"Tia furou meu dedinho." Minha filha, que ainda estava grudadinha em mim, no meu colo, mostrou seu dedinho com um pequeno furo, ainda estava um pouco vermelho. Só então dei-me conta que ela era a única capaz de abrir a porta do quarto, Melinda tinha meu sangue. Não foi nada pensado, mas agradeci pela esperteza de Mulan. Eu devia minha vida a ela. Olhei para a guerreira, que também estava no quarto, assim como Anastácia, Marian e Robin. As mulheres estavam sentadas na cama, já Robin mantinha-se distante, pensativo. Eu e Melinda tínhamos acordado há alguns minutos, e estávamos quietinhas, apenas aproveitando a companhia uma da outra debaixo das cobertas, quando o quarto fora invadido pelo restante da família.
"Doeu, meu amor?" Acariciei seus cabelos, dando total atenção a ela.
"Só um pouquinho, mamãe. Vovó Anastácia disse que sou muito corajosa." Ela sorriu e eu apertei-a em meu abraço. Eu tinha absoluta certeza disso, Melzinha seria uma bruxa muito corajosa e resistente.
"Você ajudou a tia Mulan a salvar a mamãe."
"Salvar de que, mamãe?" Afastou-se de mim, o suficiente para olhar em meus olhos. No fundo, ela sabia que eu não estava doente, apenas ferida. No entanto, eu jamais lhe diria que quase morri queimada, talvez quando fosse mais velha e começasse a compreender o mundo em que vivemos eu pudesse contar toda a verdade.
"Das feridas, filha. Você curou minhas feridas."
"Você deixa a vovó dar um abraço na mamãe?" Anastácia perguntou, fazendo Melinda olhá-la e apenas assentir, para logo depois sair do meu colo e debruçar-se sobre a cama. A mais velha aproximou-se de mim, tocando todo meu rosto. Ela estava emocionada, assim como eu. Eu conseguia ver nos seus olhos a mesma dor que vi nos de Robin, quando ele me acolheu em seus braços, assim que ajudou Mulan a me tirar da fogueira. Limpei uma lágrima que escorreu de seu olho e trouxe-a para um abraço desajeitado.
"Eu estou bem!" Sussurrei, deixando um beijo demorado em sua bochecha. "Como é bom sentir seu abraço." Afastei-me, apenas para olhar em seus olhos, tomando seu rosto com as duas mãos. "Isso faz parte de quem eu sou."
"Não é justo!" Ela fungou. "Eu fiquei tão apavorada quando soube. Meu coração doeu tanto só com a possibilidade de te perder. Você é minha filha de coração, Regina." Sorri com sua fala, sentindo meu coração aquecer. Ela também era minha mãe de coração. Fora para o seu colo que eu corri por diversas vezes na minha vida, era para ela que eu contava toda a minha insatisfação em relação às mentiras que alimentava. Anastácia sempre soube o que me dizer, sem me julgar, uma verdadeira mãe para mim.
"E eu não poderia ter uma mãe de coração melhor. Eu sei que..." Busquei suas mãos, segurando em ambas. "Mamãe está feliz por isso. Se dariam muito bem! Obrigada, Anastácia, por fazer o papel dela tão bem na minha vida." Levei ambas as suas mãos aos lábios, beijando com carinho. "Eu estou bem e ainda vou lhe dar muitos sustos, sua filha não tem uma vida fácil. Quem mandou adotar uma bruxa?" A senhora sorriu.
"Adotou eu também, mamãe." Melzinha disse, engatinhando até Anastácia. "Não chora vovó." Suas mãozinhas acariciaram o rosto da senhora e a mais velha colocou-a em seu colo. "Eu acordei com muita fominha da comidinha da vovó." Ela abraçou a avó, sorrindo.
"Então vamos fazer uma comida bem gostosa para você." Ela sorriu para mim e logo depois voltou sua atenção para Mel. "E um bolo bem gostoso."
"Pra mamãe também, vovó? Ela tá dodói, tem que comer pra ficar fortinha."
"Para a mamãe também, vamos fazer um chá bem forte está bem?" Ela assentiu empolgada. Anastácia colocou Melinda no chão e levantou, segurando na mão dela.
"Eu vou com vocês!" Minha amiga, que se manteve calada, desde que chegou ao quarto, pronunciou-se. Ela ainda estava tentando processar tudo que aconteceu. Quando Marian resolveu arriscar sua vida ao meu lado, eu tinha dito a ela todos os riscos que eu sempre correria. Seu silêncio era apenas para mostrar que ela tinha se acostumado com a hostilidade que eu sofria, mas, no fundo, eu sabia que não, ela jamais iria se acostumar. Ela levantou-se e acompanhou Anastácia e minha bruxinha.
"Marian?" Olhou-me com um pouco de resistência. "Eu não esperaria outra reação sua." Ela suspirou um pouco aliviada, andando em minha direção. "Você acha que eu não te conheço?"
"Nunca pensei isso." Ela abraçou-me apertado. "Eu ainda tenho medo, não consigo me acostumar com isso." Afastou-se de mim. "Meu coração dói só de pensar em te..." Ela fechou os olhos e cessou sua fala. "Depois nós conversamos!" Levantou, deixou um beijo em minha testa e caminhou em direção a saída com Anastácia e Melinda. Mulan fora logo atrás, a guerreira já estava acostumada a isso, realmente. Ela era a única que não se afetava com a minha vida de bruxa. Melinda parou para falar com Robin e depois correu em minha direção.
"Mamãe, não some de novo. A Melzinha já volta tá bom?" Engoli em seco, sem reação alguma. "Viu mamãe?" Busquei o olhar de Robin e ele observava a cena, inexpressivo. Voltei minha atenção para Melzinha, que esperava uma resposta minha e toquei seu rostinho, com o choro preso na garganta.
"A mamãe vai estar aqui, meu amor." Minha voz soara embargada. "Eu prometo!" Ela sorriu, chamando-me para mais perto e assim eu fiz, recebendo um beijo na bochecha.
"Tá bom, mamãe." Ela correu na direção de Anastácia e saíram do quarto, deixando-me a sós com Robin.
Ele ainda continuava no mesmo canto, a uma certa distância de mim. O pedido de Melinda ainda estava fazendo uma bagunça em meus sentimentos, mas Robin também estava passando pela mesma confusão de Marian. Recordei da primeira vez que ele me viu vulnerável, prestes a ser torturada pelo próprio pai e em como ficou desnorteado. Eu sabia que não tinha sido fácil para ele e, talvez, demorasse um pouco para digerir tudo que aconteceu no seu próprio reino.
