Anteriormente em Die for love...
- Eu sei exatamente do que você precisa.
- Não assim...
- Acha que sou uma boa pessoa?
Lauren não espera mais um minuto antes de alcançar os lábios de Camila num beijo feroz.
Capitulo dezenove.
Camila estava com a cabeça pesada e dolorida, os olhos ardiam com a luz, e ela não lembrava muito da noite passada.
Só sabia que vestia seu pijama, e cheirava a seu shampoo de ervas, o que lhe dava um aroma doce.
Ela levanta, talvez rápido demais, uma onda de enjoo passa por seu corpo.
Onde está todo mundo? Não havia ninguém na sala, algo incomum numa manhã, ela vai até a janela, avistando todos que estavam no quintal, e se arrasta ao encontro deles, o sol parecia torrar sua pele.
- O que vocês estão fazendo aqui? - pergunta com uma careta, eles a encaram, alguns com sorrisos divertidos, outros sérios.
- Comendo uvas, quer? - Manuel, que estava no time dos sorrisos, oferece um cacho.
- E o café?
- Camila, já são duas da tarde - Sinuh informa, ela já não parece tão divertida.
- O quê? Não, não pode ser, é de manhã - insiste, os olhos ardiam, a fazendo ficar com eles fechados.
- Querida, você dormiu a manhã toda - Clara conta.
- Não é possível, eu e a Lauren chegamos e... - ela empaca quando seu sangue sobe para as orelhas e rosto, lembranças da noite anterior em sua mente embaralhada, seu estômago revira, as palavras se formavam duras em sua cabeça. Elas haviam dormido juntas?
- Vocês o quê? - Sinuh pergunta, fazendo a menor corar ainda mais violentamente.
- N-nada, nada, onde está Lauren? Eu preciso falar com ela.
- Acho que está na garagem, querida, mas...
Camila não espera Clara terminar e dispara para o lugar dito, tentando não cair no meio do caminho por conta de suas pernas moles, não sabendo se por culpa da ressaca, ou da nova informação chocante.
Quando chegou ao local, a morena lavava a moto, calça rasgada e camiseta cheia de óleo, o que definitivamente não ajudava os pensamentos da cubana no momento.
- E a nossa Bela Adormecida acordou! Sorte sua que ninguém precisou te beijar para isso.
A Jauregui provoca ao enxergar Camila se aproximando em passos lentos, a garota tentava se manter tranquila, estava tudo muito confuso dentro de si, mas o pensamento de acordar e ter Lauren para lhe beijar, não era negativo.
- Urg, você é péssima! - retruca manhosa.- o que está fazendo?
- Alguns reparos e lavando.
- Você cuida muito dessa coisa - ela senta num banco improvisado com entulhos.
- Ei! Essa belezinha aqui é...
- Um clássico sobre duas rodas! - anunciam em uníssono, e a maior olha surpresa para a Cabello.
- Você diz isso o tempo todo.
- Primeiro: não é verdade, e segundo: tenho que lavar depois da noite passada - argumenta em tom de riso, a menor se sente corar.
- A noite passada?
- Sim, você não lembra o que aconteceu?
Merda! Camila lembrava muito bem o que aconteceu, ou não, estava tudo tão confuso, vários flashes de mãos e bocas se chocando na madrugada, a voz da morena clamando por ela enquanto Camila a fazia se sentir bem, tudo em um grande borrão vermelho. Haviam dormido juntas. Espera! Elas dormiram juntas!
Seu estômago revira de vez. Devem falar sobre isso?
Talvez não tivesse importância.
Claro que tem, vocês dormiram juntas!
Foi sua primeira vez, e foi com Lauren!
Devem falar sobre isso.
E se tiver sido só uma noite para Lauren?
Se não tiver importado? Camila vai mesmo se sujeitar à uma possível rejeição? E se elas estragram sua amizade? E se seus pais descobrirem?! Qual o sentido da vid- ah, ok, isso ficou muito existencial.
- O que aconteceu ontem à noite? - Camila pergunta na intensão de puxar o assunto.
- Não lembra? - questiona se aproximando, as mãos sendo limpadas num pano sujo de óleo.
