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História Die for love - Nós vermelhos


Escrita por: meclodir

Capítulo 5 - Nós vermelhos


Anteriormente em Die for love...

- Eu devo ter esquecido...

- Alejandro...

- Vamos passar três meses com um bando de caipiras!

Um alto barulho de pneus raspando o chão em uma freada inesperada, e o carro se contorceu para fora da pista.

Capítulo cinco.

Os olhos de Camila se arregalaram em estupor, o coração parecia que ia saltar de seu peito, ela agarrou a trava do cinto de segurança, pronta para se jogar em cima de Sofia para protegê-la do que quer que viesse. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, com um forte soco, o carro parou, Sinuh se debruça olhando para as duas filhas com um sorriso no rosto:


- Está todo mundo bem? - pergunta, a filha mais nova assente com simplicidade.

- Mas que droga...?!

Camila exaspera, grudada ao banco, ainda sentia a adrenalina correndo por seu corpo, o cabelo bagunçado e a boca aberta, com os braços moles ela limpa o vidro. Estavam paradas, já haviam chegado? Não, nada de uma casa, ou porcos, ou caipiras com banjos e peles de guaxinins em volta de seus pescoços, as observando como se fossem seres de outro planeta. Estavam no estacionamento de uma loja à beira da estrada, com grandes vidraças cobertas por panfletos, alguns nem pareciam daquele ano, fachos de luz branca escapavam entre eles, nada de segundo andar ou comércios ao redor para competir, apenas a minúscula e isolada loja.


- Olha a boca... - a mãe corrige, e a filha emburrece.- eu nem havia pensado, seria melhor se levássemos um agrado para a família que nos acolheu tão gentilmente, achei que já era tarde demais, mas então essa loja apareceu bem debaixo dos nossos narizes, tivemos sorte!

- Sorte é a gente não ter morrido... - resmunga.

- Não exagere, Camila, foi só uma derrapadinha! Teria escutado quando avisei sobre ela, senão tivesse com essas coisas enfiadas no ouvido - se refere ao fone caído, da garota.- venham, vamos comprar algo e voltar logo para a estrada.

 A mulher sai do carro e corre em direção a porta do local, tampando a cabeça para se esconder da leve garoa que caía, sendo seguida pela Cabello menor que carregava um sorriso no rosto.
 Camila as segue, murmurando coisas não tão gentis enquanto a porta automática abria, revelando o fato nada surpreendente de que era apenas uma loja normal, a garota vagava desinteressada por suas prateleiras, as vozes animadas de sua mãe e irmã eram ouvidas de algum lugar.

- Camila? Filha? - escuta Sinuh chamar, e caminha ao encontro das duas que já estavam no caixa, um grande vaso de argila pintada com flores brancas era segurado por Sofia.

- O que é isso?

- Tu... ulipas - responde a menina, retirando a planta do rosto.

- Não tem atendente aqui, não? - a mãe das garotas pergunta, olhando ao redor.

 Passos são ouvidos no fundo da loja, logo param e um dos refrigeradores é aberto, então eles continuam, recebendo toda a atenção das três mulheres, Camila observa a dona deles saindo entre as últimas prateleiras.
 Coturnos sujos deixando marcas de lama sob suas pegadas, calça escura, parecia de couro, ela prendia uma camiseta de alguma banda de rock por dentro de si, tudo seguido por uma jaqueta, essa com certeza era de couro, não ficava completamente folgada, mas a garota não se perdia nela, se encaixavam perfeitamente.
 Os cabelos escuros caindo sobre os ombros enrijecidos, e o caminhar elegante, dando um ar de poder.
 Camila achou que não podia se sentir mais intimidada, até que encontrou seus olhos, os cílios longos protegendo um par de íris esverdeadas, olhos de gato. Ela estava hipnotizada por aquele mar verde, eles a pegaram como uma armadilha, uma mariposa atraída pela luz. Camila não conseguia se desprender enquanto vinham ao seu encontro.
Espera!
Vinham ao seu encontro?