"Amor?" Ele olhou-me por segundos e suspirou, começando a andar até a cama. Locksley sentou ao meu lado e eu ajeitei-me melhor na cama.
"Conseguiu descansar?" Tocou meu rosto, removendo os fios soltos que caíam sobre ele. Eu apenas assenti, fechando os olhos e relaxando com seu toque. "Como você se sente?"
"Muito bem! A energia da Melinda é muito forte! Sinto-me renovada, desde quando ela resgatou minha magia." Abri os olhos, buscando seu olhar. "Eu estou bem, meu amor. Juro que estou!" A expressão de Robin continuava a mesma, ele não parecia convencido do meu bem-estar, estava preocupado e eu conseguia sentir a culpa cintilando em seu olhar. Removi o cobertor do meu corpo, aproximando-se ainda mais dele. "Pare!"
"Regina..."
"Não! Pare de se culpar! A culpa não foi sua!" Segurei seu rosto com as duas mãos. "Não foi você que começou com isso, Robin, quando isso tudo começou, a caça às bruxas, sequer éramos nascidos. Eu não deixarei que se culpe pela maldade de outra pessoa."
"Eu jamais me perdoaria..." Ele colocou suas mãos por cima das minhas. "Eu me culparia para sempre e jamais veria esse reino com os mesmos olhos. Eles foram horríveis com você, Regina. Todos eles! Não vou desistir de você, jamais, mas não consigo pensar em você sendo rainha de um povo que pediu sua morte." Sorri, apreciando sua preocupação. Robin levou minhas mãos até seus lábios, beijando com carinho. "Desculpa, princesa. Eu ainda estou mexido com tudo, ainda dói imaginar que quase te perdi. Ao mesmo tempo, me sinto péssimo, eu deveria estar sendo forte por você, mas não consigo. Podem me atacarem o quanto quiserem, mas você e Melinda, não."
"Quando descobriu que eu sou uma bruxa, foi fácil para você?"
"Você sabe que não, mas..."
"Eu sei, amor. Não estou te julgando." Sorri. "Para Marian também não foi. No fundo, sempre soubemos que eles não me aceitariam, contudo, não vou desistir por isso, não porque eu quero ser rainha, e sim para desmanchar essa imagem horrível que pintaram das bruxas." Robin apenas me encarava em silêncio, ele precisaria de um tempo para voltar a acreditar que seria possível. "Eu tive muito medo, Robin. Muito mesmo! Mas era medo que Melinda sentisse minha falta, que ela sofresse. Tive medo que você se culpasse, assim como está fazendo agora. Eu pensava em Marian, Anastácia, até mesmo em Mulan que está acostumada com isso. A primeira vez que fui presa numa masmorra, tive muito medo, na segunda vez já não senti nada, apenas desgosto por pensar que eu poderia voltar para aquele lugar mais uma vez. Eu nunca tinha ido parar numa fogueira e fiquei apavorada. No entanto, meu medo não era apenas de morrer. Eu sofri porque não queria deixar vocês."
"Sinto muito por você ter passado por isso." Descansei minha testa na sua. "Enquanto estiver no meu castelo, ninguém vai entrar aqui e machucar você. Eu prometo!" Apenas assenti, tocando seus lábios com os meus. Robin enfiou sua mão entre meus cabelos, puxando-me ainda mais para ele e aprofundando o contato. Gemi contra o beijo quando ele sugou meu lábio inferior com precisão e Robin sorriu, separando nossos lábios.
"Robin..." Disse ofegante, tentando recuperar o fôlego. "Não comece o que não pretende terminar."
"Você está se recuperando!"
"Eu estou bem!" Arqueei uma sobrancelha e ele sorriu, deixando um selinho demorado em meus lábios. "Como eu odeio você, Robin!"
"Em poucos minutos Melinda estará de volta. Eu prometo que teremos um momento só nosso, mas primeiro..." Ele abraçou-me desajeitadamente. "Se recupere! Está tudo muito bagunçado, teremos muito trabalho pela frente."
"Eu sei, inclusive... eu tenho algo para te dizer, sobre David." Afastei-me dele, voltando a minha posição inicial. A expressão leve que Locksley tinha no rosto havia mudado drasticamente, ele seria capaz de matar David com as próprias mãos se o mesmo aparecesse na sua frente. "Eu achei muito estranho quando cheguei nesse castelo e você disse que David era seu amigo de infância. Você nunca me falou sobre ele, Robin. Não o conheço." Meu amor apenas me escutava atento, dando-se conta que tinha algo errado com David, além dele ter desaparecido, mais uma vez eu estava falando sobre o assunto. "Amor, antes de mais nada, não quero que se culpe pelo que vou dizer." Peguei sua mão, entrelaçando a minha. "Você está enfeitiçado, Robin!"
"O quê? Como?" Perguntou espantado. "Como isso aconteceu?"
"Eu não sei, não consigo sentir magia no David. Ele não tem magia. Mas ele plantou essas falsas memórias em você, através de um feitiço. Não sei quem fez para ele, mas eu vou descobrir, leve o tempo que for. Eu não te contei antes, porque você poderia não acreditar, por conta do feitiço. Agora que você está com raiva dele, foi o momento ideal." Quando iniciei o assunto David, resolvi revelar a Robin sobre as visões de Zelena, era o momento ideal, já não precisava mais temer a incredulidade de Robin. Ele estava convencido dos poderes das bruxas, já havia presenciado muita coisa.
"Então foi ele?" Robin respirou fundo, batendo a mão no colchão. "Ele envenenou nossa filha! Eu vou matar aquele desgraçado!" O loiro levantou, passando a andar pelo quarto. "O que ele ganharia matando minha filha, Regina? Isso não faz sentido!"
"Eu sei... meu inimigo ele não é, pelo menos eu não o reconheço. Mas ele não machucou você, apenas a mim e Melinda. Esse tempo todo ele estava aqui, nos esperando, talvez soubesse do nosso retorno. Ele lida com bruxaria. Não sei dizer como, mas ele sabia que viríamos para esse castelo."
"Desgraçado!" Locksley passou a mão pelos cabelos, respirando audivelmente. "Eu vou encontrá-lo e eu mesmo matarei aquele infeliz! Fui eu que trouxe ele para esse castelo, eu não podia adivinhar, amor. Me desculpa!"
