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História Do Outro Lado - (Catradora e Lumity) - Praga


Escrita por: BriasRibeiro e naluoliveira

Notas do Autor


Alerta de conteúdo: A Nalu tbm é gostosa

Capítulo 4 - Praga


12 de fevereiro de 2021

Adora acorda, sonolenta como sempre e vai se preparar para levar os irmãos até a escola. Enquanto troca de roupas, ela se lembra de sua imprudência ao aceitar o convite de Catra no outro dia: “vamos procurar uma sala vazia”. Na hora ela não pensou em nada que poderia dar errado, apenas que precisava do corpo da morena junto ao seu. O pensamento de que alguém poderia abrir a porta a qualquer segundo e estragar seu currículo perfeito a fez estremecer.

Mas, por deus, aquilo tinha sido tão bom! Ela já sente saudades, se lembrando das unhas de Catra a arranhando, e daqueles olhos diferentes, que expressavam apenas malícia quando se encontravam com os seus, dos sussurros dela debaixo de si…

Quando percebe, Adora está com os olhos fechados, apertando sua própria coxa com força. Ela precisa sentir aquilo de novo. Nunca uma mulher tinha mexido tanto com a loira desse jeito. Isso a surpreende. Geralmente era só “oi, vamo fechá”, seguido de mãos bobas e logo nem ela nem a pessoa estavam mais vestidas, e nada de tão especial acontecia. Não era assim com Catra.

Acordando de seus devaneios, Adora volta com sua rotina matinal, pois tem que assumir seu posto de irmã mais velha-barra-motorista. Um short jeans e regata preta são suficientes. Com o calor que faz, ela se sentiria bem mais à vontade usando chinelo, mas precisa dirigir.

Descendo as escadas, ela escuta conversas, o que indica que seus irmãos já estão acordados. Parece que tem uma discussão acontecendo.

Já se aproximando da cozinha, a irmã mais velha percebe que seus pais já não estão em casa. Os gêmeos tentam convencer Amity de algo. Ambos estão em pé ao lado da cadeira da caçula.

– Amity, você precisa parar em pé! – Emira diz.

– Eu não tô com fome!

– Mas café da manhã é muito importante! – Edric adiciona. Adora para na porta da cozinha, com os braços cruzados.

– O que foi? – pergunta.

– A Amity não quer comer – o irmão responde – diz que tá enjoada porque tá ansiosa.

A loira puxa uma cadeira ao lado da caçula e senta.

– O que foi, Mittens? – Amity suspira e olha pra baixo.

– Hoje eu vou saber se fui selecionada pro time, e na seleção, o time que eu tava perdeu.

Adora acha incrivelmente fofo o biquinho que a caçula faz enquanto fala. Então, ela ergue o rosto da irmã, colocando a mão em seu queixo.

– Mittens, você joga bem pra caralho! Não importa se o time não venceu, importa o seu desempenho!

Os gêmeos concordam em uníssono. Amity ameaça um sorriso.

– Vocês são suspeitos pra falar! Mas obrigada, amo vocês – logo em seguida, pega um pãozinho e uma faca.

Os outros três fazem festa, se abraçam exageradamente, quase gritando “A Amity vai comer! É um milagre!” e coisas assim. A mais nova quase engasga ao ver a confusão que seus irmãos fazem. É um exagero, mas ela agradece mentalmente por ter irmãos tão compreensivos e fofos.

Adora leva seus irmãos para a escola, como sempre. No caminho, os mais velhos encorajam ainda mais Amity, dizendo que ela é muito talentosa e com certeza conseguiu o título. A garota, no entanto, está tão ansiosa que nem consegue responder. Ela apenas sorri de lado e continua olhando pela janela do carro. Os estudantes descem do carro, e o movimento da escola é o mesmo de sempre. Vários alunos entrando, as inspetoras cumprimentando a todos.

Os gêmeos vão encontrar com uns amigos na escadaria que leva até a quadra e Amity vai direto para a sala de aula. Andando pelo corredor, ela vê Luz saindo de sua sala e indo até o bebedouro. Enquanto a colega toma água, Amity chega atrás dela e fica esperando, querendo assustá-la.