- Me recorde...
Fala, enrolando o cabelo no dedo, as pernas sendo cruzadas e o olhar sensual, ela dá um sorriso de lado.
Isso era para ter sido sexy? Céus, foi terrível!
Percebendo o quão parecia uma idiota, ela volta para a posição inicial, envergonhada de si mesma.
- Camila... - Lauren se aproxima mais, com a voz baixa, tendo toda a atenção da menor.- você passou muito mal! - ri, ainda sem acreditar. Não! Camila não passou mal, ela estava bem, elas dormiram juntas!
- O quê?!
- É, você começou a passar mal na estrada, por isso estou lavando a moto, vomitou nela quando chegamos.
- Mas, e a discussão com minha mãe?
- Bom...
Na noite anterior...
- Camz, olha pra mim! - ordena, dando leves tapas nas bochechas da Cabello, a impedindo de dormir.
- Hum? - cantarola em resposta.
- Você só tem que chegar no quarto, tudo bem? Firme! - explica, antes de entrarem na casa.
- Filha, onde vocês se meteram? - Sinuh aparece, analisando a menor.
- Hum... - Camila faz uma careta, vozes muito altas.
- Querida, está tudo bem? - Clara se pronuncia, a cubana respira fundo e começa a falar.
- Tudo... umbe em... - responde, sendo parada por soluços.
- Camila, você bebeu?
Sinuh pergunta, se aproximando, se aproximando muito, não, não!
Camila sente o refluxo subir por seu estômago e sem que pudesse controlar, o vômito cobre boa parte dos pés de todos que se jogam para trás.
Lauren prende o riso, as mãos sendo postas sobre a boca e os olhos arregalados, mas assim que ouviu sua mãe, toda a graça foi embora.
- Lauren Jauregui, o que você fez?
- Eu? - tenta sua melhor versão inocente.
- Agora não, Clara, temos coisas maiores para resolver... - Sinuh interfere, se referindo a uma Camila apagada no sofá.
Agora.
- Você é um peso leve. Sua mãe te deu banho, eu tive que limpar a sala, e depois fomos todos deitar - a morena conta com indiferença.- fiquei um tempo acordada para ver se... você sabe, sua cabeça não explodia ou algo assim.
Ela se abisteve de contar como Sinuh a comia com os olhos, como estava pronta para lhe dar a maior bronca de sua vida se Clara não acalmasse os ânimos, garantindo que a filha não sairia dessa impune. Camila ouvia tudo, estava sem reação, nada do que lembrava realmente aconteceu, nada... algo ponta em seu peito. Eu quero ouvir você, Camz...
Passou a maior vergonha de sua vida, ela ficou bêbada na frente da mãe dela, ela vomitou na mãe dela!
"Idiota, idiota, idiota!", murmura para si, com o rosto enterrado nas mãos antes de suspirar.
- E você?
- O que tem?
- Deve ter se encrencado feio.
- Nada que eu já não esteja acostumada - responde, brincando com o pano úmido em suas mãos.- e digamos que sua mãe me odeia um pouco mais agora.
- Minha mãe não te odeia! - Lauren arquea uma sobrancelha, a cubana encolhe os ombros.- tudo bem, talvez um pouco - a morena ri.- um pouquinho...
- Ah, "um pouquinho"? - ri mais e Camila acompanha.- vem senhorita-um-pouquinho, me ajude a limpar a sujeira que você fez - joga o pano para a menor que hesita com o mal estar, mas levanta.
- Não é minha culpa, você sabe, eu estava bêbada!
- Não! Você não pode usar essa desculpa!
- Posso sim...
Continuavam a discussão até o ponto em que Lauren joga os restos de espuma em Camila e uma mini guerra é iniciada.
Elas se divertiam, sem nunca perceber Sinuh que foi lá para aproveitar o encontro e dizer umas poucas e boas para ambas.
Porém, quando viu a interação das duas garotas, toda a pose que construira para aquele momento, se dissipou ao ver o sorriso enorme no rosto da filha.
Talvez Lauren Jauregui não fosse tão ruim assim afinal.