"Robin..." Levantei da cama, andando até ele. "Claro que não, você foi uma vítima, assim como eu e Melinda. Se for para culpar alguém, eu seria a culpada, porque o interesse dele é em mim, mesmo eu não sabendo quem ele é." Toquei em seus braços, tentando aliviar a tensão de seu corpo. "Eu posso reverter o feitiço, amor. Você precisa apenas aceitar que eu use magia em você mais uma vez."
"Eu não lembrarei mais de David?" Inquiriu, com o olhar sombrio. "Eu vou lembrar que ele fez mal a você e a nossa filha?" Apenas assenti, odiando vê-lo com todo aquele ódio no olhar, mesmo que fosse justificável.
"Sim, você vai. Apenas as lembranças da infância desaparecerão." Ele apenas assentiu, dando o aval para que eu realizasse a magia.
A magia vibrou tão forte, que me assustei de início, ela estava assim desde quando Melinda resgatou-a. A bruxinha era muito poderosa e eu conseguia sentir, sentia minha magia diferente e mais resistente, e fiquei preocupada com isso. Minha filha teria que ter muito equilíbrio para lidar com a magia, porque ela poderia fazer estragos irreparáveis usando-a. Minha magia tentava procurar brechas nas memórias de Robin, mas parecia impenetrável, não conseguia ultrapassar a barreira para que a magia agisse nele. Tentei mais uma vez e suspirei frustrada, nada acontecia.
"Não está funcionando." Ele franziu o cenho e depois sorriu, observando minha expressão de frustração.
"Eu sei porque, amor..." Enfiou a mão em seu bolso e removeu a pulseira que eu havia lhe dado. "Você pediu para que eu andasse com ela." Arqueou a sobrancelha e eu tive vontade de estapeá-lo. "Isso funciona mesmo!" Disse impressionado, analisando a pulseira.
"Claro que sim! Eu sou uma Mills, os meus feitiços sempre funcionam." Disse petulante, tirando a pulseira de sua mão e jogando na cama. Toquei em Robin mais uma vez, alinhando seu olhar ao meu. Senti meu coração aquecer porque ele não temeu minha magia em nenhum momento. Robin confiava em mim. "Memórias feitas com magia, com magia se apagarão." Locksley piscou repetidas vezes, sendo amparado por mim quando cambaleou. "Amor?"
"Eu fiquei um pouco tonto." Era normal a reação, já que havia mexido com a mente dele. "Eu... não lembro de ser amigo dele. Eu nunca fui amigo dele, eu não conheço David!"
"Vamos achá-lo." Abracei-o apertado, sentindo suas mãos contornarem meu corpo. "Agora sabemos com quem estamos lidando e quem era nosso inimigo dentro desse castelo." Busquei seu olhar, sem sair do abraço. "Vamos conseguir colocar tudo nos eixos novamente. Eu não quero desistir, Robin e não vou! Apenas diga que estará comigo, que vamos enfrentar tudo isso juntos."
"Você tem certeza?" Apenas assenti mais decidida que antes. Eu tinha escapado da morte mais uma vez e isso me fizera ainda mais resistente. Minha magia vibrava tão forte, como se estivesse me dando uma chance valiosa, e não iria desperdiçar. "Eu sempre estarei com você!"
°° °° °°
Uma semana havia passado desde o dia mais horrível que passei em Florenças. Eu sabia que as coisas estavam estranhas no reino, assim como a situação de Robin aos olhos da Igreja. Mas ele estava me poupando de tudo, não conversávamos sobre isso, apenas sobre coisas aleatórias que não envolviam a nossa atual situação. Me permiti esquecer os problemas durante uma semana inteira, estava precisando organizar a minha cabeça e ter um pouco de sossego ao lado das pessoas que não imaginei que voltaria a ver quando estava presa naquela fogueira. Desfrutei da companhia de Melinda e de Robin na maior parte do tempo, mas ele ficava ausente muitas vezes, resolvendo questões que eu não fazia a mínima ideia do que era e com quem era, mas tinha uma noção que tudo estava ligado a mim de alguma forma.
Soube também, depois de insistir com Mulan, que David ainda continuava sumido e não existia sinal algum dele em nenhum reino. Ele tinha magia ao seu favor, imaginei que não seria tão fácil, todavia eu iria encontrá-lo, diferente dele eu não precisava de uma pessoa para fazer magia por mim, eu tinha uma vantagem em relação a isso.
O clima no castelo estava demasiadamente estranho, o número de serviçais tinham diminuído drasticamente e os poucos que restaram me olhavam desconfiados, como se a qualquer momento eu fosse atacá-los. Bem, eu entendia muito bem a reação, eles não se acostumariam comigo de uma hora para outra. Não tinha visto Belle e Ruby ainda, mas fiquei feliz pela permanência das duas.
Os portões do castelo permaneciam fechados, por ordem de Robin, a situação por todo o reino era ainda pior que dentro do castelo. Era um fardo muito pesado para se carregar, me sentia culpada na maior parte do tempo, concomitantemente eu dizia para mim mesma que precisava lutar pela minha felicidade, por um lugar de respeito no reino. Os súditos não eram os reprimidos e coagidos da história, eu era e a minha filha também. Por ela eu suportaria o sentimento de culpa, afinal, a repressão afetava apenas um lado: os das bruxas.
Segui pelo meu caminho de costume, ignorando os olhares assustados em minha direção, e recebi de imediato a permissão para entrar na masmorra. Segui até o seu centro, sorrindo assim que notei que muito deles haviam saído da prisão. Robin havia me prometido que soltaria os presos que não puderam pagar os impostos, e cumpriu. Só fiquei triste por não poder me despedir. Permaneciam nas celas apenas os presos com acusações mais graves, como de furto. Os presos mais perigosos eram transferidos para a prisão do Norte que servia para todos os reinos.
"Bom dia!" Disse, observando eles levantarem e aproximarem-se das grades. "Hoje eu não trouxe livros, só quero conversar com vocês, mas acho que já sabem o motivo."
"As notícias se espalham até mesmo pela masmorra." Lionel, um homem que tinha idade para ser meu pai respondeu, com o seu típico mau humor matinal. Foi o que mais me deu trabalho para conquistar, não aceitava minha ajuda para nada. "E não imaginei que voltasse aqui tão cedo."
"Eu sinto muito, eu sabia que não me aceitariam se soubessem. Eu só queria ajudá-los." Disse em um sussurro, soltando o ar com dificuldade. "Mas tudo bem se não aceitarem o que eu sou. Só peço que continuem buscando melhorar de vida, vocês sabem que é possível. Eu sempre vou acreditar na capacidade de cada um!"
