O Diretos Makarov encaminhou-nos até à Enfermaria dos Cuidados Médicos Avançados, onde era habitual haver alunos com braços e nariz quebrados. O meu pescoço teria um tratamento doloroso para que tal ferimentos não infetasse. Natsu parecia um tanto incrédulo ao observar que eu tinha uma expressão completamente sóbria e controlada e controlada perante as queimaduras de terceiro grau que me provocara. Nunca pensou que pudesse ser tão forte ao ponto de conseguir aguentar firme e sem gemer um ferimento tão grave que faria qualquer pessoa gritar e uivar de dor.
Eu não estava preocupada com o meu estado desastroso e sanguinário. O uniforme machado de sangue já não me incomodava; a pele quente e crepitante já não me era importante; nem o próprio facto de o rosado estar perplexo com a minha seriedade e controle me afetava. O que me preocupava era somente o facto de eu ter de despender o mais três horas do meu dia com o rapaz que mais odiava e que mais me magoava na Academia. Inúmeras questões e dúvidas ecoaram na minha mente como pingos de chuva num dia cinzento de inverno. Como é que iria dar explicações ao garoto mais burro e arrogante que eu conhecia no mundo? Parecia uma missão impossível eu conseguir arranjar alguma estratégia para ser capaz de colocar alguma matéria dentro daquela cabeça atrapalhada. Ele era o pior aluno da turma, fora diversas vezes à Direção por mau comportamento, recebera inúmeros castigos para que tal mudasse, contudo o seu comportamento apenas se tornou ainda mais ríspido, arrogante e rebelde. E agora que o Diretor Makarov decidira fazê-lo estudar, ele parecia ainda mais revoltado com a ideia de somente ter de dirigir o olhar para algumas frases de um livro de História ou Matemática. E mais revoltado ficava ao saber que a decisão de estudar seria comigo.
Talvez o Diretor tivesse alguma esperança de que, com a ajuda dos estudos, a nossa relação pudesse ficar em melhor estado. No entanto, poder-se-ia dizer que o seu instinto estava deveras errado, porque, de que modo pudesse ser, nós não éramos compatíveis, e a única coisa que tínhamos em comum era sermos completa e totalmente diferentes um do outro. Se ele tinha o conhecimento de que o rosado adorava arranjar uma briga comigo, fosse em que circunstância fosse, e de que o próprio teve a inacreditável coragem de usar magia contra mim, era absurdo ter tido tal ideia de estudarmos juntos. No mínimo, ele era capaz de rasgar os livros e acabar na enfermaria de novo, após lhe dar uma surra por estragar o material académico. Não imaginava o que poderia acontecer hoje, durante três horas, após as aulas. Contudo, eu tinha a plena certeza de que se a Academia não estivesse destruída depois dessas horas, diria que fora pura sorte.
Eu e Natsu sentámo-nos nas cadeiras, esperando que a enfermeira regressasse da sua hora de almoço. Em breve teria aula de Ciência Naturais e não poderia faltar, pois a minha reputação desceria uns três por cento. Além disso, nós teríamos de elaborar um relatório sobre a constituição das células vegetais e era uma das minhas matérias favoritas. Olhei para o atrasado ao meu lado e ele estava com os cotovelos nos joelhos e com a cabeça descaída, deixando que o sangue, que escorria do nariz e da boca, escorregasse pelo seu rosto moreno e pingasse nas calças brancas do seu uniforme. Não parecia importar-se com o facto de ter de faltar a uma aula de Ciências, uma vez que, provavelmente iria fugir com o seu Grupinho de Merda.
- A culpa disto tudo é tua, loira... – Resmungou friamente, não desviando o olhar do chão branco daquele local.
- O meu nome é Lucy, para que conste. – Indaguei seca e rispidamente, ajeitando-me na cadeira aonde estava sentada há dez minutos.
- E eu importo-me se te chamas Lucy ou não? – Perguntou num tom forte, porém um pouco irónico, rodando a cabeça e olhando para mim com o seu olhar sombrio.
- Devias, ameba rosa. – Suspirei pesadamente sem lhe devolver o olhar medonho que me lançara.
- E quem és tu para que te de te obedecer, nerd? - Soltou uma pequena risada sangrenta e sarcástica, arqueando uma sobrancelha rosa.
- Sou a pessoa que terá de te aturar por mais três horas do dia. – Dirigi-lhe o olhar ameaçador e secante, ao qual ele retaliou com um suspiro forte e revirou os olhos negros.
- Tsc… Eu não vou estudar contigo. – Respondeu decidido do que afirmava, deixando, novamente, a cabeça descair entre os ombros fortes.
