Escrita por: amaterasu0
“Na vastidão das deidades gregas, a responsável por personificar a paz e o equilíbrio era a deusa Harmonia. Fruto da paixão de Afrodite e Ares, Harmonia oferecia o balanço entre o limiar da adorada Deusa do Amor e o temido Deus da Guerra, trazendo serenidade ao cosmos. Entre os romanos, a deusa recebia o nome Concórdia, palavra derivada do latim “con”, que significa união, e “cordis”, equivalente a coração.”
Oito anos depois
O local afastado do agitado centro da cidade era envolto numa particular calmaria. O silêncio permitia até que fossem ouvidos os convites que as lufadas de vento fresco faziam às folhas das árvores, convocando-as para aquela dança. A avantajada extensão do solo era inteiramente coberta por uma curta grama, num verde vibrante que se estendia até as árvores espalhadas pelo ambiente arborizado. O céu azul reunia poucas nuvens, o que permitia que os suaves raios matinais cobrissem toda a área.
– ... estamos até pensando em contratar mais pessoas para trabalhar no nosso escritório. Mal damos conta de todos os casos. – Sentado confortavelmente sobre a grama, Naruto prosseguia com seu raciocínio, trazendo à tona os mais relevantes acontecimentos dos últimos meses. Um pouco mais entusiasmado, continuou ao recordar de um tópico que não poderia deixar de ser abordado. – Ah! E Moegi está começando a construir uma fama nos tribunais. Ninguém quer mexer com a juíza que foi treinada por Itachi, ne? – Deixou uma pequena risada orgulhosa escapar por seus lábios ao lembrar dos frutos que sua ex-aluna estava finalmente colhendo, e ergueu o rosto quando ouviu Sasuke acompanhando-o no riso, sentado ao seu lado. Quedou alguns instantes apenas bobamente admirando o sorriso do outro antes dar-se conta que estava faltando mais alguém ali. – Ué, cadê ele?
Observou o Uchiha ficando em alerta com a questão e logo se levantou, sendo seguido pelo outro que se colocou também de pé. Estreitou seus olhos ao mirar o extenso gramado, procurando uma figura que não demorou a entrar no seu campo de visão. Mais a frente, correndo faceiramente entre as árvores, um pequeno garoto gastava suas energias despreocupadamente, sem saber que estava agora sob a mira de tempestuosos olhos azuis.
– Uzumaki Konohamaru! Vem pra cá! – Assistiu a criança paralisar quando seu alto chamado cruzou o ambiente, e cedo os pequenos pés ganharam outro norte, ao passo que o menino agora retornava de onde silenciosamente havia escapado, minutos atrás. Quando ele já estava próximo o suficiente para que pudesse falar sem mais gritar, Naruto se pronunciou. – Quantas vezes eu já falei para você não correr assim pra longe?
Ao invés de tentar responder o mais velho, o menino se deixou levar somente pelo tom repreensivo de Naruto, sabendo com certeza que ele deveria estar muito bravo, porque só nessas situações ele era chamado por seu nome completo. Receoso, naturalmente preferiu se aproximar de Sasuke, agarrando o tecido de sua calça com os pequenos dedos quando se escondeu atrás de seu corpo. O Uchiha observou a movimentação com um arquear de sobrancelhas e sem demorar levou uma das mãos até a cabeça do menor, afundando os dedos no emaranhado de desordenados fios pretos. Nessa altura, o menino já alcançava sua cintura, e Sasuke levou seu olhar até ele, incentivando-o a fazer o que tinha sido instruído nessas situações. Mais confiante, porém ainda agarrado a Sasuke, o pequeno saiu de seu esconderijo improvisado para colocar-se de frente a Naruto.
– Desculpa, otou-chan. – A voz infantil se arrastou acanhada ao se dirigir ao loiro, e talvez não tenha demorado dois segundos para que a expressão emburrada de Naruto desse lugar a um derretido sorriso, sobremaneira encantado com aqueles grande olhos castanhos para conseguir seguir com sua atuação.
– Já está na hora de ir embora, não vai se despedir? – Foi a vez de Sasuke se pronunciar, ainda voltando seus olhos para baixo para mirar o menino que parecia muito mais aliviado agora que pensava que tinha feito as pazes com o pai. O garoto assentiu vigorosamente quando o ouviu, e finalmente se afastou para ir até onde Sasuke e Naruto estavam sentados instantes atrás.