"Por que não aceitaríamos, Regina?" Inquiriu Alexandre, o mais jovem deles, era alguns anos mais velho que eu.
"Porque as pessoas não costumam aceitar." Ele franziu o cenho, confuso.
"Seria estupidez do povo não aceitá-la como Rainha. Eu também não imaginei que voltaria a vê-la aqui, já que será a futura Rainha."
"Oh..." Não sabia se ficava triste ou feliz, por eles não saberem que eu era uma bruxa. "Certo, não é sobre isso." Respirei fundo, tentando acabar com aquele martírio. Seria apenas mais algumas rejeições, eu estava acostumada com isso. "Eu sou uma bruxa!" Disse de vez, esperando a pior recepção possível, mas eles explodiram em uma gargalhada coletiva. Bufei inconformada, fazendo um sútil movimento com a mão e vendo a maioria das tochas apagar. Após, usei o único fogo disponível e acendi todas novamente e tudo que restou na masmorra foi silêncio. Esperei qualquer reação por minutos infindáveis, mas eles apenas me olhavam boquiabertos, sem saber direito como reagir à descoberta. "Digam alguma coisa!" Não suportei o silêncio e o quebrei. "Tudo bem, eu vou embora." Ajeitei-me para ir embora e segui para a saída, eles precisavam de um tempo para digerir tudo, eu voltaria depois.
"Regina..." Ouvi a voz de Lionel e parei, voltando para o lugar que me encontrava. "Você é mesmo uma bruxa?" Arqueei uma sobrancelha. Ele conseguia ser mais incrédulo que Robin.
"Sim, eu sou! Sou uma bruxa, a minha mãe era uma bruxa e a minha filha, Melinda, herdeira de Florenças, também é uma."
"O Rei aceitou vocês?"
"Sim. Não foi fácil, ficamos separados por 5 anos, mas quando retornei para Florenças, conseguiu me aceitar. Ele não sabia que eu estava grávida quando fui embora, só soube agora. É uma longa história." Sorri, lembrando de toda desconstrução de Robin desde quando Melzinha apareceu na vida dele. "Nós nos amamos!" Disse por fim, com um sorriso que não cabia em meu rosto. "Eu vou entender perfeitamente se não quiserem mais a minha presença, mas não posso mudar quem eu sou e, se pudesse, jamais mudaria."
"Estou apavorado!" Tive vontade de rir, mas me contive. "Eu sabia que você não era normal, porque uma mulher normal jamais perderia tempo com presos em uma masmorra."
"Eu sou normal!" Retruquei.
"Não me entenda mal." Ele deu uma risadinha. "Foi o único jeito que achei para me expressar. Você se importa com a gente, ninguém nunca fez isso, muito menos uma mulher. Agora está explicado, você é uma bruxa!" Coçou a cabeça, atordoado. "Você é uma bruxa, uma bruxa..." Ficou repetindo isso, enquanto andava em círculos pela cela. "Tudo bem, eu não me importo!"
"Sério?" Perguntei espantada e ele apenas meneou a cabeça, afirmando. "Foi tão simples assim? Nenhuma objeção? Nada?"
"Oras Regina, não seja maluca." Relaxei os ombros, encostando na sua cela, ele aproximou-se de mim. "Me diga, você poderia me transformar em um sapo?" Eu poderia negar, mas resolvi entrar em seu jogo e apenas assenti. "Mas você não fez, mesmo eu sendo um rabugento com você." Disse convencido, arrancando um sorriso meu. "Você é uma bruxa boa." Complementou.
"Infelizmente não posso transformá-lo em um sapo, ou já teria feito." Afastei-me dele, voltando ao centro do ambiente e olhei para os outros presos na cela, eles não estavam tendo a mesma facilidade de Lionel. "Justo o mais rabugento me aceitou bem e vocês não. Estou surpresa!"
"Eu nunca vi uma bruxa na minha vida! Imaginava que vocês fossem diferentes... um pouco más?" Alexandre parecia estar em um pleno estado de confusão. Não poderia condená-lo, era exatamente dessa forma que éramos vistas. Mulheres que causavam destruição por onde passavam. "Mas você não é, sempre se importou com a gente, mesmo sabendo de tudo que fizemos. Estou assustado, ainda, acho que preciso me acostumar com isso. Mas eu também te aceito!" Ele sorriu, por fim, fazendo meu coração aquecer.
"Então, eu posso continuar visitando vocês?"
"Se o rei permitir, sim. Afinal, você será uma Rainha."
"Robin não se importa! E ele não manda em mim." Lionel soltou uma gargalhada.
"Bruxas..." Desdenhou.
"Ele está acostumado." Encostei-me em uma coluna, alternando o olhar entre cada um deles. Alguns ainda continuavam me observando, mas não tinha nenhuma recusa no olhar, eles precisavam apenas se acostumar. "Tenho uma novidade para vocês! Perceberam que muitos dos colegas de vocês saíram? Bem, infelizmente eu não posso fazer o mesmo por vocês, não ainda. É mais complicado. Me informei com a nova Comandante da Guarda real..."
"Nova? Uma mulher?" Alexandre questionou. "O que está acontecendo com esse reino? Bruxas, uma mulher comandando a Guarda Real."
"Qual o problema?" Cruzei os braços, olhando-o. Ele apenas se calou, levantando as mãos em sinal de rendição. "Enfim... Alguns de vocês estão prestes a sair desse lugar e, para que não voltem a furtar, Robin permitiu que eu oferecesse emprego na corte para vocês. Muitos serviçais foram embora, por minha causa."
"Eu aceito!" Disse Lionel.
"Eu também!" Alexandre respondeu empolgado. "Eu lido muito bem com cavalos, se não for incomodo, gostaria de um emprego no estábulo." Sorri, assentindo. Olhei para os outros que continuavam calados.
"Ela não morde!" Lionel berrou, assustando os demais. "Apenas vejam ela como a Regina de sempre." Aos poucos, cada um foi se reaproximando da cela e aceitando a minha oferta, mas eu ainda conseguia sentir um certo receio. Daria tempo ao tempo, eles não precisavam me aceitar, eu só queria que aceitassem o emprego e pudessem mudar de vida. Pelo menos não me rejeitaram, já era um passo enorme.