- Então diz isso ao Diretor, Senhor Inteligência Inexistente. – Encolhi os ombros e soltei um pesado suspiro.
Ele riu-se da minha alcunha e abandonou negativamente a cabeça, murmurando algo que não me passou despercebido, embora não conseguisse entender o que havia dito.
- Não preciso de dizer nada. Eu próprio decido o que faço da minha vida… - Respondeu secamente e, em seguida levantou-se sem me dirigir o olhar.
- Onde vais? – Levantei a cabeça ao vê-lo indo em direção à porta e colocando a mão na mesma, um leve riso irónico.
- Mete-te na tua vida, loirinha. – Afirmou num tom frio e arrogante, exibindo um “tsc” de ignorância perante a minha pergunta.
Agarrei-lhe o braço com força e ele arregalou os olhos, contudo logo a perplexidade se dissipou como o vento. Levantei-me e fuzilei-o, ficando firme diante dele. O rosado parecia quase adivinhar o que eu lhe queria dizer, exibindo um sorriso malicioso e sarcástico. Agarrei-lhe nos ombros com força e empurrei-o contra a parede, aproximando o meu rosto do seu e observando aquele seus lábios sangrentos, enquanto dirigia as minhas mãos contra o seu cachecol aos quadrados e o segurando firmemente.
- Tu ficas aqui, tal como o Diretor ordenou – Rosnei entre dentes, quase não mexendo os lábios. – e nem penses em inventar alguma desculpa, Princesa do Reino Cor de Rosa.
- Estás preocupada comigo é, loirinha? – Arqueou uma sobrancelha no alto da sua testa morena e um sorriso bobo e debochado surgiu desenhado nos seus lábios.
- O q-uê?! – Arregalei os olhos e quase estive para me esmurrar por ter gaguejado na frente dele.
- Deves ser surda… - Rodopiou os olhos e aproximou ainda mais o seu rosto do meu, ficando a centímetros da minha boca e sorrindo num tom de gozo.
- Tu és muito esperto, Salamander... – Devolvi-lhe o sorriso ao perceber a razão pelo qual ele pronunciou a minha preocupação para com ele.
- Não me vais responder, nerd? – Rodou o rosto para que os nossos olhares se encontrassem por alguns momentos.
Engoli em seco disfarçadamente ao perceber que ele não iria deixar despercebido o facto de eu ter ameaçado para se manter na enfermaria. Os nossos narizes estavam colados e os nossos lábios a centímetros de um beijo. Eu sentia a sua respiração inimaginavelmente controlada e os seus olhos não se desconcentravam dos meus, como se estivesse a acorrentados. Sorri em protesto e baixei os olhos para os seus lábios vermelhos de sangue e logo subi os mesmos numa expressão feroz e selvagem.
- Vai para o Inferno, seu filho de uma puta. – Tirei as mãos o seu cachecol com violência e afastei-me alguns passos para trás, porém ele agarrou-me os braços, de modo a manter quase a mesma distância dantes.
- Olha o respeito… - Indagou com firmeza e olhou-me com aquele seu olhar atrevido e malicioso.
- Ah… - Suspirei levemente e acariciei serenamente o seu rosto moreno, fazendo-o recuar um pouco com tal toque inesperado. – Peço imensa desculpa… - Fiz uma pequena vénia com uma expressão de ironia e ele manteve-se a apertar-me os braços. Tossi algumas veze e tentei recompor-me teatralmente. – Por favor, dirigia-se aos aposentos de Satanás, seu filho de uma senhora que presta serviços sexuais em troca de dinheiro. – Esbocei um sorriso tremido para tentar controlar a dor que sentia por ele estar a friccionar os dedos nos meus pulsos queimados.
O rosado encostou os seus lábios ao meu ouvido esquerdo, enquanto se divertia a magoar-me cruelmente, ao cravar as unhas no meu pulso. Rangi entre dentes um gemido surdo e parecia o meu corpo se ia desconcertar todo a dor que eu sentia.
- Eu já avisei, loira, para teres cuidado comigo. Tu não me conheces… - Soltou mais uma risada abafada e sarcástica.
Sorri num tom de deboche, demonstrando que tal não me afetava como ele o julgava. Respirei profundamente e sussurrei no seu ouvido:
- E eu já te disse, pompom, que não tenho medo de ti. Nenhum…! – Murmurei com esforço, mas notou-se que o rosado recebera a mensagem.
Ele largou-me de repente sentindo o meu sangue a escorrer-lhe pelos dedos morenos e fortes. Esboçou um sorriso debochado ao entender que eu era realmente muito forte.
