Wellyton: Então o lugar é esse? – ele disse analisando o shopping de cima abaixo
Joel: É, foi aqui que a gente veio. Pronto?
Wellyton: Se eu dissesse que estava estaria mentindo, vamos lá
Wellyton chutou algumas tábuas de madeira que estavam tampando o buraco por onde Maycon e Joel passaram da última vez, foram cerca de três chutes, mas todos com uma força concentrada nos pés, a madeira caiu
Joel: Presta atenção – ele disse segurando a sua lanterna e indo na frente – essa gente gosta de atirar sem aviso prévio
Wellyton: As pessoas atiram sem aviso prévio desde que tudo começou, não é novidade
Joel: De todo jeito, tome cuidado
Ambos entraram no edifício, dessa vez o silêncio que pairava ali dentro era tão agudo que chegava a fazer barulho, se esgueiraram por entre as cobertas de algumas longes e se correram agachados até chegarem a uma grande parede vermelha, onde pararam um pouco, mas mantendo os olhos vidrados em todo lugar
Joel: Eu posso te mostrar o que eu vi, haviam alguns zumbis vestidos com a roupa amarela que te interessa tanto, mas acho que só isso
Wellyton: Não vai ser o bastante Joel, precisamos falar com essa galera que te ameaçou da última vez, não acha uma boa ideia?
Joel: Péssima ideia! Quase me mataram e tiraram a vida da Clara e da Ísis, desculpe se a hipérbole for grande, mas acho que estamos perdendo tempo aqui dentro
Wellyton deu um sorriso e apontou para o lado esquerdo de Joel com o dedo indicador
Wellyton: Não, eu acho que não
-Mãos ao alto! – disse uma voz feminina que ecoava em meio à escuridão diurna do lugar – já mandamos vocês irem embora daqui antes, tenho certeza disso, minha memória não é tão ruim assim, por que voltaram?
Joel: Precisamos voltar
-Que seja, não vamos ter piedade dessa vez, não respeitaram nosso espaço, vagabundos – Wellyton olhou que a mulher estava prestes a puxar o gatilho, e Joel estava deslizando seus dedos suavemente pela lateral da calça jeans afim de alcançar o coldre do seu velho calibre trinta e oito, um dos dois sairia na melhor, mas se nada fosse feito, haveria derramamento de sangue
Wellyton: Espere!
A moça olhou para Wellyton
-O que foi?
Ele pegou a arma de Joel do coldre
Joel: Você não tá fazendo isso – Wellyton sussurrou para ele manter a calma – puta merda
Wellyton: Confia em mim, não vamos trocar balas, não agora
Em seguida ele puxou sua espada da bainha e a jogou no chão, para chutar para perto da mulher das sombras, fez o mesmo com o calibre trinta e oito
Wellyton: Sei que não devíamos ter voltado, confesso que deve ser bem ruim ser atrapalhados assim por gente desconhecida, mas não vamos tomar muito do tempo de vocês, então por favor
-Desembucha! – ela gritou, com uma voz sedenta por desordem, Jesus, aquela mulher tinha um parafuso a menos na cabeça
Wellyton: Queremos falar com seu líder, viemos aqui pra isso
-O que querem com ele?
Joel: Isso cabe entre nós e ele, não acha?
-Fica quieto
Joel franziu o cenho, mas não disse nada
Wellyton: Por favor
A mulher bufou, mas talvez não tivesse a coragem suficiente para atirar em duas pessoas que se renderam, e estavam desarmadas ainda, boa estratégia
-Sigam-me
Ela andou pelos corredores frívolos e inóspitos, os dois a seguiram com receio, mas era o que precisavam fazer, atravessaram uma loja de roupas e outra de esportes. Chegaram a outro corredor do velho estabelecimento comercial, e conforme andavam, percebiam uma coisa, quem quer que fosse o líder daquele lugar, liderava muito bem, os vidros de praticamente todas as lojas estavam quebrados, haviam espécies de rotas e entradas e saídas por todos os lugares do shopping, era como se eles tivessem um jeito de pegar um atalho ou fugir sempre, independente de onde estivessem
Joel: Do que vocês tem medo?
-Por que essa pergunta do nada?
Joel: Não dá pra deixar de notar as frestas visíveis por todos os cantos daqui
-Vocês também teriam medo, se soubessem o que a gente passou
Joel: Temos os nossos motivos para ter medo
-Então deviam ter motivos para ter mais medo ainda
Eles pararam em frente a uma loja de automóveis, os carros estavam perfeitamente alinhados, formando um corredor retilíneo que levava até uma porta de ferro, no fim desse corredor
-Ele está além da porta, não encham muito o saco do chefe
Ela disse estas palavras e voltou a sumir, por entre as frestas e corredores do lugar
Wellyton: Ok, é a nossa deixa
Os dois foram andando pelo corredor lentamente, levaram mais tempo do que o esperado, uma pessoa andando em condições normais levaria menos tempo para chegar até onde aquela porta estava, mas eles não tinham a mínima pressa naquele momento, na verdade estavam cautelosos até demais, ao chegarem perto da porta, Joel bateu, três vezes, e em seguida Wellyton girou a maçaneta
Wellyton: Com licença, estamos entrando
Haviam dois homens na sala, um sentado em uma cadeira e escrevendo algo em um caderno, apoiando-o nas pernas, e outro, sentado na mesa principal (pelo menos aparentava ser) ao fim da sala
-Quem são vocês? – disse o do caderno
Joel: Quem de vocês é o líder?