O plano dá certo. Logo que Luz termina e se vira, ela dá de cara com Amity. A paraguaia assusta e começa a repetir “excusa” desesperadamente, até ver quem foi que a assustou.

Amity! – Luz exclama – já tava achando que tinha matado alguém! E o seu cabelo? O que aconteceu?!
A brasileira estava tão ansiosa, que esqueceu completamente do seu cabelo, agora completamente natural de novo. A tinta havia saído toda, finalmente.

Ah, não está mais verde, só isso.

Mas era tão bonito! – Luz faz uma carinha triste. Amity sorri, um pouco sem graça. As duas conversam enquanto andam em direção à sala de aula.

Não sabia que você gostava tanto assim.

Eu te disse que seu cabelo era demais! N-não que esteja feio agora, não é isso

Amity dá risada e joga seu corpo em direção ao de Luz, trombando de brincadeira.

Relaxa, Luz.

As meninas entram na sala de aula. Gus, Frosta e Willow conversam sobre algo que as duas não ouvem a princípio. Ao perceberem as amigas, os três vêm em direção à porta. Depois dos jogos da seleção, Luz passara a andar com Amity e os outros três.

– É HOOOOOOOOOOJE – Frosta grita, quase deixando o resto dos alunos surdos – DUAS TITULARES DO TIME NESSA SALA, QUE HONRA!

– Hã, Frosta – Amity começa – um, não grita! Dois, a gente não sabe se foi selecionada!

– Do jeito que a treinadora Huntara elogiou vocês pela seleção, certeza que tão no time!

Willow suspira, um pouco triste.

– Queria ter visto o jogo de vocês.

– Não tem problema, Wil! – diz Amity, colocando a mão no ombro da amiga.

– Elas foram demais! – Gus diz, animadamente – essas duas pareciam numa guerra uma contra a outra, teve uma hora que a Luz foi tão rápida que ninguém viu como ela roubou a bola e…

Os quatro percebem que Luz está quieta. Lembram que ela provavelmente não entende tudo o que falam.

Desculpa, Luz! – Gus diz, já em espanhol – enfim, como eu tava falando…

Ele continua tagarelando em um portunhol meio confuso. Luz não presta atenção nele, ao invés disso, ela olha para Amity, que está com a cabeça baixa, e provavelmente perdida em pensamentos.

Amity sente sua mão puxada pela de Luz, e as duas vão conversar um pouco longe dos outros.

Você tá bem? – a paraguaia pergunta.

Tô, Luz. – a brasileira olha para o chão, como se estivesse um tanto distraída – meu time começou tão bem no jogo de segunda, contra o seu, e aí pareceu que do nada a gente se enfraqueceu, e você foi tão incrivelmente bem! – ela olha nos olhos de Luz agora, e sua expressão muda. É medo – meu pai vai me matar se eu não for selecionada!

Luz parece surpresa com a declaração súbita de Amity. A brasileira olha para ela, meio surpresa também, com o que acaba de dizer. Ela não pretendia falar algo assim, nem ser tão sincera com alguém que acabara de conhecer. Mas quando viu, já tinha falado. Luz abraça Amity, o que a deixa um tanto assustada, mas não é ruim. As duas têm quase a mesma altura, e isso faz com que o abraço seja perfeito. Logo que se separam, o sinal toca. Alguns olhares curiosos pairam entre as duas. Amity quer se enfiar embaixo de uma carteira e ficar lá para sempre, porém se contenta sentando em seu lugar.

As aulas se arrastam, como sempre, mas neste dia, o tempo parece passar ainda mais devagar. Justo porque Amity está ansiosa demais e precisa saber logo se entrou para o time ou não. No intervalo, ela quase não fala nada com seus amigos. Luz também não, mas por outros motivos. A brasileira está sentada na mesa da cantina, com as pernas cruzadas, olhando para o sanduíche que trouxe no colo, mordido só duas vezes. Luz pousa sua mão no braço de Amity, e aperta levemente, como se dissesse “eu estou aqui, e vai dar tudo certo”. A resposta é um sorriso, e logo a brasileira volta a comer.

