos, e observo Júlia, a menina que está ao meu lado, com quem eu já tive a oportunidade de brincar. Ela é expansiva e, ao mesmo tempo, é tímida. Seus cabelos emolduram o rosto de uma forma bonita, e eu inclino o rosto para visualizá-la melhor. Júlia é muito bonita.
Certo, David. Foco. Desvio os olhos da menina e passo a Oscar, que a admira tão cegamente que não consegue tirar os olhos dela. Eu rio, e sinto uma cutucada nas costelas. Uma amável e doída cutucada nas costelas. Sorrio e ergo as sobrancelhas, fitando Fernanda de esgueira.
-Seus carinhos me fazem tão bem... - Eu falo cinicamente, e ela ri.
-Cala a boca. - Ela murmura de volta, e eu pisco para ela. Fernanda ri baixo, e passa a mão por meus cabelos. Eu sinto os dedos dela entrarem pelos fios, e ela observa o serviço atentamente.
-Cuidado não furar os dedos aí nessa bucha.
-Nada a ver. É tão macio. - Fernanda comenta, num tom de voz baixo. - Vem cá, vocês voltam pra granja depois que terminar isso aqui, não é?
-Sim, é. Por que? - Eu aproveito o carinho que ela me faz, esse de verdade, e ela encolhe os ombros.
-Quando você vai pra granja, a gente não pode se ver. - Ela resume, e agora eu atento para esse fato. Ergo os olhos até o rosto dela, porque eu estou sentado no braço de um sofá, e ela está de pé, e passo o braço pelo quadril dela, amarrando meus dedos no cós de seu jeans.
-São só alguns dias. - Eu respondo, e ela se cala. Então eu volto a olhá-la, e só vejo seus cabelos caindo pelos ombros e costas, na minha direção, porque ela me dá as costas. Eu a puxo levemente, para que ela possa me olhar, mas ela não volta. - Fê.
-Espera.
-Ahm... Ok. - Eu respondo, e franzo o espaço entre as sobrancelhas. Volto a olhar Oscar, e ele conversa algo com Júlia, que agora mantém os lábios entreabertos, ouvindo-o atentamente.
Então eu escuto passos de sapato tilintarem no chão, e desvio minha atenção na direção de uma mulher tão jovem quanto o próprio Oscar, mas que veste uma camisa social, uma saia justa com comprimento no joelho, e mantém os cabelos escuros presos. Ela para à nossa frente e cruza os braços, fitando Oscar. Vittoria, membro da comissão técnica e mais linha dura do que muito marmanjo mais velho que ela. Ela observa a conversa de Oscar e Júlia, até que os dois a olham, e ela sorri. Mas, eu não sei porque, parece que era a última coisa que ela queria fazer, agora. E eu até imagino o porquê. Ela sempre foi apaixonada pelo Oscar, desde começou a trabalhar conosco na seleção, antes da copa das confederações. Poucas pessoas sabiam disso porque, apesar de Oscar, o fofoqueiro mais rápido da granja comary, saber da história, não queria que Ludi, a esposa, ficasse sabendo.
-Oscar.
-Eu. - Ele a olha e espera pela resposta. Até eu espero, na verdade, porque quero saber, para poder me vingar das fofocas de Oscar, depois.
-Pode me acompanhar um instante?
-Hm... Posso. - Ele diz, e assente. Para levantar-se, Oscar segura o joelho de Júlia, e eu estreito os olhos, porque vejo o polegar dele fazer um leve carinho ali. Cheira a fofoca. Então, antes de levantar, Oscar ainda beija a têmpora de Júlia, que fica tão vermelha quanto Fernanda ficava, todas as vezes em que me via, quando não éramos...
...
Íntimos. É, acho que é essa a palavra. E eu sorrio de lado, e me imagino sambando, porque hoje tem fofoca. Oscar então anda até Vittoria, que passa as mãos pela camisa dele, desamarrotando-a. Fofoca. Ele ergue um pouco o queixo, e murmura algo para ela. FOFOCA. Eu inclino um pouco a cabeça, e vejo Vittoria sorrir com os lábios. Ela pode até ser linha dura, e muito séria, mas fica extremamente bonita quando sorri. Sem educação, aqui pra nós, ela é mesmo gostosa. FOFOCAAA!! Sinto algo morrer ao meu lado e quando olho, vejo uma Júlia atormentada, acuada ao meu lado, se aninhando perto de mim. Franzo a testa imediatamente, e largo o quadril de Fernanda, que se afasta de mim com um aceno.