-Eu me lembro de você – disse o da mesa central, ele se levantou bruscamente, enquanto olhava para Joel – disse para irem embora da última vez não disse? Voltaram por qual motivo? E é bom que seja convincente
-Calma Douglas
Douglas: Tô calmo Nick, só tô querendo agilizar as coisas, mas deixe que eu resolvo isso, não se meta
Nick: Ok
Wellyton: Estou procurando ajuda, informações que possam ser úteis a gente
Douglas: Trabalham para quem?
Wellyton: Para ninguém, não temos esse tipo de relação, é uma ajuda mútua no meu povo, ninguém é forçado a nada
Joel deu uma cotovelada de leve em Wellyton, como para alertar que ele estava falando demais
Wellyton: Por que usam essas roupas amarelas?
Douglas: Se arriscaram tanto para chegarem até mim e perguntar porque eu me visto desse jeito? Sumam
Wellyton: Espera! A Chloe, conhece ela?
Douglas pareceu surpreso, e Nick parou de escrever
Douglas: Como você conhece ela?
Wellyton: Conhecemos depois que derrubamos a Potência Sangria, libertamos ela e o pessoal dela, usavam as mesmas roupas que vocês, e eu quero saber o porquê
Douglas: Sentem-se – ele disse puxando a cadeira que estava antes e Wellyton e Joel atenderam ao pedido do homem
Joel: Conhecia ela de onde?
Douglas: Ela é minha prima, saber que ela está de fato viva chega a ser uma surpresa, mas pode ser só um blefe
Wellyton: Cruzaríamos estradas para vir até aqui e ser um blefe?
Douglas: Não duvido de nada
Joel: Não duvide da gente
Wellyton: Sabe Douglas, a razão está do seu lado, não viemos até aqui atrás de saber porque vocês usam essas roupas, não apenas isso, o que nos interessa é saber quem colocou essa roupa em vocês, usam códigos de identificação não é? Vocês vieram da Ordem?
Douglas ficou estagnado por alguns segundos, até que recobrou sua atenção no assunto
Douglas: Ordem... é... viemos de lá. Eles tem esse sistema de prisioneiros, bastante avançado até, as pessoas são identificadas por códigos numéricos e uma letra, fugimos de lá tem, algum tempo. O shopping é a nossa casa, mas não sabia que eram vocês que tinham derrubado a Potência Sangria
Joel: Qual foi o impacto disso?
Douglas: O maior que vocês puderem imaginar, os legionários ficaram furiosos, os guardas cerravam os dentes e cuspiam fogo. Estão querendo trucidar vocês até os ossos
Wellyton: Fizemos o que fizemos porque foi necessário
Douglas: Não me importa as suas razões, mas porque querem saber da Ordem?
Wellyton: Porque ela está atrás de nós ao que parece, como eu disse, temos uma comunidade, alguns dos nossos sumiram, outros foram mortos
Joel: Dizimaram uma massa de gente boa, nossa gente, um tal de Xavier
Douglas: Não é flor que se cheira
Joel: Ninguém tá cheirando muito bem ultimamente
Wellyton: De toda forma, viemos pedir ajuda pra vocês, precisamos dar um jeito de destruir a Ordem
Douglas começou a rir, feito um louco, gargalhadas alta mesmo
Wellyton: Eu fui engraçado?
Douglas: Não vão destruir a Ordem, caolho, não vão chegar nem perto disso. Tem noção do quanto de gente ele tem? Estamos falando de uma força paramilitar do fim dos tempos, aquela gente tem poder o bastante para expandir suas fronteiras até onde Deus deixar
Wellyton: Mas tem que ter uma chance, precisamos da ajuda de vocês
Douglas: Não vou colocar o meu na reta pelo de vocês, nem o do meu pessoal
Joel: Ok então prisioneiro, apenas nos diga, tem um jeito de entrar lá?
Douglas: Se o plano for bem arquitetado sim, não acho difícil atravessar os muros, voltar que é o problema
Wellyton: Que seja então, uma chance num milhão é melhor que nenhuma chance
Douglas: Nick, anote as coordenadas
Nick ficou escrevendo uns números nos papéis e assim que terminou entregou para Douglas
Douglas: Toma – ele disse dando o papel para Wellyton – podemos ajudar vocês a chegarem lá, mas o resto é com vocês, então, vão logo
Joel: Obrigado
Os dois se levantaram da cadeira e foram em direção à porta
Douglas: Esperem!
Joel parou, Wellyton também
Douglas: Tem alguma noção de onde a Chloe e o resto possam estar?
Wellyton: Gostaríamos de saber
Wellyton abriu a porta e saiu, Joel também. Mas tinha algo errado naqueles dois, apesar da incerteza em relação a eles, Douglas sentia que as coisas mudariam, lá no fundo
Douglas: O que acha disso Nicolas?
Nick: Não sei, eu só anoto as coisas
Douglas: Estou falando sério
Nick: O líder é você Douglas
Douglas deu uma respirada forte
Douglas: Ah, eu deveria ter matado eles quando eu estava no andaime, facilitaria as coisas
Nick: Mas não matou, e agora já era, eles vão fazer bagunça
Douglas ficou calado, arrependido pela sua falta de pulso na situação que decorrera, mas lá no fundo também, ele estava torcendo, para que desse certo, seja lá o que os dois estrangeiros fossem fazer
Nick: Fica esperto só, porque o que eles fizerem em relação à Ordem, vai nos afetar também
Douglas: Eu sei Nicolas, eu sei
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