Finalmente, finalmente o sinal da saída bate. Amity já estava com os materiais dentro da mochila, ela apenas a agarra e sai correndo em direção às escadas. Luz vai atrás, pedindo para que ela espere, mas não adianta. Alguns pirralhinhos do ensino fundamental já estão na frente do quadro de avisos, ao lado da secretaria, e atrapalham a visão de Amity. Eles saem da frente do quadro pouco depois, ao mesmo tempo que seus amigos chegam para ver os resultados. Todos parecem ansiosos. A Grassi, entre algumas braçadas, consegue chegar perto para conseguir ver.

Ela abre um largo sorriso, enquanto Frosta e Luz chegam mais perto. Frosta grita “EU FALEI, PORRA!”, e logo depois, uma das inspetoras dá uma bronca, “onde já se viu uma garota falar essas coisas”?  As três se afastam do quadro, dando espaço para outros estudantes. Depois, elas se juntam com Gus e Willow e os cinco se abraçam e pulam como se fosse um título da copa do mundo.

Amity e Luz seriam reservas por enquanto. Teriam várias oportunidades de mostrar seu potencial.

– Ah – uma voz do outro lado do recinto é ouvida pelo grupo de amigos – então a gente vai jogar juntas, Grassi.
Amity não precisa se virar para saber quem está se dirigindo a ela. Boscha, a menina de cabelos rosas, do segundo ano, está encostada em uma das paredes do recinto. A Grassi revira os olhos.

– Não que você sinta falta de jogar comigo, né, Gertrudes?

Se olhos pudessem soltar raios laser, com certeza Amity teria virado carne assada no momento em que falou o primeiro nome de Boscha. Essa olha para o grupo de amigos com ódio genuíno enquanto se aproxima.

– Bom, se for como nos outros anos, você só vai ficar no banco de reserva mesmo, Blight.

A mais velha passa por eles e sai do prédio.

Amity suspira aliviada.

– Será que essa garota vai me deixar em paz algum dia?

Os cinco caminham até a saída enquanto conversam.

– Ela ainda não parou com esse negócio de Blight? – Gus pergunta.

– Não – Amity responde – mas ela tá certa, eu jogo mal mesmo, sou uma praga pro time, do jeitinho que ela me chama.

– Amity, com todo respeito – Frosta começa – vai tomar no seu cu.

Enquanto Gus e Willow se esborracham de rir, Luz começa a falar.

Eu não quero que você fique falando que joga mal, Amity. Você joga muito bem, todo mundo sabe disso.

Valeu Luz – a Grassi responde.

Quando chegam na entrada da escola, Amity vê seus irmãos já esperando. O grupo encosta nos muros da escola.

– Amity, você partiu o coração dela – Frosta diz, em um tom sarrista e fazendo biquinho.

Amity arregala os olhos, rezando para que Luz não tivesse entendido. Aparentemente ela não entendeu. Porém, os amigos não dão um descanso para ela.

– Hummmmmmm – Willow começa – Amity irresistível, pegou a veterana!

A garota estapeia a testa. Não entende porque acha tão constrangedor o fato de Luz saber de seus romances passados. Se é que se pode chamar um único beijo de romance.

– Gente, eu não quero mais nada com ela, pelo amor de deus, parem de me envergonhar!

– E é por isso que ela não te deixa em paz – Gus diz, convencido.

– Mas agora, falando sério, Amity – Frosta diz – não deixa a Gertrudes Bosta te botar pra baixo! Porra, o nome dela é Ger-tru-des! E o sobrenome parece bosta! Você que devia zoar ela!

– Ok, gente – Amity diz, por fim – a gente pode parar de falar dela?

Alguns minutos se passam, até o grupo todo se dispersar. Luz vai para a estação de metrô, e os outros esperam suas caronas.

A partir daquele dia, os treinos iriam começar. Luz e Amity ficam cada vez melhores conforme o tempo passa, e ganham mais destaque. A goleira, Rebeca Skara, elogia as duas meninas do primeiro ano sempre que pode, o que não agrada Boscha. 

[...]

8 de março de 2021

Conforme o tempo passa, o português de Luz fica cada vez melhor. Os amigos a ajudam, claro, mas ela também se esforça ao máximo. Ela consegue entender bem melhor o que os professores dizem na aula. Amity acha o sotaque de Luz super fofo. O jeito que ela pronuncia os plurais com a língua entre os dentes, a forma como ela pronuncia o “L”, como a fonética da letra “Z” é substituída pelo “S”, o jeito meio cantado que ela fala, os “ãos” que soam como “ons”. Tudo isso é observado e adorado pela brasileira.