Finalmente a enfermeira havia chegado, ainda mordiscando uma maçã. Os seus olhos azuis rapidamente se tornaram pálidos e secos ao observar os ferimentos que ambos tínhamos. Natsu afastou-se de mim e colocou-se ao meu lado, cruzando os braços e dando-se por vencido, uma vez que não conseguiu fugir à enfermeira. A mulher caminhou vagarosamente, totalmente incrédula e perplexa por nenhum de nós estar a queixar-se de dor. Vestiu a sua bata branca e arregaçou as mangas até aos cotovelos nus. Deixou que o seu cabelo negro e ondulado descaísse em cascatas pelas suas costas e colocou os seus óculos azuis no rosto. Fez um sinal com o braço para que nos sentássemos nas cadeiras e dirigiu-se a uma enorme prateleira com desinfetantes e ligaduras. A enfermeira recusou-se a pronunciar palavra que fosse, porque a incredibilidade havia-lhe roubado as palavras e a própria voz.
Do nada, ouviu-se uma voz ofegante atravessar o corredor em direção ao local aonde estávamos. A figura cambaleava ainda não muito sóbria e encostou-se à ombreira da porta, agarrando-se ao nariz que sangrava sem dar tréguas.
- Olha, a Bela Adormecida acordou. – Natsu afirmou num tom de deboche, cruzando os braços de novo.
- Calado, Cabeça de Fósforo! – Retaliou pausadamente e num timbre surdo por estar a cobrir a boca e o nariz com as mãos. – Enfermeira, o Diretor mandou-me vir aqui. – Dirigiu-se à enfermeira que se apressou a anotar algo num papel e gesticulou para que se sentasse.
- Estás contente, ó nerd? Quebraste-me o nariz. – Protestou rudemente com o olhar frio e eu revirei os olhos.
. - Ninguém te mandou desrespeitar a minha mãe, Gelinho… - Murmurei em resposta e o moreno reteve-se sem proferir mais nada.
------------------------------------- Hoje ainda não vi a Lucy… - Indagou Levy num tom tristonho, agarrada a alguns livros que conseguira na Biblioteca.
Os seus cabelos compridos e azulados presos por uma fita davam-lhe aquele ar infantil, mas dócil. Vinha com um livro aberto sobre Ciências Naturais, o qual servia de consulta para ajudar na elaboração do relatório. Os seus olhos negros percorriam as frases que serviriam para completar o que faltava no dito cujo, que tinha de ser entregue dali a uma semana.
Erza seguia ao seu lado, mirando as suas botas negras dando passos largos, pisando o chão de um jeito aterrador e inquisidor. Hoje o seu cabelo vinha preso dos dois lados da cabeça, criando o mesmo penteado que a pequena Wendy portava todos os dias.
Wendy Marvell era aquela garotinha de somente treze anos. Um pouco mais baixa do que Levy, tinha uma expressão de criança abandonada e um corpo pequeno e esguio. Os seus cabelos azuis-escuros apanhados por dois elásticos nos dois lados da sua cabeça, caíam como cascatas pelas suas costas. Tinha os olhos grandes e escuros, em contraste com o seu tom de pele pálido e doce. Pertencia à turma do 8º ano daquela Academia e apenas, às vezes, tinha a sorte de encontrar a Erza, a Levy ou até mesmo eu em intervalos ou na cantina.
- É verdade… - A ruiva concordou com o seu tom frio, enquanto escrevia no caderno de Ciências e dava uma pequena olhada no livro de Levy.
- Achas que se meteu noutra encrenca? – Olhou para Erza com aquele seu olhar tímido e dissipado, do qual a ruiva já estava acostumada.
Ambas passaram por um corredor extenso, onde, de um lado, as paredes eram cobertas por cacifos, tendo apenas um pequeno intervalo para uma porta de uma sala, respetiva à que elas iriam ter seguidamente ao intervalo. Do outro lado eram distribuídas mesas com cadeiras, onde, frequentemente, alguns alunos preenchiam o tempo a jogar xadrez ou a estudar. Levy foi a primeira a sentar-se, e logo depois Erza, que se sentou diante a azulada.
Ouviam-se os alunos a gritar euforicamente, interrompidos por gargalhadas surdas e abafadas e também algumas correrias intencionais. A bola de futebol embatia contra cada parede do estabelecimento, provocando enorme estrondo e, por vezes um grito de dor quando embatia nalgum aluno. Estavam todos a aproveitar o intervalo de quinze minutos para desanuviarem dos relatórios, testes e trabalhos de grupo exigentes. Somente Levy e Erza estavam a dedicar o seu tempo à resolução daquele relatório onde a maioria dos alunos teria, provavelmente, um ZERO bem redondo.
