Dia XXVIII - Famílias do Santuário. Parte final.
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- Você realmente foi muito severo com ele... – Ainda resmungava Piada quando saíam do recinto de aprendizes, encaminhando-se para a Fonte de Athena – Tirar a armadura do Remo! Ele que não faz mal sequer a uma mosca?
- Piada, você é apenas uma criança, não quero que se meta nesse tipo de assuntos – Disse simplesmente Egas, pelo caminho estreito de pedra em que estavam já era possível ver as doze casas.
- Mas eles são meus amigos, os dois! Tenho certeza que você se meteria se fossem seus irmãos! – Resmungou o canceriano. – Eu sei que o Grande Mestre não te aceitou como braço direito, AINDA, porque te acha muito novo para tanta responsabilidade e que você tenta provar que é capaz sendo o melhor líder possível para os cavaleiros de prata, mas também não precisa exagerar!
Quanto a isso Altar parou, franzindo a expressão. Câncer também hesitou, perguntando-se se havia falado demais.
- Sabe Piada, às vezes você me assusta...
-...Hmmm...Por quê? - Perguntou, fazendo seu melhor sorriso inocente.
-...Muitas vezes você prevê o que eu vou dizer, ou mesmo o que vou fazer – Comentou com seriedade olhando para as quatro primeiras casas.
- Isso apenas significa que você é um chato previsível! – Exclamou infantilmente, puxando dois tuchos do cabelo contrário, como se puxasse as rédeas de um cavalo.
-...Às vezes, eu também sinto que te conheço mais do que deveria, é estranho, nem nos vemos tanto assim, com você sempre viajando com seu mestre. - Comentou pensativo – Ainda assim, sinto-me próximo de ti como se fosse um dos meus irmãos pequenos.
Isso fez o canceriano ruborizar-se levemente, sentindo um pequeno calor em seu coração, Sage, na vida passado, o havia criado desde criança, como um verdadeiro pai faria, mas nunca o chamou de nada além de “velho”.
- Isso porque eu sou uma criança maravilhosa e todos adoram passar tempo comigo – Desconversou falando em tom arrogante, isso apenas fez o prateado rir – Você se preocupa mais Egas! Tentando arranjar motivo para tudo.
- É...Acho que tem razão, mas é da minha natureza ser racional – Dito isso recomeçou a caminhar, enquanto o pequeno canceriano apoiava o queixo no topo de sua cabeça – Está doendo muito sua perna? Shijima pegou bem pesado contigo.
- Ele está aprendendo a controlar suas técnicas ainda, isso é normal – Colocou com simpleza fechando seus olhos. – Ei Egas.
- O que foi?
-.... – Fez um pequeno silêncio constrangido antes de continuar, o caminho estreito, agora paralelo a casa de Áries, finalmente revelando um pouco de Rodorio no horizonte, a igual que a Fonte de Athena e sua estrutura externamente circular. - ...Sabe...Se você quiser, pode me tratar...Como se fosse um de seus irmãos...
Isso soava ainda mais idiota sendo dito do que quando o pensou em sua cabeça, soava infantil e muito desesperado de sua parte, mas na verdade realmente queria ter novamente uma relação próxima com o antigo Grande Mestre, mesmo que soubesse que nenhum dos dois é realmente a mesma pessoa.
Levou um grande susto, então, quando Egas o tirou de seus ombros, por um instante pensou que levaria uma bronca, mesmo que isso não fizesse muito sentido, ao invés disso, o outro canceriano o tomou no colo como se faz com um bebê.
- O-o que você está fazendo?! – Exclamou, avermelhando-se tal qual um tomate.
- É assim que eu sempre levei meus irmãos - Explicou com simpleza – Facilita a segurá-los caso comecem a flutuar sem querer.