[...]
- Sabe, a noite de filmes parece uma boa programação para hoje.
Camila comenta alheia, seu peito ainda acalentava com o que realmente tinha acontecido na noite anterior. A dor retirada de si, o abraço forte, Lauren sorrindo carinhosa e protetora enquanto segurava seu cabelo, o quase beijo... claro que descobrir que seus desejos mais profundos não se tornaram realidade a causava uma imensa decepção, mas em alguma parte dentro dela, se sentia aliviada por isso, se fosse dar qualquer passo com Lauren, gostaria que fosse do jeito certo, que com ela fosse certo.
Agora se encontravam deitadas na grama a poucos metros da garagem, observavam as formas das nuvens.
Não haviam falado sobre o que passou e muita coisa estava pendente. Lauren sabia disso.
- Camz... - o sorriso da cubana sumiu, sabia o que viria.
- Lauren, eu não quero...
- Falar sobre isso, eu entendi - completa, se apoiando em um cotovelo.- mas uma hora ou outra vamos ter que conversar.
- Por que você simplesmente não esquece?!
- Porque me importo com você! Porque me machuca muito te ver sofrer e não é o tipo de coisa que se esquece!
- Ele foi uma escolha ruim, sou a rainha das escolhas ruins. A culpa é minha.
Responde, não vacilando sob seu olhar firme, e relaxando falsamente, olhos fechados a impedindo de ver quando Lauren passou um braço por cima de seu corpo.
"Nunca mais diga isso! Você não tem culpa de nada, eles têm!", sussurra, raiva no tom de sua voz, não direcionada à Camila, nunca à ela. A Cabello é pega de surpresa com a proximidade repentina e também sentia raiva, por Lauren não a deixar fugir, por a fazer ter que enfrentar.
Ela acaba perdendo a disputa de olhares furiosos que travam, e suspira derrotada.
- Eu sei que só quer me ajudar, e não poderia esperar menos de você - abre um sorriso triste, pondo uma mecha de cabelo atrás da orelha da morena que ainda estava em cima dela.- mas passou, não tem mais o que fazer.
- Eu posso resolver isso...
- Lauren, não! Não quero você se metendo em mais confusão por minha causa.
- Camz... - a esse ponto ambas já estavam grudadas, não se importando em serem pegas na posição comprometedora que estavam, as mãos de Camila acariciando os ombros da garota acima dela.
- Se entrar em confusão, vão te tirar de mim e eu preciso de você aqui, okay? Fica comigo?
"Sempre...", direciona um beijo na testa de Camila, já haviam tido essa conversa antes, a Jauregui queria que medidas fossem tomadas, queria expor Shawn para todos, queria que ele pagasse pelo o que fez! Mas a cubana continuava alegando que isso iria causar uma catástrofe, que Clara, Manuel e sua mãe iriam sofrer e não poderia lidar com o peso de mais essa destruição em seus ombros.
Lauren não ousaria fazer nada sem sua permissão, não por enquanto, então tudo o que pôde oferecer foi um sorriso fraco para a garota que retribuiu do mesmo jeito. Foi quando Shawn apareceu, a latina não havia o visto desde a noite passada, um nó se formando em sua garganta.
As mãos da Jauregui fecham em punhos cerrados contra a grama, ela sente o impulso de ir até o rapaz quando depois de as ignorar, ele para e sorri com arrogância para Camila, como se não sentisse arrependimento algum, mas o toque da cubana a tranquiliza.
Lauren levanta de repente, e quando a Cabello pensou que precisaria agarrar seus pés para a impedir de fazer alguma besteira, uma mão foi estendida em sua direção.
- Vamos? - convida, ajudando Camila a ficar de pé.
- Aonde vamos? - pergunta confusa.
- Maratona de filmes? - questiona, dando um sorriso duro, que cai ao passarem pelo irmão que as observa com desdém.
Camila claramente estava de castigo, então elas partiram em direção ao quarto compartilhado, Lauren fechando as cortinas quando entram, sapateava loucamente de um lado para o outro, estava furiosa.