Fazia-se um silêncio irritante contudo relaxante silêncio dentro daquele corredor, oferecendo um sossego aliciante às duas garotas estudiosas. Não havia sinal do Grupo do Natsu, nem a Lisanna dava sinais de vida. Talvez, pela primeira vez na vida, a ruiva e a azulada tivesse um dia sem terem os Populares a atazaná-las. Uma felicidade não resistiu em manifestar-se no rosto de cada uma. Até mesmo um sorriso discreto surgiu por entre os lábios da ruiva sisuda.
- É bem possível… - Murmurou a ruiva ao encolher os ombros, não achando novidade uma possível briga em que eu estivesse envolvida.
- Achas?! – Os enormes olhos negros de Levy arregalaram-se tristemente, parecendo até cansada de estar constantemente a observar cenas de discussão e luta naquela Academia.
- Nós não estávamos com ela antes de almoço, lembras-te?- A ruiva indagou tentando explicar o seu raciocínio, pelo que a azulada acenou afirmativamente com a cabeça.
Levy estava entediada de observar que eu tinha sempre o destino de ir para a enfermaria quase todos os dias, especialmente quando havia uma discussão entre mim e o Natsu, em que Erza não era capaz de interromper. Gostava de, pelo menos, o Grupo do Natsu nos parasse de provocar. Não tínhamos culpa alguma de ele terem tal comportamento. Não lhes fizemos mal nenhum, nem tencionávamos fazer. O problema era simplesmente e somente o orgulho. Os Populares pensavam que eram superiores a qualquer um que se atravessasse no caminho. Por essa razão despendiam o seu tempo a provoca-las com todas as suas ironias e malícias.
- Possivelmente, o Grupinho do Atrasado deve tê-la avistado e aproveitou a oportunidade para a provocar. – Continuou Erza no mesmo tom de voz que anteriormente, portando uma expressão séria e calculista ao mesmo tempo que se concentrava para apontar alguns elementos relevantes do livro de Levy no seu caderno. – Por consequência, devem ter discutido outra vez… - Concluiu num tom de voz baixo, terminando de escrever.
- O Natsu também adora provocá-la… - Pensou alto timidamente, apoiando o queixo fino e pálido sobre a sua mão esquerda. – Achas que ele gosta dela? – Olhou para a ruiva com ar pensativo e os seus lábios esboçaram um sorriso introvertido, porém perverso.
- O quê?! – A ruiva rodopiou a cabeça num instante, comprimindo os olhos com a acusação que a azulada fizera em questão. Levy encolheu-se no exato momento em que a ruiva quase se saltou em cima. – Levy, o que é que foi o teu pequeno-almoço? – Erza ergueu uma sobrancelha ruiva no alto da sua testa pálida.
- Co-omi cereia-ais… - Balbuciou timidamente, colocando as mãos à frente da cara e não conseguindo controlar os gaguejos que insistiam em querer enganá-la.
- Esses cereais deviam estar drogados… - Murmurou num suspiro profundo e colocou a mão na testa, abanando a cabeça negativamente. – Onde é que tu foste buscar a absurda ideia do Natsu gostar da Lucy?! – Olhou mais uma vez para a azulada que se tentava recompor do susto que tomou momentos antes.
- Não sei, Erza… - Manteve-se ainda um pouco encolhida e tentava controlar a respiração, como medo do que a ruiva pudesse tentar fazer quanto à sua insinuação. – O Natsu só discute com ela. – Concluiu com ar sério sem dirigir o olhar a Erza que a fitava com uma expressão um tanto curiosa.
- Ah… - A ruiva encolheu os ombros e demonstrou-se indiferente. – O Natsu só discute com a Lucy porque sabe que ela está à sua altura. – Apoiou o queixo na sua mão direito e ficou a folhear, pensativamente, o seu caderno rabiscado.
- Como assim? – A azulada arregalou os olhos e em seguida arqueou uma sobrancelha, aproximando-se da colega que se mostrava mais inofensiva e calma.
- Tu sabes que eu sou a mais temida desta Academia. – Respondeu prontamente não deixando de exibir um pouco a sua força e valentia perante Levy, que a olhou um pouco assustada. – E tu… - Coçou a bochecha com um dedo, tentando encontrar as palavras certas para lhe dizer o seu feitio. – Bom… tu só te exaltas quando é o Gajeel a provocar-te quando à tua estatura baixa… - Soltou uma pequena risadinha maliciosa, fazendo com que a azulada corasse um pouco com a descrição da ruiva. – Além disso, o Natsu também discute com o Gray. E isso não faz dele gay. – Concluiu num tom forte, puxando pela última palavra como se ela fosse a chave para a insinuação de Levy.