 A cubana sai de seu transe e percebe que a garota andava em sua direção, os olhos pregados em seu rosto, passos pesados e certeiros fazendo seu corpo se mexer em um ritmo perfeito, ela continuava a se aproximar, não parecia que ia desviar, tão pouco desacelerou ou hesitou sua caminhada.
 A dona dos olhos verdes para a centímetros de Camila, mais um passo e seus narizes se tocariam, nem uma das duas desviava o olhar, mas o pavor era visível nos da Cabello, a outra garota, um pouco maior que ela, continuava inabalável. Ficaram se encarando por alguns segundos, o que Camila diria que foram longos minutos, então a morena se impulsiona para frente, a cubana sente sua respiração e não consegue impedir de trancar o próprio ar, até que ouve:

- Abridor... - fala em uma voz seca e rouca.

- O quê? - pergunta sem entender.

- Abridor, atrás de você.

 E é aí que Camila repara que atrás dela havia uma prateleira cheia dos mais variados objetos, ela se joga para o lado, dando acesso para a garota e cuidando para não enroscar nela no processo.
"De-desculpa", gagueja nervosa, vendo a maior pegar um abridor e ir para a frente do caixa, as outras duas Cabello's apenas observavam a situação, intrigadas num canto, Sinuh segurando forte a filha mais nova.
 A garota abre a garrafa de cerveja que carregava com ela, a levando até a boca e tomando longos goles para matar sua sede, Camila não deixou de notar os nós de seus dedos, vermelhos em contraste a pele de alabastro, como se acabassem de socar algo, muitas vezes.
 Após o silêncio mortal, elas ouvem o som de alguém correndo, imaginavam ser o dono da loja, finalmente iriam sair daquela situação, mas não, era uma criança, um garoto, não passava dos doze anos, ele vai reto em direção a morena misteriosa:

- Você é uma pessoa ruim!

 Grita, e acerta sua canela com um chute, mas ela fica indiferente ao ataque, olhando brevemente para as janelas do local antes de não hesitar em virar a garrafa e deixar o líquido derramar sobre a cabeça do garotinho que cambaleia para trás esfregando o rosto.

- Ei! - Sinuh interfere, tapeando a mão da mais nova, que de imediato fica na defensiva, mas sem que qualquer uma das duas pudesse fazer algo, um homem surge do fundo da loja e se põem entre elas.

- Tudo bem! Tudo bem... - tenta acalmar as mulheres que se encaravam ferozmente.- filho, vá se lavar - o garoto cede ao olhar severo do pai e sai, o homem se volta para as mulheres, e com um riso nervoso ele vai para atrás do caixa.- aqui estão suas coisas...

 Afagando o Sari que usava, ele tenta parecer menos desgrenhado, apesar de não poder esconder os hematomas em seu rosto.
 Ele quase se curva até o chão ao oferecer uma sacola para a garota que a pega de suas mãos, puxando dinheiro do bolso da jaqueta, o homem acena com as mãos e faz uns sons esquesitos de negação, mas ela ainda assim deixa as notas sobre o balcão, era muito mais do que sua compra custava, e ela vai embora sem dizer nada.
 Todos ficam em silêncio observando a estranha figura sair do local, até que Sinuh se pronuncia:

- O senhor está bem?

- Sim, estou bem, obrigado! - o indiano responde com um sorriso, que não alcança seus olhos.- então, para vocês?

 As duas Cabello's ficaram falando sobre as flores brancas, Camila foi até a porta, a chuva caía mais leve agora, a permitindo enxergar uma motocicleta estacionada com os faróis acessos bem próximo ao carro da família, como não havia a visto antes?
 Em cima do veículo que tremia com seu motor tocando, Camila enxergou a garota de antes, mas ela não parecia a mesma de minutos atrás, com seus ombros caídos e cabeça baixa enquanto alisava seu capacete. De repente sua cabeça se ergueu, e seus olhos encontraram os da Cabello, tão intensos que a menor se sentiu até mal por ter desrespeitado sua privacidade no que quer que estivesse fazendo. Balançando seus cabelos molhados, ela retoma sua postura, pondo o capacete e queimando o pneu para longe dali.
 Por algum motivo, Camila sentiu falta do calor, da adrenalina que foi ter aquela garota com ela, sentiu falta do desafio que era decifrar aquelas íris verdes, e por algum motivo também desconhecido, sentiu que não seria a última vez que encontraria a misteriosa motoqueira dos olhos claros.