Chega o dia do primeiro jogo do inter-escola, segunda-feira. Amity passara a tarde de sábado descolorindo e depois pintando o cabelo de verde. Irônico, sim, já que quando seus irmãos fizeram isso, ela quis morrer, ou matá-los. Agora, estava tingindo seu cabelo por conta própria. Quando chega na escola, a primeira coisa que Luz diz é como seu cabelo está lindo, e que bom que ela voltou com o verde. A paraguaia não para de falar disso. Por vezes, Amity vê que Luz a observa, durante as aulas.

No intervalo, os quatro do primeiro ano se encontram com Frosta.  Ela e Luz conversam sobre suas expectativas para o jogo, enquanto Willow e Gus ficam dando palpites sem noção na conversa das outras duas, já que não entendem de futsal. A única quieta do grupo é Amity. Ela come em silêncio. Em um certo momento, a atenção de Luz volta para o seu – novíssimo e moderno – celular.

A feição dela muda imediatamente. Foi de animada, como sempre, para levemente triste. Os amigos se entreolham.

– O que foi, Luz? – Amity pergunta.

A estrangeira bloqueia o celular e volta a sorrir.

Ah, minha prima disse que não pode vir assistir o jogomas não tem problema! Precisamos dar o nosso melhor!

Quando termina o período matutino, as garotas do time, junto com Gus e Willow almoçam juntos. Depois, descansam um pouco, antes de se dirigirem até a quadra para o jogo. O time de futsal da categoria Ensino Médio do Saint Peter está eufórico. A animação de Luz contrasta com a quietude de Amity, por conta da ansiedade. A paraguaia conforta a brasileira quase todo o tempo, porém, não a convence. Apesar de nos treinos Amity jogar muito bem, ela teme a pressão. Não tem nada a perder nos treinos, mas em um jogo de verdade… Não quer nem imaginar como se sentiria se o time perdesse por causa dela.

Na quadra de futsal da própria escola, Amity, Luz e Frosta conversam enquanto se alongam. As outras titulares, Skara, Isabela, Boscha e Júlia permanecem um pouco afastadas. As demais reservas já terminaram de se aquecer, e estão sentadas no banco, na lateral da quadra.

Amity está virada para a porta da quadra, e vê quando Adora, Emira e Edric entram. É Edric que encontra Amity na quadra. Ele cutuca as duas irmãs, e logo os três gritam algo que Amity não consegue entender, provavelmente palavras de encorajamento, enquanto acenam freneticamente e fazem sinais de “joinha”. A mais nova acena de volta, um tanto sem graça, e observa os irmãos procurando um lugar para sentar na arquibancada.

Frosta parece saber absolutamente tudo sobre o time adversário, do Instituto La Belle Étoile.

– Elas são bem boas. Se vocês entrarem no jogo de hoje, tomem cuidado com a Maria Paula, camisa 11, ala. Ela tem muita técnica e estratégia, além de ser meio estrelinha. Ah, tem a Luciana também, fixa. Ela gosta de bater. E claro, a capitã, Camila, a goleira. Parece um paredão, quase nunca deixa uma bola passar, é uma puta goleira.

Luz e Amity prestam bastante atenção no que a colega diz. Amity fica mais nervosa a cada nome que Frosta cita. Por um segundo, deseja não jogar hoje. 

Amity – Luz começa a falar, olhando bem no fundo dos olhos da brasileira – você joga bem. Pode mostrar o quanto é boa hoje.

– Acho que eu tô nervosa demais. Não sei se quero entrar no jogo.

– Deixa de ser idiota, verdinha – Frosta diz, como se desse uma bronca – aliás, se vocês duas entrarem hoje, vão fazer história, tenho certeza!

O time termina de se aquecer aos poucos. Uma por uma, as meninas se sentam no banquinho, até dar a hora do jogo. Minutos depois, já estão todas posicionadas. Frosta dá uma olhada para Amity e Luz. Sua expressão é de determinação e… ódio? É um pouco assustador, a de cabelos tingidos pensa.

A juíza apita e o jogo inicia.