"Eu preciso ir agora, prometo que voltarei e podemos falar sobre o melhor emprego para cada um. Vocês estão se alimentando direito?" Ouvi um sonoro sim de Lionel, enquanto alisava a pança enorme, sorri. "Tudo bem, eu preciso mesmo ir." Me despedi de cada um deles e andei em direção a saída mais uma vez, antes de sumir de vez a voz de Lionel fora ouvida por mim.
"Regina..." Me virei para olhá-lo. "Sabe o livro da Fera que leu para a gente?" Apenas assenti, era da A Bela e a Fera.
"Eu sou a Fera?" Perguntei divertida.
"Um pouco dos dois." Ele sorriu sincero. Devolvi o sorriso e saí da masmorra com o coração transbordando de felicidade e esperança.
°° °° °°
"Majestade!" Disse divertida, depois de observá-lo por algum tempo. Robin estava tão distante que não percebeu minha presença no gabinete. Ele levantou da cadeira, detrás da sua mesa, e deu a volta, encostando-se na mesa. Andei em sua direção e parei em frente a ele, sentindo suas mãos segurarem minha cintura e me puxar para si. "Faz alguns minutos que estou te observando. Você me parece preocupado."
"E você me parece feliz, o que aconteceu?" Desviou do assunto e eu suspirei.
"Você não pode me poupar de tudo para sempre." Olhei firme em seus olhos. "Estamos juntos nisso, lembra?"
"Claro! Eu não quero te poupar de nada, amor, só estava esperando a melhor hora para dividir as notícias com você." Acariciou meu rosto, deixando um beijo carinhoso na minha testa. "Desculpe a ausência hoje no café, e no quarto também. Eu tive que resolver alguns assuntos e não quis te acordar, você dormia tão tranquila com Melinda."
"Tudo bem! Eu fui à masmorra e Melinda..." Sorri, lembrando onde minha filha estava. "Ela está com Mulan."
"Pensei que estivesse com Marian. Até pensei em passar na biblioteca para vê-la."
"Sua filha trocou os livros pelo arco e flecha." Robin franziu o cenho e eu sorri. "Mulan fez um para ela, bem pequeno, com flechas de madeira. E ela está muito empolgada, dizendo que quer ser uma guerreira igual a tia Mulan." Locksley sorriu, negando com a cabeça.
"Espero que ela não faça igual a mãe, e tente acertar minha cabeça com uma flecha." Explodi em uma gargalhada, sentindo suas mãos apertarem de leve minha cintura.
"Você me deixou com muita raiva, Robin. Muita!" Alisei seus ombros, olhando para ele com um sorriso travesso. "Pelo menos eu ganhei um beijo, eu estava com tanta saudade."
"Ah! Eu também estava." Mirou meus lábios, mordendo levemente seu lábio inferior. "Por que está com esse brilho no olhar?" Sorri, lembrando da conversa que tive com os presos.
"Eu conversei com seus prisioneiros, eles me aceitaram muito bem. Quer dizer, alguns ainda estão meio receosos, mas Lionel e Alexandre me aceitaram bem." Robin sorriu. "Você ainda vai oferecer os empregos a eles, não é?"
"Claro, meu amor. Se é tão importante para você, não irei interferir e estamos precisando de pessoas que aceitem você e Melinda." Colei meus lábios nos seus, beijando com carinho e depois abracei-o apertado, grata por todo o apoio que ele estava me dando.
"Obrigada!" Robin beijou meus cabelos, afastando nossos corpos e buscando meu olhar. Suas mãos ainda me seguravam pela cintura.
"Por que você se importa tanto com eles? Eu acho isso incrível da sua parte, mas queria entender o que te leva a ser tão solidária com essas pessoas."
"Porque muitas vezes eu estive no lugar deles, eu não tinha nada para comer e precisava roubar de alguém. Eu usava o pouco de magia que eu dominava para fazer isso. Sou desprezada, assim como eles. Somos pessoas mal vistas no reino, pessoas sem valor algum. Por isso me importo tanto com eles, porque me vejo neles. De forma diferente, claro, mas o sentimento de rejeição é o mesmo. Quando comecei a trabalhar minha vida melhorou muito. Agora estou sobre sua proteção e posso ter tudo que quiser. E a única coisa que eu quero é dar a essas pessoas um pouco de dignidade." Sorri para meu amor, observando seu olhar sobre mim. Minhas palavras tinham o emocionado, eu conseguia perceber através da sua mirada. Senti a mão dele acariciar a maçã do meu rosto e fechei os olhos com o toque. "O que eu puder fazer por eles, eu farei."
"Eu tenho tanto orgulho de você, meu amor. Por mais atencioso que eu seja com meu povo, eu nunca pensei por esse ângulo tão sensível." Robin puxou-me para seus braços, acolhendo-me neles com carinho. "Eu tenho aprendido tanto com você, cada dia um novo aprendizado. Você é preciosa demais para esse mundo, Regina." Sorri com seu comentário e busquei seu olhar.
"Sou mesmo, majestade?" Perguntei brincalhona e Locksley franziu o nariz com a forma que lhe chamei. "Eu estou com saudades de você, sabia?"
"Você continua sedutora, Regina." Subi com as mãos pelos seus braços, abraçando sua nuca e arranhando as unhas levemente. "Provocadora..." Sussurrou contra minha boca, roçando seus lábios nos meus. "Não tivemos mais nenhum momento a sós, desde a última vez que estivemos juntos."
"Somos pais agora." Sorrimos. "Já não temos mais a liberdade de antes. Às vezes sinto falta, mas ter nossa filha dormindo ao nosso lado não tem preço."
"Sim!" Ele suspirou. "Eu tenho uma surpresa para você. Apenas eu e você." Mordi o lábio inferior, tentando conter minha curiosidade. "Não irei dizer nada, não adianta." Bufei frustrada e ele sorriu, me dando um selinho.
"Tudo bem, majestade! Que tal..." Puxei-o para mim, roçando nossos lábios. "Aproveitarmos esse pequeno momento a sós, para matarmos um pouco a saudade?" Sussurrei contra sua boca.
Ele sorriu, tomando meus lábios em um beijo e virou nossos corpos, pressionando-me contra a mesa. Locksley deslizou sua língua pela minha boca, enquanto apertava firme minha cintura e eu gemi contra o beijo. Sem abandonar meus lábios, ele impulsionou meu corpo, pondo-me sentada sobre a mesa. Abri minhas pernas e Robin encaixou-se entre elas. Locksley deslizou seus lábios até meu pescoço e tombei a cabeça de lado, dando livre acesso. Fechei os olhos, apreciando o contato e abafei um gemido quando ele arranhou os dentes levemente na minha pele.