- Não. – Concordou a azulada e colocou um dedo na bochecha, olhando pensativa para a imagem ilustrativa da capa do livro. – Faz dele bissexual. – Esta última fala não passou despercebida pelo sentido de humor escondido da ruiva, que rapidamente não hesitou em soltar uma pequena gargalhada maliciosa ao ouvir a explicação da azulada. – O que foi? Qual é o motivo do riso? – A azulada não percebia qual era a razão pelo qual Erza havia desatado aos risos com a sua última afirmação, que, para ela, até era muito lógica. – Eu sempre ouvi dizer que “quanto mais se odeia, mais se ama”. – Empinou o nariz tentando não ceder a acompanhar as gargalhadas da amiga, que por sinal, até eram bastante assombradoras.
- O teu raciocínio tem alguma lógica, Levy. – Concordou a ruiva, passando a mãos pelo rosto e respirando fundo, dando uma última gargalhada sombria que fez com que a azulada não resistisse a saltar da cadeira. – Contudo, o Natsu e o Gray sempre discutiram… Muito antes de tu e da Lucy entrarem nesta Academia, eu sempre estive na turma deles e ouvia-os discutir por tudo e por nada. Confesso que cheguei a desistir de interromper aquelas brigas – Suspirou pesadamente e logo um sorriso sínico fez-se desenhar por entre os lábios vermelhos da ruiva. – Porém, embora eles ainda discutam, parece que o Natsu arranjou outro adversário. Neste caso, a Lucy. Entendes? – Erza fitou friamente a azulada que se apressou a assentar com a cabeça em concordância. – Portanto, isto não é uma questão de amor.
- Mas podia ser… - A azulada pensou alto mais uma vez, deixando a ruiva um pouco perplexa com o olhar sonhador que ela estava a começar a ter.
- Tu estás doente… - Olhou-a de lado tentando avaliar o seu rosto tímido mas sonhador, que estava apoiado numa das suas mãos brancas como a neve.
- Doente? – Os olhos negros de Levy rapidamente se arregalaram com a acusação da ruiva. – Porquê?
- Estás a insinuar de que era possível haver qualquer relação entre aqueles dois que agem como Cão e Gato. Achas que estás no teu temperamento normal? – Erza arqueou uma sobrancelha ruiva e cruzou os braços num modo ameaçador que não deixou Levy despercebida.
- Ah… - Balbuciou meio constrangida, deixando bem nítido o rubor que se instalara nas suas maçãs do rosto pálidas. – Eu até concordo que eles ficavam bem juntos. Fariam um excelente casal. – Olhou para a ruiva com os olhos a brilhar e um sorriso branco no rosto. Erza assustou-se com tal expressão e agarrou-se á cadeira com força, que estava a adquirir algumas amolgadelas com a força que ela exercia.
- Vai vacinar-te, mulher… - Abanou a cabeça negativamente e apoiou a mesma sobre as suas mãos, olhando para a mesa e ignorando a careta que a azulada fizera. – O Natsu e a Lucy quase se matam somente com o olhar e pensas que há a possibilidade de andarem aos… - Fez uma pausa e deitou a língua de fora, como modo de demonstrar que achava tal coisa nojenta. – beijos?! – Rodou um pouco a cabeça e olhou para a azulada, que contraía um sorriso sincero e notável no seu pequeno e esguio rosto.
- Tu achas que era possível? – O seu sorriso desvaneceu-se e o seu olhar parecia interessado em conhecer a resposta e o pensamento que a ruiva detinha sobre aquele assunto.
- Não. Eles são completa e totalmente diferentes um do outro. Não há nada que os ligue, nem o simples facto de se odiarem. – Abanou a cabeça negativamente, dando por terminado e decidido o que pensava acerca daquele assunto.
Antes que a azulada pudesse argumentar algo para que a opinião de Erza mudasse, os seus grandes olhos escuros alcançaram uma figura ridiculamente bem vestida, portando uma minissaia rodada e bem curta, quase mostrando a calcinha vermelha que tinha. Os seus olhos azuis rapidamente se tornaram convencidos, exibindo a sua grandiosidade ao observar maliciosamente as duas garotas sentadas naquela mesa. Erza, ao estranhar o silêncio redondo de Levy, levantou a cabeça e rosnou de raiva ao ver quem é que se deparava na frente delas as duas. Agarrou a mesa e levantou-se, mas foi segurada por Levy, que abraçou a sua cintura e não a deixou prosseguir com o seu planeado.
