[29 de Dezembro de 2014]
Instituto Kyn de Pesquisa. Ala 10.
– Minha garganta pede pra cantar, que a dor se vai...
– Sunghoon.
– Como uma lembrança vai...
– Sunghoon!
– Desde criança...
– Park Sunghoon!
– O que é, Jay? – O mais novo, que estava concentrado, sentado em sua cama, se levantou irritado.
– Você não vai ouvir, cara, não adianta! Para com essa música que já me encheu o saco. – Jay pediu, pela quinquagésima vez naquele dia.
Desde que acordaram e Nina não estava mais em sua cela, Sunghoon passa os dias e as noites repetindo a música que ouviram ela cantar. Não queria esquecer a melodia, e todos os dias, tentava usar seu poder para escutar algo parecido pelo prédio.
– Como você sabe? O soro deu defeito em você! Por que não em mim também? – O Park mais novo se virou de costas para o vidro. – A gente prometeu que não ia deixar nada acontecer com ela—
– A gente fez um monte de promessas pra um monte de gente, Sunghoon. – Jay se pronunciou, irritadiço. – E até agora não cumprimos nenhuma delas. Alguém aqui sabe onde tá o Jungwon, por acaso?
Silêncio. Tinham tocado na ferida aberta.
– Pois é, a gente só fica prometendo coisas que a gente não pode cumprir e se culpando depois porque desastres acontecem e advinha? Nós somos crianças e não podemos fazer nada a respeito.
– Jay, também não é pra tanto. – Jake tentou acalmar os nervos dos dois colegas de cela. – Nem tudo tá perdido.
– E o que acha que vai acontecer, Jake? Acha que magicamente todos os soldados vão ficar bonzinhos e nos soltar? – Sunghoon esnobou, escorregando as costas no vidro da cela e se sentando no chão.
– Acho que alguém vai ajudar a gente... – Pronunciou o Shim, tirando do bolso o papel que achou escondido debaixo de seu colchão. – Alguém morou nessas celas antes da gente, e esse alguém conseguiu fugir.
As palavras de Jake despertaram nos dois algo que em muito tempo não sentiam, um sentimento que estava tão esquecido no fundo de seus corações que arrepiou os pelos do braço; esperança.
– Elabora, Jake. Anda, dá os detalhes. – Sunghoon apressou, se aproximando mais do vidro de sua cela. Jake sorriu.
– Eu achei esse bilhete debaixo do meu colchão. É difícil de ler, mas tem uma parte que eu consegui ler perfeitamente... – Ele tirou o papel totalmente do bolso e desdobrou, lendo o pedaço que melhor conseguia entender. – “Se achou este bilhete, precisamos que tenha esperança. Nós vamos voltar por todo mundo, não deixe o fogo se apagar”.
– Quem é “nós”? Como vamos saber se isso é verdadeiro? – Jay contrariou, fazendo o sorriso no rosto de Jake murchar. – Pode muito bem ser aquele soldado de merda querendo mecher com as nossas cabeças.
– Jake, mostra a carta, não tem problema se aparecer nas câmeras. – Sunghoon pediu e assim o Shim fez, estirando o papel contra o vidro para que os dois pudessem ver. – Jay, olha só, são duas caligrafias completamente diferentes. E a primeira pessoa escreve como se tivesse acabado de aprender a escrever. Eu acho que é de verdade.
– Quando eu e a Nina chegamos, um dos guardas disse que o sistema não poderia ser burlado de novo... – Jake concluiu, fazendo Jay olha-lo desconfiado. – Alguém já fugiu desse lugar.
– Jake, foi ótima a sua tentativa de me animar e eu amo você por isso, mas... – O Park mais velho se virou de costas para o vidro, se deitando em seu colchão velho e encarando o teto. – Eu não sei ter essa sua esperança.
Sunghoon encarava Jake e tentava ler a reação de Jay pelas expressões do Shim. Jake suspirou alto, guardando o pedaço de papel novamente no bolso.
– Tá tudo bem... Eu acredito por nós dois.
[31 de Dezembro de 2014]
Distrito 9, Cantina.
– Não acredito que o Felix vai perder nosso primeiro ano novo juntos depois de seis anos!