"Lembra quando éramos mais jovens e ficávamos nos agarrando pelos cantos?" Sussurrou em meu ouvido e sorri, assentindo. "Você sempre me repreendia." Deixou um beijo demorado em meu pescoço, me causando arrepios.
"Você era insaciável." Minha voz saiu mais parecida com um gemido e ele sorriu, selando nossos lábios mais uma vez. Assim que finalizamos o beijo, removi o colete que ele usava, colocando-o em cima da cadeira.
"E você não?" Arqueou uma sobrancelha. "Você era e continua sendo tão insaciável quanto eu."
"Fomos feitos um para o outro." Puxei sua camisa que estava por dentro da calça e logo depois puxei-o para mais um beijo. Nossos lábios se encontraram com urgência enquanto as mãos dele passeavam por todo o meu corpo. Locksley enfiou uma de suas mãos em meus fios negros, puxando-me para ele e aprofundando ainda mais o contato. Gemi em resposta. Seus lábios abandonaram os meus mais uma vez e ele abaixou a alça do meu vestido, deixando um beijo demorado no ombro desnudo. Seus lábios arrastaram-se até meu colo e ele distribuiu beijos por toda aquela região.
"Eu amo seu cheiro." Disse, após subir com as carícias para meu pescoço.
"Me diga algo que não sei." Ele sorriu contra meu pescoço. Minha respiração estava descontrolada e eu só desejava que ele continuasse, queria me entregar a Robin mais uma vez. A última vez que compartilhamos um momento íntimo, foi antes do casamento que não aconteceu. Melinda estava sempre conosco e quando ficávamos sozinhos e tentávamos qualquer coisa, ela aparecia do nada. Eu sentia muita saudade de Robin, uma saudade acumulada durante 5 anos. "Pare de me torturar!" Choraminguei, sentindo-o alternar os beijos entre a minha clavícula e o pescoço. Locksley forçou meu vestido para baixo, revelando parte dos meus seios e eu suspirei em expectativa pelo que vinha depois. Ele baixou ainda mais meu vestido e tomou um dos meus seios com a boca. O calor que emanava de nossos corpos, esfriou imediatamente quanto ouvimos batidas na porta. Robin sorriu contra minha pele, ouvindo um resmungo meu. "Isso é inacreditável!" Locksley ajeitou meu vestido, deixando um selinho em meus lábios.
"Desculpa, amor." Segurou em minha cintura, tirando-me da mesa e passou a ajeitar sua roupa. Enquanto ele terminava de se ajeitar, andei até a porta, abrindo e deparando-me com August.
"Oi, August." Sorri para o homem. Apesar de gostar muito dele, sua visita inesperada não me agradou muito.
"Oi, Regina." Sorriu sem jeito. "Pensei que Robin estivesse sozinho, não quis atrapalhar, volto depois."
"Tudo bem!" Dei passagem para que ele entrasse e assim ele fez. "Terminamos depois, amor. Eu vou ver Melinda!" Locksley lançou-me um olhar divertido e eu sorri.
"Você pode ficar, Regina. São assuntos do reino."
"Eu gostaria muito que ficasse, princesa." Apenas fechei a porta e sentei ao lado de Robin, que já tinha se acomodado no sofá. August ocupou a poltrona, defronte para nós.
"Antes de mais nada, gostaria de agradecer por ter tentado me ajudar com o Inquisidor. Não nos vimos mais e eu não tive tempo de agradecer direito."
"Eu fiz o certo, não deveria me agradecer por isso. Lamento por não ter feito muito." Disse com pesar, sorrindo de lado para mim.
"Você fez muito, August." Sorri agradecida, encerrando o assunto.
"Aconteceu alguma coisa?" Observei o rosto de Robin, carregado de preocupação. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo no reino.
"Sim!" O homem se ajeitou melhor na poltrona, fitando Robin. "Os nobres se recusam a se reunir com você no castelo. E a igreja está atrás do culpado pela morte do Inquisidor, eles devem chegar a Florenças em poucos dias." Locksley respirou fundo, contendo sua insatisfação com toda situação e eu busquei sua mão, entrelaçando a minha.
"Eu não vou deixar que prendam Mulan, ela é minha Comandante! Além disso, ela fez o que não tive coragem de fazer." Bufou inconformado. Conseguia perceber a tensão em seu corpo pela força com que apertava minha mão.
"Não fez porque eu pedi para não fazer. Não se culpe, Robin! Eu não quero que mate nenhuma pessoa por minha causa." Olhei firme em seus olhos e ele nada disse. "Merlí não é um religioso, podemos provar sua farsa e Mulan não será julgada. A igreja não vem por causa dele, vem por mim, Melinda e pelo reinado de Robin. Eles vão querer destronar você."
"Não permitirei que isso aconteça." Garantiu, olhando em meus olhos. "Vamos dar um jeito. Esse reino é da minha família e não existe outro Locksley, além de Melinda." Seu olhar foi ao encontro de August. "Você tem alguma sugestão?" Inquiriu. O homem agora, além de um nobre, tinha se tornado Conselheiro Real.
"Fui pego totalmente de surpresa, mas teremos tempo para pensar em alguma coisa. Você tem razão, Regina, provando a falsa religião do Inquisidor, podemos inocentar Mulan. Vou trabalhar para isso, preciso de todas as informações dele. Majestade..." Robin o repreendeu com o olhar. "Robin." Ele sorriu. "Você tem razão, o trono é de Melinda por direito e se eles não provarem que ela é uma bruxa, não poderão tirar o direito dela. Melinda só precisará de um tutor e jamais será Regina, o que leva a você novamente ou a mim, por ser Padrinho. O máximo que vão exigir é que entregue Regina e vão insinuar que está enfeitiçado."
"Ninguém vai tocar em Regina." Ele apertou levemente a minha mão, mas não olhou em meus olhos. "Vou posicionar meu exército pelo reino inteiro, ninguém entre em Florenças sem minha permissão, nem mesmo a igreja."
"Tem mais..." O Conselheiro alternou seu olhar entre mim e Robin. "Arthur abdicou do trono e hoje eu soube que mais dois reis abdicaram. Um é do conselho."
"Quem?" Perguntou Locksley. Eu apenas ouvia atenta, achando estranho 3 reis abandonarem seus reinos.
"O Rei de Safira."
"Rei Rodolfo?" Eu não conhecia bem o Rei, mas era um dos reinos mais antigos do Norte. "Onde ele está?"