[...]

 Depois das flores compradas, e de recuperadas dos eventos anteriores, as Cabello's voltaram para a estrada, Sofia e Sinuh conversavam distraidamente sobre algo que Camila não prestava atenção, ocupada demais em seus próprios pensamentos.

- Filha? - a garota chamada, olha para a mãe.- está tudo bem? Você parece meio avoada.

- Está tudo bem - responde vagamente.

- Está pensando no que aconteceu na loja? - Sofia pergunta, era boa demais em ler a irmã mais velha.

- É, você me pegou! - força um sorriso.- sério, o que foi aquilo?

- Era só uma dessas marginaizinhas, ela tinha o quê? A sua idade, Mila? - reflete,  balançando a cabeça em negação.- o vendedor contou que nessa região tem gangues e coisas do tipo, aposto que estava enfiada em algo assim.

- Tenso... - Sofia diz, e Camila concorda com as sobrancelha arqueadas.

- É sim, por isso quero que vocês tomem cuidado, mocinhas, não estamos perto da cidade como eu imaginei, pelo contrário, é bem longe, muito, muito long...

- Entendemos, mãe - Camila interrompe.

- Bem, o que estou querendo dizer é: não confiem em ninguém aqui.

- Não era você que estava toda animada para ser "adotada" por um bando de estranhos? - Camila provoca.

- Estava, e estou, mas confesso que o que aconteceu me assustou, então todo o cuidado é pouco.

- É, e o dia está só pela metade...

- Queria que chegássemos logo! - Sofia reclama, cruzando os braços.

- Parece que seus pedidos são uma ordem, senhorita, olhem lá! - Sinuh anuncia com um largo sorriso no rosto.

 Uma pequena casa verde é avistada, com fumaça saindo de sua chaminé, ficava em um chão irregular, boa parte debaixo dela era recoberta por uma parede de pedras.
 Não era alta, mas claramente possuía um sótão e um porão, janelas com persianas laranjas e uma porta de mesma cor.
 Não foi a surpresa que logo atrás da casa haviam animais, celeiros, chiqueiros, uma horta, nada mais do que o esperado para uma fazenda, e lama, muita lama!
O carro se afunda nela assim que param em  frente à varanda.

- Mãe, tem certeza de que é aqui? - sem que pudesse responder, uma mulher de cabelos longos e castanhos sai da casa e corre em direção à elas.

- Absoluta! - responde com um sorriso, a mulher de cabelos castanhos se joga em Sinuh para um abraço caloroso.

- Eu já estava achando que não vinham! Céus, fico tão feliz que estejam aqui! - fala, indo em direção à Sofia, abraçando a garotinha.- e você deve ser a Camila?

- Não - responde risonha.- eu sou a Sofia.

- Eu sou a Camila! - conta um pouco carrancuda, a mulher logo vai até ela e a envolve num abraço de urso, que a menor responde meio desengonçada.

- Venham, vamos sair do relento, Manuel está louco para conhecê-las! - ela as arrasta pra dentro da casa.

 A casa era tão simples por dentro quanto por fora, não havia muitos repartimentos. Separada do resto por uma bancada, ficava a cozinha, logo fora dela havia uma mesa média de madeira, em um canto tinha dois sofás e uma velha poltrona, todos posicionados ao redor de uma tevê de tubo gigante em cima de uma lareira com chamas ardendo dentro dela. Parecia aconchegante e quente, com muita lã e comidas saborosas à espera, era modesta, mas acolhedora, facilmente descrita como um lar deve ser.

- Meninas, esse é meu marido, Manuel Mendes - apresenta a mulher.