A equipe da La Belle Étoile começa com a bola. Elas têm uma energia que surpreende Frosta, e aparentemente, o time todo do Saint Peter. Elas começam com todas as quatro atletas da linha já avançando para o ataque, tocando bola rapidamente, até que uma das atletas bate uma bola forte da entrada da área, no cantinho de Skara, mas a goleira das Saint Peter agarra com segurança. Ela se levanta rapidamente e arremessa a bola para Boscha, que já ia escapando da marcação pela ala esquerda. Ela dá uma ginga de corpo e entorta a fixa adversária, que se desequilibra e cai, e então toca para Frosta, que vai vencendo na corrida pelo meio contra uma ala adversária. Frosta domina a bola, dá dois passos para a frente, e quando a goleira adversária começa a sair do gol, ela enche o pé, mandando para o fundo da rede.

1 a 0 para as Saint Peter.

As garotas da Belle Étoile não se rendem, no entanto. Logo na re-saída, fazem pelo menos duas boas jogadas: numa delas, Skara faz uma defesa espetacular, mandando a bola por cima do gol, e na outra a pivô chuta pra fora, rente à trave.

Amity nem percebe estar roendo as unhas de ansiedade, e Luz torce como se fosse parte da plateia, dando pulinhos no banco e gritando pelas companheiras. 

Perto da metade do primeiro tempo, Huntara remove a fixa titular da equipe, Isabela, para a entrada de Luz. Amity observa com inveja enquanto sua colega adentra a quadra e vai se posicionar logo à frente de Skara. 

Luz traz mais movimentação à partida, avançando a marcação sempre até a metade da quadra e muitas vezes até mesmo ao ataque, e passando rápido a bola. É quase como se elas estivessem jogando com três alas, sem perder a sua fixa. Skara mal precisa trabalhar depois disso. Pouco antes do final do primeiro tempo, mais uma substituição para cada time acontece, com Frosta indo sentar no banco ao lado de Amity.

– A Luz joga pra caralho, hein – Frosta começa – sei nem o que dizer.

Amity assente, um pouco triste por não estar jogando, mas aliviada ao mesmo tempo. 

– Eu acho que ela consegue se virar bem sem mim.

Frosta limpa o suor da testa enquanto fala.

– Mano, deixa disso. Sério, cê já tá me irritando com esse complexo de inferioridade. 

– Mas não tem complexo nenhum! Eu…

– Shhhhh.

Amity faz uma cara de criança que acabou de levar bronca, e a amiga aponta para a quadra. Naquele momento, as garotas da Belle Étoile partiram num contra-ataque rápido que pegou o time todo das Saint Peter de surpresa, deixando Luz sozinha contra três. Ela corre para cima da jogadora com a bola, que tenta dar um drible de corpo e tocar para a garota na ponta direita, mas Luz dá um carrinho certeiro e antecipa, mandando a bola pra fora, arrancando comemorações da torcida da escola e do banco de reservas.

Boscha urra feito uma viking e vai dar tapinhas nas costas de Luz, que não reage muito, e recua à sua posição, atenta ao jogo. Amity nota um leve incômodo na garota, que parece ter pressa demais para se afastar da companheira.

Na cobrança do lateral, a ala adversária recua para a fixa, que avança um passo e vira o jogo para a outra ala. Ela domina e, sem esperar, arrisca dali mesmo, pegando todo mundo de surpresa, inclusive a goleira Skara: a bola entra no cantinho, feito um foguete, empatando a partida em 1 a 1. O árbitro apita o final do primeiro tempo logo em seguida.

Luz vem para perto de Frosta e Amity, mas não se senta ao lado delas no banco. Ela está ofegante, e Amity sente… algo. Não sabe exatamente o que. Ela elogia a colega paraguaia, que agradece com um sorriso. Luz se afasta, indo buscar água. Todos os músculos de Amity parecem relaxar quando a colega se afasta. O olhar de Frosta varia entre as duas, e ela tem o cenho franzido.

– Amity, o que foi isso?

– Isso o quê?

– Quando a Luz tava se aproximando, você começou a respirar tão rápido quanto ela.

– Quê? – Amity cora – eu? Nah, impressão sua.

Frosta não se dá por satisfeita com essa resposta.