"Não sei, Robin, mas irei obter mais informações. Não sei o porquê dele ter feito isso. É tudo muito estranho, foram três abdicações em poucos dias."
"E o conselho?"
"Continua desfalcado." Ele passou a mão pelos fios negros. "São tempos sombrios."
"É tudo muito estranho..." Levantei, passando a andar pela sala. "Foram 3 reinos. Arthur me parecia muito feliz com seu reinado, muito focado nas ações que fazia com às bruxas, com a intolerância religiosa. Não faz sentido ele desistir do reino." Olhei para Robin que, apesar de estar furioso com o Rei, concordava comigo. "Eu posso estar enganada, mas acho que não é coincidência essas três abdicações. Deve estar tudo interligado e, se realmente estiver, tem alguém muito mal intencionado por trás disso tudo." Voltei a sentar ao lado de Robin. "Faça uma visita ao Rei Arthur, Robin. Corona é aqui do lado."
"Não vou deixar você sozinha."
"Robin!"
"Não, Regina. Não deixarei você sozinha novamente. Não adianta insistir."
"Me leve com você. Se você não for, eu irei."
"Bem, eu estou de saída. Qualquer novidade eu venho informá-los." O homem levantou, talvez constrangido pela falta de acordo entre mim e o meu rei teimoso.
"Obrigada, August. Está bem acomodado?"
"Sim, Ma... Robin! Obrigado!" Locksley apenas assentiu e ficamos sozinhos na sala, assim que a porta bateu ele olhou para mim.
"Não iremos à Corona, não seja maluca, Regina." Robin passou a mão pelos fios loiros, puxando-os levemente.
"É uma pena eu não precisar da sua permissão." Dei de ombros, enrolando os dedos no meu cabelo. "Se quiser ir comigo, ficarei muito feliz de ter sua companhia, mas se não quiser eu irei sozinha."
"Pense na sua filha!"
"Eu penso nela todos os dias, e é exatamente por isso que eu vou até Corona. Não fale como se eu não me importasse com Melinda."
"Não foi isso que eu quis dizer, Regina." Tocou meu rosto, fazendo-me olhá-lo. "É perigoso e você sabe disso. Por favor, princesa, não pense que eu quero mandar em você, mas lá fora não é o melhor lugar para você, não agora. Vou pedir que um soldado vá até Corona." Bufei inconformada, mas concordei. Robin estava coberto de razão.
"Desculpa!" Deitei a cabeça em seu ombro. Robin acariciou meu rosto e beijou meus cabelos. "Eu só não quero me sentir inútil."
"Você nunca será inútil. Tenho certeza que tem muito o que contribuir, mas prefiro que seja aqui, na segurança do castelo. Vamos inocentar Mulan, só você pode reunir essas provas contra o Inquisidor." Um resmungo escapou por meus lábios e Robin sorriu. "O teimoso da relação sou eu." Sorri, me aninhando em seus braços. "Não vou arriscar sua segurança, não insista." E eu não iria, eu tinha outros meios para descobrir sobre as abdicações sem sair da segurança do castelo.
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"Eu ainda acho que deve se apresentar para o seu povo, Robin, antes que eles se revoltem contra você." Regina disse, enquanto andávamos de mãos dadas pelos corredores do castelo. Eu havia contado a ela sobre os problemas no reino, além dos nobres se recusando a reunir-se comigo e a igreja que estava atrás da Mulan. Uma semana havia passado e a população continuava rebelde, questionando minhas escolhas em manter duas bruxas no castelo e isolá-lo. Muitos carroceiros se recusavam a trabalhar para o reino e o abastecimento de alimentos, água e armas estava sendo prejudicado. A sorte era que o reino ainda estava abastecido e duraria por algumas semanas. Eu tinha que reverter a situação antes dela se complicar ainda mais. Minha princesa tinha razão, eu precisava falar com meus súditos o mais rápido possível.
"Você tem razão. Irei fazer isso o mais rápido possível, só preciso resolver com August." Olhei para ela, que assentiu. "Seu espírito de liderança é nato. Alguém já lhe disse isso alguma vez?"
"Não..." Baixou o olhar. "Nunca consegui liderar ninguém, apesar de ter tido a oportunidade." Apertei sua mão levemente, sabendo exatamente do que se referia.
"Tenho certeza que será uma ótima líder. Talvez precisasse passar por tudo isso para se convencer do seu destino. Não é fácil ser líder de um povo, digo por experiência própria, mas você tem um espírito de liderança e nem mesmo suas escolhas passadas apagaram isso."
"Estive pensando sobre isso. Eu posso me redimir por tudo que fiz e recomeçar, porque aquele Clã é meu e será da minha filha. Eu cansei de me lamentar pelo passado, a partir de hoje só vou pensar no futuro, na chance que estou tendo." Trocamos um olhar e sorrimos. Assustei-me quando Regina soltou minha mão e saiu com passos apressados na minha frente. Fiquei observando-a e sorri, quando me dei conta do que ela pretendia fazer.
"Bom dia!" Ela começou a rir quando Belle e Ruby pularam de susto. Sorri, Regina parecia uma criança bagunceira. As duas mulheres ainda tentavam se recuperar do susto e Regina não parava de rir. Apressei meus passos e alcancei-a. "Estão brancas, igual um fantasma." Disse, com a voz afetada pelo riso.
"Cresça, Regina!" Ruby repreendeu-a e logo seu olhar pairou em mim e ela arregalou os olhos. "Desculpe, eu..."
"Tudo bem, Ruby, ela é sua amiga." Sorri para a mulher, que ainda estava sem jeito.
"Ela é a mesma Regina..." Belle sussurrou, jogando-se nos braços de Regina. "Eu sempre quis acreditar nisso e estava coberta de razão." Senti meu coração aquecer com a cena. Regina abraçava ela com carinho, feliz pela recepção calorosa. "Eu nunca tive uma amiga bruxa. Eu sempre imaginei que fossem iguais os livros, sabe?" Regina gargalhou, afastando-se dela.
"Sempre fantasiando." Belle deu uma risadinha e afastou-se. Regina olhou para Ruby e a moça andou até ela, abraçando-a também. "Eu fico tão feliz por me aceitarem tão bem. Eu gosto tanto de vocês." Afastaram-se e Ruby sorriu para meu amor.
"Ficamos assustadas, mas você sempre foi gentil com a gente. Por mais que existam divergências entre o que eu acredito e o que você acredita, jamais irei condená-la por isso. Você não é só uma crença."