- Você está me deixando ansiosa - Camila comenta, vendo a garota parar e respirar fundo.
- Desculpa... - pede, apertando os olhos.
- Ei, respira comigo, pra dentro e pra fora, okay? - instrui, as mãos parando nos ombros da morena que segue o que foi dito.- tem alguma coisa que eu possa fazer por você?
- Me distraia.
- O quê?
- Me distraia, Camila, pra que eu não perca a cabeça e vá agora mesmo tirar aquele sorrisinho asqueroso do rosto de Shawn e de quebra, ainda caçe Austin Mahone!
Exaspera, suas palavras chocando Camila, Lauren realmente seria capaz de machucar alguém por ela? A protegeu dos arruaceiros aquela vez, mas nada comparado a isso, e a cubana sabia muitas formas de distraí-la, apenas não era o melhor momento.
- Então... viúva negra, hein? - pergunta em uma falsa malícia, fazendo a maior rir e relaxar.
Elas procuraram até encontrar o notebook que a cubana nem lembrava ter trazido, não era como Lauren havia planejado, mas mesmo assim elas se embrulharam em cobertores na cama da maior, pipoca era dividida, e secavam latas de refrigerante.
Camila assistia o filme que passava na tela, ele parecia legal, mas Lauren, sentada ao seu lado, não conseguia prestar atenção em nada além da garota com ela. No seu rosto, o formato de sua boca carnuda, seu olho amendoado, seu nariz, sua orelha, até a pinta que ela tem no pescoço. Era tudo o que queria ver naquele momento. Ela, unicamente ela. Camila estava tão focada que não reparou que era secada completamente, sendo observada a cada detalhe por um olhar apaixonado. Ou pelo menos foi o que Lauren achava, a latina lhe pegou em flagrante: “Por que está me olhando?”, questionou. "Você é tão linda...", a Jauregui pensou em dizer. "Por nada", mentiu, era por tudo, por tanta coisa que não conseguiria explicar. Ela percebeu que sua resposta não convenceu a menor que a fitou com um sorriso confuso, Lauren poderia ter dito mais, mas palavras não bastariam. Elas riram, e a morena se jogou em seu ombro, descansando a cabeça ali enquanto Camila descansava a dela na sua, ainda intrigada, talvez estivesse com algo no rosto, a incerteza levou sua mão mais de uma vez até o local. Não havia nada.
[...]
Por mais interessante que o filme pudesse ser, isso não impediu que as duas garotas adormecessem na metade dele, não se importando em descartarem o notebook e sonolentas se aconchegarem juntas, recuperando muitas noites de sono que haviam perdido. Clara foi as chamar para o jantar e comovida parou à porta, as engrenagens funcionando em sua cabeça vendo a filha encolhida no abraço da garota que cobria suas costas, e as meninas que pareciam em paz uma com a outra, a realização lhe atingiu e ela sorriu amplamente, tornando a fechar a porta com cuidado, anunciando que deixaria um pouco de comida guardada para quando elas estivessem prontas, ninguém mais entendeu porque a mulher parecia irradiar tanto amor pelo resto da noite. Algumas horas depois as duas acordaram, nada envergonhadas pelos acontecimentos anteriores elas foram para a sala onde todos assistiam tevê, e a morena estranhou os olhares recebidos da mãe enquanto enfim comia. O clima tenso entre os jovens passou despercebido pelos mais velhos, até mesmo Sofia pareceu notar que alguma coisa estava errada, porém nada foi dito e tudo foi o mesmo.
Todos foram deitar, Camila e Lauren fugiram.
O clube estava cheio, um karaokê foi adicionado, todos cantavam e se divertiam, leve e extravagante como sempre.
A Cabello tentou se esconder, mas as amigas tiveram sucesso em lhe arrastar até o centro da balbúrdia e a convenceram a cantar, "só uma música!", avisou, e Lauren ficou a admirando de longe.
Camila e Normani fizeram uma pequena mesinha como palco, e ali, estando suada, descontraída, com um sorriso largo no rosto e a respiração apressada, ela procurou Lauren pela multidão e foi também ali, quando seus olhos se encontraram, que a morena percebeu: fodeu.