- Vocês lemurianos e seus problemas – Comentou com graça, extremamente constrangido, mas ao mesmo tempo, muito feliz – Mas sabe, eu posso me acostumar a essa vida – Espreguiçou-se – Me acorde quando chegarmos, irmão mais velho – Colocou numa falsa voz demandante.
Em resposta, Egas apenas riu com carinho.
- E ainda por cima é folgado, parece até o Irekuha. – Brincou.
- Ooooh, vou falar para o nosso irmão que você o chamou de folgado!
- Ei! Nem pense nisso! Ele não me deixaria em paz se soubesse! – Exasperou-se.
E foi a vez da reencarnação de Manigold rir gostosamente da situação enquanto avistavam a entrada da Fonte.
-.-.-
Irekuha achou peculiar como os dois cancerianos chegaram até a Fonte, rindo e brincando um com o outro, com Piada nos braços do mais velho, porém não comentou nada, a interação de ambos sempre pareceu natural apesar da diferença de idade, como se ambos se conhecessem de toda a vida, embora para Piada isso era verdade, uma vez que tinha chego ao Santuário com apenas um aninho de idade.
Ajudou a levar o menino a uma das macas e logo Kiki, depois de atender a Logam que havia quebrado o braço depois de uma disputa de força com Geki, foi avaliar o menino.
- Sente dor quando eu faço isso? – Perguntou o lemuriano mais velho, de cócoras no chão, torcendo levemente o tornozelo do garoto.
- Não...
- E assim?- Virou para o outro lado.
-...Não.
- E agora ? – Para a frente.
- AAII! - Exclamou fazendo Egas por instinto dar um passo a frente, preocupado.
- Fique tranquilo irmão, mestre Kiki sabe o que está fazendo – Acalmou seu gêmeo, observando com graça como o prateado parecia ainda mais aflito que a criança ferida. – Você está parecendo uma mãe coruja.
- Cale a boca, Irekuha – Resmungou, cruzando os braços.
- Não parece nada sério – Concluiu o médico erguendo-se – Uma torção leve. O que aconteceu exatamente?
- Eu lancei um golpe em Shijima e o Khan dele fez eu VUUUUUUUUUUM – Imitou com a mão algo sendo lançado longe – Láaa no meio da arquibancada.
- Sem armadura? – O olhar do lemuriano se franziu de tal modo que levou um arrepio a coluna de seu aprendiz curandeiro, enquanto seu irmão o provocava por sua expressão exagerada dando-lhe uma cotovelada na costela.
-....Aaaah...Sabe como é neeée – Desconversou o canceriano – Eu não sou aiiiinda cavaleiro de ouro, e meu mestre está em missão, sabe, é norma daqui só ir em missão de armadura – E terminou sua frase sorrindo com inocência.
-...Quem estava acompanhando seu treino?
Antes que Piada pudesse inventar alguma desculpa, Irekuha empurrou o irmão para a linha de fogo.
- Egas estava com ele, senhor Kiki – Disse em tom prestativo.
- Isso é verdade? – Questionou o mais velho cruzando os braços, voltando-se completamente para os gêmeos próximos a porta.
Às costas do cavaleiro de Áries o futuro cavaleiro de ouro levava a mão ao pescoço, indicando com o gesto que estaria morto se admitisse a culpa, ainda assim Altar ergueu a cabeça, jamais mentiria para o discípulo de seu pai, e praticamente seu irmão mais velho.
- Sim, senhor Kiki, eu estava-
Contudo, não pôde terminar sua frase, porque antes mesmo que pudesse processar uma muralha de cristal simplesmente surgiu poucos metros à sua frente, colidindo consigo e o enviando porta a fora pelo tremendo impacto a queima roupa.
O curandeiro se limitou a esticar a cabeça para ver onde o outro havia caído, enquanto Piada se limitou a fechar os olhos com empatia pela dor de seu pseudo irmão.
