História Do You Remember? - Artistic

- Karma, você se lembra quando me contou sobre seu antigo trabalho?

- Claro! Foi descendo a montanha, depois de visitarmos a sala.

- Foi sim, é muito melhor ir para lá fora de temporada, não é? – Nagisa começou a mexer na barra da blusa e Karma segurou sua mão, meio que instintivamente. - Que bom que acabou, certo?

- Certo.

°º°

Só trabalhar com informações cruciais para um assassinato. Esse era um dos dogmas do jovem prodígio da empresa de assassinos de aluguel Okinawa. No início, ele analisava mesmo todas as possibilidades, tinha pleno conhecimento de todos os aspectos que envolviam cada missão. Contudo, estava começando a ter pesadelos com aquilo: os alvos tinham família, amigos, uma vida... Pesadelos davam insônia e, aparentemente, atirar enquanto os olhos ardem de sono não é muito efetivo. Por esse motivo, Karma começou a organizar todos os seus planos em três blocos básicos de ação: receber o comando, colher informações necessárias e preparar-se para a execução.

Comando:

Matar Matsuda K. e roubar informações.

Plano:

Um mês antes:

> decorar a planta do prédio e a rotina de trabalho do alvo, bem como suas características

> hackear o computador

Conclusões:

> há possibilidade de entrar com rappel pelo térreo

> às segundas-feiras, os únicos andares que funcionam até 20h são o segundo e o oitavo (localização o alvo)

> o alvo trabalha sozinho em sua sala

> há apenas um guarda na portaria durante esses dias

> a janela fica fechada por causa do ar condicionado

> altura do alvo quando sentado: 136  centímetros

> dimensões da sala: 4x3x3 metros

> móveis da sala: estante intocada, escrivaninha com gavetas (provavelmente trancadas), mini-bar, uma porta do lado oposto à escrivaninha (provavelmente um banheiro)

> posição da mesa na sala: [vide mapa]*

Três semanas antes:

> estudar como funcionava o ar condicionado que do alvo 

Conclusões: um tiro em qualquer parte do encanamento externo gera uma disfunção. OBS.: Fácil de consertar.

Uma semana antes:

> fazer toda a caminhada até o local (inclusive pular pelos terraços até o prédio alvo) e calcular o tempo.

> Tempo estimado: 4 minutos e 13 segundos saindo do metrô

Um dia antes:

> atirar no tubo do ar condicionado do lado de fora da sala com uma arma de chumbinho.

Conclusões: janela aberta no dia do assassinato ☺

Preparação:

> Happel: fitas e sistema de ancoragem, mosquetões, freio, corda, luvas, cinto de fivela simples  

> Óculos de proteção

> Beretta 21 com silenciador, munição, duas adagas de duplo fio

> Granada de emergência

> Martelo

> Bomba de gás para dar um efeito legal

> Mochila

Karma conferiu seus batimentos cardíacos pela quinta vez nos últimos 10 minutos. Ele estava em êxtase.  Trabalhava há dois anos na Okinawa e aquela era sua primeira missão sozinho. Ele havia largado o Ensino Médio no início e que escolha! Grip, seu tutor desde que terminara o Ensino Fundamental , estava surpreso com o progresso em um período tão curto. A escola só atrasava mesmo.

Ele estava prendendo as fitas de ancoragem em uma viga específica que havia ali. Seu alvo estava dois andares abaixo de si. Karma conferiu os batimentos mais uma vez antes de pular pela janela, seguro pela cintura e com uma Beretta na mão direita. Calculara o tamanho exato da corda: entrou pela janela, apontando a arma para sua direita (exatos 40° da parede em sentido anti-horário), onde o alvo estava sentado como de costume. O tiro deu um pouco errado, era para ter sido no pescoço, mas foi no meio dos olhos por causa da posição incomum do homem. Foda-se.

Passo 1, completo.

Desprendeu-se da corda rapidamente, gabou-se um pouco por seu plano ter dado certo e foi até a mesa do empresário. Destruiu a parte esquerda da escrivaninha com um martelo. Sabia que havia uma chave e estava sem tempo para maiores lenga-lengas: devia terminar bem antes do guarda do hall ser acionado.

Pegou todos os papéis dentre os destroços da mesa e, de quebra, pegou o notebook do homem. Apesar da máquina em si não lhe interessar – já havia coletado todas as informações que precisava – e estar respingada de sangue, ainda parecia boa! Horibe poderia dar um jeito naquilo para si.

Passo 2, completo.

Karma ouviu os passos do segurança no corredor, tinha cerca de 30 segundos até ser pego. Decidiu usar sua menina-dos-olhos: bomba de fumaça.

Amarrou-se novamente à corda e pulou pela janela. Chegando à altura máxima, tirou pino e arremessou a bomba na janela do andar superior com força, a fim de fazer bastante barulho. O guarda, que ouvira a explosão, passou pela porta da sala de Matsuda e subiu as escadas. Karma subiu pelas cordas com certa dificuldade, pegou seus equipamentos e desceu até o quinto andar pelo elevador. Pulou a janela do corredor e, como calculado, caiu em cima de um prédio residencial antigo próximo dali. Ele tinha apenas 4 andares e fora escolhido porque possuía escadas de emergência externas. Karma poderia andar por ali tranquilamente, sem necessidade de macaquices ou parkour.

Karma conferiu os batimentos cardíacos novamente: tudo igual. Ele sequer dera importância ao corpo convulsionando ao seu lado enquanto roubava suas coisas. Seu trabalho, frio e calculista, era sua arte. No início, tinha medo de tornar-se indiferente a tal ponto, contudo, havia um pagamento em dinheiro que deixava um jovem de quase 18  anos um tanto entusiasmado. Terminou de descer as escadas com o sorriso de quem fazia o que gostava e recebia em dólares por isso.