Com aclamação a cubana desceu do palco, a forte voz de Normani era a única coisa ainda ouvida. Camila cruzou por todos que a parabenizaram até chegar na única pessoa que a interessava no momento, a garota que lhe olhava com aquele sorriso de quem se orgulhava. Palavra alguma precisou ser trocada, Lauren nem saberia o que dizer para expressar o que sentia agora, era algo que fazia seu coração inchar e seu corpo aquecer, uma alegria pura, nova, apaixonante.
A menor corou e encarou os pés, se concentrando em suas mãos que se uniram com as da morena, elas permaneceram juntas o resto da noite, Lauren abraçando suas costas enquanto assistiam Normani e Ally que cantavam sendo acompanhadas por Dinah que fingia tocar guitarra com um cabo de vassoura.
Infelizmente o show teve que acabar e voltaram para a estrada, a cidade vazia, eram apenas elas, se acostumaram com essa sensação de estarem abraçadas como estavam agora na motocicleta, com os braços de Camila ao redor de Lauren, o queixo em seu ombro, a morena inclinada contra seu peito, ambas aprenderam a apreciar esse pequeno detalhe.
Tudo ia normalmente, então começaram a desacelerar, e logo estavam completamente paradas no acostamento da rua.
- Está tudo bem? - Camila pergunta.
- Você quer pilotar? - o capacete pode ter confundido sua audição, a cubana ouviu direito?
- O quê?
- Pilotar, você quer pilotar a moto? - tudo bem, dessa vez ela ouviu direito, mas a ideia ainda parecia um total absurdo.
- Lauren, eu nunca fiz isso... - conta, enquanto a garota desce e para ao seu lado.
- Te ensino - responde sorrindo, o capacete no topo da cabeça.- vamos, você consegue!
Encoraja, e lá estava Camila, agarrada ao guidão como se a vida delas dependesse disso, e meio que dependia.
Aparentemente seu corpo tremia, pois Lauren firmou as mãos em seus ombros e massageou o local, "relaxa...", sussurrou em seu ouvido.
Instruções foram passadas, era só fazer.
- Acho melhor você pôr isso de volta - a menor avisa, apontando para o capacete retirado.
Depois de tudo no seu devido lugar, os passos indicados pela morena foram seguidos e elas se mexeram.
Alguns metros de frear-acelerar ocorreram até seguirem em linha reta o caminho, okay, linha reta é uma palavra forte, elas seguiram o caminho.
Camila gritava de animação conforme se sentia segura para acelerar, e Lauren que pensou não poder sentir mais orgulho da garota, tinha um sorriso que lhe ia de orelha a orelha. Ela mostrou a direção, pois ainda não estava pronta para que essa noite acabasse, e para a surpresa da cubana, elas chegaram, sãs e salvas.
Pela primeira vez Camila reconhecia o local, era o teatro da cidade, elas entraram no estilo Lauren: se esgueirando nas mobílias e observando cada passo que davam, a Jauregui deixou bem claro sua má reputação com o segurança dali.
Estavam no meio do imenso palco em frente a exatos mil assentos vazios, a maior se aproxima da borda, era raro momentos como esse, nos quais ela abaixava a guarda, parecia familiarizada, como se já tivesse feito isso inúmeras vezes, tentando alcançar aquela imensidão desabitada.
- Não é incrível? - pergunta baixo com afeição.
- É, é sim - vai ao encontro dela.- não esperava que você gostasse de teatros, apesar do clube...
- É, eu sei que não, quem olharia pra mim e diria que sonho em me apresentar num palco? - ri sem humor, mordendo a bochecha.- mas nunca vai acontecer, é estúpido... - com mais tristeza, ela encara o chão enquanto se movimenta pelo local, não sabia o porquê de estarem aqui ou de estar contando tudo isso, queria compartilhar mais com a cubana, o que pudesse, seus anseios mais íntimos. Camila sorri grande, correndo para descer do palco e sentar na primeira fileira, a maior lhe olhando com confusão.
- Se apresenta pra mim - pede, e Lauren logo se acaba em uma risada nervosa, negando com avidez, a menor insistindo até por fim ela ceder.