- É um prazer conhecê-las finalmente, bem-vindas à nossa humilde casa - o homem diz com simpatia.

- Ah, como eu pude esquecer? Sou Clara Jauregui!

 Depois de alguns minutos conversando e se conhecendo, todos escutam o barulho do chuveiro desligando, um que as adotadas nem perceberam que estava funcionando.
 Vendo a visível confusão em seus rostos, Manuel explica:

- É meu filho, vocês vão adorar conhecer ele! - "Então tem um filho? Interessante...", Camila pensa.- ele é um garoto muito especial, vai para uma das melhores faculdades da região, ganhou uma bolsa com o futebol - se gava o homem.

- É pai, mas você não precisa contar isso pra cada pessoa que conhece!

 Brinca o garoto que entra no recinto. Mas não era qualquer garoto, Camila fica estupefata ao ouvir sua voz, ao ver ele e ter suas suposições confirmadas, ela sente como suas pernas fraquejaram. Shawn Mendes!
 Ela estava na casa de Shawn Mendes, do garoto mais gato e popular de toda a escola, e melhor ainda, ela passaria três meses com ele!
Melhor.férias.de.todas.
"Não surta, não surta!", pensa, assim que Shawn a abraça se apresentando. "Puff, como se eu não te conhecesse!'', responde mentalmente enquanto inala o perfume do rapaz, quando se afasta, Shawn a observa, e sem soltá-la de seus braços diz:

- Espera, eu conheço você... - ele arregala os olhos em compreensão.- claro! Você é a garota daquele dia, como está o seu bra... - a menor o interrompe com outro abraço, um mais forte dessa vez e sussurra em seu ouvido.

- É, sou eu, agora nem mais uma palavra, porque se minha mãe souber ela mata você!

- Ouh! - assente se afastando.

- Vocês se conhecem? Que coincidência  maravilhosa! - exclama Clara, animada.

- Pois é, ela estava em um dos meus jogos, uma vez... - fala lentamente, enquanto encarava Camila para a garota confirmar a mentira.

- Mila, você já foi aos jogos? Nunca me contou sobre isso - Sinuh diz, se voltando para a filha, antes que ela pudesse responder, Shawn se apressa.

- Ah, foi no tempo que ela estava com o Austin, eu e ele somos do mesmo time, então...

 Camila sente um estranho nó se formando em seu estômago e senta novamente com um sorriso forçado.
 Um silêncio constrangedor toma conta do lugar.

- Certo, é bom que vocês se conhecem, assim vai se sentir ainda mais em casa - Clara diz com um sorriso sincero.

- Eu com certeza vou - Camila olha de soslaio para Shawn que já estava jogado na poltrona em frente à elas, o rapaz dá um de seus lindos sorrisos que a faz se derreter toda.

- Mas então... vocês só têm o Shawn? - Sinuh pergunta, Manuel faz uma breve carranca e Clara parece um pouco desconfortável.

- Não, na verdade eu tenho uma filha também, ela saiu para pegar algumas coisas no mercado há bastante tempo já - consulta o relógio na parede.- mas daqui a pouco estará de volta.

- Qual o nome dela? - a Cabello mais velha questiona.

- É Lauren - Camila sente um arrepio estranho percorrer seu corpo, mas não sabia explicar o porquê.

- Que nome lindo! Aposto que é uma garota maravilhosa! - Sinuh responde gentilmente.

- Ela é sim, uma garota de ouro... - antes que possa terminar, uma luz invade as janelas e o som de uma moto é ouvido.- falando nela!

 As três Cabello's se levantam de seus respectivos lugares e se viram em direção a porta com grandes sorrisos para esperar o outro membro da família, no entanto, assim que a porta é aberta seus sorrisos somem, as três arregalam os olhos e seus queixos caem, congeladas vendo a figura em pé na frente delas.
 Com os coturnos enlameados, a jaqueta surrada, uma sacola em uma mão e os olhos verdes mais intensos do mundo, a garota dá um sorriso de canto, observando com atenção as mulheres.

- E aí? 

"Isso só pode ser brincadeira!".



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