Durante a última semana, Minho, Felix e Jiyeon passaram inúmeras noites acordados, construindo a tal cantina que Changbin tanto queria. Era uma boa ideia, então Chan tratou de conseguir os materiais necessários. Felix e Jiyeon com a telecinese e Minho com a sua manipulação de metais, trabalhando juntos, os três levaram uma semana pra terminar. Mas, em compensação, estavam acabados.
– Dá uma folga pra ele, Jackie. – Haeyoung terminou de beber seu refrigerante em um só gole antes de continuar. – O coitado ficou dias em claro terminando de construir esse lugar.
– Eu sei, mas eu tenho direito de reclamar, tá legal? – A mais velha cruzou os braços sobre a mesa. – Depois de seis anos separados eu pensei que fosse passar mais tempo com meu irmãozinho. É mais fácil achar que o Chan é irmão dele do que eu.
– Ai, como você é dramática! – Exclamou a Cho, rindo da carranca da amiga e abraçando-a de lado. – Não fica assim, Mimi. Eu posso ser sua irmãzinha!
– Sai pra lá, filhote de cruz credo. E para de me chamar assim, eu já falei!
Numa mesa mais a frente, Hyunjin, Jeongin e Jisung observavam as duas garotas se levantarem e irem em direção a cozinha, onde Chan preparava o que quer que estivesse dentro das inúmeras sacolas que ele trouxera mais cedo.
Eles ainda iam descobrir de onde ele tira tanta coisa.
– Jisung, eu não acho que seja boa ideia. – Pronunciou Hyunjin depois de ver Haeyoung e Jackie saindo da cantina.
– Por que não?
– Roubar um beijo da Jackie? À meia noite? Você conhece a Jackie?
– Ela, no mínimo, ia te cobrir de porrada. – Jeongin completou a fala de Hyunjin. Jisung revirou os olhos. – No mínimo.
– Eu queria ser romântico. O Chan disse que era uma boa ideia...
– Ele tava sorrindo quando te disse isso? – O Han assentiu. – Então ele tava tirando com a sua cara. Você. Vai. Apanhar.
– Mas eu acho que ela também gosta de mim! Ela é a única que ri das minhas piadas!
– Isso é verdade, mais ninguém acha graça. – Jeongin confirmou.
– Ela faz isso pra não te deixar triste.
– Isso é melhor ainda! – Jisung rebateu. Hyunjin revirou os olhos com a insistência do Han. – Hyunjin você não sabe de nada. Quem é que consegue sentir o que os outros sentem aqui? Eu ou você?
– Tá me dizendo que você sentiu que a Jackie gosta de você? – Jeongin duvidou, arqueando a sobrancelha. – Quando?
– Quando estávamos treinando. Ela tinha tropeçado e teria caído se eu não tivesse segurado.
– Credo, parece cena de novela das oito. – Hyunjin reclamou, esboçando uma careta descontente. Jeongin riu.
– O ponto é... – Jisung continuou. – Eu sei o que eu senti e eu sei o que ela sentiu, tá? Eu tô confiante.
– Então tá, amigo. Se tudo der errado, lembre-se que você dorme no mesmo quarto que o irmão dela.
Jisung engoliu o seco. Tudo bem, Felix estava dormindo, se ele contasse no dia seguinte tudo ficaria bem. Não é?
– Venham logo! Temos que soltar os fogos ao mesmo tempo que todo mundo! – Ouviram a voz de Eunjae chamar do lado de fora da cantina. Logo em seguida, Jackie e Haeyoung saíram da cozinha, trazendo consigo um Chan relutante e de avental, dizendo que a comida ia queimar.
– Vamo, já tá quase na hora! – Seungmin também apareceu de dentro da cozinha, puxando Jisung e Hyunjin pelo pulso.
Logo, todos os moradores do Distrito —menos Jiyeon, Minho e Felix— estavam do lado de fora. Chan, com sua mente genial, encontrou um jeito de fazer fogos de artifício caseiros, só precisava que Boom desse uma ajudinha na hora H.
– Hae, quer que eu faça? – Jisung perguntou. Faltavam dois minutos pra meia noite.
Depois de alguns dias de treino, Jiyeon e Haeyoung encontraram um jeito de fazer Boom assumir o controle voluntariamente. Jiyeon apenas precisava encontrar uma memória gatilho para a ruiva, a mais leve que fosse, e a explosiva assumia o controle. Depois de alguma prática, Jisung também já conseguia fazer o mesmo.