- Uau, você nem me deu tempo para me preparar... - mumura para si mesma, se alongando e aquecendo a voz, antes de voltar para Camila.- senhorita e... senhorita! Tenho o prazer de lhe contar a história de um pássaro, um corvo - ela tira sua jaqueta até que ficasse apenas sobre seus braços, como grandes asas pretas, trabalhando com o que tinha.- o corvo estava sozinho, ele não sentia que houvesse um lugar ou um tempo ao qual pertencia, então um dia ele pousou num rato morto, e sem que percebesse, perto desse rato morto existia uma rosa. Nas primeiras horas a sua relação com a dita rosa foi áspera, ela era boa, desinibida e curiosa, e pouco a pouco foi derrubando as barreiras do corvo, o que o assustou: "Como pode, um ser tão inocente quanto uma rosa, sentir simpatia por um carniceiro como eu?", repetia em sua mente - Lauren encenava até ali sua história, Camila prestando toda a atenção na forma que a garota se transformou diante de seus olhos, e agora a prendia facilmente com suas palavras e gestos.- ele tentou ignorar a rosa, mas era impossível, ela havia se alojado rapidamente em seu peito, pela primeira vez ele sentiu que tinha um lugar ao qual pertencia, e era com ela. Ele escolheu ser corajoso, e passou a vê-la todos os dias mesmo quando já não havia mais rato. O corvo se apaixonou pela rosa. E ele está apavorado, eles ficarem juntos seria contra todas as leis existentes, mas seu coração pulsa com esperança de que ela sinta o mesmo, que eles possam pertencer um ao outro.
Camila leva seu tempo para perceber que ela havia terminado, ainda processando tudo o que ouvira, nunca tinha visto Lauren com tanta paixão, sua expressões e corpo estavam vivos conforme as palavras saíam de sua boca, roubando todo o cuidado da Cabello encantada.
Quando o nervosismo fica demais para a Jauregui e ela vai implorar para que a menor diga alguma coisa, Camila salta de seu assento, estourando em palmas e gritos, que fazem Lauren sorrir envergonhada, timidamente se curvando para a aclamação.
A Cabello sobe até ela, não pensando duas vezes antes de puxá-la para um abraço orgulhoso.
"Obrigada por compartilhar isso comigo...", sussurra em seu ombro, e Lauren a aperta mais forte, se perguntando se a garota entendeu o que sua história significava.
- Você... devia se dedicar a isso, arte - a maior solta uma risada nasal quando se afastam.
- As coisas não são tão simples assim, arte não põem comida na mesa.
- Lauren, isso foi uma das coisas mais lindas que eu já vi, você nasceu pra isso. Qual o sentido de viver uma vida onde não se faz o que ama?
- Algumas pessoas vivem, outras sobrevivem, eu faço parte das que sobrevivem - dá de ombros, não parecendo tão indiferente quanto desejava.
Camila não sabia o que falar, vinha de uma realidade muito diferente da de Lauren e da que estava vivendo há semanas, mesmo com Sinuh fazendo sua parte, a família mantinha dificuldades que iam muito além delas. Ela não era rica, tão pouco podia esbanjar, mas nunca precisou se preocupar com seu futuro, no tempo que ainda faz planos, sabe que não precisa ter medo, pois sempre poderá voltar para casa e tentar de novo. Nem podia imaginar pelo o que Lauren já passou, agora, a única coisa que podia fazer era observar calada.
- Não me olha assim... - pede com um sorriso triste, se voltando para a plateia vazia.- ainda posso vir aqui, e me imaginar na frente de mil pessoas, a luz quente no meu corpo. Fazendo todos sentirem alegria! Medo! Tristeza! Curiosidade! E...
Ela se agitava de forma teatral para dar força à sua fala, enquanto se aproximava cada vez mais da cubana.
Quando chegaram perto o suficiente, Camila a puxou pela jaqueta, simplesmente encantada com a garota cujo as mãos pararam em seus ombros.
- Amor? - sua voz baixa, não desprendendo o olhar no da Jauregui.