- Vejam só se não são as nerdzinhas de merda…! – Soltou uma risada alta e irónica, colocando as mãos na cintura e arqueando a anca.
- Tinha que vir a Baleia Branca expor o seu território… - A ruiva sorriu num tom de deboche e prendeu melhor um dos seus elásticos roxos. – Não devias estar no teu habitat natural? – Piscou os olhos freneticamente e ergueu uma sobrancelha, deixando a albina um pouco desconfortável com a insinuação dela.
- É uma pena eu não usar magia dentro da Academia… - Fingiu estar dececionada e baixou a cabeça por alguns momentos, sem deixar de olhar para Erza.
- Realmente é uma pena eu não puder reequipar para a minha Armadura Sagrada de Nakagami… Seria mais prazeroso acabar com a tua raça. Não concordas comigo, Lisanna? – Provocou a ruiva entre dentes, enquanto sentia os braços da azulada apertarem ainda mais a sua cintura, enquanto contraía os olhos e se escondia daquele ambiente pesado.
- Concordar com nerds não é a minha missão. – Ergueu a cabeça e balançou a mesma negativamente, ajeitando a alça do seu sutian vermelho que fazia conjunto com a sua calcinha bem nítida por debaixo daquela saia quase transparente.
- O que é que tu queres, vadia? – A ruiva exigiu ferozmente, fazendo com que a albina se retivesse com o olhar ameaçador e inquisidor que ela lhe lançara.
- Onde está a mimada da Lucy? – Perguntou num tom irónico, fazendo com que Erza se exaltasse e Levy não conseguir segurá-la por muito mais tempo.
- Estou aqui. – Respondi num tom de deboche, aparecendo por detrás dela e fazendo com que a azulada e a ruiva se detivessem nos seus lugares com os olhos arregalados ao observarem o meu estado.
Tinha seguido Lisanna até ali, porque sabia que ela iria estar á minha procura para mais um dia de tormento, em que me ameaçaria para me afastar do seu Precioso Natsu ou então eu iria arrepender-me com todas as palavras.
Tinha recebido os tratamentos médicos adequados e confesso que quase estive para soltar um grito de dor dentro daquela Enfermaria, assim que a Enfermeira teve de injetar um analgésico no meu pescoço. Natsu fora o último a ser tratado, sendo obrigado a assistir aos meus tratamentos em que arregalou os olhos quando aquele momento se destacou. Após o analgésico acabei por não sentir a mínima dor quando tive de ligar o pescoço, o ombro esquerdo e os pulsos. A minha roupa continuava manchada de sangue porque eu não detinha qualquer outra para que pudesse mudar. Teria de passar o resto do meu dia a sentir aquele frio, vindo do sangue, embater contra a minha pele seca.
A albina rodou o rosto na minha direção e quase tomou um susto ao ver que o meu estado não estava muito adequado para a sua resistência frente a ferimentos. Arregalou os olhos por momentos, contudo uma certa raiva se apoderou deles, tornando-os frios e repreensivos. Cruzei os braços e arqueei a anca, esperando que ela explicasse de que é que precisaria de mim tão urgentemente.
- O que é que tu queres? – Exigi saber num tom frio e seco, mantendo uma certa distância da albina, que me fuzilava com ardor.
- O que é que tu fizeste ao meu Natsu?! – Rangeu as palavras entre dentes e quase cuspiu a palavra “meu”, fazendo explícito de que o garoto lhe pertencia.
- Ah! – Soltei um suspiro e coloquei a mão na cabeça. Fingindo estar completamente dececionada com aquilo que eu fizera. – O Pompom Cor de Rosa está em bom estado… Só lhe quebrei o nariz e rebentei-lhe os lábios… - Indaguei satisfeita, esboçando um sorriso maldoso e sarcástico no meu rosto pálido.
- Sua… puta! – Começou por andar na minha direção em passos largos e preparava-se para me atacar, contudo parou e reteve-se no lugar, tomando um certo medo do meu ar sombrio e autoritário.
- Querida, as cobras mudam de pele… mas a que eu conheço muda de roupa. – Soltei outra risada abafada e debochada, fazendo-a espumar de raiva com tal acusação. Olhei para trás da albina e as duas garotas não conseguiram controlar alguns risos de ironia com as minhas provocações.
- Não te dirijas com esse tom a mim, sua nerd cabra! – Apontou o se dedo pequeno a pálido contra mim e franziu o sobrolho, acusando-me de tudo o que lhe estava acontecer.
- Porquê? Na casa de putas onde andas os teus clientes falam-te com toques e carícias, não é? – Levei a minha mão á minha cabeça e olhei para o teto sujo daquele corredor, fingindo que estava completamente esquecida. – Sabes, Recalque de Puta, Deus não escuta. – Soltei uma pequena gargalhada sínica e maliciosa.
