História Diário Secreto - Amor e Ódio

“Estou tremendo. Morrendo de medo. Sei o que devo fazer, mas não tenho coragem. Minha alma vacila, só de pensar em te deixar...”

‘Esteja avisado: você teve sua chance e a desperdiçou, perdendo ou não a memória, agora é minha vez. E eu não pretendo perde-la. Não tenho culpa se você jogou sua querida irmãzinha em uma aposta. Seja homem, e aceite as consequências como um bom perdedor.’.

Dake Rhulji... Porque eu não quebrei a cara dele? Eu tinha todos os motivos possíveis para isso! O que diabos aquele canalha estava dizendo? Que eu coloquei Lenna como o prêmio de uma maldita aposta?! Céus! O quão estúpido eu devia ser pra fazer algo assim!

Mas que droga! Mas que merda... Ah! O que eu deveria fazer agora? Tenho que pensar em alguma coisa. Não posso deixar esse cara, do qual não tenho a mínima ideia do tipo de pessoa que realmente é se aproximar dela! Saco. Como se a ideia de deixar aquele idiota do Nathaniel cuidar dela já não fosse dolorosa o suficiente, vou ter que limpar o caminho dele, de caras como Dake e Lysandre também?! Ridículo, isso é miserável demais, até pra mim.

Mas que inferno de situação absurda eu fui me meter! Alias, que inferno de vida eu arranjei pra mim! Apesar de desejar mais do que tudo poder ficar com a Lenna, poder tê-la só pra mim, depois da lembrança que invadiu minha mente como uma bomba ontem... Sei que jamais poderei fazer isso. Não tenho esse direito, mesmo que agora eu já não seja mais o mesmo, e não consiga acreditar no que no mundo, me fez cair tão baixo, ao ponto de fazer o eu fiz com ela... Não, se Lenna ao menos conseguisse me perdoar pelo que a fiz passar, eu já teria ganhado mais do que eu mereço.

Lembrar disso fez minha mão coçar. Não fosse pelo que havia me lembrado, no exato momento em que vira Lysandre cantando aquela música no carro, provavelmente o teria espancado ali mesmo. Além disso, acho que só não me descontrolei e fiz isso até agora, porque Ambre me deu carona até em casa e não tive o desprazer de encontra-lo de novo. Aquele miserável! Como assim ele namorou a Lenna, e ainda por cima, gostava de outra garota? Ele com certeza a estava usando como um substituto para um amor que nunca seria seu!

Cretino! Ele não tem um pingo de decência?! Pensar que eu quase caíra no que ele me disse quando acordei no hospital, me dá vontade de vomitar! Melhores amigos... Que tipo de amigo ele pensa que é? Tudo o que ele faz é tentar acabar com cada pedacinho de felicidade que consigo resgatar! Não fosse por ele também, eu não estaria sofrendo com essas malditas lembranças. De fato, eu ter recordado tudo isso e estar sofrendo agora, é tudo culpa dele. Mesmo assim, não posso censura-lo por me tratar assim, levando em conta o que fui capaz de fazer á Lenna.

Estou ansioso e ao mesmo tempo temeroso, me remoendo de angústia enquanto a espero entrar sem aviso prévio. Será que ela vai demorar muito pra vir? Decidi contar a ela, para o bem dela, o pecado que cometi no passado. O pecado, que havia nos levado ao momento em que vivíamos.

Talvez devesse avisá-la sobre essa estúpida aposta também... Não. Tenho que resolver isso eu mesmo. Não posso colocar mais coisas sobre os ombros dela, é pedir demais. Já o que vou lhe contar não será fácil de engolir... Ela nunca mais vai me olhar do mesmo jeito. Com certeza vai me rejeitar e nunca mais poderei tocá-la ou mesmo ter uma conversa normal. Mesmo assim, não é justo esconder algo assim.

Preciso arcar com a responsabilidade do que fiz, ainda que acabe saindo mais ferido do que já estou. Deitado na cama olhando para teto do quarto, comecei a ficar cada vez mais e mais impaciente. Decidi levantar e procura-la, já que parecia que Lenna não viria tão cedo.

Procurei por ela em todos os cantos da casa, em seguida fui até o jardim. Voltei e a chamei varias vezes, sem obter resposta. Onde diabos essa menina se meteu? Confuso, fui ver se não estava em seu quarto. Bati na porta e chamei seu nome. Nenhuma resposta. Decidi abrir a porta e checar se não havia mesmo ninguém ali. Parecia que ela estava dormindo, debaixo de um cobertor. Decidi deixar pra falar com ela depois e voltei ao meu quarto.

- Onde você estava? – tomei um susto.

Lenna estava em pé ao lado da minha cama, com braços cruzados me encarando.

- Como chegou aqui tão rápido? – ela não estava no próprio quarto agora a pouco? – Espera! – céus! Estou sendo ridículo – Quem está dormindo no seu quarto?

- Ah, deve ser o Nathaniel – arregalei os olhos – Ele praticamente se apropriou da minha cama desde ontem – emburrou a cara e olhou para o lado, irritada.

Como assim desde ontem?! Eles dormiram juntos?!