Luz volta tomando água, e Amity tenta não encarar, mas é difícil, pois a paraguaia fica bem na sua frente, em pé.

– Não quer se sentar, Luz? – Frosta pergunta.

Não. Não quero perder o pique.

Amity encara o chão. Ela está com as duas mãos entrelaçadas, e suas pernas não param. Luz chega mais perto, agacha no chão, para ficar com os olhos da altura da de Amity, e arrisca falar em português.

– Você... tá bem?

Amity junta toda a coragem do planeta e finalmente tira os olhos do chão, olhando para a garota na sua frente. Ela limpa a garganta.

– Tô – balbucia – só nervosa.

A paraguaia pousa uma mão nas mãos de Amity, que reage ao toque um pouco assustada.

Vai ficar tudo bem! – diz Luz com um sorriso. Depois, se levanta e fica de costas para o banco. Amity suspira e olha para Frosta, que está olhando para ela com uma expressão enigmática.

– O que foi? – Amity pergunta.

Frosta apenas olha para ela, e sorri maliciosamente. Depois, olha para frente, ao centro da quadra. O intervalo está quase acabando.

As duas equipes voltam para a quadra, dessa vez as garotas do Saint Peter começando com a posse de bola, e mais uma substituição para cada lado. Frosta voltara para o time, dessa vez no lugar de Boscha, jogando como ala.

A Grassi já treme com o pensamento de que Boscha vai sentar ao seu lado. A de cabelos rosas se senta.

– Ainda bem que não vai jogar hoje, Blight! O time tá indo bem demais, não seria legal se você entrasse e estragasse tudo.

– Ai, quer saber, Gertrudes? Você ainda vai engolir essas merdas que você me fala!

– Uiiiii a praguinha tá confiante hoje? – ela chega mais perto de Amity e olha para ela de cima a baixo – espero que esse excesso de confiança não prejudique o time. E não esquece que eu sou a capitã, você é inferior a mim.

A de cabelos verdes revira os olhos, mas não responde, voltando sua atenção ao jogo.

Ambos os times pressionam um ao outro, mas as duas goleiras fazem várias boas defesas - isso sem contar Luz, que sempre chega rasgando pra cima da pivô e das alas adversárias para arrancar a bola, e até arrisca um chute de longe em dado momento que faz a goleira rival trabalhar.

Finalmente, Huntara chama Amity para colocá-la no jogo. Já estão se aproximando da marca dos 5 minutos do segundo tempo. Amity sente os braços trêmulos, mas obedece a treinadora e se levanta. É a única das reservas, fora a goleira, a ainda não ter entrado no jogo. 

– Você vai ficar na ala esquerda – diz Huntara, observando a quadra, concentrada – trabalha na transição e fica mais recuada que a Frosta. Preciso de você sempre dando opção pra Luz pra sair jogando.

Amity troca de lugar com a outra ala e, meros momentos depois de ter entrado, já recebe uma bola de Luz e sente o choque de uma rival contra o seu corpo que a arremessa ao chão. O juiz marca a falta e Luz se aproxima, oferecendo a mão para a colega levantar.

Está bem? – ela pergunta, com aquele seu sotaque fofo. Amity assente, nervosa, e permanece em silêncio, preparando-se para cobrar a falta. Luz se afasta dois passos e sorri, encorajadora, para Amity – vamos lá, você consegue! Mostra o que sabe!

Amity recua a bola para Luz e a paraguaia não demora a receber combate das meninas da Belle Étoile, mas ela finta a primeira garota e toca rápido de volta para Amity. A dos cabelos verdes domina e, ao perceber outra marcadora vindo pra cima, ela instintivamente gira sobre a bola, driblando a garota e, meio no desespero pelo o que acabou de fazer, dispara para o ataque, tocando a bola para a pivô quando outra marcadora vem dar combate, mas ela chuta pra fora. 

Luz parece sempre querer escapar pela direita, o lado onde Amity fica, chamando ela cada vez mais para o jogo. Isso faz Amity se concentrar cada vez mais no que está fazendo, nunca tendo tempo para pensar mal de si mesma. Num momento, ela faz uma bela virada de jogo para Frosta, que acerta a trave. Noutro, tabela com Luz e chuta forte na saída da goleira, que espalma para a lateral. De um jeito ou de outro, nos dez minutos finais o jogo parece sempre girar ao redor da ala, mas elas não conseguem sair do empate. 