- Estás a falar com a CheerLeader desta Academia! – Cruzou os braços com indignação e olhou-me com arrogância. – Resumindo, estás a falar com a garota por quem mais rapazes suspiram… - Um sorriso irónico e debochado surgiu nos seus lábios vermelhos e eu preferi ignorar a sua expressão irritante.
- Infelizmente, não tenho dedos do meio suficientes para expressar o que sinto… - Suspirei num tom de deceção fingida, inclinando a cabeça para o meu lado direito e olhando-a com uma expressão de exibicionista.
- Nunca pensei! – Soltou uma pequena risada debochada e olhou para os lados, colocando uma das mãos por entre os peitos e abriu a boca, como se estivesse deveras espantada. – Acho que não é digno de uma menininha mimada e rica como tu, ter esse tipo de palavreado… - Abanou a cabeça negativamente, fazendo-me ficar enraivecida com tal comentário.
Tentei controlar toda a minha fúria e raiva, cerrando os punhos com força e rangendo os dentes, observando-a sorrir num tom de deboche, exibindo aquele seu olhar sínico e egocêntrico, ao ver que eu não estava em mim após ter comentado a minha vida. A minha vida. O que sabia era sobre a minha vida para argumentar que eu era uma menina mimada e rica? Escolhi não seguir a riqueza e decidi alcançar os meus objetivos com trabalho e dedicação. E isso ela jamais tencionaria fazer. Bastava a sua boa imagem para demonstrar que era a melhor de todos, porque todos suspiravam ao ver aquele corpo definido e exibicionista, usando todos aqueles decotes em V e aquelas saias transparentes e deveras curtas. Ela nunca fez pela vida como eu fazia, devia olhar-se primeiro antes de julgar os outros pela feição.
- Por acaso, tens espelho em casa? – Perguntei entre dentes, respirando o mais profundo e compassado que podia.
- Tenho, claro. A minha excelente e perfeita imagem tem de ter um espelho todos os dias de manhã… - Respondeu num suspiro meio atrevido e deu uma pequena volta, exibindo as suas belas curvas definidas com aquelas suas roupas decotadas. – Agora a tua… - Fez uma cara de nojo como se eu me fosse importar com a sua opinião em relação ao meu uniforme largo.
- Então deverias verificar se o espelho não se partiu… - Soltei uma pequena risadinha, olhando-a com desdém e cinismo. – Porque tu és linda como o sol… - Comecei por desenvolver mais uma frase, da qual ela não resistiu em agradecer com um sorriso amarelo e convencido. – que até custa olhar de frente. – Terminei de falar e o seu regozijo pareceu desvanecer-se com o vento e uma cólera demonstrou interesse em participar no seu rosto como um protesto.
- O mesmo já não posso dizer de ti, cabra… - Olhou-me de cima a baixo e abanou a cabeça negativamente, como se estivesse bastante tristonha. – Teres vergonha de não teres curvas nenhumas e teres de usar esse uniforme que é o dobro de ti… - Colocou o dedo indicador na bochecha e com um sorriso malicioso estampado no rosto, prosseguiu: - Tomara tu ser como eu… Ah… - Suspirou de prazer e elevou os braços no alto, mostrando todas as suas (im)perfeições.
- Ainda bem que não sou como tu. – Demonstrei que não levaria a sério o seu comentário ríspido e egocêntrico. – Não desejaria portar roupas decotadas e transparentes que nem puta. – Suspirei fortemente de alívio, fazendo com que ela também o fizesse, contudo somente para controlar a sua ira.
- As putas estão no patamar de baixo, minha querida. Eu estou no pedestal… Nos Populares! – Exclamou com orgulho de ser quase uma representante da Academia e puxou ainda mais a saia para cima, de modo a que a calcinha se visualizasse por completo.
- Eu nem sei porque é que tu levas essa saia… - Indaguei pensativa, ignorando completamente a sua afirmação anterior. – Teres essa saia ou não teres, é praticamente indiferente. Só por dizer que usas algo por cima da calcinha. – Fiz um gesto de quem está a dar uma aula a um burro de primeira, que seria coisa que eu teria de fazer após as aulas.