-David, eu já volto. - Ela me diz, e eu pisco para ela, voltando a olhar Júlia, que faz um bico. Passo a mão pelo cabelo dela, bagunçando-o, porque não sei consolar pessoas. Mas eu faço o que posso.
-David... Como se apaixonou pela Fê? - Ela me olha, e eu, que já estava calado, sinto minha voz dar adeus. Sorrio e encolho os ombros, pigarreando.
-Do que está falando? Ei, o que é isso no seu cabelo? - Então eu passo os dedos pela orelha dela e tiro uma moeda de lá. Mostro a ela e ela pisca algumas vezes.
-Uau, você também é mágico? O que você não sabe fazer? - Júlia inclina o rosto, e eu sorrio. Ela é bonita, não sei porque Oscar está perdendo tempo. Então olho rapidamente para ele, que ainda está sendo assediado pela Vittoria saia justa, e lembro porque.
-Hm... Bolo. Já tentei uma vez, com minha mãe, lá em casa. A cozinha ficou fedendo a queimado por uns dias. Tive que trocar o fogão depois, porque tudo o que a Pateta fazia ficava com gosto de defumado. - Ela ri, e eu atinjo meu objetivo. Não sei consolar pessoas, mas sei desviar a atenção delas do que faz mal. Isso eu sei.
-Quem é Pateta?
-Uma das minhas cozinheiras. São três. Pateta, Patetinha e Patetona. São três mães que eu tenho lá em Londres. - Eu falo, lembrando delas, e sorrio. Só retorno à nossa conversa quando Júlia cutuca minha coxa. - Oi? - Ela sorri com os lábios, e fica ainda mais bonita assim.
-Oscar está com essa garota mesmo, não é? - Ela sussurra, e eu a afasto um pouco de mim. Desço do braço do sofá e sento ao lado dela, então me inclino sobre Júlia e murmuro em seu ouvido:
-Eu tenho a impressão de que eles já se pegaram algumas vezes, sim.
-É... Eu percebi...
Nós dois, então, olhamos para frente, e eu vejo Oscar falar alguma coisa, com uma mão na cintura e a outra penteia o próprio cabelo. Vittoria ri baixo, e o olha de canto, charmosamente. Ela é gostosa, definitivamente. O modo como ela passa os dedos pelo peito de Oscar chega a me envolver, quanto mais o pobre. Eu coço a testa e vejo pelo canto dos olhos Fernanda conversar com alguém. Sorrio de lado, e volto a olhar Júlia, que tem uma expressão novamente triste. Passei tempo demais visualizando a FOFOCA DO DIA! E esqueci da menina.
-Julinha, é assim que a Fê te chama, não é?
-É... - Ela fala, encolhida no sofá. Eu passo o braço pelo ombro dela e a trago para perto de mim, e ela encosta a têmpora em meu ombro. Eu rio baixo.
-Depressiva da depressão. - Eu murmuro, e ela solta o ar pela boca.
-Ah...
-Quer outra moeda? - Eu pergunto, e ela suspira pesadamente. Eu encosto o queixo em seu cabelo. - Quero te adotar, sabe? - Eu falo, e ela se desvencilha de mim. Júlia me olha com o semblante franzido, e eu arregalo os olhos, então a expressão dela se ameniza.
-Nossa, que olhos grandes você tem. - Ela diz, e eu rio alto.
-As respostas de vocês são as melhores. Eu disse que queria te adotar e você fala dos meus olhos. E sim... Parece que vão sair da caixa. - e eu arregalo os olhos novamente, fazendo uma careta. Ela ri baixinho, e eu meneio a cabeça. - Viu? Por isso quero te adotar.
-Ah... - Ela cora, e inclina o rosto, passando a bochecha pelo ombro. - Você me leva para morar em Londres? - Nós rimos, e eu assinto. Desvio os olhos ao meu redor só para ver como está a festa um segundo, e vejo Thiago em ação.