- Se tem uma coisa que eu não admito, é que um mestre, mesmo que seja um substituto, não tome a devida atenção aos seus aprendizes quando estão treinando, e os permita se ferir assim, SEM ARMADURA. Irekura – Voltou-se rispidamente ao seu aprendiz, que arrumou a coluna em pose reta como se estivesse no exército.
- S-sim?
- Vá ver se ele está bem, além disso, quero que cuide de Piada para mim – Disse indo até o fim do corredor, numa bancada de mármore – Preciso ir no ressinto dos aprendizes ver como Milo está, consegue cuidar de tudo até eu voltar?
- Claro, senhor! Eu já volto! – E rapidamente saiu para cumprir sua primeira ordem.
O encontrou de cara no chão, com o traseiro meio erguido comicamente, enquanto Julian o cutucava com a ponta do pé, enquanto um dos braços estava ocupado carregando um pacote enorme sobre seu ombro direito.
- Um dia difícil de trabalho, imagino – Comentou com graça o leonino, enquanto o canceriano ficava sentado e limpava a terra e sangue de seu nariz da forma mais honrada que podia.
-...Nem pergunte – Resmungou simplesmente, vendo seu gêmeo se aproximar – Obriiigaaado pelo ajuda “irmãozinho”
- Isso é por você insistir em chamar meu medo do senhor Kiki de “frescura” – Acrescentou vingado, cruzando os braços – Ninguém mandou não acreditar em seu irmão.
- Senhor Kiki te lançou até aqui? – Comentou levemente impressionado Julian, calculando a distância – Ele está ficando muito bom nisso, da última vez que lançou um de nós porta a fora, só percorremos metade da distância.
- Você fala como se isso fosse normal para vocês. – Colocou com descrença o líder dos cavaleiros de prata aceitando a ajuda para levantar-se.
Quanto a isso, o cavaleiro de leão apenas deu de ombros.
- Ossos do ofício, eu diria – Retou importância, então sua expressão se franziu, sentindo uma ligeira mudança na pressão do ar ao seu redor, olhando para todas as direções, até se focar no caminho que levava a Rodorio.
- O que foi? – O curandeiro chegou a perguntar, mas não foi necessário uma resposta quando quatro figuras surgiram justamente na direção que o dourado observava, Muh, Rivera, Shion e Dohko. O primeiro levava o cabelo roxo numa trança às suas costas, além de usar suas tradicionais roupas. Seu mestre esbanjava um cabelo curto, que chegava até seus ombros e se via bastante espetado, a criança possuía seu cabelo branco e armado habitual, agora solto, e sua pele morena brilhante. Enquanto Dohko estava sem camisa pelo calor, usando apenas uma calça chinesa.
E foi justamente nesse momento que a embalagem do que levava Julian começou a escorregar, revelando uma pata de um cordeiro morto, a igual que que parte de seu focinho.
-...É o senhor Frixo decididamente precisa de um óculos novos, eu disse para ele que não tinha fechado direito a embalagem do lado esquerdo, mas como bom grego ele foi teimoso – Comentou desinteressadamente vendo como um pouco de sangue começava a escorrer para o chão. – Desculpem pela cena senhores, nada pessoal.
Rivera começou a chorar pelo grotesco da cena vendo um animal morto e sangrante na sua frente, Muh, Shion, e mesmo os filhos do primeiro, por outro lado, olhavam para a carcaça com verdadeira repulsa e nojo, sendo todos vegetarianos.
E ainda por cima era um carneiro filhote.
O único que achou graça da inusitada situação foi Dohko.
- Que isso Julian! Espero que isso não seja uma ameaça, porque você não pode abater os primos dos nossos companheiros zodiacais desse jeito! – E riu e sua própria piada enquanto Shion batia a mão na cara pedindo paciência.
Esse dia, mesmo antes da festa começar, havia sido cheio de emoções e conflitos familiares, seja daqueles que possuíam o mesmo sangue, ou daqueles que sentiam que pertenciam a mesma grande família.
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