Haeyoung assentiu, e Jisung segurou em sua mão. Segundos depois, a ruiva abriu os olhos, e suas íris tinham tomado um tom arroxeado brilhante. – Oi, Boom.
– Lembra do combinado, a gente quer a Hae aqui na virada do ano. – Eunjae lembrou a ruiva, que revirou os olhos.
– Não que a gente não goste de você, mas... Você sabe. – Hyunjin tentou amenizar o clima.
– É, tá, tá. Eu sei. – Ela abanou com as mãos, como se varresse o assunto pra longe, e então se aproximou da pilha de fogos de artifício caseiros. – Em quanto tempo elas precisam explodir?
– É... – Seungmin olhou em seu relógio. – Exatamente 30 segundos.
– Trinta segundos? – Jisung exclamou, nervoso. Tinha trinta segundos pra reunir toda a coragem que não tinha, ou então seria motivo de piada por todo o próximo ano.
– Ai, eu não acredito que estamos todos aqui, vivos, juntos! – Eunjae exclamou, animada.
– Nem todos, né?
– Você não vai deixar essa passar tão cedo, né? – Boom implicou com Jackie, que apenas revirou os olhos.
– Vamos logo com isso ou o assado vai virar queimado. – Apressou Chan.
Hyunjin o encarou com os olhos brilhando. – Você fez assado?
– Onde conseguiu ingredientes pra isso? – Changbin perguntou, arqueando uma sobrancelha.
– Eu tenho meus meios, tá legal?
– Gente! Contagem regressiva! – Jeongin apontou o relógio nas mãos de Seungmin. – Cinco!
Quatro!
Três!
Dois!
Feliz ano novo!
Os nove gritaram ao mesmo tempo. Hyunjin agarrou Jeongin em um abraço e deu voltinhas com o mais novo em seus braços, Haeyoung e Eunjae davam pulinhos de mãos dadas, enquanto Chan, Changbin, Seungmin e Jackie observavam os fogos de artifício caseiros explodindo no céu e se misturando com os da grande Seul.
Jisung respirou fundo, se aproximou da Lee mais velha, e enquanto apreciava o sorriso que ela tinha no rosto, ele segurou em sua mão. Jackie, quando notou a presença do Han, apertou de leve a sua mão e o roubou um selinho rápido.
– Eita! Hyun, foi ela que beijou! – Jeongin sacudiu o braço do mais velho, apontando na direção dos dois.
– Eu... Vi isso num filme. Desculp—
Antes que Jackie pudesse continuar, Jisung a puxou para outro selinho, mais demorado dessa vez. Ouviram a risada animada de Eunjae, e uma porção de provocações vindo dos dois mais velhos, mas não ligavam. Jisung não ligava. Só ele sabia o que estava sentindo. Não era como o friozinho na barriga normal que se sente quando se beija alguém que você gosta, era duas vezes mais forte. E era assim que ele sabia que era correspondido, todo aquele sentimento não era só dele. E pelo menos naquela noite de ano novo isso era só o que importava.
Quando se separaram, Jisung tinha no rosto o maior sorriso que a Lee já viu. Ela corou e desviou o olhar. – Você tá corada?
– Cala a boca ou eu congelo tua língua. – Ela o empurrou pra longe, ainda sem o olhar, mas o Han não ligava.
Hyunjin deu risada. – Eu vou contar pro Felix.
– Não! Hyunjin, volta aqui agora! – Gritou o Han, saindo correndo atrás do mais velho em direção ao prédio principal.
– Ah, era só o que me faltava. – Jackie bateu com a mão na própria testa, ainda envergonhada por ter dado seu primeiro beijo na frente de tanta gente.
– Ai, que bonitinhos, vocês dois. – Eunjae sacudiu o braço da Lee, observando Jisung perseguindo Hyunjin por toda a extensão do Distrito. – Você gostou?
– Não me enche o saco não, Eunjae! – exclamou a Lee, rendendo risadas de todos os presentes.
Changbin foi o primeiro a cessar as risadas, sentindo um cheiro estranho. – Vocês também tão sentindo cheiro de queimado?
Chan arregalou os olhos e saiu correndo em direção a cozinha. – Meu assado!
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