- Está dizendo... – tentei manter a calma – Que ele teve a coragem de... - não podia imaginar uma coisa assim – Ele não fez nada com você fez? Se ele fez alguma coisa eu juro que acabo com ele! – não pode ser verdade!

- O que?! – se sobressaltou – Não, não! – disse rapidamente – Ele não fez nada disso, nem tentou qualquer coisa! – seu rosto estava um pouco vermelho – Não fez nada além de quase me jogar pra fora da cama, só isso – esclareceu.

- Entendo – suspirei aliviado – Então foi só isso...

- Hunp! – Lenna parecia indignada com alguma coisa – Só isso... Claro, não foi você quem teve a cama ocupada sem permissão, quase sendo expulso dela! – fez uma cara tão indignada, que não pude deixar de rir um pouco.

- Desculpe, acho que tem razão – tentei conter o riso aos poucos. Mas se não fosse só isso, eu não conseguiria ficar em paz e teria que fazer algo em relação a ele – De qualquer forma, porque demorou tanto pra vir e como entrou sem que nos encontrássemos antes? – perguntei curioso – Te procurei por todos os cantos!

De repente, o rosto de Lenna ficou tão vermelho quanto seu cabelo e seus se desviram em direção aos próprios pés. Por algum motivo, ela havia ficado envergonhada, o que me deixou confuso.

- Algumas coisas... Hum... – me olhou por um momento e então desviou o olhar rapidamente – Bem, acabei encontrando com o Lys e íamos assistir um filme – Lysandre... Peraí! Desde quando ela o chama assim?! – Mas ele recebeu uma ligação de alguém e disse que tinha que ir até um certo lugar, se desculpou e correu até a porta – ela parecia intrigada com isso – Quanto a não termos nos visto enquanto eu vinha pra cá, tive que ir no banheiro primeiro.

- Ele não disse quem havia ligado? – acabei ignorando qualquer outra coisa que ela houvesse dito depois disso.

- Não – me encarou, subitamente esquecendo a vergonha – Achei estranho, ele parecia estar bem preocupado.

Esse cara... Onde diabos ele precisaria ir com tanta urgência? Ainda mais depois de uma ligação repentina... Tenho que prestar mais atenção nele, definitivamente!

- Bom, o que você queria conversar comigo, quando me chamou mais cedo?

Surpreendido por suas palavras, acabei voltando a realidade. Havia esquecido do que tinha decidido. Iria contar a ela toda a verdade, ainda que depois ela o visse como a pior das criaturas. Em seguida, ciente do que estava por fazer, seu coração ficou apertado e dolorido. Apesar da dor já ser insuportável, ele sabia que, quando Lenna soubesse de tudo, aquela dor iria parecer como um sonho, se comparada ao estado em que seu coração viria a ficar depois de ser completamente rejeitado pela única pessoa por quem batia.

- Tenho que te contar algumas coisas importantes que você precisa saber – me aproximei e fiz com que ela senta-se na cama de frente pra mim, então me sentei no chão aos seus pés – Não importa o motivo, por favor, peço que escute tudo até o fim – olhei em seus olhos confusos – E acredite em mim quando digo que, se pudesse, nunca teria escolhido recordar essas lembranças.

- O que quer dizer com isso... Castiel? – ela estava visivelmente preocupada e assustada, sorri de canto. Tomara que eu tenha forças para conseguir fazer o que é certo aqui...

Suspirei atordoado com o efeito assustador que sua simples presença podia provocar em mim. Se demorar mais vou perder a coragem de contar a ela a verdade.

- Eu te amo Lenna – olhei em seus olhos e segurei suas mãos, enquanto seus olhos se arregalavam e a incompreensão preenchia seu lindo rosto – Mais do que qualquer um no mundo, eu te amo, não como seu irmão, mas como homem.

- ... – seu olhar baixou em direção ás nossas mãos unidas e seu rosto voltou a corar como um pimentão – Como... O-o qu-que... I-sso não... Eu... – suas mãos tremiam e ela mal conseguia pronunciar uma palavra sem gaguejar.

Só com essa reação, meu coração teria explodido de felicidade, não fossem as malditas lembranças terem voltado para atormentar minha alma e exigir minha punição. Depois de um tempo, Lenna pareceu criar coragem e voltou a me olhar nos olhos, aparentemente sem saber o que dizer.

- Entretanto – continuei, recuperando o controle – Depois do tenho para lhe contar – e então foi minha vez de desviar o olhar para baixo. Não havia como encará-la daqui por diante – Tenho certeza de que vai me odiar pelo resto da vida.

Meu nome é Castiel Wezzy Horen. Tenho 23 anos. Kentin e Lenna são meus irmãos adotivos. Ambre, Dajan, Viktor e Violette parecem querer me ajudar. Dizem que Lysandre era apaixonado pela namorada do irmão. Estou prestes a dar á pessoa que mais amo, todos os motivos e razões para me odiar e desprezar pelo resto de minha vida miserável. Se me tivesse sido dada a oportunidade, em vista do que estou prestes a fazer, eu certamente teria preferido morrer naquele acidente...

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