Até o momento, eu só havia visto ele falar e falar e falar. Mas, no instante exato em que eu olho em sua direção, Thiago me olha. Eu o observo, e vejo que ele está mais próximo de Natalia, e os dois conversam mais baixo. Vejo então ele sorrir com malícia, como se fosse fazer algo ruim. Eu estreito os olhos, e ele puxa Natalia pela cintura, com uma mão, e a traz para mais perto de si. A menina é pequena, e perto de Thiago se torna ainda menor. Ele conduz Natalia para mais longe, e para fora de nossas vistas, e eu me inclino sobre Júlia, quase deitando sobre o colo dela, para poder ver o corredor por onde Thiago saiu com Natalia.
Então eu vejo.
Thiago pressiona a menina contra a parede e segura seus pulsos, prendendo-a de modo que ela nunca conseguiria soltar-se. FOFOCA! Thiago beija a boca de Natalia vorazmente, e eu vejo fogo escapar por entre eles, porque Natalia parece querer agarrá-lo da mesma forma como ele próprio faz. Ele esgueira o corpo pelo dela, e volta a pressioná-la contra a parede, e eu curvo os lábios para baixo, num sinal de "Well done, friend." Então sinto algo se apoiar em minhas costas, e olho de lado para Júlia, que está de boca aberta, olhando a mesma cena que eu.
-Que babado, cara... - Ela murmura para mim, e eu rio baixo. Nós dois estamos enroscados no sofá, mas não me importo, porque ao menos estou vendo todas as FOFOCAS! da festa, de camarote.
-Era o que eu estava pensando aqui, Julinha. - Eu digo, e volto a olhar Thiago. Ergo as sobrancelhas quando percebo que se eles continuarem assim, vão se pegar ali mesmo no corredor. Então ele se afasta dela e a gira, guiando-a pelo corredor adentro, e os dois desaparecem.
-Nossa... Que inveja dela. - Júlia murmura, para si mesma. Ela descansa o cotovelo em minhas costas e apoia a mão no queixo. Meus pés estão suspensos no ar, fora do sofá, e eu rio.
-Inveja de que, mulher, eu não sirvo? - Eu falo, e ela ri, me olhando.
-Ah sim, ótimo encosto, David Luiz. - Ela diz, com uma expressão sorridente, mas vejo algo de desapontado ali.
-Poxa... Nem pra encosto eu sirvo. - Eu comento, fingindo estar triste, e Júlia inclina o rosto, rindo de mim.
-Aaaaah David! - Então ela me abraça e eu sinto seu dorso e seios se esmagarem sobre minhas costas. Olho de canto e rio.
-Nunca mais a gente consegue se desatar, ta sabendo disso? - E ela ri.
-É, estou. - Ela responde, e eu espero que, assim, ela tenha esquecido, pelo menos parcialmente, de Oscar.
-Que diabo é isso? - Ouço a voz dele dizer, e levanto o rosto.
-Perdeu, prayboy. Perdeu. Vacilou nas quebrada, perdeu. - Eu imito a voz de alguém que não conheço, e ele ri, inclinando o rosto para o lado.
-Julinha, você está bem? - Ele pergunta, com a cara de pau bem lustrada.
-Eu estou. - Ela diz. - David vai me adotar e me levar pra morar na casa dele, e não vai me soltar nunca.
-Aham... E a Fernanda achou o que dessa conversa?
-A Fê? Vai ser minha mãe. - Júlia diz, com a voz doce e macia, e acaricia minhas costas. Eu rio, sentindo-a fazer desenhos de corações entre meus músculos, e olho ao redor, procurando por Fernanda, quando escuto alguém falar alto, e é a voz de Marina.
Desvencilho meu corpo de Júlia e sento, vendo Sara sair do salão e Marina cruzar os braços. Vejo Fernanda menear a cabeça, e Jordany apontar para Marina, ao lado de Fernanda. Vejo minha... (Não sei o que Fernanda é minha, mas ela é minha) sair depois, correndo atrás de Sara. Então eu levanto e arregalo os olhos.
Mais uma fofoca dessa noite. Uma que eu, realmente, não queria que acontecesse. Porque agora a porra ficou séria.
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