Faltando dois minutos para acabar, Luz intercepta um passe para a atacante adversária com um carrinho.  A bola sobra com Amity, que é mais esperta e chega antes da ala rival, e Luz não hesita em escapar pela direita, nas costas da ala que marcava Amity, completamente livre. Amity toca para a companheira e dispara pelo meio, acompanhando a jogada de Luz, que toca de volta para Amity. Ela recebe e quase perde o controle da bola, mas mesmo meio desequilibrada, consegue fintar a marcadora adversária e chuta baixo, com o pé direito, para o gol. A bola escapa da goleira por um milímetro e entra: 2 a 1. 

O jogo acaba segundos depois. As garotas do banco se juntam no meio da quadra, num abraço coletivo com as que estavam na quadra. É possível ver Boscha pulando no meio do abraço, e sua voz se destaca em sonoros “GANHAMO” e vários palavrões. Frosta também berra alguns.

Depois do abraço coletivo, muita gente que estava na torcida vem para a quadra, e Amity se perde de Frosta e Luz. Ela vê a pivô perto da arquibancada, conversando com Gus e Willow, mas nem sinal da paraguaia. De repente, sente mãos envolverem sua cintura por trás e erguê-la do chão. Ela nem precisa olhar para saber que é Luz.

VOCÊ FOI DEMAIS AMITY! INCRÍVEL!

A de cabelos verdes já estava vermelha antes dessa fala, agora ela tem certeza que seu rosto está da cor de um pimentão. Luz a solta, e Amity se vira para ela. As duas se encaram por um momento. Frosta surge correndo ao lado delas.

– Vão ficar aí pra sempre ou vão ser educadas e cumprimentar as oponentes?

As duas obedecem e logo o time todo está apertando a mão das La Belle Étoile. Elas estão bem tristes ao que parece.

Adora e os gêmeos finalmente conseguem abrir um espaço na quadra, e aproveitam quando Amity termina de cumprimentar as rivais. A mais velha abraça a caçula, que fica um pouco encabulada. Os outros dois logo a abraçam também. Luz observa de longe, com um pouquinho de ciúmes. Queria que Catra a tivesse visto jogar.

– Parabéns, Mittens! – Edric é o primeiro a elogiar a caçula.

– Verdinha, você tá jogando pra porra, meu deus!

– Valeu mana!

– Amity – Emira começa – o que aconteceu? Tá mais confiante!

A mais nova cora um pouco, e desvia o olhar.

– Nada…

Seus três irmãos se entreolham, desconfiados, mas logo Frosta chega, em meio à confusão e diz que a treinadora quer dar os parabéns a ela.

Os irmãos se despedem e Amity vai até a treinadora, que diz que se surpreendeu com sua performance. A Grassi fica extremamente feliz.

Após isso, as Saint Peter caminham para o vestiário. Luz fica ao lado de Amity e passa um dos braços pelo ombro dela. A de cabelos verdes fica levemente constrangida, mas sorri. Ela não consegue parar de sorrir.

Enquanto toma banho, o time conversa. Amity, já vestida, se encontra na parte do vestiário onde ficam os armários. Skara chega perto dela e começa a falar.

– Então, Blight – diz, secando os cabelos – acho que agora você virou uma praga pro time adversário!

– Sério? – a “Blight” pergunta.

– É, pô!

Amity sorri, surpresa com o que acabou de ouvir. Ela olha para Boscha, que está parada perto da porta. Pela sua expressão, ela ouviu a pequena conversa. A Blight se sente satisfeita com isso.

Amity foi se deitar muito feliz no final do dia. Não lembra de ter se sentido tão confiante como neste momento. Ela relembra o momento que fez o gol, e principalmente, o abraço que recebera de Luz, várias e várias vezes, antes de cair no sono.


Notas Finais


“Blight” significa “Praga”. Começa como um apelido maldoso por conta da Amity ser “ruim” no futsal, mas o apelido se torna algo positivo depois do primeiro jogo. Em vez dela ser uma “praga” pro próprio time, ela passaria a ser uma “praga” pras adversárias.


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