Ao que o menor se desvencilhou de Sasuke, Naruto logo tomou seu lugar, se aproximando do Uchiha e repousando a lateral de sua cabeça sobre um dos ombros do moreno, ambos em pé enquanto observavam o menino sentar-se sobre as próprias pernas frente a uma placa de concreto que estava sobre a grama, seguindo a padronização dos jazigos subterrâneos do cemitério-parque em que estavam. O menino de quatro anos já sabia escrever seu próprio nome, então facilmente identificava as letras cravadas naquela placa que formavam as palavras “Sarutobi” e “Konohamaru”, logo acima de uma sequência de números que ele não entendia, mas que parecia com datas.
– Konohamaru onii-chan. – Começou cordialmente enquanto olhava para a placa, achando um pouco esquisita a sensação de chamar outra pessoa pelo seu próprio nome. Mas lembrava que seus pais sempre reforçavam que ele tinha sido nomeado em homenagem ao seu onii-chan, então acreditava que o outro tinha sido Konohamaru antes mesmo de si próprio; além disso, como nas fotografias o outro Konohamaru parecia ser uma pessoa muito alta, o pequeno até gostava que eles tivessem o mesmo nome. Pelo fato de costumeiramente irem visitá-lo, o garoto não sentia dificuldade de se articular enquanto fixava os arredondados olhos sobre a placa. – Torça pra que que o otou-san me deixe passear de novo com o tio Gaara, porque andar no carro da polícia foi muito legal! – Finalizou num tom entusiasmado, sem notar quando Sasuke estreitou os olhos somente ao recordar que Gaara teve a imprudência de levar seu filho de quatro anos para acompanhá-lo numa ronda. – Torça também para que o tio Itachi e o tio Shisui tragam aquele videogame que eles me prometeram. – O garoto curvou o tronco para frente, se aproximando mais da placa e baixando seu tom de voz ao continuar, como se quisesse discrição, embora sua ingenuidade não o deixasse notar que suas palavras ainda eram perfeitamente compreensíveis para os dois homens. – E que a tia Sakura continue me dando chocolate sem que meus pais descubram...
– Eh-erh. – Naruto se afastou rapidamente ao forçar uma tosse e se dirigir até o garoto, segurando-o pelo braço como sinal para que ele se levantasse, temendo que o menino continuasse a falar e entregasse mais motivos para Sasuke argumentar que Konohamaru estava ficando viciado em açúcar por sua influência. – É melhor irmos logo, já está tarde. – O pequeno acenou ainda algumas vezes em direção a placa, em despedida, enquanto era puxado pelo pai. Quando Naruto voltou a se erguer, sorriu inocentemente em direção a Sasuke.
Já faziam quatro anos que Naruto e Sasuke começaram a vivenciar a paternidade, quatro anos que o doce garoto entrou em suas vidas. O Uzumaki, que sempre se julgou relapso com seu sono, descobriu o que verdadeiramente significava passar noites em claro quando passou a ter um recém-nascido dentro de sua casa. Por sua vez, Sasuke, que já não mais achava que um dia voltaria a se surpreender com seus sentimentos, foi apresentado a uma espécie de amor desconhecida e inusitada. Durante a espera no processo de adoção, Sasuke fez um exercício honrável de paciência enquanto tentava educadamente refutar as sugestões mirabolantes de nomes que Naruto sugeria, tanto para menina como para menino. Todavia, quando tiveram a notícia que um recém-nascido tinha chegado ao centro de adoção, felizmente não precisaram trocar uma palavra para chegarem a um consenso. Quando seguraram o pequeno nos braços pela primeira vez e puderam ver os vibrantes olhos castanhos, que mesmo tão miúdos pareciam tão calorosos, souberam que nada seria mais apropriado do que chamarem seu primeiro filho de Konohamaru.
Tentando acompanhar os passos de seus pais com suas curtas pernas, o pequeno garoto estendia seus braços para alcançar as mãos dos homens posicionados em cada uma de suas laterais. Gostava de andar de mãos dadas com eles, gostava principalmente de sentir o toque gélido quando suas alianças encostavam em seus curtos dedos.
Parecia o lugar mais seguro do mundo.
FIM
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