"Obrigado, meninas." Abracei Regina de lado. "Ela é uma mulher incrível e eu fico muito feliz por terem permanecido no castelo."
"Não me sentiria bem nunca se tivesse partido quando ela mais precisava. Estamos bem com a nossa escolha." Ruby disse e olhou para Belle, que assentiu. "Conversamos depois, com mais calma. Não queremos atrapalhar."
"Eu apareço na cozinha depois, nada mudou." Elas sorriam e seguiram seu caminho. "O que você não está me contando?" Olhou para mim desconfiada. Apenas dei de ombros e continuei a andar. "Robin!"
"Não estou escondendo nada." Olhei para ela, que havia me alcançado. "Por que você acha que estou?"
"Porque elas me aceitaram bem, muito rápido por sinal."
"Vocês não se veem há uma semana, elas tiveram tempo para se acostumar." Regina revirou os olhos e eu sorri. "Digamos que eu dei uma ajudinha, apenas falando o óbvio para todos os serviçais. Falei sobre a mulher incrível que você é, sobre a minha experiência em relação a você ser uma bruxa. Marian também. No final, eles escolhiam se permaneciam ou não, elas ficaram." Regina enlaçou seu braço no meu e continuamos andando. Ela permaneceu em silêncio por alguns segundos, até que, resolveu quebrá-lo.
"Me desculpa mais uma vez pelo que eu disse no gabinete. Eu sei que você jamais insinuaria que não me importo com nossa filha." Ela suspirou. "Eu só... Não consigo ficar quieta, sabendo que tem alguma coisa errada acontecendo. Eu já fugi tanto dos problemas que apareceram na minha vida que, agora que decidi resolvê-los, quero resolver tudo que aparece na minha frente."
"Tudo bem, princesa. Não pense sobre isso. Eu sei que falou sem pensar."
"Obrigada por ser tão bom comigo, Robin." Nossos passos cessaram, assim que chegamos no nosso destino. "Você tem sido tão incrível comigo e eu só tenho te trazido problema."
"Estamos juntos, lembra? Seus problemas são meus, assim com os meus, também, são seus. Vamos resolver tudo juntos." Deixei um selinho em seus lábios e ela assentiu. Um grito de comemoração chamou a nossa atenção e olhamos para a direção que o barulho vinha. Melinda tinha tido êxito na sua aula com Mulan e comemorava com entusiasmo. Regina sorriu, assim como eu, quando ela posicionou a flecha mais uma vez e bateu os pés, porque não tinha acertado o alvo. O olhar que ela lançava para a tia era de pura insatisfação e Mulan não conseguia conter o riso com a inquietação de Melinda. Minha filha era muito determinada quando queria alguma coisa e, também, impaciente.
"Ajeite a postura assim, Mel." A guerreira posicionou ela da melhor forma. "E tenha paciência." Sorriu, ajeitando o arco e flecha nas mãos pequenas de Melzinha.
"Agora eu solto, tia?" Ela perguntou, sem desfazer a postura e Mulan apenas assentiu. Assim que soltou a flecha, ela foi direto no alvo, que estava em uma distância adequada para a idade e força dela. "Acertei de novo, tia." Ela abraçou a tia, contente com o progresso.
"Parabéns Melzinha, você vai ser uma ótima guerreira." A mulher beijou sobre os cabelos dela. "Amanhã podemos treinar mais, está bem?"
"Tá bom, tia." Ela devolveu o arco e flecha a tia e assim que seu olhar encontrou o meu, ela correu na minha direção, e eu peguei-a no colo. "Papai, eu vou ser uma guerreira." Disse sorrindo. "Não é mamãe?"
"Sim, bruxinha. Você se saiu muito bem." Regina acariciou-lhe o rosto. "Vou conversar com sua tia e já volto." Passei a andar pelo centro de treinamento com Melinda, enquanto ela me contava tudo que fez com a tia.
"Eu vou lutar igual a tia Mulan." Disse contente.
"E você vai ser uma princesa, bruxinha e guerreira?"
"Vou papai." Sentei com Melinda na escadaria que dava acesso à saída do centro de treinamento. "Tô com saudade dos meus amiguinhos, papai." Ajeitei alguns fios soltos do seu cabelo, observando a trança bem feita que prendia ele, enquanto tentava buscar uma resposta para Melzinha.
"Tenho certeza que eles também estão com saudades de você." Ela me olhava atenta. "Mas agora não posso levá-la até eles, meu amor. Os portões do castelo estão fechados, porque está muito bagunçado lá fora. Quando o papai e a mamãe arrumar tudo você pode brincar, está bem?" Ela assentiu, um pouco decepcionada. "O papai pode brincar com você, se você quiser."
"Com as minhas bonecas, papai?"
"Sim, com as suas bonecas. Depois podemos ler um livro bem bonito." Ela sorriu, abraçando-me pelo pescoço e roçando seu nariz no meu. "E hoje podemos dormir no seu quarto, você quer?"
"Sim, papai. E se a mamãe não deixar?"
"Lembra da carinha fofa que papai ensinou para você?" Ela fez um biquinho manhoso, e baixou o olhar, mostrando-me que lembrava. "Assim a mamãe não resiste. Só não pode contar a ela que te ensinei isso." Melinda deu uma risadinha e se aninhou em meus braços.
"O senhor é o melhor papai do mundo." Ela disse sorrindo, olhando em meus olhos.
"E você é a melhor filha do mundo." Beijei seu pescoço, arranhando minha barba na sua pele e ela sorriu. "A bruxinha mais bonita do mundo." Continuei com o ataque, ouvindo a risada gostosa da minha filha adentrar meus ouvidos. "E o papai te ama muito."
"Para papai." Pediu, com a voz entrecortada. "Te amo, paizinho." Disse entre risos. "Minha barriguinha tá doendo de tanto rir." Deitou a cabeça em meu peito, ainda sorrindo.
"Vamos entrar, você precisa tomar um banho, está toda sujinha."
"Parecendo uma porquinha." Deu uma risadinha e eu sorri, levantando com ela em meu colo. "Depois vamos brincar?"
"Só depois que você almoçar." Ela assentiu e seguimos até Regina e Mulan. "Está tudo bem?" Antes que elas pudessem me responder, uma voz ressoou atrás de mim.
"Regina." Chamou Marian. Virei-me para encará-la e ela parecia um pouco espantada. Leigh respirou fundo, antes de proferir suas próximas palavras. "O portão do castelo está cheio de bruxas!"
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