- Ah… - Balbuciou tentando parecer que não estava incomodada com o que lhe dissera, pena que ela não é inteligente o suficiente para entender que nós as três percebemos que tal a tinha afetado. – E é com essa roupa que tu tens, que fará com que eu seja desprezada? – Soltou uma risada forte e irónica, fazendo-me cerrar os punhos de indignação. – Não me faças rir. Os teus pais são até bem ricos para te comprarem um uniforme de jeito. Tenho pena deles… - Fez uma pausa, tentando analisar a minha expressão em relação ao que ela estava afirmar. – Não devem ter orgulho nenhum em ter a filha que têm. Nove meses esteve a tua mãe contigo dentro do ventre para depois sair uma besta arrogante. Haha! – Soltou mais uma risada eufórica e eu estive para lhe esmurrar a cara, porém já tinha problemas suficientes com que me preocupar.
- E a tua mãe deve ter orgulho em ti. Em lhe seguires as pisadas como uma puta e andares metida com todos os rapazes desta Academia. – Indaguei ferozmente, demonstrando-me forte e controlada. – Deve ter sido uma comoção ao saber que foi o Atrasado, o primeiro cliente teu. – Declarei num timbre sarcástico, forçando a voz na palavra a que eu me referia a Natsu, fazendo-a entender de que eu estava a falar.
- Tu não tens o direito de falar assim comigo! – Ela começava a estar descontrolada e indignada, fazendo com que eu sorriso de vitória por vê-la assegurar-se como vencida pelas minhas provocações, umas vez que ela não possuía a coragem de me encostar um dedo que fosse. - Estou-te a avisar, vaca nerd, se te aproximas ou voltas a falar do MEU Natsu, eu juro que não me responsabilizo pelos meus atos! – Ameaçou-me mais uma vez, fuzilando-me firme e selvaticamente.
Erza não conseguia de demonstrar o seu sorriso maníaco que lhe invadia o rosto como uma sombra. Estava de pé, com os punhos pregados à mesa e a sua cintura não deixava de ser agarrada pelos braços esguios, porém fortes de uma certa azulada, que se recusava em abrir os olhos e verificar o que estava realmente a decorrer. A ruiva por um lado estava contente por observar a expressão raivosa com que a albina possivelmente estaria, uma vez que ela estava de costas para Erza. Por outro lado, estava um pouco preocupada comigo depois de todas as acusações e insinuações que a albina me fizera quanto á minha família e, principalmente contra a minha mãe, porque era ela, e somente a Erza, que tinha o conhecimento do meu passado. Contudo, muitos pormenores ainda não lhe foram relatados por ter ser eu própria a resolvê-los.
- Mete-te na tua vida, Lisputa. Reserva-te à tua insignificância que é menor do que um grão de areia. – Andei na sua direção e embati despropositadamente com o meu ombro no seu, fazendo-a gemer de dor com o meu ataque.
Dirigi-me à mesa da azulada e da ruiva que me sorriram timidamente embora com o seu tom frio de sempre ao qual que já estava acostumada. Ouvimos a albina afastar-se, rosnando palavras impercetíveis e dando passos lentos e espaçados, fazendo ressoar alto no chão os seus saltos das suas botas brancas.
- Meu Deus, Lucy! – Levy finalmente conseguiu abrir os olhos e olhou para o meu estado com maior pormenor. – Como é que tu foste parar a esse estado?!
- Natsu. Diz-te alguma coisa? – Arqueei uma sobrancelha loira no alto da minha testa e respondi com a maior frieza que tinha dentro de mim.
- Ele… ele… - Erza não parava de gaguejar ao pensar na razão pelo qual eu tinha ligaduras no pescoço, ombro e braços. Os seus pequenos olhos negros arregalaram-se com tamanha brutalidade que até vacilei com aquele seu olhar ameaçador e sombrio.
Mesmo sem eu argumentar alguma explicação para a razão de como eu me apresentava perante as minhas colegas, elas conseguiram alcançar a verdadeira explicação para o sucedido. A ruiva levou uma das mãos à sua boca e os seus lábios tremiam como um sismo. Levy levou as lágrimas aos olhos, como se eu tivesse morrido após um ataque brutal e depois tivesse regressado como num milagre.
O meu dia não poderia realmente piorar. Tinha vindo a Lisanna para me provocar como se eu tivesse todo o meu tempo para aturar as suas beldades imperfeitas. Suspirei algumas vezes, enquanto a azulada comentava algo com a ruiva em sussurros em relação aos meus ferimentos, contudo eu não estava nem interessada no que elas estavam a dizer. Estava interessada em como correria as últimas três horas do meu dia.
“Como é que irão ser as últimas horas de hoje, aqui na Academia?” – pensei para os meus botões, enquanto me sentava na mesa aonde elas estava com os livros abertos, e rapidamente pousei a cabeça na minha mão e fiquei pensativa, enquanto atraía a atenção da ruiva e da azulada. – “Quem me dera não ter de aturar aquele atrasado…”
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.