- Amor - concorda no mesmo tom.
- Isso tudo é tão clichê! - brinca, soltando uma risada carinhosa.
- Você desperta em mim todos os clichês.
Declara com um sorriso tímido.
Depois dessas palavras, Camila Cabello abriu um sorriso tão brilhante, que poderia nascer uma nova constelação.
E com a luz da lua iluminando seu rosto, Lauren Jauregui soube que não tinha mais dúvidas, estava apaixonada pela garota que em algum momento jurou odiar. "Clichês...", lembra de pensar, antes de sua mente ser inundada pela noção do quão perto estavam, como atraídas por um ímã.
Havia se controlado por tanto tempo, isso poderia estragar tudo, estava com medo, no entanto, o medo de perder esse momento se tornou incontrolável.
- Ninguém nunca pilotou minha moto além de mim - conta num sussurro, com a aproximação de seus rostos, os olhos descendo para a boca da cubana.
- Ninguém nunca me beijou na frente de mil pessoas - Camila toca seus narizes.
Lauren se afasta brevemente para que pudesse beijar a ponta do nariz da cubana, as fazendo rir enquanto lutavam contra seus nervos, e uma de suas mãos alcança a parte de trás do pescoço e a outra a mandíbula da menor, seus olhos fechando quando Camila a encontrou no meio do caminho para um beijo gentil e inseguro, como duas pré adolescentes dando seu primeiro beijo.
Ambas lembram daquela noite em que seus lábios se tocaram pela primeira vez, mas agora tudo estava melhor, estava mais vivo e real. Elas se afastam do casto beijo, apenas para tomarem fôlego e voltarem com a certeza de que aquilo era o certo, as mãos de Camila parando na nuca e na cintura da maior, a puxando mais para perto. A noite de jogos cruza seus pensamentos, recordando da morena dançando em cima dela, todo o tempo que esperou por isso, um pequeno gemido escapa de seus lábios e a maior aproveita a brecha para pedir permissão e entrar na sua boca com a língua, fazendo Lauren ofegar.
O vago reconhecimento de que a boca está começando a cansar e a falta de ar se faz presente, ocorre para as duas, mas elas não conseguem se importar quando estão sendo uma bagunça.
Seus lábios macios moveram-se suavemente, toques ternos falando de tantas coisas: gratidão, desejo, fome - amor. Despejando tudo que sentiam em cada movimento.
Com cada vez mais segurança, uma das mãos da cubana envolve o pescoço da maior, apertando, não o suficiente para sufocar, e sim para a garota retribuir mordendo seu lábio, o que a faz sorrir contra a boca que pressiona a sua.
Em curtos selinhos elas finalmente se separam, encostando suas testas enquanto recuperavam o fôlego, pequenas risadas sendo soltas, grandes sorrisos em seus rostos antes de votarem para mais um beijo, um calmo dessa vez, só para guardarem a sensação.
Elas se afastam ainda sorrindo com seus lábios inchados e vermelhos, e então se abraçam com carinho e paixão, Camila enterrou o rosto no pescoço da maior que a segurou forte, se sentindo em casa.
O corvo se apaixonou pela rosa, e ela se apaixonou por ele também.
Ambas saltaram quando um agudo apito ecoou pelo salão, e elas viram o homem baixo e gordo dentro de um uniforme de segurança começar a perseguí-las. Tiveram tempo apenas de trocar sorrisos ofegantes e correrem.
Lauren foi quem pilotou na fuga, parando algumas quadras depois para que beijos fossem dados e abraços recebidos, e elas riam uma para outra sem saber o motivo certo, a alegria que lhes preenchia o peito sendo o suficiente.
A lua nunca saberia o quão sortuda era por testemunhar tal visão, a imagem de duas amantes nascendo sob seus raios.
Elas voltaram para casa, e sem acidentes hormonais ou hematomas pra serem cuidados, compartilharam a cama da Cabello, trocando risos, brincadeiras e carinho. Sem nada demais, só adormeceram nos braços uma da outra, dando seguimento a melhor noite que poderiam ter tido. Uma noite de clichês.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.