Kenny limpou o sangue da sua boca com sua mão esquerda e demorou um pouco para ele reconhecer o rosto da pessoa que o chamara em meio aos presos, mas ele reconheceu
Kenny: Luiz? Por que está aqui? – ele abriu um sorriso, que em seguida se desfez, talvez as circunstâncias agradáveis para um encontro entre conhecidos não fosse aquela, o longo cabelo de Kenny estava bagunçado, mas estava caindo para frente, cobrindo a faixa de gaze no seu rosto – Vem, por aqui
Kenny saiu abrindo espaço em meio aos peões escravos e Luiz foi atrás dele, ele fez um sinal com as mãos para Michel acompanhar os dois. Caminharam até um canto vazio da sala branca e se isolaram dos demais presos
Kenny: Me diz agora, o que aconteceu? Cadê o Zacarias?
Luiz: Não se preocupe quanto a ele, ele deu conta de chegar até nós, ferido e deploravelmente cansado ao extremo, mas chegou
Kenny abriu os braços e olhou pro teto
Kenny: Graças a Deus, temos uma testemunha lá fora de tudo o que aconteceu na Resistência. Mas e quanto a esse cara aí, quem é?
Luiz: História longa, te conto depois, mas ele está do nosso lado, relaxa, confio no Michel
Kenny: Michel é o seu nome? Bom eu sou o Kenny – ele disse estendendo a mão, e Michel apertou-a, dando valor ao cumprimento
Michel: O prazer é meu Kenny
Kenny: Só devíamos ter nos conhecido de outro jeito e em outro lugar, mas se o Luiz confia em tu, eu confio também. Agora me diz, o quem aconteceu de fato?
Luiz: Se liga, o Zacarias chegou até a gente, ele contou tudo o que aconteceu. É unânime Kenny, esses desgraçados daqui estão em todo lugar, feitos ratos de esgoto
Kenny: Souberam da Alissa?
Luiz: Claro que soubemos, fomos até a Sociedade Central, eu e o Zacarias, falar com o Wellyton sobre o ocorrido
Kenny: E?
Luiz: E achamos o traidor da Sociedade, Victor
Kenny: O antigo sangrio? Puta merda
Luiz: Pois é, não sabemos se era só ele que estava lá de tocaia, mas só de termos pego um já deve ter deixado o resto que talvez existisse com medo e em alerta. O grande problema é que os nossos números estão reduzidos demais, você já reparou na estrutura desse lugar? Está fora dos nossos padrões, mil anos afrente talvez, é muito evoluído
Kenny: Eu sei disso, e se antes não tínhamos chance agora acho que temos menos ainda, as armas desses caras são tecnológicas demais. Possuem três legiões diferentes de soldados, cada uma delas liderada por um general. São três ao total, eles possuem até o odino
Michel: Como tu sabe disso tudo?
Kenny: Tomei meus cuidados e recolhi o máximo de informação que pude assim que eu cheguei até aqui, cada um dá seus pulos pra se virar, eu dou os meus, e tô levando
Luiz: Odino...
Kenny: A moeda local, puta que pariu Luiz, estávamos de certa forma vivendo como animais se comparados a esses malucos daqui, não adianta tentar fazer ou falar nada pra tentar convencer do contrário, para todas as coisas que tivermos em nossas mãos eles vão ter outra, e ainda vai ser dez vezes melhor
Michel: Desse jeito você nos coloca em um nível muito rebaixado cara
Kenny: É um fato, estamos rebaixados
Luiz: Certo, mas isso não nos leva a nada, pensar assim
Kenny: Como tu parou aqui?
Luiz: Ontem a noite, o Carlos matou o Arthur e o Leonardo, perto da estrada do velho Johnny, e me trouxe praça junto com o Michel
Kenny virou-se e deu um soco na parede
Kenny: Carlos?
Luiz: Conhece?
Kenny: Soube que é um dos três legionários, junto com Xavier e mais outra pessoa, essa eu não conheço
Luiz: Aquele desgraçado
Kenny: Conhece ele de perto? Digo, eram próximos? Pelo jeito que você falou
Luiz: Mais do que você imagina
Kenny: Mataram metade da minha gente a agora levaram as vidas de dois do Éden, estamos na merda
Luiz olhou para os lados e viu como os outros prisioneiros estavam olhando feio para os três
Luiz: Ei Kenny, vamos dar uma volta pra outro canto, beleza?
Kenny olhou e percebeu o motivo dele ter falado isso
Kenny: Entendi
Os três saíram caminhando e voltaram a socializar-se com o retos dos peões
Kenny cutucou Luiz
Kenny: E quanto ao Éden?
Luiz: Está seguro, a Sarah tá tomando conta de lá, eu espero. Os que viveram da Resistência, onde estão?
Kenny: Não sei, aqui na mansão não encontrei nenhum, mas muitos estão vivos ainda, trouxeram nós aos bocados, só falta descobrir o que fizeram com o meu povo
Michel: Vamos te ajudar a descobrir, temos todo o tempo do mundo aqui dentro
Kenny parou de caminhar
Kenny: Escutem os dois, eu não sei ao certo o que acontece atrás dessas paredes brancas, mas tomem cuidado, porque com toda a certeza não é legal. Já vi um desses caras usando uma camisa de força e sendo arrastado até lá com correntes
Luiz: Ótimo, um campo de concentração
Michel: Quase isso
Kenny: Mais uma coisa, na verdade duas, olha, de vez em quando vão chamar vocês por números, mas não aos poucos, uma leva de peões escravos vai junto – ele apontou para o número nas camisas amarelas dos dois – não vão usar seus nomes, eles não sabem e estão pouco se fodendo pro nome de vocês, mas sabem seus números
Luiz: Temos que sair daqui Kenny
Kenny: É o que eu mais quero, mas atualmente não tem chances, esse lugar é que nem o labirinto de Creta, enfim, a outra coisa era que: fiquei sabendo que no final desse mês vai ter um torneio, o guarda da porta disse que quem vencer vai ganhar a liberdade, haverão dois vencedores, então se esforcem, por que esse torneio talvez seja a galinha dos ovos de ouro para nós
Michel: Mais algo a dizer?
Kenny: Fiquem atentos, não andem juntos toda hora e de vez enquanto briguem, brigas entretém os guardas e os fazem eles criarem uma certa simpatia por vocês
Kenny colocou a mão no bolso e saiu andando para outro bloco da mansão
Luiz: Certo então – Luiz saiu andando deixando Michel ali – Nós vamos sair, e você vai ver sua mulher e sua criança de novo, eu prometo
Michel abaixou a cabeça e cerrou seus punhos
Luiz: Não sobrevivi até agora pra morrer aqui. Eu não vou morrer, não hoje, e não aqui dentro
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